A obra de Tunga representada em Londres.

11/abr

A Lisson, em Londres, UK, inaugurou a primeira exposição dedicada à obra de Tunga (1952-2016), desde que passou a representar o trabalho do artista, ao lado da Almeida & Dale, em setembro de 2024.

A exposição apresenta obras chave para compreender o desenvolvimento e transformação da poética e da mitologia que cercam o trabalho de Tunga. O percurso parte de suas primeiras esculturas, que mobilizavam a figura de marionetes e seus manipuladores, culminando em Morfológicas (2014), a última série realizada pelo artista e apresentada em 2016, na exposição Pálpebras, em São Paulo. São incluídas na mostra, também, obras que refletem o momento no qual Tunga passa a utilizar materiais como garrafas, cristais, âmbar e líquidos, complementando o uso do cobre, ferro e vidro em seus trabalhos.

A exposição expande a apreensão pelo público internacional do vasto vocabulário elaborado pelo artista ao longo de décadas, além de marcar um retorno de Tunga à capital inglesa, onde, em 1989, realizou sua seminal exposição Lezart, na Whitechapel Gallery.

Até 17 de maio.

As diferentes cores da terra.

09/abr

A Almeida & Dale, São Paulo, SP, anuncia a correpresentação da artista e pesquisadora Marlene Almeida (1942, Bananeiras, PB) em parceria com a galeria Marco Zero, de Recife.

Com uma prática interdisciplinar, Marlene Almeida combina conhecimentos literários, científicos e artísticos na investigação de um objeto comum à sua produção desde a década de 1970: a terra. Em expedições que realiza, a artista cataloga e armazena amostras de terras de diferentes cores e são guiadas por um projeto audaz: o Museu das Terras Brasileiras, que visa a identificação e estudo das cores encontradas em diferentes formações geológicas do território nacional. Em sua trajetória, Marlene Almeida também se nutriu de extensa atuação na militância ecológica e política. Nesse contexto, por exemplo, fundou e dirigiu o Centro de Artes Visuais Tambiá, onde durante uma década coordenou intercâmbios internacionais entre artistas, com destaque para os projetos desenvolvidos em parceria com a Alemanha.

Em maio deste ano, Marlene Almeida apresentará exposições individuais na Fondation Walter Leblanc, em Bruxelas, e na Carlos/Ishikawa, em Londres, que sucedem sua mostra na galeria Marco Zero, Recife, em 2024. Entre suas exposições recentes, estão: Paisagens temporais: perspectivas em evolução, Almeida & Dale (2024); 38º Panorama da Arte Brasileira, Mil graus, realizada pelo MAM São Paulo no MAC USP, São Paulo (2024); 2ª Bienal Internacional de Arte em Cerâmica de Jingdezhen, China (2023) e ROOTED – Brasilianische Künstlerinnen, Vilsmeier-Linhares, Munique, Alemanha (2024).

A produção de Carlos Zilio em retrospecto.

03/abr

 

Itaú Cultural, Avenida Paulista, São Paulo, SP,  apresenta exposição retrospectiva da obra de Carlos Zilio. Com mais de 100 peças, a mostra Carlos Zilio – a querela do Brasil se estende pelos três andares do espaço expositivo da instituição e percorre os vários tempos de sua vida, que marcaram o trabalho realizado pelo artista nos últimos 60 anos.

É a primeira retrospectiva do artista, nascido em 1944, no Rio de Janeiro. Com caráter cronológico, a mostra acompanha a sua produção de 1966 a 2022 definida por cada fase de sua vida. A exposição passa pelas diferentes etapas da obra do artista – entre técnicas, linguagens e suportes variados – e acompanha o desenvolvimento do trabalho iniciado com uma produção politizada, durante a Ditadura Militar, passando por trabalhos abstratos e de experimentação em uma reflexão sobre a identidade nacional e o Modernismo Brasileiro, até chegar ao vazio e à ausência. Exibe, ainda, cadernos de trabalho de Zilio, nunca antes expostos. Com concepção e realização do Itaú Cultural, curadoria de Paulo Miyada e projeto assinado por Fernanda Bárbara, do Escritório UNA barbara e valentim, a mostra fica em cartaz até 06 de julho.

“Carlos Zilio é um artista fundamental na arte contemporânea brasileira. Para entender seu trabalho artístico e intelectual, é preciso olhar para o contexto social, político e artístico no qual ele estava inserido”, observa Sofia Fan, gerente de Artes Visuais e Acervos do Itaú Cultural. “Esta exposição é uma oportunidade para que as pessoas possam se aprofundar em sua produção, tornando-a mais acessível para um público amplo e diverso. Os visitantes poderão compreender como ela se relaciona com a história recente do país e conhecer mais os diferentes movimentos artísticos com os quais o seu trabalho dialoga, da década de 1960 até hoje.”

