A diversidade da arte popular brasileira

18/mar

A Galeria Jacques Ardies, Vila Mariana, São Paulo, SP, apresenta a exposição “12 Caminhos”, uma mostra que reúne o talento e a singularidade de 12 artistas de renome na arte popular brasileira. A inauguração acontece no dia 25 de março e conta com a participação dos artistas Ana Maria Dias, Cristiano Sidoti, Edivaldo, Edna de Araraquara, Enzo Ferrara, Francisco Severino, Helena Coelho, Isabel de Jesus, Lucia Buccini, Luiz Cassemio, Mara D. Lopes e Vanice Ayres.

Cada um desses artistas possui uma abordagem única, utilizando cores, formas e composições que expressam diferentes maneiras de perceber, sentir e representar o mundo ao seu redor. Apesar de suas distintas linguagens, todos compartilham a capacidade de retratar com sutileza e sensibilidade temas ligados à natureza e ao cotidiano, transmitindo em suas obras a alegria, o lirismo e o otimismo característicos do povo brasileiro.

A exposição “12 Caminhos” convida o público a embarcar em uma viagem pelo Brasil, explorando cenários diversos inspirados nas vivências e experiências de cada artista. Com um olhar autêntico e espontâneo, os participantes da mostra revelam seu universo interior por meio de um estilo próprio e facilmente reconhecível. Embora autodidatas, esses artistas acumulam anos de experiência e experimentação, buscando constantemente o aprimoramento de suas técnicas.

Em cartaz até 30 de abril.

Exibição de Adriana Varejão em N Y, Lisboa e Atenas.

17/mar

Artista explora interação entre natureza e cultura com novas obras.

A artista plástica Adriana Varejão desembarcará com suas exposições em Nova York, Lisboa e Atenas a partir do mês de março, expandindo ainda mais o seu trabalho após quase quatro décadas. As três mostras, que se conectam, também se expandem em diferentes aspectos do trabalho da artista carioca. No Hispanic Society Museum & Library (HSM&L) de Nova Iorque, por exemplo, Varejão explora a interação entre natureza e cultura com novas obras da série Pratos e uma escultura pública; já no Centro de Arte Moderna Gulbenkian, em Lisboa, a artista estabelece um diálogo com o trabalho de Paula Rego, abordando temas como violência e memória; enquanto na galeria Gagosian, em Atenas, ela investiga tradições de cerâmica, da turca a de Maragogipinho, na Bahia, relacionando sua produção contemporânea a essas tradições, que diz estar cada vez mais imersa na pesquisa sobre cerâmica, azulejos e barroco.

De 27 de março a 22 de junho, a exposição Don’t Forget: We Come From the Tropics marca a primeira individual da artista em um museu nova-iorquino, com as pinturas tridimensionais da série Pratos, entre inéditas e recentes, bem como uma grande instalação comissionada na entrada da Hispanic Society. As obras resultam das pesquisas de Varejão sobre a Amazônia e propõem uma releitura crítica do cruzamento entre natureza e cultura, além de fazer referências a tradições cerâmicas de diversas partes do mundo.

Em Lisboa, em Portugal, de 10 de abril a 22 de setembro, a exposição Entre os Vossos Dentes traz um diálogo da trajetória artística de Varejão com a da renomada portuguesa Paula Rego, no Centro de Arte Moderna Gulbenkian. Distribuída ao longo de 13 galerias temáticas, a exposição, com quase cem obras, encontra pontos de convergência surpreendentes entre os trabalhos de cada uma delas, abordando temas como violência, erotismo, apagamento e memória. Com curadoria da própria artista carioca em parceria com Helena de Freitas e Victor Gorgulho, a mostra tem expografia da cenógrafa, dramaturga e cineasta Daniela Thomas.

