Vitória Taborda no Paço Imperial

29/jun

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a  exposição “Aparência”, exibição individual de Vitória Taborda que permanecerá em cartaz até 20 de agosto. A exposição marca o reencontro da artista com sua cidade natal, após um longo período morando em Nova York, nos EUA. Foi no Rio de Janeiro onde ela fez toda a sua formação em arte contemporânea, tendo sido integrante da chamada “Geração 80”. Com curadoria de Vera Beatriz Siqueira, apresenta 141 obras inéditas, pertencentes a três séries: “Animale Insectum”, “Paisagismo” e “Ovo Duro”, produzidas desde 2016 até hoje, nas quais a artista reconfigura esteticamente elementos existentes na natureza, criando obras ao mesmo tempo semelhantes e diferentes da nossa fauna e flora.                                                                  

 Os sentidos não se fixam, estão sempre cambiantes, há um jogo de ilusão e encantamento, que não se resolve. Essa é a grandeza do trabalho. É como a obra do Magritte: “Isto não é um cachimbo”. Na obra da Vitória poderíamos dizer: Isto não é um inseto. Gera uma dúvida, é um enigma que não se fecha”, conta a curadora Vera Beatriz Siqueira.

Em comum, todos os trabalhos se apropriam de elementos retirados da natureza, que são reconfigurados e ressignificados. “É um trabalho puramente estético, mimicando a natureza e a sua resistência a interpretações intelectuais, a despeito de nossas incessantes tentativas. Tenho interesse na geometria, cores e formas encontradas na natureza, como padrões/vocabulário pré-existentes. Gosto também de forma antes de função”, afirma a artista.

A pesquisa para estes novos trabalhos começou a partir da mudança da artista para a Região Serrana do Rio de Janeiro. “Moro numa casa no meio da Mata Atlântica, que tem uma enormidade de asas, patinhas e partes de insetos variados. Fui reconfigurando-os dentro de uma estrutura correta do inseto em termos de número de patas, asas, etc, mas seguindo uma estética de acordo com o meu olhar. Seguindo esta mesma noção, fiz o mesmo com as plantas, colhendo galhos, folhas secas, etc.”, conta a artista.

“O trabalho de Vitória Taborda parte de encanto estético com a exploração da natureza, invertendo a direção e a função da tarefa mimética. Recolhe pequenos galhos, folhas secas, corpos de insetos mortos, formando uma coleção de coisas usadas para mimetizar não a forma atual da natureza, e sim a sua versão fabulosa e imaginativa, nascida do contato duradouro, persistente e compassivo com o mundo que o origina”, diz a curadora.

Série em exposição

“Animale Insectum” – Inspirada pelo significado em latim da palavra “Insectum”, que significa “cortar em partes”, esta série é composta por 99 trabalhos nos quais a artista cria novos insetos a partir de partes de insetos existentes na natureza, tendo sempre uma preocupação estética. “O artista anseia por criar trabalhos únicos que desafiem classificações pré-existentes, em busca de melhor compreensão de nossa existência. O cientista também anseia em descobrir algo ainda escondido, seja um novo fenômeno ou um sistema sem precedentes, para melhor compreender o mundo existente. Desta forma, este trabalho é um diálogo entre ciência e arte, suas simetrias e semelhantes buscas”, afirma a artista.

Em alguns destes trabalhos, chamados “Mimetismo” (fenômeno no qual animais e plantas imitam o padrão de coloração ou o comportamento de outro organismo como forma de proteção), a artista coloca os insetos sobre pinturas geométricas, feitas por ela, como se estivesse mimetizando a pintura como estratégia de sobrevivência.

Em pequenos formatos, medindo 15 cm X 10 cm e 15 cm X 22 cm, os trabalhos serão apresentados dentro de caixas de coleções entomológicas, assemelhando-se à classificação biológica feita pela ciência. Estima-se que existam cerca de seis milhões de insetos no planeta, mas somente um milhão foi classificado até agora. Partindo desta premissa, a artista cria seus próprios insetos e questiona: “Seriam então, os insetos ainda não classificados, não existentes? Ou talvez, eles ainda não foram inventados? Seriam os insetos a serem classificados o potencial recontar da mesma história ou, novamente, a recombinação dos mesmos elementos de outros insetos?”.

