Eliane Prolik e José Bechara

21/fev

A Simões de Assis, Balneáreo Camboriú, PR, exibe “Intersecções obtusas: Eliane Prolik e José Bechara”.

Eliane Prolik e José Bechara: Intersecções obtusas

Deitando dois conceitos matemáticos e dispondo-os como ferramentas poéticas, a exposição Intersecções obtusas busca aproximar trabalhos recentes de Eliane Prolik (Curitiba, 1960) e José Bechara (Rio de Janeiro, 1957), artistas que operam dispositivos geométricos a fim de tecer narrativas essencialmente humanas, contemplativas e questionadoras acerca de seu tempo. Suas produções, portanto, se interseccionam: não de maneira incisiva e cortante, mas em múltiplos caminhos obtusos, vastos e irrestritos. Nessa ocasião, Eliane Prolik apresenta esculturas metálicas resultantes de processos de dobras, angulações e obliquidades em tubos de aço inoxidável. Linhas se constroem e se metamorfoseiam em entidades escultóricas que provocam o espectador e ativam o espaço. Em oposição a uma geometria cartesiana e hermética, a artista endereça possibilidades experimentais na prática escultórica, a confluir atento rigor, sensibilidade e profunda erudição. Suas obras desobedecem a uma ortogonalidade limitante e se relacionam com leituras abertas do mundo contemporâneo: embora registrem as torções do dia-a-dia, os impasses e embates que incidem sobre as formas, ensaiam uma expansão com seus múltiplos cotovelos a romper o espaço modular. Em suas esculturas de parede, nota-se um avanço: as obras se projetam, em um ímpeto passional a inflamar a tranquilidade dos planos arquitetônicos. Sinal outro da atenção da artista à polivalência contemporânea é o combate a uma frontalidade estrita: suas obras resistem a um ponto de vista oficial, a uma tentação disciplinar que poda o olhar e que restringe as propriedades múltiplas da tridimensionalidade. Formam-se e deformam-se fractalmente, com várias faces ao passo que nenhuma oficial. Seja nas dinâmicas entre obra e espaço expositivo, seja nos aspectos intrínsecos à arquitetura transpostas à escultura, suas obras enfatizam as relações com o espaço arquitetônico. A superfície polida e espelhada do aço inoxidável mimetiza o espaço e amalgama o observador, replicando suas imagens em seus reflexos distorcidos. Esse aspecto reforça fluxos fenomenológicos dos trabalhos, dispondo-os abertos e penetráveis espacial e visualmente, incentivando o movimento do espectador ao seu redor e a fruição em vários ângulos. Desse modo, o olho percorre o objeto e o identifica em seu próprio reflexo mutável. As discussões espaciais movimentadas por José Bechara em suas grandes esculturas e instalações são canalizadas, nessa exposição, em suas pinturas com oxidação de emulsões metálicas, cobre e ferro, tinta acrílica e lonas usadas de caminhão. A variação de plataformas reitera a constância de uma preocupação sobre o acúmulo e o vazio, o excesso e a síntese, limítrofe às compreensões virtuais do espaço. Em suas obras, o dinamismo formal veloz colide radicalmente com um processo demorado, com etapas que guardam semelhanças com meticulosas práticas laboratoriais, ao passo que são igualmente contemplativas, existenciais. Há, portanto, uma declaração imediata: o espaço não é estático, mas é habitado, revirado, corroído. O artista propõe arranjos entrópicos orquestrados, onde o acaso não se encontra por sorte, mas por exaustão experimental. Infiltrações e embaralhamentos em espaços puros através de composições dramáticas e inquietas questionam pressupostos acerca da espacialidade – não de modo a solucioná-la, mas a questioná-la, a negar as imposições cisalhantes que lhe foram historicamente atreladas. Desse modo, Bechara revisita cânones do abstracionismo geométrico sem a milimétrica frieza minimalista, mas em uma pulsão expansora e rompante. De forma conciliatória, o artista emprega meticulosas práticas químicas a serviço de investigações acerca da existência, da impermanência do tempo, da inconstância do espaço, das oportunidades contemplativas em meio a turbilhões. Sensivelmente, decreta a vida ativa nos óxidos, nas reações químicas, assim como a ação do tempo e as histórias imantadas nas lonas de caminhão que utiliza como suporte discursivo. Além das convergências metálicas, da materialidade do aço inoxidável maciço das esculturas de Prolik às oxidações metálicas das pinturas de Bechara, os trabalhos atestam expansões poéticas dos consagrados artistas que comungam um cerne gramatical. Arestas, encontros e quinas tornam-se afáveis pela inflexão poética, na afirmação de experimentações a geometrias sensíveis, humanas e vivenciáveis.