Encerrando a sequência de exposições, Adriana Varejão realiza sua primeira individual na galeria Gagosian de Atenas, de 15 de maio a 14 de junho. A exposição reúne obras inéditas da artista em diálogo com peças de diversas tradições cerâmicas, que cruzam tempos e geografias. A mostra será dividida em quatro núcleos: o primeiro se relaciona com vasos da Grécia, o segundo com vasos de Maragogipinho, na Bahia, conhecido como o maior pólo ceramista da América Latina, com cerca de 150 olarias. Adriana visitou a cidade para investigar a produção local, cujas peças são caracterizadas pela pintura floral em tabatinga branca sobre a cerâmica avermelhada. O terceiro núcleo está relacionado com a cerâmica chinesa da dinastia Song, incluindo um incensário raro que ela pegou emprestado com o museu Benaki. O quarto traz uma relação com tradição de Iznik, da Turquia, destacando os azuis vibrantes, um traço marcante desses trabalhos. Na exposição, Varejão propõe uma reinterpretação da cerâmica como maneira de conectar o passado e o presente, resgatando os significados históricos e culturais dessa produção artística.

Exposição homenageia Aderbal Freire-Filho.

14/mar

 

Mostra no Teatro Gláucio Gill apresenta a mostra Aderbal Teatro Cidade, uma homenagem ao diretor de teatro, ator e apresentador Aderbal Freire-Filho, falecido em 2023. Com curadoria de César Oiticica Filho, a mostra apresentará a extensa obra de um dos mais importantes e criativos dramaturgos brasileiros, que tem uma forte ligação com o Teatro Gláucio Gill, tendo criado, naquele espaço, em 1989, o Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (CDCE), um marco na história da dramaturgia brasileira. Com fotos de Nil Caniné e conceito visual de Lea van Steen, pesquisa de Antonio Venancio e produção executiva de Cleisson Vidal, a mostra extrapolará as fronteiras do espaço, sendo apresentada também na Praça Cardeal Arcoverde.

“Nosso objetivo foi fazer uma exposição que fosse também uma obra de arte ao mesmo tempo, trazendo a questão experimental que é tão presente no teatro do Aderbal, tendo também esse diálogo forte com a cidade, que era uma característica dele”, afirma o curador César Oiticica Filho. A exposição também se expandirá para a rua, sendo realizada também na Praça Cardeal Arcoverde, que fica em frente ao Teatro Gláucio Gill, onde haverá imagens e cartazes de espetáculos históricos do diretor

Até 19 de abril.

O discurso do novo representado.

 

A galeria A Gentil Carioca, São Paulo e Rio de Janeiro, anuncia a representação do artista Miguel Afa. O artista vive e trabalha no Rio de Janeiro. Começou sua trajetória por meio do graffiti em 2001, nas ruas e becos do Complexo do Alemão, e estudou na Escola de Belas Artes – UFRJ. Seu trabalho reflete sobre o corpo periférico, contrapondo suas adversidades e propondo uma nova leitura imagética que potencializa e valoriza o afeto. Suas obras alternam entre a sensibilidade poética e mensagens políticas diretas.

O olhar do artista transforma o que captura, dando-lhe uma aura própria por meio das cores que utiliza. Sua paleta amena não é mero recurso estético: é essencial à composição, ampliando a complexidade do que é representado. Longe de neutra, a cor é discurso e um posicionamento diante das cenas retratadas. Esmaecer não é apenas um gesto pictórico, mas um ato de lembrança e questionamento, revelando tanto o visível quanto o invisibilizado.

Em 2025, o artista apresenta uma exposição solo no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, Brasil. Em 2024, participou das coletivas “Dos Brasis”, no Sesc Quitandinha, Petrópolis (itinerância da mostra apresentada no Sesc Belenzinho, São Paulo) e “O que te faz olhar para o céu?”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. No mesmo ano, realizou a individual “ENTRA PRA DENTRO”, na galeria A Gentil Carioca. Em 2023, realiza nova exibição individual “Em Construção” e participou da coletiva “Da Avenida à Harmonia”, ambas no Instituto Inclusartiz no Rio de Janeiro, Brasil. Suas obras fazem parte de coleções de destaque, como a Jorge M. Pérez Collection.

