Profundidade cultural e religiosa.

11/set

O artista visual Tiago Aguiar explora a devoção e celebração da Festa do Rosário em sua primeira mostra individual na Uncool Gallery. A exposição “Rusá: BraSilian Devotion and Celebration” destaca a complexidade da identidade brasileira através da fotografia relacional e da foto-instalação, sob o olhar do artista e congadeiro mineiro.

A Uncool Gallery, Brooklym, NY, exibe “Rusá: BraSilian Devotion and Celebration”, do artista visual, fotógrafo e congadeiro brasileiro Tiago Aguiar que estará em exibição até 05 de outubro. Esta mostra individual do artista na galeria, onde assume não apenas o papel de criador, mas também de curador, transformando a galeria em um espaço que reflete a profundidade cultural e religiosa da Festa do Rosário, celebrada anualmente em Serro, Minas Gerais.

“Rusá: BraSilian Devotion and Celebration” investiga a complexa tapeçaria cultural da festa, que é reconhecida pelo IPHAN como patrimônio histórico e artístico do Brasil. Através de um enfoque etnográfico reverso, Tiago Aguiar utiliza a fotografia relacional para valorizar as identidades individuais dentro do coletivo, destacando aqueles que, fora do contexto da festa, são frequentemente marginalizados. Sua abordagem transforma o festival em um espaço de criação, onde a construção das imagens não só documenta, mas também honra a tradição e reconhece o sagrado manifestado durante a celebração.

A exposição “Rusá: BraSilian Devotion and Celebration” reúne um conjunto de obras criadas desde 2016, divididas em três temas centrais: Dançantes, Caravana e Quermesse. Em Dançantes, apresenta retratos íntimos dos congadeiros capturados em um estúdio improvisado, revelando detalhes pessoais e peculiaridades que passam despercebidos em contextos coletivos. Já em Quermesse, o artista revisita a tradição dos fotógrafos de festas populares, retratando os frequentadores em um estúdio temporário montado no largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Caravana, por sua vez, examina o papel dos barraqueiros itinerantes, cujas barracas temporárias são parte essencial do cenário festivo, mas cujas histórias muitas vezes permanecem invisíveis. A mostra também inclui elementos instalativos, como grandes impressões em lona e monóculos com slides que remetem às práticas fotográficas tradicionais, criando uma conexão mais orgânica com o contexto da celebração. Ao construir laços comunitários e permitir maior autonomia dos retratados na produção das imagens, Tiago Aguiar questiona as convenções tradicionais da criação fotográfica, criando um espaço de respeito e comunidade.

O trabalho de Tiago Aguiar pode ser compreendido dentro da reversão da tradição da fotografia etnográfica, mas também dialoga com movimentos contemporâneos de arte relacional e crítica cultural. Sua prática se insere em um cenário mais amplo de artistas brasileiros que exploram a interseção entre cultura popular e arte contemporânea, trazendo à tona questões sobre identidade, memória e a evolução das tradições no Brasil. Em Nova York, a exposição oferece ao público uma rara oportunidade de experimentar uma perspectiva interna e intimista da cultura brasileira, em um contexto que frequentemente privilegia visões externas e generalizadas do Brasil.

Sobre o artista

Tiago Aguiar (1989, Serro, Brasil) Vive e trabalha entre Belo Horizonte, BR, e Cape Cod, EUA. Bacharel em Artes Plásticas pela Escola Guignard (MG) e com especialização em fotografia pelo Hallmark Institute of Photography (EUA), começou sua carreira na fotografia comercial, mas rapidamente direcionou seu foco para a pesquisa artística e cultural. Sua investigação sobre a Festa do Rosário começou em 2010. Entre suas realizações estão a exposição individual “Rusá” (Belo Horizonte, 2017) e a participação na residência IA Ouro Preto (2022), além de ser finalista do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger (2017).

A galeria

Uncool Gallery é um espaço gerido por meios próprios com  um conselho de  membros, seguindo um modelo  único de autogestão. Esse conselho decide  ativamente sobre os projetos, posicionamento, parcerias da galeria. A Uncool Gallery é estruturada como  uma  LLC, garantindo verdadeira independência em sua  governança. O compromisso impar da  galeria  em fomentar conexões significativas e  impulsionar projetos colaborativos está no centro de sua filosofia. Com o posicionamento estratégico em frente ao Brooklyn Navy Yard, a galeria  serve como um centro dinâmico para a expressão e exposição artística.

A leveza da arte de Gianguido Bonfanti.

06/set

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, anuncia a Exposição Gianguido Bonfanti, que estará aberta ao público de 14 de setembro a 05 de outubro. A  mostra individual traz 30 obras de um Gianguido Bonfanti maduro com uma abordagem que opta pela leveza da arte sem drama. Além das pinturas, a exposição conta também com esculturas, desenhos e um conjunto de cerâmicas-instalações. Algumas dessas cerâmicas serão apresentadas em um livro-objeto, que será lançado durante o período do evento. A edição especial e limitada foi idealizada por Alberto Saraiva e criada por Claudia Gamboa e Ney Valle (Dupla Design), a partir das cerâmicas expostas por Bonfanti no Parque Lage em 2023. A curadoria da exposição é de Evandro Carneiro.