Mateus Nunes

Duração da mostra: de 22 de fevereiro até 06 de abril.

Cinco artistas na Galatea SP

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, apresenta até 16 de março “Líquen teso”, exposição coletiva com trabalhos de Camila Leite, Fabiana Preti, Gabriela Melzer, Mariana Rodrigues, Marina Weffort e texto crítico de Fernanda Morse.

Associação simbiótica entre fungos e algas; crosta por cima da casca. Esticado, tenso, inteiriçado, hirto; cimo de monte; duro. “Líquen teso” diz da intervenção e da natureza, dos polos e territórios por onde circulam estes trabalhos.

A arte do bordado em discussão

08/fev

Grupo Almofadinhas ressignifica a arte do bordado em nova exposição. A exposição reúne três artistas contemporâneos – Fábio Carvalho (RJ), Rick Rodrigues (ES) e Rodrigo Mogiz (MG) – numa mostra em cartaz até 29 de março no Viaduto das Artes, um espaço cultural e multidisciplinar instalado na região do Barreiro, Belo Horizonte, MG, com obras que variam desde almofadas bordadas até instalações suspensas e de parede.

Sobre os artistas

Fábio Carvalho é formado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ) e frequentou cursos livres no MAM-Rio, Itaú Cultural, EBA/UFRJ, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro Cultural Banco do Brasil, entre outras instituições. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção de arte no Brasil e fez inúmeras residências artísticas, sendo 7 no exterior e 4 no Brasil. Realizou ainda dezenas de exposições individuais (18) e coletivas (mais de 150), nacionais e internacionais, com ênfase para sua participação, como artista convidado, na XXII Bienal de Cerâmica (Aveiro, Portugal, 2015), TRIO Bienal (Rio de Janeiro, Brasil, 2015), Bienal de Cerveira (Portugal, 2005) e na VI Bienal de Cuenca, no Museo de Arte Moderno (Equador, 1998).

Rick Rodrigues é graduado em Artes Plásticas, Mestre em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e formado em Arte Contemporânea pelo Prêmio Energias nas Artes, Instituto Tomie Ohtake e Instituto EDP. Natural de João Neiva/ES, onde reside, já realizou uma série de exposições individuais, como Tratado geral das grandezas do ínfimo, na Galeria de Arte Ibeu, no Rio de Janeiro (RJ), em 2019, com curadoria de Cesar Kiraly. Ministrou cursos e participou de residências artísticas, feiras, festivais, rodas de conversa, mesas de debate e apresentações. Possui obras em acervos institucionais e particulares.

Rodrigo Mogiz é artista visual, graduado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde 2003, se dedica ao bordado como desenho e pintura, estabelecendo conexões entre o artesanato e o design, buscando reflexões sobre relações afetivas a partir da sua homoafetividade e da tradição do bordado. Realizou cerca de 10 exposições individuais e participou de 52 mostras coletivas em Belo Horizonte, onde vive e trabalha, e em outras localidades do país e no exterior. Sua mais recente exposição foi a coletiva Tramas da Memória, da qual foi também curador, reunindo 26 artistas de Minas Gerais que atuam com arte têxtil contemporânea, no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, em 2022.

Sobre o curador

Shannon Botelho é crítico de arte, curador independente e professor no Departamento de Artes Visuais do Colégio Pedro II (RJ). É doutor em História e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes/UFRJ em parceria com a École des Hautes Études en Sciences Sociales/CRBC (Paris). É representante do Comitê de História, Teoria e Crítica de Arte da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Foi curador em 16 exposições, entre elas, Balangandãs (Zipper Galeria-SP 2018), Da Linha, o Fio (BNDES-RJ 2019), Estruturas Improváveis (Casa das Artes-Tavira 2020), Água Banta (MMGV-RJ 2022) e Coração na Mão (Le Salon H – Paris, 2023).

