Arte Naïf do Brasil

21/jun

A Galeria Jacques Ardies, Vila Mariana, São Paulo, SP,  abriu uma nova coletiva “Arte Naïf ou Arte Popular? Tanto faz, Arte do Brasil!”, com 32 pinturas assinadas por oito artistas que apresentam trabalhos que representam o Brasil isento de influências externas. A curadoria está a cargo de Jacques Ardies, ativo no segmento há mais de quatro décadas. Em cartaz até julho de 2023.

A seleção dos pintores – Isabel de Jesus, Francisco Severino, Fefe Talavera, Dalva Magalhães, Gilvan, Ivan Moraes, Antônio de Olinda, José de Freitas – possibilita duas ações simultâneas e superlativas: resgata alguns artistas cujos trabalhos devem voltar ao foco público pela excelência das técnicas envolvidas e coloca, lado a lado, obras recém finalizadas de criativos do mesmo padrão e que compõe a soma positiva característica das escolhas do curador.

A questão que intitula a exposição: Arte Naïf ou Arte Popular – pode provocar críticas, comentários, desavenças e concordâncias mas não interfere no propósito maior: diminuir a polêmica sobre a utilização do termo Naïf e mostrar a arte que é o mote principal. Naïf tornou-se um termo pejorativo que se denomina uma arte menor, não relevante, sendo que é um termo utilizado internacionalmente como referência de um estilo.

“Estou mostrando uma bela arte brasileira, que é o que importa. Arte a qual me dedico há anos e acho que existe muito ainda para mostrar!”.        

Jacques Ardies

Sobre os artistas

Isabel de Jesus, até onde se saiba, não é uma médium. No entanto, ao estar mais conectada com a terra e com as divindades, ou seja, com a essência mais profunda de nossa existência, ela descobre espontaneamente, sem ter aprendido nada, um passado fascinante do nosso planeta. De alguma forma, surgem dessas descobertas sereias – pássaros, assim como meandros e murmúrios da floresta equatorial. Não se trata apenas de uma decoração com manchas aleatórias de luz ou escuridão. Essas criações são animadas por uma poderosa e profunda inspiração, representando o único mistério e o único segredo de uma criação ingênua e verdadeiramente autêntica.

O mérito notável de Francisco Severino reside na maneira como lida com a cor verde, explorando suas variações com a consciência de que a pintura é muito mais do que um tema em si, mas uma forma de desenvolver um pensamento por meio de cores e formas. O que impressiona em suas imagens é a harmonia entre o domínio técnico e a sensação paradisíaca de que o tempo se deteve para que cada cena, predominantemente rural, pudesse ser retratada. Seu trabalho é caracterizado por uma abordagem meticulosa, onde os detalhes desempenham um papel fundamental, resultando em composições visualmente perfeitas.

Fernanda Talavera acumulou uma vasta experiência em exposições realizadas em museus e galerias de arte ao redor do mundo. Embora tenha sido inicialmente reconhecida como grafiteira, ela expandiu sua abordagem artística, explorando diferentes suportes para suas obras. Seu foco principal passou a ser a representação de animais imaginários provenientes de um universo subconsciente fantasmagórico que ela denomina “Bichos tipográficos aleatórios”. Com essa temática, Fernanda Talavera busca incorporar elementos da cultura urbana ao seu universo artístico, estabelecendo novas categorias conceituais.

Dalva de Magalhães, nascida em São Paulo e, há quase cinco décadas, se dedica à sua arte, sustentando-se por meio dela. Sua técnica envolve o uso de diferentes materiais, como acrílico, guache e óleo, aplicados sobre tela ou madeira. A arte regional e folclórica exerce uma forte influência sobre seu trabalho. Além disso, Dalva de Magalhães é uma maratonista dedicada, residindo na região montanhosa da serra da Bocaina, onde concentra sua preocupação na preservação da natureza e se engaja fervorosamente na luta pelos direitos dos povos indígenas. Sua pintura é caracterizada pela criatividade e atenção aos detalhes, retratando um mundo intimista que reflete seu ambiente ecológico.

Gilvan é Paulo Gilvan Duarte Bezerril, um autodidata em pintura e música, deu início à sua carreira artística em 1964. Sua abordagem única envolvia o uso de uma técnica por ele mesmo inventada, utilizando tinta automotiva e acrílica sobre chapa de eucatex ou, ocasionalmente, chapa de madeira. A arte de Paulo Gilvan Duarte Bezerril é caracteristicamente ingênua, transbordante de alegria, cores vibrantes e atmosferas tropicais. Ele evita fórmulas estereotipadas, retratando desde festas populares rurais até histórias em quadrinhos que narram a vida de Lampião e Maria Bonita.