O Legado de Ayrson Heráclito, Emanoel Araujo & Mestre Didi.

13/mar

 

A Galeria Simões de Assis, Curitiba, PR, apresenta até 26 de abril, as representações do sagrado e do espiritual sob o olhar da tríade baiana Ayrson Heráclito, Emanoel Araujo e Mestre Didi, referências na iconografia das religiões afrodiaspóricas. Com curadoria de Daniel Rangel, a exposição apresenta a prática de cada um dos artistas em esculturas, aquarelas, relevos e fotografias.

A geometria sagrada dos relevos e esculturas em madeira e metal de Emanoel Araujo, artista, curador e fundador do Museu AfroBrasil, está presente em importantes coleções, como: LACMA – Los Angeles County Museum of Art (EUA), Museum of Fine Arts (Boston), PAMM – Pérez Art Museum Miami (EUA), Tate (Londres), MASP – Museu de Arte de São Paulo, Pinacoteca de São Paulo (Brasil), entre outras.

As esculturas em tronco de palmeira, couro pintado e miçangas do artista-sacerdote Mestre Didi integram coleções de destaque, incluindo o MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador), o MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo e o MASP – Museu de Arte de São Paulo.

Os “Juntós”, em aquarelas e esculturas em metal, e as fotografias de Ayrson Heráclito, artista, curador e professor, fazem parte de acervos do Museu Solomon R. Guggenheim (Nova York), Museum der Weltkulturen (Frankfurt), MAR – Museu de Arte do Rio, MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador), MON – Museu Oscar Niemeyer (Curitiba), entre outros.

Uma tríplice aliança yorubaiana¹.

