Celebrações em torno de Pedro Moraleida.

27/mar

Organizada pela curadora e crítica de arte Lisette Lagnado, a mostra que homenageia Pedro Moraleida Bernardes ocupará dois endereços – até 21 de junho – da nova Almeida & Dale, São Paulo, SP, como parte das celebrações pelos 25 anos da morte do artista mineiro, que partiu precocemente aos 22 anos de idade. Intitulada Nossa Senhora do Desejo, a exposição propõe diálogos entre sua obra, artistas que o influenciaram e uma nova geração que compartilha de sua inquietação e irreverência.

A produção intensa de Pedro Moraleida, marcada pela desobediência, escatologia e crítica social, segue sendo revisitada e reinterpretada ao longo do tempo. Graças ao empenho de seus pais, Luiz Bernardes e Nilcéa Moraleida, junto a professores e artistas, seu acervo sempre esteve acessível a pesquisadores, estimulando novos estudos sobre a obra. Desde setembro de 2024, a Academia Mineira de Letras (AML), em parceria com o Instituto Pedro Moraleida Bernardes (iPMB), o Viaduto das Artes e o Grupo Oficina Multimedia, tem promovido seminários e exposições em Belo Horizonte, ampliando a reflexão sobre o seu legado. Em 2019, o Instituto Tomie Ohtake realizou a primeira retrospectiva do artista fora de sua cidade natal, com curadoria de Paulo Miyada.

Embora frequentemente associada, de maneira simplista, ao neoexpressionismo alemão, a prolífica obra do artista – que abrange desenhos, pinturas, textos e experimentos sonoros – vai muito além dessa influência. Pedro Moraleida teve acolhida entusiasmada por parte de curadores brasileiros e estrangeiros, e, segundo Lisette Lagnado, “ainda há muito a ser explorado sobre as fontes que o inspiraram”.

Nossa Senhora do Desejo mergulha em temas recorrentes em sua produção, como capitalismo, patriarcado, saúde mental, guerra planetária, direito à vida e vida artificial. Dentre os vários nexos iluminados pela mostra, destaca-se aquele que o aproxima do poeta francês Antonin Artaud: a opção por “uma existência que se recusa a anestesiar as emoções”. Como sintetiza a curadora, “…ambos examinam uma sociedade abusiva e tóxica, vociferando contra o pecado católico e a perversão acumulativa da burguesia”.

Num movimento tentacular, outros elos vão se desenhando, como a sintonia entre sua força insubmissa e a arte de Jaider Esbell e Arthur Bispo do Rosario (em registros flagrados pela lente do mestre da cor Walter Firmo), que brota da violência institucional e a transmuta poeticamente em “energia de combate”. O caráter iconoclasta e a mordacidade política conectam a produção de Pedro Moraleida à de Leon Ferrari, figura fundamental do conceitualismo latino-americano, presente na exposição com a série “Releituras da Bíblia”. Figuras como Jean-Michel Basquiat e José Leonilson, usualmente lembradas como influências para Pedro Moraleida, também fazem parte dessa constelação de referências evidenciadas pela exposição. Além dessas relações de caráter mais histórico, há na seleção proposta por Lisette Lagnado a presença importante de duas artistas que conheceram Pedro Moraleida, a mineira Cinthia Marcelle e a hispano-brasileira Sara Ramo – da mesma geração surgida no final do século passado, elas prestaram uma assessoria especial no processo de pesquisa e concepção da mostra. O conjunto inclui ainda produções recentes que ecoam a mesma inquietude, como as da paulistana Lia D Castro e do suíço-carioca Guerreiro Do Divino Amor, cuja instalação “Civilizações Super Superiores” foi originalmente apresentada no Pavilhão da Suíça da 60ª edição da Bienal de Veneza.

