A fronteira entre o pictórico e o escultórico

13/mar

Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no dia 15 de março, às 19h, a exposição “Tempo-Matéria”, com aproximadamente 14 novas pinturas, inéditas, do artista carioca Dudu Garcia. Os trabalhos são da série “RA 143″, de 2023, nome que faz referência ao endereço do ateliê do artista, na zona portuária do Rio de Janeiro.

Criadas em um processo de acumulação de vários materiais sobre a tela – como reboco, pedra, cal encontrados no próprio ateliê, um galpão -, e depois escavados pelo artista, essas pinturas inéditas discutem a relação entre tempo e matéria, em sua primeira exibição individual na Anita Schwartz cuja exposição vai ocupar todo o espaço térreo do prédio.

Em seu processo de criação, em que os diversos materiais são aplicados em camadas sucessivas, e depois escavados, como em um sítio arqueológico, há considerável esforço físico do artista, em um trabalho corporal intrínseco. As pinturas de Dudu Garcia situam-se na fronteira do ato escultórico. “Esses trabalhos sofrem muita ação minha na sua execução. Possuem fendas, fissuras, são peles castigadas. Diria que parte do processo é uma action painting, com muita entrega de corpo e alma, muitas decisões e renúncias”, comenta.

A matéria e a passagem do tempo são assuntos de interesse do artista desde que começou a participar do circuito de arte, no início dos anos 2000. Embora sempre tenha desenhado, e a pintura tenha permeado suas atividades profissionais, Dudu Garcia passou a se dedicar à arte depois de uma bem-sucedida trajetória profissional na indústria da moda e em sound design. Na ruptura com o universo já trilhado e o mergulho no desconhecido, ele foi o primeiro artista a ocupar a antiga Fábrica Bhering, em 2005, onde permaneceu até se transferir para o galpão na zona portuária, em 2019.

“Ao olharmos com mais atenção para a plasticidade de suas obras, percebemos que as pinturas de Dudu Garcia não representam fragmentos de paisagens urbanas, mas, se posicionam entre o campo do visível e do invisível, entre a experiência visual e sensorial da pintura”, escreveu Bianca Bernardo, gerente artística da Anita Schwartz, no texto que acompanha a exposição.

Intervenções de Lucia Koch

A Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura – a partir de 16 de março – sua temporada de 2023 com a exposição “Córte”, da celebrada artista Lucia Koch. Serão apresentadas obras inéditas da série “Fundos”, uma das mais emblemáticas de sua produção, em que fotografa interiores de embalagens vazias usadas para acondicionar os mais diversos produtos, e que, ao serem ampliadas para a escala humana, se transformam em espaços arquitetônicos que interagem com o percurso da exposição, criando para o público perspectivas surpreendentes. Reconhecida internacionalmente por seus trabalhos que alteram a percepção dos espaços que ocupa Lucia Koch intervém sobre a luz do lugar.

As obras de “Córte” foram criadas especialmente para o espaço da Nara Roesler Rio de Janeiro, e estarão também na exposição dois trabalhos ainda inéditos no Brasil, exibidos no Palais d’Iéna, em Paris, onde a artista fez a intervenção “Double Trouble”, em outubro de 2022.

Única série fotográfica de Lucia Koch, “Fundos”, iniciada em 2001, apresentou a artista ao público internacional, e desde então tem integrado exposições individuais e coletivas ao redor do mundo, como a 8ª Bienal de Istambul (2003); a 27ª Bienal de São Paulo (2006), a 11ª Bienal de Lyon (2011), e a 1a Bienal de Rabat (2019). Em 2022, na turnê “Portas”, de Marisa Monte, imagens como “Café Extra-Forte” e “Frutas” foram projetadas no palco do show, com direção artística de Batman Zavareze, fazendo com que a cantora e os músicos parecessem estar “dentro” da caixa-tela.

“Volumes pequenos proporcionam fotos de ambientes internos que aparentam ser amplos, solenes, belos. Como algo de valor assim insignificante permite tão admirável imagem?”, pergunta Francesco Perrotta-Bosch, arquiteto pela PUC-Rio, mestre e doutorando pela USP, no texto que acompanha a exposição. Da mesma forma, Dan Cameron (1956), respeitado curador norte-americano, que escreveu sobre ela no livro “Lucia Koch” (APC, 2016), comenta: “Na série “Fundos”, Lucia escolheu a fotografia como ponto de partida, usando o interior de caixas de papelão e de sacos de papel como “dublês” de espaços arquitetônicos reais, e fotografando-os de maneira a capturar as sutilezas da luz filtrada, como se fossem o interior de capelas ou de residências modernistas”.