Para a cultura iorubá, o tempo é um evento circular. Passado, presente e futuro se confundem e entrelaçam entre si. A Bahia, terra mãe do Brasil, foi também o porto de chegada da cultura iorubana. Provinda sobretudo da Nigéria, mas também do Benin e do norte do Togo, o iorubá é a etnia mais presente em Salvador, no dia a dia das pessoas e também nos principais terreiros de candomblé da cidade, por exemplo. Essa presença vêm sendo abordada por artistas de diferentes gerações e estilos desde o final dos anos 1940, começo dos 1950, quando podemos perceber um afloramento de um movimento moderno genuinamente baiano. Não somente pela incorporação de temáticas relacionadas à presença da cultura afrodiaspórica – sobretudo na capital e no recôncavo baiano -, mas também pela inserção de referências da cultura popular relacionada ao barro, à terra, ao couro; referenciais dos povos indígenas; e ainda uma presença de artistas afrobrasileiros abordando sua própria cultura. A exposição Legado: Mestre Didi, Emanoel Araújo e Ayrson Heráclito reúne justamente três baianos expoentes máximos dessa tradição. Diferentes tempos reunidos em um mesmo espaço que vai além de uma conexão evidentemente cronológica, cuja existência é real. A contribuição aqui é de todos para todos, como em uma encruzilhada. É fato que Mestre Didi (1917 – 2013) influenciou Emanoel Araújo (1940 – 2022) e que ambos influenciaram Ayrson Heráclito (1968). No entanto, é verdade também que a contribuição aqui acontece em três vias, como em uma via de mão-tripla onde caminhos se cruzam e fortalecem as estradas individuais. Se a trajetória vanguardista de Mestre Didi pavimentou o caminho para Emanoel Araújo, este consolidou a estrada. Não somente com sua produção como artista, mas sobretudo com seu trabalho como curador e introdutor da arte negra no circuito artístico nacional. De fato, Ayrson Heráclito atualmente transita nessa estrada, no entanto, vem ampliando gradativamente o alcance desse legado para ele e para os outros, sobretudo a nível internacional.  Simultaneamente à abertura dessa exposição em Curitiba, o Museo del Barrio em Nova York inaugurou a primeira grande mostra individual do Mestre Didi fora do Brasil. Ayrson foi um dos curadores² desse projeto que, de certa forma, está apresentando ao sistema de arte internacional essa produção única de origem “yorubaiana”. Didi, além de artista, foi um grande sacerdote do candomblé, sendo filho sanguíneo de Mãe Senhora, uma das mais importantes ialorixás da Bahia, que também foi mãe-de-santo de Jorge Amado, Pierre Verger e Carybé. Sua produção escultórica representa símbolos, cores e formas das ferramentas, ícones, animais, folhas e materiais provindos do candomblé. Obras de taliscas de dendê trançadas, que fazem referência direta ao Ibiri – uma ferramenta da orixá Nanã que o artista ressignificou com grande liberdade formal e, também, espiritual. Mestre Didi criou inúmeras dessas esculturas, “totens” energéticos, com variações cromáticas e distintos tamanhos. É evidente que as obras dele dialogam diretamente com a produção aqui apresentada por Ayrson Heráclito, sendo a série Juntó uma homenagem ao Mestre Didi. Ayrson Heráclito é atualmente o principal artista e articulador da arte afrobrasileira no circuito artístico. Sua produção vêm alcançando gradativo interesse internacional, sendo sua obra adquirida por importantes museus recentemente, como o Art Institute of Chicago; Museu Gunggenhein de Nova York; Museu Reina Sofia e Coleção Thyssen, ambas de Madrid; Museu Inhotim, em Minas Gerais; Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, MASP e Pinacoteca de São Paulo; Museu de Arte do Rio; MAC Bahia; Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, além de dezenas de coleções particulares. As esculturas de metal e aquarelas da série Juntó fazem parte de um panteão de obras energéticas iniciadas pelo artista em 2020, nas quais também referencia as tradições yorubaianas. De acordo com o próprio artista “no candomblé, Juntó é a junção de dois orixás – um principal, outro complementar – que regem a vida dos indivíduos. Nas minhas esculturas, realizo essa junção utilizando-me de símbolos e objetos relacionados às divindades, permitindo assim uma ampla combinação aritmética dos 16 principais orixás cultuados no Brasil”. A aproximação temática e, ainda nesse caso, estética, entre a produção de Mestre Didi e Ayrson Heráclito coloca o trabalho de Emanoel Araújo como um elo que transpassa essa união. O rigor das formas e a importância das cores na produção do artista coloca, à primeira vista, suas obras atreladas a um campo mais formalista da arte. No entanto, a releitura dos mesmos símbolos, cores e ícones presentes nos trabalhos dos outros dois artistas estão na base visual das esculturas, pinturas e desenhos de Araújo. Sua trajetória como artista se confundiu com sua exitosa carreira de curador e gestor cultural. Além de diretor do Museu de Arte da Bahia e da Pinacoteca de São Paulo, Emanoel Araújo foi Secretário Estadual de Cultura de São Paulo, criador e diretor do Museu Afro Brasil, e realizou centenas de mostras fundamentais para a inserção da produção africana e afrodiaspórica no país, a exemplo da mítica “A mão Afro-Brasileira – Significado da contribuição artística e histórica”, primeira grande retrospectiva da produção negra no Brasil, realizada em 1988, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, da qual Mestre Didi fez parte. Sem dúvidas, os caminhos dos três estão intercruzados e “amarrados em folha de arruda”, sendo o trabalho de um fundamental para o desenvolvimento do trabalho do outro. A exposição Legado: Mestre Didi, Emanoel Araújo e Ayrson Heráclito celebra essa união, e apresenta o sumo da arte moderna, pós-moderna e contemporânea produzida na Bahia e no Brasil. Como diz um sábio oriki (ou provérbio iorubano): “Exu acertou um pássaro ontem com uma pedra que só atirou hoje”. Axé!

Daniel Rangel.