A expografia dos dois espaços é assinada pelo arquiteto e urbanista Tiago Guimarães, formado pela Universidade Federal do Ceará e atuante em São Paulo desde 2005. Além dos nomes já citados, completam a mostra obras de Castiel Vitorino Brasileiro, desali, Flávio de Carvalho, ⁠ Francisco de Almeida, Lia D Castro, ⁠Linga Acácio, Trojany, ⁠Marta Neves, Regina Parra – artista que apresenta uma performance na abertura da exposição – e ⁠Thiago Martins de Melo. O poeta floresta participa da publicação que será lançada durante a exposição com uma seleção de sete poemas extraídos de seu livro rio pequeno (ed. Fósforo, 2022).

Artistas participantes.

Antonin Artaud, Castiel Vitorino Brasileiro, Cinthia Marcelle, desali, Flávio de Carvalho, floresta, Francisco de Almeida, Guerreiro do Divino Amor, Jaider Esbell, Jean-Michel Basquiat, José Leonilson, León Ferrari, Lia D Castro, Linga Acácio e Trojany, Marta Neves, Pedro Moraleida, Regina Parra, Sara Ramo, Thiago Martins de Melo, Walter Firmo.

Classificação indicativa: mão recomendado para menores de 18 anos. Esta exposição contém imagens com teor sexual, sexo explícito e nudez. Acesso mediante a presença do responsável ou acompanhante com autorização por escrito.

Diálogos com Calder.

26/mar

A Central em parceria com Eliana Finkelstein apresenta, a partir do dia 29 de março, a exposição coletiva “Sopra a ave-do-paraíso, voa longe a viúva negra” no primeiro andar e no mezanino do Instituto dos Arquitetos do Brasil de São Paulo (IABsp) e, em exibição até 17 de maio..

Convidada por Eliana e Fernanda Resstom, fundadora e diretora da Central, Galciani Neves realiza a curadoria da mostra que articula obras de mais de 20 artistas que tecem diálogos, relações e elucubrações acerca da Viúva Negra (1948), de Alexander Calder (1898-1976). O móbile, doado pelo artista ao IABsp, é parte da coleção do Instituto e, assim como o edifício, é tombado como patrimônio cultural pelo IPHAN.

“A história de uma obra de arte acumula os registros sobre as vezes que ela foi exibida; os textos sobre ela escritos; as experiências e acontecimentos que sua aparição e circulação geraram. Essas vibrações, por vezes, colocam a obra em uma espécie de presente expandido no tempo, sempre atualizando-a e incansavelmente nos surpreendendo. Admitindo que todas essas possíveis e incontáveis experiências diante de uma obra são contribuições à sua reflexão, essa mostra articula, com esta perspectiva, as obras como uma espécie de sopro que junto com o público e com a efervescência do centro de São Paulo movem a Viúva Negra, animando-lhe de tempos e sensações do agora e lhe dando as tantas “formas fugidias”, como nos disse Sartre sobre Calder” conta a curadora.

Em comum e de muitas maneiras, os trabalhos contemporâneos que integram a exposição são produzidos por meio de materiais e processos que dialogam com formas não-humanas e são, assim, modos de pensar o mundo e seus habitantes.

“Responder pela palavra que dá título à obra, pelas intencionalidades que vislumbrava o artista e pela linguagem que experimentou nos pareceu uma estratégia para lidar com a onipresença e com a movência desse trabalho no espaço do IABsp, como modos de ler o trabalho à luz do nosso tempo e também para perceber como artistas contemporâneos se engajam em questões vizinhas, gerando, assim, afinidades poéticas com o móbile do artista estadunidense.” conclui Galciani Neves.

Alexander Calder, Alice Shintani, Aycoobo, Bozó Bacamarte, Carmela Gross, Carmézia Emiliano, Cleiber Bane e Cleudon Sales Txana Tuin – MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), Darks Miranda, Davi de Jesus do Nascimento, Diambe, Erika Malzoni, Gilvan Samico, Heloisa Hariadne, Kimi Nii, Liuba Wolf, Mariana Rocha, Mayawari Mehinako, Melissa Stabile de Mello, Nilda Neves, Niobe Xandó, Rayana Rayo, Selva de Carvalho, Véio.