“Esta não é uma exposição óbvia e a vejo coerente com o projeto do Itaú Cultural de valorizar a história da arte e de seus agentes que ajudaram a construir o Brasil de maneira mais autônoma”, comenta o curador Paulo Miyada, para quem Zilio é um artista-cidadão “obstinadamente inquieto ou inquietamente obstinado.”

Por suas grandes dimensões, a instalação Atensão (com “s”, mesmo), realizada em 1976, ocupa boa parte do piso 1. Composta de materiais de construção, como pedras, tijolos, cabos de aço, ripas de madeira, além de um metrônomo e uma bomba de compressão em metal, ela explora a tensão e a suspensão. A obra permite que o público transite por situações de equilíbrio precário, o que desafia a sua percepção.

No piso -1, que abrange as pinturas de Zilio dos anos 1990 a 2022, o público conhecerá os seus cadernos de trabalho inéditos. Eles facilitam a observação de algumas etapas do seu processo criativo e se conectam com os pensamentos e formas de fazer arte.

Descendo para o piso -2, onde está reunida a produção de 1960 a 1980, encontram-se obras significativas de sua carreira, como A Querela do Brasil (ou o diabo e o bom Deus). Acrílica sobre tela da coleção do artista, realizada entre 1979 e 1980, esta obra critica o Modernismo e os estereótipos da brasilidade. Nela – fruto da tese de doutorado A Querela do Brasil defendida na França, em 1970 -, Zilio aponta as influências culturais europeias, negras e indígenas na constituição da arte brasileira, a partir da análise das obras de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Portinari.

Lute, de 1967, é mais uma das obras emblemáticas de Carlos Zilio que está nesse andar. Trata-se de uma serigrafia sobre filme plástico e resina condicionados em uma marmita de alumínio aberta. Ela contém um rosto amarelo de formato indefinido, onde a palavra que batiza a obra está escrita em vermelho sobre a boca. O projeto era distribuir as marmitas nas fábricas, em uma tentativa de mobilizar os trabalhadores a protestar contra o autoritarismo. Logo percebeu que se tratava de um plano de difícil execução, tanto pela grande quantidade que deveria produzir quanto pelo período vivido. Nestes tempos de repressão mais forte, Carlos Zilio ficou mais engajado na luta e na resistência do que na produção artística. O momento marcou uma ruptura voluntária em sua produção – forçada, em seguida, por mais dois anos devido à prisão. Não por acaso, nesse mesmo piso encontra-se Auto-retrato, uma de suas primeiras produções após sair do cárcere e retomar a sua obra. Trata-se de uma tela em vinílica e hidrocor, de 135 x 85 cm, onde se vê uma mancha vermelha disforme – bem no centro de um fundo branco – atravessada pela palavra que lhe dá nome. A exposição também reúne, no piso -2, 30 desenhos, feitos em folhas de papel e com caneta hidrográfica no período em que foi preso político da Ditadura Militar, de 1970 a 1972, no Rio de Janeiro. Eles formam uma espécie de diário do cárcere, usando elementos figurativos para abordar a repressão a que esteve submetido.

‍Os tempos de Zilio

A obra de Zilio é marcada por fases distintas, que vão do enfrentamento político à introspecção e experimentação, sempre pautado por compromisso éticos, conectados com o seu tempo e orientados por pensamentos em relação ao mundo. A sua entrada nas artes começou nos anos de 1960 e foi impactada pela fase da Ditadura. Nesse momento passou a expressar sua visão crítica de modo claro e rápido, com recursos retóricos gráficos, visuais e poéticos, integrado ao movimento da contracultura. Foi após a instauração do AI-5, que restringia as liberdades no mesmo período autoritário, que ele começou a duvidar da contundência da arte e a se aprofundar no enfrentamento ao regime. Acabou sendo baleado pelos órgãos de repressão e preso por dois anos, quando passou a desenhar no cárcere com caneta em folhas de papel e até nos pratos que recebia na cela. Libertado na década de 1970, Zilio experimentou recursos para produzir a sua obra de modo que pudesse circular, driblando a censura, com mensagens críticas subliminares. Assim, buscando uma linguagem que produzisse alegorias críticas ao país, fez uso de práticas conceituais de fotografia, audiovisuais, instalações, objetos. Aqui, ele renunciou às cores e aos recursos figurativos, elaborando uma narrativa diferente da dos anos 1960. Sempre, no entanto, com um discurso permeado pela tensão, ruptura, fragilidade e incompletude que permeavam os sentimentos dos brasileiros. Nessa mesma década, foi para Paris para estudar teoria e história da arte, ampliando sua visão artística para a qual passou a ter acesso livre. Voltou ao Brasil com doutorado A querela do Brasil, publicado em livro com o título A querela do Brasil – A questão da identidade da arte brasileira. Neste estudo, se debruçou no modernismo europeu e brasileiro, apontando suas promessas e falências. A volta do exílio, do fim dos anos de 1970 para 1980, foi o momento de o artista produzir o primeiro grande corpo de pinturas, presente na exposição, quando passou a refletir, absorver, digerir e comentar aspectos da arte brasileira e internacional, com algumas pitadas de irreverência e muita crítica. Ao mesmo tempo, começou a direcionar o seu ativismo pela arte para o campo acadêmico para o qual dedicou décadas de sua vida. Começou a dar aula na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e na Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi professor pioneiro na orientação de arte para os pesquisadores, criou disciplinas, programas acadêmicos, publicações, seminários e simpósios. Virou mestre de gerações de futuros professores, artistas e pesquisadores – não somente do Rio. Por fim, a partir dos anos 1990, reviu o modo de fazer pintura, reduziu sua paleta cromática e privilegiou o gesto, o movimento, a escala e o ritmo. Até 2022, ano que encerra o arco da retrospectiva no IC, Zilio caminhou para o desafio de produzir o vazio, o luto, a morte e a ausência.

