Na Gentil Carioca, SP

25/mar

 

A Gentil Carioca, Higienópolis, São Paulo, SP, convida a todes para os últimos dias da exposição “O Perde”, de Renata Lucas, no fim de semana de 26 e 27 de março.

A artista definiu seu campo de ação com a colocação de uma mesa de sinuca num estacionamento desativado na vila. Atualmente fechado, como quase tudo no entorno, o estacionamento se situa no ponto equidistante entre a galeria e o Cemitério da Consolação. A bola que se joga aqui cai também em outra parte: a mesa instalada no estabelecimento ocioso se oferece como divisa entre mundo operante e mundo inoperante, num jogo de vida e morte.

A mostra integra os circuitos SP-Arte Weekend, que nos dias 26 e 27 reúne as principais galerias do Centro e Barra Funda, e “Arte Caminha”, que traça um circuito cultural para ser feito a pé, de Higienópolis à República, materializado através de um mapa impresso que estará disponível para distribuição gratuita nos endereços das galerias participantes. Como parte da programação, Renata Lucas também participa do arte passagem na Praça da República, 177, com uma intervenção na vitrine da loja 7 do Edifício Eiffel.

A artista estará presente na galeria no dia 26, sábado, das 16h às 18h.

 

Roberto Alban apresenta Adrianne Gallinari

21/mar

 

 

A Roberto Alban Galeria, Ondina, Salvador, Bahia, anuncia a exposição “Adrianne Gallinari: desenho+pintura”, primeira exposição individual da artista na galeria, com abertura no dia 24 de março. Natural de Belo Horizonte, MG, Adrianne Gallinari vive e trabalha entre Salvador, São Paulo e a capital mineira. Em “desenho+pintura”, a artista apresenta um conjunto de vinte e oito pinturas, em diferentes formatos, e um desenho em grande escala, realizado em 2018 e exibido recentemente em São Paulo na Casa de Cultura do Parque. 

Formada pela renomada Escola Guignard, na capital mineira, Gallinari é expoente de uma geração cuja aparição no circuito da arte contemporânea aconteceu ainda na década de 1980, incluindo nomes como os de Cao Guimarães, Rivane Neuenschwander, Rosangela Rennó, Alexandre da Cunha e outros. A artista integra importantes coleções institucionais como a do Itaú Cultural (São Paulo), Coleção Madeira Corporate Service (Ilha da Madeira, Portugal), Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, Minas Gerais) e Banco de Espanha (Madrid, Espanha).

Ao longo de sua trajetória, teve importantes exposições individuais em espaços como o The Drawing Center, em Nova York e participou de prestigiadas mostras como a Bienal de Pontevedra, com curadoria de Maria de Corral, além de exposições coletivas como Ordenação e Vertigem (curadoria de Agnaldo Farias, CCBB-SP), Desenhos A-Z (curadoria de Adriano Pedrosa) e a exposição paralela à Bienal de São Paulo de 2008 (curadoria de Rodrigo Moura).

Adrianne Gallinari também foi contemplada com prêmios como “Aquisição”, no XXII Salão Nacional de Arte, no Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1991); “Programa de Bolsas para Artistas Jovens Guillermo Kuitca” (Buenos Aires, Argentina, 1997); e “Primeiro Prêmio” na I Bienal Bridgestone Centro Cultural Borges (Buenos Aires, Argentina, 2000).         

Tal como o título da presente exposição, a prática da artista mineira debruça-se, majoritariamente, sobre o desenho e a pintura, explorando as potencialidades e interseções destes suportes artísticos. Ainda em seus anos de formação, Adrianne Gallinari encontrou no desenho a porta de entrada para o aprofundamento de sua obra, através de uma rigorosa e intensiva prática em diferentes suportes, como o papel, tecidos e o próprio espaço arquitetônico.

Foi da extensa prática no campo do desenho que, ainda no início de sua produção, Adrianne Gallinari migra para a pintura, transitando até hoje entre os dois meios com uma singular desenvoltura e apuro técnico. Obra de 2018, o grande desenho presente na exposição consiste em um enorme tecido estendido na parede do espaço expositivo, sobre o qual a artista traceja – numa espécie de ordenamento obsessivo e delicado – pequenos traços em crayon. Ainda que pensado em uma grande escala, o painel revela as minuciosas intenções gráficas da artista, em que as leituras sistematicamente formadas parecem desvelar as próprias imperfeições da parede que a obra esconde. A percepção visual criada, assim, é a de um trabalho laborioso e repetitivo, que investiga a organização do espaço da obra tal como se a artista estivesse esboçando um mapa mental.

