Festival de arte na Lapa

07/jul

Galeria Paulo Branquinho, Lapa, Rio de Janeiro, RJ,  reabre no dia 08 de julho com coletiva de mulheres “Elas”. Paulo Branquinho celebra reabertura de sua galeria com exposição de artistas mulheres e reedita sucesso do Festival de Bandeiras tomando a rua na Lapa.

América Cupello, Andréa Facchini, Antônia Philippsen, Carlota Philippsen, Clarisse Tarran, Claudia Watkins, Ecila Huste, Edineusa Bezerril, Esther Barki, Grasi Fernasky, Lia do Rio, Maria Pitú, Monica Barki e Pérola Bonfanti, integram o “time” montado por Paulo Branquinho para a reabertura da galeria que leva o nome do produtor, fechada desde a Pandemia. O universo feminino está representado pelas 14 mulheres artistas, que apresentarão suas obras em diferentes estilos e técnicas. Partindo de linguagens distintas, elas abrem um diálogo sobre suas diversidades em pinturas, fotografias, objetos e instalações.

Pérola Bonfanti, por exemplo, faz sua obra se expandir além dos limites da tela, transformando o espaço em parte de sua obra.  Monica Barki apresenta sua obra fotográfica de grande dimensão “Dream”, da série “Arquitetura do Secreto/Desejo”, que aguça as fantasias em forma de interpretação dos observadores.  Artista convidada de Mato Grosso do Sul, Carlota Philippsen traz trabalhos de fotografia e arte digital: “Beija Boi” e “Capivara Inusitada”. Lia do Rio se inspirou em Cézanne e sua série de pinturas do monte Saint Victoire, razão pela qual a fotocolagem de uma montanha que avista da janela está intitulada em francês.

A volta do Festival de Bandeiras

Habituado a transformar suas inaugurações em grandes festas entre amigos, artistas e apreciadores de arte, movimentando a tranquila Rua Morais e Vale, na Lapa, onde mantém sua galeria, Paulo Branquinho desta vez fará, em paralelo à mostra, a remontagem da instalação urbana “Festival de Bandeiras”, na Rua da Arte, ocupando as imediações. Montado pela última vez em 2018, em parceria com a Casa França-Brasil, o Centro Cultural Correios e o Centro Cultural Banco do Brasil, o festival, criado em 2016, contou com a participação de duzentos e vinte e oito artistas de diferentes estados e países, a exemplo da mexicana Abril Riveros e da japonesa Harumi Shimizu, que enviaram suas bandeiras. Nesta edição, parte das bandeiras das instalações anteriores será misturada a outras novas, de artistas que passam a integrar o grupo, criadas para a ocasião. Vale todo tipo de material, desde que resista à ação do tempo: madeira, acrílico, ferro, lona, plástico, palha e muita criatividade.

Agenda inclui show e performance

No dia da abertura das exposições, haverá apresentação da Oré Mi, uma performance- manifesto da Oficina Danças e Expressões, dirigida por Laís Salgueiro, às 17h30. Às 18h30, é a vez da banda Tecsônicos, que faz releituras de hits consagrados através da mistura de ritmos afro-brasileiros.

Paulo Verdinho

Após três anos, o produtor de artes visuais Paulo Branquinho volta à cena artística. Durante o período de reclusão forçada pela pandemia, passou a se dedicar, temporariamente, ao meio ambiente. Assumindo o personagem “Paulo Verdinho”, reflorestando sua propriedade em Minas Gerais.

Visitação exposição Elas: de 11 a 28 de julho.

Festival de Bandeiras: até o dia 28

Fotos de German Lorca

29/jun

A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, entre 08 de julho e 05, “Galeria São Luís – Geometria das Sombras”, primeira exposição de German Lorca (1922- 2021) em seu endereço de São Paulo. A mostra reúne 50 fotografias produzidas entre as décadas de 1940 e 2010 e se organiza em três núcleos: “Galeria São Luís”, que consiste em uma reedição da exposição do artista na Galeria São Luís, em 1966; “Icônicas”, que apresenta um conjunto de suas fotografias mais clássicas e “Série Geometria das Sombras”, composta por 24 imagens desenvolvidas por Lorca em 2014, já aos 92 anos, e exibidas integralmente pela primeira vez.