Nas caixas, a artista acrescenta o termo “animal em segmentos livres”, “ecoando os versos livres da criação poética moderna, que inspiram a sua paciente artesania, costurando partes de diferentes origens. A natureza é imitada em sua dimensão estética, resistindo a toda classificação e racionalização”, ressalta a curadora.

“Paisagismo” – Seguindo a mesma linha dos insetos, nesta série composta por 15 obras, Vitória Taborda cria trabalhos a partir de galhos, troncos e folhas secas. “São o resultado do trabalho cuidadoso de selecionar e modelar os galhos finos recolhidos depois que caem. São também dendrogramas, representações esquemáticas e suavemente nostálgicas de árvores ausentes. E são ainda projetos, planos fabulosos de podas geométricas, de controle da neve, de casas fantásticas a serem mobiliadas por nossa imaginação. Apontam, assim, para o futuro de uma realização mágica, mas também recendem a melancolia de uma realidade que não existe mais”, afirma a curadora Vera Beatriz Siqueira.

“Ovo Duro” – Esta série é composta por 27 obras feitas com ovos de galinha brancos e azuis, unindo-os, criando novas formas. “Este projeto trabalha com a desconstrução da estrutura do ovo, um objeto percebido e compreendido universalmente, não só pelo seu formato como também pela consistência, informações que são imediatamente decodificadas”, diz a artista.

“Vitória cuidadosamente desconstrói, esvaziando-os, recortando-os, colando-os uns aos outros. As configurações que alcança falam de uma nova unidade, mas também de coisas inevitavelmente partidas. São outros seres segmentados que recolocam a temporalidade simultaneamente passada e futura no agora da arte”, completa a curadora.

Sobre a artista

Vitória Taborda estudou no Parque Lage nos anos 1980 e participou da exposição “Como vai você Geração 80”, em 1984, além de alguns salões de arte no Rio de Janeiro. Em 1988, foi para Nova York estudar Ilustração na School of Visual Arts. Estudou também encadernação e restauração de livros e produziu algumas edições limitadas de Livro de Artista, dois dos quais hoje pertencem à coleção do MoMA e a várias bibliotecas nos EUA. Neste período, participou de duas exposições coletivas de ilustração no Arts Director’s Club. De volta ao Brasil, em 2002, continuou seu trabalho de arte, pintando a óleo em papel cartão (binder’s board), pensando nas partes e no todo, pensando nos fragmentos e no inteiro até se enveredar por colagens com elementos pré-existentes na natureza.

Sobre a curadora

Vera Beatriz Siqueira é historiadora da arte, professora e pesquisadora do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É autora de vários livros sobre arte brasileira, incluindo Arte no Brasil anos 20 a anos 40, Wanda Pimentel, Cálculo da Expressão: Goeldi, Segall, Iberê, Iberê Camargo, Burle Marx, Milton Dacosta, além de vários artigos em livros e revistas. Atuou como curadora de exposições na Fundação Iberê Camargo, Museu Lasar Segall, Museus Castro Maya e Paço Imperial, entre outros espaços culturais. Foi Coordenadora da área de Artes e membro do Conselho Técnico Científico do Ensino Superior (CTC-ES) junto à Capes/Ministério da Educação, entre 2018 e 2021. Atualmente coordena o Programa de Pós-graduação em História da Arte da Uerj.

Wilma Martins no Paço Imperial

26/jun

 

 

Um panorama da importante e consistente obra da artista Wilma Martins (Belo Horizonte, 1934 – Rio de Janeiro, 2022) será apresentado até 20 de agosto, e partir do dia 28 de junho, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, na exposição “Wilma Martins – Território da memória”. Esta será a primeira mostra póstuma da artista falecida no ano passado, aos 88 anos. Com curadoria de Frederico Morais, crítico de arte e marido da artista, e a historiadora de arte Stefania Paiva, que conviveu intensamente com Wilma nos seus últimos anos de vida, a mostra será composta por 37 obras, além de estudos, em um conjunto nunca antes reunido, incluindo trabalhos pouco conhecidos da artista, desde suas primeiras produções até a última. São gravuras, pinturas, desenhos e cadernos, que mostram a potência e as diversas facetas da obra de Wilma Martins.
A exposição apresentará desde os primeiros trabalhos da artista – pequenas gravuras da década de 1960 -, passando por xilogravuras maiores, pinturas e desenhos, chegando até a última obra feita por ela – “Dona Marta 24h” (2016), composta por 25 desenhos, que representam o Mirante Dona Marta, no Rio de Janeiro, em cada hora do dia e da noite, durante um período de 24 horas.