Conceito de limite da resistência.

28/mar

Mecânica dos meios contínuos, individual de Marcius Galan, na Galeria Luisa Strina, Jardins, São Paulo, SP, apresenta um conjunto de obras, a maioria inéditas, que explora o conceito de limite da resistência. São objetos e instalações que, aparentando estar à beira do colapso, continuam a cumprir seus movimentos e funções específicas. O título refere-se a uma área da física dedicada à formulação matemática dos fenômenos relacionados ao movimento e à deformação dos corpos sob a ação de agentes externos.

Como programa público, uma conversa entre o artista, a curadora e pesquisadora Heloisa Espada, que assina o texto da exposição, e o colecionador e pesquisador Fábio Faisal acontecerá no encerramento da mostra, em 10 de maio, às 11h.

A extensa e diversa produção de Marcius Galan assimila conceitos e linguagens do cotidiano para reelaborar o espaço, tema central de sua obra. Seus trabalhos integram as coleções de MAM-SP, MAM-RJ, MASP, Pinacoteca de São Paulo, MAC-USP, Museum of Fine Arts Houston, Phoenix Art Museum e Inhotim. Participou de exposições em instituições como Palais de Tokyo, Wexner Center, Guggenheim Bilbao, Museu Serralves, Americas Society, Bienal de São Paulo, Bienal do Mercosul e Bienal das Américas. Foi vencedor do Prêmio PIPA em 2012 e fez residência na Gasworks Londres; e do prêmio Iberê Camargo em 2004, com residência na School of the Art Institute of Chicago.

Quanto mais escura é a noite, mais vigorosa é a luz dos vaga-lumes

A primeira obra da mostra é Cinema (2025), que ocupa a sala principal da galeria, completamente às escuras. Um sistema de luz suspenso do teto simula o voo de dois vaga-lumes. Esses pequenos focos luminosos emitem sinais em um código de comunicação que só pode existir na ausência de luz. Além de explorar a percepção cinética, na qual o cérebro humano interpreta as piscadas de luz como movimento, Cinema presta homenagem a Pier Paolo Pasolini (1922-1975). O cineasta italiano, em carta a um amigo, comparou o desaparecimento dos vaga-lumes à extinção da resistência ao fascismo na Itália. Segundo ele, a luz da propaganda fascista era tão intensa e uniforme que apagava nuances, a poesia e a própria resistência política.

Anti-horário (2025) foi filmado no deserto e registra um pequeno galho seco que, movido pelo vento, desenha um círculo perfeito na areia. A direção do vento muda constantemente, alterando o sentido do desenho. O som desempenha um papel essencial na obra: cada mudança de direção é pontuada por um ruído, reforçando a percepção da instabilidade do movimento.

Infinito (1999), único trabalho pertencente a uma produção anterior do artista, é um tubo de vidro moldado na forma do símbolo do infinito, cujo ciclo contínuo é interrompido por um volume de cera que obstrui sua passagem, rompendo a ideia de continuidade.

A resistência dos materiais

Na Sala 2, os trabalhos lidam com a materialidade de maneira distinta. São obras feitas com pedras, carvão e ferro, nas quais há a intenção de confrontar o peso e a resistência destes materiais.

Memória geológica (2025) consiste em duas pedras cortadas por uma linha de aço que se atraem para um ponto comum. A interação entre os vértices das linhas sugere uma força magnética que parece cortar as rochas, que, por sua vez, resistem ao movimento, criando uma tensão entre atração e oposição. Apesar da aparente dinâmica, a obra permanece estática.

De forma semelhante, Força resultante (2025) apresenta uma haste de madeira em uma posição aparentemente impossível, desafiando a gravidade. Uma linha de ferro sugere a manutenção desse equilíbrio ao se aproximar de um prego na parede, sem tocá-lo. A obra captura o instante de instabilidade entre a iminência da queda e um ponto de segurança.

Baixa resolução (2025) é uma grande composição de parede feita com cubos de madeira e carvão. As áreas chamuscadas evocam tanto a vista aérea de uma região devastada por queimadas quanto explosões pixeladas de videogames antigos, congelando um momento de destruição em linguagem básica que remete aos primórdios da representação virtual.