Um dos pioneiros da fotografia moderna no Brasil, German Lorca nasceu em São Paulo em 1922 e assim como outros filhos de imigrantes europeus que chegaram à capital paulista no início do século XX, cresceu no operário bairro do Brás. Ali pôde testemunhar, desde criança, a dinâmica da vida do bairro em meio a transformações que alteravam sucessivamente o ritmo e a paisagem urbana. Lorca forma-se como contador no Liceu Acadêmico de São Paulo em 1940 e tem o seu primeiro contato com a fotografia em 1945, registrando eventos familiares. Em 1948 ingressa no Foto Cine Clube Bandeirante, um clube de fotógrafos frequentado por entusiastas, amadores e profissionais, que acreditavam que a fotografia era uma forma de arte que podia revelar a estética oculta da modernidade cotidiana. Lorca pôde explorar, em uma troca constante com os outros integrantes, as especificidades da técnica fotográfica, entendendo os enquadramentos, jogos de luz e solarizações como recursos plásticos e discursivos.

Na década de 1960, German Lorca já havia participado de diversos salões de fotografia no Brasil, na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa, e em paralelo à sua produção artística, se estabelecia como um premiado fotógrafo de publicidade. Em 1966, ano em que transfere seu estúdio para um prédio maior e mais adequado à escala de suas produções comerciais, realiza a segunda exposição individual de sua carreira, na Galeria São Luís, em São Paulo. A Galeria São Luís, que abrigou exposições de importantes artistas brasileiros como Tomie Ohtake, Mira Schendel e Flávio de Carvalho, foi fundada em 1959 pelo empresário e colecionador Ernesto Wolf (1918-2003) e dirigida por Anna Maria Fiocca (1913-1994), antiga proprietária da Galeria Domus. Naquela ocasião, Lorca apresentou fotografias realizadas desde os anos 1950, em que registrava paisagens, retratos e cenas do cotidiano, explorando a geometrização de suas composições de maneira mais sutil. O fotógrafo também experimentava com cenas em movimento, ressaltando os aspectos plásticos da imagem desfocada, como em “Aeroporto 61″ (1961), exibida no ano anterior na VIII Bienal Internacional de São Paulo. A versão original do cartaz da mostra de 1966, reeditado a partir da intervenção de J. Henrique Lorca para a atual exposição na Galeria Marcelo Guarnieri em 2023, é de autoria do designer Alexandre Wollner.

Em outubro de 2014, durante um período em que precisou ficar recluso em sua residência por ordens médicas devido a problemas de saúde, German Lorca dedicou-se ao estudo das formas das sombras causadas pela luz do sol em interação com estruturas, ambientes e objetos que o rodeavam. Naquela ocasião, acompanhado de sua Leica M9 Digital, Lorca registrou as 24 imagens que formam o ensaio fotográfico que ele denominou de “Geometria das Sombras”, impresso em 2015 pelo processo giclée com pigmento Ultrachrome em papel de algodão Hahnemühle Photo Rag Baryta. Esta é a primeira vez que o ensaio, sua última produção em vida, é exibido integralmente.

Sua obra integra importantes coleções ao redor do mundo como Museu de Arte de São Paulo (MASP), Pinacoteca do Estado (São Paulo), Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), MoMA (New York), Cisneros Fontanals Art Foundation (Miami) e Itaú Cultural (São Paulo).

Paisagens de Facchinetti

26/jun

A Danielian Galeria apresenta a exposição “Facchinetti (1824-1900) – Paisagens (Ir) reais”, em celebração ao bicentenário de nascimento do grande pintor Nicolau Facchinetti. Conhecido por suas paisagens panorâmicas e detalhadas, serão exibidas aproximadamente 50 obras, reunidas pela curadora Denise Mattar, de coleções particulares e uma pública, pertencente ao acervo dos Museus Castro Maya/Ibram, que está sendo restaurada especialmente para a mostra.

As obras vêm de coleções privadas, como a de João Philippe de Orléans e Bragança, de São Paulo, e de Ronaldo Cezar Coelho e Luiz Carlos Ritter, do Rio de Janeiro. Os Museus Castro Maya/Ibram, que abrangem o Museu Chácara do Céu e Museu do Açude, no Rio de Janeiro, emprestarão especialmente para a exposição a icônica obra “Vista do Rio de Janeiro tomada de Santa Tereza” (1892), um dos maiores panoramas da cidade pintados por Facchinetti. Como parte do processo de empréstimo, a Danielian Galeria vai se encarregar do restauro da pintura, a ser feito pelo Ateliê Monica Dias, indicado pelos Museus Castro Maya.

