Modernos & Arte Sacra no MAS/SP

18/jan

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS-SP, Luz, São Paulo, SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, exibe “O Sagrado na Arte Moderna Brasileira”, com obras de Agostinho Batista de Freitas, Alberto Guignard, Aldo Bonadei, Alex Flemming, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Antonio Poteiro, Arcângelo Ianelli, Cândido Portinari, Carlos Araújo, Clóvis Graciano, Cristina Barroso, Emeric Marcier, Fé Córdula, Fúlvio Pennacchi, Galileu Emendabili, Glauco Rodrigues, Ismael Nery, José Antonio da Silva, Karin Lambrecht, Marcos Giannotti, Mestre Expedito (Expedito Antonio dos Santos), Mick Carniceli, Miriam Inês da Silva, Nelson Leirner, Nilda Neves, Oskar Metsavaht, Paulo Pasta, Raimundo de Oliveira, Raphael Galvez, Rosângela Dorazio, Samson Flexor, Sérgio Ferro, Siron Franco, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Willys de Castro, sob curadoria de Fábio Magalhães e Maria Inês Lopes Coutinho. A mostra expõe cerca de 100 obras – entre esculturas, desenhos, gravuras e pinturas – que formam um conjunto expressivo de artistas cujas produções abordam poéticas que aludem à fé e à religião, algumas de modo claro e explícito, outras, por meio de metáforas.

 

Até 1808, a temática religiosa dominou por completo a produção artística no país, entre o período que engloba o século 16 até a primeira década do século 19 – com exceção das obras de Franz Post e Albert Eckhout, que retrataram a paisagem, a flora, a fauna, a dança dos índios Tapuias, os tipos humanos e os empreendimentos açucareiros em Pernambuco. A partir de 1808, com a chegada da família real ao Brasil, os temas profanos passaram a ser adotados pelos artistas brasileiros, e algumas décadas depois já prevaleciam nas artes plásticas em nosso país.  “No século XIX, com a presença da missão francesa de arquitetos e artistas no Brasil, também ocorreu a representação do país e de sua sociedade por artistas como Debret e Taunay, entre outros. No correr do segundo império, os temas das pinturas brasileiras serão sobretudo patrióticos. Com o advento da semana de Arte moderna em 1922, inverteu-se a situação com o predomínio do profano e nossos modernistas e depois nossos contemporâneos se fizeram conhecidos do grande público por obras que não expressavam o sentimento religioso”, comenta o diretor executivo do MAS-SP, José Carlos Marçal de Barros.

 

Este conjunto de obras que compõem a nova mostra temporária do MAS-SP pode ser dividido entre os artistas modernos – Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Vicente do Rego Monteiro, Ismael Nery, Cândido Portinari, entre outros -, os populares – entre eles José Antonio da Silva, Agostinho Batista de Freitas, Antonio Poteiro – e os artistas contemporâneos, como Alex Flemming, Marcos Giannotti, Nelson Leirner, Oskar Metsavaht, entre outros. Nos dizeres de Fábio Magalhães e Maria Inês Lopes Coutinho: “Os modernistas foram, antes de tudo, transgressores e não apenas na expressão artística, também adotaram novos modos de vida, muitos deles, incompatíveis com os hábitos da sociedade brasileira, ainda fortemente rural. Influenciados pela grande metrópole francesa que vivia sua “folle époque”, esses jovens transgressores trouxeram novas ideias que tumultuaram os costumes até então estabelecidos na conservadora sociedade brasileira”.

 

A expressão do artista popular parte na maioria das vezes de experiências vividas, das crenças, dos rituais e das festas da sua comunidade. Procissões, as festas juninas, tão populares no Nordeste, e o folclore regional nutrem, muitas vezes, os temas religiosos. Em relação à arte contemporânea, os curadores destacam a presença não rara do tema religioso, “se o entendemos como manifestação de poéticas do sagrado, do sobrenatural, como forças da natureza que inquietam a cultura, ou mesmo os aspectos intangíveis que pressentimos nas coisas e nas pessoas, ou como apropriação de símbolos consagrados”. “Lograram o magnifico resultado que o Museu de Arte sacra apresenta nesta mostra, pois todos e cada um de nossos grandes artistas continuaram mantendo dentro de si a antiga religiosidade com que conviveram desde a sua infância”, conclui José Carlos Marçal de Barros.

 

 

Sobre o museu

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, é uma das mais importantes do gênero no país. É fruto de um convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969, e sua instalação data de 28 de junho de 1970. Desde então, o Museu de Arte Sacra de São Paulo passou a ocupar ala do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, na avenida Tiradentes, centro da capital paulista. A edificação é um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial paulista, construído em taipa de pilão, raro exemplar remanescente na cidade, última chácara conventual da cidade. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1943, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado de São Paulo, em 1979. Tem grande parte de seu acervo também tombado pelo IPHAN, desde 1969, cujo inestimável patrimônio compreende relíquias das histórias do Brasil e mundial. O Museu de Arte Sacra de São Paulo detém uma vasta coleção de obras criadas entre os séculos 16 e 20, contando com exemplares raros e significativos. São mais de 18 mil itens no acervo. O museu possui obras de nomes reconhecidos, como Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus, Antônio Francisco de Lisboa, o “Aleijadinho” e Benedito Calixto de Jesus. Destacam-se também as coleções de presépios, prataria e ourivesaria, lampadários, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas, livros litúrgicos e numismática.

