Eu sabia que era desejo

02/maio

 

 

Exposição no Edifício Vera, Rua Álvares Penteado, 87,  Centro, 1º andar, São Paulo, SP. Com curadoria de Núria Vieira, a coletiva atualiza narrativas surrealistas a partir dos desenhos de Louise Bourgeois. Nos desenhos, pinturas, esculturas e instalações, os artistas materializam o sentimento por combinações entre símbolos, objetos e faturas que evocam o desejo no mais amplo sentido. São páginas de caderno, livros, escritos e manifestações de frases, que aparecem como citações que partem inicialmente dos desenhos de Louise Bourgeois. A exposição pretende abordar a atividade surrealista dialogando com intimidade e até, em um nível de pessoalidade com o desejo. São combinações potentes traduzidas em conjuntos de delicados desenhos, posicionados por ímãs contra a parede, em contraste com móveis antigos, pesados, que carregam história de casas e famílias, como herança, combinados à poesia visual, frases e leituras disponíveis para acesso imediato. Do lado de fora, para dentro da exposição.

 

 

Funcionamento normal: quinta e sexta, das 13h às 17h; sábados, das 11h às 17h

De 07 de maio até 03 de junho.

 

Reapresentação de instalação

29/abr

 

 

Após dois anos trancados no “bunker”, o Exército Monarca, de Fábio Carvalho, volta a levantar vôo. Será  no Memorial Municipal Getúlio Vargas, Glória, Rio de Janeiro, RJ, a partir de 07 de maio, com a reabertura da instalação “Parada II” e permanência em  cartaz até 19 de junho.

 

 

“Parada II”, de Fábio Carvalho, é uma instalação com mais de 750 bandeirinhas de papel de seda com impressão de soldados portando fuzil, com asas de borboleta saindo das costas, que ocupará a área de exposições temporárias do Salão Principal do Memorial Municipal Getúlio Vargas, com curadoria de Shannon Botelho. A impressão das bandeirinhas foi feita uma a uma, com o uso de carimbos de borracha produzidos à mão pelo próprio artista, a partir de um desenho original de sua autoria.

 

 

O uso da imagem da borboleta monarca (Danaus plexippus) em vários dos trabalhos do artista vai muito além do fato de borboletas serem normalmente associadas ao universo feminino, frágil e delicado, que em oposição aos símbolos usualmente aceitos como masculinos, de força e virilidade, como os militares, formam a principal dialética da sua produção artística, que procura levantar uma discussão sobre estereótipos de gênero, e questionar o senso comum de que força e fragilidade, virilidade e poesia, masculinidade e vulnerabilidade não podem coexistir. Seu uso surge ainda como um contraponto à camuflagem dos uniformes militares. As borboletas monarca são tóxicas, e por isso evitadas pelos predadores. Há outras espécies de borboletas não venenosas que mimetizam o padrão exuberante da monarca, que assim são igualmente evitadas pelos predadores. Camuflagem e mimetismo são estratégias opostas de sobrevivência e proteção, que objetivam confundir e enganar, ao se fingir ser algo que não se é.

 

 

As linhas de bandeirinhas são dispostas perpendicularmente às duas paredes, em sequência ordenada, começando do alto, descendo suavemente a cada nova fileira, até ficarem na altura do chão ao final do corredor da galeria. Desta forma, até um certo ponto se poderá entrar na instalação, até que a massa de bandeirinhas impeça o espectador de seguir.

 

 

“Parada” é sobre ordem, a imposição de uma certa ordem, que padroniza, anula diferenças, ignora a diversidade, dita um ritmo, uma regra arbitrária de ocupação dos espaços, cartesiana, regular, mas que apesar de todo o esforço de padronização, de robotização dos corpos e mentes, a menor e mais singela interferência (a entrada do público na exposição) já desestabiliza esta ordem rígida e monótona, insere movimento, poesia, beleza (através do movimento de ar gerado pelo deslocamento das pessoas no interior da instalação).

 

 

Pela primeira vez, desde que os “Monarcas” surgiram em 2014, há algumas bandeirinhas vazias, em branco, em meio aos soldados alados. Seu significado, entretanto, o artista faz questão de manter em segredo – “eu acho muito mais interessante e rico que cada pessoa tente elaborar por si mesma o que seriam estes vazios, estas ausências”, afirmou Fábio Carvalho. Outro detalhe, mais sutil, é que de imediato vemos essa ordem/rigor, mas se olharmos de perto, de dentro, é uma aparência, uma fachada (precária); há defeitos, emendas, rasgos, amassados; a vida real, suja, orgânica, entrópica, sempre se impõem à ordem rígida e artifical, arbitrária, que para ser preservada exige trabalho, esforço, reforço, força (violência).