O extremo detalhamento da pintura de Facchinetti, com a primorosa captação de detalhes botânicos, minuciosamente reproduzidos em pinceladas muito pequenas, é um dos fatores de encantamento de sua produção. Para que os visitantes possam observar esses detalhes, a Danielian Galeria irá oferecer aos visitantes pequenas lupas de bolso como brinde da exposição.

Correspondendo às primeiras tendências modernas na arte, Facchinetti pintava ao ar livre em busca de uma captação real tanto da paisagem como da luz e do momento do dia em que foram feitas, como fica expresso em diversas descritivas que o artista colocava minuciosamente no verso das obras, enfatizando quem havia feito a encomenda desta pintura.  O pintor primeiro estudava os locais, os horários e escolhia os seus pontos de observação, de onde fazia esboços.

Exemplos disso é o par de pinturas de 1872, pertencente à Coleção João Phillipe de Orléans e Bragança – “Baía do Rio de Janeiro tomada do Forte do Leme” e “Praia de Copacabana tomada do Forte do Leme” – onde é possível observar muito bem estas escolhas. Facchinetti deixou um importante legado histórico ao retratar as fazendas de café que ocupavam todo o Estado do Rio de Janeiro ao longo do século XIX, e também as localizadas em São Paulo e Minas.

Em especial duas obras da exposição ilustram bem estas questões: “Alto da Tijuca – Fazenda de M.U. Lemgruber” (1879) e “Vista da casa nº51 na Estrada Velha da Tijuca” (1885). Na metade do século XIX, o desmatamento no entorno do Rio de Janeiro provocou umas das maiores crises de abastecimento de água da cidade. Em resposta, D. Pedro II ordenou a desapropriação de terras e o reflorestamento de grande parte do que é hoje o Parque Nacional da Tijuca. Nessas duas pinturas de Facchinetti, é possível ver tanto as áreas ocupadas pelas plantações, como áreas da floresta nativa e de regiões já em processo de replantio. Levar ao público a reflexão sobre essas transformações é um dos objetivos da exposição.

Para que o público possa ver as transformações do Rio de Janeiro e sua paisagem, a expografia criada por Tania Sarquis, do Estúdio Sauá, irá apresentar imagens de época, de fotógrafos como Augusto Malta (1864-1957), além de fotografias atuais feitas por Jaime Acioli (1966) especialmente para a exposição. Ainda no intuito de levar conhecimento ao público sobre a produção deste importante artista, durante o período da exposição será lançado, pelas Danielian Edições, um livro contendo as imagens das obras expostas e textos de Denise Mattar, e dos pesquisadores Paulo Knauss e Rafael Peixoto. Nas paisagens de Facchinetti percebe-se a priorização em mostrar a natureza em detrimento de edificações ou situações urbanas. A natureza é sempre protagonista em sua obra.

Arte Naïf do Brasil

21/jun

A Galeria Jacques Ardies, Vila Mariana, São Paulo, SP,  abriu uma nova coletiva “Arte Naïf ou Arte Popular? Tanto faz, Arte do Brasil!”, com 32 pinturas assinadas por oito artistas que apresentam trabalhos que representam o Brasil isento de influências externas. A curadoria está a cargo de Jacques Ardies, ativo no segmento há mais de quatro décadas. Em cartaz até julho de 2023.

A seleção dos pintores – Isabel de Jesus, Francisco Severino, Fefe Talavera, Dalva Magalhães, Gilvan, Ivan Moraes, Antônio de Olinda, José de Freitas – possibilita duas ações simultâneas e superlativas: resgata alguns artistas cujos trabalhos devem voltar ao foco público pela excelência das técnicas envolvidas e coloca, lado a lado, obras recém finalizadas de criativos do mesmo padrão e que compõe a soma positiva característica das escolhas do curador.

A questão que intitula a exposição: Arte Naïf ou Arte Popular – pode provocar críticas, comentários, desavenças e concordâncias mas não interfere no propósito maior: diminuir a polêmica sobre a utilização do termo Naïf e mostrar a arte que é o mote principal. Naïf tornou-se um termo pejorativo que se denomina uma arte menor, não relevante, sendo que é um termo utilizado internacionalmente como referência de um estilo.

“Estou mostrando uma bela arte brasileira, que é o que importa. Arte a qual me dedico há anos e acho que existe muito ainda para mostrar!”.        