Sobre o artista:

“As obras que transcendem o tempo, transcendem porque têm a ordem cósmica dentro delas. Nós somos estruturados pela ordem cósmica, tanto na matéria quanto no espírito, na energia. Quando há esse mergulho profundo, há um encontro com a origem e, então, se pinta determinado pela ordem cósmica. Ao mesmo tempo tingindo a obra com a singularidade do artista e com o momento histórico. São três elementos que entram aí: o singular, o histórico e o eterno, o cósmico, as leis do Universo. Eu acho que as grandes obras transcendem o momento histórico delas porque foram estruturadas pela lei universal. Então elas não têm tempo, são atemporais.” (Bonfanti, 2024, em conversa oral com a autora).

Gianguido Bonfanti nasceu em São Paulo, no seio de uma família italiana, em 1948. Dois anos depois, seus pais voltam a residir no Rio de Janeiro, onde já haviam morado, desde que chegaram ao Brasil. Em 1962, ainda adolescente, o artista se torna aluno de Poty Lazzarotto, amigo de seu pai, e inicia o seu aprendizado artístico. Após cinco anos, já expunha na Galeria Santa Rosa, RJ, junto com outros jovens artistas. No ano seguinte entra para a Faculdade de Arquitetura da UFRJ. Em 1971 pede transferência do curso de arquitetura para a Faculdade de Arquitetura de Roma, mas chegando lá, passa a frequentar com entusiasmo a Academia dei Belle Arti, matriculando-se nos cursos de modelo vivo e gravura. Ainda nesta viagem à Itália, uma exposição de gravuras de Pablo Picasso o impacta irreversivelmente. Gianguido decide, então, viver da e para a arte. Em seu retorno ao Brasil (1973), expõe no Centro Cultural Lume, RJ, a sua primeira individual, com desenhos produzidos em Roma e se aprofunda no aprendizado da gravura, com Marília Rodrigues na EAB – Escolinha de Arte do Brasil. Em 1974 realiza a mostra Desenhos de G. Bonfanti no Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, PR, e conquista vários prêmios, dentre os quais, as primeiras colocações nos Salões de Arte Moderna do Rio de Janeiro e Paranaense, no Concurso Nacional de Artes Plásticas, todos na categoria desenho. Sua obra era, então, bastante inspirada pela estética medieval europeia, quase como num sopro de outras vidas, mas também continha vestígios de uma experiência passada há pouco tempo: o velejo. Figuras bestiais amarradas umas às outras e se controlando mutuamente, ora humanos e ora animais, convivem em cenas quase sempre fantásticas.  Nesses desenhos, as amarras são claramente os mecanismos da vela, memórias de quando Gianguido participava ativamente de regatas, em sua adolescência e tenra juventude, e vivia a vida no mar.  Ainda durante a década de 1970, sob a influência do mestre Poty, trabalha ilustrando livros, jornais e revistas. Ao mesmo tempo, passa a integrar o seleto grupo de professores da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, dando aulas de gravura e fotogravura na gestão revolucionária de Rubens Gerchman. Era uma época de efervescência cultural e política, dentro e fora da EAV. E de muito trabalho para Bonfanti que, além de professor e artista, passou a realizar pesquisas ontológicas, por meio da fotografia, no Instituto de Doenças Tropicais da Av. Presidente Vargas, a partir do que compõe “gravuras que são reproduções fiéis dos slides que consegui com os médicos” (Bonfanti, 2024, em conversa oral com a autora). No mesmo período analisa cadáveres da Escola de Medicina da URFJ, na Frei Caneca. Essas experiências significaram um olhar aprofundado às doenças do ser humano. Não de cada um daqueles sujeitos retratados, mas um estudo sobre a doença e a possibilidade da cura. Um tipo de catarse ao passar por anos sofridos. Esse viés realista e angustiante sobre a humanidade se perpetua em fases seguintes de sua obra, mas com linguagens totalmente diferentes. Ao findar a década de 1970, Bonfanti já se tornara um exímio gravador e recebe prêmios de gravura em mostras e salões. Sua obra nesse período apresenta certa continuidade com a fase anterior. Desenhos e gravuras têm temáticas e cenas semelhantes. O fundo branco vai sendo mais utilizado e as figuras vão, aos poucos, se tornando menos desenhadas e mais expressivas, já prenunciando as fantasmagorias vindouras em suas telas e a opção pela pintura. Os anos 1980 iniciam um movimento de reviravolta na vida do artista: ele começa a pintar com pastel seco e tinta a óleo, passa a lecionar gravura também na PUC-Rio e ali conhece Marisa, sua esposa até hoje e mãe de suas filhas. Inspiração maior que o amor não há! Ao decidir-se pela pintura, buscou aprender com os restauradores, procurando referências no melhor do métier: Edson Motta Filho e Marilka