Instalação no Museu Histórico Nacional

08/nov

Mostra inédita – até 29 de janeiro de 2023 – no Museu Histórico Nacional, Centro, Rio de Janeiro, RJ, contará a História do Brasil a partir de uma instalação olfativa da artista multimídia Josely Carvalho contando ainda com uma caminhada olfativa com a artista nos dias 12 de novembro de 2022 e 28 de janeiro de 2023, às 15h.

A exposição “Entre os cheiros da história”, é uma instalação olfativa da premiada artista paulistana Josely Carvalho, que há mais de 40 anos se divide entre Nova York, onde mora e trabalha, e Rio de Janeiro, onde mantém ateliê. Criada especialmente para este local, a exposição pretende contar a história através dos cheiros, das sensações e lembranças que os odores nos remetem.

Invisível aos olhos, a instalação será feita em canhões datados entre os séculos XVI e XX. “Ao explorar o olfato, a artista transforma a boca do canhão em túnel do tempo. A arte de cheirar conduz, então, a histórias sensíveis do Brasil”, afirma o professor de história da UFF, Paulo Knauss, no texto que acompanha a exposição.

Pioneira na utilização de cheiros em obras de arte no Brasil, Josely Carvalho utiliza o olfato em suas obras desde a década de 1980, como um “resgate da memória”, mas esta será a primeira vez que a artista fará uma instalação totalmente olfativa, que terá sua visualidade emprestada da coleção histórica de canhões do museu. “É uma obra não para ser vista, mas sentida, que aborda o resgate da memória histórica, transitando pelo espaço-tempo e adentrando os túneis dos canhões, que armazenam vestígios dos poderes econômicos, bélicos, políticos e sexuais, vivenciados ainda hoje com intensidade”, afirma Josely Carvalho, que ressalta que olfato tem sido pouco inserido na arte contemporânea, que privilegia os sentidos da visão e da audição.

A exposição tem patrocínio da Granado,  por meio da Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro; e apoio da Givaudan do Brasil e Ananse. A produção é do Estúdio Sauá e a realização é do Museu Histórico Nacional.

 

Canhões e Cheiros

Em 20 dos 46 canhões do pátio do museu, a artista introduzirá cápsulas com 15 cheiros criados por ela em parceria com a Givaudan do Brasil, especialmente para esta mostra: da ausência à persistência; do medo à ilusão; do mar à invasão. Para o canhão mais antigo do museu, datado do século XVI e pelo qual os historiadores tem um grande apreço, a artista criou o cheiro “Afeto”, com uma fragrância agradável, com notas adocicadas, que lembram momentos familiares e de infância. Para os canhões que participaram de guerras, o cheiro “medo”, que traz um odor salgado, de transpiração e urina. O canhão da época de Getúlio Vargas, que foi feito com tubo de esgoto, ganhou o cheiro da árvore Abricó de Macaco, que tem lindas e perfumadas flores, mas, o seu fruto denominado “bola de canhão” ao cair no chão, exala um odor que é pútrido. Para o canhão que participou da sangrenta Guerra do Paraguai, conhecido como El Cristiano, que foi fundido a partir de sinos de igreja, foi criado o cheiro “Incenso”, que traz reminiscências da colonização religiosa. Junto a este canhão, haverá o som de um sino tocando de tempos em tempos. Para falar sobre questões ambientais, alguns canhões ganharam o cheiro “Oceano”, que traz a brisa do mar, e “Mata”, com cheiro de terra molhada, e assim por diante. Josely Carvalho sempre debateu questões do feminino em sua obra, mas, pela primeira vez, está usando o masculino para falar sobre o feminino, trazendo à tona questões sexuais e de poder. “Seu interesse pelos canhões tem justamente a intenção de colocar em questão as leituras da história dominadas pelo ponto de vista masculino. Os canhões de época de fina escultura e rica metalurgia são monumentos que celebram os feitos militares de homens guerreiros, mas ofuscam a lembrança da violência e do que ocorre com mulheres e crianças na guerra”, afirma Paulo Knauss. “Pensei em como lidar com esse poder sexual, masculino, militar, econômico, das guerras, que foram e ainda são predominantemente masculinas. O cheiro é o feminino; é a poesia, e eu me sinto o cheiro penetrando nos canhões em busca das memórias vividas, porém, esquecidas nas paredes internas destas formas fálicas”, ressalta Josely. Em cada canhão onde a artista introduziu cheiros, um QR Code levará o público à história daquela peça e também ao nome do cheiro criado, às fragrâncias contidas nele e à relação do cheiro com aquela história. Uma história que vem desde a época da fundição de cada canhão, mas é atualizada pela artista para os dias de hoje, refletindo como questões do passado ainda reverberam nos dias atuais.

 

Sobre a artista

A paulistana Josely Carvalho apresenta, desde a década de 1960, a mulher como protagonista de sua obra. Suas pesquisas ligadas ao olfato datam dos anos 1980. Há 13 anos iniciou, com o apoio da Givaudan do Brasil, a criação de cheiros conceituais. Nos quatro últimos anos, apresentou exposições com essa abordagem nos museus de Arte Contemporânea da USP, Nacional de Belas Artes, no Rio, no centro Harvestworks, em Nova York e na Olfactory Art Keller Gallery, também em Nova York. Nos últimos anos, além dos cheiros, também utilizou vidro soprado em suas obras de arte. Como um desdobramento desta pesquisa, na atual exposição no Museu Histórico Nacional, encapsula os cheiros nos canhões. Além da exposição “Entre os cheiros da história”, este ano também participa da coletiva “The Difference we’ve Made: New Work by Women Artists of the 70s”, de outubro a novembro, na Carter Burden Gallery em Nova York, e “Art for the Future: Artists Call and Central American Solidarities ”, de setembro a dezembro na University of New Mexico Art Museum, no Novo México, EUA, e de fevereiro a agosto de 2023, no DePaul Art Museum, em Chicago, EUA. Este ano recebeu o prêmio trianual Lee Krasner Award for Life Achievement, da Pollock Krasner Foundation, onde foi a única brasileira contemplada até hoje. Em 2019, recebeu na Holanda o prêmio internacional Art and Olfaction Sadakichi Award na categoria Obra Olfativa Experimental, com cheiros desenvolvidos para a obra Teto de Vidro com a colaboração de Leandro Petit, perfumista da Givaudan do Brasil com quem tem trabalhado nos últimos anos.

