Mostra a dois na Carpintaria

02/set

 

 

A exposição “FALA COISA” na Carpintaria, Rio de Janeiro, RJ, a partir do dia 03 de setembro, é um diálogo entre trabalhos inéditos de Barrão, representado pela Fortes D’Aloia & Gabriel e Josh Callaghan, representado pela Night Gallery, de Los Angeles.

 

Com curadoria de Raul Mourão, a mostra suscita pontos de contato entre cada um dos artistas, cujas assemblages têm em comum um modo de crescimento vegetal, como se objetos banais ou de uso industrial pudessem brotar e crescer a partir da aglutinação de fragmentos heterogêneos. O título da exposição, “FALA COISA”, sugere um passo além da fisicalidade muda do objeto de arte e situa as obras no plano de uma cena dialógica envolvendo o espectador, o artista e os objetos eles próprios. Nessa interação, as identidades ou usos pré-atribuídos de cada coisa dão lugar a um regime relacional de comunicação semelhante a uma dramaturgia objetual, ressaltando os componentes teatrais e cenográficos da obra dos dois artistas.

 

 

Galeria Evandro Carneiro apresenta Botânicas

 

 

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 10 de setembro a 07 de outubro a “Exposição Botânicas”, que reúne obras em aço de Marcos Scorzelli. Depois do sucesso de público levando 30 mil visitantes na Ópera de Arame, em Curitiba, em maio deste ano, a mostra exibirá pela primeira vez no Rio de Janeiro sua coletânea composta por cerca de 30 esculturas em aço que remetem à flora brasileira. Nela estão representados elementos como o Cacto, a  Bracatinga, o Dente-de-leão, pólens, borboletas, sementes aladas e flores diversas.

 

Além da mostra “Botânicas” a galeria exibirá, também, a “Exposição Roberto Scorzelli, obras em Pochoir”, com trabalhos em estêncil do artista Roberto Scorzelli (1938-2012), pai de Marcos. A “Exposição Botânicas”, de Marcos Scorzelli, evidencia o rigor geométrico e a expansão da natureza inspirando-se em órbitas, círculos sobrepostos e galáxias também presentes na arte de seu pai, Roberto Scorzelli.

 

A partir da inspiração do movimento constante das sementes aladas,  que possuem uma anatomia aerodinâmica que permite que elas voem, caiam ou planem e se afastem mais da planta mãe pelo vento, foi criada a “Exposição Botânicas”, composta por esculturas geométricas minimalistas com cores saturadas. O artista utiliza chapas de aço e com alguns cortes, dobras e vincos – sem solda ou perda de material –  recria a natureza por meio de círculos, triângulos e retângulos, respeitando a proporção áurea.  Suas propostas buscam refletir sobre o ciclo perfeito da natureza, o vento, os pássaros, as borboletas que levam o pólen e as sementes para novos jardins e tudo recomeça, como se toda a natureza fosse matemática, cíclica e infinita. Assim como o universo que se expande, as sementes também repetem a dinâmica permitindo que, a partir dela, sejam originadas novas formas de criação, compondo, então, a flora brasileira.

 

“A simetria das formas das esculturas em movimento e o vento fizeram parte de todo o meu processo de criação, onde pude sentir o poder do vento na natureza. Queria fazer o aço ficar leve, e ao pensar no dente de leão, pensei no vento e no movimento das sementes aladas. A semente é o começo do ciclo e elas foram se movimentando com o vento. Na minha cabeça ventava muito; eu me lembrei das sementes que rolam com os ventos, como nos filmes de faroeste através da tumbleweed e nos desenhos infantis. Na verdade, é um pedaço inteiro de uma planta do gênero Kali (família das Amaranthaceae) que se desprende da raiz para dispersar suas sementes! O amaranto-do-deserto (Salsola kali) é famoso nos filmes ocidentais.”

 

Marcos Scorzelli.

 

Botânicas

 

“Marcos Scorzelli é designer, filho de Rosa e Roberto, pais amorosos e talentosos; ela física e ele artista plástico. Marcos desenvolveu, em 2018, a Coleção Bichos, lançada em janeiro de 2019 na Galeria Evandro Carneiro Arte. Eram esculturas em chapas de aço, coloridas e em uma geometria de inspiração zoológica: leões, pássaros, girafas, polvos e vários outros animais dobrados com vincos precisos, sem recortes ou soldas. Verdadeiros origamis de criatividade e afeto, a partir de alguns desenhos originais do pai, falecido em 2012. Foi um sucesso de mídia, público e vendas e o designer se tornou conhecido no mercado das artes.

 

Seguiu criando novas peças e expondo seu trabalho até que a pandemia do Coronavírus nos submeteu a todos ao trancafiamento doméstico. Foram meses de reclusão e meditação coletivas, e, felizmente, o espaço de Marcos possui uma geografia privilegiada. A casa do Joá, residência e ateliê da família, é cravada na Mata Atlântica e ele começou a pensar artisticamente a botânica presente naquela natureza e a experimentar novas formas de trabalhar. Paralelamente, a observação constante e meditativa em torno da herança paterna, que transborda naquele lugar de memórias, afetos e beleza.

 

Ao melhorar o cenário pandêmico, um desafio se impôs cheio de graça ao artista: ele foi convidado a participar da exposição Jardim Sensorial, na Ópera de Arame de Curitiba, PR e o tema era justamente a flora local. Somando o útil ao agradável, Marcos desenvolveu as primeiras peças da Coleção Botânicas, que ora apresentamos.

 

Sempre com suas geométricas e coloridas chapas de aço, apenas com cortes, dobras e vincos, sem perda de material, solda e nem inclusão de nada além das chapas e de cores saturadas e complementares, Marcos Scorzelli recriou a natureza por meio de círculos, quadrados, triângulos e retângulos áureos. Cactos, Bracatingas, Dentes de leão e Mandacarus nasceram assim, em “sequências de Fibonacci”, me revelou o artista. O vento, os pássaros e as borboletas levam o pólen das flores para sempre novos jardins e tudo recomeça, num movimento preciso, como se toda a natureza fosse matemática e vice-versa. Na coleção, nomes como Esporos, Florboleta, Flor de Vento, Jardim de Girafas e Revoada de Borboletas denotam não somente a criatividade de Marcos, mas também uma inspiração: o movimento giratório do universo, captado pela lente artística em cores fortes e vibrantes.