Mendes, a fim de conhecer tudo o que se podia sobre as tintas e os suportes. Afinal, como se nota na epígrafe escolhida para esse texto, a preocupação com a conservação de uma obra de arte se liga ao tempo da longa duração e da permanência histórica. Não que seja este o objetivo, mas há esta preocupação em preparar cuidadosamente a tela sobre a qual, depois de alguma espera, o artista irá derramar a sua energia, gerando um movimento cósmico. “O pintor tem por obrigação conhecer, profundamente, os materiais e seus comportamentos. Estabelecer um diálogo íntimo, mais que isso, um encontro com seus instrumentos de trabalho, num respeito referencial aos mesmos. É dessa cumplicidade que ele obterá os melhores resultados. Acredito num sacerdócio da pintura.” (Bonfanti in Coutinho, Wilson. Rio Artes no 23 – maio 1996, p. 11). Os anos 1990 são marcados pela pintura “vermelha”, como diz o próprio artista, em que sua obra é pura expressão e densidade. As tintas se revelam e se avolumam nas enormes telas magentas. Daí as associações feitas com a Escola Inglesa (Lucien Freud, Frank Auerbach e Francis Bacon) e, também, com o brasileiro Iberê Camargo. Bonfanti mesmo confessa que quando conheceu a obra de Auerbach, em Nova Iorque, 1996, ficou “chocado” (Francis Gibson, M. in Bonfanti, 2005, p. 99). Frederico Morais chamou atenção para o erotismo dessa fase (Morais, 1996 – Catálogo da Exposição do MAM-RJ).Sem dúvida há falos monstruosos e cenas com conotação sexual. Porém, toda a meditação ontológica se junta à matéria artística, ao gesto, à energia do artista. A sua pintura transcende ao desejo subjetivo. O carnal aí não é egóico, mas transcendental. “Mas a pintura vibrante de Bonfanti escapa tanto da hipervisibilidade do obsceno, quanto do vazio ou da inautenticidade do pornográfico. Em primeiro lugar, porque, o que vemos nesses quadros é o ato sexual levado ao clímax da religiosidade. Por um momento, revejo numas telas o esquema formal da Pietá de Villeneuve, pressinto noutras, o êxtase sexual igualando-se ao êxtase místico”. (Morais, 1996, p. 3). A passagem dos anos 1990 para os 2000 vai do vermelho ao ocre e passa “do dois ao três” na dialética das personagens, mas também tendo em mente o que o artista diz na epígrafe deste texto: “São três elementos que entram aí: o singular, o histórico e o eterno, o cósmico” (Bonfanti, 2024). Os temas não variam tanto: as cenas continuam a expressar o drama humano e se repetem muito, com gravidade e urgência, num jogo de latências e ardências em que os sujeitos se observam e tentam curar-se, repetidamente. É como se a sua pesquisa ontológica tivesse chegado ao clímax da reflexão acerca da experiência histórica e precisasse de uma pausa. Quase uma parada no tempo cronológico, um páthos pela humanidade, na fundação de um tempo mítico. “No que se refere aos autorretratos e às cenas com dois ou três personagens, a própria repetição os aprofunda, e os eleva ao nível do mito, isto é, ao nível em que não é possível deixar de acolhê-los como mitos. Tal repetição, com efeito, é uma atividade ritual, e o ritual, uma vez percebido como tal, pressupõe uma explicação mítica, que nos incomoda, quando não lhe atribuímos.” (Francis Gibson, M. in Bonfanti, 2005, p. 99). Assim entendidas como míticas, as cenas densas e fantasmagóricas já não incomodam, mas transcendem. Talvez por isso, a década de 2020 seja caracterizada pela retirada da cena na pintura de Gianguido: “Eu fiz um grande esforço no passar dos anos para abandonar as cenas, para me concentrar mais na pintura em si. Porque a cena é sempre uma leitura de uma situação humana, e eu estou tentando fugir da história, fugir da cena. É o que estou tentando com a minha pintura nos últimos anos. Me concentrar na pintura, para ela se apresentar em si.” (Bonfanti, 2024, em conversa com a autora). A exposição da Galeria Evandro Carneiro traz 30 obras de um Gianguido Bonfanti maduro e decidido pela leveza da arte sem drama. Sua pintura se apresenta, suave, em contornos mais coloridos e formas cheias de energia. O branco no fundo retorna como em seus desenhos iniciais. Autorretratos ou não, os rostos e linhas são alegóricos. Atingem um tempo universal.  Há, ainda, na mostra, esculturas e desenhos. Um conjunto de cerâmicas-instalações compõem também a coleção ora apresentada e algumas delas são encaixadas no livro-objeto que é lançado na mesma ocasião do evento. Uma edição primorosa e limitada, idealizada por Alberto Saraiva e criado por Claudia Gamboa e Ney Valle (Dupla Design), a partir das cerâmicas da exposição do artista no Parque Lage, em 2023. A publicação e a mostra de Gianguido Bonfanti não podem ser perdidas.