 

Plano Real x Virtual

As caixas são fotografadas com luz natural, e suas aberturas pré-existentes sugerem inesperadas janelas para uma “vista” externa. Duas obras da exposição são autoportantes, apoiadas no chão e não na parede, com 2,40m de altura, interceptando assim o fluxo do espectador no percurso expositivo. Com a reforma ortográfica de 2009, caiu o acento circunflexo que diferenciava os significados de “corte” para tribunal, lugar do soberano, etc., do ato ou efeito de cortar. Para o título da exposição, a artista decidiu acrescentar um acento agudo na palavra, optando pela diferenciação. Os nomes das obras se referem ao conteúdo original da embalagem, como “Arroz Jasmin” (100 x 100cm), “Silver”, embalagem de transporte de correio (100 x 188 cm), “Kombucha” (150 x 112,5cm), e as autoportantes “Lasagna” (240 x 150cm), “SansGluten” (240 x 109cm) e “SpaghetIéna”(240 x 111cm). Ao se apropriar de um objeto banal, cotidiano, despido de sua função inicial de armazenamento, a artista conduz nosso olhar para os vazios deixados. Essas imagens também sugerem uma reflexão sobre o universo do consumo, a economia do descarte e o vazio. O nome da exposição faz referência a representações gráficas de projetos arquitetônicos, conhecidas como “cortes” transversais ou longitudinais, que complementam a informação dada pela planta baixa.

 

Escultora

Dan Cameron afirma que: “Lucia Koch é escultora, antes de mais nada, e por isso as obras que cria demandam um grau de materialidade física para poder existirem. Jogando com nossas expectativas de escala, Lucia também costumava imprimir as fotografias em dimensões muito ampliadas, para fazer com que a descoberta do objeto real fosse o mais desconcertante possível”.

 

 

Exposição de José Resende

A Galeria Marcelo Guarnieri, apresenta, entre 18 de março e 22 de abril, “Notas de Rodapé: Amilcar, Lygia e Weissmann”, primeira exposição individual de José Resende – nos Jardins – , o espaço da galeria em São Paulo. A mostra é formada por um conjunto de onze esculturas inéditas produzidas a partir de cortes e dobras em seis chapas de aço corten aproveitadas integralmente. Embora surjam de chapas idênticas e sofram cortes e dobras muitas vezes iguais, cada uma das onze esculturas pode ser percebida de maneira particular. José Resende propõe a ocupação total do espaço da galeria e assim, um contato mais próximo do espectador, que, ao transitar pelas esculturas, percebe mais facilmente que com apenas a rotação de algumas delas, surgem outras bem distintas. Com o título “Notas de Rodapé: Amilcar, Lygia e Weissmann”, José Resende explicita claramente as referências com as quais esse trabalho está relacionado, convocando, de maneira alusiva, os três artistas neoconcretos para tratar das questões de interesse que compartilham. A exposição conta com texto crítico do curador Diego Matos.

Um dos artistas mais importantes da escultura brasileira, José Resende (1945, São Paulo, Brasil) explora, desde a década de 1960, as potencialidades expressivas de materiais industriais tão diversos como aço, chumbo, cobre, parafina e as relações que estabelecem com o espaço através das dinâmicas de peso e contrapeso. Durante as décadas de 1960 e 1970, José Resende esteve à frente de projetos significativos para a história da arte brasileira que buscavam levantar questões ao redor do ensino de arte, da crítica e do mercado como a Rex Gallery and Sons, a Escola Brasil, a Revista Malasartes e o jornal A Parte do Fogo. A partir da década de 1990, desenvolve projetos de arte para espaços públicos, ampliando sua investigação sobre os efeitos da relação entre suas obras e a dinâmica do espaço urbano. Destacam-se, entre elas: O Passante (1996) no Largo da Carioca, Rio de Janeiro; a peça Sem título (1997) que integra o Jardim de Esculturas do Parque Ibirapuera e os três pares de vagões suspensos à margem da Radial Leste, no Grupo de Intervenção Urbana Arte/Cidade (São Paulo, 2002).