 

 

 

Colección Oxenford em exposição no MAC Niterói

 

Com organização da produtora cultural Act. e curadoria do poeta e curador argentino Mariano Mayer, “Un lento venir viniendo – Capítulo I” apresenta uma inédita seleção de obras da Colección Oxenford, uma das principais coleções de arte contemporânea da Argentina.

Entre os dias 19 de novembro e 26 de fevereiro de 2023, o público terá a oportunidade inédita de conhecer um recorte da Colección Oxenford na exposição Un lento venir viniendo – Capítulo I, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC Niterói). A coleção é fruto de uma paixão do empresário e colecionador argentino Alec Oxenford pela arte contemporânea argentina, e de sua convicção na necessidade de apoio à cena local. “Comecei minha coleção em 2008 decidindo incorporar, em sua maior parte, obras de artistas vivos e adquiridas exclusivamente através de galerias de arte. Eu gosto de viver minha época através da arte. O que mais me interessa é que a arte gera uma série de perguntas para as quais eu não tenho respostas”, conta o colecionador.

Os dez primeiros anos da formação do acervo foram assessorados pela curadora Inés Katzenstein, hoje responsável pelo departamento de arte latino-americana do MoMA, em Nova York. Com cerca 550 peças de 150 artistas, a Colección Oxenford reúne um panorama muito seleto de obras da arte argentina das primeiras décadas do século XXI e alguns trabalhos prévios a este período, devido à sua relevância para o contexto da arte contemporânea no país.

Com organização da produtora cultural Act., dirigida por Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes, curadoria do poeta e curador argentino Mariano Mayer, e patrocínio de Itaú e Globant, a mostra é composta de 57 obras e apresenta uma diversidade de linguagens, entre pinturas, fotografias, vídeos, instalações visuais e sonoras, performances, esculturas, colagens e publicações. Destaque também para trabalhos de artistas fundamentais para a arte contemporânea argentina como Guillermo Kuitca, Julio Le Parc, Alejandra Seeber, Marcelo Pombo, Fernanda Laguna, Diego Bianchi, Claudia del Río, David Lamelas, Valentina Liernur, Juan Tessi, Karina Peisajovich, Eduardo Navarro, Silvia Gurfein e Alberto Goldenstein, entre outros.

Este é o primeiro ato de um projeto itinerante que também será apresentado no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, ao longo de 2023. Cada capítulo vai exibir uma seleção diferente de obras da Colección Oxenford, que, em cada caso, responde a uma proposta curatorial inspirada por um episódio emblemático do contexto cultural local, fortalecendo o diálogo entre os cenários artísticos brasileiro e argentino.

“Ao conhecer a Colección Oxenford, percebi junto a Alec o potencial institucional deste acervo que retrata de forma exclusiva a produção contemporânea argentina. Assim nasceu a ideia de uma exposição sem precedentes nas instituições brasileiras, com o objetivo de reunir as práticas artísticas da Argentina e do Brasil – países que, apesar de vizinhos, carecem de um intercâmbio cultural mais próximo”, afirma João Paulo Siqueira Lopes, um dos idealizadores da exposição e diretor da Act.

“Aproximar o cenário artístico latino-americano, estabelecendo relações entre os países deste território é uma de nossas missões. Temos feito isso por meio de projetos editoriais, mas é a primeira vez que desenvolvemos uma exposição com esse foco”, completa.

O curso livre de pintura de Ivan Serpa, no MAM Rio, e sua atuação no Grupo Frente são alguns dos pontos de partida do curador Mariano Mayer para a seleção de obras argentinas do primeiro ato apresentado no MAC Niterói. “Percorrendo a noção de influência, este primeiro capítulo descobre uma série de proximidades e rupturas que tal ação significou para a arte contemporânea argentina. Advertimos que a transmissão de experiências e posições entre artistas não formou um sistema linear organizado a partir de atos precursores, mas sim uma estrutura complexa, diferenciada e atemporal”, afirma Mariano Mayer. A pintura como matriz e como problema, a cidade e as formas do urbano, os espaços de sociabilidade artística, a literatura e as outras artes, os vínculos afetivos e as formas de desaprendizagem são destacados nesta exposição como chaves para pensar as formas adotadas pelos vínculos de influência na arte contemporânea argentina.

Cada capítulo da exposição contará ainda com uma publicação inédita que apresentará um ensaio de Mariano Mayer, ao lado de um texto de um curador da cena local, ambos produzidos exclusivamente para a ocasião: Pablo Lafuente, diretor artístico do MAM Rio, assina o texto sobre as relações entre arte e pedagogia, publicado no contexto do MAC Niterói. Realizado via Lei de Incentivo à Cultura, o primeiro capítulo da mostra ocupará todos os espaços do MAC Niterói. A expografia conta com painéis planejados por Miguel Mitlag, Sebastián Gordín e Mariana Ferrari, artistas da Colección Oxenford.

 

Participantes: Un lento venir viniendo – Capítulo I

Alberto Goldenstein, Alejandra Seeber, Alejandro Ros, Alfredo Londaibere, Ana Vogelfang, Bruno Dubner, Cecilia Szalkowicz, Claudia del Río, Daniel Joglar, David Lamelas, Deborah Pruden, Diego Bianchi, Eduardo Costa, Eduardo Navarro, Fabio Kacero, Federico Manuel Peralta Ramos, Fernanda Laguna, Florencia Bohtlingk, Guillermo Kuitca, Jane Brodie, Joaquín Aras, Jorge Gumier Maier, Juan Tessi, Julio Le Parc, Karina Peisajovich, Liliana Porter, Luis Garay, Marcelo Alzetta, Marcelo Pombo, Mariana Ferrari, Marina de Caro, Pablo Accinelli, Pablo Schanton, Rosana Schoijett, Sebastián Gordín, Silvia Gurfein, Valentina Liernur.

 

Sobre a Colección Oxenford

A Colección Oxenford apoia, por meio de diferentes iniciativas, o desenvolvimento da cena artística contemporânea argentina. Seu ambicioso programa de aquisições, que durante os dez primeiros anos contou com a seleção da curadora Inés Katzenstein, permitiu reunir uma mostra representativa das diferentes tendências estéticas que dominaram a produção artística contemporânea durante o século XXI, um período excepcionalmente complexo, no qual a arte argentina experimentou transformações fundamentais em suas linguagens e materiais, bem como em suas práticas, imaginários e instituições. As atividades da Colección Oxenford incluem o desenvolvimento de um programa de bolsas de viagem internacionais, que já beneficiou quase 90 artistas, e que, durante a emergência causada pela pandemia de Covid-19, foi transformado em assistência financeira para mais de 60 nomes. Recentemente, a coleção também esteve envolvida na promoção de reflexões sobre a arte contemporânea argentina, convidando 40 importantes pesquisadores locais para escrever ensaios sobre obras do acervo. A Colección Oxenford também tem sido generosa em sua colaboração com museus e galerias, a quem emprestou trabalhos em inúmeras ocasiões, com o objetivo de contribuir para a divulgação da produção artística argentina contemporânea.