Laura Olivieri Carneiro.

Agosto de 2024

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Um olhar arqueológico

O artista plástico Osvaldo Carvalho inaugurou a individual “Aspectos de uma cidade” no Ateliê 31, Centro do Rio de Janeiro. A mostra reúne 25 pinturas em dimensões diversas, produzidas após o período pandêmico.

A exposição com curadoria de Shannon Botelho, propõe um mergulho na complexidade do espaço urbano e suas dinâmicas cotidianas. Com um olhar arqueológico sobre o tempo presente, a pesquisa do artista explora as estruturas sociais e os conflitos diários que moldam a vida nas cidades. Através de suas pinturas, Osvaldo Carvalho captura o aqui e o agora em um contexto onde virtualidades, algoritmos e fragmentos coexistem. Suas obras, ricas em cores, figuras e contrastes, refletem as tensões e rupturas da vida urbana, convidando o público a refletir sobre o que permanece e o que está por vir.

Em sua recente pesquisa, Osvaldo Carvalho se debruça sobre imagens e referências da cultura e da cidade, explorando o vocabulário visual contemporâneo e as contradições de um imaginário moldado por ideologias, conflitos e poder. Fragmentos de cenas, situações e detalhes do cotidiano emergem como expressão de uma prática artística que desafia e ressignifica o olhar sobre a cidade. “Aspectos de uma cidade” apresenta um conjunto representativo do seu trabalho. “A problematização dos ‘lugares comuns’ das cenas prosaicas, experimentadas no dia a dia, é uma constante nos trabalhos que abordam, cada qual a seu modo, as peculiaridades de uma cidade tão complexa e desigual, quanto sedutora e inebriante”, descreve Shannon Botelho.

As 25 pinturas exibidas na mostra fazem parte das cinco séries “Pequenas Dissensões”, “Caixas e Caixotes”, “Celebração”, “Empreendedores” e “Balada”. As duas primeiras “estabelecem uma problematização sobre os objetos-imagens com os quais lidamos diariamente, com um certo grau de ironia e problematização sobre a sua descartabilidade e multiplicidade, como em um libelo anti-pop”. Já nas séries seguintes, o artista “indica mais um aspecto da reflexão, desta vez, marcada pela violência e pela desigualdade social, agravadas pelo racismo estrutural que vigora não só em nossa cidade, mas também em todo país”, diz o curador.

A exposição propõe um campo de debate, onde a ironia das situações e dos contextos convida à reflexão sobre nossas condições de vida, nossas escolhas e as ações cotidianas que sustentam o status quo. Osvaldo Carvalho traz à tona sua perspectiva a partir da zona norte do Rio de Janeiro, abordando temas como desigualdade social e violência urbana, muitas vezes com referências diretas. Ele faz isso dentro do universo pictórico, consciente do ambiente saturado de imagens, e busca capturar a atenção do espectador com uma paleta marcante e composições que desafiam o olhar, criando conexões e sobreposições de elementos que provocam a reflexão e estão longe de serem acidentais. “Aspetos de uma Cidade”, funda-se como um lugar propício para nos encontrarmos com o tempo presente, revisitarmos o passado e desenharmos outro futuro, diferente do qual que desde agora avistamos”, conclui Shanon Botelho no texto curatorial.

Sobre o artista

Osvaldo Carvalho nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, RJ, em 1976. Pintor. Mestre em Poéticas Visuais (ECA-USP), inicia seus estudos artísticos no EAV- Parque Lage (Rio de Janeiro) e Museu do Ingá (Niterói), aprofundando sua pesquisa em 2000 com o Prêmio Interferências Urbanas. Seu olhar permeia signos do imaginário da cultura de massa, publicidade, objetos e interiores domésticos e uma reflexão sobre a paisagem pública e urbana. O artista questiona estruturas de poder, nas esferas micro e macro-políticas, em inúmeras séries desdobradas em linguagens como a pintura, desenho, escultura, fotografia e vídeo. Seu trabalho já foi visto na França, Bélgica, Suécia, Dinamarca, Portugal, Colômbia e ocupa acervos importantes como o do MARGS (Museu de Arte do Rio Grande do Sul), Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e Coleção SESC Amapá. Foi finalista do prêmio Marcantonio Vilaça em 2019, além de outros prêmios ao longo de sua carreira.

Até 04 de outubro.

A síntese da obra de Bob Wolfenson

05/set

A Galeria Mario Cohen, Jardim Europa, São Paulo, SP, apresenta em exibição a mostra “Instante Construído”, individual de Bob Wolfenson.

