Interseção entre meios artísticos.

18/set

Em “Primavera em Quatro Atos” reúne arte, moda e design em celebração à estação e exibindo a convergência entre pintura, joalheria, moda e arte floral.

A exposição “Primavera em Quatro Atos” exibe as artistas Joana Pacheco e Carolina Lavoisier, com a participação de Camila Luz e Bia a Florista na Art Lab Gallery, Vila Madalena, São Paulo, SP. Com curadoria de Juliana Mônaco, o evento explora a interseção entre pintura, design de joias, moda e arte floral. A mostra estará aberta à visitação de 24 de setembro a 5 de outubro.

A curadora Juliana Mônaco explica que o conceito central da exposição é a sinergia entre diferentes vertentes artísticas que, ao se unirem, evocam a chegada da primavera. Para a curadora, a pluralidade de estilos e técnicas presentes nas obras reflete a diversidade da estação, em que cores, texturas e formas se entrelaçam em harmonia.

Joana Pacheco apresenta joias autorais que traduzem a sensibilidade da natureza em peças que variam entre brincos, braceletes, colares e anéis. Seu processo criativo, fortemente influenciado por elementos naturais, é marcado pela escultura em cera e fundição em metal. Joana, que começou a produzir joias durante a pandemia, destaca que suas criações são uma forma de ressignificar o cotidiano, buscando nas formas da natureza uma beleza muitas vezes não percebida. Sua obra resgata técnicas ancestrais de ourivesaria e propõe uma reflexão sobre o futuro a partir de práticas do passado, como a criação de abelhas, tema presente em suas peças mais recentes.

Carolina Lavoisier traz uma série de aquarelas que exploram a transição e a fluidez das cores. Segundo a artista, o degradê presente em suas obras reflete as mudanças emocionais e os ciclos de vida, em um processo contínuo de transformação. Para Lavoisier, sua intenção é que o espectador experimente uma imersão sensorial, dissolvendo as fronteiras entre o visível e o invisível. Suas pinturas dialogam com o panorama da arte contemporânea ao explorar o abstrato e a emoção por meio de tonalidades que se desdobram em nuances sutis.

A estilista Camila Luz, contribui com dois vestidos que integram o universo da moda à exposição. Com 18 anos de experiência no mercado, é reconhecida por suas criações que transmitem sensibilidade e cuidado com os detalhes. Na exposição, seus vestidos se conectam ao trabalho de design de jóias de Joana Pacheco, criando uma composição única que celebra a arte em diferentes formatos.

A contribuição de Bia a Florista, conhecida por seu trabalho com design floral autoral, encerra o ciclo da exposição. Inspirada na sustentabilidade, transforma flores e plantas em verdadeiras obras de arte, celebrando a efemeridade e a vitalidade da natureza. Suas instalações florais complementam os outros atos da exposição, criando uma atmosfera que convida o público a refletir sobre a relação entre o humano e o natural.

A exposição “Primavera em Quatro Atos” representa um convite para que se explorem as diferentes formas de arte que se conectam na celebração da primavera, com cada ato destacando a relação das artistas com a natureza e sua capacidade de transpor o belo para o campo da criação artística.

Novo livro de Victor Arruda.

17/set

A galeria Almeida & Dale, Rua Caconde, 152, Jardins, São Paulo, SP, anuncia o lançamento do livro Victor Arruda. No próximo sábado, 21 de setembro, das 11h às 16h, será lançado o livro que reúne mais de 100 obras nunca registradas ou impressas de Victor Arruda. Às 12h haverá uma conversa entre o artista e a organizadora Nathalia Lavigne, seguida de uma sessão de autógrafos. Com tiragem de 2 mil exemplares, o livro traz ensaios críticos, poemas de Kátia Maciel, e a reprodução de uma conversa entre Victor Arruda e Daniel Senise. O evento é gratuito e aberto ao público.

Este projeto foi realizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura / Lei Rouanet, com patrocínio da Porto e da Almeida & Dale. Realização – Espaço CC, Instituto TeArt, Ministério da Cultura e Governo Federal.