 

 

A exposição “Parada II” foi originalmente inaugurada em 14/02/2020. Por causa da pandemia de Covid19, iniciada em março daquele ano, ela foi fechada pouco tempo depois, e permaneceu fechada até agora. Apesar da fragilidade material da obra, ela permaneceu praticamente intacta nestes 27 meses de “reclusão”.

 

 

Sobre o artista

 

 

Fábio Carvalho, encontra-se em atividade desde 1994, apresentando em em seu curriculum 17 exposições individuais e mais de 150 coletivas, no Brasil e exterior. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção emergente no Brasil nos anos 1990, e fez exposições por quase todo o território nacional. Já integrou mostras na Alemanha, Argentina, Cuba, Espanha, Equador, EUA, Inglaterra, Itália, Portugal, República Checa, entre outros. Participou de 7 Residências Artísticas em Portugal e 4 no Brasil.

 

 

O Movimento Armorial no CCBB/Rio

20/abr

 

 

O Ministério do Turismo e BB Seguros apresentam a mostra “Movimento Armorial 50 anos”, uma exposição com encontros musicais e literários que conduzirão o público pelo eclético, múltiplo e fantástico universo do Movimento Armorial. O Movimento, que completou 50 anos em 2020, foi lançado em Recife (PE), tendo como mentor o consagrado escritor Ariano Suassuna (1927 – 2014). Com a “Mostra Movimento Armorial 50 anos”, o Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reafirma o seu compromisso em promover a brasilidade e a cultural nacional.

 

 

Armorial 50

 

 

Armorial 50 é um evento idealizado por Regina Godoy para marcar o cinquentenário do Movimento Armorial lançado pelo dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, professor e palestrante Ariano Suassuna, em 18 de outubro de 1970. O Armorial tinha como proposta criar uma arte erudita e universal, ligada às raízes da cultura popular brasileira, ao espírito mágico da literatura de Cordel, à música que acompanha seus cantares, à xilogravura que ilustra suas capas, e também à riqueza das festas populares como o Maracatu e o Reisado. Mais do que estabelecer diretrizes rígidas propunha uma convergência entre diferentes manifestações, como dança, literatura, pintura, música, teatro. Por isso, o evento “Armorial 50” reúne esses vários gêneros, apresentando uma grande exposição complementada por encontros musicais organizados por Antonio Madureira e conversas sobre arte e literatura coordenadas por Carlos Newton Júnior.

 

 

A Onça Caetana é uma das formas assumidas pela morte no universo ficcional de Ariano, que, para tanto, parte do nome “Caetana”, com o qual o sertanejo costuma se referir à morte, vendo-a na forma de uma jovem mulher (“a moça Caetana”). Ariano desenhou várias versões da Onça Caetana, sendo esta a escolhida para ser realizada tridimensionalmente para a exposição. A peça foi confeccionada em Belo Horizonte pelos bonequeiros Agnaldo Pinho, Carla Grossi, Lia Moreira e Pedro Rolim.

 

 

A mostra foi organizada em quatro núcleos, distribuídos nas salas do segundo andar do CCBB-RJ e contou com a consultoria de Manuel Dantas Suassuna e Carlos Newton Júnior. A estética Armorial está presente na identidade visual da mostra, criada por Ricardo Gouveia de Melo, e na magia das cores e luzes do cenógrafo Guilherme Isnard. Assim, logo na chegada, o visitante é recebido pela Onça Caetana, uma lenda do folclore nordestino muito ligada à vida de Suassuna, que a retrata com frequência em seus livros, desenhos e iluminogravuras.