Roberto Magalhães no Paço Imperial.

20/mar

Xilogravuras em uma coleção

Roberto Magalhães: xilogravuras da Coleção Mônica e George Kornis

Comemorar. Sempre. E com a alegria proporcionada por múltiplas comemorações, melhor ainda. Isso porque, ao mesmo tempo que o Paço Imperial completa e festeja seus 40 anos de presença ativa na cena artística e cultural do Rio de Janeiro, o artista plástico Roberto Magalhães completa 85 anos de vida, e celebra sete décadas de produção em arte – gravuras, desenhos e pinturas – que construíram uma obra extensa e qualificada. E com imensa satisfação, a Coleção Mônica e George Kornis comemora os 30 anos da sua primeira exposição, intitulada O papel da coleção – desenhos e gravuras da Coleção Mônica e George Kornis nesse mesmo Paço Imperial. Na ocasião, trabalhos de Roberto Magalhães foram exibidos, com destaque para sua obra em xilogravura, que integrava nossa coleção desde os seus primórdios, em meados dos anos 1970.

Potência. Essa é a palavra-chave desta exposição que revela, de modo claro, a envergadura das cerca de 100 obras em xilogravura produzidas em um curto e intenso período de tempo (1963-1966), quando Roberto Magalhães já era reconhecido como artista, na plenitude de seus 20 e poucos anos. Sua primeira mostra individual de desenhos aconteceu na Galeria Macunaíma da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), em 1962. A partir de 1963, Roberto começou a frequentar o curso de gravura da ENBA, quando tomou contato, através da biblioteca da escola, com as obras de Durer e Rembrandt, entre as de outros autores. Em 1964, expôs xilogravuras na prestigiosa Petite Galerie (RJ). Nesse mesmo ano, participou da Primeira Exposição da Jovem Gravura Nacional, realizada no Museu de Arte Contemporânea da USP; da IV Bienal de Gravura em Tóquio; e também da mostra Brazilian Art Today, realizada na Royal Academy of Arts, em Londres. Em 1965, além de receber o Prêmio de Viagem ao Exterior (com duração de dois anos) no XV Salão Nacional de Arte Moderna/RJ, foi contemplado com o Prêmio de Gravura na IV Bienal de Paris, premiação importante para a história da gravura brasileira. Ainda em 1965, participou da icônica mostra Opinião 65, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). Juntamente com os também jovens Antônio Dias, Carlos Vergara e Rubens Gerchman, entre outros artistas nacionais e estrangeiros, essa exposição apontava para uma ruptura no panorama artístico do país, e afirmava a presença de uma nova figuração no campo das artes plásticas. Dois anos depois, esse quarteto integrou a também icônica mostra intitulada Nova Objetividade Brasileira, no mesmo MAM-RJ, sendo que, em 1966, a Galeria G-4, no Rio de Janeiro, exibira suas obras, juntamente com trabalhos de Pedro Escosteguy. Em 1967, Roberto seguiu para Paris em função do prêmio obtido de viagem ao exterior.

Além de potência: intensidade. A obra em xilogravura de Roberto Magalhães, composta, segundo ele próprio, por 100 obras foi produzida em apenas três anos! Ele mesmo revela em entrevistas desconhecer a razão de ter interrompido seu trabalho em xilogravuras, apesar de ter aprofundado ao longo desses anos um amplo conhecimento da história da gravura no Ocidente. Esse final, súbito e surpreendente, deixa uma certa aura de mistério diante da obra gráfica absolutamente singular desse artista carioca, nascido em 1940 na Ilha do Governador.