A Amazônia vista por Aguilar.

16/set

Com curadoria de Fabio Magalhães, a exposição apresenta 31 telas e a instalação “Guardiões das Águas”, no espaço DAN Galeria Interior em Votorantin, São Paulo, SP, espaço que abrange obras de grandes formatos e que funciona como um espaço mediador entre o interior e a capital. O artista José Roberto Aguilar explora a Amazônia com suas dimensões físicas e simbólicas por meio da linguagem da pintura. Suas telas retratam a floresta como uma entidade viva, cheia de cor e movimento. “Amazônia Vida” discute a relação entre natureza e humanidade, os ciclos da vida, o conceito de tempo e impermanência.

“Tentar categorizar a arte de Aguilar é correr atrás do vento”, escreve Leonor Amarante.

José Roberto Aguilar entrou na cena artística brasileira no início dos anos 1960, quando foi selecionado para participar com três pinturas na VII Bienal São Paulo. A partir daí integra as mais importantes manifestações artísticas do país. Seus trabalhos e intervenções ao longo de seis décadas vão desde a pintura – passando por videoarte, videoinstalação, performances – à liderança da Banda Performática. Participou de várias edições da Bienal de Arte de São Paulo e realizou inúmeras exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior – Japão, Paris, Londres, Estados Unidos e Alemanha. Suas pinturas estão presentes no acervo de museus no Brasil e no exterior (Museu de Arte Moderna – Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea – São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea – Niterói, Museu de Arte Brasileira – SP, Hara Museum-Japan, Austin Museum of Art-US e também integram importantes coleções particulares como Gilberto Chateaubriand, João Sattamini, Haron Cohen, Greg Ryan, Joaquim Esteves, Jovelino Mineiro, Miguel Chaia, Roger Wright, Ricardo Akagawa, João Carlos Ferraz entre outros.

Em meados nos anos 1990 tornou-se diretor da Casa das Rosas, dinamizando aquele espaço cultural com grandes exposições sobre cultura brasileira (1996-2002) e iniciativas pioneiras com arte e tecnologia. O seu trabalho como gestor cultural fez com que fosse convidado pelo então Ministro da Cultura, Gilberto Gil, para ser o representante do Ministério da Cultura em São Paulo (2004-2007). Atualmente, Aguilar concentra em seu acervo importantes obras e documentos da história da arte e da cultura no Brasil. Compreende quadros, instalações, fotografias, documentos, livros, entre outros. Para o curador, “Aguilar sempre pintou como um lutador. O embate entre tintas e tela e a coreografia gestual, são atores importantes na construção da sua poética visual”. Desde 2004, o artista se divide entre São Paulo e Alter do Chão, no Pará, onde mantém casa ateliê e uma forte relação com a Floresta Amazônica e a comunidade ribeirinha local. “O bioma amazônico acende uma nova poética no meu trabalho, onde as forças indomáveis ​​da floresta tropical confrontam a sensibilidade urbana. Em Alter do Chão, mergulho na vastidão do ecossistema amazônico, onde a luz de cada manhã e o matiz de cada pôr do sol revelam a vida oculta da floresta”.

“Como diretora da DAN Galeria Interior, é uma grande honra poder produzir a exposição “Amazônia Vida” de José Roberto Aguilar. Esta exposição, que conta com curadoria de Fabio Magalhães, inaugura a representação do artista pela galeria. O trabalho de Aguilar continua a ser relevante e influente na arte contemporânea assim como seu espírito inovador que deixou uma marca indelével no cenário artístico brasileiro. A curadoria sensível de Magalhães conseguiu comprovar porque Aguilar é uma figura central na história da arte brasileira, atravessando o tempo com mais de cinco décadas de produção artística.” – Cristina Delanhesi.

Até 14 de janeiro de 2025.

Anunciando Dashiell Manley.

