O legado de Emanoel Araujo

30/ago

 

Texto de apresentação da Galeria Jack Shainman que agora representa o legado de Emanoel Araujo!

 

A Galeria Jack Shainman tem a honra de anunciar a representação do Espólio de Emanoel Araújo e a próxima exposição Emanoel Araújo. Esta não será apenas sua apresentação de estreia na galeria, mas também o primeiro grande levantamento de sua obra em Nova York desde os anos 1980. O falecido artista, curador e colecionador brasileiro teve uma carreira que desafiou qualquer categorização; Emanoel Araújo forjou plataformas pessoais e públicas para expressar as nuances da vida e da cultura afro-brasileira – repensando as filosofias da estética moderna, criando espaço para artistas marginalizados exibirem seus trabalhos e preservando a história material de sua herança ancestral em uma época anterior à cultura afro-brasileira. vozes foram defendidas por audiências regionais ou internacionais.

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1940 em Santo Amaro da Purificação, Bahia, em uma família modesta de ourives afro-brasileiros, a adolescência de Araújo orbitou a produção criativa – ao longo de sua juventude trabalhando tanto com o marceneiro e entalhador Eufrásio Vargas quanto como designer gráfico para sua Imprensa Oficial da cidade natal. Após sua primeira exposição individual em Santo Amaro da Purificação, em 1959, matriculou-se na Escola de Belas Artes da Bahia, em Salvador. Ainda na escola, estudou gravura – na linha de seus predecessores modernos e contemporâneos Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape – desenvolvendo uma prática orientada para a expressão comunitária e a abstração geométrica. Desde o início, Emanoel Araújo se preocupou em trabalhar com mídias gráficas e tridimensionais, divergindo da apropriação da abstração da tradição colonial européia – visualizando o Modernismo nascido de um contexto singularmente brasileiro e compreendendo a capacidade da abstração de inflamar o poder político e a transformação social.

 

O trabalho de Araújo funciona em múltiplos registros, mesclando a linguagem formal desenvolvida em seus estudos, o abraço sem remorso de sua identidade queer, negra e brasileira e as intrincadas ideologias de sua vida como curador e colecionador de arte e artefatos afro-brasileiros. Com figuras simplificadas, estruturas primárias e palatos de alto contraste, suas gravuras, relevos e esculturas são montagens de referência: um mosaico de sua criação na capital afro-brasileira, traumas herdados do comércio transatlântico de escravos no Brasil, padrões nigerianos e beninenses têxteis e símbolos iorubás dos espíritos dos orixás. Embutida em seu trabalho está uma crioulização, reunindo segmentos de obras anteriores e objetos encontrados que cortam, interferem, refratam no plano da imagem – refletindo a grande dimensão da sociedade em camadas do Brasil; celebrando a vida cotidiana além dos epicentros internacionais do Rio de Janeiro e desmantelando o racismo sistêmico de dentro do estúdio e da instituição para promover, exibir e colecionar seu trabalho e o de outros artistas afro-brasileiros.

 

No centro da carreira criativa e profissional de Emanoel Araújo estava a ambição de desafiar a si mesmo e ao seu país para superar as adversidades e imaginar uma sociedade mais inclusiva através da arte, em vez de se contorcer ao mercado ou ao establishment. Ao longo de sua vida, suas realizações incluíram transformar a Pinacoteca de São Paulo em um museu de renome internacional, fundar a primeira instituição estabelecida por artistas no Brasil dedicada a promover o trabalho de artistas negros (Museu Afro-Brasil) e acumular um arquivo de cerca de seis mil objetos e quatro mil documentos da diáspora afro-brasileira. Emanoel Araújo era um visionário, afirmando corajosamente sua presença criativa de uma forma grandiosa, totêmica e vibrante; sua vida compreende um retrato de uma nação e geração, e as infinitas complexidades dentro delas.