Jacques Ardies

Sobre os artistas

Isabel de Jesus, até onde se saiba, não é uma médium. No entanto, ao estar mais conectada com a terra e com as divindades, ou seja, com a essência mais profunda de nossa existência, ela descobre espontaneamente, sem ter aprendido nada, um passado fascinante do nosso planeta. De alguma forma, surgem dessas descobertas sereias – pássaros, assim como meandros e murmúrios da floresta equatorial. Não se trata apenas de uma decoração com manchas aleatórias de luz ou escuridão. Essas criações são animadas por uma poderosa e profunda inspiração, representando o único mistério e o único segredo de uma criação ingênua e verdadeiramente autêntica.

O mérito notável de Francisco Severino reside na maneira como lida com a cor verde, explorando suas variações com a consciência de que a pintura é muito mais do que um tema em si, mas uma forma de desenvolver um pensamento por meio de cores e formas. O que impressiona em suas imagens é a harmonia entre o domínio técnico e a sensação paradisíaca de que o tempo se deteve para que cada cena, predominantemente rural, pudesse ser retratada. Seu trabalho é caracterizado por uma abordagem meticulosa, onde os detalhes desempenham um papel fundamental, resultando em composições visualmente perfeitas.

Fernanda Talavera acumulou uma vasta experiência em exposições realizadas em museus e galerias de arte ao redor do mundo. Embora tenha sido inicialmente reconhecida como grafiteira, ela expandiu sua abordagem artística, explorando diferentes suportes para suas obras. Seu foco principal passou a ser a representação de animais imaginários provenientes de um universo subconsciente fantasmagórico que ela denomina “Bichos tipográficos aleatórios”. Com essa temática, Fernanda Talavera busca incorporar elementos da cultura urbana ao seu universo artístico, estabelecendo novas categorias conceituais.

Dalva de Magalhães, nascida em São Paulo e, há quase cinco décadas, se dedica à sua arte, sustentando-se por meio dela. Sua técnica envolve o uso de diferentes materiais, como acrílico, guache e óleo, aplicados sobre tela ou madeira. A arte regional e folclórica exerce uma forte influência sobre seu trabalho. Além disso, Dalva de Magalhães é uma maratonista dedicada, residindo na região montanhosa da serra da Bocaina, onde concentra sua preocupação na preservação da natureza e se engaja fervorosamente na luta pelos direitos dos povos indígenas. Sua pintura é caracterizada pela criatividade e atenção aos detalhes, retratando um mundo intimista que reflete seu ambiente ecológico.

Gilvan é Paulo Gilvan Duarte Bezerril, um autodidata em pintura e música, deu início à sua carreira artística em 1964. Sua abordagem única envolvia o uso de uma técnica por ele mesmo inventada, utilizando tinta automotiva e acrílica sobre chapa de eucatex ou, ocasionalmente, chapa de madeira. A arte de Paulo Gilvan Duarte Bezerril é caracteristicamente ingênua, transbordante de alegria, cores vibrantes e atmosferas tropicais. Ele evita fórmulas estereotipadas, retratando desde festas populares rurais até histórias em quadrinhos que narram a vida de Lampião e Maria Bonita.

Ivan Moraes capta com riqueza de detalhes as temáticas mais frequentes de sua obra, inspiradas pela representação dos cultos religiosos afro-brasileiros da Bahia, assim como pelas baianas vestidas com trajes brancos rendados. Sua pintura une a alegria das cores com o mistério da cenografia, onde os personagens são imersos no esplendor da natureza tropical, exibindo trajes festivos e expressões de felicidade. Em seu Dicionário de Pintores Brasileiros de 1997, Walmir Ayala descreveu essa fusão de elementos, destacando a forma como o artista retrata com precisão esses aspectos em sua obra.

Antônio de Olinda, é natural de Olinda, PE, cultivou seu amor pela arte desde a infância, sempre vivendo próximo ao mar na sua amada cidade natal. Sua jornada artística começou com o mamulengo, um popular teatro de bonecos regional. Em 1984, participou de sua primeira exposição coletiva, conquistando também uma premiação no “Salão dos Novos de Pernambuco” e o primeiro lugar no Projeto Lista Telefônica do Estado de Pernambuco, ambos no mesmo ano. Sua arte é marcada pelo uso de cores vibrantes, traços enérgicos e uma abordagem pouco convencional, que busca expressão e irreverência, sem se preocupar excessivamente com a perfeição estética. Essa autenticidade essencial permeia sua obra.