12/set

A Simões de Assis, São Paulo, Curitiba, Balneário Camboriú, anuncia a representação do artista Dashiell Manley, baseado em Los Angeles, em colaboração com Jessica Silverman e Marianne Boesky. Conhecido por suas obras que exploram a interseção entre pintura, escultura e vídeo, Dashiell Manley investiga temas como tempo, narrativa e a materialidade da imagem.

O artista possui obras em acervos importantes como The Hammer Museum, JPMorgan Chase Art Collection; Los Angeles County Museum of Art; Museum of Contemporary Art, Los Angeles; Palm Springs Art Museum, Pomona College Museum of Art e Santa Barbara Museum of Art.

Aniversário da galeria A Gentil Carioca.

A sempre muito aguardada festa de aniversário da galeria A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, contará com a abertura de três exposições simultâneas, o lançamento de duas Paredes Gentil e da nova Camisa Educação. “ENTRA PRA DENTRO”, a exposição individual do artista plástico carioca Miguel Afa, ocupará, no dia 21 de setembro, todo o prédio 17 com aproximadamente 30 pinturas inéditas e uma instalação site specific, enquanto o prédio 11 será dividido em dois ambientes instalativos com obras de Marcela Cantuária e Rodrigo Torres. O evento terá ainda o lançamento das Paredes nos 41 e 42, com intervenções de Jarbas Lopes e Cabelo, e a edição no 90 da Camisa Educação, concebida pelas artistas convidadas Iah Bahia e Siwaju Lima. O tradicional bolo de aniversário surpresa ficará a cargo do coletivo OPAVIVARÁ!. Já a festa na encruzilhada será comandada pelos DJs Ademar Britto, Letgabs e João Penoni, com a participação especial de Vivian Caccuri.

Campanha Arte Para o Bem.

11/set

Le Lis e Galeria Nara Roesler lançam edição limitada de camisetas em parceria com artistas renomados para apoiar o Instituto Protea na luta contra o câncer. O projeto “Arte Para o Bem” une moda e arte em 600 camisetas exclusivas, com estampas de Bruno Danley, Cristina Canale, Laura Vinci e Maria Klabin, cujo lucro das vendas será 100% revertido à ONG, que atua na prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de mama.

A Le Lis, marca da empresa Veste S.A. Estilo, se une à Galeria Nara Roesler para apresentar o projeto “Arte Para o Bem”, do Instituto Protea, ONG que já custeou mais de 80 mil sessões de quimioterapia e radioterapia, além de consultas e exames, e onde mais de 1800 mulheres tiveram acesso ao tratamento completo contra o câncer de mama. A parceria conta com camisetas estampadas com as obras de quatro artistas consagrados. Ao todo, são 600 peças, sendo 150 unidades para cada desenho, e o lucro da venda desta edição limitada será 100% revertido para a instituição.

Os modelos exclusivos serão apresentados no dia 12 de setembro, na Galeria Nara Roesler, em São Paulo. Durante o evento, além da venda das peças, haverá uma mostra com trabalhos de cada um dos artistas. Após esta data, as camisetas também serão vendidas no e-commerce da Le Lis e na loja da marca no Shopping Iguatemi São Paulo.

Nara Roesler, fundadora da galeria de mesmo nome, conta que apoia o Protea desde sua fundação, quando conheceu Gabriella, que estava tratando de um câncer na mama. “Essa iniciativa me emocionou, pois sei o quão fundamental é iniciar o tratamento o quanto antes. Muitas mulheres não têm acesso ao atendimento preventivo, porque os serviços públicos não conseguem a agilidade necessária”, diz a empresária, que pontua a iniciativa como uma oportunidade para o público da marca de fazer algo para que outras pessoas se curem com mais rapidez.

Profundidade cultural e religiosa.

O artista visual Tiago Aguiar explora a devoção e celebração da Festa do Rosário em sua primeira mostra individual na Uncool Gallery. A exposição “Rusá: BraSilian Devotion and Celebration” destaca a complexidade da identidade brasileira através da fotografia relacional e da foto-instalação, sob o olhar do artista e congadeiro mineiro.