Por fim, Orbital (2025) é uma grande composição de placas pintadas com tinta automotiva preta sobre as quais são dispostas pedras minerais. Esses elementos determinam as órbitas de objetos cortantes que riscam a superfície industrial dos módulos. O atrito entre os materiais desenha padrões geométricos similares aos traços de um compasso, criando um contraste entre a delicadeza das linhas e a agressividade do movimento que as inscreve na superfície.

Ao longo da exposição, cada obra aborda o conceito de resistência, explorando a instabilidade dos materiais, a tensão entre equilíbrio e colapso, e a dinâmica entre permanência e efemeridade. Assim como na mecânica dos meios contínuos, os trabalhos investigam a relação entre forças externas e suas consequências sobre corpos físicos, levantando questões sobre fragilidade, persistência e transformação.

Pequenas fábulas visuais de Liliana Porter.

27/mar

A exposição “Otros cuentos inconclusos”, da artista argentina Liliana Porter, apresenta mais de 30 obras, compondo um panorama da sua produção dos últimos cinco anos. Radicada em Nova York desde 1964, a artista soma mais de 60 anos de carreira, período em que desenvolveu uma sólida e significativa pesquisa em torno da representação da condição humana. Essa é a quinta exposição da artista – até 07 de junho – na Luciana Brito Galeria, São Paulo, SP, que também promoveu sua primeira mostra individual no Brasil, em 2001.

“Otros cuentos inconclusos” empresta o seu título da sua mais recente obra em audiovisual, “Cuentos inconclusos” (2022), concebida em parceria com a artista Ana Tiscornia. Como o título sugere, o vídeo nos coloca diante de pequenas narrativas, cujos desfechos podem ser atribuídos de acordo com a nossa própria imaginação. Para tanto, o vídeo é apresentado em cinco partes, por meio de narrativas construídas com a combinação de frases extraídas da obra de literatura infantil “Simbad, o Marujo” e cenas animadas das instalações da artista. A trilha sonora, assinada por Sylvia Meyer, representa papel importante, ajudando não apenas na ambientação das cenas, como também dando vida aos personagens inanimados.

A produção de Liliana Porter nos coloca diante de pequenas fábulas visuais, ou crônicas atemporais da nossa própria condição de ser humano. Uma de suas grandes habilidades recai no poder de síntese das suas representações, que paradoxalmente (ou ironicamente) acontece a partir do colecionismo. Bibelôs, brinquedos, ornamentos e outros pequenos objetos garimpados ganham vida pelas mãos da artista. Eles permanecem armazenados até serem “licenciados” pela sua poética, por vezes ácida, por vezes bem humorada. O poder da simples combinação desses elementos, muitas vezes acrescidos de pinturas e desenhos, pautam questões profundas e inerentes da sociedade contemporânea, como é o caso da obra “The Anarchist (Woman in Red)” (2022), onde uma pequena figura executa a grande tarefa de desenrolar um novelo de lã inteiro para criar obstáculos àqueles que quiserem adentrar o ambiente. Ou em “The Way Out (with red car)” (2022), em que uma grande barreira não é páreo para um simples carro vermelho. A artista também apresenta um conjunto de 20 pequenas assemblages sobre papel e outras dez micro-instalações, onde objetos minúsculos ganham um grande poder narrativo, por meio de metáforas que tratam do tempo e da memória presente nos nossos repertórios mais íntimos.

Celebrações em torno de Pedro Moraleida.

Organizada pela curadora e crítica de arte Lisette Lagnado, a mostra que homenageia Pedro Moraleida Bernardes ocupará dois endereços – até 21 de junho – da nova Almeida & Dale, São Paulo, SP, como parte das celebrações pelos 25 anos da morte do artista mineiro, que partiu precocemente aos 22 anos de idade. Intitulada Nossa Senhora do Desejo, a exposição propõe diálogos entre sua obra, artistas que o influenciaram e uma nova geração que compartilha de sua inquietação e irreverência.

A produção intensa de Pedro Moraleida, marcada pela desobediência, escatologia e crítica social, segue sendo revisitada e reinterpretada ao longo do tempo. Graças ao empenho de seus pais, Luiz Bernardes e Nilcéa Moraleida, junto a professores e artistas, seu acervo sempre esteve acessível a pesquisadores, estimulando novos estudos sobre a obra. Desde setembro de 2024, a Academia Mineira de Letras (AML), em parceria com o Instituto Pedro Moraleida Bernardes (iPMB), o Viaduto das Artes e o Grupo Oficina Multimedia, tem promovido seminários e exposições em Belo Horizonte, ampliando a reflexão sobre o seu legado. Em 2019, o Instituto Tomie Ohtake realizou a primeira retrospectiva do artista fora de sua cidade natal, com curadoria de Paulo Miyada.

Embora frequentemente associada, de maneira simplista, ao neoexpressionismo alemão, a prolífica obra do artista – que abrange desenhos, pinturas, textos e experimentos sonoros – vai muito além dessa influência. Pedro Moraleida teve acolhida entusiasmada por parte de curadores brasileiros e estrangeiros, e, segundo Lisette Lagnado, “ainda há muito a ser explorado sobre as fontes que o inspiraram”.

