Na dotART em Belo Horizonte

16/nov

A renovada Galeria dotART, bairro Funcionários, Belo Horizonte, MG, apresenta na galeria 1, a exposição coletiva “O dia se renova todo“, e na galeria 2, a primeira exposição individual do fotógrafo Fabiano Al Makul denominada “Outros olhos para ver”. No mesmo dia, lança os livros/obra “Galáxias“, de Antonio Dias e Haroldo de Campos e “Galpão Gaveta“, de Paulo Climachauska. Com 41 artistas e 50 obras a coletiva “O dia se renova todo dia” apresenta: pinturas, desenhos, fotografias, gravuras, objetos e esculturas. Os artistas foram convidados pelo curador Wilson Lazaro, diretor artístico da galeria, que exibe a primeira grande mostra e apresenta o conceito da nova identidade da dotART, desenvolvida pelo designer Felipe Taborda.

 

 

O time escalado para as duas exposições e lançamentos é composto dos mais diversos idiomas visuais: Adriana Varejao, Janaína Tschape, AnishKapoor, Leonilson, Cássio Vasconcellos, Pedro Varela, Paul Morrison, Richard Serra, FransKrajcberg, Rubem Ludolf, Tomás Saraceno, Ivan Navarro, Sarah Morris, PhilipeDecrauzat, Lygia Pape, Rubem Valentim, Rubem Ianelli, Alexander Calder, Iole de Freitas, Nelson Felix, Cildo Meireles, Michael Craig-Martin, Antonio Dias, Paulo Pasta, Paulo Climaschauska, Volpi, Andy Warhol,Wanda Pimentel, Lucia Laguna, Marina Saleme, Celso Orsini, Nelson Leirner, Anna Maria Maiolino, Paulo Campinho e Marina Rheingantz.

 

 

Sobre Antonio Dias e o livro obra “Galáxias”

 

Antonio Dias nasceu em 1944, em Campina Grande, na Paraíba e, ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro. Artista multimídia, tem a pintura como elemento de forte presença em seu trabalho. Em meados dos anos sessenta, ganhou uma bolsa do governo francês e foi morar em Paris. Depois de um longo período no exterior, entre Milão, na Itália, e Colônia, na Alemanha, volta, em fins dos anos noventa, a dividir seu tempo com o Brasil, onde tem residência no Rio de Janeiro. O projeto desenvolvido por Antonio Dias junto com Haroldo de Campos (1929-2003) no começo da década de setenta, leva o mesmo nome do famoso livro-poema do poeta concretista – “Galáxias”. E, mais de quarenta anos depois, ganha a participação da designer Lucia Bertazzo em sua produção. Com edição de 93 exemplares, e grande formato – 70cm x 50cm com 7cm de altura – “Galáxias” é um estojo de fibra de vidro revestido em tecido, que contém, em cada exemplar, um conjunto de 32 objetos feitos pelo artista, agrupados e acondicionados em dez caixas de madeira impressa com peles, tema presente em sua obra. Esses objetos – foram realizados manualmente – revêem a trajetória artística de Antonio Dias no período dos anos setenta. A realização de “Galáxias”, a cargo da UQ/ Aprazível Edições, demandou quatro anos de cuidadoso trabalho, com centenas de provas e protótipos, e grande diversidade de materiais empregados: tecido, acrílico, foam, plástico, algodão, pergaminho. As formas de impressão também variam entre fotogravura, tipografia, hot stamping, serigrafia e pouchoir. Metade da edição foi adquirida por colecionadores e importantes museus: MAC de Niterói (Coleção João Sattamini), MAM Rio (Coleção Gilberto Chateaubriand), Pinacoteca  de São Paulo e MoMA de Nova York.

 

 

Sobre Paulo Climachauska e o livro obra “Galpão Gaveta”

 

A obra de Paulo trabalha, sobretudo, com a operação de subtração e de retirada. Trata-se de um déficit que vai além da abstração numérica e se aproxima de questões econômicas, sociais e políticas, mesmo quando o artista elege a natureza como tema. No texto que acompanha a obra de 7 itens e 18 exemplares está escrito: “O Galpão Gaveta, este que você acabou de ler, começou a ser habitado em junho de 2012. Galpão é o lugar em que o extrato dos seres e o sumo das coisas se depositam. Eles podem ser habitados, sim!, por poéticas e por traços. É o que decidiu fazer Paulo Climachauska ao recolher réguas e compassos, telas e tintas, papéis e espelhos. Tudo colecionado dentro de seu imaginário e transformado em matéria-viva: o Galpão Gaveta.” Uma gaveta pode ser uma obra de arte? Pode. Uma não, muitas. O Galpão Gaveta, invento que se atribui ao artista Paulo Climachauska, traz dentro de si uma multidão de objetos. Vamos contar?

 

1. Um estojo em aço, pintado na cor laranja, de 50 x 40 cm (com 9 cm de altura) que contém… uma gaveta. 2. A gaveta, por sua vez, contém seis outros objetos. 3. O primeiro é uma pintura original sobre cartão telado em cada exemplar. Isso mesmo: um original em tinta acrílica, assinado no verso. 4. O Livro de Areia, revestido em tecido, traz arabescos gráficos do que se passa pela cabeça do artista. 5. Já o Livro dos Espelhos, também revestido em tecido, se entreabre num firmamento de números. 6. Outro estojo contém cinco gravuras e um surpreendente texto, todos impressos em serigrafia sobre acetato, revelando galpões em perspectiva – aqui denominados de “Catedrais”. 7. Uma dupla de esquadros em aço niquelado sai do berço da caixa e ficam de pé, como se esculturas fossem.