Não por coincidência, as ranhuras se assemelham a uma escrita “rasurada” – dos pensamentos que não conseguem se traduzir apenas no plano do papel. E é neste intervalo das rasuras onde surgem formas abstratas, geométricas e visivelmente distintas, tal como atos falhos que se apresentam com mais lucidez do que aquilo que teria sido dito – escrito ou desenhado – conscientemente. Nas palavras do curador Agnaldo Farias, no texto curatorial que acompanha a mostra, “Na obra da artista, o desenho é o seu ponto de partida. Sempre. Mesmo estando circundado por pinturas dotadas de cores suaves e iluminadas, paisagens embaciadas por névoas, ou acesas, recém despertas pelo sol da manhã ou, ainda, resistindo à despedida da luz, quando da chegada da noite, mesmo assim, o desenho fala mais alto, até porque, nessas pinturas, ele também é protagonista.”

Já em suas pinturas, realizadas desde pequenas escalas até formatos médios e grandes, a artista explora diferentes noções e nuances da ideia de paisagem. Temática amplamente explorada ao longo da história da arte, a pintura de paisagem aparece na obra de Gallinari dotada de um léxico que remete, ao mesmo tempo, à tradição destes tipo de pintura quanto a uma radical contemporaneidade.

Suas paisagens situam-se em um campo híbrido entre a figuração e a abstração, através do uso da tinta acrílica e de pinceladas que ora nos revelam montanhas, traços de vegetação e outros elementos típicos do gênero. Os espaçamentos em branco de suas telas valorizam suas escolhas cromáticas, que vem a compor as delicadas figuras e paisagens que pinta, criando uma sensação harmônica entre áreas de respiro e áreas de intenso trabalho sobre a tela.

A artista cria assim um certo sentido de uma totalidade visual, em que toda a superfície da tela compõe este conjunto híbrido entre abstração e figuração: uma justaposição entre planos distintos ao mesmo passo de uma ampla perspectiva unitária entre estes diferentes elementos.

Suas paisagens – frutos da vivência e da memória destes espaços, ao longo de sua vida – revelam a aparição de ramos, árvores, campos e montanhas que dividem o espaço visual com delicadas figuras humanas, gerando um pertencimento entre homem e natureza,  através de um jogo entre aparição e desaparecimento, pintura e também subtração do plano pictórico. Tal aproximação também é realizada a partir do uso de desenhos geométricos semelhantes, permitindo uma potente convergência poética entre todos os elementos que habitam suas pinturas – a um só tempo impactantes e delicadamente articuladas.

A mostra continua até o dia 30 de abril.

Novidade da Gomide&Co

17/mar

 

 

A galeria Gomide&Co, Jardins, São Paulo, SP, anuncia com grande entusiasmo a representação do artista português Tiago Mestre (1978). Radicado em São Paulo há cerca de doze anos, o artista desenvolve o seu trabalho entre a pintura, a escultura e a instalação, meios pelos quais explora questões que relacionam a sua formação inicial em arquitetura com a discursividade da arte contemporânea.

Valendo-se de materiais diversos, Mestre constrói um universo que responde, através da arte, à dimensão retórica dos projetos arquitetônicos e artísticos da modernidade (e seus desdobramentos em nossos dias). O carácter impreciso (e por vezes ambíguo) das suas esculturas e pinturas nos remetem frequentemente para um olhar que atravessa a relação primordial do homem com a natureza e toda a vasta cultura material que daí surge. Não raro, contudo, o seu trabalho se desdobra em especulações voltadas para as relações tensas – mas sempre lúdicas – entre fundo e forma, superfície e estrutura, possibilitando assim uma alternância constante entre questões relativas à especificidade dos meios artísticos (por vezes técnicas ou funcionais) e um exercício de manutenção da liberdade de uma poética mais ampla que evoca outras práticas (cinema, literatura, música…).

“É na exposição que meu trabalho realmente acontece” – sublinha Tiago Mestre, querendo com isso dizer ser ali que o espaço do ateliê realmente termina, contando que muito do raciocínio do artista se vale dessa organização e edição da obra no espaço de apresentação. A exposição torna-se, em si, uma disciplina.