Ivan Moraes capta com riqueza de detalhes as temáticas mais frequentes de sua obra, inspiradas pela representação dos cultos religiosos afro-brasileiros da Bahia, assim como pelas baianas vestidas com trajes brancos rendados. Sua pintura une a alegria das cores com o mistério da cenografia, onde os personagens são imersos no esplendor da natureza tropical, exibindo trajes festivos e expressões de felicidade. Em seu Dicionário de Pintores Brasileiros de 1997, Walmir Ayala descreveu essa fusão de elementos, destacando a forma como o artista retrata com precisão esses aspectos em sua obra.

Antônio de Olinda, é natural de Olinda, PE, cultivou seu amor pela arte desde a infância, sempre vivendo próximo ao mar na sua amada cidade natal. Sua jornada artística começou com o mamulengo, um popular teatro de bonecos regional. Em 1984, participou de sua primeira exposição coletiva, conquistando também uma premiação no “Salão dos Novos de Pernambuco” e o primeiro lugar no Projeto Lista Telefônica do Estado de Pernambuco, ambos no mesmo ano. Sua arte é marcada pelo uso de cores vibrantes, traços enérgicos e uma abordagem pouco convencional, que busca expressão e irreverência, sem se preocupar excessivamente com a perfeição estética. Essa autenticidade essencial permeia sua obra.

José de Freitas, nascido na década de 1930 – artista já falecido – em Vitória de Santo Antão, PE, posteriormente mudou-se para o Rio de Janeiro durante a década de 1950. Embora tenha dado seus primeiros passos como artista no teatro e na televisão, sua paixão pela pintura começou a se desenvolver paralelamente, ganhando maior atenção a partir de 1964. Desde o início, sua arte tem sido habitada por minúsculas figuras que preenchem toda a dimensão da tela. Seus temas variam desde ilustrações de peças teatrais até representações da Bíblia e do circo, sempre permeados de humor e sensibilidade.

Exposição de Mira Schendel

20/jun

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, apresentará a exposição “Mira Schendel:Toquinhos”, que será inaugurada no dia 28 de junho, às 18h. A mostra, em cartaz até 19 de agosto, conta com texto da curadora e crítica de arte Lisette Lagnado e reúne, pela primeira vez, um conjunto tão abrangente de obras – cerca de 60 – que compõem a série “Toquinhos”, produzida por Mira Schendel (1919-1988) principalmente entre 1972 e 1974. São trabalhos que se inscrevem no contexto das múltiplas experimentações com o papel de arroz japonês realizadas por Mira, após ter sido presentada pelo amigo Mario Schenberg, crítico de arte e importante físico brasileiro, com uma enorme quantidade desse material. A série “Monotipias”, produzida principalmente entre 1964 e 1967 e composta por cerca de dois mil desenhos, abre toda uma sequência de criações com o papel japonês que se desdobra, ainda, em trabalhos como as “Droguinhas” e os “Trenzinhos”, produzidos na segunda metade da década de 1960, e os “Objetos Gráficos”, realizados sobretudo entre 1967 e 1973.

Os “Toquinhos” aqui apresentados, vale ressaltar, diferem dos “Toquinhos” que consistem em pequenos retângulos de acrílico colados sobre placas transparentes também de acrílico, produzidos mais ou menos na mesma época (primeira metade da década de 1970). Entre as séries homônimas, os decalques de letraset são o elemento comum. A artista passa a utilizá-los sobretudo a partir da série “Objetos Gráficos”, cujas obras são compostas por folhas de papel de arroz repletas de rabiscos, traçados, rasuras, tipos datilografados e letraset inseridas entre duas placas de acrílico suspensas por fios de nylon e dispersas no espaço, longe das paredes, jogando com a luz, o dentro e o fora, a frente e o verso. Progressivamente, o desenho, a escrita cursiva e a rasura passam por um processo de síntese no trabalho de Mira, chegando ao que o ensaísta alemão Max Bense chama de “reduções gráficas”.