Xilogravuras

No início dos anos 1960, Wilma Martins produziu gravuras em preto e branco, em pequenos formatos, que apresentam, sobretudo, um exercício de observação da fauna e da flora. Após esse período inicial, Wilma passa a elaborar gravuras em grandes formatos, com formas orgânicas e geométricas, criando cenas místicas, alegóricas, compostas de núcleos onde seres se misturam entre si. “Os temas que Wilma aborda em suas gravuras são aqueles que falam da condição feminina – fecundação, gravidez etc. Mas esses temas aparecem estranhamente mesclados com outros – frequentes na arte medieval, que é sempre religiosa. No entanto, ela não foi buscar essa iconografia nos vitrais coloridos, mas nos psautiers nos quais encontrou toda forma de arcaísmos, anacronismos, de capitulares e iniciais zoomórficas, assim como enorme variedade de tramas gráficas, formas cilíndricas, ovóides, etc”, diz Frederico Morais.
Entre as xilogravuras apresentadas na exposição está o tríptico “O encontro” (1971), “a maior e a mais despojada e impactante xilogravura realizada por Wilma Martins”, segundo Frederico Morais. “É uma releitura do painel central do políptico Adoração do Cordeiro Místico. Uma magistral redução minimalista da obra do pintor flamengo. Wilma começou eliminando o cordeiro (a redenção), mantendo apenas o vermelho do altar, que de retangular se transformou em semicírculo. Na gravura de Wilma, as figuras femininas, escavadas no branco, corresponderiam às “anjas” que circundavam o altar. Agora, bem juntas, buscam ascender até o semicírculo vermelho. As figuras masculinas, negras, em conjuntos simetricamente agrupados, corresponderiam aos dois grupos humanos que aparecem, como que imobilizados, em primeiro plano na pintura de van Eyck – prelados com suas vestes vermelhas à direita, os demais representantes da sociedade civil à esquerda. Ambos se movimentam em direção à pirâmide de mulheres, para expulsá-las dali ou, ao contrário, para nelas se fundirem e juntos ascenderem. Desvestidos por Wilma, homens e mulheres, brancos e negros, anjos e humanos todos se igualam em sua humanidade. Ou não”, ressalta Frederico Morais.

 Pinturas e desenhos

Também fará parte da exposição um pequeno núcleo com a produção mais conhecida de pinturas e desenhos de Wilma Martins, incluindo a última obra produzida por ela, “Dona Marta 24h”, um conjunto composto por 25 obras. “Os trabalhos se diferem entre si pela luz que incide nas primeiras horas do dia, a sombra do entardecer ou o cair da noite. O vigésimo quinto desenho que compõe a instalação trata-se da mesma montanha em forma de quebra-cabeça (hobby de Wilma, assim como as palavras-cruzadas e os enigmas), onde cada peça representa uma hora dentre as 24h”, conta Stefania.
Além disso, será apresentado um caderno de bolso, cujas páginas trazem desenhos com paisagens do Rio de Janeiro, acompanhado por um bilhete escrito pela artista com instruções de uso. “Cabe destacar especialmente a série de desenhos focalizando o maciço da Dona Marta e o pequeno caderno de papel artesanal, (11,5×8,5 cm), registrando à maneira dos cicloramas do século XIX, no Rio de Janeiro,  toda a extensão da paisagem captada de sua varanda: Urca, Pão de Açúcar, Botafogo, Laranjeiras,  Silvestre, altos de Santa Teresa, Cristo Redentor”, ressalta Frederico Morais.
Completam a exposição três obras realizadas no início da década de 1980: “Santa Teresa I”, “Santa Teresa II” e “Santa Teresa com elefantes”. São pinturas criadas a partir da janela do ateliê/casa de Wilma, no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro. “Da parte mais baixa da cidade, ela pintou uma Santa Teresa suspensa, envolta em árvores e montanhas de cumes verdes. Pouco tempo depois, Wilma foi até o bairro de Santa Teresa, comprou o terreno que pintou tantas vezes, e ali ajudou a projetar a casa que tem uma varanda com vista para o ponto de onde ela olhava inicialmente. Esse deslocamento do ponto de origem criou uma conexão invisível, como um rebatimento da paisagem minuciosamente descrita por ela”, conta a curadora Stefania Paiva. “É a paisagem invadindo a casa, o que não se trata de uma liberdade poética, mas uma sensação real, pois em certas horas do dia, dependendo da luminosidade, essa paisagem se projeta através da porta de vidro dentro da casa, como se desejasse completar a forma circular do ciclorama. Inversamente, a biblioteca projeta-se na paisagem, nos fins de tarde, misturando-se com as árvores. Dupla leitura: livros e árvores”, explica Frederico Morais.