José Resende participou de diversas exposições nacionais e internacionais, entre elas a Bienal de Paris em 1980, a Bienal de Veneza em 1988, a 9ª Documenta de Kassel em 1992, a Bienal de Sidney em 1998 e de diversas edições da Bienal de São Paulo. Em 1984, recebeu a bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation e residiu em Nova Iorque durante um ano. Entre suas exposições recentes, destacam-se: “José Resende: Na membrana do mundo”, na Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, 2021); 33ª Bienal Internacional de São Paulo (2018) e “José Resende”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, 2015). Seu trabalho faz parte das coleções do MoMA – The Museum of Modern Art (Nova Iorque), MAM-SP – Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAC/USP e Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Centenário do artista

A Galeria Base, Jardim Paulista, São Paulo, SP, de Daniel Maranhão, abre sua agenda de 2023 – até 15 de abril – com a mostra “Chico da Silva: A Boca do Mundo”, em comemoração ao centenário do artista, com cerca de 20 pinturas a guache sobre papel, da década de 1960, período considerado como um dos mais representativos em sua trajetória.

Pássaros, dragões, peixes, criaturas nada passivas mas de colorido vibrante, com posturas proativas, são grande parte da criação espontânea do universo de Chico da Silva desde seus primeiros traços em tijolo ou carvão nas paredes das casas da Praia do Pirambu, Fortaleza, para onde a família se mudou quando o artista ainda era muito jovem.

Nas palavras do pesquisador Bitu Cassundé, que assina o texto crítico da exposição, “Chico constrói através da sua visualidade uma importante caligrafia que abarca uma natureza e uma animalidade fabular inserida numa cosmologia na qual a figura humana pouco aparece e seres de diferentes espécies, reais ou não, habitam um território de disputas e conflitos”.

O título da exposição – “Chico da Silva: A Boca do Mundo” – faz alusão às figuras pintadas pelo artista, geralmente com bocas abertas, em posição de ataque ou defesa. Ainda segundo Bitu Cassundé “As relações que se estabelecem indicam a defesa do território, as brigas pelo alimento, a proteção e o acolhimento das crias, assim como a boca que rege e orquestra diferentes coreografias e performatividades”.

A Galeria Base tem como um dos pilares de sua pesquisa, a (re)descoberta de importantes artistas que, por motivos diversos, caem no esquecimento. No sentir de Bitu Cassundé, “…a história da arte brasileira é constituída por inúmeras lacunas e invisibilidades que compõem violentas narrativas de apagamentos”, e “Chico é um bom exemplo”, explica Daniel Maranhão. A exposição “Chico da Silva – A Boca do mundo” ressalta a importância deste artista indígena, cujas obras das décadas de 1950 e 1960 percorreram o mundo, tendo como ápice sua participação na Bienal de Veneza (ITA), oportunidade na qual, foi criado um prêmio inédito, para condecorá-lo. Como consequência dessas ações, “…nota-se atualmente um forte movimento de reposicionamento da obra de Chico da Silva, não só no Brasil como no exterior”, diz Daniel Maranhão. No início deste ano, a Tate Gallery (Londres), adquiriu um painel do artista para seu acervo e, a Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), alinhada a esse movimento, exibe uma mostra individual do artista, onde a Galeria Base colabora com a cessão de obras. O momento de exibir “Chico da Silva: A Boca do Mundo” é mais que oportuno pois se trata de um “instigante conjunto que evidencia o signo da boca na obra de Chico da Silva; a boca como estratégia de sobrevivência e de vida” conclui Bitu Cassundé.

 

Sobre o artista

Chico da Silva (Francisco Domingos da Silva) – (Alto Tejo, AC, 1922/23 – Fortaleza, CE, 1985) – Pintor e desenhista. Inicia na pintura, em 1937, utilizando como suporte os muros caiados das casas de pescadores na antiga Praia Formosa (CE). No início da década de 1940, em Fortaleza, entra em contato com o franco-suíço Jean-Pierre Chabloz, que o introduz nas técnicas do guache e do óleo. Apoiado pelo mecenato de Chabloz, participa, em 1945, do I Salão de Abril (CE) e exposições na Galeria Pour l’Art (Lausanne, Suíça), 1950 e no Museu Etnográfico de Neuchâtel (Suíça), 1956. A arte de Chico da Silva foi destaque na prestigiosa revista francesa Cahiers d’Art, sob o título “Índio Brasileiro Reinventa a Pintura”. Na década de 1960, produz quarenta guaches para o acervo do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC). Chico da Silva consagrou-se como um dos maiores pintores primitivos brasileiros. Em 1966, conquista Menção Honrosa na XXXIII Bienal Internacional de Veneza (ITA). Chico da Silva está presente com dois guaches da década de 1960 na coleção do MAR, o Museu de Arte do Rio de Janeiro, por doação do Fundo Max Perlingeiro. Em 2014, essas obras foram apresentadas nas exposições “Encontro de Mundos” e “Pororoca, a Amazônica no MAR”.