Tiago Mestre formula os seus “comentários do mundo” a partir de trabalhos que não se fixam em um estilo definitivo – cada projeto pode se inscrever em um campo de pesquisa temática e formal particular. A partir do trabalho dessa mão “não especializada”, mas disponível, o artista visa promover o que chama de “descontinuidade/clivagem do estatuto” da obra, possibilitando uma troca mais livre e intuitiva entre disciplinas artísticas, temporalidades históricas, dispositivos de apresentação e narrativas, em contraponto a uma discursividade mais linear e normalizada.

Quatro artistas

 

 

Quatro artistas, sob a curadoria de Sonia Salcedo del Castillo, inauguram coletiva na Galeria Patricia Costa, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. A partir do dia 24 de março Ana Durães, Ana Luiza Rego, Monica Barki e Nelly Gutmacher expõem seus trabalhos. A coletiva “As – Durães Rego Barki Gutmacher” apresenta pinturas, fotografia e objetos pictóricos no novo espaço da galeria, que dobrou de tamanho e agora ocupa 160m².

Sonia Salcedo del Castillo assinala que:

“No conjunto exposto há uma pulsão léxica, de convivialidade, que é ulterior à retórica feminina. Trata-se de uma dinâmica, possivelmente, legada de experimentações empreendidas entre as décadas de 60-80, da performance ao conceitual, passando pela ideia de objetualidade que nos conduz à percepção de certa carnalidade corpórea, quiçá emprestada da pintura. Sensualidade de corpos, curvas e formas sinuosas, de frestas ambíguas e imagens oníricas… de fragmentos míticos, ancestrais, eróticos, naturais…”.

“Isso se expressa na volúpia da arqueologia escultórica dos objetos de Nelly, na luminosidade pictórica dos planos arbóreos de Durães, na dramaturgia das imagens viris ensaiadas por Barki, na mítica pictural de vazios e cores construída por Rego.”.

 

Sobre as obras e as artistas

A paisagem, a presença de árvores e a natureza integram o campo narrativo que Ana Durães instala nas suas pinturas, fruto de uma pesquisa já realizada há alguns anos. Na coletiva, as pinturas apresentadas fazem parte da grande série “Natureza Alterada”, resultantes de um trabalho realizado a partir da vegetação observada em suas incursões pelo interior do Brasil. Segundo a artista, seria como olhar para o interior com uma visão mais profunda e investigativa.

Segundo Ana Luiza Rego, dentro de um mundo paralisado, no auge da pandemia, um coração acelerado ganhou espaço nas suas telas, como um avatar que viajava por tempos, momentos e espaços poéticos. Ele continua aí, como um pássaro que fugiu da gaiola, percorrendo sentimentos e questionamentos compondo suas “Crônicas do Devaneio”.

Monica Barki descortina o mundo fantasioso dos motéis cariocas. São ao todo três pinturas e uma fotografia da série “Desejo/Arquitetura do Secreto” (2014/2017), com performances realizadas em diversos motéis do Rio de Janeiro. Da Barra da Tijuca a São Gonçalo, passando por Botafogo, Lapa, Glória e Avenida Brasil, a artista frequentou as mais diversas suítes captando imagens com sua câmera. Na maioria das vezes, Barki age como protagonista da obra, elaborando e executando as ações. Ela cria nos quartos uma atmosfera quente, sensual e convidativa, utilizando a superposição de imagens, jogos de espelhos, máscaras, luzes, janelas, objetos eróticos e instrumentos de prazer.

Ao empregar seu próprio corpo para a moldagem inicial em gesso, que depois será transformada em cerâmica, Nelly Gutmacher pesquisa esta linguagem do corpo, linguagem não discursiva. Age um pouco como o médico legista que disseca as partes do corpo para melhor conhecê-lo: seios, ancas, ventre, pele, tímpano, hímen. E não contente em isolar estes fragmentos, recolhe neles, ou com eles, a lingerie, o sutiã, a calcinha, que são atributos de sedução, segunda pele ou corpo. Erotizados pelo corpo, estes objetos-fetiches são arqueologicamente parte dele, portadores de significados. Mais: Nelly pesquisa, no corpo, os símbolos da repressão (ou da libertação): incrustações de chaves e de ornamentos.

De 25 de março a 30 de abril.