Ao longo de uma carreira, Bob Wolfenson, em mais de 50 anos se consolidou como um dos principais fotógrafos brasileiros. Transitando entre diversos gêneros, como fotografias autorais, retratos e editoriais de moda. Esta exposição apresenta uma síntese deste vasto percurso na fotografia.

Para J.R.Duran, que assina o texto crítico, “Bob Wolfenson sabe muito bem que a fotografia não é sobre a coisa fotografada; é sobre como aquela coisa aparece fotografada”. Nesta exposição, dentre o grande acervo de Bob Wolfenson, o foco está nas fotografias de moda. J. R. Duran também comenta que “As fotos de moda de Bob Wolfenson não saem de moda. É uma caraterística ímpar.” Para Bob Wolfenson, a fotografia de moda precisa de uma imersão, as sessões duram horas até chegar ao resultado esperado, a cena que se concretiza no que o artista chama de o “instante construído”.

Nova representação para Ana Silva

A Gentil Carioca, Rio de Janeiro e São Paulo, anuncia a representação da artista Ana Silva.

Nascida em Calulo, Angola, a artista vive e trabalha em Lisboa, Portugal, e se expressa por meio da diversidade dos materiais que utiliza. Tela, madeira, metal, tinta acrílica e tecido são elementos que compõem e dão forma à sua arte. Durante suas caminhadas pelos mercados de Luanda, começou a distorcer o uso primário de sacos de ráfia e outros artefatos para um trabalho de memória; de objetos abandonados a objetos revividos: “Não consigo separar meu trabalho da minha experiência em Angola, em uma época em que o acesso a materiais era difícil devido à guerra de independência e à guerra civil. Minha criatividade nasceu da exploração de meu ambiente imediato. Essa experiência teve um grande impacto em minha maneira de trabalhar e em minha vida de modo geral.”

Em 2023 participou das exposições coletivas Ocultas Marés: Ana Silva & Marcela Cantuária, n’A Gentil Carioca São Paulo e Constellation na Galerie MAGNIN-A em Paris, França. Em 2022, realizou a individual Vestir Memórias, na Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea em Almada, Portugal. No mesmo ano, também participou do Festival International des Textiles Extraordinaires, em Clermont Ferrand, na França.

Obras recentes e inéditas de Luiz Zerbini.

04/set

Celebrando a mudança de nome da galeria, a Maneco Müller | Mul.ti.plo, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, abriu uma exibição individual com a produção mais recente de Luiz Zerbini, que acaba de apresentar no CCBB Rio uma grande mostra retrospectiva, atraindo mais de 70 mil visitantes. A exposição “Pedra, metal e madeira” reúne cerca de 20 obras recentes do artista, entre gravuras em metal, litogravuras e monotipias, sendo a maioria inédita. Quem assina o texto crítico é Fred Coelho. A mostra, que vai até 1º de novembro, inclui o lançamento de um livro de grandes dimensões, impresso manualmente, a ser apresentado na ArtRio. A mudança de nome da galeria simboliza a sociedade entre Maneco Müller e Stella Ramos na Mul.ti.plo, desde 2018.

Atravessando seus quase 50 anos de produção, a poética de Luiz Zerbini destaca-se por uma voluptuosa e desconcertante paisagística, combinando vegetação, ambientes urbanos, fabulação, memória e alegorias. A recente produção em monotipia e gravura em metal do artista é fruto do encontro dele com o Estúdio Baren, criado pelo editor e impressor carioca João Sánchez. Há quase uma década, Zerbini e João pesquisam diversas formas de imprimir monotipias, misturando técnicas e materiais, papéis, matrizes e pigmentos. Mais recentemente, o artista carioca Gpeto passou a colaborar também com o Estúdio Baren, juntando-se à produção de monotipias de João Sánchez e Luiz Zerbini.

O destaque da mostra na galeria são as gravuras em metal inéditas nas quais Luiz Zerbini se debruça sobre uma das mais tradicionais técnicas de impressão artesanal do mundo. Há cerca de cinco anos, Zerbini vem se dedicando a experimentações nesse campo graças à proximidade com o Estúdio Baren. A Maneco Müller | Mul.ti.plo surgiu como espaço natural da mostra dessa produção por conta da parceria da galeria com o Estúdio Baren e a amizade de longa data tanto com Luiz Zerbini quanto com João Sánchez.

Na mostra estão cinco obras em água-forte e água-tinta sobre papel de algodão em preto e branco, com edição limitada de 30 exemplares, no formato de 78 X 53 cm. “Num momento de enorme sucesso da sua carreira, Zerbini expande-se por outra frente, com a possibilidade de escapar da demanda permanente da pintura. Nas gravuras em metal, ele está podendo repensar as imagens de suas telas, oferecendo a elas novas dinâmicas, novas camadas, novas possibilidades. Isso leva a um outro caminho de debate sobre sua obra. A oportunidade de se desafiar, de se arriscar, experimentar, traz um incrível frescor e força aos novos trabalhos”, explica Fred Coelho. Os desenhos de Zerbini, feitos a ponta-seca e buril sobre a superfície do metal, revelam-se no papel com uma incrível sutileza de tons e força da forma. “Aqui o tempo da impressão é outro. O processo em metal é trabalhoso, lento, complexo. Exige muita dedicação. É coisa de um mundo que não existe mais. Sempre tive vontade de me dedicar a isso, mas nunca tive chance. Agora com o João Sánchez encontramos esse caminho”, revela Luiz Zerbini.