 

MAM Rio em cinco perspectivas

12/jul

A mostra “Museu-escola-cidade: o MAM Rio em cinco perspectivas” propõe um exercício de memória no 75º aniversário do museu: um ato de olhar para o passado, para o que já foi feito e as coisas que lá aconteceram, como convite para pensar o que o MAM Rio pode ser hoje e no futuro. Focando nas primeiras três décadas de sua história, a exposição apresenta cinco áreas que ancoram as ações do MAM Rio, e um evento que marcou seu curso. Educação, design, cinema, o experimental e os movimentos de criação artística que atravessaram a existência do museu são os campos de atuação escolhidos, os quais cimentam a relevância de uma instituição intimamente ligada às dinâmicas da cidade.

Como evento, o incêndio ocorrido em 1978 no museu representa um momento de mudanças caracterizado pelo engajamento coletivo de profissionais da cultura e da população, e pela revisão institucional. Em cada um desses eixos, obras do acervo do MAM Rio são apresentadas junto com documentos provenientes, em sua maior parte, dos arquivos do museu, escrevendo histórias por meio de objetos, imagens e impressos.    .

Até 03 de dezembro.

Emanoel Araujo na 35ª Bienal de São Paulo

04/jul

É com alegria que a Simões de Assis, São Paulo, Curitiba e Balneário Camboriú, anuncia que Emanoel Araujo (Santo Amaro da Purificação, 1940 – São Paulo, 2022) integra a seleção de artistas da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível – com curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel.

O artista explorou fortemente a presença da herança africana na cultura brasileira a partir de formas gráficas, objetos e gestos que traduziam uma dimensão expandida e transcendente, sendo referência para diversos artistas. Na exposição, com abertura prevista para 06 de setembro, o relevo escultórico em madeira de Araujo integra um conjunto de trabalhos que retomam as vozes das diásporas e dos povos originários, ampliando o diálogo local e internacional, valorizando diversos contextos impossíveis e como os artistas desenvolveram estratégias para contorná-los.

Exposição prorrogada

29/jun

A exposição “Haverá consequências” foi prorrogada até 22 de julho devido ao grande fluxo de visitantes e contatos para agendamentos. Uma boa oportunidade e para visitar a Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS. Trata-se da primeira mostra com curadoria da professora e pesquisadora Bruna Fetter à frente da Direção Cultural da FVCB, função assumida em abril de 2022.

Realizada integralmente a partir do Acervo da instituição, “Haverá consequências” representa um exercício de encontros e aproximações que se materializam por meio de rastros e vestígios da memória, reverberando no presente e nos desdobramentos futuros. As obras presentes na mostra – seja em termos temáticos, materiais ou mesmo formais – são compreendidas simultaneamente como imagem-índice-percurso, o que possibilita diferentes leituras, relações e caminhos. Fazem parte da seleção apresentada trabalhos em fotografia, vídeo, gravura, pintura, objeto, arte postal, serigrafia e livro de artista.

Nas palavras da curadora, Bruna Fetter: “Ao partir da noção de rastro e vestígio, Haverá consequências busca tecer fios que atravessam nossas compreensões de passado-presente-futuro, causa e consequência. Na mostra encontraremos imagens e objetos que são resíduos de pensamentos e ações ocorridas no passado, mas que pela sua condição de obra de arte tornam-se testemunhos perenes a nos acessar em diferentes contextos e tempos. Reunindo um grupo de obras da coleção da FVCB, a exposição resulta de uma imersão minha neste Acervo, e também de um trabalho muito próximo a todas as equipes da instituição, inaugurando meu trabalho como diretora cultural da Fundação.”

A mostra, reúne mais de 60 obras de 57 artistas do Brasil e do exterior.

Artistas participantes

Begoña Egurbide | Bill Viola | Brígida Baltar | Cao Guimarães | Carla Borba | Carlos Krauz | Christian Cravo | Cinthia Marcelle | Claudia Hamerski | Claudio Goulart | Clovis Dariano | Darío Villalba | Dennis Oppenheim | Dirnei Prates | Elaine Tedesco | Elcio Rossini | Eliane Prolik | Ethiene Nachtigall | Fabiano Rodrigues | Fernanda Gomes | Frantz | Geraldo de Barros | Guilherme Dable | Heloisa Schneiders da Silva | Hudinilson Jr. | Ío (Laura Cattani e Munir Klamt) | Jaume Plensa | Joan Fontcuberta | João Castilho | Lluís Capçada | Luanda | Lucia Koch | Mara Alvares | Marco Antonio Filho | Margarita Andreu | Mariana Silva da Silva | Mario Ramiro | Marlies Ritter | Michael Chapman | Nelson Wiegert | Nick Rands | Patricio Farías | Paulo Nazareth | Perejaume | Regina Vater | Rosângela Rennó | Roselane Pessoa | Sarah Bliss | Sascha Weidner | Sol Casal | Susy Gómez | Telmo Lanes | Tuane Eggers | Vera Chaves Barcellos | Wanda Pimentel | Yuri Firmeza