 

Inéditos de Afonso Tostes

14/mar

 

 

 

A Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou no exposição individual de Afonso Tostes. Conhecido por suas esculturas em madeira descartada, na mostra “As coisas que ainda existem” Afonso Tostes apresenta cerca de 16 trabalhos inéditos, incluindo peças esculpidas sobre carvão, material extremamente instável. As novas obras, criadas durante a Pandemia, trazem reflexões sobre os impactos ambientais causados pelo homem, remetendo a queimadas, mudanças climáticas, extinção de espécies, etc. Nas peças apresentadas, além de madeira e carvão, entram também ferro e papel. A exposição permanecerá em cartaz até 29 de abril.

Sem apresentar-se individualmente no Rio de Janeiro desde 2015, na atual mostra da Mul.ti.plo, Afonso Tostes traz exibe três esculturas de grande formato, sete objetos de parede sobre tela e seis desenhos sobre folhas de dicionário, divididos em três séries. “Trabalho sobre o que já existe, coisas descartadas por aí, que sofreram a interferência da mão humana. Me interessa a relação do homem com seu entorno, com a natureza. Não falo apenas da relação com o meio ambiente, mas também das relações pessoais, das nossas expressões visíveis e invisíveis”, explica Afonso Tostes.

A série com carvão é composta de cerca de sete objetos de parede sobre tela, de 40x50cm cada um. O trabalho começou com a coleta de restos de árvores carbonizadas em uma queimada na região de Visconde de Mauá. Depois, ele encontrou numa rua de Copacabana um dicionário ilustrado da década de 1960. “Tinham várias reproduções de pinturas da natureza, uma catalogação das espécies. Comecei a confrontar essas duas ideias e daí nasceu a série, que junta carvão esculpido com ilustrações de borboletas, peixes, aves, roedores, insetos e mamíferos”, explicou o artista.

Em outra série, utiliza as folhas da enciclopédia como base para desenhos feitos com pigmentos de pó residual de madeira, recolhido em seu próprio ateliê. Essas obras medem entre 210x100cm e 60cmx40cm. Para completar a mostra, Afonso Tostes apresenta também esculturas feitas a partir de galhos, amarrados, de 202cmx60cm. “Com uma linguagem potente e singular, as obras de Afonso nessa exposição falam da precariedade humana. Os trabalhos são sofisticados, e carregam uma certa melancolia da hora, um sentimento de fragilidade da vida, dessa capacidade que temos de destruí-la mas também de transformá-la em poesia”, assinala Maneco Müller, sócio da galeria.

 

Sobre o artista

Afonso Tostes nasceu em 1965, na cidade de Belo Horizonte, MG. Sua trajetória artística teve início em sua cidade natal, onde cursou a Escola Guignard (UEMG). No final dos anos 1980, transferiu-se para o Rio de Janeiro, voltando-se para o estudo do suporte bidimensional – posteriormente acompanhado por uma vasta produção escultórica com madeiras encontradas nas ruas. O interesse do artista volta-se para o alcance de métodos simples a partir desses materiais descartados, desenvolvendo esculturas aparentemente despojadas de complexidade estrutural e que carregam no corpo os sulcos e as marcas dos usos anteriores. Em sua obra, opta quase sempre por materiais que já tenham passado por algum processo de utilização. Sua prática também propõe experiências sensíveis nascidas de um olhar crítico para o mundo. Afonso Tostes vive e trabalha no Rio de Janeiro.

Uma celebração: Ser Mulher

10/mar

 

 

A determinação e o espírito empreendedor de uma mulher são o coração da Art Lab Gallery, Jardins, São Paulo, SP. Firme no propósito de dedicar-se a expandir os limites da arte e dos artistas, possibilitando que suas criações cheguem aos mais diversos públicos, a galerista e curadora Juliana Mônaco abre a exposição “ARTE E MULHER” com, aproximadamente, 300 trabalhos criados por 100 artistas mulheres. Mulheres de diferentes idades e culturas trazendo suas próprias versões do feminino em suportes variados como pinturas, desenhos, esculturas, fotografias e objetos.

“Perspectivas e expressões diversas geradas pela potência do cerne feminino de mais de cem mulheres artistas, entre elas uma adolescente em sua primeira exposição, uma muçulmana, e também uma índia, em pares com as consagradas Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Lina Bo Bardi, Fayga Ostrower, Tomie Ohtake, entre outras como Noemia Mourão – 1° esposa de Di Cavalcanti, e Eleonore Kock – aluna do Volpi, mulheres intensas que nos convidam à adentrar em seus íntimos através da arte. Basta observar e sentir”, explica a curadora.