ALMOFADINHAS

No ano de 1919, meses após a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), um concurso incomum mobilizou a cidade de Petrópolis (RJ). As notícias destacavam que rapazes elegantes haviam se reunido para definir quem se sobressaía na arte de bordar e pintar almofadas trazidas da Europa, especialmente para a ocasião. O escritor Raimundo Magalhães, pesquisador e conhecedor dos costumes da época, conta que o termo “almofadinha” teria surgido naquele momento para designar “tipos afetados, cheios de salamaleques e não-me-toques”. Quase um século depois, três artistas, Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz, subverteram a nomenclatura utilizada para ridicularizar aqueles homens que bordavam na Região Serrana Fluminense e se organizaram em um coletivo artístico que possui como foco de interesse o desenvolvimento de poéticas visuais centradas no bordado. No ano de 2017, o coletivo apresentou em Belo Horizonte uma exposição que revelava ao público não somente suas obras em bordado, mas também seu pensamento e posicionamento diante de tão grandes desafios. O grupo seguiu produzindo, cada qual em seu lugar – cada um dos artistas vive em uma cidade diferente: Rio de Janeiro, João Neiva e Belo Horizonte -, apresentaram seus trabalhos coletivamente ou individualmente em outros espaços e agora retornam à cidade para apresentar alguns trabalhos inéditos e uma exposição com outro recorte e curadoria. Desde então, o tecido social em todo país foi intensamente desgastado pela polarização política, pela crise econômica e, sobretudo, pelo avanço da lógica individualista que rege o tempo presente. Por esta razão é possível perceber, no contexto da exposição, mudanças significativas nos modos de apresentar os trabalhos, seus temas e suportes. Se por um lado as identidades e visualidades parecem permanecer, os sujeitos e contextos sofreram transformações significativas. Desde o episódio de Petrópolis em 1919, infelizmente, muito preconceito e ignorância permanecem. Mais do que nunca, a perseguição e censura aos comportamentos tidos como desviantes de um certo padrão conservador – aquele que cumpre com os estereótipos impostos por uma sociedade retrógrada, da “moral e bons costumes” – avançam em marcha assustadora. Para muitos ainda parece estranho, ou mesmo emasculante, quando homens se dedicam a atividades normalmente percebidas, pela maioria, como “coisa de mulher”: o ato de bordar lenços, paninhos de mesa e almofadas, pintar pratos de porcelana, construir objetos delicados com flores e borboletas, discutir questões de afeto, memória e sexualidade. Para os padrões de pensamento limitado, estas atividades humanas são impossíveis de coexistir lado a lado a sua noção de masculinidade. No contexto social geral, ao menos desde a Idade Média homens que bordam, certamente, não são uma novidade. No meio artístico tampouco. Bispo do Rosário e Leonilson, figuram como exemplos recentes de artistas que consolidaram as suas poéticas por meio dos bordados. Este também é o caso de Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz. Nesta exposição cada uma das obras reflete os momentos de sua própria criação e discutem as situações em que se encontram os artistas, constituindo através de suas formas, imagens e cores, narrativas singulares. No caso de Fábio Carvalho e Rick Rodrigues, por exemplo, percebemos que as armas – tema tão em voga no Brasil recente – aparecem nos trabalhos operando como signos das violências reais e simbólicas sobre os corpos e existências não hegemônicas. Já nos trabalhos de Rodrigo Mogiz, a cor é destacada e ganha outras funções, uma vez que opera como veículo de informação e definição. Camuflagens e arco-íris, figuras e textos, utensílios de bordar e objetos prosaicos passam a operar nesta exposição como agentes discursivos, ou melhor, como elementos que ratificam a diversidade, a não violência e a pluralidade – de pensamento e de existência – como sendo formas de interação com o mundo. Por esta razão os trabalhos dos três artistas estão apresentados na galeria sem uma delimitação exata, como espaços a serem ocupados por um ou outro. Cada obra apresenta a outra, completando aquilo que coletivamente é construído. Como discursividade unívoca do coletivo, esta exposição trata do presente, reflete o passado e mira outros futuros possíveis, em que pesem mais as pluralidades, os saberes coletivos, a horizontalidade das relações e a valorização do afeto como um instrumento efetivo de transformação perene do mundo.

Shannon Botelho

2024

Um quilombo cultural urbano

06/fev

Os artistas Dora Smék, Lourival Cuquinha e Ros4 Luz participam da grande coletival ReFundação, em exibição até 07 de abril na Galeria Reocupa da Ocupação 9 de Julho. A mostra reune cerca de 130 trabalhos, entre pinturas, esculturas, intervenções, instalações, vídeos e objetos de mais de 100 artistas de todo o território nacional.

Provocando a reflexão sobre outros mundos possíveis, em vias de existir ou a serem refundados, o grupo à frente da exposição propõe novas perspectivas de relações, em uma revisão dos laços sociais e políticos que sustentam nossa cultura, por meio de um coletivo de curadoria que reúne representantes de diversos setores da cultura e da arte. Este novo projeto da Reocupa, cuja abordagem interdisciplinar reflete a necessidade de criar outras formas de pensar, relacionar-se e praticar arte no mundo, tem como objetivo afirmar a Ocupação 9 de Julho como um pólo cultural aberto e permeável, que envolve espaços de circulação, inseridos em uma lógica de Parque, com ações culturais e urbanísticas integradas.