 

 

Sobre Fabiano Al Makul

 

Fabiano Al Makul é apaixonado, vai ao mundo pelo coração. Sua pesquisa não é sistemática.Os temas parecem escolhidos ao acaso, como se começasse sempre pela curiosidade. Pode ser uma canção musical, um encontro… e ao fim a imagem é sempre um gesto de afeto. Suas representações formam histórias, têm a ver com a liberdade que existe na ficção. Fantasias e sonhos: esse é sempre o começo do criar desse artista. Ele quer fazer você se emocionar diante das suas criações! Uma boa criação é construída com amor, por nuances de cores e lembranças de lugares. Há um momento especial onde o autor captura a passagem da vida e a coloca junto com o sentir “arte”. A beleza da imagem tem o poder da transformação de cada dia vivenciado, é realidade presente em quase todas as esferas do cotidiano, da estética. Vale lembrar a história da arte e seus segmentos, que conseguiam estabelecer-se porque havia “beleza” em todos os movimentos. A cor, o movimento e a música se unem ao desejo e à fragilidade, em momentos únicos da vida e em cada cena retratada por Fabiano nas suas composições visuais. Sua fotografia cria um frescor raro, que está nos romances, na alma da velha-guarda do samba, nas canções populares, nas viagens, nos lugares, na arquitetura e nas pessoas… cada um, quando entra em contato com sua obra, sente que ele traz à superfície um mundo híbrido, onde os limites entre as culturas, os meios ou linguagens são cada vez mais indefinidos. É com um “olhar de beleza” que poderemos ultrapassar quaisquer fronteiras ainda demarcadas e admirar, sentir e penetrar nas criações exibidas. O artista captura suas imagens no instantâneo da ação de ver, registrando com novo olhar as cenas do cotidiano e “escrevendo” textos com rimas de luz e sombra. Esse é o nosso poeta Fabiano!

 

Sobre a Galeria dotART

 
A dotART foi criada por Feiz e Maria Helena Bahmed nos anos setenta e é pioneira na divulgação e promoção da arte  em Belo Horizonte e no estado de Minas Gerais. Agora, surge a renovada Galeria dotART, que, com planejamento e pesquisa, desenvolve um plano para a carreira de cada um dos artistas que representa na região buscando as soluções mais criativas e eficientes, apoiados em pesquisa, consultoria, curadoria, publicações e gestão de projetos para as instituições.

 

A renovação acontece. Fernando Bahmed e Leila Gontijo são herdeiros de Maria Helena e Feiz, atuam no mercado de arte, e assumem a galeria trazendo novo vigor para os projetos. Luciana Junqueira, passa a fazer parte da dotART. Ao grupo, somam-se Wilson Lazaro, diretor artístico, e toda a equipe: Felipe Taborda, Francisco Santos, Hélio Dalseco, Ivanei Souza, Jéssica Carvalho, Robson Gomes e Sérgio Souto.

 

Ao longo dos últimos 40 anos, vários artistas já passaram pela galeria: Volpi, Amilcar de Castro, Leda Catunda, Frans Kracjberg, Cildo Meireles, Fernando Lucchesi, Marcos Coelho Benjamin, Iberê Camargo, Ianelli, Siron Franco, Bruno Giorgi, Amelia Toledo, Iole de Freitas, Marina Seleme, Sara Ramo, Paulo Campinho, Eduardo Sued, Sonia Ebling, Rubem Valentim, Angelo Venosa, Alexandre Calder, Anish Kapoor, Leonilson, Adriana Varejão, Niura Bellavinha, José Bento, Fabiano AL Makul, Adriana Rocha, Regina Silveira, Gonçalo Ivo, Paulo Pasta, Nelson Felix, Daniel Senise, Iran Espirito Santo, Manfredo de Sousa, Vik Muniz, Fernanda Nanam, Cristina Canale, Ana Horta, Paulo Climachauska, Antonio Dias, Anna Maria Maiolino, Paulo Campinho, José Bechara, Judith Lauand, Hércules Barsotti, Cícero Dias, Celso Orsini, Roberto Magalhães e Wanda Pimentel, entre outros.

 

 

A partir de 25 de novembro.

Legendas: Iole de Freitas

Cassio Vasconcelos

Iberê no MAM-Rio

14/set

A mostra “Iberê Camargo: um trágico nos trópicos” abriu as homenagens ao centenário do artista no CCBB/SP em maio de 2014 e, no final do ano, foi reconhecida como melhor exposição retrospectiva pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em sua 59ª edição. A sua reedição no MAM Rio é um marco de encerramento desse ano comemorativo, justamente na cidade onde Iberê morou, de 1942 a 1982, consolidou sua formação artística e consagrou-se como um dos mais importantes artistas modernos brasileiros. As 134 obras que compõem a exposição foram especialmente selecionadas pelo curador, professor e crítico de arte, Luiz Camillo Osorio e incluem pinturas, desenhos, gravuras e matrizes.
Na versão carioca da exposição, o público poderá apreciar desde obras da década de 50 – período em que Iberê retornou da Europa para o Rio após ter estudado com mestres como Carlos Alberto Petrucci, De Chirico e André Lhote – até as grandes e trágicas telas de sua última fase, nos anos 90, que incluem as séries: “Ciclistas”, “As Idiotas” e “Tudo Te é Fácil e Inútil”.

 

“O núcleo da exposição é o processo de amadurecimento da trajetória de Iberê, dos Carretéis até as telas dos anos 1980, quando a figura humana começa a reaparecer. E como não poderia deixar de ser, haverá uma pequena mostra complementar do Iberê gráfico, apresentada como uma exposição de câmara, intimista, em que muitos dos seus temas e obsessões são trabalhados no corte preciso da linha e das várias experimentações realizadas como gravador”, afirma o curador.
Em 1994 foi realizada no CCBB do Rio de Janeiro uma grande exposição retrospectiva de Iberê Camargo. Para o catálogo desta exposição, o curador Ronaldo Brito escreveu um ensaio a que deu o título de “Um Trágico Moderno”. Ao longo da exposição, já doente, o artista veio a falecer. Foi ali que vi pela primeira vez o conjunto de grandes pinturas figurativas de sua última fase, iniciada em 1990. Beirando os oitenta anos Iberê daria naquelas últimas telas um salto trágico, radicalizando a experiência do corpo e da finitude. Tudo ali ganhava uma gravidade exacerbada. As fisionomias são abrutalhadas como na fase negra do Goya, os corpos ganham uma carnalidade aderida à superfície encrespada da tela, a atmosfera, atravessada por uma luminosidade fria, é pós-apocalíptica. Deparar-me com estas telas foi desconcertante. Continua sendo. Quanta força e quanto desencanto.
Esta exposição retrospectiva aqui no MAM, encerrando as comemorações do centenário do artista, tem como premissa uma relação direta entre a presença viva da matéria pictórica e a potência trágica da sua pintura. Não há uma narrativa cronológica, mas um esforço de perceber o modo como ao longo de sua trajetória, ao menos desde o momento em que conquista sua maioridade pictórica com os carretéis, há uma mesma tensão entre pintar um motivo e o próprio motivo da pintura. Uma viva tensão entre algo percebido e a densidade do gesto e das camadas de tinta. Demos ênfase, ao fazer as escolhas curatoriais, à fase madura do artista, mostrando-a como coroamento de sua trajetória, em que a recuperação da figura foi menos um retorno a algo que havia sido abandonado e mais uma explicitação da corporeidade – do homem e da pintura – e sua inscrição como visualidade encarnada.