A quase totalidade da produção de Roberto Magalhães em xilogravura está exibida nesta mostra, que inclui ainda uma matriz e sua impressão em papel de arroz. A presença em nossa coleção de outras obras do artista produzidas em outras técnicas, na mesma década de 1960 – pintura a óleo sobre tela (1961), desenho em grafite (1962) e pintura sobre papel em nanquim com pó de café solúvel, que atuava como substituto do caro e importado vieux-chêne (1964) – pretende aqui revelar o pensamento artístico de Roberto Magalhães expresso nas várias técnicas que dominou, e que permanece, a partir dos anos 1970 até hoje, com foco no desenho e na pintura.

Não há uma ordem cronológica na exibição dessas xilogravuras. Com a força do preto e branco, muito ocasionalmente interrompido pela cor vermelha, agrupam-se retratos e autorretratos, rodas que sugerem movimento, cenas de batalhas, figuras humanas que se confundem com animais, em meio a um peculiar senso de humor e sátira, reforçado pelos títulos que confere a seus trabalhos. Estamos diante de uma singular figuração que, com uma dicção própria, constrói um imaginário denso e complexo, por vezes violento. Um mundo de tormentos, fantasmagórico.

Dos desenhos e caricaturas que Roberto Magalhães produziu desde a adolescência, até os desenhos e pinturas que produz até hoje, destacamos nesta mostra três anos de uma produção em xilogravura absolutamente autoral e consistente que, com energia, resiste ao tempo. Já se passaram 14 anos da realização da uma mostra de um conjunto expressivo de desenhos a nanquim e xilogravuras do artista na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, intitulada Roberto Magalhães – PretoBranco 1963-1966. O Paço Imperial felizmente rompe esse silêncio com a realização desta exposição, que pretende ampliar o acesso ao conhecimento de parte expressiva da obra desse artista, além de disponibilizar ao público uma parte de nossa coleção de arte em papel. Uma iniciativa artística e cultural a ser comemorada. E parabéns, Roberto!

Mônica e George Kornis

Até 22 de maio.

 

Os 4 de Bagé em Brasília.

11/mar

A Caixa Cultural Brasília e a Fundação Iberê Camargo apresentam o legado do Grupo de Bagé. Mostra com mais de 180 obras de Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, abre no dia 18 de março e permanecerá em cartaz até 29 de junho.

Uma trincheira em defesa da liberdade na arte e na vida, cavada com as armas da inteligência e do bom humor na região sul do Rio Grande do Sul e conectada com os principais polos culturais do país. É o que caracteriza o legado de Pedro Wayne (1904-1951), escritor, poeta e jornalista e agitador cultural com enorme capacidade de articulação, inclusive nacional. Baiano que passou a infância em Pelotas, na metade sul do Rio Grande do Sul, chegou em Bagé em 1927, e lá exerceu uma extensa gama de atividades. Carlos Scliar (1920-2001), que tinha parentes morando em Bagé e ideias semelhantes às de Pedro Wayne, frequentava sua casa e o tinha como bom amigo.

Foi em torno deste importante personagem da cultura local que, na metade da década de 1940, Glauco Rodrigues (1929-2004) e Glênio Bianchetti (1928-2014), com 16 e 17 anos respectivamente, começaram a desenhar e a pintar. Pedro Wayne “adotou os guris” e mostrou a eles o que havia de mais avançado nas artes visuais na Europa. Mais tarde, o escritor introduziu Danúbio Gonçalves (1925-2019) ao “ateliê”, que trouxe para o Grupo, a partir de sua experiência na França. Já a influência da pintura moderna veio com a passagem do artista carioca José Moraes, que ficou um período na cidade quando ganhou uma bolsa de viagem de estudos.

Carlos Scliar, quando voltou de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, se interessou pelo movimento daqueles jovens e passou a frequentar, e praticamente liderar as atividades do Grupo interessados em realizar uma crítica social, levando-os a se envolver, na década de 1950, na criação do Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e do Clube de Gravura de Bagé (1951).