Nossa Senhora do Desejo mergulha em temas recorrentes em sua produção, como capitalismo, patriarcado, saúde mental, guerra planetária, direito à vida e vida artificial. Dentre os vários nexos iluminados pela mostra, destaca-se aquele que o aproxima do poeta francês Antonin Artaud: a opção por “uma existência que se recusa a anestesiar as emoções”. Como sintetiza a curadora, “…ambos examinam uma sociedade abusiva e tóxica, vociferando contra o pecado católico e a perversão acumulativa da burguesia”.

Num movimento tentacular, outros elos vão se desenhando, como a sintonia entre sua força insubmissa e a arte de Jaider Esbell e Arthur Bispo do Rosario (em registros flagrados pela lente do mestre da cor Walter Firmo), que brota da violência institucional e a transmuta poeticamente em “energia de combate”. O caráter iconoclasta e a mordacidade política conectam a produção de Pedro Moraleida à de Leon Ferrari, figura fundamental do conceitualismo latino-americano, presente na exposição com a série “Releituras da Bíblia”. Figuras como Jean-Michel Basquiat e José Leonilson, usualmente lembradas como influências para Pedro Moraleida, também fazem parte dessa constelação de referências evidenciadas pela exposição. Além dessas relações de caráter mais histórico, há na seleção proposta por Lisette Lagnado a presença importante de duas artistas que conheceram Pedro Moraleida, a mineira Cinthia Marcelle e a hispano-brasileira Sara Ramo – da mesma geração surgida no final do século passado, elas prestaram uma assessoria especial no processo de pesquisa e concepção da mostra. O conjunto inclui ainda produções recentes que ecoam a mesma inquietude, como as da paulistana Lia D Castro e do suíço-carioca Guerreiro Do Divino Amor, cuja instalação “Civilizações Super Superiores” foi originalmente apresentada no Pavilhão da Suíça da 60ª edição da Bienal de Veneza.

A expografia dos dois espaços é assinada pelo arquiteto e urbanista Tiago Guimarães, formado pela Universidade Federal do Ceará e atuante em São Paulo desde 2005. Além dos nomes já citados, completam a mostra obras de Castiel Vitorino Brasileiro, desali, Flávio de Carvalho, ⁠ Francisco de Almeida, Lia D Castro, ⁠Linga Acácio, Trojany, ⁠Marta Neves, Regina Parra – artista que apresenta uma performance na abertura da exposição – e ⁠Thiago Martins de Melo. O poeta floresta participa da publicação que será lançada durante a exposição com uma seleção de sete poemas extraídos de seu livro rio pequeno (ed. Fósforo, 2022).

Artistas participantes.

Antonin Artaud, Castiel Vitorino Brasileiro, Cinthia Marcelle, desali, Flávio de Carvalho, floresta, Francisco de Almeida, Guerreiro do Divino Amor, Jaider Esbell, Jean-Michel Basquiat, José Leonilson, León Ferrari, Lia D Castro, Linga Acácio e Trojany, Marta Neves, Pedro Moraleida, Regina Parra, Sara Ramo, Thiago Martins de Melo, Walter Firmo.

Classificação indicativa: mão recomendado para menores de 18 anos. Esta exposição contém imagens com teor sexual, sexo explícito e nudez. Acesso mediante a presença do responsável ou acompanhante com autorização por escrito.

Diálogos com Calder.

26/mar

A Central em parceria com Eliana Finkelstein apresenta, a partir do dia 29 de março, a exposição coletiva “Sopra a ave-do-paraíso, voa longe a viúva negra” no primeiro andar e no mezanino do Instituto dos Arquitetos do Brasil de São Paulo (IABsp) e, em exibição até 17 de maio..

Convidada por Eliana e Fernanda Resstom, fundadora e diretora da Central, Galciani Neves realiza a curadoria da mostra que articula obras de mais de 20 artistas que tecem diálogos, relações e elucubrações acerca da Viúva Negra (1948), de Alexander Calder (1898-1976). O móbile, doado pelo artista ao IABsp, é parte da coleção do Instituto e, assim como o edifício, é tombado como patrimônio cultural pelo IPHAN.

“A história de uma obra de arte acumula os registros sobre as vezes que ela foi exibida; os textos sobre ela escritos; as experiências e acontecimentos que sua aparição e circulação geraram. Essas vibrações, por vezes, colocam a obra em uma espécie de presente expandido no tempo, sempre atualizando-a e incansavelmente nos surpreendendo. Admitindo que todas essas possíveis e incontáveis experiências diante de uma obra são contribuições à sua reflexão, essa mostra articula, com esta perspectiva, as obras como uma espécie de sopro que junto com o público e com a efervescência do centro de São Paulo movem a Viúva Negra, animando-lhe de tempos e sensações do agora e lhe dando as tantas “formas fugidias”, como nos disse Sartre sobre Calder” conta a curadora.