A Uncool Gallery, Brooklym, NY, exibe “Rusá: BraSilian Devotion and Celebration”, do artista visual, fotógrafo e congadeiro brasileiro Tiago Aguiar que estará em exibição até 05 de outubro. Esta mostra individual do artista na galeria, onde assume não apenas o papel de criador, mas também de curador, transformando a galeria em um espaço que reflete a profundidade cultural e religiosa da Festa do Rosário, celebrada anualmente em Serro, Minas Gerais.

“Rusá: BraSilian Devotion and Celebration” investiga a complexa tapeçaria cultural da festa, que é reconhecida pelo IPHAN como patrimônio histórico e artístico do Brasil. Através de um enfoque etnográfico reverso, Tiago Aguiar utiliza a fotografia relacional para valorizar as identidades individuais dentro do coletivo, destacando aqueles que, fora do contexto da festa, são frequentemente marginalizados. Sua abordagem transforma o festival em um espaço de criação, onde a construção das imagens não só documenta, mas também honra a tradição e reconhece o sagrado manifestado durante a celebração.

A exposição “Rusá: BraSilian Devotion and Celebration” reúne um conjunto de obras criadas desde 2016, divididas em três temas centrais: Dançantes, Caravana e Quermesse. Em Dançantes, apresenta retratos íntimos dos congadeiros capturados em um estúdio improvisado, revelando detalhes pessoais e peculiaridades que passam despercebidos em contextos coletivos. Já em Quermesse, o artista revisita a tradição dos fotógrafos de festas populares, retratando os frequentadores em um estúdio temporário montado no largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Caravana, por sua vez, examina o papel dos barraqueiros itinerantes, cujas barracas temporárias são parte essencial do cenário festivo, mas cujas histórias muitas vezes permanecem invisíveis. A mostra também inclui elementos instalativos, como grandes impressões em lona e monóculos com slides que remetem às práticas fotográficas tradicionais, criando uma conexão mais orgânica com o contexto da celebração. Ao construir laços comunitários e permitir maior autonomia dos retratados na produção das imagens, Tiago Aguiar questiona as convenções tradicionais da criação fotográfica, criando um espaço de respeito e comunidade.

O trabalho de Tiago Aguiar pode ser compreendido dentro da reversão da tradição da fotografia etnográfica, mas também dialoga com movimentos contemporâneos de arte relacional e crítica cultural. Sua prática se insere em um cenário mais amplo de artistas brasileiros que exploram a interseção entre cultura popular e arte contemporânea, trazendo à tona questões sobre identidade, memória e a evolução das tradições no Brasil. Em Nova York, a exposição oferece ao público uma rara oportunidade de experimentar uma perspectiva interna e intimista da cultura brasileira, em um contexto que frequentemente privilegia visões externas e generalizadas do Brasil.

Sobre o artista

Tiago Aguiar (1989, Serro, Brasil) Vive e trabalha entre Belo Horizonte, BR, e Cape Cod, EUA. Bacharel em Artes Plásticas pela Escola Guignard (MG) e com especialização em fotografia pelo Hallmark Institute of Photography (EUA), começou sua carreira na fotografia comercial, mas rapidamente direcionou seu foco para a pesquisa artística e cultural. Sua investigação sobre a Festa do Rosário começou em 2010. Entre suas realizações estão a exposição individual “Rusá” (Belo Horizonte, 2017) e a participação na residência IA Ouro Preto (2022), além de ser finalista do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger (2017).

A galeria

Uncool Gallery é um espaço gerido por meios próprios com  um conselho de  membros, seguindo um modelo  único de autogestão. Esse conselho decide  ativamente sobre os projetos, posicionamento, parcerias da galeria. A Uncool Gallery é estruturada como  uma  LLC, garantindo verdadeira independência em sua  governança. O compromisso impar da  galeria  em fomentar conexões significativas e  impulsionar projetos colaborativos está no centro de sua filosofia. Com o posicionamento estratégico em frente ao Brooklyn Navy Yard, a galeria  serve como um centro dinâmico para a expressão e exposição artística.