 

Sobre o colecionador Alec Oxenford

Cofundador da OLX e da letgo, Alec Oxenford é um empresário argentino residente no Brasil. É grande colecionador e membro ativo de comunidades internacionais em prol das artes latino-americanas. Entre 2013 e 2019, dirigiu a Fundación ArteBA. Atualmente, ocupa postos como: membro do Acquisition Committee do MALBA e Membro da Latin American and Caribbean Fund (LACF) do MoMA.

 

Sobre a Act.

Fundada em 2017 por Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes, a Act. preenche diversas lacunas do mundo da arte, em escala global, e está envolvida com agentes de todo o circuito: artistas, colecionadores, galerias, museus e instituições culturais. Tem como missão conectar arte e pessoas a partir do desenvolvimento de consultorias, projetos e publicações. Atua em todas as frentes de criação, curadoria, gestão e produção de projetos de arte para empresas, criando elos entre marcas e seus públicos. Além dos projetos, a Act. aconselha interessados em arte – com coleções recém-iniciadas ou já estabelecidas – em como comprar, gerenciar e catalogar suas obras. Un lento venir veniendo é o primeiro projeto de exposição da Act.

 

Sobre o curador

Mariano Mayer nasceu em Buenos Aires, Argentina, 1971, é poeta e curador independente. Entre seus últimos projetos como curador figuram Táctica Sintáctica, Diego Bianchi (CA2M, Móstoles, 2022), Tiempo produce pintura – pintura produce tiempo. Álex Marco (Espaid39; Art Contemporani39, El Castell39, Riba-roja, 2022), Nunca Lo Mismo, junto a Manuela Moscoso (ARCOMadrid2022); Remitente (ARCOMadrid2021); PRELIBROS (ARCOMadrid – Casa de América, Madrid, 2021); Azucena Vieites. Playing Across Papers (Sala Alcalá 31, Madrid, 2020); La música es mi casa. Gastón Pérsico (MALBA, Buenos Aires, 2017); En el ejercicio de las cosas, junto a Sonia Becce (Plataforma Argentina-ARCOmadrid 2017. Publicou Fluxus Escrito (Caja Negra, Buenos Aires, 2019); Justus (Ayuntamiento de Léon, 2007) e Fanta (Corregidor, Buenos Aires, 2002). Dirigiu o programa em torno da arte argentina: Una novela que comienza (CA2M, Móstoles, 2017).

 

Sobre o MAC Niterói

Inaugurado em setembro de 1996, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) é o principal cartão-postal da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Sua forma futurista criada por Oscar Niemeyer tornou-se um marco da arquitetura moderna mundial. O MAC abriga a Coleção João Sattamini, uma das mais importantes coleções de arte contemporânea do país, e recebe mostras focadas na produção contemporânea brasileira e latino-americana, realizada da década de 1950 até os dias de hoje.

 

 

Galatea representará a obra de Marília Kranz

28/out

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, anuncia a representação do espólio da artista Marília Kranz (1937-2017). Marília Kranz nasceu e viveu na cidade do Rio de Janeiro, cuja paisagem é assunto recorrente em sua obra. Desenhando desde a infância, inicia aos 17 anos seus estudos formais em arte, cursando pintura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1956, ingressa na Escola Nacional de Belas Artes, onde estuda durante três anos. Passa, ainda, pelos ateliês de Catarina Baratelli (pintura, 1963-66) e Eduardo Sued (gravura, 1971).

Em um primeiro momento de sua produção, até meados da década de 1960, Marilia Kranz se dedica ao desenho e ao estudo da pintura. Na sequência, começa a produzir relevos abstratos em gesso, papelão e madeira, que integraram a sua primeira exposição individual, em 1968, na Galeria Oca, no Rio de Janeiro. Em 1969, ao retornar de viagens que fez à Europa e aos Estados Unidos, passa a produzir os relevos a partir da técnica de moldagem a vácuo com poliuretano rígido, fibra de vidro, resina e esmaltes industriais; além das esculturas com acrílico cortado e polido, chamadas de Contraformas

Marilia Kranz inova ao produzir quadros-objetos a partir da técnica de vacum forming, pouco difundida no Brasil naquela época, até mesmo no setor industrial. Além disso, o conteúdo dos trabalhos também guarda forte caráter experimental. Segundo o crítico de arte Frederico Morais, as formas abstratas e geométricas exploradas nestas obras e na produção de Marília Kranz como um todo se aproximariam mais de artistas como Ben Nicholson, Auguste Herbin e Alberto Magnelli do que das vertentes construtivistas de destaque no Brasil, como o Concretismo e o Neoconcretismo.

A partir do ano de 1974, Marilia Kranz retoma a prática da pintura, trazendo para o centro da tela elementos constituintes das suas paisagens preferidas no Rio de Janeiro. Comparada a artistas como Giorgio de Chirico e Tarsila do Amaral, os seus cenários e figuras geometrizados, beirando a abstração, contêm solenidade e erotismo ao mesmo tempo. Os tons pasteis, por sua vez, tornam-se a sua marca. “A cor cede diante da intensidade luminosa”, diz Frederico Morais. Ao observarmos as flores e as frutas que protagonizam com grande sensualidade várias de suas pinturas, pensamos também em Georgia O’Keeffe, considerada por Kranz sua “irmã de alma”.

A artista carioca é também conhecida pela defesa da liberação sexual feminina e da liberdade política durante a ditadura militar no Brasil, além da luta pelas causas ambientais, atuando como uma das fundadoras do Partido Verde em 1986.

Marília Kranz expôs em galerias e instituições nacionais e internacionais e recebeu inúmeros prêmios pelas suas pinturas e esculturas, entre eles: o prêmio em escultura do 13º Panorama de Arte Atual Brasileira, em 1981, e o prêmio de aquisição do Salão de Artes Visuais do Estado do Rio, em 1973. Em 2007, contou com a exposição retrospectiva Marília Kranz: relevos e esculturas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ocasião em que foi lançada a monografia Marília Kranz, escrita pelo crítico de arte Frederico Morais, que acompanhou a artista durante toda a sua carreira.