Inspirados no movimento do Taller de Gráfica Popular do México, os Clubes (que posteriormente foram unidos) criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais. Contar essa história é o objetivo principal da exposição. A versatilidade e a rica produção dos quatro artistas serão exibidas através de gravuras, pinturas, aquarelas e capas de revistas, a partir de novas leituras e percepções acerca do trabalho do Grupo. Com curadoria de Carolina Grippa e Caroline Hädrich, a exposição reúne mais de 180 itens como obras, ilustrações dos clubes de gravura de Bagé e de Porto Alegre, além de exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor.

Sobre os artistas.

Carlos Scliar (1920-2001) – Nasceu em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, e foi ainda pequeno para Porto Alegre, onde, com 11 anos, colaborou com as seções infanto-juvenis de jornais locais e, mais tarde, frequentou o departamento gráfico da Revista do Globo. Em 1940, foi para São Paulo e começou a fazer parte da Família Artística Paulista, mas após quatro anos foi para a Itália a serviço da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, entre 1958 e 1961, trabalhou como diretor artístico na Revista Senhor. Comprou, em 1964, um sobrando em Cabo Frio, RJ, onde morou e trabalhou por quarenta anos. No ano de seu falecimento, foi criado o Instituto Cultural Carlos Scliar, na cidade de Cabo Frio, e seu acervo se encontra atualmente tombado pela municipalidade.

Danúbio Gonçalves (1925-2019) – Nasceu em Bagé, fazendo parte de uma tradicional família de estancieiros da campanha. Aos sete anos, partiu para o Rio de Janeiro onde mais tarde teve aulas no ateliê de Cândido Portinari, manteve contato com outros pintores modernistas e participou de diversas edições do Salão Nacional de Belas Artes, recebendo prêmios e menções honrosas. Em 1950, foi estudar em Paris. Com um espírito imbuído dos ideais revolucionários e uma ligação com o Partido Comunista, Danúbio Gonçalves voltou ao Brasil e se juntou a Carlos Scliar, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, formando o Clube de Gravura de Porto Alegre e, posteriormente, o de Bagé. A partir de 1962, a convite do escultor Francisco Stockinger, passou a trabalhar no Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre, chegando a ser diretor. Lá, durante trinta anos ensinou litografia (técnica que aprendeu com Marcelo Grassmann, em 1962) e formou muitos artistas gravadores, atualmente reconhecidos no âmbito regional e nacional.

Glaudo Rodrigues (1929-2004) – Nasceu em Bagé e foi colega de escola de Glênio Bianchetti, com quem dividiu o interesse pela pintura. Recebeu ensinamentos sobre pintura de José Moraes e aproximou-se da gravura e, junto com Glênio, Danúbio e Scliar fundou, em 1951, o Clube de Gravura de Bagé e iniciaram suas viagens de estudos a estâncias da região. Com a união do Clube de Bagé ao de Porto Alegre, Glauco mudou-se para a capital gaúcha e, depois, em 1958, seguiu para o Rio de Janeiro.  Glauco Rodrigues participou da primeira Bienal de São Paulo, entrou na equipe da revista Senhor e começou a sua produção abstrata, que perdurou por 10 anos. Em 1962, viajou a Roma a convite do embaixador Hugo Gouthier para trabalhar no setor gráfico da embaixada brasileira, e ficou alguns anos na Itália. Nesse período, participou da delegação brasileira na Bienal de Veneza (1964), no mesmo ano em que os estadunidenses chamaram atenção pela sua produção pop. Retornou ao Brasil em 1966 e, aos poucos, a figuração voltou à sua obra, que seguiu até a sua morte.