A leveza da arte de Gianguido Bonfanti.

06/set

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, anuncia a Exposição Gianguido Bonfanti, que estará aberta ao público de 14 de setembro a 05 de outubro. A  mostra individual traz 30 obras de um Gianguido Bonfanti maduro com uma abordagem que opta pela leveza da arte sem drama. Além das pinturas, a exposição conta também com esculturas, desenhos e um conjunto de cerâmicas-instalações. Algumas dessas cerâmicas serão apresentadas em um livro-objeto, que será lançado durante o período do evento. A edição especial e limitada foi idealizada por Alberto Saraiva e criada por Claudia Gamboa e Ney Valle (Dupla Design), a partir das cerâmicas expostas por Bonfanti no Parque Lage em 2023. A curadoria da exposição é de Evandro Carneiro.

Sobre o artista:

“As obras que transcendem o tempo, transcendem porque têm a ordem cósmica dentro delas. Nós somos estruturados pela ordem cósmica, tanto na matéria quanto no espírito, na energia. Quando há esse mergulho profundo, há um encontro com a origem e, então, se pinta determinado pela ordem cósmica. Ao mesmo tempo tingindo a obra com a singularidade do artista e com o momento histórico. São três elementos que entram aí: o singular, o histórico e o eterno, o cósmico, as leis do Universo. Eu acho que as grandes obras transcendem o momento histórico delas porque foram estruturadas pela lei universal. Então elas não têm tempo, são atemporais.” (Bonfanti, 2024, em conversa oral com a autora).