“A minha pintura é a minha própria linguagem. Sobre o sentido da alegria que sinto, ela é grande e, sobre a beleza que vejo no matizado das cores, ela é rica. O que sai do meu coração é rico e bonito; eu é que sou feio e pobre.” Chico da Silva

 

Gerentes de novas ansiedades

A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar, entre 18 de março e 22 de abril, “Gerentes de novas ansiedades”, primeira exposição individual de RAU no mezanino de nosso espaço em São Paulo. A mostra, que marca a estreia do artista no circuito comercial, reúne cerca de dez pinturas em tela e vinte em papel produzidas durante os anos de 2021 e 2023. O artista nasceu em Ribeirão Preto em 1997 e em 2017 iniciou sua graduação em Arquitetura e Urbanismo. Em suas pinturas, incorpora aspectos da linguagem cinematográfica, e influenciado por diretores como Koji Wakamatsu, Hisayasu Satô e Takashi Ishii, explora enquadramentos cênicos e associações entre texto e imagem para representar situações de tensão e mistério.

“Gerentes de novas ansiedades”, título da mostra, faz referência ao conto “Night Picnic” da escritora Izumi Suzuki (1949-1986), ícone da contracultura e pioneira da ficção científica japonesa. “Night Picnic” é a história de um grupo, supostamente o último sobrevivente em um planeta pós-apocalíptico, que tenta performar a dinâmica de uma família humana a partir dos vestígios da cultura “terráquea”. Eles se inspiram em romances e anúncios populares, reencenando clichês de seriados de televisão. Em sua obra, RAU segue o tom da crítica à cultura de massa explorada por Izumi Suzuki na década de 1970 para situá-la no contexto dos dramas de homens e mulheres comuns, habitantes de qualquer grande cidade dos tempos de agora. Cenas intimistas de personagens frente ao espelho, fumando um cigarro enquanto pintam as unhas ou falando ao telefone dentro de um apartamento pequeno misturam-se a outras cenas onde parece haver algum conflito em ação, insinuado pela postura dos corpos, troca de olhares e figuras de poder tal como policiais e juízes. Uma atmosfera desencantada e cínica preenche as pinturas de RAU, que se assentam em tons pastéis e vez ou outra nos assustam com seus vermelhos.

Para compor suas cenas, RAU parte de sua enorme coleção de imagens e textos, stills de filmes e citações, elementos visuais e literários que lhe permitem sobrepor referências a um ritmo de prática pictórica que ele define como veloz. Suas ágeis pinceladas, mais preocupadas em definir os contrastes entre luzes e sombras, dão a dimensão de uma pintura que, por mais que seja figurativa, não pretende descrever a imagem em detalhes. Interessado em provocar leituras ambíguas de suas composições, RAU se utiliza do espaço do título da obra ou mesmo da tela para explorar o poder da palavra e causar algum ruído entre texto e imagem, incorporando, para isto, referências tão diversas como a literatura de Susan Sontag e frases de Twitter. A dissociação que busca RAU em sua pintura se manifesta também nas escolhas dos enquadramentos, deslocando com alguma frequência algum de seus personagens para fora de quadro, evidenciando assim o seu interesse por aquilo que não é imediatamente percebido e convidando o público a imaginar o que veio antes e o que pode vir depois daquele tempo em suspensão.

 

O Bastardo na Galatea

A Galatea tem o prazer de anunciar a representação do artista O Bastardo. O Bastardo (1997, Rio de Janeiro, Brasil) nasceu e cresceu em Mesquita, município da Baixada Fluminense, periferia do Rio de Janeiro. Atuando, inicialmente, com linguagens como o grafitti, o artista elabora um diálogo estreito entre questões autobiográficas e o pensamento pictórico, fruto de vivências familiares e passagens por escolas de arte, como a EAV – Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e a Beaux-Arts de Paris, na França. Hoje, O Bastardo vive e trabalha em São Paulo.