É com grande entusiasmo, portanto, que assumimos a missão de representar e difundir a obra de Marília Kranz e o seu legado para a arte brasileira. Iniciaremos esse trabalho com uma individual da artista em março de 2023, abrindo o programa de exposições do próximo ano.

 

 

Parceria no New Museum

26/out

 

Vivian Caccuri, em parceria com o artista Miles Greenberg, inaugura a exposição “The Shadow of Spring” dia 11 de novembro no New Museum, em Nova Iorque, com curadoria de Bernardo Mosqueira.

Os artistas Miles Greenberg nascido em 1997, Montreal, Canadá, e Vivian Caccuri nascida em 1986, em São Paulo, Brasil, colaborarão pela primeira vez em uma exposição projetada exclusivamente para a Galeria do Lobby do New Museum.

“A Sombra da Primavera” investiga o fenômeno da vibração e como ela é capaz de gerar experiências coletivas transformadoras. Apresentando esculturas, instalações, peças de bordado e trabalhos sonoros recentemente encomendados e desenvolvidos separadamente e em colaboração. Esta instalação formará um ambiente abrangente criado para provocar formas alternativas de experimentar a dimensão sonora. Inspirados em como diferentes ritmos e frequências podem afetar a dinâmica do grupo (como em templos, pistas de dança e espaços urbanos), Vivian Caccuri e Miles Greenberg analisam as relações multifacetadas entre corpos e ondas sonoras. Com obras que apontam para as dimensões invisíveis da vida e da subjetividade, esta apresentação destacará os laços invisíveis que nos conectam uns aos outros,

 

Visitação até 05 fevereiro de 2023.

 

 

Ateliê em aberto

18/out

 

No mês de outubro, o Ateliê André Venzon, Rua Leopoldo Froes, 126, Bairro Floresta, 4º Distrito, Porto Alegre, RS, comemora 25 anos de atuação com a exposição pop up “Eu me deixo ser”, que integra a agenda do projeto “Portas para a Arte” – 13ª Bienal do Mercosul. O espaço apresenta centenas de obras de arte contemporânea autorais e uma coleção pessoal de arte, exposta de forma inusitada. Criado junto a oficina mecânica da família, o local também é pensado pelo artista como uma obra de arte instalativa, interessante para quem busca conhecer uma casa/ateliê/acervo e arejar seus conceitos de como viver com arte por todos os lados, dos pés à cabeça, literalmente.

Segundo o amigo e curador Nicolas Beidacki, basta caminhar pelo seu ateliê, olhar os primeiros trabalhos, identificar a estante com presentes de amigos, reparar no acúmulo de potência que alimenta o artista nesse ambiente, para chegarmos a uma conclusão: “tudo que falta no mundo lhe preenche. As obras de arte, os livros, o acervo pessoal, os papéis de cada evento, as anotações, o apreço pela lembrança, por vivenciar a experiência de tentar nunca mais esquecer. Tudo aquilo que se apaga, que desaparece atrás dos tapumes na cidade, que se torna invisível para determinadas camadas sociais e que se desprende do afeto recebe acolhimento e devoção do artista. Sua prática é assim: uma vontade de conseguir desejar tudo; e uma força para reconhecer a dimensão das coisas que foram perdidas. Não permitir a destruição, não deixar avançar o horror e não ceder ao sentimento de incompreensão da vida.”

Seja revestindo completamente a si mesmo ou transformando as cabeças dos outros – colocando um cubo rosa para cobrir o rosto – a obra de Venzon busca nos inserir numa visão interna e até mesmo solitária sobre a vida. O jogo entre se abrir para o mundo ao nosso redor, mas não abandonar o olhar para um interior colorido reverbera uma multiplicidade de conflitos que transformam o sujeito e o colocam em confronto com a sua subjetividade. Ao perceber aquilo que fecha, reveste, protege e camufla, André pontua as necessidades de pessoas e lugares num mundo marcado por inúmeros projetos de destruição. A falência de bairros, a precarização da vida, a violência de um sistema econômico, o abuso e venda do próprio corpo e o esquecimento são parte fundamental de uma reflexão sobre a cidade, as pessoas e a arte que dialoga com o tema “Trauma, sonho e fuga” da Bienal. Reflexão essa que não se desprende daqueles que fazem de sua própria obra um conjunto de força. É a mescla entre o peso do mundo e a beleza rosa dos sujeitos comprometidos com a manifestação da singularidade, potência e dualidade do seu ambiente de origem.

A exposição “Eu me deixo ser”, com visitação gratuita, também é um convite para comemorar a esperança de que toda arte é portadora, desejando sempre a liberdade de expressão e do próprio ser.

 

 

 

osgêmeos no CCBB Rio

13/out

 

Depois da exibição em espaços como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, e pelo Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, PR, a exposição retrospectiva da dupla osgêmeos chega ao Rio de Janeiro. A mostra, que aborda a trajetória dos irmãos grafiteiros, encontra-se em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com o nome “Nossos Segredos”.

São mais de 850 itens, entre pinturas, instalações imersivas e sonoras, esculturas, intervenções em site specific, desenhos e cadernos de anotações. A exposição é a primeira retrospectiva de grande porte que examina a produção dos artistas desde o começo da década de 1980 até a atualidade. “Esta é a maior exposição já produzida por eles”, comenta o curador da mostra, Jochen Volz.

O objetivo da mostra é revelar novas visões do fazer artístico d’osgêmeos. Objetos pessoais, como cadernos, fotos, desenhos e pinturas que datam desde a infância dos dois irmãos até hoje são apresentados ao público pela primeira vez, incluindo estudos e obras de arte que precedem em muito seus famosos personagens e lançam luz sobre as raízes de seu surgimento. Influências artísticas e colaborações são expostas ao lado de pinturas e esculturas recentes.

A exposição fica em cartaz no CCBB do Rio até o dia 23 janeiro de 2023.

 

 

Alexandre Murucci  apresenta Cadeau

 

O artista visual Alexandre Murucci exibe a mostra individual “Cadeau” – até 29 de janeiro de 2023 – no Centro MariAntonia, Vila Buarque, São Paulo, SP, com 17 obras – esculturas, objetos, fotografias, videoinstalação e instalações – onde traça um panorama crítico e por vezes atávico, do momento político atual e, quase hereditário, dos males que assolam a nação. Ao mesmo tempo, o artista reconhece seu momento e seu papel e, o que crê ser a demanda de seu país: fortalecer instituições, liberdades e discursos inclusivos. A curadoria e o texto crítico são de Shannon Botelho.