 

 

Armorial fase experimental

 

 

No primeiro núcleo, denominado Armorial Fase Experimental, estão reunidos os artistas que participaram do início do movimento. As artes plásticas estão representadas por obras de Aluísio Braga, Fernando Lopes da Paz, Miguel dos Santos, Lourdes Magalhães, Fernando Barbosa e uma Sala Especial dedicada a Gilvan Samico (1928 – 2013), onde, além de suas famosas xilogravuras, estão pinturas inéditas. O núcleo assinala também o trabalho da Orquestra Armorial e do Quinteto Armorial, cuja proposta de produzir uma música de câmara erudita com influência popular, teve grande sucesso na época. Representando o Teatro, estão os figurinos desenhados por Francisco Brennand para a primeira versão cinematográfica da peça “O Auto da Compadecida”, parte deles recriada especialmente para a mostra pela figurinista Flávia Rossette. Dirigido por George Jonas o filme foi lançado em 1969.

 

 

Ariano Suassuna, Vida e Obra

 

 

O segundo núcleo da mostra intitula-se Ariano Suassuna, Vida e Obra e traz a cronologia completa do autor, seus poemas, livros, manuscritos e também vídeos das suas famosas aulas-espetáculo. Um mergulho no fértil e amplo imaginário criativo do mestre.

 

 

Armorial segunda fase

 

 

No núcleo Armorial Segunda Fase, estão reunidas as iluminogravuras de Ariano Suassuna, nos quais ele integra sua faceta de escritor à de artista plástico, de forma surpreendente. São dois álbuns produzidos na década de 1980: “Sonetos com Mote Alheio” (1980) e “Sonetos de Albano Cervonegro” (1985), ambos mantêm as mesmas características básicas de representação, e, juntos, formam um livro só: uma espécie de autobiografia poética. Nesse grupo estão ainda obras de Zélia Suassuna e fotos das “Ilumiaras”, conceito que Suassuna elaborou para designar espaços imantados de arte e cultura. Pertencendo ainda a esse momento está o conjunto “Armorial Hoje e Sempre”, mostrando que, embora o Armorial não exista mais como movimento, seu conceito e estética deixaram frutos que podem ser vistos na arte contemporânea, em artistas como Manuel Dantas Suassuna e Romero Andrade Lima, na dança com o Grupo Grial, no cinema e televisão, em autores como João Falcão, diretores como Guel Arraes e Luiz Fernando Carvalho, e atores como Antonio Nóbrega.

 

 

Armorial – Referências

 

 

O quarto e último módulo: Armorial – Referências, mostra as fontes que Ariano considerava a base para o movimento: o cordel e as festas populares. Na seleção apresentada na exposição foram reunidas talhas e xilogravuras dos mais importantes artistas do cordel, como, J.Borges, João de Barros, José Costa Leite, Mestre Dila e Mestre Noza, além de uma imersão no universo cordelista, a partir de uma cidade interativa desenhada por Pablo Borges. As festas populares e suas imagens de beleza e riqueza extraordinárias, estão apresentadas na mostra através de figurinos, estandartes, vídeos e fotos do Reisado, Maracatu e Cavalo-Marinho.

 

 

Dentro do espírito que norteou Suassuna, a proposta da exposição é reunir essas artes, apresentando às novas gerações o trabalho pioneiro e engajado do autor, mostrando como ele propunha uma volta às raízes brasileiras, com profundo respeito à diversidade, às tradições de negros, índios e brancos, mas apresentando tudo de forma mágica, lúdica, plena de humor – um humor que faz pensar. Uma lição de vida e de resultados positivos, resultados que devem ser mostrados para a sociedade improdutivamente polarizada na qual vivemos hoje. Assim como outras, a comemoração dos 50 anos do Movimento Armorial foi adiada devido à pandemia, mas, agora queremos celebrar, sorrir e sonhar – e o Sonho é a matéria prima do Armorial.

 

 

Boa visita!

Denise Mattar – Curadora da exposição.

Até 27 de junho.

 

 

Na Usina de Arte, em Pernambuco

19/abr

 

 

“Paisagem”, de Regina Silveira, e “Um Campo da Fome”, de Matheus Rocha Pitta, espelham a preocupação de gerações e tendências diferentes, com a situação social do País.

 

 

Parafraseando o escritor italiano Ítalo Calvino, volto sobre meus passos à Usina de Arte, em Pernambuco. O retorno imaginário é a experiência do ver depois, do ver outra coisa, do viver ainda.