 

 

 

De 26 de janeiro a 31 de março.

Memorial por Tulio Dek

07/jan

O Memorial Municipal Getúlio Vargas, Glória, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a partir de 12 de janeiro,a exposição “Memorial por Tulio Dek”, uma grande instalação do multiartista no susolo da instituição. No percurso do salão circular, 50 pinturas do artista, de 1m x 1,40m, suspensas do teto, de modo a que o público caminhe em meio a elas. No lugar de telas, o artista mandou imprimir em tecido cru uma padronagem semelhante ao pijama usado por Getúlio Vargas, na madrugada de 24 de agosto de 1954. Tulio Dek fará intervenções com pintura em cada um dos recortes de tecido, usando palavras ou frases que discutem aquele momento marcante na história brasileira. A escrita, uma característica do trabalho de Tulio Dek, que também é poeta e compositor, busca “remeter à dor que Getúlio vivenciou naquele dia”, conta o artista.

 

Em um espaço anexo ao salão circular, Tulio Dek colocará uma porta, para o público atravessar. Do outro lado estará um púlpito. “É como se Getúlio quisesse dizer algo depois de sua morte”, comenta o artista. Atrás do púlpito, visível apenas para quem contornar o púlpito, estará um projétil do mesmo calibre usado pelo presidente em sua morte.

 

O jornalista, escritor e dramaturgo Luis Erlanger é o curador. No texto que acompanha a exposição, ele afirma que “Tulio Dek levou a inquietação da sua veia poética para o caminho das artes plásticas. Abrindo, com vigor, espaço para seus pensamentos e dúvidas, manifestados na sua estética bonita de se ver e, ao mesmo tempo, contundente”. “O Memorial Getúlio Vargas virou um cenário ideal, logo após as eleições que dividiram o país de forma assustadoramente radical, para aprofundar dilemas sobre os quais, mesmo que inconscientemente, o Brasil se debruçou, de forma beligerante. Uma de nossas maiores lideranças políticas, em capítulos que contribuíram a dar um toque ficcional à história do Brasil, Vargas conquistou o poder pelos dois lados da balança: como ditador, flertando com o nazi-fascismo, e pelo voto popular”, observa o curador.

 

 

REFLEXO

 

Nascido em 1985, em Goiânia, e radicado no Rio de Janeiro, Tulio Dek está com obras em exibição também na exposição “Reflexo”, na TNT Arte Galeria, em São Conrado, com esculturas e pinturas inéditas. Com curadoria de Marco Antonio Teobaldo, estão na exposição doze pinturas, e duas esculturas da série “Reflexo”, em que centenas de cápsulas de munição compõem as formas de duas mulheres e um torso de uma menina. Em setembro último, Tulio Dek participou durante um mês de uma residência artística no Thomaz Hipólito Studio, em Marvila, Lisboa, que resultou em uma exposição no mesmo local. Obras suas integram uma mostra coletiva em cartaz na Square One Contemporary Art Agency, na capital portuguesa, com curadoria de Rui Afonso Santos, do Museu de Arte Contemporânea do Chiado, que também fará a curadoria da individual do artista programada para o primeiro trimestre de 2019, também na Square One Contemporary Art Agency. Desde 2012, Tulio Dek voltou seu processo criativo para o desenho e para a pintura, sem abandonar seus textos. De 2015 a 2017 morou na Itália, onde dividiu um ateliê com um escultor ligado à Academia de Arte de Florença (Florence Academy of Art). “Meu processo de criação é muito solto, e não acredito na perfeição. O que me interessa é o processo em si e o que eu quero dizer. Não me identifico com a formação acadêmica, onde se exige uma perfeição de formas e acabamento que não tem a ver comigo”, conta.

 

 

Memorial TD

 

Luis Erlanger

 

Tulio Dek levou a inquietação da sua veia poética para o caminho das artes plásticas. Abrindo, com vigor, espaço para seus pensamentos e dúvidas, manifestados na sua estética bonita de se ver e, ao mesmo tempo, contundente.

 

 

Tulio faz política com tinta.

 

Suas causas trafegam muito além de qualquer discussão ideológica, rejeitando a divisão simplista entre esquerda e direita. Um artista que expõe e provoca reflexão com uma visão humanista do mundo.

 

O Memorial Getúlio Vargas virou um cenário ideal, logo após as eleições que dividiram o país de forma assustadoramente radical, para aprofundar dilemas sobre os quais, mesmo que inconscientemente, o Brasil se debruçou, de forma beligerante. Uma de nossas maiores lideranças políticas, em capítulos que contribuíram a dar um toque ficcional à história do Brasil, Vargas conquistou o poder pelos dois lados da balança: como ditador, flertando com o nazi-fascismo, e pelo voto popular.

 

 

Um expoente do populismo – “o pai dos pobres”. 

 

Para culminar, seu suicídio é um dos episódios mais marcantes e traumáticos da nossa vida pública.

 

Como político, pode ter entrado para a história. Como ser humano, agiu contra um instinto básico (a sobrevivência) e preferiu matar-se a perder o poder.
Sem uma desnecessária conexão, este projeto de TD vem impregnado de elementos, tanto no conteúdo quanto na plasticidade, que estiveram presentes na trajetória de Vargas, e que, ainda hoje, com mais intensidade, inquietam a sociedade e as famílias. Um convite a passear por um labirinto de ideias fácil de se sair. Difícil é ultrapassar os impasses que trazemos do nosso passado, ainda mais contundentes na nossa contemporaneidade. Dos brasileiros e da humanidade.