 

Acervo Aberto

16/jun

A trajetória de um ícone da arte urbana ao alcance das mãos. Ozeas Duarte (a.k.a. OZI) abre a ação/exposição Acervo Aberto, sob curadoria de Katia Lombardo, como parte do Projeto Desloca, no Studio Alê Jordão, Comendador Miguel Calfat, 213, Itaim Bibi, São Paulo, SP, apresentando – até 01 de julho – por volta de 150 obras entre pinturas, esculturas, ready made, serigrafias e matrizes originais de stencil.

O ser humano alcança momentos de ruptura, ou mudanças, em sua trajetória e essa ocasião, mais uma vez, apresentou-se para OZI. Seus 35 anos ininterruptos de ação tornam o momento autoexplicativo. O artista está em processo de mudança de ateliê e, como resultado de uma área menor, escolheu oferecer ao público a possibilidade de aquisição de obras de séries reconhecidas e conhecidas, bem como trabalhos pouco mostrados e, como destaque, as matrizes de stencil, por ele utilizadas.

A exposição, pensada em conjunto pelo artista e curadora exibe, em ordem cronológica, os inúmeros trabalhos e técnicas utilizados durante as décadas de criação e participação intensa no circuito de Arte Urbana. Artista inquieto e questionador, OZI está sempre à procura da “outra”, da “nova” técnica que pode aprimorar sua forma de registros. Mais ou menos cor; menos ou mais detalhes… tudo vai depender da forma que a vida estiver se apresentando naquele momento. OZI não é um criativo alienado ao presente. Ele expressa o hoje! Como prova dessa característica, o último módulo de OZI – Acervo Aberto é “Degustação” onde são exibidas novas pesquisas e obras inéditas. O viés cáustico e desafiador vem como bônus! O container “Proibidão”, com restrição etária por seu conteúdo, coloca a vista trabalhos polêmicos que já causaram embates com marcas mundiais, questionadas e provocadas pelo artista em algum momento de sua trajetória. Acervo Aberto possui obras criadas desde os anos de 1980 até os dias atuais. Muitos deles, além de participação em mostras emblemáticas de Arte Urbana, já foram exibidas internacionalmente em países como Argentina, Austrália, Estados Unidos, França, Suíça, além de cidades e capitais pelo Brasil.

A possibilidade de ter contato com as “mascaras matrizes de stencil” é única. “Essas “máscaras, matrizes” carregam a memória e a gestualidade das várias obras que são feitas a partir delas, trazendo uma sobreposição de tintas e cores que foram usadas nas pinturas”, explica a curadora.

“Com essa ação, abro a possibilidade das pessoas possuírem momentos de minha trajetória e fazer parte da minha história no circuito de arte urbana”.   OZI.

Ativações

OZI – Acervo Aberto possui uma agenda de ativações, para convidados, como parte do Projeto Desloca

Dia 17 de junho – sábado – das 11 às 18hs.

Visitas guiadas com OZI, Katia  Lombardo e a artista convidada Simone Siss durante o período.

Dia 18 de junho – domingo – das 12 às 14hs

Brunch com roda de conversa em que participam OZI, Katia Lombardo, os artistas Simone Siss e Alê Jordão e o galerista e curador Baixo Ribeiro

Obras de Babinski em exibição

14/jun

O MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, apresenta até 13 de agosto, a recente aquisição de mais 20 obras de Maciej Babinski. O artista está entre os grandes de sua geração e o presente conjunto enriquece nosso acervo. Como as gravuras trazem detalhes, narrativas e vários acontecimentos, os públicos que frequentam o MAM têm agora a possibilidade de investigar cada detalhe das obras com o auxílio de lupas disponibilizadas pelo museu.

