Frank Ammerlaan em Curitiba

20/mar

 

A Simões de Assis traz novamente ao Brasil o artista holandês Frank Ammerlaan, apresentando em sua sede de Curitiba, PR, a individual “Espelho da Matéria”. A exposição reúne quatro conjuntos de trabalhos de materialidades e processos distintos, mas que compartilham do interesse do artista por materiais que são inusuais nas práticas artísticas contemporâneas. Parte do conjunto foi produzida no Brasil, durante uma residência no Pivô, em São Paulo. Ammerlaan investiga profundamente os elementos que conformam seus trabalhos, manipulando produtos químicos, metais, minerais e substâncias orgânicas, em processos que poderiam ser descritos como alquímicos. O artista articula gestos pictóricos e esculturais com suportes que normalmente são estranhos ao fazer artístico e mais comuns em indústrias ou laboratórios, ao mesmo tempo que conta com reações químicas espontâneas e com os processos naturais de mudança dos elementos, atuando não como um agente da criação, mas sim da transformação.
Até 06 de maio.

Almandrade & Paulo Darzé na SPArte

A Paulo Darzé Galeria, Salvador, anuncia e apresenta desenhos, pinturas, objetos de Almandrade na próxima SPArte/23. A conhecida galeria tem como objetivo de sua atuação a arte brasileira contemporânea, nas suas mais variadas expressões, linguagens e técnicas, trabalho que a consolidou como um dos mais importantes espaços de arte no Brasil, local difusor do que há de mais atual em pinturas, desenhos, esculturas, fotografias, instalações e vídeos. Agora, em 2023, a Galeria Paulo Darzé comemora 40 anos, se constituindo neste tempo num centro por excelência do que há de mais atual na arte brasileira, tendo dentro de sua programação a participação, o que faz desde a primeira edição, mostrando na sua maioria artistas baianos, novos e consagrados, ao público brasileiro, na SPArte.

Para marcar sua presença neste ano apresenta uma exposição solo do artista Almandrade, comemorativa aos seus 50 anos de arte, com mostra de 60 trabalhos, em pequeno e médio formato, de desenhos, pinturas e objetos. A curadoria e texto de apresentação é de Denise Mattar.

 

A palavra da curadoria

“O artista teve uma formação solitária, criando uma poética particular, fundamentada a partir dos seguintes eixos: a poesia tradicional e as experiências visuais da Poesia Concreta, as experimentações desenvolvidas pelo Poema Processo, a arte construtiva e a arte conceitual. Sua pesquisa, desenvolvida à contracorrente da arte baiana do período, conversa de perto com a produção paulista e carioca, concreta e neoconcreta. Apesar da afinidade, e de encontros confortadores com Augusto de Campos, Décio Pignatari, Hélio Oiticica e Lygia Clark, entre outros, nos quais viu seu mérito reconhecido, Almandrade nunca deixou de residir em sua terra de origem, sentindo na pele as consequências de não viver no eixo Rio-São Paulo. Nem todas negativas, pois sua independência propiciou ao artista desenvolver de modo original a síntese proposta pelas vanguardas… Em sua obra estão presentes os trabalhos de cunho político e comportamental, realizados com extrema precisão e sutileza, desequilibrando verdades, objetos que desafiam o olhar do espectador com polida ironia, pinturas e objetos em madeira com mensagens secretas, peças rígidas de intenso cromatismo, exatas, mas calorosas, remetendo ao singelo concretismo das fachadas nordestinas”.

 

Sobre o artista

Almandrade (Antonio Luiz Morais de Andrade) nasceu em São Felipe, 1953, município baiano, e vive em Salvador. É artista plástico, arquiteto, mestre em Desenho urbano, poeta e professor de Teoria da Arte, e destes seus interesses múltiplos vem realizando nestas cinco décadas exposições de desenhos, de pinturas, de poemas visuais, de livros de artista, e instalações, de objetos, através de trabalhos que absorvem e sintetizam as suas influências diversas – o poema processo, o concretismo, as histórias em quadrinhos, efetivando em sua arte uma comunicação gráfico-visual que atravessa das linhas retas à abstração geométrica, da palavra à imagem, com um projeto poético que perpassa todo este período, entre o conceitual, o construtivo e a poesia visual.

 

A mostra da Paulo Darzé Galeria na SPArte/23 ocupará o estande C2, no Pavilhão da Bienal, Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, portão 3.