 

 

 

Até 01 de novembro.

Exposição na Fundação Vera Chaves Barcellos

21/ago

A Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, apresenta a mostra “Destino dos Objetos | O

artista como colecionador” e as coleções da FVCB. Impressões, desenhos, fotografias,

gravuras, fotocópias, objetos, esculturas, colagens e vídeos integram a mostra que reúne um

diverso grupo de 50 artistas de várias nacionalidades. Com curadoria de Eduardo Veras,

“Destino dos Objetos” examina como, por diferentes caminhos, os artistas se fazem

colecionadores, ou, pelo menos, como seus trabalhos podem replicar algo do furor

colecionista.

 

Há aqueles que tratam de isolar, recolher e sacralizar peças específicas, peças que

imediatamente perdem sua função original, mesmo que não renunciem às memórias que

carregam. Há também aqueles em que, mais do que a escolha, despontam as noções de

acúmulo, ordenamento e classificação. Entre uns e outros, o artista emerge como o sujeito dos

desejos e das decisões, oferecendo ou adivinhando um destino para os objetos.

 

A exposição remonta ao gérmen da própria Fundação Vera Chaves Barcellos, cuja origem

encontra-se nas coleções de arte formadas pelos artistas Vera Chaves Barcellos e Patricio

Farías ao longo dos anos, antes mesmo da formalização desse importante centro de divulgação

de arte contemporânea.

 

Participam da mostra artistas brasileiros, latino-americanos e europeus: 3NÓS3, Albert

Casamada, Almandrade, Amanda Teixeira, Anna Bella Geiger, Antoni Muntadas, Boris Kossoy,

Brígida Baltar, Cao Guimarães, Carlos Asp, Carmela Gross, Christo, Daniel Santiago, Elcio

Rossini, Ester Grinspum, Evandro Salles, Feggo, Gisela Waetge, Gretta Sarfatty, Hannah Collins,

Heloísa Schneiders da Silva, Hudinilson Jr., Jailton Moreira, Jesus R.G. Escobar, Joan Rabascall,

Joaquim Branco, Joelson Bugila, Julio Plaza, Klaus Groh, León Ferrari, Lia Menna Barreto, Mara

Alvares, Marcel-li Antunez, Marcelo Moscheta, Marco Antônio Filho, Marcos Fioravante, Maria

Lúcia Cattani, Mariana Silva da Silva, Marlies Ritter, Mario Ramiro, Mário Röhnelt, Michael

Chapman, Nicole Gravier, Nina Moraes, Patricio Farías, Rogério Nazari, Téti Waldraff, Ulises

Carrión, Vera Chaves Barcellos e Waltércio Caldas.

 

A exposição contará com uma programação paralela com palestras, conversas com artistas,

além das visitas mediadas e da promoção do Curso de Formação Continuada em Artes – ações

permanentes do Programa Educativo da FVCB, que segue oportunizando vivas experiências

com a arte e estimulando a formação de novos públicos.

 

 

De 22 de agosto a 12 de dezembro.

Em memória de artistas plásticos brasileiros

18/ago

Grandes representantes da arte visual brasileira da segunda metade do século XX já partiram

deixando saudades, mas perpetuam-se na história através de suas criações. A exposição “Era

só saudade dos que partiram”, no Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, Portão 10, São

Paulo, SP, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, homenageia alguns dos

artistas que fazem parte da trajetória artística do artista plástico Emanoel Araújo, fundador e

Diretor Curador da instituição.

 

A mostra é composta por aproximadamente 40 obras, entre pinturas, gravuras, esculturas e

fotografias, que revelam a diversidade de personalidades marcantes que partiram nos últimos

anos, como Antônio Henrique Amaral, Antonio Maluf, Arcangelo Ianelli, Edival Ramosa, Gilvan

Samico, Hércules Barsotti, Ivens Machado, Odetto Guersoni, Marcelo Grassmann, Maria Lidia

Magliani, Mestre Didi, Sonia Castro, Tomie Ohtake e Otávio Araújo, recém-falecido, aos 89

anos, no último dia 25 de junho de 2015.

 

Emanoel Araújo comenta: “Esta exposição é uma homenagem à memória dos artistas plásticos

brasileiros, falecidos em diferentes momentos, deixando lembranças das suas humanidades e

de suas criações.”

 

Alguns destes artistas fazem parte do Acervo do Museu Afro Brasil, como: Maria Lidia Magliani

(1946 – 2012), artista irreverente e marcante com suas pinceladas e cores; Mestre Didi (1917 –

2013) um “sacerdote-artista”, que foi um dos fundadores de uma linguagem afro-brasileira

com sua obra escultórica; Arcangelo Ianelli (1922 – 2009) que com cores fortes e uma

particular geometria, o acompanhou por toda sua vida em suas pinturas e esculturas; Edival

Ramosa (1940 – 2015), autor de pinturas, objetos, esculturas e jóias que se manteve fiel as

suas escolhas formais e cromáticas por toda sua carreira, unindo materiais naturais e

industriais e Otávio Araújo (1926 – 2015), que produziu gravuras, desenhos e pinturas

sensuais, aglutinadoras de uma poesia de mistérios e imagens e evocadoras de uma magia

atemporal.