 

Obras para o prazer visual mas também para fazer pensar. Numa viagem lúdica que reforça a tese de que a arte redime o ser humano.E o que fica na história mesmo é a arte.

 

PS: coincidentemente, as iniciais do artista formam a sigla TD –  abreviação da expressão norte-americana “TrueDat”, corruptela de “truethat”, que significa que o fato é verdadeiro. Na era de “fakenews”, precisamos mais ainda da verdade.
Luis Erlanger é jornalista e escritor

 

 

Até 05 de maio.

 

Vanderlei Lopes na Athena

22/dez

A Galeria Athena, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Arena”, de Vanderlei Lopes, com cerca de 30 trabalhos inéditos, feitos em bronze, que ocupam todo o espaço expositivo da galeria. Produzidas este ano, as obras se unem em torno da questão do tempo e da construção cultural. Feitas a partir de moldes dos objetos originais, o que as torna muito próximas ao real, não parecendo, em um primeiro olhar, serem em bronze. Em muitas delas, há a questão do movimento, como se o tempo tivesse sido congelado durante a ação.

 

“Factualidade e ficção, pensamento e ação, colidem-se nesse constante processo. Aqui, perpetuados em bronze, situações cotidianas e transitórias surgem como esculturas, monumentos que desejam discutir tais fenômenos”, conta Vanderlei Lopes.

 

Um grande tronco de árvore cortada, fundida em bronze, com cerca de 3,60m de diâmetro por 1,25m de altura, com uma arena vazia em seu topo, estará na sala menor da galeria, que mede 50m². A arena foi construída a partir das linhas circuncêntricas da madeira, que podem ser vistas em um corte, através dos quais é possível calcular a idade da árvore. A arena é um local de acontecimentos por princípio, um lugar de espetáculos desde os tempos mais antigos, mas neste trabalho ela aparece vazia. “Construída escalonada, faz eco aos movimentos circuncêntricos do crescimento da árvore e sobrepõe ao tempo natural de seu crescimento o tempo cultural, aludido pela arena. De outro lado, o trabalho relaciona o corte à construção cultural, ao acontecimento civilizatório. O teatro vazio, alusão ao palco social onde se desenrolam os acontecimentos, a atuação cotidiana”, afirma Vanderlei Lopes.

 

No salão maior, que tem 140m² e pé direito de 6,5m, estarão cerca de 20 esculturas em bronze, simulando primeiras páginas de jornais, que estarão espalhadas pelo chão, com noticias relacionadas à construção cultural. “Trata-se de jornais fixados em bronze – esses elementos cotidianos que de tão transitórios, passam a ser passado no dia mesmo em que foram impressos, aqui, convertidos ao estatuto de monumento”, conta o artista. Os jornais trazem imagens de explosões, objetos ou situações cotidianas incendiadas que colidem com frases de origens diversas, apropriadas ou transformadas, manifestos e fragmentos reflexivos, escritos por figuras emblemáticas e constitutivas de uma elite cultural. Nos jornais criados pelo artista há imagens de diversos incêndios, como o recente que atingiu o Museu Nacional e outros mais antigos, como o do MAM, no Rio de Janeiro, e do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, além de imagens de disputas de poder e de território, como a Bomba de Hiroshima e o ataque às Torres Gêmeas, no dia 11 de setembro de 2001. “Os jornais têm a fixação do tempo, e esses trazem imagens de transformações. Uma espécie de tragédia perpassa os jornais espalhados pelo chão, que intenta friccionar um repertório de matriz construtiva a outro, de cunho mais trágico”, ressalta o artista, que data os jornais de acordo com a data de feitura das obras.

 

Nesta mesma sala, estará a obra “Demiurgo”, uma sacola de bronze azul, que flutua no ar rente à parede, como o resíduo de um vento que passou, materializando em estado de suspensão o voo desse objeto. Complementa a exposição a obra “Insônia”, um travesseiro, também em bronze, cuja ponta é dobrada, dando a impressão de ser realmente um travesseiro de tecido maleável, com um redemoinho modelado em sua superfície. Na parede, há a fotografia de um tornado, em diálogo com a escultura. “Ambos os trabalhos, sobrepõem a fixação dos fenômenos naturais a que aludem ao modo como as obras surgem instaladas fisicamente no espaço expositivo”, diz o artista.

 

Ao articular as duas salas da galeria, Vanderlei Lopes cria um jogo de contrastes em que o espaço físico menor está ocupado por um único trabalho de grandes dimensões, que o torna denso, enquanto o espaço maior, ocupado por outros de menor escala, dispostos no chão, apresenta aspecto mais esparso, criando uma inversão, assim como a arena, que aqui surge vazia, contrapondo-se ao seu sentido original, que é um lugar de acontecimentos, de movimento, de fatos. O nome da exposição surge desta visão mais ampla do que seria arena, esse lugar de acontecimentos, onde uma árvore acaba de ser cortada, jornais estampam noticias recentes, pedaços de papéis rasgados voam com o vento, assim como uma sacola azul e um travesseiro após a passagem de um tornado.

 

 

Sobre o artista

 

Vanderlei Lopes nasceu em Terra Boa, PR, em 1973. É formado em artes plásticas pela UNESP. Possui obras em importantes coleções públicas, como Pinacoteca Municipal e Pinacoteca do Estado de São Paulo; Coleção Itaú; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto. Entre suas principais exposições individuais destacam-se: “Domo” (2016), na Capela do Morumbi; “Monumento” (2016), na Galeria Athena Contemporânea; “Grilagem” (2014), no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; “Transitorio” (2014), na Galeria nueveochenta, em Bogotá; “Voo, Maus Hábitos” (2007), no Porto, Portugal.