Nos “Toquinhos”, tais reduções são notáveis. A artista cria camadas colando sobre o papel japonês recortes geométricos (tingidos ou não) do mesmo papel, normalmente acompanhados de sinais de pontuação e letras. Ao ser questionada, em 1975, pela jornalista Norma Couri: “Por que letras?”, Mira responde: “São o pré-texto ou o pretexto do pós-texto”. Comentando tal diálogo, o teórico Geraldo Souza Dias afirma, em sua monografia sobre a artista intitulada “Mira Schendel: do espiritual à corporeidade” (2009): “A completa redução da forma a círculos e retas, desenvolvida nos tipos sem serifa da fonte Futura, a preferida da artista, permite considerar a relevância ótica das letras enquanto elementos de um conjunto. Nos trabalhos de Mira, o significado original dos sinais caligráficos – letras e números – transforma-se pela ação da letra autocolante, assumindo um caráter novo, puramente plástico.”

Experimentações de Andy Villela 

16/jun

A NONADA ZS, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre a individual “Nebulosa” de Andy Villela, sob curadoria de Clarissa Diniz, com 11 pinturas onde a artista registra seu método de pesquisa e construção de sua arte e de si mesma como um artífice da criatividade plástica. Até 05 de agosto.

Andy Villela, em seu próprio tempo, gera trabalhos como um procedimento investigativo. Mesmo em um processo não indolor a que se submete, sua verve artística consegue reinventar-se e apresentar resultados intensos, porém suavizados pela inserção das cores, que lhe são caras. Cada uma de suas obras recentes é um laboratório de estratégias metodologias, materiais, formais e semânticas que não se limitam apenas à produção de suas próprias obras de arte, mas, acima de tudo, à criação de uma poética que considera a própria criação como uma questão e uma matéria para exploração. “A profusão técnica de suas pinturas recentes – que combinam acrílica, stencil, bastão oleoso, spray e fogo, dentre outros materiais – é apenas uma das camadas dessa pesquisa que, no encalço dos processos de formação e transmutação das coisas e dos corpos, toma a química e o tempo como territórios de experimentação”, explica a curadora. Enquanto atravessa processos de hormonização e expressões performativas de gênero, Andy Villela direciona sua responsabilidade para a dimensão pública discursiva de sua obra, em vez de se concentrar exclusivamente na esfera privada e pessoal. Procura abordar socialmente o direito à constante recriação das formas, buscando ampliar os limites de suas predeterminações, além do período embrionário da vida, estendendo-o infinitamente.

Em cada pintura, a artista experimenta a morfogênese dos corpos em um espaço-tempo limitado. Ela reconhece que está realizando uma performance da própria expansão de seu próprio universo no plano pictórico. É a partir desse compromisso que evita, intencionalmente, “pintar imagens”. Suas pinturas não são concebidas como produtos de sua própria criação artística, mas, ao contrário, são capazes de continuamente formar e dar à luz sua própria autoria durante seu processo geracional de autocriação.

“Que abracemos a nebulosidade de nossas contínuas recriações é ao que nos convida a primeira exposição individual de Andy Villela na NONADA, cujas obras se formaram através de aventuras morfogênicas e, como tal, potencialmente nos mobilizarão percepções, reações, interpretações também instáveis, mutáveis e quiçá angustiantes”, afirma a curadora  Clarissa Diniz.

Sobre a artista e seu processo criativo

Andy Villela vive e trabalha no Rio de Janeiro e toma em primeira instância a pintura como pilar de sua produção. Influenciada pela abstração, ela se comunica por meio de símbolos inconscientes, dando espaço para uma estimulação onde diferentes cores, formas e caminhos dão sentido à sua produção através de seu processo de elaboração. Seu trabalho parte do contato com os materiais e como eles desenham uma linguagem investigativa atrelada à experimentação pictórica, nesse processo propondo questões sobre a racionalidade social e as regras técnicas da pintura. Um resgate emancipatório para a criação de uma linguagem própria, a artista conduz com atenção especial ao contato corporal com seu próprio mundo e ferramentas, especialmente a superfície, a tinta e o pincel. Sua pintura mistura o figurativo e o abstrato, afastando a possibilidade de uma interpretação literal, criando uma tensão entre a escala humana e outras espacialidades. Neste sentido, a artista dá protagonismo ao seu processo gestual, vai explorando os seus sentidos e as suas emoções que decorrem dos seus movimentos, e é nesta camada que revela a poesia da sua pintura, uma pintura liberta da dependência figurativa uma pintura de processos subjetivos desencadeados por múltiplas relações com a tela. Construindo assim, uma narrativa não linear que, no entanto, não se envolve em puro acaso, mas que ainda vai além da imposição de uma produção anestesiada.