Já as 12 monotipias são exemplares únicos, com dimensões de 107 x 80 cm, impressas em papel de algodão. Tirando as obras apresentadas na exposição MASP em 2022, incluindo quatro originais utilizados para ilustrar a edição do livro “Macunaíma, o herói do Brasil”, de Mário de Andrade (Editora Ubu, 2017), e outra sobre a Guerra de Canudos, a coleção de monotipias reunida é inédita. Mais do que representações de vegetação, nas monotipias de Luiz Zerbini são as próprias plantas e objetos entintados que são colocados na prensa, imprimindo e dando relevo com sua textura ao papel. “Quando descobri a possibilidade de utilizar as folhas como matriz, fiquei muito interessado. A partir daí começamos a experimentar outros materiais. Fomos fazendo uma pesquisa enorme”, comenta o artista sobre a parceria com o Estúdio Baren.

Dois artistas amigos

Em comemoração aos dez anos de seu espaço no Rio de Janeiro, Nara Roesler traz à cidade dois renomados artistas internacionais, e amigos de longa data: o suíço Not Vital (1948), escultor, pintor e desenhista, e o inglês Richard Long (1945), um dos pioneiros da land art – obras de arte criadas com elementos da natureza e integradas a ela. A abertura da exposição “Mães”, com trabalhos dos dois artistas, será no dia 10 de setembro, às 18h. A exposição permanecerá em cartaz até 26 de outubro.

Richard Long, único artista a ter sido finalista quatro vezes do Turner Prize, que venceu em 1989, foi eleito em 2001 para a Real Academia de Artes da Inglaterra, e nomeado “Sir”. Ele fará uma instalação criada especialmente para a exposição, com elementos encontrados na cidade. Richard Long costuma usar pedaços de madeira e pedras, em seus trabalhos. Ele e Not Vital têm em comum um espírito nômade, embora sempre ligados às suas raízes familiares. A mãe de Richard Long, Frances, oriunda de uma família de Bristol, Inglaterra, nasceu no Rio de Janeiro, em função do trabalho de seu pai para a fabricante de carros Hispano-Suiza. Richard Long também admirava muito a mãe de Not Vital, Maria, com quem convivia nas visitas ao amigo em sua casa em Sent, no vale Engadine, leste da Suíça. Quando ela fez cem anos, em 2016, Richard Long dedicou a ela uma nova edição de sua célebre série iniciada em 1971, “A Hundred Mile Walk” – uma caminhada de cem milhas, quase 161 quilômetros – e percorreu a distância entre Stonehenge e a nascente do Tâmisa.

“Sou um escultor que pinta”, salienta Not Vital, que desde 2008 pinta retratos, e mais tarde o que chama de “autorretratos”, em que “das muitas aplicações e remoções das camadas de tinta emerge uma imagem”. “Às vezes preciso me pintar três vezes, ou duas, ou apenas uma, porque a cada dia nos vemos de maneira diferente”. Ele explica que inicialmente fazia um rosto “com olhos e cabelo”, mas que depois percebeu que “bastava ter um nariz”. “Quero chegar com essas pinturas a um momento de sentimento. Elas não têm a ver com formas ou cores, e sim muito com as emoções”. “É muito importante o que está em volta, o que alguns chamam de aura”, diz.

Autor de grandes esculturas colocadas ao ar livre, espalhadas pelo mundo, Not Vital também gosta de criar em formatos menores, em vários materiais, como aço ou gesso. “Gosto muito de gesso, pois é o que mais se assemelha à neve. Tenho que trabalhar rápido, porque endurece muito rapidamente”, diz. Uma das esculturas em gesso é “Pão de Açúcar” (2022). “É claro que se você é das montanhas, você sempre está interessado nelas”, afirma Not Vital.

Not Vital é notabilizado também por ter expandido a escultura em direção à arquitetura com a criação de suas “casas-esculturas”. Ele cunhou o termo Scarch, a junção, em inglês, das palavras “escultura” e “arquitetura”, para definir obras construídas ao redor do mundo, com material disponível no local. No Brasil, Not Vital fez exposições individuais no Paço Imperial, Rio de Janeiro, em 2015 – a primeira na América do Sul -, “Saudade”, de novembro de 2018 a março de 2019, e “A vida é um detalhe”, de novembro de 2022 a fevereiro de 2023, ambas na Nara Roesler São Paulo. Ele participou das coletivas “Aberto/01”, na Casa Oscar Niemeyer, em São Paulo, em 2022, “Ar livre: esculturas de grande escala na Fazenda Boa Vista”, entre julho de 2020 a fevereiro de 2021, e “Roesler Hotel #29: Reflectionson Time and Space”, com curadoria de Agnaldo Farias, de 1º de abril a 11 de maio de 2019, na Nara Roesler São Paulo.