 

Nessa geometria da natureza, conformada em chapas coloridas de aço, percebemos a influência de alguns artistas concretos e neoconcretos como Amílcar de Castro, Lygia Pape e Amélia Toledo. Sem dúvida! Mas, sobretudo, observamos a evidente inspiração da fusão da física com a estética, em elementares, órbitas e galáxias presentes na natureza da arte de Roberto Scorzelli, cujo trabalho em Pochoir expomos conjuntamente com as esculturas Botânicas aqui na galeria, durante os meses de setembro/outubro de 2022.”

 

Laura Olivieri Carneiro.

 

Pochoir

 

“Noturno” é o título da obra que Roberto (Scorzelli) apresentou, em 2007, quando, no lugar de diretora dos Museus Castro Maya, convidei-o a participar do projeto Os Amigos da Gravura. A concepção da gravura a ser criada para aquele projeto ensejou a produção da série de pochoirs * aqui exposta, cuja abstração e pluralidade de cores evocam, além do anoitecer, a amplidão celeste e os movimentos do voo dos pássaros e bandeirinhas.

 

A sensibilidade e a delicadeza com que se expressava em seu trabalho, também era sua característica humana. Assim, só me resta agradecer o privilégio de ter convivido com este amigo, abençoado pelo dom da gentileza e da beleza, lamentando apenas ter sido por um tempo muito menor do que eu gostaria.”

 

Vera de Alencar.

 

“A geometria é a grande regente da arte de Roberto Scorzelli em todas as suas vertentes, seja a arquitetura, a pintura, o desenho ou a gravura. O rigor geométrico e abstrato dominou sua obra a partir da década de 1970 e permanece como um legado do construtivismo ainda a ser apreciado no século XXI.

 

No entanto, a dualidade é outra das marcas que se revelam no trabalho do artista. Se por vezes encontramos o humor como contraponto aos exercícios geometrizantes da circunferência atravessada pela linha – como no caso de suas célebres séries do Bestiário e das Walkyrias -, aqui pressupõe-se uma certa dualidade da própria geometria. Há, portanto, a geometria sonhadora dos círculos com os astros, suas órbitas, seus eixos de rotação e eclipses, mas também a geometria mais austera dos polígonos. Em ambas se encontra a volúpia do movimento em noites pontuadas pela iluminação dos dourados.

 

Também a técnica funciona para criar uma dualidade extra: as cores não são francas; os tons definitivos derivam da sobreposição de colorações e este processo acaba por criar texturas que imprimem maciez aos fundos, em contraste com a solidez das figuras traçadas.

 

Os exercícios em pochoir de Roberto Scorzelli, realizados entre 2007-2009, representam uma das facetas do artista em que ele nos oferece como temática distinta o universo galáctico, ao mesmo tempo em que nela imprime as marcas recorrentes de sua poética criativa. Estas obras estavam justamente a merecer esta exposição!”

 

Anna Paola Baptista.

 

Animália 22

 

 

Vale lembrar que a exposição “Animália 22” na São Paulo Flutuante, Barra Funda, São Paulo, SP, continua aberta. “Segue texto profundo, escrito pelo artista e curador da mostra Manu Maltez, sobre a presença dos animais no imaginário artístico”, o recado é da marchand Regina Boni, diretora e fundadora da galeria.

 

Pela beleza do pavão/

da cascavél imperial/da labareda do dragão

/saúdo o reino animal

Trecho de “Forró de Dona Zefa” – Dominguinhos

 

Reunir em um mesmo galpão animais de vinte e dois artistas é uma missão de risco e deleite. É preciso lidar antes de tudo com um bicho diferente. Mais perigoso do que garras, espinhos, ferrões e presas, é o desejo dessa gente. Fabulistas, irônicos, míticos, dramáticos, lúdicos, expressionistas, políticos, naturalistas, hiper realistas, fantásticos, cubistas, abstratos, convergentes, paralelos, opostos, contraditórios. São rastros para todos os lados.

 

Quando enfim juntamos as diferentes partes no todo desta mostra, fica a impressão de que pariu-se pitoresco dragão. Em outros momentos, diante da fauna reunida, nos lembramos de Noé, como não? ainda mais agora, quando se anuncia a sexta, senão última extinção. Por fim, nosso passeio nos leva ao imponderável: tropeçamos no abismo de nossa memória atávica, resgatamos o pra sempre perdido. As paredes das cavernas são iluminadoras: Os bichos foram o assunto primordial da arte. Se criamos a arte pra nos diferenciar da animália, eles eram o tema predileto. Mesmo os primeiros registros de representações humanas nas pinturas são de figuras híbridas. Uma Vênus com chifres e focinho de bisão. Um homem com cabeça de ave. Éramos minoria, longe do topo da cadeia alimentar, os víamos como iguais, quiçá superiores e só Deus sabe nos detalhes como isso foi terrível e belo. A humanidade depois seguiu seu curso, progredindo rumo ao topo(e à solidão da espécie), inventou o espelho, a perspectiva, a luz elétrica, o avião, os vibradores, a bomba atômica, a kitnet, a arte conceitual, as redes sociais; mas não se pode dizer que em termos de desenho tenha superado os artistas paleolíticos, mestres pintores da bicharada.

 

Depois de séculos enfadonhos de um antropocentrismo sem-vergonha, aos poucos, o coro dos descontentes com o rame-rame monotemático vai engrossando, ouvem- se novas vozes anunciando a aurora. Sabiás cantam não só para se comunicar, mas também por satisfação pessoal, para encobrir a dor. Seu canto, quanto mais bem cantado, gera dopamina. Polvos, até ontem tidos como criaturas rudimentares, estrelam em documentários, exibindo uma inteligência desconcertante. Cientistas propõem que nossa fala é “um tipo de soma de componentes melódicos dos pássaros com os tipos de comunicação mais utilitários e ricos em conteúdo usado por outros primatas”: em um dado e misterioso momento da evolução, nossa espécie fundiu os dois universos. Um sem-número de ensaios, teses, filmes; científicos, literários, filosóficos sobre os animais, insinua. Algo parece estar em transformação.