 

Entre as exposições coletivas estão: “Gold Rush” (2016), no De Saisset Museum, nos EUA; “Uma coleção particular – Arte Contemporânea no Acervo da Pinacoteca” (2015/2016), na Pinacoteca do Estado de São Paulo; “Realidades – Desenho Contemporâneo Brasileiro” (2011), no SESC-SP; “Les Cartes Blanches du Silo à l’Emsba” (2009), no Beaux-Arts de Paris, l`école nationale supérieure, em Paris; “Loop Videoart Barcelona” (2009), no Centre Civic Pati Llimona, em Barcelona; “Nova Arte Nova” (2008/2009), no CCBB Rio de Janeiro e São Paulo, entre outras.

 

 

Até 26 de Janeiro de 2019.

Tratando as diferenças

13/dez

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Cabeças” de Antonio Sérgio Moreira, a última de sua programação encerrando o calendário de 2018 sob a curadoria de Marco Antônio Teobaldo.

 

A partir de uma visita do artista à construtora de uma amiga, em 2016, nela encontrou dezenas de capacetes de trabalhadores que seriam descartados, Antonio Sérgio Moreira viu naquele material, separado por diferentes cores de acordo com a função dos operários (seguindo normas da ABNT), um grande potencial para trabalhar algumas idéias sobre e seu papel de resistência no espaço que ocupa no contexto além da sua jornada de trabalho. Rostos foram pintados sobre a superfície de cada um dos 110 capacetes exibidos na instalação “Insólitos construtores”.

 

Outra série, iniciada em 1992, chamada de “Tétes” (cabeças, em francês), são, segundo o artista, “…aminha visão como os afro-ameríndios lêem a si mesmos, e como os outros afros se lêem.” Ele questiona e aponta: “…qual é a face da nossa identidade? As diferentes expressões de cada uma dessas cabeças são na verdade, como podemos ser estranhos um para o outro. A inserção na religiosidade Nagô me fez refletir mais sobre o valor da cabeça num âmbito maior da ancestralidade. O ori (cabeça em Iorubá) é mais importante do que a própria divindade ancestral.”

 

O curador da exposição, Marco Antonio Teobaldo, revela que “…a exposição “Cabeças” será composta por mais de 200 obras, a grande maioria formada por inéditas, dentre objetos, telas e papéis, que tecem uma trama sobre a memória do indivíduo negro e de seus antepassados, no contexto da Diáspora Africana, que é amplificada quando exibida sobre o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos.”

 

O Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos – IPN, é o responsável pela preservação do sítio arqueológico da maior necrópole deste gênero, de africanos escravizados das Américas, e tem sido o guardião da memória deste episódio monstruoso na historio do Brasil, no qual, estima-se, mais de 50 mil corpos foram sepultados sem qualquer tipo de ritual fúnebre ou dignidade com os seus restos mortais.

 

 

Até 09 de fevereiro de 2019.

LEILÃO BENEFICENTE  MOBILIZA ARTISTAS NO PARQUE LAGE 

07/dez

Renomados artistas doam obras para tratamento de saúde de Michel Groisman, diagnosticado com doença neurodegenerativa.

Evento acontece no dia 18 de dezembro, na Escola de Artes Visuais.

 

Conhecido internacionalmente por suas performances de controle corporal, o premiado artista brasileiro Michel Groisman vem se deparando com a difícil condição de perder o controle sobre o próprio corpo. Groisman foi diagnosticado com uma doença neurodegenerativa que paulatinamente vem limitando seus movimentos. Sensibilizados com sua situação, um grupo de mais de 70 artistas vem doando obras para a realização de um leilão beneficente. O valor arrecadado custeará o tratamento de Groisman num hospital especializado, nos EUA. O leilão reúne trabalhos de Adriana Varejão, Arnaldo Antunes, Barrão, Cabelo, Cildo Meireles, Ernesto Neto, Jose Damasceno, entre outros renomados artistas. O evento acontece no dia 18 de dezembro, às 19h, no Parque Lage.

 

Ao longo dos últimos 20 anos Michel Groisman se apresentou em inúmeros centros culturais ao redor do mundo e consagrou-se por suas inusitadas performances de controle corporal com equipamentos agregados ao corpo. Nos últimos anos, no entanto, ele se vê atrelado à execução de uma performance involuntária dentro do seu próprio cotidiano, a de simplesmente tentar levantar-se, andar, mover-se. Uma no-stop performance, na qual o artista precisa de todo seu esforço e concentração para se deslocar dentro de casa e ir de um cômodo a outro. Um ensaio diário, circunscrito ao âmbito privado, do que pode vir a ser a sua última performance.

 

O leilão que custeará as despesas de seu tratamento médico acontecerá no Salão Nobre da EAV Parque Lage, escola que já abrigou tantas vezes as performances de Groisman ao longo dos anos. As obras à venda podem ser visualizadas a partir do dia 5 de dezembro e os interessados podem  dar lances iniciais diretamente no site http://michelgroisman.com/leilao.No dia do leilão, as obras estarão em exposição na galeria do subsolo, das 9h às 19h.