A exposição, realizada em diversos espaços da Ocupação 9 de Julho – antigo prédio do INSS, que ficou abandonado por três décadas, até ser ocupada pelo MSTC (Movimento Sem Teto do Centro) em diferentes ocasiões a partir dos anos 1990. Além da Galeria Reocupa, situada no 1º andar do prédio, as obras estarão em espaços de circulação, em diálogo com moradores do edifício e com a dinâmica que tornou a Ocupação 9 de Julho um lugar aberto à sociedade. Para o MSTC, a exposição contribui para a consolidação de um projeto modelo, que ambiciona seu reconhecimento, em caráter inédito, como um Quilombo Cultural Urbano. A maioria das obras estarão à venda, com o propósito de reunir fundos para operações da exposição e da Galeria, para a manutenção do prédio e dos projetos do MSTC e para o auxílio de todos os artistas participantes da exposição.

Ana Maria Maiolino na Luisa Strina SP

05/fev

Foi inaugurada a nova individual de Anna Maria Maiolino na Galeria Luisa Strina, Jardins, São Paulo. Intitulada “Querer e não querer, desejar e temer”, a exposição reúne uma seleção de obras produzidas desde a década de 1990 até o presente, algumas delas expostas pela primeira vez. Em cartaz até 16 de março.

Sobre a artista

O trabalho de Anna Maria Maiolino desenvolve-se por uma variedade de meios: poesia, xilogravura, fotografia, cinema, performance, escultura, instalação e, acima de tudo, desenho. O amplo espectro de interesses e atitudes que fundamentam sua obra não segue um desenvolvimento linear no próprio trabalho ou no tempo. Pelo contrário, pela diversidade de meios, ela cria uma teia em que temas e atitudes se entrelaçam enquanto significados migram entre um trabalho e outro.

Em 2019, Maiolino teve uma grande retrospectiva de seu trabalho no PAC Milano e na Whitechapel, em Londres. Em 2017, uma importante retrospectiva de sua obra foi apresentada no MoCA Los Angeles, como parte do projeto Pacific Standard Time: LA/LA, da Getty Foundation. Em 2010, uma ampla retrospectiva itinerante foi realizada na Fundação Antoni Tàpies, Barcelona, no Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela, Espanha, e no Malmö Kunsthalle, na Suécia (2011). Sua obra integra mais de 30 acervos de museus, como MoMA, MoCA Los Angeles, MASP, Malba, Reina Sofia, Centre Pompidou, Tate Modern e Galleria Nazionale di Roma. Individuais selecionadas incluem PSSSIIIUUU…, Instituo Tomie Ohtake, São Paulo (2022); EM TUDO – TODO, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2019); Errância Poética, Hauser & Wirth, Nova York (2018); TUDO ISSO, Hauser & Wirth, Zurique (2016); CIOÈ e performance in ATTO, Galleria Raffaella Cortese, Milão (2015); Ponto a Ponto, Galeria Luisa Strina, SP (2014); Afecções, MASP, SP (2012); Continuum, Camden Arts Centre, Londres (2010); Territories of Immanence, Miami Art Center, Miami (2006); Muitos, Pinacoteca, São Paulo (2005); Vida Afora/A Life Line, The Drawing Center, NY (2002). Exposições coletivas recentes: Radical Women: Latin American Art, 1960–1985, Hammer Museum, Los Angeles (2017) e Pinacoteca, São Paulo (2018); Delirious: Art at the Limits of Reason, 1950-1980, MET Breuer, Nova York (2017); The EY Exhibition: The World Goes Pop, Tate Modern, Londres (2015); The Great Mother, Palazzo Reale, Milão (2015); Artevida, MAM e Casa França-Brasil, Rio de Janeiro (2014); dOCUMENTA 13, Kassel (2012); On Line: Drawing Through the 20th Century, MoMA, NY (2010); 29ª Bienal de São Paulo (2010)

Performances e exposição

31/jan

A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura da 19ª edição do Abre Alas, primeira mostra do calendário de atividades da galeria em 2024 que ocorrerá no dia 03 de fevereiro. Além da exposição e do tradicional concurso de fantasias, o evento contará com uma programação de DJs e performances.

Os 28 artistes participantes desta edição são:

BELLACOMSOM, Brenda Cantanhede, Bruno Pinheiro, Carlos Matos, Cynthia Loeb, Emilia Estrada, Guilherme Kid, Jeff Seon, Joelington Rios, Jorge Cupim, Jota Carneiro, LYV, Luiz Pasqualini, Marlon de Paula, Matheus Pires, Mauricio Igor, Medusa, Nalu Rosa, Natha Calhova, Naomi Shida, Rafael Simba, RHAY, Silia Moan, Sofia Ramos, Thaís Iroko, Thiago Modesto, Uma Moric e Virgínia Di Lauro.