Visitação

De segunda a sexta-feira e aos sábados, mediante agendamento prévio, até 22/07/23

Contatos: educativo.fvcb@gmail.com | (51) 98229 3031

Local: Sala dos Pomares da Fundação Vera Chaves Barcellos – Av. Senador Salgado Filho, 8450, parada 54, Viamão/RS (ponto de referência: ao lado do pórtico do Condomínio Buena Vista) – Entrada franca.

Vitória Taborda no Paço Imperial

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a  exposição “Aparência”, exibição individual de Vitória Taborda que permanecerá em cartaz até 20 de agosto. A exposição marca o reencontro da artista com sua cidade natal, após um longo período morando em Nova York, nos EUA. Foi no Rio de Janeiro onde ela fez toda a sua formação em arte contemporânea, tendo sido integrante da chamada “Geração 80”. Com curadoria de Vera Beatriz Siqueira, apresenta 141 obras inéditas, pertencentes a três séries: “Animale Insectum”, “Paisagismo” e “Ovo Duro”, produzidas desde 2016 até hoje, nas quais a artista reconfigura esteticamente elementos existentes na natureza, criando obras ao mesmo tempo semelhantes e diferentes da nossa fauna e flora.                                                                  

 Os sentidos não se fixam, estão sempre cambiantes, há um jogo de ilusão e encantamento, que não se resolve. Essa é a grandeza do trabalho. É como a obra do Magritte: “Isto não é um cachimbo”. Na obra da Vitória poderíamos dizer: Isto não é um inseto. Gera uma dúvida, é um enigma que não se fecha”, conta a curadora Vera Beatriz Siqueira.

Em comum, todos os trabalhos se apropriam de elementos retirados da natureza, que são reconfigurados e ressignificados. “É um trabalho puramente estético, mimicando a natureza e a sua resistência a interpretações intelectuais, a despeito de nossas incessantes tentativas. Tenho interesse na geometria, cores e formas encontradas na natureza, como padrões/vocabulário pré-existentes. Gosto também de forma antes de função”, afirma a artista.

A pesquisa para estes novos trabalhos começou a partir da mudança da artista para a Região Serrana do Rio de Janeiro. “Moro numa casa no meio da Mata Atlântica, que tem uma enormidade de asas, patinhas e partes de insetos variados. Fui reconfigurando-os dentro de uma estrutura correta do inseto em termos de número de patas, asas, etc, mas seguindo uma estética de acordo com o meu olhar. Seguindo esta mesma noção, fiz o mesmo com as plantas, colhendo galhos, folhas secas, etc.”, conta a artista.

“O trabalho de Vitória Taborda parte de encanto estético com a exploração da natureza, invertendo a direção e a função da tarefa mimética. Recolhe pequenos galhos, folhas secas, corpos de insetos mortos, formando uma coleção de coisas usadas para mimetizar não a forma atual da natureza, e sim a sua versão fabulosa e imaginativa, nascida do contato duradouro, persistente e compassivo com o mundo que o origina”, diz a curadora.

Série em exposição

“Animale Insectum” – Inspirada pelo significado em latim da palavra “Insectum”, que significa “cortar em partes”, esta série é composta por 99 trabalhos nos quais a artista cria novos insetos a partir de partes de insetos existentes na natureza, tendo sempre uma preocupação estética. “O artista anseia por criar trabalhos únicos que desafiem classificações pré-existentes, em busca de melhor compreensão de nossa existência. O cientista também anseia em descobrir algo ainda escondido, seja um novo fenômeno ou um sistema sem precedentes, para melhor compreender o mundo existente. Desta forma, este trabalho é um diálogo entre ciência e arte, suas simetrias e semelhantes buscas”, afirma a artista.