 

 

Artistas participantes

 

Adriana Tabalipa, Adriana Varejão, Adriano Motta, Afonso Tostes, Alexandre Vogler, Amador Perez, André Alvim, Angelo Venosa, Arnaldo Antunes, Arjan Martins, Barrão, Beatriz Berman, Bob N, Cabelo, Cadu, Carla Zaccagnnini, Carolina Ponte, Carlos Bevilacqua, Celina Portela, Cildo Meireles, Claudia Hersz, Chiara Banfi, Chelpa Ferro, Daniel Murgel, Ducha, Eduardo Berliner, Elvis Almeida Oliveira, Enrica Bernardeli, Ernesto Neto, Felipe Barbosa, Fernanda Gomes, Fernando de la Roque, Franklin Cassaro, Gê Orthof, Gisele Camargo, Guga Ferraz,Guilherme Teixeira,Gustavo Speridião, Jarbas Lopes, Joao Modé, José Bechara, José Damasceno, Laura Eber, Laura Lima, Lucia Koch, Lucia Laguna, Luiza Marcier, Luiza Baldan, Luiz Zerbini, Marcela Tibone, Marcius Galan, Marco Veloso, Marcos Chaves, Maria Nepomuceno, Mariana Manhães, Martha Niklaus, Matheus Rocha Pitta, Mauro Espindola, Michel Groisman, Miguel Rio Branco, Nadam Guerra, Noni Ostrower, Opavivará/Domingos Guimarães, Paulo Vivacqua, Pedro Varela, Pedro Paulo Domingues, Raul Mourão, Ricardo Basbaum, Ricardo Ventura, Romano, Rodrigo Andrade, Stela Barbieri, Suzana Queiroga, Tatiana Grinberg, Thereza Salazar, Valeria Scornaienchi, Vicente de Mello, Vivian Cacuri.

 

 

Quem é Michel Groisman

 

Michel começou a desenvolver equipamentos corporais quando frequentava a faculdade de música, onde se formou como professor. Nessa época descobriu que podia inventar seus próprios instrumentos, e que estes não precisavam ser musicais, podiam ser instrumentos de todo tipo, desde que servissem para uma auto-investigação e para a interação com o outro. Em seu processo de criação, Michel Groismanintegra diferentes campos: artes visuais, dança, jogos, arte interativa, engenharia, relações interpessoais etc. Foi contemplado com bolsas e prêmios: Rioarte (2004), Vitae (2002) e Uniarte da Faperj (2000), Programa Rumos Artes Visuais (1999), Rumos Dança (2009) e Rumos 2018; Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2014, 8o Salão da Bahia (2001) e Prêmio “O Artista Pesquisador” do MAC de Niterói (2001), entre outros. Seu trabalho vem sendo mostrado em museus e festivais ao redor do mundo: MoMA (Nova York, 2014); Worlds Together Conference, Tate Modern (Londres, 2012); Festival Temps D’Image (Paris, 2012); Lig Art Hall (Coreia do Sul, 2012); PS 122 (Nova York, 2011); 29a Bienal de São Paulo (2010); Centro de Arte Reina Sofia (Madri, 2008); Festival In Transit the Berlim Lab (Alemanha, 2001 e 2006); Don’t Call It Performance, El Museo Del Barrio (New York, 2004); “Tempo”, MOMA (Nova York, 2001); Festival de La Batiê (Geneva, 2002); II Bienal de Lima (Peru, 2000); e Encontros Acarte (Lisboa, 2000), entre outros.

 

 

PERFOMANCES DO ARTISTA

 

Em “Transferência”, que teve sua estreia na EAV, em 1999, o artista utilizava velas acopladas ao seu corpo e executava uma série de movimentos para passar o fogo de uma vela para outra. Já em “Criaturas”, Groisman e sua parceira utilizavam equipamentos conectados a eletricidade, de modo que quando encostavam um no outro faziam as lâmpadas acenderem. Junto com seu trabalho de performance, o artista também passou a criar obras de arte de engajamento coletivo, dizendo que as relações interpessoais era o que havia de mais revelador. Dentre as suas obras-jogo coletivas estão: Polvo, Máquina de Desenhar, Sirva-se, Risco etc. Uma dessas obras foi premiada pelo programa Rumos 2018, do Itaú Cultural, a Risco#32, que o artista intenta ter condições de realizar no ano que vem. Trata-se de uma máquina de grande dimensões a ser manipulada por 32 pessoas simultaneamente, com o propósito de fazerem juntas um simples desenho num papel. Seria apenas uma coincidência que, assim como o lápis da obra Risco precisa de 32 participantes para riscar um desenho sobre o papel, agora a própria salvação de Groisman dependa também de uma união e engajamento coletivo?

 

 

 

LEILÃO MICHEL GROISMAN
Dia: 18 de dezembro de 2018 (terça-feira)
Horário: 19h às 21h
Local: Salão Nobre da Escola de Artes Visuais do Parque Lage
End.: Rua Jardim Botânico, 414, Jardim Botânico, Rio de Janeiro
As obras estarão em exposição na galeria do subsolo no próprio dia do leilão, das 9h às 19h.

 

SITE DO LEILÃO: http://michelgroisman.com/leilao

Tinho e os brinquedos na Movimento

27/nov

Colorida, lúdica e ao mesmo tempo reflexiva, a nova exposição de Tinho – um dos grandes nomes da arte urbana no Brasil – faz uma homenagem à infância. Estes instigantes trabalhos aprofundam as ideias contidas na obra “Mar de Brinquedos” – tela que compõe a série “Sete Mares” – na qual o artista explora suas referências oriundas da moda, discos, livros, shapes, filmes e obras de artes.