Entre essas artistas, que através de suas obras discutem os desafios e sensações do que é ser mulher em sociedade hoje, podemos citar nomes como Silvia Borini, artista convidada, que apresenta um recorte da série de 1985 sobre os estágios emocionais da gestação – a fase azul; Ana Goulart, Carol Moraes, Elis Regina Mancini, Graça Tirelli, Lu Gerodetti, Luiza Whitaker, Marcia Cavinati, Mariana Naves, Mariella Morrone, Rebeca Bedani, Renata Kandelman além de nomes como Eliana Minilo, Fayga Ostrower, Renina Katz, Lina Bo Bardi, Lucy Citti, Maria Helena Chartuni, Maria Leontina, Rosina Becker, Yolanda Mohalyi, entre muitas.

“Distribuídas por toda a extensão da galeria, as obras contemporâneas em multilinguagens, abordam manifestos particulares das mulheres artistas. Um espaço de inflexão para coexistir mulher. Através da ressignificação do feminino, honrar no sangue e no querer, a força e o amor de milhares que vieram antes de nós.” Juliana Mônaco

 

De 11 a 19 de março.

 

 

Tarsila, raridades

09/mar

 

 

O escritório de arte Paulo Kuczynski, Alameda Lorena, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta, a partir do dia 12 de março, “Tarsila: as Duas e a Única”, uma raridade que merece ser colocada na agenda. Trata-se de uma mostra com apenas duas pinturas, “Paisagem com Dois Porquinhos” (1929) e “Segunda Classe” (1933). A primeira tela é característica da fase da produção da artista conhecida como “Pau Brasil”, em que a construção de uma ideia de brasilidade é buscada. A segunda já traz Tarsila menos esfuziante e mais sintonizada com a desigualdade social que assola o país até hoje .

As duas telas pertencem a coleções privadas e, por isso, não são vistas com facilidade, como ocorre com peças que são de propriedade de museus. Os trabalhos estão à venda – os valores não foram revelados, mas estão na casa dos milhões – e foram selecionados pelo marchand Paulo Kuczynski, que esteve à frente também da venda da tela “A Lua” (1928), de Tarsila, ao Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa) por cerca de 20 milhões de dólares em 2019.

Fonte: Veja-SP.

Francisco Rebolo: Viver a paisagem

08/mar

 

 

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresenta, entre 19 de março e 30 de abril, “Viver a paisagem”, exposição de obras de Francisco Rebolo (1902-1980). A exposição marca a comemoração dos 120 anos do nascimento do artista.

“Viver a paisagem”, mostra organizada em colaboração com o Instituto Rebolo,  reúne cerca de 30 pinturas produzidas entre as décadas de 1940 e 1970 que refletem o interesse do artista por uma integração entre a paisagem, sua obra e seu modo de vida. Nascido e formado em bairros de classe operária imigrante da zona leste de São Paulo, onde se concentravam as atividades fabris do início do século vinte, Francisco Rebolo transferiu-se na década de 1940 para o ainda bucólico bairro do Morumbi e ali “começa a traçar o caminho de se tornar um dos maiores paisagistas da arte brasileira, vivendo intrinsecamente na maior e mais importante fonte de inspiração de toda a sua obra”, como afirma Sergio Rebollo. Além das pinturas de paisagens suburbanas, marinhas e naturezas-mortas, a exposição contará com fotografias de arquivo e objetos que fizeram parte do ateliê do artista.

A vida no então distante Morumbi não impediu Francisco Rebolo de ter uma participação ativa na organização da classe artística em São Paulo. Em meados da década de 1930, ainda dividindo suas funções entre a pintura decorativa e a pintura de cavalete, passa a receber em seu ateliê/escritório no Palacete Santa Helena artistas como Mario Zanini, Alfredo Volpi, Clóvis Graciano, Aldo Bonadei, Fulvio Penacchi e Alfredo Rizzotti. O grupo, que seria batizado pela crítica da época de Grupo Santa Helena, era formado por descendentes de imigrantes de origem popular e operária que traziam com suas telas a imagem de uma modernidade diferente daquela reivindicada pelo grupo de 1922. Preocupados pelos aspectos técnicos e artesanais da pintura, retratavam o cotidiano da São Paulo suburbana. Rebolo foi um dos fundadores do Sindicato dos Artistas e Compositores Musicais, além de ser um dos criadores do Clube dos Artistas e Amigos da Arte (o Clubinho) em 1945. Anos mais tarde, fez parte do grupo que trabalhou para a criação do Museu de Arte Moderna (MAM-SP) e da sua Bienal de São Paulo, onde expôs e foi membro do júri.