 

 

Krajcberg e Garrido na Pinakotheke

17/mar

A Pinakotheke São Paulo inaugura neste 18 de março a exposição Frans Krajcberg (1921-2017) – “(…) ao acordar a natureza estava preta e branca.” As vinte obras – esculturas, pinturas e trabalhos em papel, como seus relevos – de Frans Krajcberg estarão em diálogo com o ensaio fotográfico do artista feito em 1996 por Luiz Garrido (1945), em Nova Viçosa, Bahia, onde Frans Krajcberg morava e trabalhava.

Com planejamento e organização de Galciani Neves e Max Perlingeiro, a exposição é uma realização da Pinakotheke Cultural em colaboração com a Associação de Amigos de Frans Krajcberg.

O público poderá ver ainda Krajcberg em ação em Nova Viçosa, indo ao mangue buscar material sobre o seu trabalho, rindo e conversando, no vídeo de 10 minutos, que será exibido em looping. O registro feito por Luiz Garrido e seu assistente Carlos (Kaká) Hansen, em 1996, com uma filmadora Video8, analógica, foi restaurado, digitalizado e editado especialmente para a exposição.

Na abertura da exposição será lançado o livro homônimo, bilíngue (port/ingl), com 172 páginas e formato 21 x 27 cm, com imagens das obras de Frans Kracberg e as fotografias de Luiz Garrido. Os textos são de Marcia Barrozo do Amaral, presidente da Associação de Amigos de Frans Krajcberg; Galciani Neves, Max Perlingeiro, Bené Fonteles, Jaider Esbell, e Pierre Restany – um dos autores do célebre “Manifesto do Rio Negro do Naturalismo Integral”, escrito em 1978 também por Frans Krajcberg e Sepp Baendereck (1920-1988) – uma entrevista de Advânio Lessa dada a Valquíria Prates, e uma cronologia do artista.

“Ele foi um precursor na defesa do meio ambiente. Krajcberg se revoltou com a destruição da natureza que conheceu em suas viagens pelo país, e sua indignação não esmoreceu até o fim de sua vida, aos 96 anos”, destaca Marcia Barrozo do Amaral, presidente da AmaFrans.

Exposição-relâmpago no centenário de Franco Terranova

14/mar

 

Será comemorado com uma grande exposição-relâmpago o centenário do lendário marchand e poeta Franco Terranova (1923-2013), que esteve à frente da Petite Galerie, inovador e fundamental espaço de arte carioca que movimentou o circuito brasileiro entre 1954 a 1988, lançando nomes hoje consagrados, incentivando artistas, e criando salões e prêmios. “Uma Visão da Arte – Centenário de Franco Terranova e o legado da Petite Galerie” ficará em cartaz na Danielian Galeria, na Gávea, Rio de Janeiro, entre 04 a 18 de março.  A curadoria é de Paola Terranova – a filha caçula dos quatro filhos de Franco e Rossella Terranova, a bailarina e coreógrafa com quem ele foi casado de 1962 até sua morte – que está à frente do acervo da Petite Galerie, em um espaço na Lapa. Ela conta que para esta exposição comemorativa foram restaurados mais de 80 trabalhos. “Franco Terranova era antes de tudo amigo dos artistas, um apaixonado pela arte, e pretendemos fazer uma exposição que retrate seu olhar ao mesmo tempo afiado e afetuoso”, diz. Além dos artistas, era constante a presença na Petite Galerie de intelectuais como Ferreira Gullar, Mario Pedrosa, Millôr Fernandes e Rubem Braga.  A exposição comemorativa terá mais de 150 obras, entre desenhos, gravuras, pinturas e esculturas, de mais de 70 artistas que participaram da programação da Petite Galerie. Franco Terranova completaria 100 anos, em 09 de março próximo.

 

No dia 16 de março, às 19h, será realizado um leilão em prol da manutenção do legado de Franco Terranova, apregoado por Walter Rezende, com apoio da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, no site Iarremate –  https://www.iarremate.com.