“Cadeau”, que titula a mostra e também nomeia uma das obras da exposição, na língua portuguesa significa ‘presente’, como ato de estar fisicamente num lugar ou numa causa, assim como celebrar outra pessoa, dar a ela uma lembrança num momento especial; “e este termo tem sido usado como palavra de ordem em atos de protestos e luta por direitos individuais e coletivos da sociedade brasileira. Será este o presente que deixaremos para futuras gerações ou estaremos presentes na hora de defender nosso patrimônio natural ??”, questiona o artista.

Na visão de Shannon Botelho, o artista dando sequência à sua visão de perdas pregressas que continuam ameaçando o seu presente, explica: “Sobre essas ideias está estruturada a crítica de Murucci, uma insurgência contra as opressões e as formas de violências que insistem em minorar a vida, como uma sirene em alerta, indicando a sucessão distópica de eventos que a compõem.”

Sobre as obras em exposição, mantendo um viés coerente em sua criação artística, Murucci brinda o público com trabalhos que derivam de uma dialética, um pensamento plástico à serviço ‘de uma abordagem crítica dos fatos’. Os temas podem variar, mas a abordagem mantém fiel à dinâmica necessária para cada peça: a opção pelos suportes mantém-se fidedignas ao fio condutor do trabalho que é seu conceito.

“Neste sentido, mantenho essa unidade matérica com uso de ferro, metal, espelho e madeira, que reverberam um cromatismo restrito, só quebrado pela eventual presença de vermelhos, pois foi a cor base de uma fase bastante ampla do meu trabalho. E, como suportes principais, apresento esculturas, objetos, fotografias, vídeos e instalações, mesmo que o desenho esteja fortemente presente na criação das obras”, pondera o artista. A utilização de materiais pós-industriais e naturais os quais imprimem uma fatura povera e ready-mades, instauram uma lógica criativa, mais do que uma investigação da forma. “Um pensamento plástico em busca de um testemunho de meu tempo histórico, sem preconceitos físicos formais, a não ser o rigor do acabamento, fruto de meu DNA da arquitetura e do design”, conclui.

“Atento ao agora, que nos presenteia com realidades disruptivas, o artista convoca a nossa atenção para o momento de virada que atravessamos, lembrando-nos da responsabilidade de solidificar nossas escolhas para uma saída do labirinto existencial que o país e o mundo se encontram. Urge reinventar o porvir para um outro amanhã. Neste sentido, não basta que a arte seja uma reinvenção do que virá. Importa que ela seja uma engrenagem na transformação do presente. Por esta razão, Alexandre Murucci estrutura em Cadeau um manifesto visual, no qual os termos são definidos pela fluidez de narrativas, cujas dialéticas articulam um possível futuro, a partir daquilo que possamos lhe deixar como presente”. Shannon Botelho

“Um olhar crítico, neste momento grave da história brasileira, com todas as ameaças aos direitos individuais e às instituições advindas de um grupo no poder que deveria preservar e harmonizar a nação frente aos inúmeros desafios que o mundo atravessa, vejo que isto se torna mais necessário ainda, principalmente num período de acirramento e polarização da sociedade em torno das escolhas para nosso destino como democracia e nação”. Alexandre Murucci

 

Sobre o artista

Alexandre Murucci nasceu no Rio de Janeiro, RJ, 1961. Artista plástico com formação pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), com orientação de Luis Ernesto. Grupo de estudos com Fernando Cocchiaralle e Felipe Scovino e ateliê de escultura com Israel Kislanski. Em 20 anos de trajetória, trabalha com suportes múltiplos e ênfase em escultura, fotografia, instalações, vídeo e digital art (NFT), conta com mais de 80 exposições em sua trajetória. Sua multidisciplinariedade o faz atuar também como diretor de arte, cenógrafo, curador, designer, cineasta e autor em mídias diversas, com mais de 30 anos de carreira em Cinema, Teatro e Design. Suas obras com foco conceitual, e em suportes variados, falam principalmente de identidades, inserções periféricas e polaridades dos fluxos de poder, sempre através do viés político-histórico, com referências metalinguísticas no âmbito da arte. Em 2007, foi selecionado para o prêmio Bolsa Iberê Camargo. Em 2009 foi convidado para Las Américas Latinas – Fatigas Del Querer, mostra coletiva em Milão com curadoria de Philippe Daverio e em 2011 foi o vencedor do 2º prêmio da Fundação Thyssen-Bornemisza, de Vienna, no projeto The Morning Line – TBA21. Como destaque nas exposições individuais, pode-se citar “Arquipélago” – na Galeria de Arte Maria de Lourdes Mendes de Almeida, O Fio de Ariadne, Centro Cultural Correios, RJ, Las Américas Latinas, em Milão, Italia e a Nicho Contemporâneo no Museu Nacional de Belas Artes, RJ, além de exibições nos EUA, Eslovênia, Cuba e Alemanha, entre muitas. Em 2011, foi o artista selecionado para representar o Brasil na Bienal da Áustria; em 2019 na 13ª Bienal do Cairo, e em 2017, um dos artistas da 57ª Bienal de Veneza, selecionado em um opencall mundial, para o Pavilhão de Grenada, sob curadoria de Omar Donia. Foi também um dos primeiros artistas a mostrar seus trabalhos em NFT numa feira presencial de arte – a ARTRIO, através de sua galeria Metaverse Agency, uma participação inédita, internacionalmente.

 

Sobre o curador 

Shannon Botelho – Crítico de arte, curador independente e professor no Departamento de Artes Visuais do Colégio Pedro II (RJ). Doutorando em História e Crítica da Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes/UFRJ em parceria com a École des Hautes Études en Sciences Sociales/CRBC (Paris); representante do Comitê de História, Teoria e Crítica de Arte da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP) e curador convidado do Memorial Municipal Getúlio Vargas (RJ). Realiza cursos de acompanhamento crítico e teórico para profissionais ligados ao campo cultural no Rio de Janeiro e São Paulo. Assinou curadoria de algumas exposições como Abstrato Possível, Concreto Real (MMGV-RJ-2017); Balangandãs (Zipper Galeria-SP 2018); Paisagem Grão de Areia (MMGV-RJ 2018); O que você guarda tão bem guardado (Casa Abaeté – Ribeirão Preto 2019); Da Linha, o Fio (BNDES-RJ2019), Impulsos Imitativos (MMGV-RJ-2019), Estruturas Improváveis (Casa das Artes-Tavira 2020), Illusions (Zipper Galeria-SP 2021), Malgré le Brouillard (Anne+ Art Contemporain – Paris 2021) e Forma é Afeto (Andrea Rehder-SP 2022).