Acervo Aberto

A trajetória de um ícone da arte urbana ao alcance das mãos. Ozeas Duarte (a.k.a. OZI) abre a ação/exposição Acervo Aberto, sob curadoria de Katia Lombardo, como parte do Projeto Desloca, no Studio Alê Jordão, Comendador Miguel Calfat, 213, Itaim Bibi, São Paulo, SP, apresentando – até 01 de julho – por volta de 150 obras entre pinturas, esculturas, ready made, serigrafias e matrizes originais de stencil.

O ser humano alcança momentos de ruptura, ou mudanças, em sua trajetória e essa ocasião, mais uma vez, apresentou-se para OZI. Seus 35 anos ininterruptos de ação tornam o momento autoexplicativo. O artista está em processo de mudança de ateliê e, como resultado de uma área menor, escolheu oferecer ao público a possibilidade de aquisição de obras de séries reconhecidas e conhecidas, bem como trabalhos pouco mostrados e, como destaque, as matrizes de stencil, por ele utilizadas.

A exposição, pensada em conjunto pelo artista e curadora exibe, em ordem cronológica, os inúmeros trabalhos e técnicas utilizados durante as décadas de criação e participação intensa no circuito de Arte Urbana. Artista inquieto e questionador, OZI está sempre à procura da “outra”, da “nova” técnica que pode aprimorar sua forma de registros. Mais ou menos cor; menos ou mais detalhes… tudo vai depender da forma que a vida estiver se apresentando naquele momento. OZI não é um criativo alienado ao presente. Ele expressa o hoje! Como prova dessa característica, o último módulo de OZI – Acervo Aberto é “Degustação” onde são exibidas novas pesquisas e obras inéditas. O viés cáustico e desafiador vem como bônus! O container “Proibidão”, com restrição etária por seu conteúdo, coloca a vista trabalhos polêmicos que já causaram embates com marcas mundiais, questionadas e provocadas pelo artista em algum momento de sua trajetória. Acervo Aberto possui obras criadas desde os anos de 1980 até os dias atuais. Muitos deles, além de participação em mostras emblemáticas de Arte Urbana, já foram exibidas internacionalmente em países como Argentina, Austrália, Estados Unidos, França, Suíça, além de cidades e capitais pelo Brasil.

A possibilidade de ter contato com as “mascaras matrizes de stencil” é única. “Essas “máscaras, matrizes” carregam a memória e a gestualidade das várias obras que são feitas a partir delas, trazendo uma sobreposição de tintas e cores que foram usadas nas pinturas”, explica a curadora.

“Com essa ação, abro a possibilidade das pessoas possuírem momentos de minha trajetória e fazer parte da minha história no circuito de arte urbana”.   OZI.

Ativações

OZI – Acervo Aberto possui uma agenda de ativações, para convidados, como parte do Projeto Desloca

Dia 17 de junho – sábado – das 11 às 18hs.

Visitas guiadas com OZI, Katia  Lombardo e a artista convidada Simone Siss durante o período.

Dia 18 de junho – domingo – das 12 às 14hs

Brunch com roda de conversa em que participam OZI, Katia Lombardo, os artistas Simone Siss e Alê Jordão e o galerista e curador Baixo Ribeiro

Fotografias de Mapplethorpe na Carpintaria

15/jun

A Fortes D’Aloia & Gabriel apresenta até o dia 22 de julho, “Robert Mapplethorpe: mais que um rosto”, exposição de Robert Mapplethorpe (1946-1989) na Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ.

Reunindo obras da segunda metade dos anos 1970 aos anos 1980, a mostra aproxima temas presentes nas fotografias de Mapplethorpe e no romance japonês Confissões de uma máscara (1949), de Yukio Mishima, em que um personagem semi-autobiográfico tenta compreender sua homossexualidade no Japão do pós- guerra. A “máscara” referida no título do livro é a persona pública, espécie de prótese social, com que o autor se apresenta à sociedade patriarcal em que cresceu.