 

 

As seguidas mutações desse espaço cultural a céu aberto, funcionando em plena Zona da Mata, reforça a ideia de transformar territórios rurais em centros artísticos, múltiplos, vivos e agregadores de comunidades esquecidas. Com a inauguração das obras “Paisagem”, de Regina Silveira e “Um Campo da Fome”, de Matheus Rocha Pitta as discussões sobre violência e fome se materializam em dois projetos políticos que adensam o acervo de arte da Usina. Ambas espelham a preocupação desses dois artistas, de gerações e tendências diferentes, com a situação social do País.

 

 

O labirinto transparente de Regina foi montado na 34ª Bienal de São Paulo e adquirido pelo empresário Ricardo Pessoa de Queiróz, segundo a artista, depois de uma intermediação das galeristas paulistanas Luciana Brito e Marga Pasquali. As paredes transparentes, “perfuradas” graficamente por tiros, exibem uma cena enigmática. Os alvos apontam para o ponto cego da indagação sobre quem atira e o que é alvejado. A artista se aproxima de formas geométricas que dão essência a esse trabalho provocador, envolto em uma tensão curiosa. Como diz Walter Benjamim, o convencional frui-se sem crítica e o diferente está sujeito a ela. Paisagem pode simbolizar os enfrentamentos vividos no Estado de Pernambuco, notável por suas lutas históricas contra os portugueses, franceses, holandeses ou durante a escravidão nos campos de cana de açúcar. De qualquer ângulo que se olhe esse labirinto, as paredes translúcidas colocam a topografia circundante como pano de fundo. Assim, a instalação envolve e é envolvida pelo entorno. O visitante pode experimentar uma caminhada pelos cem metros quadrados, cujas paredes de 2,50 m  de altura exibem, a um pouco mais de um metro, imagens impressas de tiros.

 

 

Vista do alto, “Paisagem” torna-se um mapa com traçado total, um microcosmo constituído de fragmentos perfeitos. A experiência espacial coletiva ou individual é primordial para constituir um labirinto. Conceitualmente os trabalhos de Regina são recorrentes. Paisagem reforça a série de labirintos gráficos, realizados na década 1970, em torno do mesmo eixo, com marcas gráficas de disparos. Também a série “Crash” está no alinhavo deste pensamento no qual louças de porcelanas são quebradas.

 

 

A artista realiza a instalação com liberdade formal e situação espacial fluídas. Na sociedade contemporânea tudo acontece rápido e simultaneamente tornando só percebido o que sobressai. Sensação é o que arranca a percepção do seu ritmo costumeiro e Regina aplica isso muito bem, seja em suas obras intimistas, seja nos trabalhos públicos superdimensionados. O labirinto translúcido, formalmente limpo e angular da artista, dialoga em contraponto ao labirinto orgânico e aberto, “Eremitério Tropical” de Márcio Almeida construído com tijolos e lentamente mimetizado pela paisagem. A instalação tangencia a morfologia “radicante”, que se refere às plantas que produzem raízes no processo de deslocamento. A ideia se encaixa no conceito do paisagista Gilles Clément que propõe criar “jardins em movimento”, utilizando exatamente essa característica móvel, ou desterritorializante, do mato e das plantas trepantes.

 

 

Com outras gramáticas, mas igualmente político, Matheus Rocha Pitta inaugura hoje sua obra maior, Campo da fome, uma imensa intervenção na paisagem. A instalação abrange o repertório de manifestações visuais que envolve a ecologia, focalizando a destruição do meio ambiente e a fome. O artista ocupa uma área de 700 metros quadrados com uma horta focada em vegetais típicos do Nordeste como o caju, pinha, abacaxi, milho, mandioca confeccionados com barro. A instalação ainda agrega azulejos e pedaços de concretos que ele chama de materiais ordinários. Como explica o artista, “devido à sua recém-implantação a obra pode dar a impressão de incompletude e instabilidade por causa do terreno que ainda não está sedimentado”. Sua arte transgressora é tingida pela cor ocre da terra e pelo discurso da fome. A instalação está dividida em espaços rigorosamente iguais com repetição serialista e que se apoia no manifesto A estética da fome, de Glauber Rocha, a cartilha do Cinema Novo, na qual o diretor defende uma linguagem emancipadora a partir da falta de comida e avisa. “Enquanto não erguer as armas, o colonizado é um escravo”. Rocha Pitta também traz para a discussão a descrição de um campo da fome localizado ao leste da Acrópole, na Grécia Antiga. Segundo a lenda ninguém poderia adentrar naquele terreno onde a fome estava presa, para que ela não chegasse a outros territórios.  “Minha ideia foi desenvolver um trabalho como contenção da fome, um lugar quase sagrado, para deixar que a falta de comida permanecesse ali congelada”. A horta é composta por 30 canteiros onde estão dispostos legumes, frutas ou raízes da região. “Ao todo, a instalação reúne cerca de nove mil peças produzidas por Domingos, artesão de Tracunhaém, cidade conhecida pelo trabalho em cerâmica”. Cobertos pela cor intensa do barro os alimentos são melhor percebidos a partir de uma aproximação visual.