 

Sobre o MariAntonia

O Centro Universitário MariAntonia, um dos órgãos da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, está instalado nos edifícios históricos Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, que pertenceram à antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Desde sua inauguração, em 1993, com uma atuação multidisciplinar, o MariAntonia conquistou um lugar próprio entre as instituições culturais da cidade. Situado estrategicamente na região central de São Paulo, abriga exposições diversas, oferece cursos de curta duração, palestras, debates e seminários, e outros eventos. Também abriga a Biblioteca Gilda de Mello e Souza, com acervo dedicado principalmente à Estética, cujo núcleo gerador é a coleção de livros sobre arte, estética e história da arte que pertenceu à professora que empresta seu nome ao espaço, primeira docente de Estética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Entre os artistas que tiveram mostras recentes no espaço estão Cildo Meireles, Eleonora Koch, Carlos Zilio, Claudio Tozzi, Evandro Teixeira, Gilvan Barreto, Jaime Lauriano, Laís Myrrha, Leila Danziger , Giselle Beiguelman, Carmela Gross, Dora Longo Bahia, Clara Ianni, Rosana Paulino. Marilá Dardot, Marcelo Moscheta, Walmor Corrêa. entre outros. e artistas internacionais como Lucio Fontana, Luciano Fabro, Mario Merz, Michelangelo Pistoletto, Mimmo Paladino, Gilberto Zorio, Enrico Baj, Alighiero Boetti, Giovanni Anselmo, Maurizio Catellan.

 

 

Livros Espelho Consequências

 

A Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 02 de dezembro uma exposição de Waltercio Caldas, um dos maiores nomes da cena de arte contemporânea brasileira. Para a mostra, Waltercio preparou, durante dois anos, 14 obras inéditas que trazem a sua assinatura poética de relacionar objetos que à sua visão pertencem à mesma família, entre eles os livros e os espelhos. Ao todo serão apresentados nove objetos e cinco desenhos tridimensionais, além de um catálogo com notas de sua caderneta de trabalho. A exposição pode ser visitada até o dia 02 de dezembro.

O reconhecimento da obra de Waltercio Caldas não encontra fronteiras. Sua arte é tanto poética quanto precisa. Segundo texto do crítico e professor Paulo Sérgio Duarte, “não existe arte contemporânea que não seja experimental. Sabemos disso desde Adorno e sua Teoria Estética. Mas existe algo em Waltercio Caldas além do experimentalismo: um ascetismo que não se confunde com aquele da Minimal Art. Trata-se de uma economia que não é avessa ao campo semântico, à polissemia dos significados. Isso estimula a experiência da obra”.

Nessa exposição, Waltercio Caldas trabalha a partir do conhecimento poético dos objetos e das coisas. “A passagem de uma ideia abstrata para um objeto real é o que permite o aparecimento da obra de arte. Ela entra em nossa vida de forma transversa, como algo que não conhecemos, inaugurando sua própria presença. Me interessa esse aparecimento, essa perplexidade inicial”, diz ele, que prioriza em sua prática artística a tridimensionalidade. “Por enfatizar novos aspectos da gravidade, do peso e das matérias, as obras surgem pondo entre parêntesis sua inserção no mundo”, afirma. Nesses objetos inéditos, Waltercio chega a formas extremamente rigorosas e precisas, carregadas de sugestões impossíveis de serem traduzidas em outras linguagens.

Não por acaso, na exposição da Mul.ti.plo, Waltercio Caldas acrescentou um catálogo com anotações que surgiram no decorrer do processo de criação desses trabalhos, e as chamou de “Consequências”. Escrever sobre as questões relacionadas ao processo criativo dos trabalhos reverbera o conteúdo da exposição em outra atitude. Procurar entender o funcionamento dos espelhos e dos livros é enfrentar mais uma vez o que ainda não sabemos”, diz o artista, que realiza a sua terceira exposição na galeria – a primeira foi em 2012, com múltiplos; e, a outra, em 2017, com desenhos.

 

Sobre o artista

Waltercio Caldas nasceu no Rio de Janeiro, em 1946. Realizou sua primeira exposição individual em 1973, no Museu de Arte Moderna (MAM) da mesma cidade, quando recebeu o Prêmio Anual de Viagem ao Exterior, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte. Desde então, tem participado de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Em 1998, recebeu o prêmio Johnnie Walker de Artes Plásticas e, em 2002, o prêmio Mario Pedrosa da Associação Brasileira de Críticos de Arte, ambos pelo conjunto de sua obra. Representou o Brasil nas Bienais de São Paulo de 1983, 1987 e 1996; na Documenta IX de Kassel, em1992; e na XLVII Bienal de Veneza, em 1997. Em 2005 recebeu o “City Light Award”, o grande prêmio da Bienal da Coreia. Em 2007 foi artista convidado para o pavilhão Itália da LII Bienal de Veneza. Em 2008 realizou exposições Centro Galego de Arte Contemporânea (Espanha) e Fundação Calouste Gulbenkian )Portugal). Em 2012 exibiu uma retrospectiva de suas obras na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, que, em 2013, foi para a Pinacoteca de São Paulo e para o Blanton Museum no Texas, EUA. Em 2018 foi artista curador convidado na XXXIII Bienal Internacional de São Paulo. O artista possui esculturas públicas nas cidades de Punta del Este (1982), São Paulo (1989 e 1997), Leirfjord, Noruega (1994), Rio de Janeiro (1997 e 2014), na fronteira do Brasil com Argentina (2000) e em Porto Alegre (2006). A escultura “O Modo Azul” foi instalada permanentemente no Museu do Açude em 2018, no Rio. Seus desenhos, esculturas e livros de artista fazem parte de diversas coleções particulares do Brasil e do exterior, além de museus como o MAM RJ, MAM SP, Museu de Artes de Brasília, Phoenix Art Museum, Neue Galerie Staatliche Museen, Alemanha; Daros Foundation, Zurique; e Centre Pompidou, Paris; Museu Reina Sofia, Madri; entre outros. Em 2001 foi realizada uma retrospectiva parcial de sua obra no CCBB do Rio de Janeiro e de Brasília. O Museum of Modern Art de Nova York adquiriu, em 2006, mais duas de suas obras. No mesmo ano, o artista lançou Notas, ( ) etc., livro que reúne uma seleção de seus textos sobre o trabalho. Em 2007 participou como artista convidado da 52a Bienal de Veneza e, em 2008, realizou mostras na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; e no Centro Galego de Arte Contemporânea de Santiago de Compostela, Espanha. Em 2010 expôs no Museu Vale e no MAM RJ. Em 2011, nas galerias Elvira Gonzalez, em Madri e Raquel Arnaud, em São Paulo, e na mostra Art/Unlimited em Basel, Suíça. No mesmo ano, recebeu o grande prêmio da Bienal de Cuenca. Em 2017 expôs na Galeria Xippas, de Paris. Sobre sua obra já foram publicados uma dezena de livros, com textos dos mais renomados críticos de arte do país.