Gianguido Bonfanti nasceu em São Paulo, no seio de uma família italiana, em 1948. Dois anos depois, seus pais voltam a residir no Rio de Janeiro, onde já haviam morado, desde que chegaram ao Brasil. Em 1962, ainda adolescente, o artista se torna aluno de Poty Lazzarotto, amigo de seu pai, e inicia o seu aprendizado artístico. Após cinco anos, já expunha na Galeria Santa Rosa, RJ, junto com outros jovens artistas. No ano seguinte entra para a Faculdade de Arquitetura da UFRJ. Em 1971 pede transferência do curso de arquitetura para a Faculdade de Arquitetura de Roma, mas chegando lá, passa a frequentar com entusiasmo a Academia dei Belle Arti, matriculando-se nos cursos de modelo vivo e gravura. Ainda nesta viagem à Itália, uma exposição de gravuras de Pablo Picasso o impacta irreversivelmente. Gianguido decide, então, viver da e para a arte. Em seu retorno ao Brasil (1973), expõe no Centro Cultural Lume, RJ, a sua primeira individual, com desenhos produzidos em Roma e se aprofunda no aprendizado da gravura, com Marília Rodrigues na EAB – Escolinha de Arte do Brasil. Em 1974 realiza a mostra Desenhos de G. Bonfanti no Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, PR, e conquista vários prêmios, dentre os quais, as primeiras colocações nos Salões de Arte Moderna do Rio de Janeiro e Paranaense, no Concurso Nacional de Artes Plásticas, todos na categoria desenho. Sua obra era, então, bastante inspirada pela estética medieval europeia, quase como num sopro de outras vidas, mas também continha vestígios de uma experiência passada há pouco tempo: o velejo. Figuras bestiais amarradas umas às outras e se controlando mutuamente, ora humanos e ora animais, convivem em cenas quase sempre fantásticas.  Nesses desenhos, as amarras são claramente os mecanismos da vela, memórias de quando Gianguido participava ativamente de regatas, em sua adolescência e tenra juventude, e vivia a vida no mar.  Ainda durante a década de 1970, sob a influência do mestre Poty, trabalha ilustrando livros, jornais e revistas. Ao mesmo tempo, passa a integrar o seleto grupo de professores da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, dando aulas de gravura e fotogravura na gestão revolucionária de Rubens Gerchman. Era uma época de efervescência cultural e política, dentro e fora da EAV. E de muito trabalho para Bonfanti que, além de professor e artista, passou a realizar pesquisas ontológicas, por meio da fotografia, no Instituto de Doenças Tropicais da Av. Presidente Vargas, a partir do que compõe “gravuras que são reproduções fiéis dos slides que consegui com os médicos” (Bonfanti, 2024, em conversa oral com a autora). No mesmo período analisa cadáveres da Escola de Medicina da URFJ, na Frei Caneca. Essas experiências significaram um olhar aprofundado às doenças do ser humano. Não de cada um daqueles sujeitos retratados, mas um estudo sobre a doença e a possibilidade da cura. Um tipo de catarse ao passar por anos sofridos. Esse viés realista e angustiante sobre a humanidade se perpetua em fases seguintes de sua obra, mas com linguagens totalmente diferentes. Ao findar a década de 1970, Bonfanti já se tornara um exímio gravador e recebe prêmios de gravura em mostras e salões. Sua obra nesse período apresenta certa continuidade com a fase anterior. Desenhos e gravuras têm temáticas e cenas semelhantes. O fundo branco vai sendo mais utilizado e as figuras vão, aos poucos, se tornando menos desenhadas e mais expressivas, já prenunciando as fantasmagorias vindouras em suas telas e a opção pela pintura. Os anos 1980 iniciam um movimento de reviravolta na vida do artista: ele começa a pintar com pastel seco e tinta a óleo, passa a lecionar gravura também na PUC-Rio e ali conhece Marisa, sua esposa até hoje e mãe de suas filhas. Inspiração maior que o amor não há! Ao decidir-se pela pintura, buscou aprender com os restauradores, procurando referências no melhor do métier: Edson Motta Filho e Marilka Mendes, a fim de conhecer tudo o que se podia sobre as tintas e os suportes. Afinal, como se nota na epígrafe escolhida para esse texto, a preocupação com a conservação de uma obra de arte se liga ao tempo da longa duração e da permanência histórica. Não que seja este o objetivo, mas há esta preocupação em preparar cuidadosamente a tela sobre a qual, depois de alguma espera, o artista irá derramar a sua energia, gerando um movimento cósmico. “O pintor tem por obrigação conhecer, profundamente, os materiais e seus comportamentos. Estabelecer um diálogo íntimo, mais que isso, um encontro com seus instrumentos de trabalho, num respeito referencial aos mesmos. É dessa cumplicidade que ele obterá os melhores resultados. Acredito num sacerdócio da pintura.” (Bonfanti in Coutinho, Wilson. Rio Artes no 23 – maio 1996, p. 11). Os anos 1990 são marcados pela pintura “vermelha”, como diz o próprio artista, em que sua obra é pura expressão e densidade. As tintas se revelam e se avolumam nas enormes telas magentas. Daí as associações feitas com a Escola Inglesa (Lucien Freud, Frank Auerbach e Francis Bacon) e, também, com o brasileiro Iberê Camargo. Bonfanti mesmo confessa que quando conheceu a obra de Auerbach, em Nova Iorque, 1996, ficou “chocado” (Francis Gibson, M. in Bonfanti, 2005, p. 99). Frederico Morais chamou atenção para o erotismo dessa fase (Morais, 1996 – Catálogo da Exposição do MAM-RJ).Sem dúvida há falos monstruosos e cenas com conotação sexual. Porém, toda a meditação ontológica se junta à matéria artística, ao gesto, à energia do artista. A sua pintura transcende ao desejo subjetivo. O carnal aí não é egóico, mas transcendental. “Mas a pintura vibrante de Bonfanti escapa tanto da hipervisibilidade do obsceno, quanto do vazio ou da inautenticidade do pornográfico. Em primeiro lugar, porque, o que vemos nesses quadros é o ato sexual levado ao clímax da religiosidade. Por um momento, revejo numas telas o esquema formal da Pietá de Villeneuve, pressinto noutras, o êxtase sexual igualando-se ao êxtase místico”. (Morais, 1996, p. 3). A passagem dos anos 1990 para os 2000 vai do vermelho ao ocre e passa “do dois ao três” na dialética das personagens, mas também tendo em mente o que o artista diz na epígrafe deste texto: “São três elementos que entram aí: o singular, o histórico e o eterno, o cósmico” (Bonfanti, 2024). Os temas não variam tanto: as cenas continuam a expressar o drama humano e se repetem muito, com gravidade e urgência, num jogo de latências e ardências em que os sujeitos se observam e tentam curar-se, repetidamente. É como se a sua pesquisa ontológica tivesse chegado ao clímax da reflexão acerca da experiência histórica e precisasse de uma pausa. Quase uma parada no tempo cronológico, um páthos pela humanidade, na fundação de um tempo mítico. “No que se refere aos autorretratos e às cenas com dois ou três personagens, a própria repetição os aprofunda, e os eleva ao nível do mito, isto é, ao nível em que não é possível deixar de acolhê-los como mitos. Tal repetição, com efeito, é uma atividade ritual, e o ritual, uma vez percebido como tal, pressupõe uma explicação mítica, que nos incomoda, quando não lhe atribuímos.” (Francis Gibson, M. in Bonfanti, 2005, p. 99). Assim entendidas como míticas, as cenas densas e fantasmagóricas já não incomodam, mas transcendem. Talvez por isso, a década de 2020 seja caracterizada pela retirada da cena na pintura de Gianguido: “Eu fiz um grande esforço no passar dos anos para abandonar as cenas, para me concentrar mais na pintura em si. Porque a cena é sempre uma leitura de uma situação humana, e eu estou tentando fugir da história, fugir da cena. É o que estou tentando com a minha pintura nos últimos anos. Me concentrar na pintura, para ela se apresentar em si.” (Bonfanti, 2024, em conversa com a autora). A exposição da Galeria Evandro Carneiro traz 30 obras de um Gianguido Bonfanti maduro e decidido pela leveza da arte sem drama. Sua pintura se apresenta, suave, em contornos mais coloridos e formas cheias de energia. O branco no fundo retorna como em seus desenhos iniciais. Autorretratos ou não, os rostos e linhas são alegóricos. Atingem um tempo universal.  Há, ainda, na mostra, esculturas e desenhos. Um conjunto de cerâmicas-instalações compõem também a coleção ora apresentada e algumas delas são encaixadas no livro-objeto que é lançado na mesma ocasião do evento. Uma edição primorosa e limitada, idealizada por Alberto Saraiva e criado por Claudia Gamboa e Ney Valle (Dupla Design), a partir das cerâmicas da exposição do artista no Parque Lage, em 2023. A publicação e a mostra de Gianguido Bonfanti não podem ser perdidas.