José de Freitas, nascido na década de 1930 – artista já falecido – em Vitória de Santo Antão, PE, posteriormente mudou-se para o Rio de Janeiro durante a década de 1950. Embora tenha dado seus primeiros passos como artista no teatro e na televisão, sua paixão pela pintura começou a se desenvolver paralelamente, ganhando maior atenção a partir de 1964. Desde o início, sua arte tem sido habitada por minúsculas figuras que preenchem toda a dimensão da tela. Seus temas variam desde ilustrações de peças teatrais até representações da Bíblia e do circo, sempre permeados de humor e sensibilidade.

Exposição de Mira Schendel

20/jun

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, apresentará a exposição “Mira Schendel:Toquinhos”, que será inaugurada no dia 28 de junho, às 18h. A mostra, em cartaz até 19 de agosto, conta com texto da curadora e crítica de arte Lisette Lagnado e reúne, pela primeira vez, um conjunto tão abrangente de obras – cerca de 60 – que compõem a série “Toquinhos”, produzida por Mira Schendel (1919-1988) principalmente entre 1972 e 1974. São trabalhos que se inscrevem no contexto das múltiplas experimentações com o papel de arroz japonês realizadas por Mira, após ter sido presentada pelo amigo Mario Schenberg, crítico de arte e importante físico brasileiro, com uma enorme quantidade desse material. A série “Monotipias”, produzida principalmente entre 1964 e 1967 e composta por cerca de dois mil desenhos, abre toda uma sequência de criações com o papel japonês que se desdobra, ainda, em trabalhos como as “Droguinhas” e os “Trenzinhos”, produzidos na segunda metade da década de 1960, e os “Objetos Gráficos”, realizados sobretudo entre 1967 e 1973.

Os “Toquinhos” aqui apresentados, vale ressaltar, diferem dos “Toquinhos” que consistem em pequenos retângulos de acrílico colados sobre placas transparentes também de acrílico, produzidos mais ou menos na mesma época (primeira metade da década de 1970). Entre as séries homônimas, os decalques de letraset são o elemento comum. A artista passa a utilizá-los sobretudo a partir da série “Objetos Gráficos”, cujas obras são compostas por folhas de papel de arroz repletas de rabiscos, traçados, rasuras, tipos datilografados e letraset inseridas entre duas placas de acrílico suspensas por fios de nylon e dispersas no espaço, longe das paredes, jogando com a luz, o dentro e o fora, a frente e o verso. Progressivamente, o desenho, a escrita cursiva e a rasura passam por um processo de síntese no trabalho de Mira, chegando ao que o ensaísta alemão Max Bense chama de “reduções gráficas”.

Nos “Toquinhos”, tais reduções são notáveis. A artista cria camadas colando sobre o papel japonês recortes geométricos (tingidos ou não) do mesmo papel, normalmente acompanhados de sinais de pontuação e letras. Ao ser questionada, em 1975, pela jornalista Norma Couri: “Por que letras?”, Mira responde: “São o pré-texto ou o pretexto do pós-texto”. Comentando tal diálogo, o teórico Geraldo Souza Dias afirma, em sua monografia sobre a artista intitulada “Mira Schendel: do espiritual à corporeidade” (2009): “A completa redução da forma a círculos e retas, desenvolvida nos tipos sem serifa da fonte Futura, a preferida da artista, permite considerar a relevância ótica das letras enquanto elementos de um conjunto. Nos trabalhos de Mira, o significado original dos sinais caligráficos – letras e números – transforma-se pela ação da letra autocolante, assumindo um caráter novo, puramente plástico.”

Experimentações de Andy Villela 

16/jun

A NONADA ZS, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre a individual “Nebulosa” de Andy Villela, sob curadoria de Clarissa Diniz, com 11 pinturas onde a artista registra seu método de pesquisa e construção de sua arte e de si mesma como um artífice da criatividade plástica. Até 05 de agosto.

Andy Villela, em seu próprio tempo, gera trabalhos como um procedimento investigativo. Mesmo em um processo não indolor a que se submete, sua verve artística consegue reinventar-se e apresentar resultados intensos, porém suavizados pela inserção das cores, que lhe são caras. Cada uma de suas obras recentes é um laboratório de estratégias metodologias, materiais, formais e semânticas que não se limitam apenas à produção de suas próprias obras de arte, mas, acima de tudo, à criação de uma poética que considera a própria criação como uma questão e uma matéria para exploração. “A profusão técnica de suas pinturas recentes – que combinam acrílica, stencil, bastão oleoso, spray e fogo, dentre outros materiais – é apenas uma das camadas dessa pesquisa que, no encalço dos processos de formação e transmutação das coisas e dos corpos, toma a química e o tempo como territórios de experimentação”, explica a curadora. Enquanto atravessa processos de hormonização e expressões performativas de gênero, Andy Villela direciona sua responsabilidade para a dimensão pública discursiva de sua obra, em vez de se concentrar exclusivamente na esfera privada e pessoal. Procura abordar socialmente o direito à constante recriação das formas, buscando ampliar os limites de suas predeterminações, além do período embrionário da vida, estendendo-o infinitamente.