 

Com curadoria de Marcus de Lontra Costa, “Quem me navega é o mar” apresenta pinturas a óleo em que os brinquedos são o fio condutor para uma viagem pela subjetividade infantil. Tinho expõe estes novos trabalhos na Galeria Movimento, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, entre os dias 29 de novembro e 05 de janeiro de 2019.

 

“Escolhi o Mar de Brinquedos para ser o primeiro desdobramento das sete telas que compõem a série porque uma das minhas pesquisas é a respeito da formação do ser humano no ambiente metropolitano. É com os brinquedos que a criança faz experimentos de coisas que ela observa no mundo real em um ambiente imaginário”, explica o artista.

 

As 16 obras revelam o imaginário infantil por meio de diversos símbolos das primeiras idades, como o velocípede, o cavalo de pau e o carrossel, entre outros. A navegação segue na companhia de um dos ícones da obra do artista – o “Boneco de Pano”. Representado de várias formas, ele provoca a imaginação do público em 16 versões espalhadas pela galeria. Shapes de skates também ganham destaque entre as peças.

 

“O Boneco de Pano também é um brinquedo artesanal, feito em casa. Na exposição, quando eu falo de brinquedos, não estou me referindo somente aos industrializados. Em algumas obras mostro brinquedos em que as crianças criam com a sua própria imaginação. Um exemplo é quando a criança pega uma caixa de papelão e imagina uma casa, um carro ou até mesmo um avião”, revela Tinho.

 

Ao abordar este âmbito onírico, o artista convida o público adulto à reflexão Ele acredita que por meio da fantasia e dos mitos, as pessoas transformam suas realidades para lidar melhor com suas questões internas e problemas.

 

Pai de um menino de nove anos e uma menina de sete meses, o artista se inspirou menos em sua infância e mais na de seus filhos. “Minha inspiração vem mais da tentativa de entender o funcionamento da cabeça deles do que a da minha própria infância, já que as minhas lembranças já são mais escassas”, conta o artista.

 

O público é convidado a interagir com a exposição por meio da doação de brinquedos. O artista vai criar uma instalação no átrio do prédio Cassino Atlântico, em Copacabana, onde está localizada a Galeria Movimento. Os objetos doados farão parte de uma grande obra social. Após o término da exposição, todos os brinquedos arrecadados serão entregues ao Instituto da Criança e distribuídos para crianças carentes.

 

 

Sobre o artista

 

“Tinho, que elabora trabalhos de forte impacto visual associando com precisão informações diretas oriundas da pop art com cenários impactantes, metáforas de mundo no qual convivem o fantástico, o onírico, o real e a técnica impecável.  A obra de Tinho é esse caldeirão de informações: Japão e América Latina, centro e periferia, mangás, comics que abraçam vigorosamente referências artísticas e eruditas”, afirma o curador Marcus de Lontra Costa.

 

Finalista do Prêmio Investidor Profissional da Arte (PIPA Online), em 2012, Tinho realizou diversas exposições individuais na Galeria Movimento, no Rio de Janeiro, em São Paulo e Brasília. No exterior expôs em Londres e em diversas cidades da França.  Desde 1994, o artista participou de muitas exposições coletivas e festivais no Brasil e no mundo, como o Outdoor Festival em (Roma, Itália), no ano de 2015; Graffiti Fine Arts (Los Angeles, EUA), em 2013; Bienal de Havana (Havana, Cuba), em 2009, entre outros.

 

 

Sobre a série “Sete Mares”

 

É composta por diferentes temas. Suas referências partem de livros, discos, brinquedos, obras de arte, moda, filmes e a cultura do skate. Os mares propostos por Tinho não são mares externos. São internos, que fazem referência às suas vivências, aos seus repertórios imagéticos. São mares de inspiração. As sete obras desta série serão apresentadas juntas no Museu Paço Imperial, no segundo semestre de 2019.

 

As pinturas, que para o artista é a realização de um sonho, constituem‐se como uma forma de agradecimento e homenagem a todos aqueles que alimentaram e continuam alimentando seu imaginário. É o seu próprio fascínio diante de tais imagens. Os mares latentes em Tinho se apresentam como um convite ao expectador para adentrar em seu universo e entender como cada objeto influenciou sua formação pessoal, profissional e artística. Conhecer os Sete Mares aqui, é conhecer o mundo do artista.

Bechara em Lisboa/Pintura e instalação

26/nov

A galeria Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisboa, Portugal, inaugurou a exposição individual Um raio todos os dias do artista José Bechara. A exposição reúne trabalhos produzidos a partir de 2017 e 2018 e inclui alguns inéditos. O conjunto é formado por cerca de 20 pinturas de grande, médio e pequenos formatos, muitas das quais produzidas com recurso ao processo habitual do artista: a intervenção de acrílico e oxidação de emulsões metálicas sobre lona usada de caminhão.

 

Nesta nova fase de trabalhos, José Bechara alarga o campo de pesquisa sobre o desenho, a pintura, a escultura e a instalação ao construir obras quase imersivas e expansivas que estendem a linha, a superfície, o plano a outras possibilidades, reconfigurando o espaço expositivo da galeria.