Em alguns destes trabalhos, chamados “Mimetismo” (fenômeno no qual animais e plantas imitam o padrão de coloração ou o comportamento de outro organismo como forma de proteção), a artista coloca os insetos sobre pinturas geométricas, feitas por ela, como se estivesse mimetizando a pintura como estratégia de sobrevivência.

Em pequenos formatos, medindo 15 cm X 10 cm e 15 cm X 22 cm, os trabalhos serão apresentados dentro de caixas de coleções entomológicas, assemelhando-se à classificação biológica feita pela ciência. Estima-se que existam cerca de seis milhões de insetos no planeta, mas somente um milhão foi classificado até agora. Partindo desta premissa, a artista cria seus próprios insetos e questiona: “Seriam então, os insetos ainda não classificados, não existentes? Ou talvez, eles ainda não foram inventados? Seriam os insetos a serem classificados o potencial recontar da mesma história ou, novamente, a recombinação dos mesmos elementos de outros insetos?”.

Nas caixas, a artista acrescenta o termo “animal em segmentos livres”, “ecoando os versos livres da criação poética moderna, que inspiram a sua paciente artesania, costurando partes de diferentes origens. A natureza é imitada em sua dimensão estética, resistindo a toda classificação e racionalização”, ressalta a curadora.

“Paisagismo” – Seguindo a mesma linha dos insetos, nesta série composta por 15 obras, Vitória Taborda cria trabalhos a partir de galhos, troncos e folhas secas. “São o resultado do trabalho cuidadoso de selecionar e modelar os galhos finos recolhidos depois que caem. São também dendrogramas, representações esquemáticas e suavemente nostálgicas de árvores ausentes. E são ainda projetos, planos fabulosos de podas geométricas, de controle da neve, de casas fantásticas a serem mobiliadas por nossa imaginação. Apontam, assim, para o futuro de uma realização mágica, mas também recendem a melancolia de uma realidade que não existe mais”, afirma a curadora Vera Beatriz Siqueira.

“Ovo Duro” – Esta série é composta por 27 obras feitas com ovos de galinha brancos e azuis, unindo-os, criando novas formas. “Este projeto trabalha com a desconstrução da estrutura do ovo, um objeto percebido e compreendido universalmente, não só pelo seu formato como também pela consistência, informações que são imediatamente decodificadas”, diz a artista.

“Vitória cuidadosamente desconstrói, esvaziando-os, recortando-os, colando-os uns aos outros. As configurações que alcança falam de uma nova unidade, mas também de coisas inevitavelmente partidas. São outros seres segmentados que recolocam a temporalidade simultaneamente passada e futura no agora da arte”, completa a curadora.

Sobre a artista

Vitória Taborda estudou no Parque Lage nos anos 1980 e participou da exposição “Como vai você Geração 80”, em 1984, além de alguns salões de arte no Rio de Janeiro. Em 1988, foi para Nova York estudar Ilustração na School of Visual Arts. Estudou também encadernação e restauração de livros e produziu algumas edições limitadas de Livro de Artista, dois dos quais hoje pertencem à coleção do MoMA e a várias bibliotecas nos EUA. Neste período, participou de duas exposições coletivas de ilustração no Arts Director’s Club. De volta ao Brasil, em 2002, continuou seu trabalho de arte, pintando a óleo em papel cartão (binder’s board), pensando nas partes e no todo, pensando nos fragmentos e no inteiro até se enveredar por colagens com elementos pré-existentes na natureza.

Sobre a curadora

Vera Beatriz Siqueira é historiadora da arte, professora e pesquisadora do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É autora de vários livros sobre arte brasileira, incluindo Arte no Brasil anos 20 a anos 40, Wanda Pimentel, Cálculo da Expressão: Goeldi, Segall, Iberê, Iberê Camargo, Burle Marx, Milton Dacosta, além de vários artigos em livros e revistas. Atuou como curadora de exposições na Fundação Iberê Camargo, Museu Lasar Segall, Museus Castro Maya e Paço Imperial, entre outros espaços culturais. Foi Coordenadora da área de Artes e membro do Conselho Técnico Científico do Ensino Superior (CTC-ES) junto à Capes/Ministério da Educação, entre 2018 e 2021. Atualmente coordena o Programa de Pós-graduação em História da Arte da Uerj.