 

Sobre a Mul.Ti.Plo

Mais do que uma galeria onde as obras ficam expostas para a apreciação do público, a Mul.ti.plo Espaço Arte apresenta-se como um ambiente de encontro com a arte contemporânea. Aqui, artistas consagrados e novos talentos oferecem o melhor de sua produção em múltiplos e obras em papel, objetos e pinturas, além de projetos especiais. A ideia é que o espaço crie as condições para que os olhares do público encontrem formas singulares de se relacionar com a arte. Além de comercializar obras selecionadas a partir de critérios estéticos de extraordinária densidade artística, a Mul.ti.plo realiza permanente trabalho de pesquisa no sentido de identificar e divulgar novos trabalhos. Por seu engajamento na circulação da arte e pela recusa em tomá-la como produto, a galeria vem se consolidando como um espaço que investe no lançamento de edições exclusivas, um lugar que cultiva preciosidades. Com os múltiplos e as obras em outros formatos de grandes artistas brasileiros e estrangeiros, a Mul.ti.plo trabalha no sentido de renovar a reflexão e a fruição estética, atrair não especialistas, despertar novos colecionadores e enriquecer coleções já estruturadas.

 

 

Esculturas e instalação de Laura Freitas

 

“Costurar fendas de outros tempos”, na Reserva Cultural Niterói é o título da mostra que Laura Freitas apresenta até 20 de novembro, exposição inédita, com instalação, fotos e vídeo nos quais costura fendas na parede, fazendo um paralelo com a cura da casa e o papel da mulher na sociedade. A curadoria é de Fernanda Pequeno e terá lançamento do catálogo virtual e conversa com a artista e a curadora no dia 19 de novembro, às 16h.

A mostra é composta por uma grande instalação, com 107 esculturas, além de duas fotografias e um vídeo, todos inéditos, produzidos nos últimos dois anos, nos quais a artista costura pedaços da parede como se estivesse fazendo um curativo, em uma alusão à cura da casa e das mulheres. “Cuido das “feridas” da casa, tentando reparar as dores e a violência causadas em nosso corpo, principalmente o das mulheres, dando um novo sentido para o lar e para a vida”, afirma a artista. Os trabalhos surgiram durante o isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19.

Precisando fazer manutenções em casa e sem poder chamar um pedreiro, a artista resolveu fazer outros tipos de conserto. Com atadura, cimento e linha, Laura costurou as fendas abertas na parede como se fossem curativos. “Primeiro preencho com atadura, depois coloco o cimento por cima, o que cria uma plasticidade, e vou costurando com agulha e linha, como se fosse um machucado, como se eu estivesse suturando uma ferida”, conta a artista.

Todo o processo de costura das paredes de sua casa foi registrado em fotos e em um vídeo, que farão parte da exposição. Esculturas feitas em blocos de concreto, com reproduções das rachaduras costuradas, ganharam o nome de “Cotidianas” e farão parte da mostra como uma instalação de parede, de modo a criar relevos. “A montagem sugere nuvens densas, que flutuam pesadamente, ou mesmo lápides mortuárias. Ao mesmo tempo repercute as janelas do entorno da casa da artista, bem como a relação estabelecida com as telas e os dispositivos”, ressalta a curadora Fernanda Pequeno no texto que acompanha a exposição.

As costuras produzem formas diversas, não intencionais, uma vez que a artista segue as falhas já existentes na parede da casa. “Texturas e manchas, rachaduras e costuras criam desenhos que, por vezes, sugerem antropomorfismos e paisagens e, em outras, enfatizam grafismos, formas lineares e abstratas. Linhas, estrias e colunas indicam relevos e caminhos, bem como feridas abertas e cicatrizadas pelo tempo. Antes reclusas, agora afirmam-se e expandem-se, tanto em escala quanto em alcance, reverberando em outros corpos e casas, conectando vivências e memórias”, afirma a curadora.

A costura sempre esteve presente na vida e na obra de Laura Freitas, que já trabalhou com moda, produzindo roupas e pintando tecidos. Em seu trabalho como artista, além da costura, a questão da casa sempre foi muito presente. Se hoje ela está costurando a parede de sua moradia, no passado, já cerziu cascas de ovos e porcelanas. Nascida em uma família de mulheres muito religiosas, dedicadas ao lar e aos filhos, Laura Freitas busca, através de suas obras, a libertação e a autonomia dos corpos, sobretudo, o da mulher. “São corpos muitas vezes controlados, tensos e violentados. Eu trago essa sensação no meu corpo junto à vontade de libertar isso – não só de mim, mas de outras pessoas”, afirma a artista.

Oficinas

Como parte da exposição “Costurar fendas de outros tempos”, no mês de outubro, serão realizadas oficinas gratuitas, voltadas para crianças, idealizadas e ministradas pela própria artista. As oficinas partem da pesquisa de Laura Freitas sobre a nossa casa/corpo/paisagem. Serão utilizados materiais recicláveis e cotidianos do universo de trabalho da artista.  Além disso, também serão realizadas visitas guiadas à mostra para escolas da rede municipal e da Universidade Federal Fluminense.

Sobre a artista

Laura Freitas vive e trabalha em Niterói (RJ). Graduada em Educação Artística com formação em Arteterapia e piano, passou um longo período dedicado à área têxtil com produção de roupas autorais e pintura em tecido. Hoje, Laura tece com desenho, performance, escultura e vídeo. Alinhava, entre a ação e a construção de objetos, temas que envolvem os lugares do feminino, da sexualidade e do espaço íntimo, formando, assim, a trama de sua produção artística. Frequentou diversos cursos na EAV do Parque Lage ministrados por: João Carlos Goldberg, Iole de Freitas, Franz Manata, Ana Miguel, Brígida Baltar, Clarissa Diniz, Mariana Manhães. Entre suas últimas exposições individuais estão “Falo por um FIO”, na Galeria Cândido Portinari da UERJ e “Quando nascer (ou morrer) não é uma escolha”, no Espaço Cultural Correios Niterói (2019), ambas com curadoria de Fernanda Pequeno. Suas mais recentes exposições coletivas são: “Por enquanto: os primeiros quarenta anos” (2022), na Galeria de Arte UFF, “Minúsculas” (2020), no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, Rio de Janeiro (RJ), “Mostra EAV” (2020), na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro (RJ) e “Ainda fazemos as coisas em grupo” (2019), no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro (RJ).