A comissão de seleção – composta por Agrade Camíz e Daniela Castro – exerceu uma espécie de ausculta de um corpo social, cuja respiração entendem serem as artes, que reverberou a partir e através dos projetos e práticas artísticas recebidos para compor o 19º ABRE ALAS. Uma respiração coletiva, viva, pulsante. Saúde! Evoé!

Novos artistas selecionados

A Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura, em 02 de fevereiro, às 19h, da exposição “Alvorada”, com 51 trabalhos de 32 artistas selecionados pela chamada pública Projeto GAS – Chamada Aberta de Verão, lançada em agosto do ano passado, e que recebeu 770 inscrições de artistas brasileiros e estrangeiros. Na noite de abertura, às 20h, a artista Carolina Kasting fará a performance “Corpo-Memória”, com a criação de duas pinturas que serão integradas à exposição. “Alvorada” ficará em cartaz até o dia 09 de março.

Cenas do cotidiano; a cultura popular brasileira; a história da arte revista sob a ótica de questões atuais; reflexões do campo político, a natureza e os impactos das ações humanas; gênero e sexualidade são alguns dos assuntos tratados nas obras da exposição. Os trabalhos reunidos em “Alvorada” são resultados de interesses, realidades e práticas distintas entre si. Há artistas que moram no exterior (Gustavo Riego e Graziela Guardino) vivendo em diferentes culturas, enquanto outros convivem com o dia a dia de zonas centrais e periféricas de cidades brasileiras.

Os 32 artistas, que ocuparão todo o espaço expositivo da galeria Anita Schwartz Galeria de Arte são: Ana Raylander (SP), Badu (PB/GO), Bruna Snaiderman (RJ), Bruno Lyfe (RJ), Caetano Costa (PE), Caio Borges (SP), Carolina Kasting (SC/RJ), Cela Luz (RJ), Clarice Rosadas (RJ), Desirée Jaromicz Feldmann (DF), Diego Castro (SP), Flávia Metzler (RJ), Fogo (RJ), Graziela Guardino (SP/Sydney), Guilherme Kid (RJ), Gustavo Riego (Bruxelas/Assunção), Janaína Vieira (SE/SP), Jorge Cupim (RJ), Julia Ciampi e Tiago Lima (MG), Luiz Eduardo Rayol (RJ), Malvo (RJ), Maria Victoria Santos (MG/RJ), Maryam Souza (BA/SP), Michele Martines (RS), Myriam Glatt (RJ), Nita Monteiro (RJ/SP), Rafael Amorim (RJ), Tetê Lian (MG/SP), Thales Pomb (DF/SP), Thix (RS/RJ), Vera Schueler (RJ) e Vinicius Carvas (RJ).

A sede da Galatea em Salvador

29/jan

Cais é a exposição coletiva que inaugura a sede de Salvador da Galatea, galeria fundada em 2022 em São Paulo, que escolheu a capital do Estado da Bahia e primeira capital do Brasil para sua morada fora do Sudeste.

Estar em Salvador parte do desejo da galeria de ampliar o seu público para além do contexto sudestino e expandir suas trocas e conexões com artistas, curadores e intelectuais sobretudo do Nordeste, mas também para outros locais além do eixo Rio-São Paulo. Nesse sentido, este gesto reflete e rearticula os pilares conceituais fundadores do programa da Galatea: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma fricção, um embaralhamento e uma mistura entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o formal e o informal, o erudito e o popular.

​O título Cais nos remete às ideias de deslocamento, de viagem, de troca e de intercâmbio, que envolvem o conceito da chegada da Galatea em Salvador e, ao mesmo tempo, remetem à localização da galeria. Situada no térreo do edifício de arquitetura modernista Bráulio Xavier (que abriga um importante painel de Carybé, artista argentino radicado em Salvador), localizado na rua Chile, a primeira rua do Brasil, a galeria encontra-se na região do antigo Portal de Santa Luzia, uma das portas de acesso de Salvador no período em que era murada, que ligava o porto (cais) à cidade alta pela Ladeira da Conceição da Praia. Este último logradouro, por sua vez, é o local onde se encontra a oficina de José Adário, o ferreiro de ferramentas de orixá mais antigo em atividade na cidade de Salvador. Zé Adário foi o artista escolhido pela Galatea para inauguração de seu espaço em São Paulo, onde o artista realizou a primeira individual de sua carreira.