 

 

De 18 de agosto a 18 de outubro.

Francisco Dalcol apresenta Antônio Augusto Bueno na Galeria Mamute

12/ago

A Galeria Mamute, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, divulga e convida para a abertura da

exposição “Antes era só o vão”, do artista Antônio Augusto Bueno. A mostra com curadoria de

Francisco Dalcol apresenta um conjunto de trabalhos abrangendo pinturas, instalação, vídeo

com participação de Bebeto Alves, Eduardo Montelli e Luís Filipe Bueno e, gravuras em metal

impressas por Marcelo Lunardi.

 

 

A palavra do curador

 

Antes era só o vão

 

Os trabalhos de Antônio Augusto Bueno parecem atravessados por algo que não lhes

pertence, mas ao mesmo tempo os constitui. Esse aparente desacerto vem de uma indisciplina

do artista, no sentido de uma postura interessada na liberdade de experimentar no trânsito

entre linguagens, sem se prender a uma ou outra, intercambiando constantemente técnicas e

procedimentos.

 

Nas obras que integram a nova série “Antes era só o vão”(1), pintura é também gravura, assim

como escultura é desenho, e gravura é pintura. Os inversos também, pois um está sempre no

outro, formando zonas de indefinição. E ao se contaminarem, trazem como recompensa a

descoberta, com todas as aberturas e possibilidades que os momentos de incerteza ensejam.

 

A montagem da exposição na Mamute busca tirar força desses rebatimentos, do ir e vir que se

estabelece entre as obras e as diferentes modalidades artísticas que as compõem, propondo

ao espectador, a partir da disposição dos trabalhos, algumas relações visuais; umas mais

imediatas, outras menos explicitadas.

 

A instalação na entrada da galeria ocupa o pequeno espaço vago ao lado da escada. Se antes

era só um vão, há agora ali a tentativa de transformar esse não lugar em uma situação.

Realizado especialmente para esta mostra, o trabalho é composto por gravetos que Antônio

Augusto recolhe e estrutura em forma de armações, filiando-se a uma série de outras obras de

viés escultórico que tem realizado ao longo de sua produção. É como se ele desenhasse o

objeto no espaço, vendo nos galhos as linhas do desenho, mas também as manchas, quando

reunidos como espécie de grandes maços e ramalhetes.

 

As salas expositivas do andar de cima apresentam as novas pinturas e gravuras da série “Antes

era só o vão”. Nas telas em grande formato, as manchas carregam um aspecto de vestígios

ancestrais, como marcas de um tempo passado. Também lembram os troncos das árvores do

quintal do Jabutipê, o ateliê na antiga casa que Antônio Augusto mantém em uma rua ainda

silenciosa no Centro Histórico de Porto Alegre. Remetem ainda às paredes rachadas,

descascadas e fraturadas que permanecem em pé no casarão em ruínas próximo ao Jabutipê

onde foi gravado o vídeo do qual vem o título desta exposição.* De algum modo, essa

visualidade do entorno cotidiano do artista está impregnada nessas pinturas.

 

Mas nada seria assim sem a bem-vinda intromissão da gravura. Nessas pinturas, está plasmado

um processo alongado e pausado, fruto de um procedimento experimental. Sobre a massa de

pigmentos e tinta acrílica, o artista sobrepõe betume em algumas áreas. Esse material, muitas

vezes usado nos processos de gravura, vira tinta também, compondo novas manchas. As

camadas acumuladas são frequentemente raspadas, em um gesto de adição e subtração de

matéria, e também cavoucadas, como nos procedimentos de incisão da gravura. É um

processo não imediato, que leva dias, como o tempo de espera que muitas vezes a gravura

demanda. E nesse transcorrer, que permite um olhar mais vagaroso e, por isso, reflexivo, as

dúvidas advindas sempre dão a ver possibilidades a serem testadas e encaminhadas.

 

Pode-se pensar nesse sentido as gravuras da série. Pela primeira vez, Antônio Augusto

apresenta em público um conjunto representativo de trabalhos gráficos, essa modalidade

artística de tanta tradição e relevância histórica na arte gaúcha. Novamente, interessa ao

artista a margem experimental, aqui oferecida pela gravura em metal e pelo tempo próprio a

seu processo. Isso começa nos modos com que explora o desenho sobre as matrizes, passa

pela alquimia de ácidos e outros materiais aplicados nas placas como se ele as estivesse

pintando, e chega à etapa de impressão, cujas primeiras provas sempre levam o artista a

refazer o percurso do processo em busca de novos efeitos. Assim, a imagem final fixada sobre

o papel é antecedida por uma série de testes e experimentos. O que se obtém são resultados

sobrepostos e acumulados. Ao fim, continua sendo gravura, mas também desenho e pintura. E

ainda escultura. Se na instalação os gravetos se articulam como linhas no espaço, na gravura se

dá o oposto, com as linhas do desenho se tramando como se fossem elas os gravetos.

 

Em um olhar atento, é possível perceber que, ao longo da série “Antes era só o vão”,

evidencia-se um aspecto central que perpassa a totalidade da obra de Antônio Augusto de um

modo tão pessoal: o gosto pela artesania e pelo vagar que lhe é inerente, opções que, ao

serem assumidas pelo artista, ganham certo caráter político em tempos tão apressados e

automatizados como os nossos. Tempos esses dos quais apartar-se conscientemente significa

não só um ato de resistência, mas um gesto autêntico e singular de se colocar no mundo.

 

Francisco Dalcol

(1) “Antes era só o vão” é um trecho do texto de Luís Filipe Bueno que integra o vídeo

apresentado na exposição.