 

 

As transformações da Usina de Arte acompanham a tomada de consciência sócio artístico ambiental e são pilotadas por seus proprietários e atores principais, a arquiteta Bruna e o empresário Ricardo Pessoa de Queiroz, bisneto do fundador da Usina Santa Terezinha que era sobrinho do presidente Epitácio Pessoa, que governou o Brasil de 1919 a 1922. A usina foi a maior produtora de álcool e açúcar do Brasil nos anos 1950. Ricardo é o responsável pela transformação desse patrimônio desativado. Ele acredita que o projeto só tem sentido se impulsionar a transformação da comunidade vizinha, composta em parte por ex-funcionários da usina. “Esse é um dos objetivos com os quais trabalhamos na difusão da arte”.

 

 

Colecionar também pode ser fruto da necessidade de estar perto das coisas que nos dão prazer. Todo colecionador é um intermediário que se transforma em autor no processo de procurar, armazenar, classificar e zelar pelo objeto artístico. Bruna e Ricardo trabalham neste sentido desde o início da Usina de Arte quando optaram por criar um acervo a céu aberto. Ela enfatiza que eles não têm a intenção de criar pavilhões, como em Inhotim, e Ricardo reforça a ideia de que obras de arte podem estar em diálogo direto com a natureza.

 

 

O acervo de arte conta com mais 40 obras que foram curadas, inicialmente, pelo artista paraibano José Rufino, com a participação de Ricardo e Bruna. Há três meses o crítico francês Marc Pottier assumiu o posto e uma de suas propostas foi a de colocar o neon Chiaroscuro (Claro Escuro) do artista chileno Alfredo Jaar na fachada do deteriorado prédio onde funcionou a usina. O trabalho de 18 metros é composto pela frase O velho mundo agoniza, um novo mundo tarda a nascer e, nesse claro-escuro, irrompem os monstros, do filósofo Antonio Gramsci escrita na década de 1930, em plena ascensão do fascismo na Itália e que dialoga com o tumultuado momento que o Brasil vive. O curador ainda cita outro projeto a ser implementado, os bancos para descanso criados por Claudia Jaguaribe que serão espalhados por todo o espaço.

 

 

O acervo de arte reúne artistas como Carlos Vergara, Iole de Freitas, Frida Baranek, Artur Lescher, Júlio Villani, Geórgia Kyriakakis, Saint Clair Cemin, José Spaniol, Juliana Notari, Denise Milan, José Rufino, Marcio Almeida, Flávio Cerqueira, Bené Fonteles, Hugo França, Paulo Bruscky, Marcelo Silveira, Liliane Dardot e Vanderley Lopes. Com exceção da obra de Rufino, instalada dentro do antigo hangar, as demais estão espalhadas pelo imenso jardim que circunda os três lagos artificiais, projetado pelo paisagista Eduardo Gomes Gonçalves. Em meio ao reflorestamento com cerca de 10 mil plantas de aproximadamente 600 espécies, o Jardim Botânico plantado em 33 hectares constitui-se em mola propulsora de outras ações para gerar desenvolvimento e renda à comunidade de seis mil pessoas que vivem próximas ao projeto.

 

 

Um dos destaques do complexo cultural é o Festival Arte na Usina, nascido em 2015, que reúne artistas e intelectuais em torno de shows, residências, oficinas literárias e de arte, abertas aos moradores da comunidade. Também tem relevância a escola de música, equipada com diversos instrumentos, oferecendo aulas diárias aos moradores. “Conseguimos uma parceria com o Conservatório Pernambucano de Música, nossos alunos vão até o Recife e os professores vêm à Usina alternadamente”, ressalta Bruna. Ainda chama a atenção a biblioteca climatizada com mais de cinco mil exemplares catalogados, além de uma FabLab com terminais de computadores conectados à internet, impressoras em 3D e cortadora a laser para projetos da comunidade, além de parceria com as unidades escolares. Desde a sua criação a Usina de Arte transcende as experiências artísticas e tenta exercer a alteridade na transformação socio/cultural da comunidade.