As fotografias de Mapplethorpe, como o clássico de Mishima, recriam arquétipos, fetiches e personagens ligados ao desejo e as imbricações entre sexo, violência, masculinidade e submissão. O artista produz um contraste entre seus temas sadomasoquistas e eróticos e a apresentação impecável de sua obra, deixando o espectador numa posição ambígua entre fascínio e distanciamento. De forma análoga, o narrador do livro de Mishima mascarava a sua homossexualidade sob o disfarce exterior de um fisiculturista, apaziguando uma disparidade insolúvel entre o que o Japão da época considerava fraqueza, e a dureza que a mesma sociedade legitimava. Tanto a iconografia cristã quanto a cultura visual do BDSM homossexual têm seu funcionamento estruturado no fetiche, entrelaçando devoção, submissão e a adoção de posições arquetípicas num código complexo. Máscaras e espelhos aparecem recorrentemente nas fotografias de Mapplethorpe, entre músculos esculpidos, meias arrastão, facas e couro. Uma das passagens mais impactantes de Confissões de uma Máscara acontece quando o personagem principal, ainda muito jovem, se vê atraído por uma reprodução do São Sebastião martirizado. O rosto do santo parece suspenso em êxtase, num prazer indiferente à tormenta. Essa dimensão erótica das imagens devocionais aparece no retrato que Mapplethorpe faz de Peter Reed (1980), que remete à imagem do Cristo deposto. Como em Mishima, o poder sexual das formas visíveis é sempre espreitado pela figuração da morte. Em Cross (1984) e Leg (1983), tanto o crucifixo quanto a perna de meia arrastão são fotografadas com um contraste decidido entre sombra e luz, produzindo um drama entre ocultamento e revelação. O que Mapplethorpe faz da câmera como espécie de máscara, um anteparo em frente ao rosto, prolonga o seu olhar enquanto esconde a sua identidade.

Importantes nomes modernistas

14/jun

A Simões de Assis apresenta até 22 de julho, em sua sede de Curitiba, PR, a exposição “Encontro de Modernos”, que aprofunda novas leituras sobre o movimento da Arte Moderna no Brasil. A mostra propõe diálogos entre artistas de diferentes origens, gerações, formações e estilos, mostrando como é possível encontrar modernismo e modernidade em cada canto do país. Essa longa história moderna passa, infalivelmente, pelo estado do Paraná. A região abrigou importantes nomes que, embora menos conhecidos em escala nacional, foram fundamentais na expansão da agenda moderna pelo sul do Brasil. A mostra apresenta a formação desse cenário, além das conexões entre os expoentes do estado com modernistas de outras regiões do país, trazendo artistas como, Alberto da Veiga Guignard, Emiliano Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Cícero Dias, Alfredo Andersen, Guido Viaro, Theodor de Bona e Miguel Bakun.

Luiz Martins na Galeria BASE

“toda manifestação estética forma, de uma maneira ou outra, uma parte significativa da sensibilidade humana”  L.M.

A BASE, galeria de Daniel Maranhão, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura a exposição “Passos ao Passado”, do artista multimídia Luiz Martins, com texto crítico de Agnaldo Farias. A mostra é composta por 21 obras inéditas desenvolvidas nos últimos dez anos, em papel, tela e mármore, resultantes de sua pesquisa em sítios arqueológicos das regiões Nordeste, Centro Oeste e Sul do Brasil. A abertura é no dia 17 de junho – sábado – às 12hs. Em exibição até 05 de agosto.

Luiz Martins volta a investigar os vestígios gráficos dos povos indígenas como fonte iconográfica primordial para sua série Ingá, oferecendo uma leitura visual livre sem tentar interpretar suas significações. Nas pinturas, utiliza tinta acrílica em combinações de tons e cores clássicas como corpo principal, sobrepondo-se a massas aquareladas circulares. A dinâmica do grafismo está presente, mas não determinante, fazendo com que formas se apresentem durante a construção das cores estabelecida por uma tradição plástica, conforme explica o artista. Para ele, esse encontro é uma sucessão de desencontros na elaboração estética e formal de cada obra com liberdade de transformação.

O trabalho de Luiz Martins desafia o espectador com enigmas visuais e conceituais. Suas esculturas de discos de mármore claro e granito escuro, perfurados e sustentados por hastes circulares de madeira, despertam curiosidade. Esses discos não apenas ficam em pé, mas também sugerem a possibilidade de rolar sobre seu eixo, deixando sulcos em um chão macio. “Que escultura/engrenagem é essa, proposta pelo artista? Seria aparentada com uma mó, com o mostrador de um relógio?”, acrescenta Agnaldo Farias.