Glênio Bianchetti (1928-2014) – Nasceu em Bagé, oriundo de uma família ligada ao comércio na cidade. Foi a mãe de sua namorada, Ailema (com quem posteriormente casou-se), que passou ensinamentos iniciais de pintura para ele e Glauco Rodrigues, que depois foram aperfeiçoados com a chegada de José Moraes a Bagé. Interessado pela pintura, ingressou no Instituto de Belas Artes em Porto Alegre no ano seguinte – mas não chegou a finalizar o curso.   Fundou, em 1951, ao lado de Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves e Carlos Scliar, o Clube de Gravura de Bagé, tendo Bianchetti a maior produção de gravuras da época. Na década de 1960, mudou-se com sua família para Brasília (cidade onde viveu o resto de sua vida), devido ao convite de Darcy Ribeiro para lecionar na recém-inaugurada Universidade de Brasília, mas sendo afastado devido à perseguição na ditadura militar, sendo reintegrado apenas em 1988. Atualmente, sua casa-ateliê, com seu grande acervo, é mantida por sua família.

Ars, Artis. Techne, Digitalis.

10/mar

O marchand Sergio Gonçalves abre exposição coletiva que aborda mídias digitais nos trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros. Vem do latim o nome da mostra que será apresentada a partir do dia 11 de março na Sergio Gonçalves Galeria, em uma casa na Alameda Gabriel Monteiro, Jardim América, São Paulo, SP.

“Ars, Artis. Techne, Digitalis.” segue o tema da edição deste ano da DW – Design Week de São Paulo,  “Mãos x Máquina”, destacando a interação entre tecnologia e criatividade na produção artística e no design contemporâneo. Nessa exposição, o marchand Sergio Gonçalves reúne artistas cujas obras provocam a reflexão sobre o impacto das mídias digitais nos tempos atuais. Em sua primeira participação na DW, a galeria reforça sua posição como um espaço de experimento na Arte Contemporânea, abrindo as portas para novas narrativas visuais, sempre em busca de inovação. Nesta curadoria, ele selecionou artistas que experimentaram e que ainda experimentam novas maneiras de expressão, unindo arte e tecnologia e criando um diálogo entre o toque humano e a precisão das máquinas. Nomes como Abraham Palatnik, Cruz-Diez e Martha Boto, por exemplo, que foram pioneiros com o uso de inovações, fazem parte desta seleção apurada, que conta ainda com Bruce Maclean, Julian Opie, Michael Craig-Martin, Vik Muniz e Toyota.

A palavrado curador.

Nosso objetivo é mostrar que, longe de substituir o artista, a tecnologia poder ser uma extensão da criativadade humana, ampliando possibilidades e transformando a maneira como percebemos a Arte e o Design, por exemplo.

Artistas participantes.

Abraham Palatnik, Alexandre Mazza, Bernard Pras, Bernardo Mora, Bruce Mclean, Catherine Yass, Cruz-Diez, Duda Rosa, Iván Navarro, Jê Américo, Julian Opie, Julio Le Parc, Martha Boto, Marcelo Magnani, Michael Craig-Martin, Sarah Morris, Vik Muniz, Yutaka Toyota.

Até 22 de março.

Cosmos – Outras Cartografias.

03/fev

 

A Nara Roesler São Paulo convida para a abertura, em 06 de fevereiro, da exposição coletiva “Cosmos – Outras Cartografias”, com curadoria da artista Laura Vinci em parceria com o núcleo curatorial Nara Roesler. A ideia de mapas é discutida em 32 obras de 20 artistas de diferentes gerações e origens: Brígida Baltar, Paulo Bruscky, Jonathas de Andrade, Carlos Bunga, Jaime Lauriano, Ana Linnemann, André Vargas, Alfredo Jaar, Marina Camargo, Rivane Neuenschwander, Talles Lopes, Vanderlei Lopes, Arjan Martins, Carlos Motta, Nelson Leirner, Nelson Felix, Paulo Nazareth, Anna Bella Geiger, Runo Lagomarsino e Laura Vinci.

No dia da abertura Laura Vinci fará uma visita guiada à exposição às 19h.