Em comum e de muitas maneiras, os trabalhos contemporâneos que integram a exposição são produzidos por meio de materiais e processos que dialogam com formas não-humanas e são, assim, modos de pensar o mundo e seus habitantes.

“Responder pela palavra que dá título à obra, pelas intencionalidades que vislumbrava o artista e pela linguagem que experimentou nos pareceu uma estratégia para lidar com a onipresença e com a movência desse trabalho no espaço do IABsp, como modos de ler o trabalho à luz do nosso tempo e também para perceber como artistas contemporâneos se engajam em questões vizinhas, gerando, assim, afinidades poéticas com o móbile do artista estadunidense.” conclui Galciani Neves.

Alexander Calder, Alice Shintani, Aycoobo, Bozó Bacamarte, Carmela Gross, Carmézia Emiliano, Cleiber Bane e Cleudon Sales Txana Tuin – MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), Darks Miranda, Davi de Jesus do Nascimento, Diambe, Erika Malzoni, Gilvan Samico, Heloisa Hariadne, Kimi Nii, Liuba Wolf, Mariana Rocha, Mayawari Mehinako, Melissa Stabile de Mello, Nilda Neves, Niobe Xandó, Rayana Rayo, Selva de Carvalho, Véio.

Roberto Magalhães no Paço Imperial.

20/mar

Xilogravuras em uma coleção

Roberto Magalhães: xilogravuras da Coleção Mônica e George Kornis

Comemorar. Sempre. E com a alegria proporcionada por múltiplas comemorações, melhor ainda. Isso porque, ao mesmo tempo que o Paço Imperial completa e festeja seus 40 anos de presença ativa na cena artística e cultural do Rio de Janeiro, o artista plástico Roberto Magalhães completa 85 anos de vida, e celebra sete décadas de produção em arte – gravuras, desenhos e pinturas – que construíram uma obra extensa e qualificada. E com imensa satisfação, a Coleção Mônica e George Kornis comemora os 30 anos da sua primeira exposição, intitulada O papel da coleção – desenhos e gravuras da Coleção Mônica e George Kornis nesse mesmo Paço Imperial. Na ocasião, trabalhos de Roberto Magalhães foram exibidos, com destaque para sua obra em xilogravura, que integrava nossa coleção desde os seus primórdios, em meados dos anos 1970.

Potência. Essa é a palavra-chave desta exposição que revela, de modo claro, a envergadura das cerca de 100 obras em xilogravura produzidas em um curto e intenso período de tempo (1963-1966), quando Roberto Magalhães já era reconhecido como artista, na plenitude de seus 20 e poucos anos. Sua primeira mostra individual de desenhos aconteceu na Galeria Macunaíma da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), em 1962. A partir de 1963, Roberto começou a frequentar o curso de gravura da ENBA, quando tomou contato, através da biblioteca da escola, com as obras de Durer e Rembrandt, entre as de outros autores. Em 1964, expôs xilogravuras na prestigiosa Petite Galerie (RJ). Nesse mesmo ano, participou da Primeira Exposição da Jovem Gravura Nacional, realizada no Museu de Arte Contemporânea da USP; da IV Bienal de Gravura em Tóquio; e também da mostra Brazilian Art Today, realizada na Royal Academy of Arts, em Londres. Em 1965, além de receber o Prêmio de Viagem ao Exterior (com duração de dois anos) no XV Salão Nacional de Arte Moderna/RJ, foi contemplado com o Prêmio de Gravura na IV Bienal de Paris, premiação importante para a história da gravura brasileira. Ainda em 1965, participou da icônica mostra Opinião 65, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). Juntamente com os também jovens Antônio Dias, Carlos Vergara e Rubens Gerchman, entre outros artistas nacionais e estrangeiros, essa exposição apontava para uma ruptura no panorama artístico do país, e afirmava a presença de uma nova figuração no campo das artes plásticas. Dois anos depois, esse quarteto integrou a também icônica mostra intitulada Nova Objetividade Brasileira, no mesmo MAM-RJ, sendo que, em 1966, a Galeria G-4, no Rio de Janeiro, exibira suas obras, juntamente com trabalhos de Pedro Escosteguy. Em 1967, Roberto seguiu para Paris em função do prêmio obtido de viagem ao exterior.

Além de potência: intensidade. A obra em xilogravura de Roberto Magalhães, composta, segundo ele próprio, por 100 obras foi produzida em apenas três anos! Ele mesmo revela em entrevistas desconhecer a razão de ter interrompido seu trabalho em xilogravuras, apesar de ter aprofundado ao longo desses anos um amplo conhecimento da história da gravura no Ocidente. Esse final, súbito e surpreendente, deixa uma certa aura de mistério diante da obra gráfica absolutamente singular desse artista carioca, nascido em 1940 na Ilha do Governador.