Francisco Rebolo, “um mestre do meio-tom” segundo Sérgio Milliet, testemunhou um período de profundas transformações na paisagem urbana de São Paulo que, naquele momento, passava de província a metrópole. O processo de demolição de casas e construção de arranha-céus que hoje a cidade vivencia em ritmo acelerado, apenas se iniciava, e um modo de vida cada vez mais distanciado da natureza ia se configurando. No conjunto de pinturas apresentadas em “Viver a paisagem”, é possível observar o movimento inverso de Rebolo, que ia em direção ao campo, às montanhas e ao mar; um movimento que o permitiu compreender, durante quatro décadas, os aspectos daquelas paisagens através de sua prática pictórica. A busca do artista pela simplicidade da forma e por uma geometrização sutil se manifestou de maneiras diversas ao longo dos anos de produção, resultado de uma investigação plástica que incorporava soluções experimentadas em outras técnicas, como a xilogravura, por exemplo. A discreta paleta de cores da qual se utilizava e as cenas silenciosas compostas por árvores e casarios, revelam em Rebolo a visão otimista de uma relação harmônica com a natureza. Agradecimentos: Sergio Rebollo, Lisbeth Rebollo Gonçalves, Antonio Gonçalves de Oliveira e Olívio Tavares de Araújo.

 

Primeira individual em São Paulo

07/mar

 

 

Primeira individual em São Paulo

 

A Galeria BASE, Jardim Paulista, SP, abre sua agenda com a primeira individual, em circuito cultural, do artista plástico Guilherme Almeida – “Este sorriso que em mim emana”, com 35 trabalhos que incluem um recorte da série “Destruição dos Mercados I”, com pinturas sobre jornal; “Destruição dos Mercados II e III”, com pinturas sobre tela, todos criados no período entre 2021 e 2022. A exceção fica por conta de “Calouros”, pintura de 2018, que abre a exposição. A curadoria é de Paulo Azeco e a coordenação artística de Daniel Maranhão.

 

“Este sorriso que em mim emana”, trecho de um poema de Carolina Maria de Jesus que nomeia a exposição, não surge de forma aleatória uma vez que o ‘sorriso’ ao qual se refere a autora sempre inspirou o artista: “Carolina é tudo que é meu trabalho. Ele é sobre isso, é o sorriso da vitória, aquele reflete e inspira as pessoas, aquele que tenta apagar mas um dia ele volta a ascender”. Suas pesquisas, que possuem como foco central sua experiência pessoal, oferecem o sorriso negro como uma arma contra os preconceitos pré-existentes arraigados na vivência diária dos povos. “Este Sorriso que Em Mim Emana”, é uma luz, é algo para falar sobre nós, nossa geração, a geração passada, conquistas e aprendizados”, explica o artista.

Segundo Paulo Azeco, “a exposição apresenta um paralelo interessante entre o caráter biográfico dos trabalhos e a representação de pessoas negras bastante conhecidas, vencedoras. A primeira obra da mostra, e única anterior a série, ajuda a compreender a prática do artista ao se valer da sua vivência para a criação do vocabulário estético. Apresenta jovens, assim como ele, transbordando alegria por entrarem na universidade pública.”

A série “Destruição de Mercados”, cuja pesquisa teve início em 2019, retrata diversas personalidades – Maju Coutinho, Emicida, Elza Soares, Mano Brown, Baco Exu do Blues, Basquiat, Dona Onete, Nath Finanças, Carolina Maria de Jesus, Daiane dos Santos, Viola Davis, dentre outros – que atingiram o sucesso em suas áreas de atuação e, com a sensibilidade de Guilherme Almeida, são retratados com “sorrisos” preenchidos com ouro e prata. Em “Destruição de Mercados I”, “a série de retratos sobre jornal, a maior e principal pintura é um retrato orgulhoso de sua família, ecoando gratidão. Todos os outros são figuras que o artista considera como inspiração, os que representam que é possível sim um negro ser vitorioso e bem-sucedido em todas as áreas” aponta o curador.