Maciej Babinski nasceu em Varsóvia, Polônia, em 1931. Com a Segunda Guerra Mundial foi para a Inglaterra, depois Canadá, até se fixar no Brasil, em 1965. No Rio de Janeiro, aproximou-se de diversos artistas, entre eles Oswald Goeldi. Foi também professor na Universidade de Brasília e lecionou na Universidade Federal de Uberlândia, MG. Viveu em São Paulo por oito anos, onde frequentou a Escola Brasil. Atualmente vive em Várzea Grande, no Ceará. Seus deslocamentos e o convívio com manifestações da vanguarda marcam a sua trajetória.

As peças que o MAM acaba de receber são de períodos diversos: há exemplares dos anos de 1950, 1960, 1970 e 1980, além de um significativo conjunto realizado nas duas primeiras décadas do século 21. A mais antiga foi realizada em 1955, momento em que o artista desenvolveu obras abstratas. Sua gravura dos anos de 1960 aborda indiretamente o ambiente de tensão presente durante a ditadura militar. Se em algumas gravuras há traços expressivos, em outras, feitas entre 2009 e 2014, afloram seu imaginário e suas fantasias. Em alguns dos trabalhos das décadas de 1970, de 1980 e de 2010 paisagens naturalistas e formas vegetais são perseguidas pelo artista com traços singulares e autorais. Ao mesmo tempo, figuras humanas, ora mais geometrizadas, ora mais oníricas, aparecem em narrativas em que o animalesco, cenários complexos e personagens inusitados se intercalam.

O conjunto representa a variedade de estilos e técnicas usadas pelo artista, passando pela xilogravura e com ênfase na gravura em metal. Trata-se de uma seleção representativa e generosa, feita pelo próprio Babinski, de sua fecunda obra.

Cauê Alves

Primeiro ano da Galatea

12/jun

 

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, completou no dia 10 seu primeiro ano! Estamos muito felizes com tudo o que construímos e compartilhamos nos doze meses que se passaram.

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

Artistas representados

Hoje, contamos com um conjunto diverso de artistas representados, provenientes de diversas regiões do país, inscritos em diferentes gerações e que transitam por linguagens variadas, desde a pintura até a instalação. Por ordem de anúncio, são: Allan Weber (Rio de Janeiro, RJ, 1992), José Adário (Salvador, BA, 1947), Marilia Kranz (Rio de Janeiro, RJ, 1937-2017), Aislan Pankararu (Petrolândia, PE, 1990), Daniel Lannes (Niterói, RJ, 1981), Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, MG, 1983) e Miguel dos Santos (Caruaru, PE, 1944).

Feiras

Participamos, desde o início, de importantes feiras nacionais e internacionais com projetos que, vistos em conjunto, traduzem bem a nossa proposta. Foram eles: o estande Tramas brasileiras na SP-Arte Rotas Brasileiras, em agosto de 2022; Chico da Silva: mitologias brasileiras na Independent 20th Century, em Nova York, em setembro de 2022; Allan Weber: Traficando arte na ArtRio, em setembro de 2022; o estande na SP-Arte, em abril de 2023; o estande com o projeto solo da artista Beatrice Arraes na ArPa, em São Paulo, em junho de 2023.

Exposições

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

A próxima exposição, com abertura no dia 28 de junho, apresentará uma seleção abrangente da série Toquinhos, produzida por Mira Schendel principalmente entre 1972 e 1974. Continuaremos a todo vapor e muito animados com todas as novidades que em breve serão compartilhadas!

Agradecemos imensamente a todos que colaboraram conosco e acompanharam a nossa trajetória.

Representação ousada feminina

07/jun

A exposição “Teresinha Soares: um alegre teatro sério” é o atual cartaz – até 29 de julho – da galeria Gomide&Co, Paulista, São Paulo, SP. Com organização de Luisa Duarte, apresenta um conjunto de obras entre desenhos, pinturas e gravuras da intensa trajetória da artista mineira pelos anos 1960 e 1970. A exposição conta ainda com textos inéditos de Lilia Schwarcz e de Julia de Souza. Inserida no contexto repressor da ditadura militar brasileira, a artista ousou a representar temas feministas e de gênero, por um viés do erótico e de grande contestação das relações do corpo com os costumes morais, o consumo e a máquina política.

“Minha arte é realista precisamente porque condeno os falsos valores de uma sociedade a que pertenço. Realista e erótica, minha arte é como a cruz para o capeta” – Teresinha Soares

O aspecto ousado está tanto na temática quando no tratamento formal empregado pela artista, com traços e cores que transitam e se relacionam com os movimentos artísticos da época, como a arte pop, o noveau réalisme e a nova objetividade brasileira.