 

 

Sobre o artista

 

Antônio Augusto Bueno é Bacharel em Desenho (2004) e Escultura (2008), pelo Instituto de

Artes da UFRGS. Desde 1998 vem realizando exposições individuais, dentre elas “Cabeças –

armadilhas para um significado” no Museu do Trabalho / POA; “Anotador de Faces” Galeria

Municipal de Arte em Florianópolis, “Uma Maneira de Pensar” no MALG, Pelotas/RS, “As

desórbitas do avesso” na Arte&Fato galeria, POA/RS, “Gravetos Armados” no MAC RS,  Galeria

Iberê Camargo,  Porão do Paço Municipal, POA/RS, “Desenhos” no Estudio Dezenove, Rio de

Janeiro/RJ, “Um outro outono” MARGS.  Desde 1996 participa de exposições coletivas como

“Do Atelier ao cubo branco”, “A bela morte” e “O Cânone Pobre” no MARGS, POA/ RS, “Idades

Contemporâneas”, ”Entre A-Z” e “Da matéria sensível” no MAC-RS em POA/RS, “Desvenda” no

Museu da República, Brasília/DF, ArtLive 2011 na CATM Chelsea, Nova York/EUA. Participou de

salões, dentre eles o Salão do Jovem Artista no MARGS, POA/RS, Salão da Câmara, POA/RS e o

Salão Nacional de Cerâmica no Museu Alfredo Andersen, Curitiba/PR. Em 2015 lançou o livro

Jabutipê, em 2012  o livro “O último homem na lua” com exposição no MAC-RS e Ilustrou o

livro “Arame falado” editado pela editora 7 letras do Rio de Janeiro/RJ . Em 2007 recebeu o

Prêmio Açorianos na categoria Melhor Exposição Coletiva com o Grupo Passos Perdidos e em

2008, o Prêmio Açorianos na Categoria Cerâmica com o Bando do Barro, além de ser indicado

na categoria Artista Revelação. No ano de 2009 foi indicado na categoria Desenho, pela

exposição “Tempo sobre Papel”, em 2012 foi indicado na categoria Escultura pela exposição

“Gravetos Armados” e em 2013 foi indicado em cinco diferentes categorias. Em 2013 recebeu

menção honrosa no 2° `Prêmio IEAVi pela exposição “Circulando linhas”. Tem trabalhos em

acervos do MARGS, MACRS, UFRGS, Fundação Franklin Cascaes e Fundação Kingler Filho.

Participou em 2000, da criação do Atelier João Alfredo 512, onde trabalhou até 2007. Em 2007

e 2008 integrou o grupo do Atelier Subterrânea. Desde 2008 realiza seus trabalhos, ministra

aulas e coordena o espaço expositivo do Jabutipê, situado no centro histórico de Porto Alegre.

É artista representado pela galeria Mamute.

 

 

Sobre o curador

 

Francisco Dalcol é doutorando em História, Teoria e Crítica pelo Programa de Pós-Graduação

em Artes Visuais (PPGAV) do Instituto de Artes da UFRGS. Mestre pelo Programa de Pós-

Graduação em Artes Visuais (PPGART), da UFSM, na linha de pesquisa Arte e Cultura, com

ênfase em história, teoria e crítica (2013). Graduado em Comunicação Social, com habilitação

em Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Maria (2003), com especialização em

Comunicação e Projetos de Mídia, ênfase em arte, cultura, internet e cibercultura, pelo Centro

Universitário Franciscano – Unifra (2008). Também trabalha como jornalista (repórter e editor)

no jornal Zero Hora – Grupo RBS, sendo setorista de artes visuais. Tem experiência na área de

Comunicação, com ênfase em Jornalismo, Editoração, Jornalismo Cultural e Jornalismo Digital,

e também na de Artes e Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: história, crítica

e discursos sobre a arte e a produção cultural.

 

 

Até 09 de outubro.

Das ruas para as telas

07/ago

A CAIXA Cultural Rio de Janeiro apresenta a mostra “Movimentos”, do artista visual André De Castro. A exposição traz retratos e referências de jovens que participaram de manifestações democráticas no Brasil, em 2013, e também na Turquia, Grécia e Estados Unidos, formando um painel com 35 telas em serigrafia. No dia da abertura, haverá o lançamento de um catálogo bilíngue produzido pela Aeroplano Editora e Pratt Press.

 

O painel que compõe a mostra, iniciado em 2013 e em constante expansão, está sendo concluído nas exposições do Brasil com telas inéditas. A escolha da técnica não foi por acaso. O silkscreen, também conhecido como serigrafia, é associado a movimentos políticos históricos e a mitificação de personalidades, como Che Guevara, Marilyn Monroe e o presidente Barack Obama, por exemplo. A exposição na CAIXA Cultural traz ainda um texto inédito, bilíngue, do historiador Daniel Aarão Reis.

 

Para reunir as imagens e referências de cada jovem, André De Castro manteve contato com os manifestantes pelo mesmo meio que eles utilizaram para organizar as passeatas na época: a internet.

 

“Busquei contato por hashtags, em grupos do Facebook e no Twitter. A grande maioria dos participantes é de jovens que estão sempre conectados, e assim que os identifiquei, conversei sobre o projeto e ​pedi a cada retratado que enviasse uma foto de rosto e respondesse a uma série de perguntas relacionadas ao movimento político de seu país e sua identidade”, conta André, que não pretende, com seu trabalho, enaltecer heróis ou representantes dos movimentos, mas usar a técnica da serigrafia para valorizar o conjunto formado por indivíduos únicos. ​

 

A individual já foi exibida em Miami, durante a Art Basel; e em Nova York, na BKLYN Fair e na Opus Galery; e foi vista por cerca de 30 mil pessoas em Brasília e Belo Horizonte. Este ano, para dedicar-se à exposição “Movimentos”, no Brasil, o artista transferiu seu estúdio para a antiga fábrica da Behring, no Rio de Janeiro.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido no Brasil, o artista visual André De Castro vive e trabalha ​​entre o Rio de Janeiro e Nova York​. Em 2011, mudou-se para NY para cursar o Master of Fine Arts (MFA), no Pratt Institute e, desde 2013, mantém seu estúdio no bairro do Brooklyn e trabalha como diretor de arte na Saatchi and Saatchi.

 

Em 2009, André publicou seu primeiro livro “Funk – que batida é essa”, um conjunto de ilustrações que retratam o funk carioca, fruto do projeto de graduação na PUC, RJ. O artista venceu, em 2013, o prêmio ​Never Stop Never Settle, ​promovido pelo Pratt Institute e Hennessy US​ com o projeto “Movimentos”.

 

 

De 12 de agosto a 12 de setembro.