Wilma Martins no Paço Imperial

26/jun

 

 

Um panorama da importante e consistente obra da artista Wilma Martins (Belo Horizonte, 1934 – Rio de Janeiro, 2022) será apresentado até 20 de agosto, e partir do dia 28 de junho, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, na exposição “Wilma Martins – Território da memória”. Esta será a primeira mostra póstuma da artista falecida no ano passado, aos 88 anos. Com curadoria de Frederico Morais, crítico de arte e marido da artista, e a historiadora de arte Stefania Paiva, que conviveu intensamente com Wilma nos seus últimos anos de vida, a mostra será composta por 37 obras, além de estudos, em um conjunto nunca antes reunido, incluindo trabalhos pouco conhecidos da artista, desde suas primeiras produções até a última. São gravuras, pinturas, desenhos e cadernos, que mostram a potência e as diversas facetas da obra de Wilma Martins.
A exposição apresentará desde os primeiros trabalhos da artista – pequenas gravuras da década de 1960 -, passando por xilogravuras maiores, pinturas e desenhos, chegando até a última obra feita por ela – “Dona Marta 24h” (2016), composta por 25 desenhos, que representam o Mirante Dona Marta, no Rio de Janeiro, em cada hora do dia e da noite, durante um período de 24 horas.

Xilogravuras

No início dos anos 1960, Wilma Martins produziu gravuras em preto e branco, em pequenos formatos, que apresentam, sobretudo, um exercício de observação da fauna e da flora. Após esse período inicial, Wilma passa a elaborar gravuras em grandes formatos, com formas orgânicas e geométricas, criando cenas místicas, alegóricas, compostas de núcleos onde seres se misturam entre si. “Os temas que Wilma aborda em suas gravuras são aqueles que falam da condição feminina – fecundação, gravidez etc. Mas esses temas aparecem estranhamente mesclados com outros – frequentes na arte medieval, que é sempre religiosa. No entanto, ela não foi buscar essa iconografia nos vitrais coloridos, mas nos psautiers nos quais encontrou toda forma de arcaísmos, anacronismos, de capitulares e iniciais zoomórficas, assim como enorme variedade de tramas gráficas, formas cilíndricas, ovóides, etc”, diz Frederico Morais.
Entre as xilogravuras apresentadas na exposição está o tríptico “O encontro” (1971), “a maior e a mais despojada e impactante xilogravura realizada por Wilma Martins”, segundo Frederico Morais. “É uma releitura do painel central do políptico Adoração do Cordeiro Místico. Uma magistral redução minimalista da obra do pintor flamengo. Wilma começou eliminando o cordeiro (a redenção), mantendo apenas o vermelho do altar, que de retangular se transformou em semicírculo. Na gravura de Wilma, as figuras femininas, escavadas no branco, corresponderiam às “anjas” que circundavam o altar. Agora, bem juntas, buscam ascender até o semicírculo vermelho. As figuras masculinas, negras, em conjuntos simetricamente agrupados, corresponderiam aos dois grupos humanos que aparecem, como que imobilizados, em primeiro plano na pintura de van Eyck – prelados com suas vestes vermelhas à direita, os demais representantes da sociedade civil à esquerda. Ambos se movimentam em direção à pirâmide de mulheres, para expulsá-las dali ou, ao contrário, para nelas se fundirem e juntos ascenderem. Desvestidos por Wilma, homens e mulheres, brancos e negros, anjos e humanos todos se igualam em sua humanidade. Ou não”, ressalta Frederico Morais.