Em cada pintura, a artista experimenta a morfogênese dos corpos em um espaço-tempo limitado. Ela reconhece que está realizando uma performance da própria expansão de seu próprio universo no plano pictórico. É a partir desse compromisso que evita, intencionalmente, “pintar imagens”. Suas pinturas não são concebidas como produtos de sua própria criação artística, mas, ao contrário, são capazes de continuamente formar e dar à luz sua própria autoria durante seu processo geracional de autocriação.

“Que abracemos a nebulosidade de nossas contínuas recriações é ao que nos convida a primeira exposição individual de Andy Villela na NONADA, cujas obras se formaram através de aventuras morfogênicas e, como tal, potencialmente nos mobilizarão percepções, reações, interpretações também instáveis, mutáveis e quiçá angustiantes”, afirma a curadora  Clarissa Diniz.

Sobre a artista e seu processo criativo

Andy Villela vive e trabalha no Rio de Janeiro e toma em primeira instância a pintura como pilar de sua produção. Influenciada pela abstração, ela se comunica por meio de símbolos inconscientes, dando espaço para uma estimulação onde diferentes cores, formas e caminhos dão sentido à sua produção através de seu processo de elaboração. Seu trabalho parte do contato com os materiais e como eles desenham uma linguagem investigativa atrelada à experimentação pictórica, nesse processo propondo questões sobre a racionalidade social e as regras técnicas da pintura. Um resgate emancipatório para a criação de uma linguagem própria, a artista conduz com atenção especial ao contato corporal com seu próprio mundo e ferramentas, especialmente a superfície, a tinta e o pincel. Sua pintura mistura o figurativo e o abstrato, afastando a possibilidade de uma interpretação literal, criando uma tensão entre a escala humana e outras espacialidades. Neste sentido, a artista dá protagonismo ao seu processo gestual, vai explorando os seus sentidos e as suas emoções que decorrem dos seus movimentos, e é nesta camada que revela a poesia da sua pintura, uma pintura liberta da dependência figurativa uma pintura de processos subjetivos desencadeados por múltiplas relações com a tela. Construindo assim, uma narrativa não linear que, no entanto, não se envolve em puro acaso, mas que ainda vai além da imposição de uma produção anestesiada.

Acervo Aberto

A trajetória de um ícone da arte urbana ao alcance das mãos. Ozeas Duarte (a.k.a. OZI) abre a ação/exposição Acervo Aberto, sob curadoria de Katia Lombardo, como parte do Projeto Desloca, no Studio Alê Jordão, Comendador Miguel Calfat, 213, Itaim Bibi, São Paulo, SP, apresentando – até 01 de julho – por volta de 150 obras entre pinturas, esculturas, ready made, serigrafias e matrizes originais de stencil.

O ser humano alcança momentos de ruptura, ou mudanças, em sua trajetória e essa ocasião, mais uma vez, apresentou-se para OZI. Seus 35 anos ininterruptos de ação tornam o momento autoexplicativo. O artista está em processo de mudança de ateliê e, como resultado de uma área menor, escolheu oferecer ao público a possibilidade de aquisição de obras de séries reconhecidas e conhecidas, bem como trabalhos pouco mostrados e, como destaque, as matrizes de stencil, por ele utilizadas.

A exposição, pensada em conjunto pelo artista e curadora exibe, em ordem cronológica, os inúmeros trabalhos e técnicas utilizados durante as décadas de criação e participação intensa no circuito de Arte Urbana. Artista inquieto e questionador, OZI está sempre à procura da “outra”, da “nova” técnica que pode aprimorar sua forma de registros. Mais ou menos cor; menos ou mais detalhes… tudo vai depender da forma que a vida estiver se apresentando naquele momento. OZI não é um criativo alienado ao presente. Ele expressa o hoje! Como prova dessa característica, o último módulo de OZI – Acervo Aberto é “Degustação” onde são exibidas novas pesquisas e obras inéditas. O viés cáustico e desafiador vem como bônus! O container “Proibidão”, com restrição etária por seu conteúdo, coloca a vista trabalhos polêmicos que já causaram embates com marcas mundiais, questionadas e provocadas pelo artista em algum momento de sua trajetória. Acervo Aberto possui obras criadas desde os anos de 1980 até os dias atuais. Muitos deles, além de participação em mostras emblemáticas de Arte Urbana, já foram exibidas internacionalmente em países como Argentina, Austrália, Estados Unidos, França, Suíça, além de cidades e capitais pelo Brasil.