Os temas trazidos em suas obras abordam o cruzamento entre práticas cotidianas do empoderamento de pessoas negras e gestos de pertencimento a grupos sociais, como a religiosidade ou a descoloração do cabelo. Nos retratos, em séries como Pretos de griffe (2021-2023) e Só Lazer (2021-2023), consumo, lazer e autoestima são algumas das identificações exibidas por grupos que, a princípio, estão ausentes desse tipo de representação. Como aponta Lilia Schwarcz em comentário sobre O Bastardo, “Lazer e consumo configuram assuntos cada vez mais recorrentes em obras de artistas racializados, já que a história evidenciou os gestos de violência e sobrevivência como modo de inserção e denúncia às atrocidades perpetradas à maioria da população brasileira. O Bastardo faz de seu próprio nome, precedido por artigo definido, um vínculo de subversão de sua própria história, mantendo a palavra classificatória que, nas cenas das artes, passa a redirecionar o assunto e alertar para a prática de exotizar as margens.”

Em 2023, O Bastardo tornou-se membro da comissão curatorial da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Entre as suas principais exposições, estão a individual: O Bastardo: o retrato do Brasil é Preto, Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, 2023; e as coletivas: Brasil Futuro: as formas da democracia, Museu Nacional da República, Brasília, 2023; Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro, Instituto Inhotim, Brumadinho, Minas Gerais, 2022; Histórias Brasileiras, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, São Paulo, 2022; Brasil Coleção MAR + Enciclopédia Negra; Contramemoria, Theatro Municipal de São Paulo, São Paulo, 2022; Crônicas Cariocas, Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, 2021.

Suas obras fazem parte de coleções públicas nacionais e internacionais, tais como: Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; Xiao Museum of Contemporary Art, Rizhao, China.

 

Mostra no SESC Niterói

09/mar

Ativismo feminino é tema da exposição individual inédita – até 31 de maio – da artista visual, muralista e ilustradora Priscila Barbosa no Sesc Niterói, Rio de Janeiro, RJ. Retratos de mulheres mesclados a elementos vinculados aos afazeres domésticos com símbolos de insubordinação. Priscila Barbosa constrói a narrativa que compõe suas pinturas sobre tela, objetos pintados à mão e um mural de 15m² em “Ofensiva”, a partir do dia 18 de março. O intuito é provocar o espectador através da oposição: seus trabalhos refletem a pesquisa sobre a qual tem se debruçado nos últimos anos, acerca das fronteiras entre vida doméstica e pública, “dilema” que vem sendo incutido há séculos às mulheres.

“Criei imagens que à primeira vista sugerem a docilidade esperada do gênero feminino, reforçadas pelos tons rosados, uma característica da minha produção, mas que revelam atividades de insurgência e rebeldia. Pintar elementos da vida doméstica aliados a atividades revolucionárias sugere um diálogo entre a vida privada e a vida pública, uma forma de repensar os territórios que nos são oferecidos”, diz a artista. “A ideia é justamente burlar a separação entre o pessoal e o político, reafirmada pelo isolamento que sofremos quando relegadas à particularidade do interior de uma casa cuja manutenção nos drena há gerações”.

Pintar o doméstico, os utensílios de cozinha, a decoração artesanal em meio a afazeres que sugerem ações táticas revolucionárias e bélicas vislumbra um cenário em que a casa seja colocada como centro de atividade comunitária, de sociabilização e, principalmente, de coletivização do trabalho reprodutivo. Além dos trabalhos apresentados dentro da sala de exposições, será realizado um mural na parede externa, de maneira que a temática abordada rompa as fronteiras arquitetônicas e mantenha a discussão sobre o privado e o público. O muralismo é um dos pilares da carreira de Priscila Barbosa, que atua na arte urbana brasileira honrando as tradições do muralismo latino e levando discussões políticas para as ruas e espaços abertos.