Laura Olivieri Carneiro.

Agosto de 2024

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Um olhar arqueológico

O artista plástico Osvaldo Carvalho inaugurou a individual “Aspectos de uma cidade” no Ateliê 31, Centro do Rio de Janeiro. A mostra reúne 25 pinturas em dimensões diversas, produzidas após o período pandêmico.

A exposição com curadoria de Shannon Botelho, propõe um mergulho na complexidade do espaço urbano e suas dinâmicas cotidianas. Com um olhar arqueológico sobre o tempo presente, a pesquisa do artista explora as estruturas sociais e os conflitos diários que moldam a vida nas cidades. Através de suas pinturas, Osvaldo Carvalho captura o aqui e o agora em um contexto onde virtualidades, algoritmos e fragmentos coexistem. Suas obras, ricas em cores, figuras e contrastes, refletem as tensões e rupturas da vida urbana, convidando o público a refletir sobre o que permanece e o que está por vir.

Em sua recente pesquisa, Osvaldo Carvalho se debruça sobre imagens e referências da cultura e da cidade, explorando o vocabulário visual contemporâneo e as contradições de um imaginário moldado por ideologias, conflitos e poder. Fragmentos de cenas, situações e detalhes do cotidiano emergem como expressão de uma prática artística que desafia e ressignifica o olhar sobre a cidade. “Aspectos de uma cidade” apresenta um conjunto representativo do seu trabalho. “A problematização dos ‘lugares comuns’ das cenas prosaicas, experimentadas no dia a dia, é uma constante nos trabalhos que abordam, cada qual a seu modo, as peculiaridades de uma cidade tão complexa e desigual, quanto sedutora e inebriante”, descreve Shannon Botelho.