Sobre o processo de criação da série, em uma primeira etapa, as pinturas são executadas sobre jornal e nas subsequentes o artista retorna às telas, suporte utilizado anteriormente quando seu tema ainda era ligado ao abstracionismo. Quando abstrato, Guilherme era ligado às formas e cores. A pintura nunca é única. As tintas lançadas sobre o suporte escolhido são em várias camadas, tinta sobreposta a tinta, cor sobreposta a cor. O artista trabalha com contrastes tanto na escolha das cores como nos materiais escolhidos: “a cor mais clara brigando com a mais escura; do suporte barato com a tinta mais valorizada e assim vou construindo”, explica.

Guilherme Almeida é um artista que se sustenta de apontamentos advindos de sua própria visualidade do mundo e das pessoas que o habitam. Suas lembranças pessoais e alguns registros fotográficos como apoio são a base de suas criações. Não há rascunho. Algumas palavras são colocadas no papel para conduzir o tema e ele começa a pintar. O processo é ágil, rápido, com mais frescor, onde o tema é lapidado através da repetição onde nascem as séries. A pintura nunca é única.

O fazer arte para Guilherme Almeida possui metas e direcionamentos. Posicionar-se antecipadamente em relação a mensagem que seu trabalho vai transmitir é de suma importância. Ele tem plena consciência de que, mesmo não sendo um posicionamento novo, é diferente do que é esperado de um artista negro nas artes visuais: “eu quero falar das nossas vidas, coisas boas e ruins, mas de uma forma que traga o meu igual para revigorar, que levante a cabeça, que destrua as amarras’.

“A Arte Contemporânea muda conforme seu tempo. Hoje o que está em voga (e as vezes fazem parecer que é até moda) é falar sobre as minorias, questões raciais, de gênero e sociais, como diria no melhor dialeto, “tá na boca do povo”. O que eu estou fazendo, simplesmente, é falar sobre mim, falar do que faço parte. Meu trabalho é verdade. Não sei se servirá para sempre para a Arte…” Guilherme Almeida

“Guilherme entendeu desde sempre, na sua família, que apesar da forma modesta que eles viviam, é possível sonhar e é possível ser feliz. E essa exposição transborda sorrisos e vitórias mesmo quando se chocam com feridas escravocratas ainda abertas. O conjunto aqui apresentado é de força criativa e estética únicos, mas acima de tudo é um ato revolucionário.” Paulo Azeco

 
Poeta, por que choras?

Que triste melancolia.

É que minh’alma ignora

O esplendor da alegria.

Este sorriso que em mim emana,

A minha própria alma engana

Carolina Maria de Jesus

 

Sobre o  artista

 

Guilherme Almeida nasceu em Salvador, BA, 2000, cidade onde vive e trabalha. Graduado em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), conduz sua produção em narrativas que evidenciam a composição do corpo negro no contexto contemporâneo. Morador do bairro Uruguay, periferia de Salvador, sua produção recente é influenciada pela vida urbana e pela cultura POP, em especial o hip-hop. Desenvolve pinturas e trabalhos tridimensionais em suportes não convencionais como jornal, Eucatex e outros refugos. Seu discurso urgente e firmado, no cotidiano, produz imagens nas quais o corpo está repleto de poder e autonomia. Desde 2017 já participou de várias mostras coletivas e intervenções artísticas no Brasil e no exterior.

 

De 15 de março a 23 de abril.

 

Jorge Macchi na Luisa Strina

24/fev

 

 

Reunindo um conjunto de obras de Jorge Macchi, artista argentino, “A estatura da liberdade” fica em cartaz até 19 de março na Galeria Luisa Strina, São Paulo e busca uma experiência que subverta a lógica cotidiana e vá além do palavrório conceitual.

Sem direção definida e objetivo claro, uma pequena mala sobre rodas percorre sozinha a galeria. Colidindo com obras, paredes e visitantes, altera seu rumo a cada obstáculo – como um protozoário, que diante de um estímulo reage de forma primária, afastando-se ou aproximando-se. Trata-se de La estrategia de la ameba (A estratégia da ameba, em tradução livre), de Jorge Macchi. Para o artista argentino, a instalação permite, de forma grotesca e bem-humorada, que a aparente diversidade das peças expostas seja “ridiculamente homogeneizada” na mostra A estatura da liberdade, que entrou em cartaz no último dia 9 de fevereiro na Galeria Luisa Strina em São Paulo.

Os trabalhos, feitos em diferentes materiais e com características distintas, parecem reunidos como em um livro de contos, em que cada obra é independente. A maleta automatizada se apresenta como um “objeto voraz e obstinado, que circula criando relações sempre novas entre as peças”, aponta Macchi. Assim, ela corrobora com a intenção primeira do artista: “Que se perceba um rio subterrâneo que perpassa todos os objetos”, conectando-os de alguma forma.