 

Murais no “Le Colors Festival Paris” e “Les3Murs”

A iconografia da mulher revolucionária contemporânea com foco na América Latina é objeto de investigação da artista visual paulistana Priscila Barbosa há algum tempo. Em fevereiro, Priscila Barbosa, viu seu mural intitulado “Levante-se” repercutir no “Le Colors Festival Paris”, um dos maiores de arte urbana, que este ano ocupou 4.500m², reunindo cerca de 80 artistas do segmento. O trabalho permanece em exposição até dezembro de 2023 e propõe uma reflexão sobre a relação entre as mulheres do cotidiano na construção do feminismo e da postura revolucionária. Ela acaba de participar de outro grande projeto na França – o “Les3murs” -, que busca dar visibilidade a artistas latino americanos. Em “Latinas Fervilhando” a artista criou seu autorretrato em uma perspectiva de ataque, como se pudesse ser seguida pelos espectadores.

 

Sobre a artista

Priscila Barbosa é artista visual, muralista e ilustradora paulistana, graduada em Artes Visuais pela Belas Artes. Possui extensões em Masculinidades Contemporâneas, Feminismo Pós-colonial na América Latina e O Estado e o Corpo, todos pela PUC/SP. A artista é agenciada pela Aborda, a única plataforma brasileira de gestão de carreiras de artistas visuais no Brasil. Entre festivais que participou recentemente, vale destacar o Colors Festival (2023, Paris), Nalata Festival Internacional de Arte Urbana (2020, São Paulo), Jaguar Parade (2022, Nova Iorque) e Artecore – MAM (2018, Rio de Janeiro).

 

Artista egípcio na Bahia

08/mar

 

O egípcio de origem judaica Leo Laniado migrou com a família do Cairo para o Brasil em 1953, aos oito anos. Parte desse contato com o país, principalmente com a Bahia, resultou em uma história de 50 anos muito bem vividos, que virou a exposição “BAHIA… MINHA”, com estreia marcada para 14 de março, na Galeria Hugo França, dentro da programação em torno do Festival de Música de Trancoso.

A mostra – até 29 de abril – reúne mais de 40 obras, selecionadas dos seus últimos sete anos intensos de produção, impressas com alta tecnologia em papel de algodão. Nas produções, o artista, que chama a Bahia de “a casa fora da casa”, o artista questiona as semânticas da cor em desenhos em tons ocres, carregados de história e permeados por “coisas que estavam lá atrás e estão ressurgindo”, como explica.

Segundo o artista, as obras foram, instintivamente, trazendo elementos do cotidiano baiano, como o mar, côco e velas, não com o objetivo pré-definido de fazerem parte de uma exposição, mas porque são memórias saudosas e genuínas. “Maré Alta”, “Luz ao Entardecer”, “Pescadores”, “Namorados”, “Mesa Posta”, “Sábado”, “Contemplação” e “Praia do Itaipe” são algumas das obras com nomes autoexplicativos.

 

Na Casa de Cultura Laura Alvim

07/mar

 

Exposição de Nelly Gutmacher – de 15 de março a 07 de maio – reúne séries produzidas desde a década de 1970, destacando o questionamento de gênero. Deusas gregas emergem andróginas das profundezas do oceano. Vênus dotadas de falos revelam-se hermafroditas. Fragmentos moldados no corpo dão origem a esculturas em cerâmica, metal e pó de pedra. Vulvas em diferentes formatos e cores fazem alusão à História da Arte e ao ícone pop Madonna. Colagens e fotomontagens ecoam influências do cenário social em que foram criadas, da década de 1970 aos dias atuais.

Este recorte da carreira de Nelly Gutmacher, 81 anos, foi reunido em “Absoluto Falho”, revelando toda a inquietude fértil que permeia a carreira da artista. Sua individual, sob curadoria de Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto, inaugura no dia 14 de março, segmentada entre quatro séries que ocupam o segundo andar da Casa de Cultura Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, tendo como cerne principal o questionamento de gênero, abalizando diferentes momentos históricos desta trajetória, iniciada na década de 1960.

“Absoluto Falho” aborda as questões de corpos e gêneros, apontando uma provocação poética no surgimento de novas identificações e de um futuro mais plural. Reunindo obras de diversos períodos da produção da artista, a mostra parte de inspirações em formas elementares e narrativas mitológicas para repensar as estruturas binárias que ainda fundamentam as nossas sociedades”, avalia Marcus Lontra.