 

 

 

Desejo imaginante

12/abr

 

 

Uma exposição de Maria Martins, em colaboração com o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), aprofunda uma parceria que remonta não apenas a iniciativas recentes, como também aos tempos de nosso patrono.

 

Uma das primeiras obras a capturar o olhar do visitante, na Casa Roberto Marinho, é a escultura em bronze O implacável (1944), da mineira Maria Martins (1894-1973), instalada diante da fachada do casarão neocolonial, no Cosme Velho.

 

Até 26 de junho.

 

 

Panorâmica de Anna Bella Geiger

07/abr

 

 

A Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta a mostra “Entre os vetores do mundo”, de Anna Bella Geiger, com cerca de 50 obras produzidas pela artista em quase 60 anos de carreira. Com curadoria de Marcus Lontra e co-curadoria de Rafael Peixoto, a panorâmica reúne tanto trabalhos emblemáticos – como a série “Visceral” (anos 1960), os mapas dos anos 1970 ou a videoinstalação “Circa” (2006) – quanto produções inéditas – como os bordados, “gavetas” e obras das séries “Rrolos” e “RroseSelavy”. Com trabalhos produzidos nas mais variadas plataformas – esculturas, pinturas, gravuras, desenhos e instalações multimídia -, Anna Bella Geiger tem uma produção pautada em uma visão crítica, política e social, assim como em inquietações dos campos subjetivos.

 

Até 07 de maio.

 

Obra gráfica de Beatriz Milhazes

06/abr

 

 

A Fortes D’Aloia & Gabriel anuncia o lançamento especial de obra assinada por Beatriz Milhazes, trata-se da apresentação de “Oxalá” (2022), uma nova gravura de Beatriz Milhazes. Desenvolvido e produzido no Brasil, o trabalho incorpora uma nova técnica à prática da artista na qual ela se utiliza de uma colagem como matriz, traduzindo sua imagem e seu espírito para a serigrafia. Círculos diversos entrecortados por quadrados e retângulos se entrelaçam com motivos florais e fragmentos de textos, imprimindo na gravura a complexidade, organização e rigor da sintaxe de Milhazes. Até as provas finais e a edição foram cerca de 12 meses de trabalho, envolvendo a impressão em diferentes papéis e o uso de mais de 150 cores manualmente calibradas, num longo processo colaborativo entre a artista e o gravurista carioca Agustinho Coradello.

“Para o trabalho com cor, que é central na minha obra, a serigrafia é realmente muito rica, ela tem a capacidade de fazer áreas muito planas, muito chapadas, com a cor muito sólida e vibrante, ao mesmo tempo em que você pode construir essa cor através de camadas mais sutis, de velatura, e tornar esse resultado um meio rico e sofisticado”, afirma a autora, Beatriz Milhazes.

Lenora de Barros no MAM-SP

29/mar

 

 

A partir do dia 02 de abril, o MAM-SP, Parque do Ibirapuera, apresenta a instalação “Retromemória” de Lenora de Barros, trabalho desenvolvido especialmente para a Sala de Vidro a convite de Cauê Alves, curador chefe do museu.

A instalação estabelece um diálogo direto com a obra Spider (Aranha), concebida por Louise Bourgeois em 1996, que foi exibida no MAM São Paulo por cerca de 20 anos nesse mesmo espaço.

Em “Retromemória”, as imagens refletidas pelos espelhos junto às palavras escritas com a mão direita e esquerda simultaneamente, são fragmentadas em sílabas impressas em vinil formando a grande aranha de metal, que reflete a memória do local diante do seu diálogo artístico com Louise Bourgeois. O trabalho é composto também por uma instalação sonora que ecoa a voz da própria artista Lenora Barros, proferindo as palavras “memória”, “aranha”, “emaranha” repetidamente. Ao se entrelaçarem, essas palavras produzem novos sons e sentidos como uma teia dominando o espaço. O gráfico e o fonético da palavra se aproximam da dimensão verbivocovisual inventada pelo poeta irlandês James Joyce. O tratamento sonoro é assinado pelo compositor e produtor cultural Cid Campos.