Para Daniel Maranhão, “o uso do mármore pelo artista é um desdobramento da imensa escultura executada em 2022, oportunidade na qual Luiz Martins instalou uma obra em uma praça pública, em Portugal (uma encomenda do Governo Português, para homenagear os 500 anos do Descobrimento do Brasil). Para tanto, Martins fez uso de um monobloco de mármore  com cerca de 4 toneladas. Na mostra a ser inaugurada, o mármore e granito voltam à sua pesquisa.”.

Além das esculturas circulares, a mostra exibe pinturas e colagens explorando formas irregulares, achatadas e fragmentadas, evocando objetos antigos como lemes de barcos, foices e enxadas. Algumas obras apresentam esses feitios isolados em grande escala, enquanto outras compõem uma coleção de formas, assemelhando-se a um catálogo de maravilhas inventadas. Destaca-se uma grande pintura azul, com um horizonte suspenso atravessado por retículas, totens e monolitos, provocando questionamentos sobre seu propósito e significado. A dualidade também está presente nas pinturas com círculos desenhados à mão, criando uma ilusão de geometria em estágio embrionário, desafiando a percepção e as noções de ordem e forma. A arte enigmática e intrigante de Luiz Martins convida a explorar os mistérios do desconhecido, refletindo sobre as complexidades da existência e da criação.

Segundo Daniel Maranhão, responsável pela expografia e curadoria das obras, “a mostra ocupa os dois pavimentos da BASE. Além da série “Ingá”, prevalecente na exposição, somam-se dois conjuntos inéditos da série “Carolina Maria de Jesus” que são trabalhos expansíveis que permitem diversas montagens e um grande políptico de 46 partes, da já consagrada série “Não está no Dicionário”.”

“As obras de Luiz Martins levam a pensar que o nascimento da linguagem implica no nascimento do mundo, tanto na representação das coisas existentes quanto na prefiguração das inexistentes, daquelas a serem inventadas ou aperfeiçoadas.”   Agnaldo Farias

Thiago Honório na Galeria Luisa Strina

13/jun

A Galeria Luisa Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta “Oração”, segunda exposição do artista Thiago Honório, com curadoria de Ana Paula Cohen.

Em “Oração”, Thiago Honório ocupa o espaço expositivo da galeria – sediada no andar térreo de um edifício comercial, em formato U ou ferradura – considerando o corpo arquitetônico e os deslocamentos do corpo do espectador em seu interior como texto, oração, conjunto linguístico que se estrutura em torno de um verbo. Na experiência de “Oração”, os trabalhos se pulverizam pelo espaço da galeria como signos gráficos, vírgulas, pontos estelares que tomam a arquitetura como texto.

Texto quer dizer Tecido; mas enquanto até aqui esse tecido sempre foi tomado por um produto, por um véu todo acabado, por trás do qual se mantém, mais ou menos oculto, o sentido (a verdade), nós acentuamos agora, no tecido, a ideia gerativa de que o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido – nessa textura – o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolvesse ela mesma nas secreções construtivas de sua teia. Se gostássemos dos neologismos, poderíamos definir a teoria do texto como uma hifologia (hyphos é o tecido e a teia da aranha).

A partir dessa noção de texto, na exposição a oração é concebida como constituinte sintático, coordenado ou subordinado, geralmente dotado de verbo, e também como litania, sob forma de meditação; reza; prece litúrgica enunciada nas horas canônicas ou na missa; como fala; ou, ainda, conjunto de palavras ordenadas segundo normas gramaticais, proposição, sentença, uma frase.

No trajeto proposto por “Oração”, é possível vislumbrar uma narrativa fraturada, aberta, a um só tempo fragmentada e suspensa, marcada por hiatos, intervalos, cortes, vazios e silêncios. Ao considerar a planta da Galeria Luisa Strina, a noção de planta no pensamento desta exposição adquiriu outros sentidos a partir de alguns elementos presentes nos trabalhos: o ramo de algodão, a rosa do rosário, a estaca para plantar, rebento, a planta arquitetônica, traçado, mapa, diagrama, a planta do pé. A mostra foi pensada como trama e também como uma espécie de exposição-procissão. Em julho, ela se desdobrará em Texto, operação a ser realizada na Capela do Morumbi, em São Paulo.

Até 24 de junho.

Reflexões de Richard John

12/jun

Richard John apresenta a exposição “Desenhos Miméticos” que inaugura no dia 17 de junho no V744atelier, Porto Alegre, RS. O artista propõe reflexões sobre as limitações da linguagem e a vida em sociedade.