Abrindo a exposição e resgatando imagens e formas que habitam o inconsciente coletivo, os curadores apresentam uma série de colagens analógicas já ambientalizando o espectador num espaço de referências estéticas, históricas e poéticas onde toda a criação artística de Nelly Gutmacher acontece. “Nas salas ocupadas pela mostra, monta-se uma narrativa não-linear onde a artista constata a obsolescência das definições entre homem e mulher e provoca sobre o aparecimento de novas formas de vida híbridas, nascidas da lama profunda do oceano”, diz Rafael Fortes Peixoto.

 

Espaço expositivo

A proposta de Nelly Gutmacher é a de provocar novos e múltiplos olhares, investigando (e instigando) questões relativas aos gêneros, aos corpos e à sexualidade. Na sala de entrada, apresenta colagens e fotomontagens que produziu desde a década de 1970, em plena Ditadura Militar, até 2021, através de uma perspectiva onírica e intimista; no salão central, estão expostas séries que se relacionam com uma espécie de arqueologia criada pela artista, como as “Hermafroditas” dos anos 1980, pequenas esculturas em porcelana, bronze e metal que seriam facilmente confundidas com as Vênus do período Neolítico, não fosse por um detalhe: todas são dotadas de falos. A sala lateral, separada por uma cortina do resto da exposição, divide-se em duas séries distintas, de diferentes épocas, em que Nelly Gutmacher parte de seu próprio corpo para a criação do corpo artístico externo e simbólico. Na primeira série, “Fragmentos”, realizada aos longo dos anos 1970/80, a artista moldava seu próprio corpo, propondo intervenções materiais. Já na série “Like a Virgin”, criada aos 80 anos, mostra vaginas em diferentes formatos e cores, com citações tanto à História da Arte, com Courbet e Man Ray, como ao ícone do pop e do “Pussy Power”, Madonna. Na sala frontal, que conta com um grande vidro e com a vista da praia de Ipanema, Nelly Gutmacher apresenta as obras da série “Tálassa”, a mais recente (2022 e 2023), propondo o surgimento de seres andróginos e multigêneros que surgem da lama do fundo do oceano, em uma montagem que mistura instalação e esculturas criadas em cerâmica e resina.

 

Saiba mais sobre Nelly Gutmacher

Filha de imigrantes judeus, Nelly Gutmacher possui formação junguiana e interesses como mitologia e arquétipos. Natural do Rio de Janeiro (1941), começou sua trajetória na década de 1960, com Ivan Serpa, no MAM-RJ. Nos anos 1970, frequentou diversos ateliês experimentando técnicas e materiais. Nessas vivências teve contato com Celeida Tostes, com quem dividiu ateliê e estabeleceu uma relação de cumplicidade poética, introduzindo na cerâmica a temática feminina no Brasil, ao longo de 1970, tendo atuado em vários suportes com diferentes técnicas, sempre de forma pulsante e conduzindo o público por questões que transcendem o mero simbolismo. Na década de 1980, passou a dar aulas no Parque Lage e, no mesmo período, investigou a experimentação artística como processo terapêutico, aprofundando-se nas questões psicanalíticas que passam a influenciar sua produção. Em paralelo à prática artística, atuou também como terapeuta, numa trajetória semelhante à de Lygia Clark. Nas décadas seguintes, como elaboração conceitual, o corpo e as formas orgânicas estruturam suas obras e articulam-se sobre os conceitos de gênero, sexualidade e erotismo através de referenciais arquetípicos e ancestrais, sendo pioneira no Brasil na abordagem desses temas e aproximando-se de importantes nomes da escultura como Louise Bourgeois e Maria Martins.

Apoio cultural: Danielian Galeria

 

 

Nova artista no elenco da Galatea

06/mar

 

A Galatea tem o prazer de anunciar a representação da artista Carolina Cordeiro, nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1983. Formou-se em Desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, em 2008. Concluiu, em 2014, o mestrado em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, e, em 2021, seu doutorado no departamento de Artes da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – USP, com período sanduíche no Chelsea College of Art and Design, em Londres. Atualmente, vive e trabalha em São Paulo.

A sua relação com o fazer artístico partiu do desenho, técnica que explorou desde cedo e estudou formalmente. Hoje, em seu processo criativo, ele opera a passagem de um projeto do papel ao mundo e às diferentes linguagens experimentadas pela artista. Já em sua primeira individual, Quase é um lugar que existe (2006), Carolina Cordeiro reúne desenho, fotografia e objeto em um diálogo amarrado e em uma relação de complementaridade. De lá para cá, a sua produção mostrou-se cada vez mais plural em termos de suporte e cada vez mais interessada em se desenvolver a partir da influência e dos recursos que o ambiente onde se dá pode oferecer.