 

Os artistas com obras na exposição comemorativa na Danielian Galeria são: Abelardo Zaluar (1924-1987), Adriano de Aquino (1946), Alexandre Dacosta (1959), Alfredo Volpi (1896-1988), Amélia Toledo (1926-2017), Angelo de Aquino (1945-2007), Angelo Hodick (1945), Anna Maria Maiolino (1942), Antenor Lago (1950), Antonio Henrique Amaral (1935-2015), Antonio Manuel (1947), Arthur Barrio (1945), Avatar Moraes (1933-2011), Carlos Scliar (1920-2001), Carlos Vergara (1941), Cristina Salgado (1957), Darel (1924-2017), Dileny Campos (1942), Dionísio del Santo (1925-1999), Edival Ramosa (1940- 2015), Eduardo Paolozzi (1924 – 2005), Emeric Marcier (1916-1990), Enéas Valle (1951), Enrico Baj (1924-2003), François Morellet (1926-2016), Frank Stella (1936), Frans Frajcberg  (1921-2017), Franz Weissmann (1911-2005), Gastão Manoel Henrique (1933), Glauco Rodrigues (1929- 2004), Iberê Camargo (1914-1994), Ivan Freitas (1932-2006), Hércules Barsotti (1914-2010), Jac Leirner (1961), José Resende (1945), Larry Rivers (1923-2002), Leda Catunda (1961), Lothar Charoux (1912-1987), Lucio Del Pezzo (1933-2020), Luiz Alphonsus (1948), Luiz Áquila (1943), Luiz Paulo Baravelli (1942), Luiz Pizarro (1958), Marcia Barrozo do Amaral,  Maria do Carmo Secco (1933-2013), Maria Leontina (1917-1984), Mestre Vitalino (1909-1963), Milton Dacosta (1915-1988), Mira Schendel (1919-2018), Mô (Moacyr)  Toledo (1953),  Monica Barki (1956), Myra Landau (1926-2018), Roberto Magalhães (1940), Roberto Moriconi (1932-1993), Roy Lichtenstein (1923-1997), Rubens Gerchman (1942-2008), Sepp Baendereck (1920-1988), Sérgio Camargo (1930-1990), Sérgio Romagnolo (1957), Serpa Coutinho, Tarsila do Amaral (1886-1973), Tino Stefanoni (1937-3017), Tuneu (1948), Victor Vasarely (1905-1997), Waldemar Cordeiro (1925-1973), Waltercio Caldas (1946), Wanda Pimentel (1943-2019), Willys de Castro (1926-1988), Yara Tupynambá (1932) e Yvaral (Jean Pierre Vasarely- 1934-2002).

A fronteira entre o pictórico e o escultórico

13/mar

Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no dia 15 de março, às 19h, a exposição “Tempo-Matéria”, com aproximadamente 14 novas pinturas, inéditas, do artista carioca Dudu Garcia. Os trabalhos são da série “RA 143”, de 2023, nome que faz referência ao endereço do ateliê do artista, na zona portuária do Rio de Janeiro.

Criadas em um processo de acumulação de vários materiais sobre a tela – como reboco, pedra, cal encontrados no próprio ateliê, um galpão -, e depois escavados pelo artista, essas pinturas inéditas discutem a relação entre tempo e matéria, em sua primeira exibição individual na Anita Schwartz cuja exposição vai ocupar todo o espaço térreo do prédio.

Em seu processo de criação, em que os diversos materiais são aplicados em camadas sucessivas, e depois escavados, como em um sítio arqueológico, há considerável esforço físico do artista, em um trabalho corporal intrínseco. As pinturas de Dudu Garcia situam-se na fronteira do ato escultórico. “Esses trabalhos sofrem muita ação minha na sua execução. Possuem fendas, fissuras, são peles castigadas. Diria que parte do processo é uma action painting, com muita entrega de corpo e alma, muitas decisões e renúncias”, comenta.

A matéria e a passagem do tempo são assuntos de interesse do artista desde que começou a participar do circuito de arte, no início dos anos 2000. Embora sempre tenha desenhado, e a pintura tenha permeado suas atividades profissionais, Dudu Garcia passou a se dedicar à arte depois de uma bem-sucedida trajetória profissional na indústria da moda e em sound design. Na ruptura com o universo já trilhado e o mergulho no desconhecido, ele foi o primeiro artista a ocupar a antiga Fábrica Bhering, em 2005, onde permaneceu até se transferir para o galpão na zona portuária, em 2019.