Porém, talvez não seja possível dar nome a esse rio, colocar essa suposta unidade em palavras. “Geralmente, acham que um artista tem que explicar o seu trabalho, mas estamos falando em outra linguagem: a visual. Não é possível traduzir”, explica o argentino. Tal qual La estrategia de la ameba, percorremos a exposição, criando possíveis relações entre as obras e tentando compreendê-las a partir de sua linguagem primeira, ao invés de defini-las numa tentativa de tradução. “Os statements [essas descrições explicativas], tortura a que somos submetidos diariamente em todo o mundo, são tentativas inúteis de simplificar ao extremo a criação artística para torná-la mais acessível. Acho que são pílulas anti-ansiedade que acalmam o espectador, mas roubam a complexidade do evento artístico”, desabafa Macchi; e complementa: “Diante disso, digo que não há como determinar e delimitar a poética. Pode-se sentir que há algo, mesmo que não se possa colocar em palavras. Meu desejo é que o conjunto de obras que compõem esta exposição nos permita perceber aquele fio ou aquele rio que aparentemente não está ali”.

A estatu(r)a da liberdade

Caminhando pela galeria, nos deparamos com diversos objetos que podem aludir à realidade, mas que de alguma forma a alteram. A série Confésion (Confissão, em tradução livre) traz duas caixas de papelão, que antes armazenavam smart TVs e agora estão vazias, cujas superfícies apresentam padrões de cruz que remetem aos confessionários religiosos. Em Debajo de la mesa (Debaixo da mesa), seis mesas de madeira são conectadas por seus pés, criando um espaço central vazio – consequentemente, o título passa a se referir a uma posição que não existe, já que não há mais “debaixo da mesa”, mas sim o centro de um objeto escultórico. Todas las palabras del mundo (Todas as palavras do mundo) é uma parede sem tijolos, em que só resta o cimento que os mantinha unidos, e cuja forma remete ao formato de um teclado de computador.

Apesar da preferência de Jorge Macchi por não estabelecer uma relação rígida entre o título e a mostra, há nessas alterações do real uma relação. Como ele próprio destaca em entrevista à arte!brasileiros: “Há algo na criação deste título que me interessa: como a adição de uma única letra transforma um objeto (A Estátua da Liberdade) em um conceito (a estatura da liberdade). As obras partem da premissa de introduzir mudanças muito pequenas na realidade e, assim, perturbar a forma como a percebemos ou entendemos”. O artista também acredita que o título possa ser visto como uma referência distante a O Fantasma da Liberdade, do diretor de cinema Luis Buñuel. “O filme é uma sucessão de situações aparentemente independentes, caprichosamente ligadas por um personagem ou uma situação, e cujo resultado é um violento ataque à lógica cotidiana.”

Seguindo essa proposta, diversas das obras parecem suscitar as ideias de presença e ausência, permanência e efemeridade. Se na série Presente estruturas feitas de haste de aço reproduzem as dobras de um papel que em algum momento embrulhou uma caixa – que está ausente -, Acorde nos remete simultaneamente à permanência e a efemeridade, ao que reproduz um teclado de piano em que uma sequência de teclas pressionadas congelam o momento de execução de um acorde de sol menor, “cujo som já se desvaneceu, ou cujo som permanece e, justamente sua permanência o torna inaudível”, conforme explica o texto de apresentação da galeria.

No corredor ao fundo da galeria encontramos ainda uma série de aquarelas. Segundo Macchi, elas são o começo da criação artística. “Se uma imagem surge através de uma experiência urbana, ou de um simples desenho, ou de uma memória, a primeira coisa que penso é como ela pode se materializar.” As pinturas são a atitude mais imediata, a ideia diretamente transposta para o papel. Ao que o artista busca uma forma de melhor comunicar essas imagens e extrair suas maiores riquezas, muitas acabam por gerar outra peça, em um suporte diverso. “Se me prendesse a uma técnica ou a um material, deixaria de lado essa premissa”. Isso agrega certa heterogeneidade não só a essa exposição, mas a seu corpo de obras como um todo. “Em geral, não gosto de reconhecer um artista vendo apenas uma obra. Sou contra a ideia de estilo”, conclui Macchi.

 

Fonte: Giulia Garcia para Arte Brasileiros!