A quase totalidade da produção de Roberto Magalhães em xilogravura está exibida nesta mostra, que inclui ainda uma matriz e sua impressão em papel de arroz. A presença em nossa coleção de outras obras do artista produzidas em outras técnicas, na mesma década de 1960 – pintura a óleo sobre tela (1961), desenho em grafite (1962) e pintura sobre papel em nanquim com pó de café solúvel, que atuava como substituto do caro e importado vieux-chêne (1964) – pretende aqui revelar o pensamento artístico de Roberto Magalhães expresso nas várias técnicas que dominou, e que permanece, a partir dos anos 1970 até hoje, com foco no desenho e na pintura.

Não há uma ordem cronológica na exibição dessas xilogravuras. Com a força do preto e branco, muito ocasionalmente interrompido pela cor vermelha, agrupam-se retratos e autorretratos, rodas que sugerem movimento, cenas de batalhas, figuras humanas que se confundem com animais, em meio a um peculiar senso de humor e sátira, reforçado pelos títulos que confere a seus trabalhos. Estamos diante de uma singular figuração que, com uma dicção própria, constrói um imaginário denso e complexo, por vezes violento. Um mundo de tormentos, fantasmagórico.

Dos desenhos e caricaturas que Roberto Magalhães produziu desde a adolescência, até os desenhos e pinturas que produz até hoje, destacamos nesta mostra três anos de uma produção em xilogravura absolutamente autoral e consistente que, com energia, resiste ao tempo. Já se passaram 14 anos da realização da uma mostra de um conjunto expressivo de desenhos a nanquim e xilogravuras do artista na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, intitulada Roberto Magalhães – PretoBranco 1963-1966. O Paço Imperial felizmente rompe esse silêncio com a realização desta exposição, que pretende ampliar o acesso ao conhecimento de parte expressiva da obra desse artista, além de disponibilizar ao público uma parte de nossa coleção de arte em papel. Uma iniciativa artística e cultural a ser comemorada. E parabéns, Roberto!

Mônica e George Kornis

Até 22 de maio.

 

Elaborações metafóricas e poéticas do amor.

18/mar

A Galatea anuncia a exposição Carvões acesos, coletiva com mais de 50 artistas nacionais e internacionais, que estará aberta ao público na unidade da galeria na rua Oscar Freire, em São Paulo, a partir do dia 27 de março.

Idealizada por Tomás Toledo, curador e sócio-fundador da Galatea, a mostra gira em torno de temas como amor, desejo e paixão em uma proposta transgeracional, transterritorial e transmídia – conta com pinturas, instalações, livros, esculturas, objetos e vídeo de artistas que investigam as tensões afetivas e suas metáforas. Estão presentes nomes que conectam gerações e territórios da arte brasileira e também internacional, como Amélia Toledo, Antonio Dias, Allan Weber, Chico Tabibuia, Cildo Meirelles, Gabriella Marinho, Jonathas de Andrade, Leonilson, Louise Bourgeois, Mayara Ferrão, Retratistas do Morro, Pablo Accinelli e Tunga.

Três núcleos compõem a exposição: Enlaces, Metáforas do amor e Metáforas do sexo. As obras apresentadas exploram a proximidade entre os corpos, o tesão do erotismo, o magnetismo do desejo e múltiplas representações de casais. São abordadas, ainda, elaborações metafóricas e poéticas do amor, bem como expressões ora mais cifradas ora mais explicitas do sexo.

Até 24 de maio.

Os 4 de Bagé em Brasília.

11/mar

A Caixa Cultural Brasília e a Fundação Iberê Camargo apresentam o legado do Grupo de Bagé. Mostra com mais de 180 obras de Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, abre no dia 18 de março e permanecerá em cartaz até 29 de junho.

Uma trincheira em defesa da liberdade na arte e na vida, cavada com as armas da inteligência e do bom humor na região sul do Rio Grande do Sul e conectada com os principais polos culturais do país. É o que caracteriza o legado de Pedro Wayne (1904-1951), escritor, poeta e jornalista e agitador cultural com enorme capacidade de articulação, inclusive nacional. Baiano que passou a infância em Pelotas, na metade sul do Rio Grande do Sul, chegou em Bagé em 1927, e lá exerceu uma extensa gama de atividades. Carlos Scliar (1920-2001), que tinha parentes morando em Bagé e ideias semelhantes às de Pedro Wayne, frequentava sua casa e o tinha como bom amigo.

Foi em torno deste importante personagem da cultura local que, na metade da década de 1940, Glauco Rodrigues (1929-2004) e Glênio Bianchetti (1928-2014), com 16 e 17 anos respectivamente, começaram a desenhar e a pintar. Pedro Wayne “adotou os guris” e mostrou a eles o que havia de mais avançado nas artes visuais na Europa. Mais tarde, o escritor introduziu Danúbio Gonçalves (1925-2019) ao “ateliê”, que trouxe para o Grupo, a partir de sua experiência na França. Já a influência da pintura moderna veio com a passagem do artista carioca José Moraes, que ficou um período na cidade quando ganhou uma bolsa de viagem de estudos.