Malu Fatorelli na Galeria Laura Alvim

27/nov

A aproximação entre o espaço e a passagem do tempo, a produção como “arquitetura de artista”, vinculada ao lugar onde se expõe e à construção dos trabalhos são pilares de “Clepsidra – Arquitetura líquida”, individual de Malu Fatorelli, que a Galeria Laura Alvim inaugura sob curadoria de Glória Ferreira.

 

As obras desta mostra – videoinstalações, gravuras, vídeos e desenhos – acolhem o tempo na relação com a paisagem do entorno, marcada pela repetição das ondas do mar de Ipanema. A vídeoinstalação, que batiza a exposição, reproduz na sala em frente à praia o princípio da clepsidra, o relógio de água do antigo Egito, um vaso cheio do líquido, com um pequeno orifício, que o deixa escoar lentamente. A medida em que a água escorre, surge uma marcação do tempo no interior do recipiente.

 

Malu Fatorelli criou uma projeção panorâmica em 360º do mar de Ipanema sobre todas as paredes da sala. No vídeo, o líquido “escoa” lentamente, até o rodapé, deixando ver linhas, como pautas de caderno, que marcam o tempo.

 

Em 2008, a artista criou uma série de chaves de aço com banho de cobre, nas quais o segredo reproduz o skyline da Lagoa Rodrigo de Freitas. Uma delas serve de base para uma projeção sobre uma tela-mesa, sobre a qual uma fonte luminosa se movimenta, criando sombra e reflexo que aludem a uma espécie de relógio de sol. Este trabalho é intitulado O lugar do tempo (2010).

 

Panorama da Lagoa Rodrigo de Freitas (2008) é um círculo formado por doze chaves sobre arquitetura, perpendiculares à parede. A incidência de luz projeta o desenho do segredo, trazendo a paisagem de outro bairro para dentro da galeria.

 

Mar de dentro (2014) é uma frottage (decalque) a partir de um vitral da escada interna da Casa de Cultura Laura Alvim,  remetendo às ondas do mar. A série de 10 Desenhos vazantes (2014), em grafite e têmpera sobre papel, tem referência na recriação da maré. O vídeo Caderno de mar (2014) são pequenas imagens do mar de Ipanema em preto e branco sobre papel japonês.

 

Em Suíte líquida (2014), uma espécie de ampulheta líquida, a água azul escorre sobre tiras largas de papel japonês de fibra longa, da parede ao chão, e forma desenhos incontroláveis, que tingem o papel de acordo com as condições de umidade e temperatura do espaço.

 

Treze desenhos, sob o título de Espaço sobre tempo (2014), partem da imagem do mar de Ipanema, com variações de luz. Neste conjunto, Malu intervém com grafite, pigmento, relevo seco, e têmpera, do claro para o escuro ou vice-versa, denotando a passagem do tempo.

 

 

Sobre a artista

 

Artista plástica, arquiteta, mestre em Comunicação e Tecnologia da Imagem (ECO-UFRJ) e doutora em Artes Visuais (EBA-UFRJ), Malu Fatorelli é professora adjunta do Instituto de Artes da UERJ. Foi Artista Visitante na Escola Internacional de Gráfica de Veneza, Itália; na Ruskin Sckool of Drawing and Fine Arts da Universidade de Oxford, Inglaterra, com bolsa do British Counsil; no Headland Center for the Arts, CA, EUA; no Instituto Gedok, Munique, Alemanha; e na Universidade de Calgary no Canadá. Possui obras nas seguintes coleções públicas: Biblioteca Nacional de Paris, França. / Linacre College, Oxford, Inglaterra. / Centro Cultural Cândido Mendes, RJ. / Centro Internacional da Gráfica de Veneza, Itália. / Fundação Cultural de Curitiba, PR. / Solar Grandjean de Montigny, PUC, RJ. / SESC, RJ. / Museu da Chácara do Céu, RJ. / MAC Niterói / Museu Nacional de Belas Artes, RJ / EAV Parque Lage, RJ / Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP.  Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil.

 

 

 

De 03 de dezembro a 08 de março de 2015.

Conchas, caramujos e caracóis

10/nov

Anna Letycia, um dos grandes expoentes da gravura brasileira, acaba de finalizar a nova produção de trabalhos que serão expostos na Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, na mostra “Arte em Papel”. São dez gravuras inéditas em técnica mista e colagens; uma nova versão do seu universo de conchas, caramujos e caracóis. Nessa mostra, Anna Letycia exibe peças únicas, já que os diversos elementos têm formas e cores variadas e maneiras distintas de apresentação.

 

 

Sobre a artista

 

Anna Letycia moldou sua carreira a partir de expressivos e sóbrios traços geométricos, apresentando-se em técnicas diversas como ponta seca, água forte, água tinta, açúcar com guache mas também é conhecida por suas pinturas. Começou estudando pintura com Anna Letycia moldou sua carreira a partir de expressivos e sóbrios traços geométricos, apresentando-se em técnicas diversas como ponta seca, água forte, água tinta, açúcar com guache mas também é conhecida por suas pinturas. Começou estudando pintura com Bustamante Sá e mais tarde, pintura com Ivan Serpa. Participou de cursos de gravura com Goeldi, Iberê Camargo e Darel. Sua gravura passou pelas fases dos caramujos, formigas, verduras e frutas, pássaros, tatus, caixas, caracóis geométricos, até chegar á novas imagens.Sua gravura passou pelas fases dos caramujos, formigas, verduras e frutas, pássaros, tatus, caixas, caracóis geométricos, até chegar á novas imagens.