 Pinturas e desenhos

Também fará parte da exposição um pequeno núcleo com a produção mais conhecida de pinturas e desenhos de Wilma Martins, incluindo a última obra produzida por ela, “Dona Marta 24h”, um conjunto composto por 25 obras. “Os trabalhos se diferem entre si pela luz que incide nas primeiras horas do dia, a sombra do entardecer ou o cair da noite. O vigésimo quinto desenho que compõe a instalação trata-se da mesma montanha em forma de quebra-cabeça (hobby de Wilma, assim como as palavras-cruzadas e os enigmas), onde cada peça representa uma hora dentre as 24h”, conta Stefania.
Além disso, será apresentado um caderno de bolso, cujas páginas trazem desenhos com paisagens do Rio de Janeiro, acompanhado por um bilhete escrito pela artista com instruções de uso. “Cabe destacar especialmente a série de desenhos focalizando o maciço da Dona Marta e o pequeno caderno de papel artesanal, (11,5×8,5 cm), registrando à maneira dos cicloramas do século XIX, no Rio de Janeiro,  toda a extensão da paisagem captada de sua varanda: Urca, Pão de Açúcar, Botafogo, Laranjeiras,  Silvestre, altos de Santa Teresa, Cristo Redentor”, ressalta Frederico Morais.
Completam a exposição três obras realizadas no início da década de 1980: “Santa Teresa I”, “Santa Teresa II” e “Santa Teresa com elefantes”. São pinturas criadas a partir da janela do ateliê/casa de Wilma, no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro. “Da parte mais baixa da cidade, ela pintou uma Santa Teresa suspensa, envolta em árvores e montanhas de cumes verdes. Pouco tempo depois, Wilma foi até o bairro de Santa Teresa, comprou o terreno que pintou tantas vezes, e ali ajudou a projetar a casa que tem uma varanda com vista para o ponto de onde ela olhava inicialmente. Esse deslocamento do ponto de origem criou uma conexão invisível, como um rebatimento da paisagem minuciosamente descrita por ela”, conta a curadora Stefania Paiva. “É a paisagem invadindo a casa, o que não se trata de uma liberdade poética, mas uma sensação real, pois em certas horas do dia, dependendo da luminosidade, essa paisagem se projeta através da porta de vidro dentro da casa, como se desejasse completar a forma circular do ciclorama. Inversamente, a biblioteca projeta-se na paisagem, nos fins de tarde, misturando-se com as árvores. Dupla leitura: livros e árvores”, explica Frederico Morais.

 

Acervo Aberto

16/jun

A trajetória de um ícone da arte urbana ao alcance das mãos. Ozeas Duarte (a.k.a. OZI) abre a ação/exposição Acervo Aberto, sob curadoria de Katia Lombardo, como parte do Projeto Desloca, no Studio Alê Jordão, Comendador Miguel Calfat, 213, Itaim Bibi, São Paulo, SP, apresentando – até 01 de julho – por volta de 150 obras entre pinturas, esculturas, ready made, serigrafias e matrizes originais de stencil.

O ser humano alcança momentos de ruptura, ou mudanças, em sua trajetória e essa ocasião, mais uma vez, apresentou-se para OZI. Seus 35 anos ininterruptos de ação tornam o momento autoexplicativo. O artista está em processo de mudança de ateliê e, como resultado de uma área menor, escolheu oferecer ao público a possibilidade de aquisição de obras de séries reconhecidas e conhecidas, bem como trabalhos pouco mostrados e, como destaque, as matrizes de stencil, por ele utilizadas.

A exposição, pensada em conjunto pelo artista e curadora exibe, em ordem cronológica, os inúmeros trabalhos e técnicas utilizados durante as décadas de criação e participação intensa no circuito de Arte Urbana. Artista inquieto e questionador, OZI está sempre à procura da “outra”, da “nova” técnica que pode aprimorar sua forma de registros. Mais ou menos cor; menos ou mais detalhes… tudo vai depender da forma que a vida estiver se apresentando naquele momento. OZI não é um criativo alienado ao presente. Ele expressa o hoje! Como prova dessa característica, o último módulo de OZI – Acervo Aberto é “Degustação” onde são exibidas novas pesquisas e obras inéditas. O viés cáustico e desafiador vem como bônus! O container “Proibidão”, com restrição etária por seu conteúdo, coloca a vista trabalhos polêmicos que já causaram embates com marcas mundiais, questionadas e provocadas pelo artista em algum momento de sua trajetória. Acervo Aberto possui obras criadas desde os anos de 1980 até os dias atuais. Muitos deles, além de participação em mostras emblemáticas de Arte Urbana, já foram exibidas internacionalmente em países como Argentina, Austrália, Estados Unidos, França, Suíça, além de cidades e capitais pelo Brasil.