Para o curador-chefe Cauê Alves, “…no momento em que o MAM apresenta em sua programação a segunda geração da arte moderna e a abstração geométrica, Lenora de Barros nos faz pensar sobre as obras que já foram exibidas no museu, nos ajudando a superar as perdas e enfrentar os desafios do presente.”

“A estrutura silábica representa esses fragmentos de memória, e no caso deste trabalho, remete diretamente à memória da Aranha de Louise. A expressão na caligrafia, na projeção de luzes e reflexos, além da dimensão sonora criada, formam essa teia pelo espaço expositivo”, comenta Lenora de Barros.

Três eventos

28/mar

 

 

Uma experiência compartilhada: Ateliê de Gravura da Fundação Iberê Camargo

A partir 29 de março, o público poderá visitar a nova exposição na galeria do Instituto Ling, Porto Alegre, RS. Trata-se de um recorte da “Coleção Ateliê de Gravura da Fundação Iberê Camargo”, resultado do projeto Artista Convidado, em atividade na instituição desde o ano de 2001, sob a coordenação do curador desta mostra, Eduardo Haesbaert, que foi assistente e impressor de Iberê Camargo (1914-1994). Em forma de residência, artistas de projeção nacional e internacional experimentaram a gravura, muitos deles pela primeira vez, e produziram obras inéditas criadas a partir de suas poéticas. A tradução dessa experiência é, agora, compartilhada, numa parceria entre o Instituto Ling e a Fundação Iberê Camargo, que apresentam vinte e sete artistas desse acervo, incluindo o próprio Iberê Camargo. As visitas acontecem com ou sem mediação. Em 29 de março, 10h30min.

 

Ciclo de debates

O Museu Depois

Ling aquece Noite dos Museus

No último encontro do ciclo de debates “O Museu Depois: qual será o papel das instituições culturais no pós-pandemia?”, o pesquisador e crítico de arte Paulo Herkenhoff e a diretora do IEAVi e do MACRS, Adriana Boff, serão os convidados para falar sobre as instituições culturais de hoje e amanhã. A mediação será do jornalista cultural Roger Lerina. O bate-papo será aberto ao público, no auditório do Instituto Ling. Para participar, basta fazer um breve cadastro em nosso site. As vagas são limitadas, de acordo com a capacidade do espaço. O encontro faz parte da programação “Ling Aquece Noite dos Museus”. Outras atividades já estão previstas nosso calendário da instituição. A entrada é sempre gratuita. Em 30 de março, 19h.

 

Guilherme Dable e Ricardo de Carli/Performance Sonora

Dentro da programação “Ling Aquece Noite dos Museus”, Guilherme Dable e Ricardo de Carli apresentam uma performance sonora inédita. Usando baixo, bateria, sintetizadores e outros objetos, a intervenção foi pensada especialmente para a galeria do Instituto Ling e dialogará com a exposição em cartaz. A atividade será aberta ao público. Para participar, basta fazer um breve cadastro no site do Ling. As vagas são limitadas, de acordo com a capacidade do espaço. O encontro faz parte da programação “Ling Aquece Noite dos Museus”. Entrada gratuita. 01 de Abril, 20h30min.

Na Gentil Carioca, SP

25/mar

 

A Gentil Carioca, Higienópolis, São Paulo, SP, convida a todes para os últimos dias da exposição “O Perde”, de Renata Lucas, no fim de semana de 26 e 27 de março.

A artista definiu seu campo de ação com a colocação de uma mesa de sinuca num estacionamento desativado na vila. Atualmente fechado, como quase tudo no entorno, o estacionamento se situa no ponto equidistante entre a galeria e o Cemitério da Consolação. A bola que se joga aqui cai também em outra parte: a mesa instalada no estabelecimento ocioso se oferece como divisa entre mundo operante e mundo inoperante, num jogo de vida e morte.

A mostra integra os circuitos SP-Arte Weekend, que nos dias 26 e 27 reúne as principais galerias do Centro e Barra Funda, e “Arte Caminha”, que traça um circuito cultural para ser feito a pé, de Higienópolis à República, materializado através de um mapa impresso que estará disponível para distribuição gratuita nos endereços das galerias participantes. Como parte da programação, Renata Lucas também participa do arte passagem na Praça da República, 177, com uma intervenção na vitrine da loja 7 do Edifício Eiffel.

A artista estará presente na galeria no dia 26, sábado, das 16h às 18h.