O espaço foi idealizado e coordenado pela artista Vilma Sonaglio. O título da exposição e os trabalhos expostos são o resultado da tese de doutorado de Richard John, chamada “Desenhos Miméticos e A Tirania da Forma”, defendida em 2018. Partindo do antigo conceito grego de mimese, os trabalhos exploram a representação e a cópia como os elementos fundantes da linguagem, tanto visual como escrita.

Sobre a exposição

“O inferno é o outro”, escreveu Sartre. A enigmática frase do famoso filósofo francês resumia, de uma forma um tanto irônica, as diferenças e dificuldades da vida em sociedade. Apontava, também, para questões identitárias e a tendência, muito humana, de projeção no outro. Roland Barthes, outro filósofo francês, tentou algo mais propositivo ao escrever “Como viver juntos?”, um livro de 1977 que traz no título uma pergunta ainda muito atual. A exposição promete abordar estas e outras questões e é o resultado de uma tese de doutorado e mais quatro anos de trabalho. O artista, que desde 1988 vem produzindo experimentos entre pintura e desenho, considera que, mais do que estes quatro anos, a exposição é a culminância de suas reflexões desde a década de 1980.

– “Dizem que um artista sempre circula pelos mesmos temas, como uma forma de obsessão. O fato é que um artista aprofunda suas questões com o benefício do tempo; tudo é somado e levado ao seu desdobramento possível. Tudo isso –  tentativa, incerteza, erro, reelaboração, descoberta e redescoberta, avanços e recuos – são as partes constituintes de um processo artístico e é sua somatória que confere consistência ao trabalho”, observa Richard John.

Formalmente, alguns desenhos lembram livros de colorir ou o jogo dos 7 erros. São os chamados “trabalhos figurados” nos quais as representações de objetos simples trazem uma sensação de nostalgia e algo relacionado à infância. Mas, conceitualmente, eles vão muito além disso. E essa desproporcionalidade é estratégica e intencional porque os trabalhos funcionam em muitos níveis de leitura. Um dos conceitos utilizados por Richard John é o de inframince, criado por Marcel Duchamp (1887-1968), no qual o sentido artístico é encontrado em elementos praticamente imperceptíveis, nas relações mais sutis entre acontecimentos próximos. – “Duchamp, com o inframince, tentou chegar numa espécie de limite da arte, na qual ela pode residir na sua forma mais sutil, algo que me interessa como maneira de questionar, também, os limites da linguagem”, revela o artista.

Outra série também presente na exposição lida diretamente com a palavra. São os chamados “desenhos escritos”. Um desses desenhos traz listado mais de 10 mil nomes e sobrenomes. São amigos, parentes e pessoas conhecidas na sociedade e no meio artístico gaúcho, mas também artistas e filósofos de fama internacional. A ideia é render uma homenagem a cada um deles e, ao mesmo tempo, pensar as relações interpessoais na sociedade. Para o artista, a questão proposta por Barthes continua a nos desafiar: “Como viver juntos?”. Com os nomes, lado a lado, temos a impressão de células que formam um tecido e que perdem sua individualidade à distância, formando um todo abstrato.

Dividida entre “desenhos escritos” e “desenhos figurados” a exposição propõe um questionamento, tanto da linguagem escrita quanto desenhada, tratando dos elementos que formam tanto uma alfabetização verbal como visual. “- Não podemos esquecer que tanto a palavra como a imagem são elementos de linguagem e representação, como tal elas precisam ser aprendidas e são sujeitas a falhas. Minha ideia é justamente aproveitar estas falhas para encontrar novos sentidos na sua utilização e no nosso entendimento do mundo. Toda vez que se inventa uma nova linguagem se cria um novo mundo, uma nova vida”, conclui o artista.

“As linguagens e representações estruturam as relações sociais, culturais, econômicas, ideológicas e elas as reproduzem e as multiplicam”. Richard John opera nesse universo de reproduções e de cópias no qual vivemos imersos. Suas obras “enfatizam que as representações podem, também, representar a cópia ou os processos envolvidos em sua constituição”, escreveu Helio Fervenza, autor do texto de apresentação da exposição.

“Desenhos Miméticos” fica em cartaz até o dia 11 de agosto. Visitação de quartas as sextas-feiras, das 14h às 17h. Outros horários serão contemplados com agendamento pelo direct do Instagram do V744atelier.