A possibilidade de ter contato com as “mascaras matrizes de stencil” é única. “Essas “máscaras, matrizes” carregam a memória e a gestualidade das várias obras que são feitas a partir delas, trazendo uma sobreposição de tintas e cores que foram usadas nas pinturas”, explica a curadora.

“Com essa ação, abro a possibilidade das pessoas possuírem momentos de minha trajetória e fazer parte da minha história no circuito de arte urbana”.   OZI.

Ativações

OZI – Acervo Aberto possui uma agenda de ativações, para convidados, como parte do Projeto Desloca

Dia 17 de junho – sábado – das 11 às 18hs.

Visitas guiadas com OZI, Katia  Lombardo e a artista convidada Simone Siss durante o período.

Dia 18 de junho – domingo – das 12 às 14hs

Brunch com roda de conversa em que participam OZI, Katia Lombardo, os artistas Simone Siss e Alê Jordão e o galerista e curador Baixo Ribeiro

Obras de Babinski em exibição

14/jun

O MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, apresenta até 13 de agosto, a recente aquisição de mais 20 obras de Maciej Babinski. O artista está entre os grandes de sua geração e o presente conjunto enriquece nosso acervo. Como as gravuras trazem detalhes, narrativas e vários acontecimentos, os públicos que frequentam o MAM têm agora a possibilidade de investigar cada detalhe das obras com o auxílio de lupas disponibilizadas pelo museu.

Maciej Babinski nasceu em Varsóvia, Polônia, em 1931. Com a Segunda Guerra Mundial foi para a Inglaterra, depois Canadá, até se fixar no Brasil, em 1965. No Rio de Janeiro, aproximou-se de diversos artistas, entre eles Oswald Goeldi. Foi também professor na Universidade de Brasília e lecionou na Universidade Federal de Uberlândia, MG. Viveu em São Paulo por oito anos, onde frequentou a Escola Brasil. Atualmente vive em Várzea Grande, no Ceará. Seus deslocamentos e o convívio com manifestações da vanguarda marcam a sua trajetória.

As peças que o MAM acaba de receber são de períodos diversos: há exemplares dos anos de 1950, 1960, 1970 e 1980, além de um significativo conjunto realizado nas duas primeiras décadas do século 21. A mais antiga foi realizada em 1955, momento em que o artista desenvolveu obras abstratas. Sua gravura dos anos de 1960 aborda indiretamente o ambiente de tensão presente durante a ditadura militar. Se em algumas gravuras há traços expressivos, em outras, feitas entre 2009 e 2014, afloram seu imaginário e suas fantasias. Em alguns dos trabalhos das décadas de 1970, de 1980 e de 2010 paisagens naturalistas e formas vegetais são perseguidas pelo artista com traços singulares e autorais. Ao mesmo tempo, figuras humanas, ora mais geometrizadas, ora mais oníricas, aparecem em narrativas em que o animalesco, cenários complexos e personagens inusitados se intercalam.

O conjunto representa a variedade de estilos e técnicas usadas pelo artista, passando pela xilogravura e com ênfase na gravura em metal. Trata-se de uma seleção representativa e generosa, feita pelo próprio Babinski, de sua fecunda obra.

Cauê Alves

Primeiro ano da Galatea

12/jun

 

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, completou no dia 10 seu primeiro ano! Estamos muito felizes com tudo o que construímos e compartilhamos nos doze meses que se passaram.

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

Artistas representados

Hoje, contamos com um conjunto diverso de artistas representados, provenientes de diversas regiões do país, inscritos em diferentes gerações e que transitam por linguagens variadas, desde a pintura até a instalação. Por ordem de anúncio, são: Allan Weber (Rio de Janeiro, RJ, 1992), José Adário (Salvador, BA, 1947), Marilia Kranz (Rio de Janeiro, RJ, 1937-2017), Aislan Pankararu (Petrolândia, PE, 1990), Daniel Lannes (Niterói, RJ, 1981), Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, MG, 1983) e Miguel dos Santos (Caruaru, PE, 1944).