 

 

 

Exposição de Diogo Santos

06/out

 

A galeria samba arte contemporânea, São Conrado, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a primeira exposição individual do artista carioca Diogo Santos no Rio de Janeiro, “Vigésima terceira carta”. Em sua primeira exposição individual na cidade, o artista apresenta pinturas, esculturas, gravuras, desenhos e uma instalação, que partem de elementos das fábulas infantis, dos games e dos quadrinhos para retratar um mundo imaginário melhor. Serão apresentadas 25 obras inéditas, produzidas entre 2018 e 2022. Os trabalhos partem da inquietação do artista diante da percepção de um mundo, com uma sociedade desigual, que parece caminhar para a autodestruição, e retratam um ambiente utópico mágico, mais justo e igualitário. Anna Bella Geiger e Victor Arruda assinam os textos críticos da exposição.

Diogo Santos se apropria de elementos das fábulas infantis, do imaginário acerca dos games e dos quadrinhos, do ambiente da casa, do lar, criando uma atmosfera lírica e acolhedora. Seres fantásticos, utopias, armas místicas, elementos do imaginário brasileiro, mesclados a personagens de fotografias que o artista adquiriu em feiras de antiguidades, estão presentes nos trabalhos. “Aceito todas as referências, sem julgamento, para formar esse mundo lírico, mágico, que passa pelo universo da casa, do aconchego, do lar e da família”, conta o artista. Curiosamente, assim como eu, Diogo Santos teve uma formação acadêmica na área da literatura. Destaco esse aspecto em comum porque percebo questões de narrativa em suas obras, refletidas também nos próprios títulos, que promovem um diálogo entre texto e imagem, e levam a uma inquietação e uma busca de significados, afirma a artista Anna Bella Geiger no texto que acompanha a exposição.

Obras em exposição

 

Um dos destaques da mostra é a instalação “Voltar ao lugar de origem” (2018), composta por 300 pequenas latas, com 0,5cm de diâmetro cada, dentro das quais estão pinturas, desenhos, esculturas e fotos. “São pequenas memórias, que formam um mapa da cultura, o que somos, falam sobre os afetos, as esperanças, os pequenos rastros que nos constituem enquanto indivíduo e nossa posição diante da sociedade, do poder e do medo”, conta o artista, que acrescenta que esta instalação “tende ao infinito, pois sempre será possível acrescentar mais elementos”. A instalação será colocada propositalmente no chão, para que as pessoas precisem se abaixar para ver, aproximando-as do mundo infantil. Pinturas em grandes dimensões, estarão lado a lado com obras de menor tamanho. Vestígios e símbolos que transitam silenciados em sonhos, jogos, brincadeiras infantis e ficção são apresentados em obras como “Labirintos de utopia”, construindo um jogo poético com diversas influências, que vão desde os quadrinhos e o videogame até a filosofia e a literatura. Da série “As bandeiras de meu País”, produzida em 2022, são apresentadas três pinturas sobre tecido, que ressignificam as fantasias advindas do imaginário medieval, apontando para novos mundos utópicos. Também fazem parte da exposição cerca de 25 desenhos da série “Levar o Monstro para Casa”, produzidos entre 2019 e 2020; com líricos traços em nanquim e aquarela, nos quais são mostrados a perplexidade do mundo infantil diante do atual momento histórico em que as opressões políticas, sociais e ambientais se contrastam com sonhos, promessas e lutas. Completam a mostra três pinturas em grande formato (1,90m X 1,60m) da série “Mais do que apenas desejar o Infinito”, ganhadoras do 3º prêmio do 13º Salão dos Artistas Sem Galeria (2022), duas linóleogravuras únicas e duas esculturas inéditas em bronze e cerâmica, que representam seres quiméricos que jogam luz sobre a dicotomia entre as forças do mágico e do real, o passado e o presente, a opressão e a esperança. Haverá, ainda, a obra “Tomei Morada em Anor Londo”, um conjunto constituído por um altar e peças que dialogam com os arquétipos do tarô e o zine, com poemas da série “Glória ao Sol e ao Deus Sombrio”, gravado em uma chapa de latão de 29cm x 42cm. O título da exposição, “a vigésima terceira carta”, tem a ver com o jogo de tarot, mas em referência a uma carta imaginária e que não existe no jogo tradicional.

Eventos em torno da exposição

 

Ao longo do período da mostra, serão realizados diversos eventos relacionados:

No dia 15 de outubro, Diogo Santos fará o workshop de desenho “A poética da criação”, na galeria samba.

No dia 22 de outubro, haverá uma conversa na galeria entre os artistas Diogo Santos e Victor Arruda.

No dia 29 de outubro, será realizado o finissage da exposição com o lançamento do “Livro de artista”, um fac-símile dos cadernos de estudo de Diogo Santos, que virão acompanhados de uma gravura, uma história em quadrinhos original e uma cópia impressa do poema gravado em latão.

Sobre o artista

 

Diogo Santos é multiartista visual, poeta e educador. Doutor em Poética pela UFRJ (2011), graduado em Letras Português/Literaturas (2004), e Mestre em Literatura Comparada (2007) pela mesma instituição. Paralelamente, desenvolveu seus estudos na área de artes visuais com passagens por instituições como: IART-UERJ, Sesc, Centro Cultural Calouste Gulbenkian e EAV – Parque Lage. Foi coordenador do festival online Parada Fotográfica: Cartografias Insurgentes (2021) e curador da exposição 100tenário Fayga Ostrower (Galeria Candido Portinari, 2022). Dentre suas exposições estão as individuais Memórias Transeuntes (Sesc – 2019) e Até a Última Sílaba do tempo (FAN Niterói -2016) e as coletivas Festival Internacional de Arte Urbana – Paratissima, Lisboa (2016), Gravura – Novos Rumos (Sesc, 2020) e do 13º salão dos Artistas Sem Galeria, organizado pelo Mapas das Artes e realizado nas galerias Zipper e Lona, em São Paulo (2022), entre outras.

Até 29 de outubro.