“Em “Um alegre teatro sério”, trabalho que dá nome à exposição, o corpo feminino aparece duplicado – ora mais curvado e talvez reprimido; ora expansivo e sem amarras. Frases como “de luz apagada”, que aparece logo abaixo de um abajur iluminado, ou “há os outros naturalmente” e “recebe até na cama e o governado” contracenam com rostos que se beijam e o que parece ser uma máscara de teatro. A obra faz pensar no teatro da corporalidade feminina, sujeita a tantas proibições, jogos de simulação e não ditos. Permite introduzir também o imaginário erotizado dessa artista numa súmula bem-feita e que faz performance dentro e fora das telas” – trecho do texto de Lilia Schwarcz para exposição.

Antes de ser artista, Teresinha Soares foi a primeira vereadora eleita em sua cidade natal, Araxá, onde foi também miss e professora. Além de artista, é também escritora e ativista dos direitos da mulher e ambiental.   Nos últimos anos, seu trabalho tem sido revisto e reinscrito na história da arte brasileira, tendo participado de importantes exposições coletivas.

O seu olhar feminista e libertário, a sua capacidade de aliar eloquência formal de energia contestatória, nos endereçam uma obra munida de singular atualidade para pensarmos os caminhos da arte e os desafios políticos da contemporaneidade.

Sobre a artista

Teresinha Soares nasceu em Araxá, Minas Gerais, em 1927. Mudou-se para Belo Horizonte no início da vida adulta, onde iniciou sua carreira artística. Participou de três Bienais de São Paulo (1967, 1971 e 1973) e realizou as exposições individuais “Amo São Paulo” (1968), na Galeria Art-Art, São Paulo, e “Corpo a Corpo in Cor-pus Meus” (1971), na Petite Galerie, Rio de Janeiro. Seu trabalho vem sendo revisitado e inscrito na história da arte brasileira, tendo recentemente feito parte de grandes exposições no Brasil e internacionalmente, como “The World Goes Pop”, na Tate Modern (2015), “Radical Women: Latin American Art”, 1960-1985, no Hammer Museum (2017), Brooklyn Museum (2018), e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2018). Em 2017, o MASP realizou a sua primeira exposição retrospectiva em 40 anos: “Quem tem medo de Teresinha Soares?”.

Projeções nos 15 anos da FIC

23/maio

Os quinze anos da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, ganhará projeção de obras em sua fachada. As comemorações seguem até o dia 30 de maio com lançamento de edital de residência artística no Ateliê de Gravura, oficina de Monotipia com o artista Eduardo Haesbaert e sorteio de obras.

No dia 27 de maio (sábado), das 19h às 21h45, a Fundação Iberê ocupará a fachada de seu prédio com recorte de aproximadamente 70 obras de artistas que expuseram na instituição nos últimos dois anos. Além de Iberê Camargo, serão projetados trabalhos de André Ricardo, Arnaldo de Melo, Daniel Melim, Eduardo Haesbaert, Lucas Arruda, Magliani, Santídio Pereira e Xadalu, além da Spider de Louise Bourgeois e das tramas de Berenice Gorini, Luiz Gonzaga, Jussara Cirne de Souza, Nelson Ellwanger, Salomé Steinmetz e Yeddo Titze, que participaram em 2022 da coletiva “Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul”.

A projeção, que tem o apoio do Grupo WOC/Visual, celebra os 15 anos do prédio da Fundação Iberê Camargo, inaugurado no dia 30 de maio de 2008. Assinada pelo arquiteto português Álvaro Siza, a instituição é considerada por profissionais da área um marco internacional em arquitetura e soluções em engenharia. Em 2002, recebeu o Leão de Ouro da 8ª Bienal de Arquitetura de Veneza, e, em 2014, o Mies Crown Hall Americas Prize, em 2014.