 

Voltemos à exposição: O bicho aqui não é só por fora: infinitude de corpos, olhos, pintas, manchas, cores, pêlos, escamas, carapaças, cascos, texturas: (matéria prima interessantíssima para  as artes plásticas). Afora o estético, o alegórico, o simbólico, há também o bicho por dentro. É algo mais, que o artista, com suas antenas, capta. O artista olha o bicho sabendo que o bicho o olha de volta. E comunica aos outros de sua espécie a substância misteriosa dessa troca diversa, sem verbo. É o bicho-monolito. A esfinge. Diferentes lendas de povos antigos trazem narrativas de que no início, os homens sabiam falar a língua dos animais. Talvez a sociedade moderna esteja tentando reatar com eles não só por uma questão ecológica, urgente. Como tratamos de higienizar a morte, de negá-la, reiteradamente, precisamos mais que nunca desse outro tipo de vivente ao nosso lado, como contrapeso à nossa crescente  superficialidade, nossa anemia subjetiva. Em oposição à fragmentação, disrupção e desnorteio do homo sapiens imerso na existência urbana, materialista; do nosso cada um no seu quadrado, ou ainda, em sua própria  bolha-virtual, o animal permanece íntegro, com todos os seus sentidos aguçados, enraizados no cosmos.

 

Como já apontavam os artistas paleolíticos, e aponta o que resiste da arte indígena, aborígine, tribal, não ocidental, os animais são mensageiros; são uma ponte entre o mundo dos vivos e o mundo dos espíritos. Semi-deuses. Têm um pé ali, no além. Olharmos o mundo e a nós mesmos com olhos de bicho. Eis aqui o desafio, o delírio, o barato.

 

Alguns anos atrás, em certo tsunami na Indonésia,  toda a animália correu pras montanhas antes mesmo que os sismógrafos registrassem qualquer alteração no fundo do mar. Em Macunaíma, de Mário de Andrade, ao final da fatídica epopéia de nosso herói da raça sem nenhum caráter, a última criatura restante para passar adiante a história é um papagaio. São pequenas fábulas contemporâneas. E a constatação de que tudo o que eles, bichos, tocam diante de nossos olhos, vira fábula, mito, lenda, conto da Carochinha. De que nós sem eles, não somos gente no sentido mais reluzente da palavra.

 

Artistas são artistas porque deixaram a intuição se desenvolver como um membro. Como asas, um focinho, um rabo, um chifre. A procissão de bichos na arte através dos tempos e sua persistência na atualidade é um sinal de que a intuição, por hora, sobrevive.

 

Manu Maltez

 

Harmonia nas obras de Patricio Farías

31/ago

 

 

A exposião “Reticulados & Mitológicos” abrange duas vertentes da produção recente do artista Patricio Farías envolve gravuras digitais, desenhos e esculturas. A mostra – em cartaz até 01 de outubro – é uma realização da Ocre Galeria, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. A exibição conta com o apoio da Fundação Vera Chaves Barcellos, e o texto de apresentação é de Adolfo Montejo Navas.

 

Artista chileno radicado há quase 40 anos no Brasil, Patricio Farías possui uma ampla produção escultórica, além de sua atuação como desenhista, gravador e com experimentações multimídia. Na série “Reticulados” (2020/2022), estão reunidas composições minimalistas com herança cinética incluída, que respondem a uma geometria icônica – mais onírica e sonhadora como pedia o neoconcretismo brasileiro. Já a série “Mitológicos” (2021/2022) traz figuras antropomórficas e animais imaginários mitológicos, com inspiração em formas pré-colombianas que ressaltam a simplificação do essencial.

 

“Há uma compressão visual em ambos trabalhos apresentados, aumentando sua compreensão energética e semântica, seu “minimal” expressivo atinge ao máximo compartido: austeridade, síntese, manufatura em peças que exalam simetria, harmonia, ritmo, com sua chave de humor própria, para abrir a fechadura das imagens. Aliás, no caso do artista chileno, rigor e humor nunca são instâncias antípodas e sim combinatórias.” (Trecho do texto de Adolfo Montejo Navas, em agosto de 2022).

 

Exposição Coleção Luiz Carlos Ritter

30/ago

 

 

Tarsila do Amaral, Frans Post, Guignard, Portinari, Morandi, Renoir, Di Cavalcanti, Volpi, Pancetti, Lygia Clark e Helio Oiticica são alguns dos artistas com obras do colecionador gaúcho radicado no Rio de Janeiro, que agora chegam ao público em formato de livro e exposição na  Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, sob curadoria de Max Perlingeiro com visitação pública desde 05 a 24 de setembro.

 

A Pinakotheke Cultural, em sua sede do Rio de Janeiro, irá lançar, no próximo dia 05 de setembro de 2022, o livro Coleção Luiz Carlos Ritter (Edições Pinakotheke), bilíngue (português/inglês), com 304 páginas, formato 23cm x 31cm, e textos de Nélida Piñon, Ana Cristina Reis, Vanda Klabin, Clelio Alves, Ricardo Linhares, e uma conversa entre Max Perlingeiro – que organizou e planejou o livro e a exposição – ,e o colecionador Luiz Carlos Ritter.

 

De uma família de cervejeiros gaúchos – que fundaram em meados do século 19 duas das mais importantes cervejarias do Rio Grande do Sul – Luiz Carlos Ritter, que mora no Rio de Janeiro desde a infância, iniciou em 1983 uma coleção que atualmente soma centenas de obras, de grandes nomes da arte brasileira e internacional, bastante abrangente, do século 17 ao 21. Um dos maiores emprestadores de obras para exposições no Brasil e no exterior, Luiz Carlos Ritter agora torna público um conjunto expressivo de suas peças no livro editado pela Pinakotheke, com imagens e fichas técnicas de pinturas, desenhos, aquarelas e gravuras de grandes artistas, como Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti Candido Portinari, Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Candido Portinari, José Pancetti, além de nomes como Frans Post, Giorgio Morandi, Pierre-Auguste Renoir, e ainda de Lygia Clark e Hélio Oiticica.

 

O livro traz textos de amigos próximos e conhecedores de sua coleção, que inclui um jardim de esculturas em uma propriedade da família em Guarapari, Espírito Santo, com grandes nomes da arte.