O recorte curatorial parte justamente dessa relação estabelecida com a obra de José Adário e o contexto cultural e geográfico em que ela está inserida e agrega os demais artistas nordestinos representados e trabalhados pela Galatea – Aislan Pankararu, Chico da Silva e Miguel dos Santos – para a partir de elementos e temas-chave da produção destes artistas derivar os conteúdos dos quatro núcleos que constituem a mostra: Fantasias de fauna e flora; Geometrias afro-indígenas e brasileiras; Representações da religiosidade e cultura afro-indígena e brasileira; e seu subnúcleo Máscaras Expandidas, localizado na sala do cofre.

Justapondo e friccionando nomes históricos e contemporâneos, artistas de formação tradicional e autodidata, a exposição conta com obras de 60 artistas nascidos ou radicados no Nordeste e organiza-se em torno de três temas chave: a estratégia da representação fantasiosa e estilizada da fauna e flora brasileira; as diversas elaborações e usos da abstração no contexto do Brasil, passando pelo modernismo, pelas raízes indígenas e afro-brasileiras; as representações da rica e complexa religiosidade do nosso país, mesclando imagens e referências das religiões de matriz africana com as do catolicismo popular. Desta forma, Cais pede licença para chegar em Salvador e convida para conhecer seus trabalhos e suas histórias.

Curadoria: Alana Silveira, diretora, Galatea Salavador; e Tomás Toledo, sócio-fundador, Galatea.

Novos artistas na Zipper Galeria

22/jan

A 15ª edição do Salão dos Artistas Sem Galeria, promovido pelo portal Mapa das Artes, já começou na Zipper Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, e apresenta obras dos 10 artistas selecionados, permanecendo em cartaz até 24 de fevereiro. Essa edição inclui participantes de diferentes estados do Brasil, e oferece uma  Bolsa Viagem + Fora do Eixo (Rio de Janeiro – São Paulo), ou seja, destinada para um artista residente de fora desses dois estados. O júri formado por Alice Granada (curadora independente), Hiro Kai (produtor independente) e Renato De Cara (curador independente e diretor do Paço das Artes-SP).

O Salão dos Artistas Sem Galeria tem como objetivo avaliar, exibir, documentar e divulgar a produção de artistas plásticos que não tenham contratos verbais ou formais (representação) com qualquer galeria de arte na cidade de São Paulo. O Salão tradicionalmente abre o calendário de artes em São Paulo e é uma porta de entrada para os artistas selecionados no circuito das artes.

Sobre o Mapa das Artes

Criado em 2004 pelo jornalista Celso Fioravante, o Mapa das Artes é o portal de artes visuais mais completo do Brasil, com programação e serviço de museus de todos os Estados do país. O site dispõe de seções diversas, como a dedicada aos salões de arte, com datas e editais; a seção Curtas, com matérias e serviço sobre acontecimentos, eventos e assuntos de interesse do público de artes visuais; além das colunas Supernova, com notas quentes; e seções dedicadas a eventos, mercado de arte, prêmios, personalidades, política cultural, arquitetura, web, patrimônio, polêmicas, críticas e notícias diversas de artes plásticas editadas nos principais veículos jornalísticos do mundo. Sua cobertura abrangente faz do Mapa das Artes uma peça fundamental para o desenvolvimento do circuito brasileiro de arte.

Exposição Rubens Gerchman

19/jan

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Shopping Gávea Trade Center, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 18 de janeiro até 08 de fevereiro, a Exposição Rubens Gerchman. Serão expostas 30 obras do artista, com destaque para as telas Splendor Solis (1971), Nova Geografia (1973) e Ônibus (1962).

Sobre o artista:

“Prefiro sempre dizer que o que faço – minha obra – é meu depoimento diário. Autobiográfico. Costumo dizer que não invento nada. As coisas aí estão. Apenas, é preciso ver, saber ver. Sou constantemente envolvido pelos acontecimentos.” – Rubens Gerchman, 1967, apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013, p. 23.

Rubens Gerchman (1942 – 2008) nasceu no Rio de Janeiro, filho de imigrantes judeus da Ucrânia (URSS à época). Sempre desenhou, desde a tenra infância, até em sala de aula, conforme lembra o seu amigo de escola Armando Freitas Filho  – apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013. Seus pais estimularam seu talento e ainda garoto, ele estudou desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Depois cursou a Escola de Belas Artes, onde já se destacava em exposições coletivas da casa. Daí em diante, nunca parou de criar, em 50 anos de trajetória artística e com toda a pluralidade de sua obra.