 

Oficina gratuita de monotipia

No dia 30 (terça-feira), a Fundação berê Camargo abrirá gratuitamente das 14h às 18h. Os visitantes concorrerão a gravuras de três artistas que passaram pela experimentação no Ateliê de Gravura: Carlos Contente (RJ), Juliana Braga (SP) e Shirley Paes Leme (GO). Também haverá visita mediada e duas oficinas de Monotipia, às 14h30 e às 15h30, com Eduardo Haesbaert, assistente de Iberê Camargo e responsável pelo Ateliê de Gravura. Nessas oficinas, serão utilizados elementos naturais do entorno do prédio para experimentação na produção artística. A monotipia é um processo híbrido entre a pintura, o desenho e a gravura. Ao mesmo tempo possui características próprias da gravura, como a inversão da imagem. E, diferente da gravura, se consegue a reprodução de um desenho numa prova única, daí o nome “monotipia”.

 

Residência artística

No dia 30 de maio (terça-feira), abrem as inscrições para o Edital Iberê/ CMPC. Serão oferecidas duas bolsas no valor de R$10 mil, além de verba de produção, custeio de transporte intermunicipal, hospedagem e diária de alimentação, para artistas que vivem no Rio Grande do Sul. Ao longo dos meses de setembro e outubro, os vencedores trabalharão com o artista Eduardo Haesbaert. Ao final da residência será realizada uma mostra dos trabalhos.

 

Cronograma

– Inscrições: de 30 de maio a 18 de junho de 2023, somente via on-line; – Fase de habilitação: até 23 de junho de 2023; – Divulgação dos artistas habilitados: 30 de junho; – Fase de análise dos projetos: de 02 a 28 de julho; – Divulgação do resultado: 31 de julho de 2023.

 

Programação

27 de maio | Sábado | 19h – Projeção de obras na fachada do prédio da Fundação Iberê Camargo; 30 de maio | Terça-feira, Visitação: 14h às 18h30 – Entrada gratuita.

 

A Fundação Iberê Camargo tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Grupo GPS, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo IESA, CMPC, Perto, Ventos do Sul, DLL Group e da Renner, Dell Technologies, Hilton Hotéis, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, com realização da Petrobras e Ministério da Cultura/ Governo Federal.

 

 

León Ferrari em Buenos Aires

17/maio

Durante 2020, o Museu Nacional de Belas Artes, Buenos Aires, Argentina, apresentou uma série de ações, atividades, propostas virtuais e exposições para comemorar o centenário do nascimento de León Ferrari, o grande artista argentino.

Desde setembro de 2020, o site do museu veicula material audiovisual com depoimentos, documentário e publicações digitais, entre outras iniciativas dedicadas a evocar a vida e a obra do artista.

Em 17 de maio de 2023, a tão esperada exposição antológica “León Ferrari. Recorrências”, com curadoria de Cecilia Rabossi e Andrés Duprat. Inicialmente agendada para abril de 2020, a exposição teve de ser adiada devido à emergência mundial provocada pela pandemia de Covid-19.

Palavras de Andrés Duprat sobre León Ferrari

“Tive a alegria de ser seu amigo e conhecê-lo intimamente. Além de grande artista, era um homem de qualidades excepcionais, de imensa generosidade e de uma inteligência aguçada marcada por uma nobreza extraordinária. Era alguém absolutamente comprometido não só com o seu trabalho, mas com todos os que necessitavam da sua ajuda, promovendo jovens artistas, até ajudando financeiramente quem precisava. Estudioso, prolífico, solidário, dono de uma notável lucidez e senso de humor, às vezes feroz, sem amarras, típico do livre-pensador que era. A sua formação em engenharia deu-lhe método e rigor; nada é casual ou superficial nas suas obras, fruto de meditações amadurecidas, por vezes durante décadas, e trabalhos técnicos, artesanais cultivados obsessivamente até à perfeição.

Em sua carreira, ele colocou em jogo sua aptidão em vários ofícios. Artista multidisciplinar, foi pintor, gravador, desenhista, escultor, também um grande teórico e polemista. Ele se aventurou em outras disciplinas, como música, dramaturgia, produção cinematográfica e redação. Suas experimentações formais incluíam esculturas e cerâmicas; estruturas de arame concebidas como construções geométricas e desenhos abstratos; scripts transbordantes, transcrições e caligrafia; colagens, Brailles e assemblages que, ao colocarem em diálogo elementos díspares, geram novos significados, não sem humor e denúncia; plantas de arquiteturas paranoicas, desenhos de cidades impossíveis e planetas de poliuretano expandido, entre outras pesquisas. Foi definitivamente um humanista, uma personalidade contemporânea de estilo renascentista, interessado em tudo o que diz respeito ao homem e às suas circunstâncias”.