“Ao olharmos com mais atenção para a plasticidade de suas obras, percebemos que as pinturas de Dudu Garcia não representam fragmentos de paisagens urbanas, mas, se posicionam entre o campo do visível e do invisível, entre a experiência visual e sensorial da pintura”, escreveu Bianca Bernardo, gerente artística da Anita Schwartz, no texto que acompanha a exposição.

Intervenções de Lucia Koch

A Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura – a partir de 16 de março – sua temporada de 2023 com a exposição “Córte”, da celebrada artista Lucia Koch. Serão apresentadas obras inéditas da série “Fundos”, uma das mais emblemáticas de sua produção, em que fotografa interiores de embalagens vazias usadas para acondicionar os mais diversos produtos, e que, ao serem ampliadas para a escala humana, se transformam em espaços arquitetônicos que interagem com o percurso da exposição, criando para o público perspectivas surpreendentes. Reconhecida internacionalmente por seus trabalhos que alteram a percepção dos espaços que ocupa Lucia Koch intervém sobre a luz do lugar.

As obras de “Córte” foram criadas especialmente para o espaço da Nara Roesler Rio de Janeiro, e estarão também na exposição dois trabalhos ainda inéditos no Brasil, exibidos no Palais d’Iéna, em Paris, onde a artista fez a intervenção “Double Trouble”, em outubro de 2022.

Única série fotográfica de Lucia Koch, “Fundos”, iniciada em 2001, apresentou a artista ao público internacional, e desde então tem integrado exposições individuais e coletivas ao redor do mundo, como a 8ª Bienal de Istambul (2003); a 27ª Bienal de São Paulo (2006), a 11ª Bienal de Lyon (2011), e a 1a Bienal de Rabat (2019). Em 2022, na turnê “Portas”, de Marisa Monte, imagens como “Café Extra-Forte” e “Frutas” foram projetadas no palco do show, com direção artística de Batman Zavareze, fazendo com que a cantora e os músicos parecessem estar “dentro” da caixa-tela.

“Volumes pequenos proporcionam fotos de ambientes internos que aparentam ser amplos, solenes, belos. Como algo de valor assim insignificante permite tão admirável imagem?”, pergunta Francesco Perrotta-Bosch, arquiteto pela PUC-Rio, mestre e doutorando pela USP, no texto que acompanha a exposição. Da mesma forma, Dan Cameron (1956), respeitado curador norte-americano, que escreveu sobre ela no livro “Lucia Koch” (APC, 2016), comenta: “Na série “Fundos”, Lucia escolheu a fotografia como ponto de partida, usando o interior de caixas de papelão e de sacos de papel como “dublês” de espaços arquitetônicos reais, e fotografando-os de maneira a capturar as sutilezas da luz filtrada, como se fossem o interior de capelas ou de residências modernistas”.

 

Plano Real x Virtual

As caixas são fotografadas com luz natural, e suas aberturas pré-existentes sugerem inesperadas janelas para uma “vista” externa. Duas obras da exposição são autoportantes, apoiadas no chão e não na parede, com 2,40m de altura, interceptando assim o fluxo do espectador no percurso expositivo. Com a reforma ortográfica de 2009, caiu o acento circunflexo que diferenciava os significados de “corte” para tribunal, lugar do soberano, etc., do ato ou efeito de cortar. Para o título da exposição, a artista decidiu acrescentar um acento agudo na palavra, optando pela diferenciação. Os nomes das obras se referem ao conteúdo original da embalagem, como “Arroz Jasmin” (100 x 100cm), “Silver”, embalagem de transporte de correio (100 x 188 cm), “Kombucha” (150 x 112,5cm), e as autoportantes “Lasagna” (240 x 150cm), “SansGluten” (240 x 109cm) e “SpaghetIéna”(240 x 111cm). Ao se apropriar de um objeto banal, cotidiano, despido de sua função inicial de armazenamento, a artista conduz nosso olhar para os vazios deixados. Essas imagens também sugerem uma reflexão sobre o universo do consumo, a economia do descarte e o vazio. O nome da exposição faz referência a representações gráficas de projetos arquitetônicos, conhecidas como “cortes” transversais ou longitudinais, que complementam a informação dada pela planta baixa.

 

Escultora

Dan Cameron afirma que: “Lucia Koch é escultora, antes de mais nada, e por isso as obras que cria demandam um grau de materialidade física para poder existirem. Jogando com nossas expectativas de escala, Lucia também costumava imprimir as fotografias em dimensões muito ampliadas, para fazer com que a descoberta do objeto real fosse o mais desconcertante possível”.