Richard Long é descrito no site da Tate, prestigiosa instituição de arte da Inglaterra, como o tendo expandido a ideia de escultura, de modo a integrar a arte conceitual e a performance. Na inauguração da Tate Modern, em Londres, em 2000, a obra “Red Slate Circle”, de Richard Long, uma escultura circular com rochas e limo, esteve na mesma sala que uma grande pintura da série “Water Lilie”, de Claude Monet (1940-1926). Ao invés de se sentir “cooptado” pelo sistema de arte, com as honrarias recebidas, ele disse ao jornal “The Guardian” que achava bom ter “alguém como ele para dar credibilidade” aos conselhos britânicos e de arte. “Estou fazendo um favor a eles”, brincou.

Paisagens de Cris Ioschpe

03/set

A Ocre Galeria, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS,  convida para a abertura da exposição “Quietude”, de Cris Ioschpe, com curadoria de Maria Alice Milliet e participação especial do artista plástico Walmor Corrêa. A inauguração ocorrerá no dia 05 de setembro, marcando o início de um período de visitação que se estenderá até o dia 01 de outubro. Além disso, no dia 06 de setembro, às 18h30, haverá uma conversa com os artistas Cris Ioschpe e Walmor Corrêa, mediada por Paula Ramos.

O texto da curadora Maria Alice Milliet para a exposição “Quietude” de Cris Ioschpe destaca a profundidade emocional e o contexto pessoal e geográfico que influenciam as obras da artista. As paisagens retratadas nas obras remetem às dunas e banhados do Taim, uma reserva ecológica no Rio Grande do Sul, e ao litoral norte de São Paulo. A curadora observa que a natureza apresenta-se como referência primordial, como resíduo arcaico de um tempo mítico. As obras emergem de um processo lento e maduro, onde não há pressa nesse trabalho, apenas expectativa do que está por vir. O movimento suave do pincel cria ondulações que evocam montanhas, banhados, ilhas e baías de águas calmas, revelando a dualidade entre as séries “Taim” e “Serra do Mar”. Maria Alice Milliet também explora a evolução artística de Cris Ioschpe, que iniciou sua trajetória na gravura e depois se aprofundou na pintura. Ela destaca a importância do aprendizado da artista com Maria Tomaselli e Iberê Camargo, e menciona sua aproximação com Paulo Pasta nos últimos anos. A curadora pontua que Cris Ioschpe chegou a uma pintura singular, num contexto onde a pintura de paisagens, embora tradicionalmente vista como menor, continua a atrair artistas contemporâneos.

Em suas obras, Cris Ioschpe evolui das naturezas-mortas para as paisagens. Na série “Taim”, ela constrói com gestos e pinceladas generosas o que pode ser lido como montanhas baixas e alagados, utilizando uma paleta de azuis, roxos e verdes que reforçam a continuidade da paisagem para além do quadro. Já na série “Serra do Mar”, a artista adota uma abordagem pictórica mais incisiva, com contornos definidos e um cromatismo menos sombrio. A pintura aproxima-se do desenho, à medida que os limites entre céu, terra e mar tornam-se mais nítidos, sublinha a curadora.

Por fim, Maria Alice Milliet conclui que, em ambas as séries, o foco não está na identificação precisa do local, mas naquilo que a paisagem transmite: na quietude da observação, a natureza inspira o artista e, na contemplação da pintura, ela nos toca.

Sobre a artista

Cris Ioschpe, nascida em Porto Alegre em 1967, é uma artista plástica que vive e trabalha em São Paulo desde o ano 2000. Formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1992, desenvolveu sua prática artística inicialmente estudando pintura e gravura com mestres como Maria Tomaselli, Anico Herskovits, Paulo Pasta, e Claudio Mubarac. Na década de 1990, expandiu sua formação vivendo em Buenos Aires onde trabalhou no Museo del Grabado e em Porto Alegre na Fundação Iberê Camargo, colaborando com Eduardo Haesbaert. Com seu ateliê em São Paulo, continuou a se aperfeiçoar sob a orientação de Evandro Carlos Jardim e Ernesto Bonato, e participou de diversos projetos de gravura, incluindo o “Projeto Lambe-lambe”. Além de coordenar workshops de gravura no SESC Pompeia e oficinas na Chapel School, desde 2013 frequenta o curso de Paulo Pasta no Instituto Tomie Ohtake. A artista possui um extenso currículo de exibições individuais e coletivas, destacando-se “Passos que imaginei” na Galeria Gravura, em Porto Alegre, RS, no ano 2000, “Funil” na Galeria Bolsa de Arte de Porto Alegre em 2004  e “da gravura e além” na Galeria Arteedições em 2017 em São Paulo. Suas obras integram coleções públicas em instituições de prestígio, como a Bibliotheca Alexandrina, o Museo del Grabado em Buenos Aires, e diversos museus no Brasil, incluindo o Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul e o Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ.