Sendo a sua pesquisa baseada em processos imersivos, Cordeiro defende uma relação de contaminação com a paisagem. O seu trabalho não apresenta, portanto, simples intervenções no espaço, mas também o quanto o espaço e os elementos que o compõem atuam sobre a artista e se desdobram em sua obra. Uma noite a 550km daqui (2010-2017), instalação com feltro e carrapicho, demonstra bem esse princípio. Seu título se refere à distância entre o Ateliê Fidalga, um dos lugares onde a obra foi exposta, e um município de Minas Gerais, no Brasil, onde a artista recolheu as sementes de Xanthium cavanillesii, popularmente conhecidas como carrapichos. Com essas sementes, que têm o poder de se dispersar por se agarrarem nos pelos dos animais, criou um céu estrelado fixando-as em feltro azul escuro. O título do trabalho marca, ao mesmo tempo, a distância e a conexão que ele opera entre dois espaços, podendo variar de acordo com o local em que é montado, sempre tendo como referência a sua origem – uma cidade em Minas Gerais.

Os títulos, a propósito, são de grande importância na obra de Carolina Cordeiro. O seu interesse pela poesia e pela música popular brasileira seriam responsáveis por isso. América do Sal (2021) e As impurezas do branco (2019), por exemplo, fazem referência a dois poetas brasileiros consagrados, respectivamente, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. A relação com o cancioneiro popular influencia até mesmo a escolha de materiais, como ocorre com o zinco nos trabalhos Sem título (2019), que consiste em placas de zinco cortadas como cartas de baralho com as quais se fazem castelos, e Dizem que há um silêncio todo negro (2019), instalação feita com uma placa de zinco perfurada que joga tanto com a passagem da luz quanto com o imaginário da violência.

O aspecto coeso da pesquisa de Carolina Cordeiro se mostra na interpenetração dos temas e materiais e em como um projeto não implica no abandono do outro, mas se estende no outro. Entre o trabalho das assadeiras (Sem título), de 2009, que segue sendo montado, e Paisagem, de 2019, pode-se estabelecer diversas conexões, como a economia de linguagem, o interesse geométrico e um grande fundo simbólico – como a vida doméstica ou a terra vermelha da cidade da natal.

Em 2021, Carolina Cordeiro fundou, junto com os artistas Bruno Baptistelli, Frederico Filippi e Maíra Dietrich, a Galeria de Artistas, projeto criado por e para artistas como meio de experimentar novas forma de inserção no mercado. Em 2020, foi indicada ao prêmio PIPA. A artista participou de diversas residências artísticas nacionais e internacionais, entre elas: CASCO: Programa de integração arte e comunidade, Rio Grande do Sul, Brasil, 2020; Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, Brasil, 2019; Red Bull Station, São Paulo, Brasil, 2016; Homesession, Barcelona, Espanha, 2011; GlogauAIR Art Residency Berlin, Berlim, Alemanha, 2009.

Entre suas exposições, destacam-se as individuais: América do Sal, Galeria de Artistas – GDA, São Paulo, 2021; Dizem que há um silêncio todo negro, Auroras, São Paulo, 2019; Una nit a 8360 km d’aquí, Àngels Barcelona, Espanha, 2018; Carolina Cordeiro, Ciclón, Santiago de Compostela, Espanha, 2018; Entre, Memorial Minas Gerais Vale, Belo Horizonte, 2013; Carolina Cordeiro, Homesession, Barcelona, Espanha, 2011. E as coletivas: Semana sim, semana não, Casa Zalszupin, São Paulo, 2022; Lenta explosión de una semilla, OTR. Espacio de arte, Madri, Espanha, 2020; I remember earth, Le Magasin des horizons, Grenoble, França, 2019; Estratégias do Feminino, Farol Santander, Porto Alegre, 2019; Agora somos mais de mil, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2016; Blind Field, Krannert Art Museum, Champaign, Illinois, EUA, 2013.

Em agosto de 2023, a artista abrirá a sua exposição individual na Galatea. Em breve, mais detalhes serão compartilhados.