 

 

Exposição de José Resende

A Galeria Marcelo Guarnieri, apresenta, entre 18 de março e 22 de abril, “Notas de Rodapé: Amilcar, Lygia e Weissmann”, primeira exposição individual de José Resende – nos Jardins – , o espaço da galeria em São Paulo. A mostra é formada por um conjunto de onze esculturas inéditas produzidas a partir de cortes e dobras em seis chapas de aço corten aproveitadas integralmente. Embora surjam de chapas idênticas e sofram cortes e dobras muitas vezes iguais, cada uma das onze esculturas pode ser percebida de maneira particular. José Resende propõe a ocupação total do espaço da galeria e assim, um contato mais próximo do espectador, que, ao transitar pelas esculturas, percebe mais facilmente que com apenas a rotação de algumas delas, surgem outras bem distintas. Com o título “Notas de Rodapé: Amilcar, Lygia e Weissmann”, José Resende explicita claramente as referências com as quais esse trabalho está relacionado, convocando, de maneira alusiva, os três artistas neoconcretos para tratar das questões de interesse que compartilham. A exposição conta com texto crítico do curador Diego Matos.

Um dos artistas mais importantes da escultura brasileira, José Resende (1945, São Paulo, Brasil) explora, desde a década de 1960, as potencialidades expressivas de materiais industriais tão diversos como aço, chumbo, cobre, parafina e as relações que estabelecem com o espaço através das dinâmicas de peso e contrapeso. Durante as décadas de 1960 e 1970, José Resende esteve à frente de projetos significativos para a história da arte brasileira que buscavam levantar questões ao redor do ensino de arte, da crítica e do mercado como a Rex Gallery and Sons, a Escola Brasil, a Revista Malasartes e o jornal A Parte do Fogo. A partir da década de 1990, desenvolve projetos de arte para espaços públicos, ampliando sua investigação sobre os efeitos da relação entre suas obras e a dinâmica do espaço urbano. Destacam-se, entre elas: O Passante (1996) no Largo da Carioca, Rio de Janeiro; a peça Sem título (1997) que integra o Jardim de Esculturas do Parque Ibirapuera e os três pares de vagões suspensos à margem da Radial Leste, no Grupo de Intervenção Urbana Arte/Cidade (São Paulo, 2002).

José Resende participou de diversas exposições nacionais e internacionais, entre elas a Bienal de Paris em 1980, a Bienal de Veneza em 1988, a 9ª Documenta de Kassel em 1992, a Bienal de Sidney em 1998 e de diversas edições da Bienal de São Paulo. Em 1984, recebeu a bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation e residiu em Nova Iorque durante um ano. Entre suas exposições recentes, destacam-se: “José Resende: Na membrana do mundo”, na Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, 2021); 33ª Bienal Internacional de São Paulo (2018) e “José Resende”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, 2015). Seu trabalho faz parte das coleções do MoMA – The Museum of Modern Art (Nova Iorque), MAM-SP – Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAC/USP e Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Centenário do artista

A Galeria Base, Jardim Paulista, São Paulo, SP, de Daniel Maranhão, abre sua agenda de 2023 – até 15 de abril – com a mostra “Chico da Silva: A Boca do Mundo”, em comemoração ao centenário do artista, com cerca de 20 pinturas a guache sobre papel, da década de 1960, período considerado como um dos mais representativos em sua trajetória.

Pássaros, dragões, peixes, criaturas nada passivas mas de colorido vibrante, com posturas proativas, são grande parte da criação espontânea do universo de Chico da Silva desde seus primeiros traços em tijolo ou carvão nas paredes das casas da Praia do Pirambu, Fortaleza, para onde a família se mudou quando o artista ainda era muito jovem.

Nas palavras do pesquisador Bitu Cassundé, que assina o texto crítico da exposição, “Chico constrói através da sua visualidade uma importante caligrafia que abarca uma natureza e uma animalidade fabular inserida numa cosmologia na qual a figura humana pouco aparece e seres de diferentes espécies, reais ou não, habitam um território de disputas e conflitos”.

O título da exposição – “Chico da Silva: A Boca do Mundo” – faz alusão às figuras pintadas pelo artista, geralmente com bocas abertas, em posição de ataque ou defesa. Ainda segundo Bitu Cassundé “As relações que se estabelecem indicam a defesa do território, as brigas pelo alimento, a proteção e o acolhimento das crias, assim como a boca que rege e orquestra diferentes coreografias e performatividades”.