¹ O termo “Yorubaiano” foi o título da exposição individual de Ayrson Heráclito, com curadoria de Marcelo Campos e Ana Maria Maia.

² Rodrigo Moura, curador geral do museu, foi o outro curador da mostra. A exposição fica em cartaz de 13/03 a 13/07/2025.

Encontros entre arte e design.

11/mar

“Afinidades ancestrais” é uma ativação-exposição que interroga e celebra o vocabulário herdado de nossa situação afro-atlântica.

Na Semana de Design de São Paulo, a ProArte Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, recebe o lançamento da coleção de vasos de cerâmica chinesa Serengeti, inspirada na riqueza cultural e paisagística da África Oriental. A idealização é de Marcelo Felmanas que, junto a J. Wair de Paula Jr., tenta produzir um diálogo entre os objetos de design e a arte brasileira – notoriamente donatária da cultura afro-brasileira.

Serengeti, que significa “lugar infinito” ou “planície sem fim”, remete à majestosa região que abriga o Parque Nacional de Serengeti, santuário natural de beleza inigualável. Assim como a paisagem da região africana, os vasos da coleção evocam uma estética orgânica e atemporal, refletindo a grandiosidade da fauna, o brilho das estrelas no céu do continente e as tradicionais cercas das aldeias Maasai. Referência na importação de móveis e objetos de design, a 6F Decorações coloca em destaque nesta mostra peças feitas à mão que dialogam com as expressões artísticas brasileiras ligadas às matrizes africanas. A pequena ativação-exposição, feita para a Semana de Design, acontece até 14 de março.

Esta pequena mostra procura traçar um paralelo entre as culturas dos povos africanos e a arte brasileira, explicitada através de nomes como Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres, Emanoel Araújo, Franz Krajcberg e outros. Busca-se demonstrar visualmente as possíveis ligações (assumidas ou não) entre estes grandes criadores e as culturas africanas.

Ars, Artis. Techne, Digitalis.

10/mar

O marchand Sergio Gonçalves abre exposição coletiva que aborda mídias digitais nos trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros. Vem do latim o nome da mostra que será apresentada a partir do dia 11 de março na Sergio Gonçalves Galeria, em uma casa na Alameda Gabriel Monteiro, Jardim América, São Paulo, SP.

“Ars, Artis. Techne, Digitalis.” segue o tema da edição deste ano da DW – Design Week de São Paulo,  “Mãos x Máquina”, destacando a interação entre tecnologia e criatividade na produção artística e no design contemporâneo. Nessa exposição, o marchand Sergio Gonçalves reúne artistas cujas obras provocam a reflexão sobre o impacto das mídias digitais nos tempos atuais. Em sua primeira participação na DW, a galeria reforça sua posição como um espaço de experimento na Arte Contemporânea, abrindo as portas para novas narrativas visuais, sempre em busca de inovação. Nesta curadoria, ele selecionou artistas que experimentaram e que ainda experimentam novas maneiras de expressão, unindo arte e tecnologia e criando um diálogo entre o toque humano e a precisão das máquinas. Nomes como Abraham Palatnik, Cruz-Diez e Martha Boto, por exemplo, que foram pioneiros com o uso de inovações, fazem parte desta seleção apurada, que conta ainda com Bruce Maclean, Julian Opie, Michael Craig-Martin, Vik Muniz e Toyota.

A palavrado curador.

Nosso objetivo é mostrar que, longe de substituir o artista, a tecnologia poder ser uma extensão da criativadade humana, ampliando possibilidades e transformando a maneira como percebemos a Arte e o Design, por exemplo.

Artistas participantes.

Abraham Palatnik, Alexandre Mazza, Bernard Pras, Bernardo Mora, Bruce Mclean, Catherine Yass, Cruz-Diez, Duda Rosa, Iván Navarro, Jê Américo, Julian Opie, Julio Le Parc, Martha Boto, Marcelo Magnani, Michael Craig-Martin, Sarah Morris, Vik Muniz, Yutaka Toyota.