 

Para marcar o lançamento do livro, a Pinakotheke montou uma exposição com 60 obras da Coleção Luiz Carlos Ritter. Seguindo as paixões do colecionador, a mostra terá flores e naturezas mortas de Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti, Alberto da Veiga Guignard, Candido Portinari, José Pancetti, Maria Leontina, Milton Dacosta, Victor Meirelles; e paisagens de Frans Post, Eliseu Visconti, Nicolau Antônio Facchinetti, Giovanni Battista Castagneto, João Batista da Costa.

 

O modernismo, outro núcleo importante da Coleção Luiz Ritter, é representado no livro e na exposição por obras de Guignard, Volpi, Portinari, Di Cavalcanti, e Flávio de Carvalho. Na categoria estrangeiros, estarão obras de Giorgio Morandi, Alfred Sisley, Joaquín Torres-García e Pierre-Auguste Renoir. A Coleção Luiz Ritter também tem importantes obras de artistas contemporâneos, como Lygia Clark e Hélio Oiticica, que também integram o livro e a mostra.

 

Gauchismo

 

Um capítulo do livro é dedicado a artistas gaúchos, que também terão obras expostas na Pinakotheke como Iberê Camargo e Pedro Weingärtner.

 

Em meio à Arte

 

Luiz Carlos Ritter cresceu em meio a obras de arte, graças a seus pais – a quem o livro é dedicado – que embora não fossem colecionadores tinham boas obras, adquiridas no pós-guerra. Pancetti, Guignard, o gaúcho Angelo Guido, e até mesmo uma escultura de Aleijadinho, exibido pela primeira vez na exposição “Imagens do Aleijadinho”, no Museu de Arte de São Paulo, em 2018, eram artistas com quem ele “conviveu”.

 

Primeiro quadro

 

O primeiro quadro que marcou o futuro colecionador, e que o “acompanha até hoje”, é “Paisagem de Sete Lagoas”, do pintor mineiro Inimá de Paula. Passando em frente à Galeria Bonino, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, em 1983, Luiz Carlos Ritter foi atraído pela montagem de uma exposição, e esta pintura estava sendo instalada na vitrine. Ele voltou à noite, para a abertura da exposição, e conversou muito com a proprietária da galeria, Giovana Bonino. Como o quadro era muito caro para ele à época, “ela me financiou”. “É curioso porque da primeira obra o colecionador nunca esquece, nos mínimos detalhes.

 

Flores

 

A convivência com os avós paternos despertou no menino Luiz Carlos o interesse por flores. Após dois anos de tratamento de tuberculose em um sanatório suíço, o avô paterno, na casa dos quarenta anos, comprou uma chácara afastada da capital, onde o neto, já morando com a família no Rio de Janeiro, passava boa parte de suas férias escolares. Fazia parte da rotina acompanhar o avô “diariamente em suas lides jardineiras”. “Vi meu avô plantando e cultivando muitas flores de clima temperado, algumas inexistentes no Rio de Janeiro, além de árvores frutíferas para a alegria dos passarinhos. Eu ficava dez dias grudado nele, autêntica referência. Isso aconteceu dos meus seis aos dez anos, quando ele faleceu. Depois continuei indo lá visitar a avó e conheci ainda mais flores e árvores floríferas e frutíferas. Lembro-me também de um fato curioso anterior. Quando bem menino, ainda em Porto Alegre, acho que entre meus três e quatro anos, adoeci gravemente e recebia a visita desses avós, que invariavelmente me traziam um pequeno vaso de amor-perfeito, que passou a ser minha flor favorita. Bem mais tarde, tive a alegria de poder adquirir um óleo de Guignard com “amores-perfeitos’”, conta Luiz Carlos Ritter. Para Max Perlingeiro, a Coleção Luiz Carlos Ritter é como uma “coleção viva, em constante mutação”.

 

Sobre a Pinakotheke

 

A Pinakotheke já editou livros sobre as coleções Roberto Marinho, Cultura Inglesa, Aldo Franco, Airton Queiroz, Fundação Edson Queiroz, e ainda este ano publicará um livro dedicado à Coleção Igor Queiroz Barroso.

Livro Coleção Luiz Carlos Ritter – Ficha técnica

Bilíngue (português/inglês), 304 páginas, formato 23cm x 31cm – Edições Pinakotheke, 2022

Autores: Nélida Piñon, Ana Cristina Reis, Vanda Klabin, Clelio Alves, Ricardo Linhares, e uma conversa entre Max Perlingeiro e Luiz Carlos Ritter.

Organização e Planejamento: Max Perlingeiro – Publisher: Camila Perlingeiro

Preço: R$180

 

O livro estará disponível nas lojas da Livraria Travessa e Martins Fontes de todo o país, além da Amazon e das sedes da Pinakotheke, no Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza (Multiarte).

 

 

 

Inéditos de Di Cavalcanti

 

 

Descobertas em Paris, duas obras-primas de Di Cavalcanti vistas pela última vez em 1936, em Paris, serão exibidas em exposição no Rio de Janeiro, comemorativa aos 125 anos de nascimento do artista

 

As pinturas em óleo sobre tela “Carnaval” (década de 1920) e “Bahia” (1935), exibidas em 1936, na Galeria Rive Gauche, durante o exílio do artista em Paris, serão vistas pelo público após quase 90 anos. Depois da exibição na galeria parisiense, perdeu-se o paradeiro dessas obras, até serem descobertas recentemente em uma coleção francesa. Agora, as duas obras-primas serão mostradas na exposição “Di Cavalcanti – 125 anos”, com curadoria de Denise Mattar, na Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, a partir do dia 06 de setembro permanecendo em cartaz até 12 de novembro.

 

A exposição “Di Cavalcanti – 125 anos”, um conjunto de aproximadamente 40 obras raras, entre elas duas obras-primas inéditas, localizadas recentemente em Paris, na casa de uma família francesa – as pinturas em óleo sobre tela “Carnaval” (1928), 126x157cm, e “Bahia” (1935), 142 x106 cm. Após a exibição na Galeria Rive Gauche, em Paris, em 1936, durante o exílio do artista na França, perdeu-se o paradeiro dessas obras.