A Galeria Base tem como um dos pilares de sua pesquisa, a (re)descoberta de importantes artistas que, por motivos diversos, caem no esquecimento. No sentir de Bitu Cassundé, “…a história da arte brasileira é constituída por inúmeras lacunas e invisibilidades que compõem violentas narrativas de apagamentos”, e “Chico é um bom exemplo”, explica Daniel Maranhão. A exposição “Chico da Silva – A Boca do mundo” ressalta a importância deste artista indígena, cujas obras das décadas de 1950 e 1960 percorreram o mundo, tendo como ápice sua participação na Bienal de Veneza (ITA), oportunidade na qual, foi criado um prêmio inédito, para condecorá-lo. Como consequência dessas ações, “…nota-se atualmente um forte movimento de reposicionamento da obra de Chico da Silva, não só no Brasil como no exterior”, diz Daniel Maranhão. No início deste ano, a Tate Gallery (Londres), adquiriu um painel do artista para seu acervo e, a Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), alinhada a esse movimento, exibe uma mostra individual do artista, onde a Galeria Base colabora com a cessão de obras. O momento de exibir “Chico da Silva: A Boca do Mundo” é mais que oportuno pois se trata de um “instigante conjunto que evidencia o signo da boca na obra de Chico da Silva; a boca como estratégia de sobrevivência e de vida” conclui Bitu Cassundé.

 

Sobre o artista

Chico da Silva (Francisco Domingos da Silva) – (Alto Tejo, AC, 1922/23 – Fortaleza, CE, 1985) – Pintor e desenhista. Inicia na pintura, em 1937, utilizando como suporte os muros caiados das casas de pescadores na antiga Praia Formosa (CE). No início da década de 1940, em Fortaleza, entra em contato com o franco-suíço Jean-Pierre Chabloz, que o introduz nas técnicas do guache e do óleo. Apoiado pelo mecenato de Chabloz, participa, em 1945, do I Salão de Abril (CE) e exposições na Galeria Pour l’Art (Lausanne, Suíça), 1950 e no Museu Etnográfico de Neuchâtel (Suíça), 1956. A arte de Chico da Silva foi destaque na prestigiosa revista francesa Cahiers d’Art, sob o título “Índio Brasileiro Reinventa a Pintura”. Na década de 1960, produz quarenta guaches para o acervo do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC). Chico da Silva consagrou-se como um dos maiores pintores primitivos brasileiros. Em 1966, conquista Menção Honrosa na XXXIII Bienal Internacional de Veneza (ITA). Chico da Silva está presente com dois guaches da década de 1960 na coleção do MAR, o Museu de Arte do Rio de Janeiro, por doação do Fundo Max Perlingeiro. Em 2014, essas obras foram apresentadas nas exposições “Encontro de Mundos” e “Pororoca, a Amazônica no MAR”.

“A minha pintura é a minha própria linguagem. Sobre o sentido da alegria que sinto, ela é grande e, sobre a beleza que vejo no matizado das cores, ela é rica. O que sai do meu coração é rico e bonito; eu é que sou feio e pobre.” Chico da Silva

 

Gerentes de novas ansiedades

A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar, entre 18 de março e 22 de abril, “Gerentes de novas ansiedades”, primeira exposição individual de RAU no mezanino de nosso espaço em São Paulo. A mostra, que marca a estreia do artista no circuito comercial, reúne cerca de dez pinturas em tela e vinte em papel produzidas durante os anos de 2021 e 2023. O artista nasceu em Ribeirão Preto em 1997 e em 2017 iniciou sua graduação em Arquitetura e Urbanismo. Em suas pinturas, incorpora aspectos da linguagem cinematográfica, e influenciado por diretores como Koji Wakamatsu, Hisayasu Satô e Takashi Ishii, explora enquadramentos cênicos e associações entre texto e imagem para representar situações de tensão e mistério.