 

A exposição apresenta uma instalação inédita de grande escala, produzido a partir da ordenação no espaço arquitetônico de vidros planos e uma variedade de objetos em madeira, papel cartão, outros elementos metálicos e eventualmente mármore. O uso desta multiplicidade de materiais propõe uma discussão sobre fronteiras e gêneros das linguagens visuais fazendo colidir práticas oriundas das experiências escultórica, pictórica e gráfica. Situar o trabalho entre fronteiras, chamar atenção para uma permanente oscilação entregêneros constitui matéria fundamental nas investigações de Bechara. É esta impertinência e transitoriedade do seu trabalho que o artista transpõe para a própria existência.

 

A palavra do artista

 

Tudo é frágil em meu trabalho que contém esforço e dificuldades para emergir, assim como nós, indivíduos humanos. Embora possam parecer nascer de operações brutais os trabalhos podem quebrar-se, despencar de diferentes alturas, desfazer-se por uma perturbação inesperada do espaço ao redor. Minha geometria hesita. Ora aparece, ora desaparece. Falha, portanto, como falhamos. Esforça-se, como nos esforçamos para existir.

 

 

Sobre o artista

 

José Bechara nasceu no Rio de Janeiro em 1957, onde trabalha e reside. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), localizada na mesma cidade. Participou da 25ª Bienal Internacional de São Paulo; 29ª Panorama da Arte Brasileira; 5ª Bienal Internacional do MERCOSUL; Trienal de Arquitetura de Lisboa de 2011; 1ª Bienalsur – Buenos Aires; 7ª Bienal de Arte Internacional de Beijing e das mostras “Caminhos do Contemporâneo” e “Os 90” no Paço Imperial – RJ. Realizou exposições individuais e coletivas em instituições como MAM Rio de Janeiro – BR; Culturgest – PT; Ludwig Museum (Koblenz) – DE; Instituto Figueiredo Ferraz – BR; Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, BR; Fundação Calouste Gulbenkian – PT; MEIAC – ES; Instituto Valenciano de Arte Moderna – ES; MAC Paraná – BR; MAM Bahia -BR; MAC Niterói – BR; Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, – BR; Museu Vale – BR; Haus der Kilturen der Welt – DE; Ludwig Forum Fur Intl Kunst – DE; Kunst Museum – DE; Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) – BR; Centro Cultural São Paulo – BR; ASU Art Museum – USA; Museo Patio Herreriano (Museo de Arte Contemporáneo Español) – ES; MARCO de Vigo – ES; Es Baluard Museu d’Art Modern i Contemporani de Palma – ES; Carpe Diem Arte e Pesquisa – PT; CAAA – PT; Musee Bozar – BE; Museu Casa das Onze Janelas – BR; Casa de Vidro/Instituto Lina Bo e P.M. Bardi – BR; Museu Oscar Niemeyer – BR; Centro de Arte Contemporáneo de Málaga (CAC Málaga) – ES; Museu Casal Solleric – ES; Fundação Eva Klabin – BR; entre outras. Possui obras integrando coleções públicas e privadas, a exemplo de Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – BR; Centre Pompidou – FR; Pinacoteca do Estado de São Paulo – BR; Ludwig Museum (Koblenz) – DE; ASU Art Museum USA; Museu Oscar Niemeyer – BR; Es Baluard Museu d’Art Modern i Contemporani de Palma – ES; Coleção Gilberto Chateaubriand/MAM RIO -BR; Coleção Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz/Instituto Figueiredo Ferraz – BR; Coleção João Sattamini/MAC Niterói – BR; Instituto Itaú Cultural -BR; MAM Bahia – BR; MAC Paraná – BR; Culturgest -PT; Benetton Foundation-IT/CAC Málaga – ES; MOLAA – USA; Ella Fontanal Cisneros – USA; Universidade Cândido Mendes – BR; MARCO de Vigo – ES; Brasilea Stiftung – CH; Fundo BGA – BR, entre outras.

 

 

Até 12 de janeiro de 2019.

Ai Weiwei no Brasil

12/nov

Agora, as obras de Ai Weiwei – que passaram por exposições na Argentina e no Chile – encontram-se no Brasil. Com curadoria de Marcelo Dantas, “Ai Weiwei Raiz” está em exibição na Oca, Parque Ibirapuera, em São Paulo. A mostra é a primeira individual do artista no Brasil, e uma das maiores realizadas por ele, com quase 8 mil metros quadrados de extensão e cerca de setenta obras.

 

Em 2011, quando o curador Marcello Dantas teve a ideia de fazer uma grande retrospectiva do artista e ativista Ai Weiwei no Brasil, ele não imaginava que demoraria cerca de oito anos para concluir o projeto. A demora é justificada: nesse meio tempo, Weiwei, conhecido por suas críticas ao regime da China, foi preso e impossibilitado de sair de seu país de origem. Quando ele sinalizou que teria o passaporte de volta, Dantas foi à Pequim e posteriormente à Berlim – onde o artista se estabeleceu – para retomar as negociações do que seria a maior individual já realizada do artista chinês.

 

Além de trabalhos icônicos, a exposição reúne peças recentemente confeccionadas, muitas delas em ateliês brasileiros. “Nos dois casos, é importante destacarmos o processo de inoculação pelo qual essas obras passaram. Chamamos essa ideia de ‘mutuofagia’. Esse conceito, que permeia a mostra como um todo, é representativo de um intercâmbio cultural extremo pelo qual Ai Weiwei e o Brasil passaram, em que o artista incorporou-se ao país, ao mesmo tempo que o país incorporou-se ao artista e à exposição, por meio de elementos culturais e processos produtivos.