 

Denise Mattar, curadora da exposição na Danielian Galeria, diz sobre o achado: “É uma emoção indescritível para uma pessoa como eu, que pesquisa Di Cavalcanti desde 1997, deparar com duas obras dessa importância, que nunca haviam sido vistas desde 1936, e estavam em uma coleção privada na França. “Carnaval”, é um painel cujas características o situam entre a produção dos anos 1929 e 1931, quando o artista criou obras-primas como “As moças de Guaratinguetá”, os painéis do Teatro João Caetano e “Samba”, a pintura perdida num trágico incêndio. O parentesco com elas é indiscutível”.

 

“A outra obra inédita, Bahia de 1935…”, continua a curadora, “…era uma obra conhecida dos estudiosos apenas pela descrição feita pelo importante crítico francês Benjamin Crémieux quando da realização da exposição do artista em Paris em 1936. Ver o belíssimo trabalho torna a crítica ainda mais impactante e sensível. Mostrar duas obras dessa qualidade da produção de Di Cavalcanti é uma contribuição inestimável da Danielian Galeria à arte brasileira”.

 

Defensor de causas sociais, Di Cavalcanti (1897-1976) havia sido preso duas vezes: a primeira em 1932, durante a Revolução Paulista, acusado de apoiar Getúlio Vargas, e em 1936 por ser comunista. Após a segunda prisão, ele decidiu ir para Paris, com a mulher Noêmia Mourão. Neste mesmo ano, 1936, ele expõe 16 pinturas e quatro desenhos na Galeria Rive Gauche, e ganha texto do crítico francês Benjamin Cremieux (1888-1944) no catálogo. Di Cavalcanti permanece em Paris até 1940, quando decide retornar ao Brasil por causa guerra. Ele costumava guardar suas obras maiores na Embaixada brasileira, e havia incumbido um amigo a despachar esses trabalhos, em torno de 50, para o Brasil via porto de Marselha. Não se sabe o que aconteceu, mas essas obras se extraviaram, e nunca chegaram ao seu destino. Em 1946, Di Cavalcanti voltou a Paris para tentar reaver seus quadros desaparecidos.

 

O povo brasileiro – Tema favorito de Di Cavalcanti

 

A exposição “Di Cavalcanti – 125 anos de nascimento” reúne um conjunto de aproximadamente 40 obras raras e extraordinárias do artista pertencentes a coleções particulares de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. “Uma exposição que mostra Di Cavalcanti na sua integridade – o autor de algumas das mais belas obras da arte brasileira”, destaca Denise Mattar.

 

“Os trabalhos traçam um percurso de Di através de seu tema favorito, o povo brasileiro, proporcionando uma oportunidade única de ver algumas de suas obras-primas. Sua produção está inserida na história da arte brasileira, por mais de cinquenta anos, desdobrando-se em muitas facetas: ilustrador, desenhista, caricaturista, pintor e muralista. Seu trabalho não tem par entre os artistas plásticos do Primeiro Modernismo, sendo Di Cavalcanti o único deles a manter uma produção constante e expressiva até sua morte, em 1976”, explica a curadora. Entre as obras apresentadas na exposição estão a pintura a óleo “Serenata” (1925), de 85 x 120cm. “Um trabalho icônico que prenuncia partidos estéticos adotados pelo artista para a criação dos painéis decorativos do Teatro João Caetano”, diz. “A cena tem como pano de fundo uma marinha com barcos a vela, mas se reporta à musicalidade dos morros cariocas, onde o pandeiro e o violão homenageiam uma mulher, cujas formas femininas são destacadas através de uma volumetria com influência da estética art déco. Já está presente a representação de tipos e cenas cariocas que iriam definir toda sua produção posterior”. “Devaneio” (1927), óleo sobre tela, 99,5 x 156 cm, “…também explora o volume das formas através do contraste entre superfícies planas de limites bem definidos e zonas esfumaçadas de onde a cor surge gradativamente a partir do branco, criando relevos espaciais e corporais”. “O título da obra se reafirma pela postura pensativa e um tanto melancólica da figura principal, uma mulher negra, perdida em sonhos, retratada ao lado de um barraco – tempo em que os morros se tornaram o berço do samba”, observa Denise Mattar.

 

Essa descoberta dos tipos brasileiros é vista ainda na obra “Três moças” (c.1925), na qual Di reproduz três mulheres: uma loira, uma morena e uma negra – esta última destacada por sua beleza.

 

O inédito painel “Carnaval” (década de 1920), 126 x 157 cm, “…tem características que o situam na produção realizada entre os anos 1929 e 1931, quando a influência muralista toma ainda mais corpo na obra de Di”, comenta a curadora. “O parentesco com as obras desse momento é absoluto: pela volumetria, composição, características cromáticas e temáticas. O mural apresenta um grupo de homens vestidos como mulheres, preparando-se para o Carnaval. Não são figuras travestidas dentro do entendimento atual, pois os traços masculinos – pelos nas pernas e braços, bigodes e barbas – são evidentes e um tanto caricaturais. O grupo está reunido no alto de um morro, e, atrás das ondulações da paisagem, na linha do horizonte, está o mar. As cores são fortes e vibrantes, construídas em velaturas, criando profundidades e, acentuando a monumentalidade da cena. Di tem como proposta criar um muralismo inteiramente diverso do mexicano, que é marcadamente político, preferindo se debruçar sobre o aspecto humanista. Os sambas, morros, favelas e danças, que ele pinta são verdadeiros, quentes, amorosos e carnais – feitos de dentro. Sua obra tem, de fato, o cheiro, o sabor e a cor do Brasil”.

 

Bahia

 

Em 1936, o artista se autoexilou em Paris, realizando nesse mesmo ano uma exposição na Galerie Rive Gauche, de 17 de junho a 03 de julho, reunindo 20 obras. Entre elas estava “Bahia” (1935), agora apresentada pela primeira vez ao público brasileiro. No prefácio do catálogo da mostra em Paris o crítico francês Benjamin Crémieux assim descrevia a pintura: “E vejam esta árvore amputada, que não renuncia a florir e continua de pé, uma sentinela diante da branca “Bahia de todos os santos”: sua casca é gêmea da pele das mulheres adormecidas. Fraternidade e luta amorosa do homem e do vegetal: todo o Brasil”.