“Gerentes de novas ansiedades”, título da mostra, faz referência ao conto “Night Picnic” da escritora Izumi Suzuki (1949-1986), ícone da contracultura e pioneira da ficção científica japonesa. “Night Picnic” é a história de um grupo, supostamente o último sobrevivente em um planeta pós-apocalíptico, que tenta performar a dinâmica de uma família humana a partir dos vestígios da cultura “terráquea”. Eles se inspiram em romances e anúncios populares, reencenando clichês de seriados de televisão. Em sua obra, RAU segue o tom da crítica à cultura de massa explorada por Izumi Suzuki na década de 1970 para situá-la no contexto dos dramas de homens e mulheres comuns, habitantes de qualquer grande cidade dos tempos de agora. Cenas intimistas de personagens frente ao espelho, fumando um cigarro enquanto pintam as unhas ou falando ao telefone dentro de um apartamento pequeno misturam-se a outras cenas onde parece haver algum conflito em ação, insinuado pela postura dos corpos, troca de olhares e figuras de poder tal como policiais e juízes. Uma atmosfera desencantada e cínica preenche as pinturas de RAU, que se assentam em tons pastéis e vez ou outra nos assustam com seus vermelhos.

Para compor suas cenas, RAU parte de sua enorme coleção de imagens e textos, stills de filmes e citações, elementos visuais e literários que lhe permitem sobrepor referências a um ritmo de prática pictórica que ele define como veloz. Suas ágeis pinceladas, mais preocupadas em definir os contrastes entre luzes e sombras, dão a dimensão de uma pintura que, por mais que seja figurativa, não pretende descrever a imagem em detalhes. Interessado em provocar leituras ambíguas de suas composições, RAU se utiliza do espaço do título da obra ou mesmo da tela para explorar o poder da palavra e causar algum ruído entre texto e imagem, incorporando, para isto, referências tão diversas como a literatura de Susan Sontag e frases de Twitter. A dissociação que busca RAU em sua pintura se manifesta também nas escolhas dos enquadramentos, deslocando com alguma frequência algum de seus personagens para fora de quadro, evidenciando assim o seu interesse por aquilo que não é imediatamente percebido e convidando o público a imaginar o que veio antes e o que pode vir depois daquele tempo em suspensão.

 

O Bastardo na Galatea

A Galatea tem o prazer de anunciar a representação do artista O Bastardo. O Bastardo (1997, Rio de Janeiro, Brasil) nasceu e cresceu em Mesquita, município da Baixada Fluminense, periferia do Rio de Janeiro. Atuando, inicialmente, com linguagens como o grafitti, o artista elabora um diálogo estreito entre questões autobiográficas e o pensamento pictórico, fruto de vivências familiares e passagens por escolas de arte, como a EAV – Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e a Beaux-Arts de Paris, na França. Hoje, O Bastardo vive e trabalha em São Paulo.

Os temas trazidos em suas obras abordam o cruzamento entre práticas cotidianas do empoderamento de pessoas negras e gestos de pertencimento a grupos sociais, como a religiosidade ou a descoloração do cabelo. Nos retratos, em séries como Pretos de griffe (2021-2023) e Só Lazer (2021-2023), consumo, lazer e autoestima são algumas das identificações exibidas por grupos que, a princípio, estão ausentes desse tipo de representação. Como aponta Lilia Schwarcz em comentário sobre O Bastardo, “Lazer e consumo configuram assuntos cada vez mais recorrentes em obras de artistas racializados, já que a história evidenciou os gestos de violência e sobrevivência como modo de inserção e denúncia às atrocidades perpetradas à maioria da população brasileira. O Bastardo faz de seu próprio nome, precedido por artigo definido, um vínculo de subversão de sua própria história, mantendo a palavra classificatória que, nas cenas das artes, passa a redirecionar o assunto e alertar para a prática de exotizar as margens.”

Em 2023, O Bastardo tornou-se membro da comissão curatorial da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Entre as suas principais exposições, estão a individual: O Bastardo: o retrato do Brasil é Preto, Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, 2023; e as coletivas: Brasil Futuro: as formas da democracia, Museu Nacional da República, Brasília, 2023; Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro, Instituto Inhotim, Brumadinho, Minas Gerais, 2022; Histórias Brasileiras, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, São Paulo, 2022; Brasil Coleção MAR + Enciclopédia Negra; Contramemoria, Theatro Municipal de São Paulo, São Paulo, 2022; Crônicas Cariocas, Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, 2021.

Suas obras fazem parte de coleções públicas nacionais e internacionais, tais como: Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; Xiao Museum of Contemporary Art, Rizhao, China.