A possibilidade de ter contato com as “mascaras matrizes de stencil” é única. “Essas “máscaras, matrizes” carregam a memória e a gestualidade das várias obras que são feitas a partir delas, trazendo uma sobreposição de tintas e cores que foram usadas nas pinturas”, explica a curadora.

“Com essa ação, abro a possibilidade das pessoas possuírem momentos de minha trajetória e fazer parte da minha história no circuito de arte urbana”.   OZI.

Ativações

OZI – Acervo Aberto possui uma agenda de ativações, para convidados, como parte do Projeto Desloca

Dia 17 de junho – sábado – das 11 às 18hs.

Visitas guiadas com OZI, Katia  Lombardo e a artista convidada Simone Siss durante o período.

Dia 18 de junho – domingo – das 12 às 14hs

Brunch com roda de conversa em que participam OZI, Katia Lombardo, os artistas Simone Siss e Alê Jordão e o galerista e curador Baixo Ribeiro

Fotografias de Mapplethorpe na Carpintaria

15/jun

A Fortes D’Aloia & Gabriel apresenta até o dia 22 de julho, “Robert Mapplethorpe: mais que um rosto”, exposição de Robert Mapplethorpe (1946-1989) na Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ.

Reunindo obras da segunda metade dos anos 1970 aos anos 1980, a mostra aproxima temas presentes nas fotografias de Mapplethorpe e no romance japonês Confissões de uma máscara (1949), de Yukio Mishima, em que um personagem semi-autobiográfico tenta compreender sua homossexualidade no Japão do pós- guerra. A “máscara” referida no título do livro é a persona pública, espécie de prótese social, com que o autor se apresenta à sociedade patriarcal em que cresceu.

As fotografias de Mapplethorpe, como o clássico de Mishima, recriam arquétipos, fetiches e personagens ligados ao desejo e as imbricações entre sexo, violência, masculinidade e submissão. O artista produz um contraste entre seus temas sadomasoquistas e eróticos e a apresentação impecável de sua obra, deixando o espectador numa posição ambígua entre fascínio e distanciamento. De forma análoga, o narrador do livro de Mishima mascarava a sua homossexualidade sob o disfarce exterior de um fisiculturista, apaziguando uma disparidade insolúvel entre o que o Japão da época considerava fraqueza, e a dureza que a mesma sociedade legitimava. Tanto a iconografia cristã quanto a cultura visual do BDSM homossexual têm seu funcionamento estruturado no fetiche, entrelaçando devoção, submissão e a adoção de posições arquetípicas num código complexo. Máscaras e espelhos aparecem recorrentemente nas fotografias de Mapplethorpe, entre músculos esculpidos, meias arrastão, facas e couro. Uma das passagens mais impactantes de Confissões de uma Máscara acontece quando o personagem principal, ainda muito jovem, se vê atraído por uma reprodução do São Sebastião martirizado. O rosto do santo parece suspenso em êxtase, num prazer indiferente à tormenta. Essa dimensão erótica das imagens devocionais aparece no retrato que Mapplethorpe faz de Peter Reed (1980), que remete à imagem do Cristo deposto. Como em Mishima, o poder sexual das formas visíveis é sempre espreitado pela figuração da morte. Em Cross (1984) e Leg (1983), tanto o crucifixo quanto a perna de meia arrastão são fotografadas com um contraste decidido entre sombra e luz, produzindo um drama entre ocultamento e revelação. O que Mapplethorpe faz da câmera como espécie de máscara, um anteparo em frente ao rosto, prolonga o seu olhar enquanto esconde a sua identidade.