Sapos, lagartixas, jacarés, ratos e cobras de borracha.

A artista Lia Menna Barreto exibe na OCRE Galeria, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS, uma exuberante instalação composta de bichos de plásticos.

A incessante fábrica de Lia Menna Barreto

Tapetes de jacaré, bobinas de sapo, pizzas de lagartixa. Produtos variados: vende-se a metro ou a granel, no varejo ou no atacado. Há 21 anos, a fábrica de Lia Menna Barreto segue funcionando incessantemente, nunca parou. Lia se insere na esteira diversa da ousada Geração 80 da arte brasileira. Propondo experimentações de materiais e linguagens possíveis à criação artística, coube a essa turma de jovens artistas reinventar modos de pensar e fazer em arte, subvertendo formas de pintar, gravar, desenhar e esculpir, ampliando-se para uma cartela infinita de meios e procedimentos. Em Fabricados, a artista apresenta parte da coleção de produtos derivada da instalação in situ Fábrica, obra emblemática da 4ª. Bienal do Mercosul (Porto Alegre/Brasil, 2003). Na proposição, instalou uma sala de produção no meio do Armazém A5 do Cais do Porto. Quadrado, com divisórias de PVC e vidro, o chão de fábrica mantinha um regime de produção onde nós, operários-assistentes, produzíamos, em série, dezenas, senão centenas, de objetos modulares, a partir de bichinhos de brinquedo. Para a realização das tarefas do dia, repetindo uma técnica de prensagem criada pela artista utilizando ferros de passar roupa, água e papel manteiga, montávamos objetos de aparência estranhamente familiar a partir da manipulação de sapos, lagartixas, jacarés, ratos e cobras de borracha, famosos itens de preço barato das saudosas lojas de 1,99 ou made in China. Construíamos tapetes, mandalas, estrelas, flores, bolos e pizzas. Na ocasião, a obra viva exibia ao público, do horário de abertura ao encerramento de suas operações fabris, o pensamento de uma artista inquieta, revelado no labor e na fantasia do processo criativo. Temporária e efêmera, a fábrica se apresentava como um trabalho continuamente inacabado e, ao mesmo tempo, múltiplo em si. Nenhum dia era o mesmo dia na linha de produção pois, a cada 24 horas, acontecia de um jeito diferente, revelando-se como uma obra de difícil apreensão. Não diferente, a mostra que se apresenta hoje, continua fugindo da obviedade. Na esperança de encontrarmos obras docilizadas no ambiente da galeria, a montagem e a exibição das peças subvertem a lógica de exposição e atualizam as regras de apreciação e consumo de obras de arte. Os fabricados de Lia voltam ao circuito como produtos, vendidos a metro ou em peças únicas, separados ou combinados, grandes ou pequenos, ao gosto do freguês. Um tanto irônico, a artista nos apresenta mais um desdobramento de sua constante, irreverente e espetacular produção. Com 40 anos de carreira, a produção da artista atualiza o repertório singular de conceitos operatórios que traz em sua caixa de ferramentas: derreter, grudar, misturar e prensar ampliam-se para cortar, medir, negociar e outros tantos verbos de ação que seu trabalho demande inventar. Revela, portanto, que há sempre uma surpresa no caminho a surgir, que reconfigura continuamente as rotas do trabalho da artista. Pois, mesmo no ato insistente de uma comprometida e incessante produção, sempre abre-se espaço para o desvio. Surpresas do processo: o começo de uma nova linha de produção.

Sandro Ka/artista visual, professor e pesquisador (EBA/UFMG), ex-operário-assistente da Fábrica.

As pinturas de Heitor dos Prazeres em NY

02/set

A Galatea e a Simões de Assis participam da feira Independent 20th Century, que ocorre esta semana em Nova York, com o estande solo do artista Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 1898 – 1966, Rio de Janeiro).

Heitor foi um artista multidisclipinar, pioneiro na formação do samba carioca e autoditada na pintura, prática que iniciou em 1937, aos 40 anos. Suas pinturas exploram temas relacionados à cultura popular brasileira, retratando e celebrando as tradições e o cotidiano da população negra urbana do Rio de Janeiro.

Recentemente, em 2023, o Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro (CCBB RJ) realizou a maior retrospectiva já dedicada ao seu trabalho, exibindo mais de 200 trabalhos vinculados às artes visuais, à música e à moda. Suas pinturas fazem parte de diversas coleções públicas, tais como: Museum of Modern Art (Nova York); Rennie Museum (Vancouver); Museu de Arte de São Paulo – MASP (São Paulo); Museu Afro Brasil (São Paulo); entre outros.