 

Di permaneceu em Paris de 1936 a 1940, e durante esse período “o lirismo e a sensualidade langorosa tomaram conta das suas telas”. “É o momento no qual pintou mulheres olímpicas, quase clássicas, com toques picassianos, aos quais adicionou uma sensualidade tropical, mestiça, calorosa e maliciosa. São representantes desse momento as excepcionais obras “Vênus” (1938) e “Três Mulheres” (1938), que integram a exposição”, explica Denise Mattar.

 

Di pintou mulheres negras, brancas, ricas e pobres; morenas, loiras e ruivas, num clima lírico e sensual, ao qual sempre acrescentava um perfume de melancolia. Esse tema, da vida inteira, pode ser visto na exposição em telas que vão da década de 1940 à década de 1970, permitindo ao visitante acompanhar o percurso pictórico do artista, suas pesquisas estéticas, opções construtivas e afinidades eletivas.

 

A exposição apresenta ainda “Fantoches da Meia Noite”, álbum realizado por Di Cavalcanti em 1921. O conjunto de 16 gravuras, acompanhado de texto do poeta Ribeiro Couto, foi editado por Monteiro Lobato num álbum extremamente moderno para a época e de grande impacto até hoje. O lançamento foi realizado com uma exposição, na livraria O Livro, em São Paulo, um ponto de encontro da elite pensante da época, com a qual Di já articulava a ideia da Semana de Arte Moderna de 22, na qual ele teve um protagonismo frequentemente subavaliado pelos estudiosos.

 

 

Novo representado pela Simões de Assis

25/ago

 

 

O artista visual Mano Penalva agora passa a ser representado pela Simões de Assis. Vive atualmente em São Paulo, onde mantém seu ateliê junto ao projeto Massapê, plataforma que idealizou para possibilitar o pensamento e produção de arte, exposições e ações em conjunto com outros artistas. A pesquisa de Penalva se alinha profundamente ao programa que a Simões de Assis vem desenvolvendo há quase 40 anos, cujo foco principal reside na cultura brasileira. Sua produção parte das mais diferentes manifestações populares do país para, por meio de procedimentos variados, deslocar e ressignificar fragmentos e objetos do cotidiano, muitas vezes reutilizados e apropriados. Sua linguagem transita pela abstração e pela figuração, tendo como linha-mestre o interesse pelas questões materiais que as obras de arte suscitam.

 

Sobre o artista

 

Mano Penalva transita por diversas linguagens, como instalações, esculturas, pinturas, vídeos e fotografias. Artista visual, formado em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2008), frequentou cursos livres da Escola de Artes Visuais do Parque Lage entre 2005 e 2011. Em suas pesquisas, Penalva busca investigar a formação da cultura brasileira e suas manifestações variadas. Um dos procedimentos utilizados em seu trabalho é o deslocamento preciso e incomum de fragmentos e objetos do cotidiano, muitas vezes reutilizados e apropriados, refletindo seu interesse pela antropologia e cultura material. Seus trabalhos operam em diferentes meios, desde a forma cotidiana da construção urbana, passando pelo uso decorativo e prático dos objetos que refletem as realidades socioeconômicas e culturais do povo brasileiro, em suas complexidades, até instalações na natureza e ações performáticas. Para o artista, tudo pode ser fonte de pesquisa, tendo mercados, ruas e casas populares como seus objetos de estudo. Mas é no gesto – escultórico, apropriativo, da costura, da colagem, – que ele busca entender as nuances de separação e sobreposição entre arte e vida. No trabalho “Ode ao vento I” (2020), Penalva reflete sobre a força implacável da natureza, sua imprevisibilidade e como se dão as fronteiras. Na Praia do Pacífico, no México, Penalva içou uma bandeira que trazia as fronteiras internas entre os países latino-americanos, e que com o passar do tempo, os elementos compositivos iam se desvanecendo, apagando as fronteiras, ocasionando na dissolução dos estados e províncias metafóricas no branco. Outro trabalho relevante é “Litro por Kilo” (2019), em que pensou a permutabilidade de funções e valores que os objetos adquirem nos mercados populares e nas típicas chamadas de vendedores ambulantes como “três por dez, dois por cinco” em que revelam uma equivalência incerta. Nos últimos anos participou de diversas residências artísticas, como Casa Wabi, Puerto Escondido (2021); Fountainhead Residency, Miami (2020); LE26by, Felix Frachon Gallery, Bruxelas (2019) e AnnexB, Nova Iorque (2018). Dentre suas exposições individuais, destacam-se: “Hasta Tepito”, B[X] Gallery, Brooklyn (2018); “Requebra”, Frédéric de Goldschmidt Collection, Bruxelas (2018); e “Proyecto para Monumento”, Passaporte Cultural, Cidade do México (2017). Dentre as exposições coletivas integrou: “What I really want to tell you…”, MANA Contemporary, Chicago (2020); “Tropical Gardens”, Felix Frachon Gallery, Bruxelas (2019); Bienal das Artes, SESC DF, Brasília (2018); “Blockchain/Alternative barter: a new method of exchange?”, B[x] Gallery,  Brooklyn (2018); e “L’imaginaire de l’enfance”, Cité Internationale des Arts, Paris (2015). .

Parceria para exibir Zaluar

 

 

Em uma parceria inédita a galeria Arte132, Moema, São Paulo, SP, apresenta, no piso superior da galeria, a exposição individual “Abelardo Zaluar: Rigor e Emoção”, realizada junto à Danielian Galeria de Arte (Gávea, RJ). Em cartaz até 24 de setembro, e com curadoria de Denise Mattar, exibe “… a singularidade do artista, que abraçou o abstracionismo geométrico de forma muito particular, incorporando linhas do barroco à geometria, beirando a sensualidade”.

 

Abelardo Zaluar

 

Rigor e Emoção

 

Nessa exposição a Arte132 une-se à Danielian Galeria de Arte, sediada no Rio de Janeiro, para trazer ao público paulista um conjunto de obras do fluminense Abelardo Zaluar. Uma parceria que é especialmente auspiciosa para o circuito cultural pelo fato das duas galerias desenvolverem um trabalho que transcende o aspecto comercial, realizado através de ações institucionais apoiadas em séria pesquisa.

 

Apesar de sempre ter participado ativamente do circuito cultural, Zaluar nunca se filiou a nenhuma corrente, e abraçou o abstracionismo geométrico de uma forma tão particular que tornou sua obra única. Entre as singularidades de seu trabalho está a incorporação das linhas do barroco à geometria, beirando a sensualidade.