Um artista notável que já foi pensado e descrito pelos mais importantes críticos, tais como Mario Pedrosa, Frederico Morais, Wilson Coutinho, Ronaldo Brito e Paulo Sergio Duarte. Ademais, Gerchman tem a sua obra e a sua memória devidamente catalogadas pelo Instituto que leva o seu nome e é cuidadosamente dirigido pela filha Clara, que além de organizar todo o acervo, reconhecidamente dissemina a cultura pujante que envolve o artista pelo website e em publicações institucionais bem produzidas, como o livro Rubens Gerchman: o Rei do Mau Gosto (2013).

Difícil posição esta de tentar escrever sobre esse personagem carioca tão genial, frente ao cabedal de reflexões já existentes. Sugestionada pelo próprio Gerchman, na epígrafe desse texto, pensei em me ater aos fatos, mas a sua trajetória profissional é tão extensa que este folder seria todo tomado pela cronologia das inúmeras exposições que ele realizou, desde a primeira, na Galeria Vila Rica, em 1964, até muito tempo depois de seu precoce falecimento. O Instituto, os colecionadores e o mercado de arte continuam se encarregando de fazer a sua arte aparecer, girar e se mostrar como merece. Coube-me, portanto, a tarefa historiadora de ressaltar aqui algumas memórias, a fim de tentar acrescentar alguma novidade à história desse artista.

Atendo-me à cronologia, primeiramente destaco a exposição do artista na Galeria Relevo, em 1965, não por ter sido mais importante que outras, embora a Relevo tenha sido um marco no mercado de arte. Mas porque eu tinha na cabeça um simpático depoimento de Matias Marcier, coletado por mim há poucos meses, sobre quando ele trabalhava nesse lugar de memória, ainda muito jovem, e organizou a mostra do Rubens Gerchman, numa ocasião em que o Jean Boghici estava em Paris.

“Eu fiz a exposição do Gerchman porque o meu irmão (Carlos André) – que era diagramador da Manchete e também trabalhou como jornalista 13 anos no O Globo – foi colega do Gerchman na Manchete e me pediu “olha, Matias, tem um amigo meu, muito meu amigo, que trabalha lá, e queria fazer uma exposição aí na Relevo”. Eu falei para ele trazer os desenhos para eu ver. O Gerchman chegou com os desenhos, eu gostei muito, e falei com o Jean (Boghici). O Jean falou “não vou me meter nisso, vou viajar, você quer fazer, você faz”. E foi feito. Foi a primeira exposição… porque ele tinha feito uma antes, numa galeria que era um antiquário, da irmã de um  crítico de arte que havia naquela época chamado Harry Laus. Mas na Relevo, o cara expôs e saiu em tudo quanto é jornal, porque a Relevo era uma coisa, entendeu? Então, para fazer a apresentação do Gerchman, eu fui pedir ao Mário Pedrosa que não fazia mais apresentações, mas fez essa porque gostava de mim. Escreveu a apresentação do Gerchman, que é linda! O original ficou comigo. Um dia a empregada foi dar uma limpeza no meu quarto, jogou fora junto com um monte de outras coisas. Mas, existe, no catálogo da Relevo, está lá.” (Matias Marcier, entrevista oral em 5/10/23).

No livro Gerchman (Salamandra, 1989), lemos à p. 36 o artista lembrando o fato: “Devo minha exposição individual a Matias Marcier, que levou a minha pasta para Jean Boghici e depois para Mário Pedrosa. Mário foi até a minha casa, ficou encantado com as obras e escreveu um texto”. Seguindo essa trajetória da memória que resolvemos investigar, uma novidade é chamar a atenção para uma mostra realizada em dezembro de 1975, organizada por Evandro Carneiro na Bolsa de Arte. Gráfica era o título da exposição que reunia obras gráficas de todas as fases do artista até aquele ano.