Sobre o artista

Richard John (Bom Princípio-RS, Brasil, 1966) é artista plástico e professor. De 2013 a 2018 foi coordenador do Espaço Cultural ESPM, onde organizou exposições individuais de importantes artistas do cenário local e nacional, tais como Mario Röhnelt, Patrício Farias, Helio Fervenza e Maria Ivone Santos, Eduardo Haesbaert, Frantz, Dione Veiga Vieira, entre outros. Richard John é formado em Pintura (1992) e Desenho (1995) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Em 1998 defendeu sua dissertação de Mestrado na mesma instituição. Em 2022, também pela Ufrgs, defendeu a tese “Desenhos Miméticos e A Tirania da Forma”, cujos trabalhos práticos deram origem à corrente exposição. Richard John participou de várias exposições coletivas a partir do final dos anos 1980, dentre as quais se destacam 49° Salão Paranaense (1992), XVI Salão RBS do Jovem Artista (1996) e a mais recente, Próxima Pintura, Pintura Próxima (2022), exposição em homenagem ao colega e artista Gelson Radaelli. “Desenhos Miméticos” é sua terceira exposição individual. As individuais anteriores foram “Cosmogonia” de 1994 (Galeria Espaço Institucional, Casa de Cultura Mario Quintana) e “O Objeto Flutuante” de 2014 (Estúdio Clio).

Sobre o V744atelier

Idealizado e administrado pela artista visual Vilma Sonaglio, o V744atelier é um local para criar e expor arte contemporânea. Abriga exposições de artistas convidados, mas também aceita propostas de criadores que estejam desenvolvendo sua pesquisa e produção em todas as linguagens na arte contemporânea. Inaugurado em 18 de setembro de 2021, com a exposição “ViCeVeRSa…pode não ser o que é”, de Sonaglio, o Atelier já sediou a exposição “Paisagem sem Volta”, de André Venzon e Igor Sperotto, “Be-a-bá”, de Maria Paula Recena e Marcos Sari, “C+asa”, de Marcelo Silveira; “Tripadeiras”, de Téti Waldraff, “Desvio/Provas”, de Helena Martins-Costa, “Sem peso e Cem medidas”, de José Spaniol. “Desenhos Miméticos”, de Richard John, é a oitava mostra do espaço expositivo.

Em seu segundo ano de atividades ininterruptas, o V744atelier vem se consolidando como um local para criar e expor arte contemporânea. A cada exposição, um novo desafio é proposto ao público, que é convidado a pensar e a refletir, seja apreciando as obras, seja participando das tradicionais “Conversa com o Artista”, encontros que ganham apreciadores desejosos de conhecer mais sobre o artista e seus processos criativos.

Recomenda-se o uso de máscara e álcool em gel à disposição.

Até 11 de agosto.

Primeiro ano da Galatea

 

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, completou no dia 10 seu primeiro ano! Estamos muito felizes com tudo o que construímos e compartilhamos nos doze meses que se passaram.

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

Artistas representados

Hoje, contamos com um conjunto diverso de artistas representados, provenientes de diversas regiões do país, inscritos em diferentes gerações e que transitam por linguagens variadas, desde a pintura até a instalação. Por ordem de anúncio, são: Allan Weber (Rio de Janeiro, RJ, 1992), José Adário (Salvador, BA, 1947), Marilia Kranz (Rio de Janeiro, RJ, 1937-2017), Aislan Pankararu (Petrolândia, PE, 1990), Daniel Lannes (Niterói, RJ, 1981), Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, MG, 1983) e Miguel dos Santos (Caruaru, PE, 1944).

Feiras

Participamos, desde o início, de importantes feiras nacionais e internacionais com projetos que, vistos em conjunto, traduzem bem a nossa proposta. Foram eles: o estande Tramas brasileiras na SP-Arte Rotas Brasileiras, em agosto de 2022; Chico da Silva: mitologias brasileiras na Independent 20th Century, em Nova York, em setembro de 2022; Allan Weber: Traficando arte na ArtRio, em setembro de 2022; o estande na SP-Arte, em abril de 2023; o estande com o projeto solo da artista Beatrice Arraes na ArPa, em São Paulo, em junho de 2023.

Exposições

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

A próxima exposição, com abertura no dia 28 de junho, apresentará uma seleção abrangente da série Toquinhos, produzida por Mira Schendel principalmente entre 1972 e 1974. Continuaremos a todo vapor e muito animados com todas as novidades que em breve serão compartilhadas!

Agradecemos imensamente a todos que colaboraram conosco e acompanharam a nossa trajetória.