Laura Vinci diz que “das várias crises que o nosso planeta enfrenta atualmente – sejam elas políticas, migratórias ou ambientais – o objetivo desta exposição é inspirar a reflexão sobre essas questões urgentes”. “Alguns trabalhos podem ter uma perspectiva mais política ou geopolítica, enquanto outros podem enfatizar preocupações ambientais. Juntas, as obras incentivarão um diálogo mais amplo sobre o mundo em que vivemos”, afirma a curadora.

Em cartaz até 15 de março.

Rigor geométrico e práticas artísticas.

26/nov

A galeria A Gentil Carioca, anuncia a abertura de  “Geometria Crepuscular”, exposição coletiva n’A Gentil Carioca Rio de Janeiro.

A exposição propõe uma reflexão sobre a geometria na arte contemporânea, explorando uma abordagem que se afasta da rigidez formal e exata para incorporar aspectos mais sutis, sensoriais e subjetivos. O grupo de artistas estabelece um diálogo entre o rigor geométrico e as práticas artísticas, investigando questões como o tempo, a memória e o futuro. Essa investigação se dá especialmente por meio do uso de materiais “pobres” ou reciclados, além de referências a cosmologias indígenas e narrativas afrofuturistas.

A ideia de uma “geometria crepuscular” aponta para o momento em que as formas tradicionais são dissolvidas, desafiando as noções de ordem e precisão, abraçando a indefinição e as sombras. A geometria é vista como uma passagem, um espaço intermediário entre o dia e a noite, a luz e a escuridão, o visível e o invisível.

Participam da mostra: Agrade Camíz, Aleta Valente, Desali, Dani Cavalier, Mariana Rocha, Mayra Carvalho, Novíssimo Edgar, Panmela Castro, Rose Afefé, Sallisa Rosa, Silia Moan, Siwaju, Vinicius Gerheim, Tainan Cabral, Xadalu Tupã Jekupé e Zé Tepedino.

A coletiva foi inaugurada simultaneamente à exposição “Ègbé ọ̀run Ẹgbẹ́ àiyé”, a primeira exibição individual de Kelton Campos Fausto n’A Gentil Carioca Rio de Janeiro. A trilha sonora da noite ficou por conta da dupla de DJs Anette Canivette (PE) e Myra Mara (RJ), da XÊPA.

Ambas as exposições estarão abertas para visitação até 1º de fevereiro de 2025.

Encontros ao redor do mundo.

14/nov

A primeira Invocação da 36ª Bienal acontece em Marrakech, Marrocos, entre os dias 14 e 15 de novembro – uma série de programas públicos que se passa em quatro cidades ao redor do mundo antes da abertura da edição, espelhando, reconfigurando e expandindo o conceito de Humanidade como prática a partir de um contexto local específico.

Intitulada “Souffles: Sobre escuta profunda e recepção ativa”, a Invocação organizada em parceria com LE 18 e Fondation Dar Bellarj traz como temas a circularidade e a precariedade da respiração, a música Gnawa como modo de ser, as culturas sufis e a escuta como prática de coexistência, assim como a criação de lugares e espaços. O título faz referência a um poema de Birago Diop, mas também a uma revista pioneira editada entre 1966 e 1971 que trabalhava a emancipação política por meio da poesia e linguagem experimental.

A Invocação conta com a participação de Maalem Abdellah El Gourd, Fatima-Zarah Lakrissa, Ghassan El Hakim, Kenza Sefrioui, Laila Hida, Leila Bencharnia, Maha Elmadi, Mourad Belouadi, Simnikiwe Buhlungu e Taoufiq Izzediou.

O título da 36ª Bienal de São Paulo, “Nem todo viandante anda estradas”, é formado por versos da escritora Conceição Evaristo.

Quimeras 100 anos do Surrealismo.