“Nessa época eu alternava, na Bolsa de Arte, leilões e exposições. Fiz inúmeras exposições e o Gerchman era de uma fertilidade enorme, ele estava produzindo gravuras em São Paulo e também ia começar a fazer coisas com a Lithos aqui no Rio – que eram os grandes impressores da época, o Otávio Pereira em São Paulo e a Lithos aqui no Rio -, então eu propus fazermos essa exposição da obra gráfica dele. E ficou muito bonita, a loja era muito grande, ficou repleta de gravuras. Nesse tempo eu não fazia catálogo e fizemos um poster que dobrava, dobrava, dobrava até virar um folder. Era um folder que se abria em poster e atrás tinha um texto da exposição, mas infelizmente eu não guardei o original e não sei se lá na Bolsa os materiais foram conservados. Mas foi uma magnífica exposição porque a obra gráfica do Rubens é riquíssima!” (Evandro Carneiro, entrevista oral em 15/12/23). Garimpamos no Acervo Digital de O Globo a matéria que nos relembra toda essa história. Repassamos o documento para o Instituto Rubens Gerchman guardar e incluir na cronologia profissional do artista. As memórias vão sempre conformando a história que cresce, infinitamente. Para o artista, o evento teve a importância de democratizar suas obras e se fazer conhecer mais: “Gráfica é uma oportunidade de mostrar o conjunto da minha obra, abrangendo um grande período E tenho o maior carinho por todos os trabalhos que estão lá. A validade de todas as gravuras continua, embora algumas já estejam distantes de mim no tempo. (…) Eu sempre me interessei por gráfica. Meu pai trabalhava nisso e, quando eu entrei para a Escola de Belas Artes, foi apenas por causa do Goeldi. Então eu comprei uma prensa de 800 quilos numa gráfica que estava fechando. (…) e além de eu curtir gráfica, há também o fato de que ela torna a obra mais acessível. É bem mais democrática.” (Rubens Gerchman, 1975, matéria em O Globo de 10/12/1975, p. 33).

Nessa linha minêmica, atrevo-me a compartilhar uma lembrança pessoal. O famoso quadro O Rei do Mau Gosto, capa do livro do Instituto, por longos anos esteve agraciando as paredes da sala de estar da casa dos meus pais. Dizia o artista sobre essa obra: “A ideia é um pouco de provocação, mexer com uma certa arrogância da burguesia, incomodar mesmo. Eu fiz Caixa e Cultura – o Rei do Mau Gosto. É a primeira vez que aparecem asas de borboleta e as bananeiras com dois papagaios. Acho que todo esse clima, quando Hélio cunha o termo tropicália tem a ver com aquelas bananeiras que ele botou depois na entrada.” Rubens Gerchman, 1967, apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013, p. 86.

Mas foi outra obra sua que me impactou na infância, naquele mesmo apartamento: Os desaparecidos. Eu morria de medo daquela pintura porque os olhos dos retratados me acompanhavam aonde quer que eu andasse pela sala. Aquilo me assombrava! Hoje, pelos estudos que realizei sobre o artista, percebo que deve ter sido intenção do Gerchman imprimir aqueles olhares fantasmagóricos à obra, afinal disso se tratava: a denúncia contra os desaparecimentos políticos, pintada em série durante o período da ditadura militar. Uma fantasmagoria, conforme Walter Benjamin.

Frederico Morais destaca que: “(…) a importância de sua obra vai além do campo estético. Esse rio transbordante de imagens que é a sua obra tem implicações sociológicas e políticas, da mesma maneira como falam de nosso imaginário e do inconsciente brasileiro. O que pode mais desejar um artista?” – Frederico Morais, 1986, apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013, p. 39.

Nesse sentido, importa notar algo grandioso que Gerchman também realizou: transformou o Instituto de Belas Artes na vanguardista Escola de Artes Visuais. E fez dali um espaço de criação transdisciplinar entre as mais diversas expressões artísticas, movimentando a cena cultural da cidade nos anos de chumbo. Criou um espaço de liberdade, resistência e encontro no Rio de Janeiro nos anos 1975-1979.   

A mostra que ora apresentamos, organizada por Evandro Carneiro em sua galeria, traz uma diversidade do universo desse artista brasileiro que produzia obras tão importantes quanto plurais, tanto esteticamente quanto sociologicamente. Assim, o acervo aqui reunido tenta dar conta dessa pluralidade temática e temporal: da questão indígena, recorrente nos anos 1970 quando ele lia e relia o Brasil pela ótica do admirado antropólogo Levi Strauss, aos calorosos beijos e bancos de trás de fortuitos carros de passeio. Das malas e outros objetos a serem completados pelo espectador às multidões urbanas e ciclistas. Dos desaparecidos políticos às enormes palavras construídas em trocadilhos, brincadeiras semânticas na criação do espaço formal. Do futebol às violências cotidianas de crimes e destruição ecológica. Estão na mostra o Splendor Solis, reproduzido no catálogo de sua mostra do MAM-RJ, o primeiro Beijo escultórico que foi de seu amigo Gilles Jacquard e algumas outras preciosidades de cada década de sua trajetória.

“O que eu acho do Gerchman? Acho um artista magnífico! Sempre tivemos amizade, sempre tive obras dele. O simples fato de eu fazer uma exposição póstuma na minha galeria diz tudo: tenho o maior respeito e a maior admiração por ele”. (Evandro Carneiro, entrevista oral em 15/12/23).

Laura Olivieri Carneiro

Janeiro 2024