 

Artista militante e vencedora, Anna Letycia foi premiada na Bienal dos Jovens de Paris, na Bienal de Pequim e no Salão Nacional de Arte Moderna, entre outros eventos. Já realizou mais de 15 mostras individuais e participou de coletivas, como as bienais internacionais de Veneza, Tóquio e Florença, dentre outras no Brasil e no exterior. Em seu longo percurso, ela foi cenógrafa e figurinista do Teatro Tablado, tendo sido parceira da amiga Maria Clara Machado em peças como “O cavalinho azul” e “A bruxinha que era boa”, e trabalhou com Jorge Amado no jornal “Paratodos”. Em 1975, fundou, juntamente com Aloísio Magalhães, Thereza Miranda, Márcia Barroso do Amaral, Bárbara Sparvoli, Dadá Carvalho Brito e Haroldo Barroso, a galeria de arte Gravura Brasileira, em Copacabana, a primeira – no Rio de Janeiro – dedicada à comercialização de gravura e desenho. Também fez a curadoria da exposição “Os inumeráveis estados do ser”, em 1997, para celebrar o Museu de Imagens do Inconsciente, de Nise da Silveira, Anna Letycia chegou a ser presidente da sociedade de amigos do museu. Ainda atuou como carnavalesca da União de Jacarepaguá, onde criou um enredo sobre Mestre Valentim, em 1963; e criou, em 1977, a Oficina de Gravura do Museu do Ingá, em Niterói, RJ.

 

 

De 04 a 20 de dezembro. 

Em Ribeirão Preto

04/nov

A Galeria Marcelo Guarnieri, Ribeirão Preto, apresenta a exposição individual da artista Elisa Bracher. A artista possui uma produção de mais de duas décadas e transita entre diferentes linguagens como o desenho, gravura, escultura e fotografia. A exposição apresentada exibe trabalhos realizados na década 90 e algumas produções recentes.

 

Ocupando todo o espaço da galeria, as obras são divididas de um lado pelas esculturas de madeira, gravuras e lençóis de chumbo e, do outro lado, pelas esculturas em ferro. Ao percorrer o espaço nos deparamos com as obras que se agigantam em relação ao espectador: o corpo que transita entre os trabalhos é confrontado a criar novas relações espaciais devido às grandes escalas das obras.

 

Esculturas em madeira: os trabalhos de Elisa, pesados em sua estrutura e leves em sua composição visual, sempre estão em tensão. As esculturas de madeira têm em sua composição as marcas do corte e o desgaste do tempo. Elas se equilibram escoradas em sua própria estrutura e em arranjo totêmico exibem toda a sua força e grandeza, maiores que o corpo humano, colocam-se no espaço imponentes a confrontar quem as observa.

 

Esculturas em ferro: as linhas das esculturas em ferro refazem o espaço, não o rebatendo, mas criando outros espaços em sua concepção dentro/fora. Ao avistar o trabalho com um certo distanciamento, as peças remetem a uma ordenação e concepção formalista, de perto isto é quebrado devido à irregularidade do material empregado. Do mesmo modo como nas esculturas de madeira, as marcas do feitio estão presentes, com um maçarico, Elisa esculpe as barras de ferro, dando ao material uma nova forma repleta de textura e deformidades.

 

Gravuras: as gravuras feitas com maquinários industriais evocam uma sofisticada articulação entre técnica/intuição: delicadeza de linhas e massas negras obtidas num processo de gravação de intenso embate entre matéria e ferramenta. Nesta articulação constrói-se uma poética que transita entre paisagens e memórias sob a forma de densas áreas negras e frágeis linhas que cortam o branco do papel.

 

A escala de grande proporção equiparada ao tamanho de um ser humano, repensa a imagem gravada e é observada com determinado distanciamento.  Aqui a gravura traz um embate corpo a corpo com o espectador, convidando-o a integrar e adentrar por entre as linhas que cortam o branco e entre o negro profundo que nos afasta de qualquer definição que limite e determine o espaço, como parede/fundo; finito/infinito.

 

Lençóis de chumbo: Os lençóis de chumbo são recortes que descem em paralelo à parede, possuem uma densidade que, ao contrário da gravura, não nos dá a possibilidade dos brancos, os olhos percorrem a estrutura da obra parando nas linhas formadas pelas sobreposições do material. Tais trabalhos têm um desenvolvimento recente na produção da artista e seguem concomitantes a outras técnicas.

 

 

Sobre a artista

 

Elisa Bracher, nasceu em 1965  em São Paulo, cidade onde vive e trabalha. Formada em artes pela FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado. Foi artista residente no The Article Circle, Noruega, Pólo Norte, 2014; no Atelier Iberê Camargo, 2006 e Out There – Sainsbury Centre For Visual Arts Norwich, Inglaterra, 2005. Participou de diversas exposições individuais e coletivas, destacando-se nas seguintes instituições: MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo; MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia; Estação Pinacoteca do Estado de São Paulo; Centro Cultural São Paulo; Museu Nacional Belas Artes; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Paço Imperial – Rio de Janeiro; Musée d’Art Contemporain de Bordeaux; Centre de La Gravure et de I ‘Image Imprimée – Bélgica. Seus trabalhos fazem parte de diversas coleções públicas e privadas: Fundação Cultural de Curitiba; Museu Nacional de Belo Horizonte; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Moderna da Bahia; Centro Cultural São Paulo.

 

 

Até 25 de novembro.

Evento no Parque Lage

28/out

A Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Jardim Botâncio, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no espaço das Cavalariças e Capela, no próximo dia 03 de novembro, a exposição “EAV 75.79 – um horizonte de eventos”, que reúne gravuras, objetos, fotografias, cartazes, filmes e documentos que abordam os anos 1975 a 1979, período inaugural da instituição, fundada e dirigida por Rubens Gerchman. A curadoria é de Helio Eichbauer, cenógrafo e colaborador essencial daquela gestão, criador das inovadoras oficinas do Corpo e Pluridimensional, e Marcelo Campos, professor da Escola e coordenador do Memória Lage. “Horizonte de eventos” é a expressão científica que significa a fronteira teórica ao redor de um buraco negro, e ao estar relacionada ao período de 1975-1979 da EAV, é o conceito norteador da exposição.

 

Marcelo Campos observa que passaram pelas dependências da EAV “artistas, críticos de arte, antropólogos, diretores de teatro, cenógrafos, poetas, músicos”. Aglutinados por Rubens Gerchman, colaboraram com a Escola Helio Eichbauer, Frederico Morais, Lygia Pape, Celeida Tostes, Gastão Manoel Henrique, Roberto Da Matta, Rosa Magalhães. “Além do cinema, a poesia tinha ampla difusão, nos eventos do Verão a 1000, coordenados por Chico Chaves”, lembra o curador. Em shows e noites festivas de lançamentos de “poema-processo” circulavam pelo pátio da piscina da EAV músicos e poetas como Chacal, Neide Sá, Falves Alves (Rio Grande do Norte), Almandrade (Bahia) e Paulo Brusky (Pernambuco), Luiz Melodia, Caetano Veloso e Jards Macalé.