Até 22 de março.

Um convite ao silêncio.

27/fev

A exposição de pinturas de Felipe Suzuki “E se a Lua for embora, o céu entenderá” encontra-se em seus últimos dias de exibição da Simões de Assis, Jardim Paulista, São Paulo, SP.

E se a Lua for embora, o céu entenderá

Conduzindo o olhar por um grupo de trabalhos que flertam com o gênero da paisagem e da natureza-morta, Felipe Suzuki impõe um estado de suspensão temporal onde memória e atualidade se dissolvem. Paira sobre a pele aveludada dos pêssegos, das pétalas de suas flores e do campo aberto de terrenos a esmo uma fina camada leitosa que dilata a apreensão da cena enquanto convida o olho a passear pelas rachaduras e caminhos da tinta. Se outrora a semelhante técnica do sfumato fora utilizada por mestres renascentistas para criar o artifício de uma “perspectiva aérea”, replicando as qualidades físicas da paisagem que se perde no horizonte, o uso adensado proposto por Suzuki inverte o sentido do realismo ótico para propor, em seu lugar, cenas movediças, onde a instabilidade da representação do objeto no meio pictórico mais se assemelha a sonho ou miragem. Produzidas mediante os usos de uma paleta de cores reduzida, em que o preto de marfim, o branco de titânio, o amarelo ocre e o vermelho sienna queimado são misturados e revirados ao avesso para a investigação de seus semitons e combinações, o artista produz um sistema que deriva de uma estrutura inicial. No cosmos que rege a sua produção, cria uma ordem de mônada, conceito-chave sugerido pelo matemático e filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz.

A sinestesia do silêncio

Suzuki explora a pintura a partir do instante e das múltiplas relações que ela estabelece com o espectador, criando profundidade e intensidade a partir do gênero da natureza-morta. A delicadeza se revela na sofisticação cromática e na representação dos objetos, enquanto a brutalidade surge na resolução prática de molduras feitas de pregos, unindo elementos antagônicos. Essa fusão captura as sutilezas do cotidiano, cristalizando-as em uma linguagem pictórica que transforma cenas comuns em representações carregadas de sensibilidade e nuances. Mesmo que, por vezes, figurativas, suas pinturas flertam com o abstrato devido ao jogo de cores que emplaca. A diversidade cromática que enxergamos em cada tela é, na verdade, resultado de um domínio técnico, permitindo que o artista manipule nossa retina ao fazer misturas com somente quatro tons. É nessa busca em expressar profundidade e contemplação que o artista pratica um resgate técnico clássico, em que a cor é uma sugestão e a singularidade é caracterizada por uma abordagem introspectiva e minimalista. Sua pintura é um convite ao silêncio, ao tempo pausado, onde cada elemento parece ser colocado com uma precisão pensada, dando ao espectador a chance de se perder nas sutilezas de suas composições. Ao mesmo tempo, carregam uma intensidade que emerge da simplicidade, convidando o público a contemplar o impacto do momento e da percepção, características tão presentes em sua produção.

Lucas Albuquerque e Luana Rosiello

Lugares na pintura de Emeric Marcier.

26/fev

A Galeria Evandro Carneiro Arte apresenta a exposição Lugares na pintura de Emeric Marcier que estará aberta ao público de 11 a 29 de março no Shopping Gávea Trade Center, salas 108 e 109.

Esta exibição traz 22 obras distribuídas em pinturas a óleo e aquarelas de Emeric Marcier que é considerado um dos mais importantes pintores modernos no Brasil. Artista romeno naturalizado brasileiro, esteve radicado no Brasil por quase meio século; dedicou grande parte de sua vida e obra à produção de pinturas de arte sacra, retratos, paisagens mineiras e aquarelas de paisagens europeias. A curadoria da exposição é de Evandro Carneiro.

Sobre o artista.