As 25 pinturas exibidas na mostra fazem parte das cinco séries “Pequenas Dissensões”, “Caixas e Caixotes”, “Celebração”, “Empreendedores” e “Balada”. As duas primeiras “estabelecem uma problematização sobre os objetos-imagens com os quais lidamos diariamente, com um certo grau de ironia e problematização sobre a sua descartabilidade e multiplicidade, como em um libelo anti-pop”. Já nas séries seguintes, o artista “indica mais um aspecto da reflexão, desta vez, marcada pela violência e pela desigualdade social, agravadas pelo racismo estrutural que vigora não só em nossa cidade, mas também em todo país”, diz o curador.

A exposição propõe um campo de debate, onde a ironia das situações e dos contextos convida à reflexão sobre nossas condições de vida, nossas escolhas e as ações cotidianas que sustentam o status quo. Osvaldo Carvalho traz à tona sua perspectiva a partir da zona norte do Rio de Janeiro, abordando temas como desigualdade social e violência urbana, muitas vezes com referências diretas. Ele faz isso dentro do universo pictórico, consciente do ambiente saturado de imagens, e busca capturar a atenção do espectador com uma paleta marcante e composições que desafiam o olhar, criando conexões e sobreposições de elementos que provocam a reflexão e estão longe de serem acidentais. “Aspetos de uma Cidade”, funda-se como um lugar propício para nos encontrarmos com o tempo presente, revisitarmos o passado e desenharmos outro futuro, diferente do qual que desde agora avistamos”, conclui Shanon Botelho no texto curatorial.

Sobre o artista

Osvaldo Carvalho nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, RJ, em 1976. Pintor. Mestre em Poéticas Visuais (ECA-USP), inicia seus estudos artísticos no EAV- Parque Lage (Rio de Janeiro) e Museu do Ingá (Niterói), aprofundando sua pesquisa em 2000 com o Prêmio Interferências Urbanas. Seu olhar permeia signos do imaginário da cultura de massa, publicidade, objetos e interiores domésticos e uma reflexão sobre a paisagem pública e urbana. O artista questiona estruturas de poder, nas esferas micro e macro-políticas, em inúmeras séries desdobradas em linguagens como a pintura, desenho, escultura, fotografia e vídeo. Seu trabalho já foi visto na França, Bélgica, Suécia, Dinamarca, Portugal, Colômbia e ocupa acervos importantes como o do MARGS (Museu de Arte do Rio Grande do Sul), Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e Coleção SESC Amapá. Foi finalista do prêmio Marcantonio Vilaça em 2019, além de outros prêmios ao longo de sua carreira.

Até 04 de outubro.

A síntese da obra de Bob Wolfenson

05/set

A Galeria Mario Cohen, Jardim Europa, São Paulo, SP, apresenta em exibição a mostra “Instante Construído”, individual de Bob Wolfenson.

Ao longo de uma carreira, Bob Wolfenson, em mais de 50 anos se consolidou como um dos principais fotógrafos brasileiros. Transitando entre diversos gêneros, como fotografias autorais, retratos e editoriais de moda. Esta exposição apresenta uma síntese deste vasto percurso na fotografia.

Para J.R.Duran, que assina o texto crítico, “Bob Wolfenson sabe muito bem que a fotografia não é sobre a coisa fotografada; é sobre como aquela coisa aparece fotografada”. Nesta exposição, dentre o grande acervo de Bob Wolfenson, o foco está nas fotografias de moda. J. R. Duran também comenta que “As fotos de moda de Bob Wolfenson não saem de moda. É uma caraterística ímpar.” Para Bob Wolfenson, a fotografia de moda precisa de uma imersão, as sessões duram horas até chegar ao resultado esperado, a cena que se concretiza no que o artista chama de o “instante construído”.