07/nov

No centenário do surrealismo, o Espaço Arte M. Mizrahi, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta a exposição coletiva “Quimeras – 100 anos do Surrealismo”, uma jornada que explora as profundezas do imaginário e do inconsciente em um contexto contemporâneo. Sob curadoria de Jurandy Valença, a mostra reúne um conjunto de 54 obras, entre pinturas, gravuras, desenhos, esculturas e fotografias, de 18 reconhecidos artistas nacionais e internacionais que oferecem diferentes interpretações do Surrealismo e suas influências persistentes nas artes.

O Surrealismo, foi fundado por André Breton em 1924, revolucionou a forma como o inconsciente e a imaginação eram abordados nas artes. Inspirado por elementos do romantismo e caracterizado pela ênfase no poético e no onírico, o movimento foi, acima de tudo, uma rebelião contra os padrões conservadores de sua época. O Surrealismo não só redefiniu os contornos da arte, mas também impactou profundamente o pensamento filosófico e cultural, ao destacar o papel da imaginação e da fantasia na construção da realidade.

Jurandy Valença observa que o Surrealismo ainda mantém uma força emancipada e provocadora, mesmo um século após sua origem. Segundo o curador, “o Surrealismo, mais do que um movimento histórico, é uma forma de ver o mundo que resiste ao tempo e desafia o espectador a questionar as próprias noções de realidade. Ao selecionar as obras, buscamos não só a representação tradicional do movimento, mas também como ele reverbera nas expressões e interpretações artísticas de hoje”.

Na exposição, figuras como o alemão Walter Lewy, que se manteve fiel ao Surrealismo até o fim da vida, e brasileiros como Flávio de Carvalho e Mário Gruber, que criaram universos que transcendem o comum, estão ao lado de nomes como Regina Silveira e Cildo Meireles, cujas obras estabelecem diálogos menos evidentes, mas significativos com o movimento. Também presentes estão os brasileiros Octávio Araújo, com cenas que evocam mistério e magia, e Marcello Grassmann, que explora figuras mitológicas e combina o humano e o animal. A mostra aborda a questão da representatividade feminina no surrealismo, reconhecendo que o movimento foi historicamente misógino. No entanto, propõe um olhar crítico sobre essa questão, explorando como o Surrealismo, apesar de suas limitações, contribuiu para discussões sobre identidade e subjetividade.

A exposição “Quimeras – 100 anos do surrealismo” convida o público a refletir sobre a atemporalidade do Surrealismo e sua capacidade de transcender fronteiras culturais e temporais, expandindo os limites da percepção e da interpretação artística. Ao explorar como o imaginário e o inconsciente seguem vivos e desafiadores na produção artística contemporânea, a mostra reafirma o Surrealismo não apenas como um marco histórico, mas como um movimento em constante transformação, que continua a inspirar novas gerações de artistas e a ressoar profundamente nas sensibilidades atuais.

Artistas partcipantes

Alejandro Lloret, Cildo Meireles, Flávio de Carvalho, Marcello Grassmann, Mario Gruber, Octávio Araújo, Regina Silveira, Roberto Magalhães, Sonia Menna Barreto, Vik Muniz, Walter Lewy, Wifredo Lam, Juarez Machado, Vito Campanella, Leon Ferrari, Fernando Cardoso, Inos Corradin e Victor Brecheret.

Até 14 de desembro.

Renoir e Visconti na Danielian Galeria.

05/nov

Em celebração aos 150 anos do movimento impressionista, responsável por inaugurar a era moderna na arte, a Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  exibirá a mostra “Visconti e Renoir: Impressionismo – 150 anos”. Com abertura marcada para o dia 07 de novembro, a exposição gratuita reúne três pinturas e uma litografia do francês Pierre Auguste Renoir (1841-1919) e, aproximadamente, 40 obras do artista ítalo-brasileiro Eliseu D’Angelo Visconti (1866-1944). A curadoria é de Denise Mattar.

Até 14 de dezembro.