Emeric Marcier (Cluj 1916 – Paris 1990), um dos mais importantes pintores modernos do Brasil, nasceu em 21 de novembro de 1916, na Romênia. Judeu de origem, converteu-se ao catolicismo já no Brasil, por influência de seus amigos, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Lucio Cardoso, que foi seu padrinho de batismo. De personalidade intensa, na primeira página de sua autobiografia, Deportado para a Vida (escrita entre 1988-1990 e publicada em 2004 pela Francisco Alves) se declara humanista e algo anarquista. Sua história confirma que a liberdade e a vocação artística sempre o guiaram. Aos 20 anos deixou Bucareste para estudar em Milão – na Academia de Belas Artes de Brera, onde após realizar a graduação, defendeu sua tese de final de curso sobre Picasso, em plena ascensão fascista. Com a deterioração das condições políticas na Itália, foi para a França, em 1939, onde montou um ateliê na Cité Falguière e cursou uma cadeira na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris. Nesta cidade, conheceu e conviveu com muitos artistas, alguns dos quais continuaram amigos pela vida inteira, tais como os conterrâneos e surrealistas, Victor Brauner, Jacques Herold, Arpad Szenes, bem como a mulher deste, Maria Helena Vieira da Silva, portuguesa de origem. Quando a França entrou na guerra, foi para Lisboa, hospedando-se na casa de Arpad Szenes e Vieira da Silva, com a intenção de seguir para os EUA, destino de muitos judeus naquele momento. Em Lisboa trabalhou no ateliê do também surrealista António Da Costa. Relacionou-se com os escritores portugueses da época e ilustrou alguns números da Revista Presença, importante veículo de expressão dos intelectuais naquele momento. Com a negativa do visto para os Estados Unidos, resolveu partir para o Brasil. Em sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1940, trouxe cartas de apresentação para José Lins do Rego, Mario de Andrade e Portinari. Logo nos primeiros momentos conheceu também Jorge de Lima e Lucio Cardoso que juntamente com José Lins do Rego, tornaram-se seus grandes amigos e o introduziram na vida intelectual carioca e teve a chance de realizar sua primeira exposição individual, no tradicional Salão do Palace Hotel, sede da Associação de Artistas Brasileiros. Guignard desistira de apresentar-se por ter tido uma de suas telas censuradas, retratando um fuzileiro naval negro. Assim, a sorte abriu-se para Marcier. A crítica foi muito favorável ao seu talento. Ainda um jovem artista surrealista europeu, mas já com prenúncios paisagísticos, como relata seu filho Matias (Depoimento oral à autora, em 2018): “em uma carta dirigida ao casal Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva (apelidada de “Bicho” por papai), na maneira como ele relata a viagem ao Brasil transparece o futuro paisagista…”.

Em 1942, o artista foi contratado pela Revista O Cruzeiro para fazer uma viagem às cidades históricas mineiras e compor uma reportagem ilustrada com suas telas. Uma edição histórica, com textos de Drummond, Aires da Matta Machado e outros.  Desde então, retratou o Brasil, a sua gente e seus costumes. As paisagens de Minas, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro foram diversas vezes pintadas por ele e a expressão de nosso barroco o marcou desde a primeira viagem a Minas. Ainda segundo Matias, “Marcier era o típico pintor viajante”, tendo representado muitos lugares da Europa, com foco especial para Itália, França e Portugal. Trazia sempre com ele sua caixa de aquarelas e seus blocos de papel especial para ir retratando os lugares e as pessoas que o marcavam pelo mundo afora. Retornou várias vezes aos mesmos lugares, para repintá-los em diversas épocas, como por exemplo a Toscana e a Normandia, que são muito recorrentes em sua obra, como demonstram as aquarelas ora expostas.