 

“Horizonte de eventos” é a expressão científica que significa a fronteira teórica ao redor de um buraco negro, e ao estar relacionada ao período de 1975-1979 da EAV, é o conceito norteador da exposição. “Apresentamos uma possível iluminação sobre o sentido de arquivo, de memória. Ao mesmo tempo, todo o restante, o que compõe a escuridão, continua a existir como potência, mas não se deixa ver, por razões que a história brasileira ainda está a revelar”, diz Marcelo Campos

 

A diretora da EAV Parque Lage, Lisette Lagnado, observa que “em 1975, Gerchman assume a direção do então Instituto de Belas-Artes e logo chacoalha sua estrutura. Atualizar o ensino da arte no Brasil está na origem da EAV”. Para Marcio Botner, presidente da Oca Lage, organização social que administra a EAV e a Casa França-Brasil, “pensar a Escola de Artes Visuais do Parque Lage é pensar no Gerchman. Para ter arte tem que ter risco e liberdade. Ele abriu um espaço único de união das artes”.

 

 

Gravuras de 1976

 

A exposição ocupará as Cavalariças do Parque Lage e seu espaço contíguo, a Capela, com cenografia e móveis desenvolvidos por Helio Eichbauer, que criou dois biombos com quatro folhas cada, tendo como face quadros-negros sobre estruturas vazadas. Dispostos em ziguezague, eles exibirão reproduções de fotografias da época feitas por Celso Guimarães. O pensamento que norteava a prática exercida nas oficinas de Eichbauer emolduram os biombos, em frases-proposições como: Espaço topológico, Singularidade. Sincronicidade, A busca do espaço humano, Ritos de passagem, Encantaria.Pajelança, Sociologia da arte, Foto.síntese, Janelas dimensionais, Brasil.Idade, Espaço lúdico, Oficinas   Território tribal, Arte do fogo, Entropia e arte, Terra mater, Intuição e método.

 

Em uma das paredes estarão gravuras feitas em 1976, na EAV, pelos artistas Avatar Moraes (1933-2011), Dionísio Del Santo (1925-1999), Eduardo Sued (1925), Gastão Manoel Henrique (1933), Isabel Pons (1912-2002), Newton Cavalcanti (1930-2006), Roberto Magalhães (1940), Susan L’Engle (1944), e por Rubens Gerchman. Sobre um cubo, estará um trabalho recente e inédito do artista Thomas Jefferson (1978), estudante da EAV.

 

Três bancadas de madeira conterão originais de cartazes, publicações, documentos e fotografias da época pertencentes ao acervo da EAV, descobertas pelo projeto Memória Lage. Para dar ao público a noção do período, do contexto cultural e da abrangência de atividades realizadas pela instituição – que poderiam tanto ser discussões sobre feminismo, exibição de danças afro-brasileiras, sessões de cinema, ou incontáveis eventos de música e arte – esses documentos estão dispostos sob os temas Cultura popular, Cultura negra, Poesia, Cinema, Política cultural, Videoarte, Gravura, Escultura, Pintura, e Atmosfera. No centro do espaço, uma mesa giratória, como um moinho de quatro pás, conterá destaques dos registros dos eventos e atividades.

 

Na Capela, espaço contíguo à Cavalariça, será exibido um vídeo com depoimentos recentes e inéditos de Helio Eichbauer, dos artistas Roberto Magalhães e Xico Chaves, do editor Mário Margutti e do fotógrafo Celso Guimarães, que colaboraram com a gestão de Rubens Gerchman. Com cerca de uma hora de duração, o vídeo foi produzido por duas equipes da EAV – projeto Memória Lage, com entrevistas feitas por Juliana Rego e Thábata Castro, tendo à frente Marcelo Campos e Sandra Caleffi; e integrantes do Núcleo de Arte e Tecnologia, responsáveis pela filmagem e edição, em coordenação de Tina Velho.  Em um primeiro momento as entrevistas foram pensadas como forma de suprir uma lacuna documental do Memória Lage, mas o resultado rico e surpreendente foi determinante para que fosse inserido na exposição.

 

 

Intuição e Método

 

As famosas e criativas práticas realizadas por Helio Eichbauer entre 1975 e 1979 estavam fortemente embasadas em pensadores como Gilles Deleuze (1925-1995), Michel Foucault (1926-1984) e Félix Guattari (1930-1992). Frases como “A arte não reproduz o visível. Torna visível”, de Paul Klee (1879-1940), “Educação não é privilégio”, de Anísio Teixeira (1900-1971), e “Toda percepção é também pensamento. Todo processo de raciocínio é também intituivo. Toda observação é também invenção”, de Rudolf Arnheim (1904- 2007), também são referências para Eichbauer. Dentre as publicações que acompanharam o artista-professor estão “Os estados múltiplos do ser” (1932), de René Guénon (1886- 1951); “Abstração e empatia” de Wilhelm Worringer (1881-1965), “Escultura negra” (1915), de Carl Einstein (1885-1940), e o “Guia prático”, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que para ele traz “o mundo sonoro da infância”.

 

Lisette Lagnado, no texto que acompanha a exposição, cita a questão proposta por Gerchman em um poema escrito durante a estada do artista em Nova York, entre 1969 e 1971: “como conduzir um programa “não branco, não europeu, não colonial, não geográfico”, e onde fazer circular esta ideia de cultura”? Ela complementa: “Não há terreno mais fértil para tamanha ambição do que uma escola. Mais ainda, uma escola de arte”. A respeito do período inaugural da EAV Parque Lage, Marcio Botner exalta “as gerações de artistas que juntos aprenderam a misturar as artes e voar longe, do Parque Lage para o mundo”.

 

 

Até 11 de janeiro de 2015.