 

O conjunto de obras aqui apresentadas evidencia o processo criativo do artista e a hibridação de técnicas que marca sua trajetória, na qual ele utilizava, sem hierarquia, giz de cera, óleo, acrílica e colagem. Sempre manteve intacta a presença do grafite e do traço, como um lastro – mesmo em meio à progressiva irrupção da cor.

 

A originalidade da produção de Abelardo Zaluar é, ao mesmo tempo, a sua maior qualidade e o motivo do seu apagamento. Sem nenhum par, sua obra não se encaixa nas gavetas da crítica de arte até agora disponíveis – mas oferece ao espectador uma dupla fruição: uma mescla rara de rigor e emoção.

 

Denise Mattar

 

Sobre o artista

 

Pintor, desenhista, gravador e professor. Nasceu em Niterói – RJ, em 1924 e faleceu em 1987, em um acidente de carro. Entre 1944 e 1948, frequenta as aulas da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), no Rio de Janeiro. Na mesma década, cria, com outros colegas, a Escolinha de Arte do Brasil, tornando-se diretor-técnico da instituição carioca. Em 1959, conquista o primeiro lugar em desenho do Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Artes das Folhas, em São Paulo. Em 1967, ganha prêmio aquisição no 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal e menção honrosa na 1ª Bienal Ibero-Americana de Pintura, na Cidade do México, em 1978. Participa de diversas mostras coletivas entre 1959 e 1987, como a Bienal Internacional de São Paulo, Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), e o Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM), Rio de Janeiro, do qual recebe prêmio de viagem ao exterior em 1963. Em 1975 e 1979 expõe em retrospectivas no MAM/SP e no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC/PR), respectivamente. No ano seguinte apresenta trabalhos em outra retrospectiva, desta vez no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Faz parte de comissões de seleção e premiação de salões, como o 7º Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1984, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Nos anos 1980, recebe título de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua obra figura, também, em acervos de instituições como o MNBA-RJ, MAM-SP, MAC-Niterói e MASP-SP.

 

Claudia Jaguaribe exposição e livro

24/ago

 

 

A exposição de fotografias de Claudia Jaguaribe “Quando eu vi a Flor do Asfalto”, até 24 de setembro na Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, faz uma investigação sobre a  a natureza e a sociedade na atualidade. O livro da artista  “Asphalt Flower”, editado pela Éditions Bessard, encontra-se à venda na galeria.

 

Claudia Jaguaribe

 

A relação entre a natureza e a humanidade é uma das questões mais importantes do século XXI. A incerteza do nosso futuro e os desafios para a nossa sobrevivência física e psíquica na Terra levantam questões ecológicas, sociais e artísticas que demandam uma urgência no seu tratar. O Brasil, país de dimensões continentais, possui características e estruturas de alto contraste que tornam tal situação ainda mais agravante. Se por um lado habitamos um território composto por grandes extensões de biomas preservados, por outro, testemunhamos o aceleramento de sua devastação.

 

Desde 2008 Claudia Jaguaribe vem abordando tais questões por meio de sua obra. A necessidade de expandir as possibilidades da linguagem fotográfica fez com que o trabalho ganhasse consistência ao longo de sua trajetória. Sua produção contempla assim uma diversidade de meios como a fotografia, a foto escultura, o vídeo e o livro. Na exposição “Quando eu vi a Flor do Asfalto”, que se realizará na Galeria Marcelo Guarnieri em São Paulo em agosto de 2022, serão exibidas as séries “Flor do Asfalto” (2020) e “Jardim Imaginário” (2019), além de “Asphalt Flower” (2022), livro inédito publicado pela editora francesa Éditions Bessard. O lançamento do livro ocorrerá durante a abertura da exposição. Também será apresentada uma seleção de fotografias de séries anteriores em que Jaguaribe explorou a ideia de emaranhamento entre natureza e cultura.

 

“Flor do Asfalto” (2022) revisita a ideia de paisagem como um jardim, um espaço de conexão entre homem e natureza onde é possível observar a dinâmica dos ciclos da vida (crescimento, floração e declínio) como um reflexo da sociedade que o molda. As imagens de flores sobrepostas que integram-se simbioticamente às formas asfálticas nos mostram uma superfície que encapsula a natureza desde os tempos bíblicos e que não pode mais ser separada dela. O trabalho possui o formato de uma frisa composta por partes que, unidas, formam uma única imagem. Nesta exposição será apresentado também “Asphalt Flower”, fotolivro publicado pela editora francesa Éditions Bessard que tem o formato leporello em alusão à obra.

 

“Jardim Imaginário” (2019) é uma série de fotografias constituídas por planos sobrepostos que produzem encontros entre flores exuberantes e paisagens urbanas. As imagens que formam a base real sobre a qual Jaguaribe cria o imaginário foram produzidas em reservas ambientais e jardins brasileiros emblemáticos, tais como o Parque Inhotim e o Sítio Roberto Burle Marx. As plantas tropicais sobrepostas são emolduradas ora por fotografias de fragmentos de construções arquitetônicas, ora por registros de devastações produzidas por queimadas, criando imagens que mostram a interseção e o diálogo inevitável entre uma visão idílica da nossa natureza e o testemunho das enormes mudanças que vem ocorrendo. As esculturas apresentadas na exposição também fazem parte desta pesquisa e introduzem, na fotografia, elementos escultóricos presentes nos jardins de Burle Marx, gerando assim um diálogo entre fotografia, paisagem e arquitetura que se realiza no campo tridimensional. Uma forma que ganha uma paisagem ou uma paisagem que ganha uma forma.

 

As outras obras que integram a exposição são, de alguma maneira, a gênese e origem desta pesquisa. “Quando eu vi” (2008) pode ser definida como uma paisagem em construção. As bibliotecas de Jaguaribe são obras icônicas deste período de sua produção que buscava por formas simbólicas de preservação de uma natureza então ainda intacta. A realização de “Pau Mulato”, uma das fotografias da série, marca o primeiro momento em que a abstração de uma forma vegetal levou à criação de peças escultóricas. Já “Aba katu” (2014) é um ensaio poético sobre a visão dos naturalistas viajantes do século XIX que tinham a flora e a fauna como objetos de um escrutínio “científico”.