Em 1948, o artista fixou residência no sítio de Barbacena, onde criou, com Julita, os seus sete filhos. Tempos felizes com a família na casa que construiu para acalmar as dores do exílio e dedicar-se à sua arte. No ateliê rural de grandes proporções, investiu com todo o empenho em telas de grandes dimensões, com temas sacros, à luz do sofrimento da humanidade e realizou as suas espetaculares “Paixões de Cristo” e “Via Sacra”. Experimentou de forma ainda mais efetiva os seus estudos sobre a luz na obra de arte: “Tinha aplicado uma técnica onde procurava separar o branco do resto, tratando-o simplesmente como luz. Preparava tudo com um branco que eu mesmo triturava, conforme uma fórmula do tempo de Rembrandt. Perdi mais de 15 anos com essas pesquisas, onde o impulso criador sempre ficava entravado por uma ideia fixa. Pintar escuro, mas luminoso. (…)” (Marcier, 2004, p. 134). Uma luz que ele buscava incansavelmente e sempre o acompanhou, tal qual um típico renascentista. Segundo Affonso Romano de Sant’Anna: “Na verdade, nessas telas aí há um ponto de luz, que só os mestres sabem produzir.” (Sant’Anna, 1983, p.46). Ainda nas palavras de Affonso Romano, a Paixão tão pintada por Marcier é a sua e não somente a de Cristo. “Pois ele também está no tempo. Estar no tempo ou no templo é estar na axis da história, no coração do ser. No tempo estamos crucificados. No tempo estamos esquartejados pela paixão”. (Sant’Anna, 1983, p. 29-30). Como humanista declarado, os horrores da Segunda Guerra o afligiam e a confluência entre a história sagrada e a profana em sua pintura revelam “as mágoas de um exílio” (Marcier, 2004, p.97) e os “traços sumários exprimindo a dor” (Idem, p.105). Há algo demasiadamente humano que se expressa em meio às cenas bíblicas pintadas, como os aviões da Segunda Guerra Mundial na obra Torre de Babel (1947) da Capela de Mauá (SP) e os capacetes modernos – lembrando os de soldados fascistas – dos guardas que prendem Jesus Cristo. Ou, ainda, quando ele mesmo surge retratado em seu Ecce Homo (1982/1983). Ao longo dos anos, Marcier fez dezenas de exposições individuais no Brasil e no mundo, mas destacamos aqui a mostra inaugural da Galeria Relevo, em 1961, com a temática dos 25 anos de seus desenhos. Famoso por suas pinturas sacras (Marcier é considerado o mais importante pintor sacro do Brasil), o artista foi um grande paisagista. Além de pintar em suportes de grandes dimensões, ele também aquarelava as paisagens por onde passava, em formatos menores. A exposição que ora se realiza pela Galeria Evandro Carneiro Arte selecionou um conjunto dessas aquarelas, além de alguns óleos importantes de paisagens típicas do pintor.

Laura Olivieri Carneiro, fevereiro de 2025.

Livro sobre Rodrigo Sassi.

25/fev

A publicação monográfica da obra de Rodrigo Sassi recebeu seu lançamento após dois anos de produção. O livro apresenta ao público uma retrospectiva dos 12 anos de carreira do artista.

O projeto foi organizado por Pollyana Quintella, curadora da Pinacoteca de São Paulo, e tem design assinado pela Casa Rex. A produção do livro é da Central e edição da WMF Martins Fontes. Agnaldo Farias, curador e professor da FAU-USP, Ana Avelar, curadora e professora da UnB, Cauê Alves, curador-chefe do MAM-SP, Francesca Hughes, teórica inglesa especializada em arquitetura moderna, e Leandro Muniz, curador-assistente do MASP, assinam textos inéditos sobre a obra de Sassi.

O lançamento aconteceu na Casa de Cultura do Parque, em São Paulo marcando o encerramento da exposição “Ninho Duro” (2024) de Rodrigo Sassi, onde o artista apresenta instalação homônima pensada especialmente para o espaço do centro cultural. No evento, o artista reúne-se com Pollyana Quintella para uma conversa mediada pela curadora independente e coordenadora de comunicação da Casa, Giovanna Bragaglia.