Fotografia: Adrian Rocha Novoa.

Maria Leontina – Gesto em suspensão

 

A exposição “Maria Leontina – Gesto em suspensão”, na Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ, comemora o quinto aniversário do espaço. A exibição, destacando a obra da artista, inclui cerca de cem pinturas, desenhos e gravuras de sua autoria, que vão desde a década de 1940 até a de 1980. A exposição reúne obras raramente exibidas, de diversas fases da carreira da artista, pertencentes à sua família, coleções particulares e instituições. A exposição também apresenta comentários de renomados críticos de arte brasileiros. A mostra tem como objetivo preencher a lacuna na história da arte brasileira, trazendo a obra de Maria Leontina de volta à atenção do público.

Um dos destaques da mostra é a tela “Páginas” que faz parte de uma série de 1972. Em 1974, quando seu filho Alexandre Franco Dacosta fez 15 anos, ela o presenteou com essa obra. Segundo ele, a pintura de um branco suave e azuis celestiais, com gesto delicado e linhas muito sutis, ficava exposta na parede de seu quarto quando morava com os pais e sempre o inspirou a ter uma leveza de espírito e uma paz de existência extemporânea.

Sobre a obra da pintora, diz: “minha mãe traçou leves contornos únicos, rarefeitos, e é como as mães criam seus filhos e filhas, com a força imanente de vê-los voar”.

Até 16 de julho.

Artistas do papel no Museu Judaico

03/maio

 

Mostra reúne obras que utilizam o papel como suporte para diversas técnicas e destacam o protagonismo feminino no núcleo artístico.

O Museu Judaico, Bela Vista, São Paulo, SP, apresenta, a partir do dia 06 de maio (e até 13 de agosto), a exposição “Artistas do Papel: Obras colecionadas por Ruth Tarasantchi para o acervo do MUJ”, que reúne 32 obras de artistas mulheres judias feitas em papel em variadas técnicas, visando destacar a importância da presença de mulheres no núcleo artístico.

É a primeira mostra composta exclusivamente por obras do acervo do Museu. As peças foram coletadas por Ruth Sprung Tarasantchi, curadora e uma das fundadoras do Museu Judáico de São Paulo, que as recebeu como doações das próprias artistas ou de seus familiares, e trazidas à exposição em curadoria conjunta de Felipe Chaimovich.

Os conjuntos das obras tiveram sua organização pensada a partir de categorias de arte acadêmica, tais como retratos, cidades e paisagens, passando ainda por abstrações e também por um conjunto sobre temas da judeidade.

Felipe Chaimovich conclui: “A relevância das mulheres na formação deste acervo inaugural de arte indica a atenção do Museu para com uma história da arte plural e inclusiva, e que aproxime artistas menos conhecidas de autoras consagradas”.

Uma das artistas homenageadas no painel de abertura da exposição é a imigrante francesa Bertha Worms, cuja trajetória artística como primeira mulher a ser professora profissional de pintura em São Paulo no século XX foi estudada por Ruth Sprung Tarasantchi. Além de Bertha, a exposição traz obras de Fayga Ostrower (doadas por sua filha, Noni), Renina Katz, Gisela Leirner, Gerda Brentani, Hannah Brandt, Clara Pechansky, Miriam Tolpolar, Nara Sirotsky, Paulina Laks Eizirik, Agi Strauss e várias outras.

Ruth Sprung Tarasantchi, além de curadora e uma das fundadoras do MUJ, é também pioneira no tratamento de lacunas em exposições quanto a questões de gênero. Na mostra “Mulheres Pintoras”, em 2004 na Pinacoteca, evidenciou – no papel de curadora, a sub-representação de artistas mulheres nas coleções museológicas brasileiras.

 

Sobre o Museu Judaico de São Paulo (MUJ)

Inaugurado após vinte anos de planejamento, o Museu Judaico de São Paulo é fruto de uma mobilização da sociedade civil. Além de quatro andares expositivos, os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que serve comidas judaicas. Para os projetos de 2023, o MUJ conta com o Banco Alfa e Itaú como patrocinadores e a CSN, Leal Equipamentos de Proteção, Banco Daycoval, Porto Seguro, Deutsche Bank, Cescon Barrieu, Drogasil, BMA Advogados, Credit Suisse e Verde Asset Management como apoiadores.