Carlos Scliar, quando voltou de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, se interessou pelo movimento daqueles jovens e passou a frequentar, e praticamente liderar as atividades do Grupo interessados em realizar uma crítica social, levando-os a se envolver, na década de 1950, na criação do Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e do Clube de Gravura de Bagé (1951).

Inspirados no movimento do Taller de Gráfica Popular do México, os Clubes (que posteriormente foram unidos) criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais. Contar essa história é o objetivo principal da exposição. A versatilidade e a rica produção dos quatro artistas serão exibidas através de gravuras, pinturas, aquarelas e capas de revistas, a partir de novas leituras e percepções acerca do trabalho do Grupo. Com curadoria de Carolina Grippa e Caroline Hädrich, a exposição reúne mais de 180 itens como obras, ilustrações dos clubes de gravura de Bagé e de Porto Alegre, além de exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor.

Sobre os artistas.

Carlos Scliar (1920-2001) – Nasceu em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, e foi ainda pequeno para Porto Alegre, onde, com 11 anos, colaborou com as seções infanto-juvenis de jornais locais e, mais tarde, frequentou o departamento gráfico da Revista do Globo. Em 1940, foi para São Paulo e começou a fazer parte da Família Artística Paulista, mas após quatro anos foi para a Itália a serviço da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, entre 1958 e 1961, trabalhou como diretor artístico na Revista Senhor. Comprou, em 1964, um sobrando em Cabo Frio, RJ, onde morou e trabalhou por quarenta anos. No ano de seu falecimento, foi criado o Instituto Cultural Carlos Scliar, na cidade de Cabo Frio, e seu acervo se encontra atualmente tombado pela municipalidade.

Danúbio Gonçalves (1925-2019) – Nasceu em Bagé, fazendo parte de uma tradicional família de estancieiros da campanha. Aos sete anos, partiu para o Rio de Janeiro onde mais tarde teve aulas no ateliê de Cândido Portinari, manteve contato com outros pintores modernistas e participou de diversas edições do Salão Nacional de Belas Artes, recebendo prêmios e menções honrosas. Em 1950, foi estudar em Paris. Com um espírito imbuído dos ideais revolucionários e uma ligação com o Partido Comunista, Danúbio Gonçalves voltou ao Brasil e se juntou a Carlos Scliar, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, formando o Clube de Gravura de Porto Alegre e, posteriormente, o de Bagé. A partir de 1962, a convite do escultor Francisco Stockinger, passou a trabalhar no Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre, chegando a ser diretor. Lá, durante trinta anos ensinou litografia (técnica que aprendeu com Marcelo Grassmann, em 1962) e formou muitos artistas gravadores, atualmente reconhecidos no âmbito regional e nacional.

Glaudo Rodrigues (1929-2004) – Nasceu em Bagé e foi colega de escola de Glênio Bianchetti, com quem dividiu o interesse pela pintura. Recebeu ensinamentos sobre pintura de José Moraes e aproximou-se da gravura e, junto com Glênio, Danúbio e Scliar fundou, em 1951, o Clube de Gravura de Bagé e iniciaram suas viagens de estudos a estâncias da região. Com a união do Clube de Bagé ao de Porto Alegre, Glauco mudou-se para a capital gaúcha e, depois, em 1958, seguiu para o Rio de Janeiro.  Glauco Rodrigues participou da primeira Bienal de São Paulo, entrou na equipe da revista Senhor e começou a sua produção abstrata, que perdurou por 10 anos. Em 1962, viajou a Roma a convite do embaixador Hugo Gouthier para trabalhar no setor gráfico da embaixada brasileira, e ficou alguns anos na Itália. Nesse período, participou da delegação brasileira na Bienal de Veneza (1964), no mesmo ano em que os estadunidenses chamaram atenção pela sua produção pop. Retornou ao Brasil em 1966 e, aos poucos, a figuração voltou à sua obra, que seguiu até a sua morte.

Glênio Bianchetti (1928-2014) – Nasceu em Bagé, oriundo de uma família ligada ao comércio na cidade. Foi a mãe de sua namorada, Ailema (com quem posteriormente casou-se), que passou ensinamentos iniciais de pintura para ele e Glauco Rodrigues, que depois foram aperfeiçoados com a chegada de José Moraes a Bagé. Interessado pela pintura, ingressou no Instituto de Belas Artes em Porto Alegre no ano seguinte – mas não chegou a finalizar o curso.   Fundou, em 1951, ao lado de Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Carlos Scliar, o Clube de Gravura de Bagé, tendo Bianchetti a maior produção de gravuras da época. Na década de 1960, mudou-se com sua família para Brasília (cidade onde viveu o resto de sua vida), devido ao convite de Darcy Ribeiro para lecionar na recém-inaugurada Universidade de Brasília, mas sendo afastado devido à perseguição na ditadura militar, sendo reintegrado apenas em 1988. Atualmente, sua casa-ateliê, com seu grande acervo, é mantida por sua família.