Importantes nomes modernistas

14/jun

A Simões de Assis apresenta até 22 de julho, em sua sede de Curitiba, PR, a exposição “Encontro de Modernos”, que aprofunda novas leituras sobre o movimento da Arte Moderna no Brasil. A mostra propõe diálogos entre artistas de diferentes origens, gerações, formações e estilos, mostrando como é possível encontrar modernismo e modernidade em cada canto do país. Essa longa história moderna passa, infalivelmente, pelo estado do Paraná. A região abrigou importantes nomes que, embora menos conhecidos em escala nacional, foram fundamentais na expansão da agenda moderna pelo sul do Brasil. A mostra apresenta a formação desse cenário, além das conexões entre os expoentes do estado com modernistas de outras regiões do país, trazendo artistas como, Alberto da Veiga Guignard, Emiliano Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Cícero Dias, Alfredo Andersen, Guido Viaro, Theodor de Bona e Miguel Bakun.

Luiz Martins na Galeria BASE

“toda manifestação estética forma, de uma maneira ou outra, uma parte significativa da sensibilidade humana”  L.M.

A BASE, galeria de Daniel Maranhão, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura a exposição “Passos ao Passado”, do artista multimídia Luiz Martins, com texto crítico de Agnaldo Farias. A mostra é composta por 21 obras inéditas desenvolvidas nos últimos dez anos, em papel, tela e mármore, resultantes de sua pesquisa em sítios arqueológicos das regiões Nordeste, Centro Oeste e Sul do Brasil. A abertura é no dia 17 de junho – sábado – às 12hs. Em exibição até 05 de agosto.

Luiz Martins volta a investigar os vestígios gráficos dos povos indígenas como fonte iconográfica primordial para sua série Ingá, oferecendo uma leitura visual livre sem tentar interpretar suas significações. Nas pinturas, utiliza tinta acrílica em combinações de tons e cores clássicas como corpo principal, sobrepondo-se a massas aquareladas circulares. A dinâmica do grafismo está presente, mas não determinante, fazendo com que formas se apresentem durante a construção das cores estabelecida por uma tradição plástica, conforme explica o artista. Para ele, esse encontro é uma sucessão de desencontros na elaboração estética e formal de cada obra com liberdade de transformação.

O trabalho de Luiz Martins desafia o espectador com enigmas visuais e conceituais. Suas esculturas de discos de mármore claro e granito escuro, perfurados e sustentados por hastes circulares de madeira, despertam curiosidade. Esses discos não apenas ficam em pé, mas também sugerem a possibilidade de rolar sobre seu eixo, deixando sulcos em um chão macio. “Que escultura/engrenagem é essa, proposta pelo artista? Seria aparentada com uma mó, com o mostrador de um relógio?”, acrescenta Agnaldo Farias.

Para Daniel Maranhão, “o uso do mármore pelo artista é um desdobramento da imensa escultura executada em 2022, oportunidade na qual Luiz Martins instalou uma obra em uma praça pública, em Portugal (uma encomenda do Governo Português, para homenagear os 500 anos do Descobrimento do Brasil). Para tanto, Martins fez uso de um monobloco de mármore  com cerca de 4 toneladas. Na mostra a ser inaugurada, o mármore e granito voltam à sua pesquisa.”.

Além das esculturas circulares, a mostra exibe pinturas e colagens explorando formas irregulares, achatadas e fragmentadas, evocando objetos antigos como lemes de barcos, foices e enxadas. Algumas obras apresentam esses feitios isolados em grande escala, enquanto outras compõem uma coleção de formas, assemelhando-se a um catálogo de maravilhas inventadas. Destaca-se uma grande pintura azul, com um horizonte suspenso atravessado por retículas, totens e monolitos, provocando questionamentos sobre seu propósito e significado. A dualidade também está presente nas pinturas com círculos desenhados à mão, criando uma ilusão de geometria em estágio embrionário, desafiando a percepção e as noções de ordem e forma. A arte enigmática e intrigante de Luiz Martins convida a explorar os mistérios do desconhecido, refletindo sobre as complexidades da existência e da criação.

Segundo Daniel Maranhão, responsável pela expografia e curadoria das obras, “a mostra ocupa os dois pavimentos da BASE. Além da série “Ingá”, prevalecente na exposição, somam-se dois conjuntos inéditos da série “Carolina Maria de Jesus” que são trabalhos expansíveis que permitem diversas montagens e um grande políptico de 46 partes, da já consagrada série “Não está no Dicionário”.”

“As obras de Luiz Martins levam a pensar que o nascimento da linguagem implica no nascimento do mundo, tanto na representação das coisas existentes quanto na prefiguração das inexistentes, daquelas a serem inventadas ou aperfeiçoadas.”   Agnaldo Farias