 

A série “Confluência” (2019), leva a fotografia para o campo da abstração, dando seguimento a sua relação com a natureza através de uma investigação sobre as suas qualidades pictóricas. Nela, estão representados os rios Tocantins, Paraná, Solimões e Iguaçu que se mesclam, assumindo um novo corpo como num processo de metamorfose.

 

Na série “Jardim de Lina” (2018) há uma espécie de embate e complementaridade entre arquitetura e natureza. Nas imagens, o jardim parece invadir a arquitetura modernista da Casa de Vidro, tornando difícil a distinção entre os limites do espaço interior e do exterior. A partir do desejo de tensionar ainda mais esses limites entre o dentro e o fora, entre a fotografia e a escultura, a artista intervém nas imagens com desenhos de círculos que remetem ao vocabulário da arquitetura modernista de Lina Bo Bardi que tinha nas formas da natureza uma fonte de inspiração.

 

“Quando eu vi a Flor do Asfalto” permitirá ao público revisitar a trajetória de Claudia Jaguaribe que há 30 anos dedica-se a produzir uma obra original e potente na qual a denúncia se faz não por uma abordagem jornalística, mas por um olhar artístico que nos reinsere na beleza misteriosa e complexa da vida e do mundo.

 

 

Nuno Sousa Vieira no Brasil

 

 

A Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a primeira individual de Nuno Sousa Vieira na cidade, um dos mais renomados artistas visuais portugueses. A mostra “Tenho a vista cansada” permanecerá em cartaz até 28 de setembro com texto de apresentação da crítica portuguesa Rita Gaspar Vieira. Ao todo estão reunidas nove pinturas inéditas e um vídeo, um projeto expográfico concebido exclusivamente para a galeria. A mostra faz parte da programação internacional da Mul.ti.plo durante a 12ª edição da ArtRio (que acontece de 14 a 18 de setembro, na Marina da Glória).

 

Na primeira sala, estão nove trabalhos de uma série de 15, realizados especialmente para a exposição. São pinturas feitas com tinta acrílica sobre plexiglass (lâminas de acrílico transparente). Os trabalhos refletem uma das principais particularidades do trabalho de Sousa Vieira: a utilização de materiais que já foram utilizados antes, que possuem um passado, que carregam uma história. “Meu interesse é que esses materiais voltem a atrair o olhar das pessoas, mesmo que de outra forma. É a prova de que podemos organizar o mundo de outra maneira”, diz o artista. Não por acaso, nos últimos 20 anos, ele instalou seu ateliê dentro de uma fábrica de plástico desmantelada, a Simala, em Leiria, sua cidade natal. É esse universo, de 6.000 m2 de área coberta e uma imensa quantidade de materiais deixados para trás, que o artista, conhecido por suas esculturas compostas por variados materiais fabris, elementos arquitetônicos e móveis descartados, utiliza como matéria-prima.

 

Na exposição, Sousa Vieira recorre também ao uso da palavra, mas no verso dos trabalhos. “As obras trazem palavras escritas, que não vemos claramente. Só as percebemos através das superfícies marcadas pelo tempo, dos vidros acrílicos que as compõem”, conta Rita, referindo-se a outra faceta do trabalho de Nuno: o jogo sutil entre o visível e o invisível, entre o que é evidente e o que não se vê. “Quero conduzir o olhar para o oculto. É no avesso onde quero chegar. Nós não vemos só com os olhos, vemos com o cérebro, com os sentidos, com o corpo todo. É esse olhar que quero trazer para a exposição”, diz ele. Por isso também, o verso de cada pintura da exposição estará registrado em postais, que serão entregues aos visitantes.

 

Outro destaque da mostra na Mul.ti.plo é a forma de apresentação do conjunto de pinturas. “O projeto expositivo é praticamente uma terceira obra. Tudo foi pensado por Nuno”, explica Stella Ramos, sócia da Mul.ti.plo. “Souza Vieira rompe os limites de parede e teto, interferindo no espaço e realizando um diálogo com a arquitetura do gabinete de arte”, acrescenta Maneco Müller, também sócio na galeria.

 

Na sala dois, o destaque é uma vídeo-obra, de 2011, com aproximadamente oito minutos. “O vídeo relata o emparedamento da entrada do meu ateliê, e sempre que o trabalhador entra em cena o vídeo é cortado e só volta quando o trabalhador sai. A obra procura refletir sobre a invisibilidade física do operário em prol da visibilidade da consequência do seu labor”, diz o artista, que estará no Rio para a abertura da exposição e depois segue para São Paulo onde inaugura uma mostra na galeria Raquel Arnaud.

 

Sobre o artista

 

Nuno Sousa Vieira nasceu em Leiria, Portugal, em 1971. Atualmente, vive e trabalha entre Lisboa e Leiria. Frequentou o Mestrado em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, escola onde agora é doutorando. Recentemente expôs na SE8 Gallery, em Londres; no Consulado de Portugal, em São Paulo; na Tabacalera, La Principal, Madri; Fundação Portuguesa das Comunicações, Lisboa; no Q22 – Colégio das Artes da Universidade de Coimbra; Galeria Espacio Olvera, Sevilha; Consulado de Portugal em Sevilha; Galeria Graça Brandão, Lisboa; Galerie Emmanuel Hervè, Paris. Entre 2010 e 2011, realizou três importantes exposições individuais: no Pavilhão Branco do Museu da Cidade, em Lisboa; na Newlyn Art Gallery and The Exchange, no Reino Unido; e na Hans Mayer Gallery, Alemanha. Apresentou também um projeto individual na ARCO, Madrid, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. Expôs ainda na Kunsthalle São Paulo, 2014; Appleton Square, Lisboa, 2012; Galeria Graça Brandão, Lisboa, 2010; Carpe Diem, Lisboa, 2009; Galeria Graça Brandão, Lisboa, 2009; e na Empty Cube, Lisboa, 2008, entre outras. O seu trabalho está representado em diversas coleções, como PINTA – Latin America, CAV (Centro de Artes Visuais), Coleção Teixeira de Freitas, Coleção PLMJ, Coleção António Cachola, Câmara Municipal de Leiria, Coleção Paulo Pimenta, Coleção José Lima, Coleção António Albertino.