Feiras

Participamos, desde o início, de importantes feiras nacionais e internacionais com projetos que, vistos em conjunto, traduzem bem a nossa proposta. Foram eles: o estande Tramas brasileiras na SP-Arte Rotas Brasileiras, em agosto de 2022; Chico da Silva: mitologias brasileiras na Independent 20th Century, em Nova York, em setembro de 2022; Allan Weber: Traficando arte na ArtRio, em setembro de 2022; o estande na SP-Arte, em abril de 2023; o estande com o projeto solo da artista Beatrice Arraes na ArPa, em São Paulo, em junho de 2023.

Exposições

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

A próxima exposição, com abertura no dia 28 de junho, apresentará uma seleção abrangente da série Toquinhos, produzida por Mira Schendel principalmente entre 1972 e 1974. Continuaremos a todo vapor e muito animados com todas as novidades que em breve serão compartilhadas!

Agradecemos imensamente a todos que colaboraram conosco e acompanharam a nossa trajetória.

Representação ousada feminina

07/jun

A exposição “Teresinha Soares: um alegre teatro sério” é o atual cartaz – até 29 de julho – da galeria Gomide&Co, Paulista, São Paulo, SP. Com organização de Luisa Duarte, apresenta um conjunto de obras entre desenhos, pinturas e gravuras da intensa trajetória da artista mineira pelos anos 1960 e 1970. A exposição conta ainda com textos inéditos de Lilia Schwarcz e de Julia de Souza. Inserida no contexto repressor da ditadura militar brasileira, a artista ousou a representar temas feministas e de gênero, por um viés do erótico e de grande contestação das relações do corpo com os costumes morais, o consumo e a máquina política.

“Minha arte é realista precisamente porque condeno os falsos valores de uma sociedade a que pertenço. Realista e erótica, minha arte é como a cruz para o capeta” – Teresinha Soares

O aspecto ousado está tanto na temática quando no tratamento formal empregado pela artista, com traços e cores que transitam e se relacionam com os movimentos artísticos da época, como a arte pop, o noveau réalisme e a nova objetividade brasileira.

“Em “Um alegre teatro sério”, trabalho que dá nome à exposição, o corpo feminino aparece duplicado – ora mais curvado e talvez reprimido; ora expansivo e sem amarras. Frases como “de luz apagada”, que aparece logo abaixo de um abajur iluminado, ou “há os outros naturalmente” e “recebe até na cama e o governado” contracenam com rostos que se beijam e o que parece ser uma máscara de teatro. A obra faz pensar no teatro da corporalidade feminina, sujeita a tantas proibições, jogos de simulação e não ditos. Permite introduzir também o imaginário erotizado dessa artista numa súmula bem-feita e que faz performance dentro e fora das telas” – trecho do texto de Lilia Schwarcz para exposição.

Antes de ser artista, Teresinha Soares foi a primeira vereadora eleita em sua cidade natal, Araxá, onde foi também miss e professora. Além de artista, é também escritora e ativista dos direitos da mulher e ambiental.   Nos últimos anos, seu trabalho tem sido revisto e reinscrito na história da arte brasileira, tendo participado de importantes exposições coletivas.

O seu olhar feminista e libertário, a sua capacidade de aliar eloquência formal de energia contestatória, nos endereçam uma obra munida de singular atualidade para pensarmos os caminhos da arte e os desafios políticos da contemporaneidade.

Sobre a artista

Teresinha Soares nasceu em Araxá, Minas Gerais, em 1927. Mudou-se para Belo Horizonte no início da vida adulta, onde iniciou sua carreira artística. Participou de três Bienais de São Paulo (1967, 1971 e 1973) e realizou as exposições individuais “Amo São Paulo” (1968), na Galeria Art-Art, São Paulo, e “Corpo a Corpo in Cor-pus Meus” (1971), na Petite Galerie, Rio de Janeiro. Seu trabalho vem sendo revisitado e inscrito na história da arte brasileira, tendo recentemente feito parte de grandes exposições no Brasil e internacionalmente, como “The World Goes Pop”, na Tate Modern (2015), “Radical Women: Latin American Art”, 1960-1985, no Hammer Museum (2017), Brooklyn Museum (2018), e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2018). Em 2017, o MASP realizou a sua primeira exposição retrospectiva em 40 anos: “Quem tem medo de Teresinha Soares?”.