 

O artista exibe peças da obra “Sunflower Seeds” (Sementes de girassol),  uma das obras mais conhecidas, trabalho composto por milhões de sementes de girassol feitas em porcelana e pintadas à mão por artesãos chineses; “Straight” (Reto), instalação feita com 164 toneladas de vergalhões de aço recuperados dos escombros de escolas em Sichuan (China), após o forte terremoto que abalou o país em 2008; e “Forever Bicycles” (Bicicletas Forever), obra de caráter arquitetônico que utiliza bicicletas como blocos de construção. O nome da instalação é inspirado na famosa marca chinesa de bicicletas Forever, popular na infância do artista.

 

Já entre as peças produzidas no país, destaca-se “F.O.D.A”, múltiplo formado pelos moldes em porcelana de quatro elementos encontrados no Brasil: Fruta do Conde, Ostra, Dendê e Abacaxi. As peças foram todas produzidas em um galpão em São Caetano do Sul, SP, com a consultoria de designers brasileiros. A mostra apresenta ainda uma série de trabalhos feitos com centenárias raízes de pequi-vinagreiro, espécie da Mata Atlântica em risco de extinção. Esses resíduos foram descobertos no meio da floresta, selecionados e trabalhados pelo artista ao lado de carpinteiros chineses e brasileiros.

 

Engana-se quem acha que o título da exposição vem exclusivamente daí: “É um pouco mais profundo que isso. Nesta retrospectiva, tivemos o trabalho de buscar raízes culturais perdidas por Weiwei. A revolução cultural chinesa taxou de burguesa certas técnicas como a porcelana, e muitas delas foram desaprendidas. Recuperar isso está muito presente no trabalho do artista, por exemplo, em peças como “Sunflower Seeds”. Além disso, o nome tem um trocadilho com a palavra raiz, já que as vogais presentes nela são “ai”, o sobrenome de Weiwei,” revela o curador Marcelo Dantas.

 

Conhecido por tratar de importantes questões sociais e humanas, como liberdade de expressão e crise de refugiados, o artista tem um modo de produzir peculiar. O curador destaca que este esquema de pensamento é um ponto essencial para se entender a reflexão em torno da mostra. “O que está em jogo aqui é o processo mental de Weiwei. Quando ele recupera fragmentos de ferro, como na obra “Straight”, ou raízes de uma árvore para compor uma obra, vemos um jeito de trabalhar muito peculiar. O mesmo acontece com “Sunflowers Seeds” e “F.O.D.A” – nas quais o artista movimenta toda uma comunidade no processo de produção das peças. Como o tema dele é a vida, não temos como fazer uma exposição com um único mote. Por isso, demos prioridade a conectar e refletir sobre o jeito que ele pensa, sua obra enquanto método.”

 

 

Até 20 de janeiro.

Thereza Miranda, no MNBA

“Instantes Múltiplos”, é o título da exposição de 67 das premiadas gravuras de Thereza Miranda, incorporadas ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ, através do Prêmio Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas FUNARTE/MinC. A mostra também celebra os 90 anos da artista, possuidora de uma trajetória ímpar e que a situa entre as mais importantes gravadoras brasileiras.

 

Em sua proposta conceitual, a exposição “Instantes Múltiplos”, com curadoria da técnica do MNBA Laura Abreu, é dividida em núcleos temáticos que proporcionam a visão tanto da apresentação de gravuras feitas em metal, do início da carreira da artista, como as das séries “Germinação”, “Nova Germinação” e “Germinação Vida”, obras das décadas de 1960 e início de 1970 e das fotogravuras, técnica que une a fotografia às técnicas da gravura e que foi muito difundida pela artista no Brasil, datadas de meados da década de 1970 àquelas do início dos anos 2000.

 

As fotogravuras têm como temas os diferentes lugares e países que Thereza Miranda conheceu. Viajante, através de uma câmara fotográfica e de seu olhar sensível, a artista registrou a paisagem urbana, a natureza, detalhes arquitetônicos como telhados, janelas, portas, ruas, etc.

 

Como professora, Thereza Miranda, que dá aulas de gravura e ilustração na PUC-RJ desde 1974,  tem generosamente compartilhado seu conhecimento, contribuindo para a difusão da gravura e sua valorização como meio de expressão artística. Seus primeiros passos na gravura aconteceram no MAM-RJ, em 1963, e daí  em diante impulsionou sua carreira participando de diversas bienais de gravura, no Brasil e no exterior, como no Chile, Inglaterra e Polônia. Em 2008, comemorou com uma grande retrospectiva seus 45 anos de carreira, no MAM-RJ.

 

 

Até 16 de dezembro.

Três mestres gravadores

A mostra “Três gravuristas e o exílio no Brasil: Fayga Ostrower, Axl Leskoschek, Lasar Segall” apresenta 32 obras originais dos três mestres da gravura que chegaram ao Brasil no século 20, fugindo do nazismo na Europa e aqui se estabeleceram, influenciando várias gerações de artistas no país. O propósito é lançar o foco sobre como a vivência de partida, migração e exílio marcaram o estilo dos artistas, e como eles, por sua vez, trouxeram novas técnicas, novos olhares e novas formas de pensar a arte e o processo de criação.

 

O judeu ucraniano Lasar Segall (1891-1957) chegou ao Brasil já na década de 1920. Voltou para a Europa, mas regressou em definitivo para São Paulo com o recrudescimento das manifestações antissemitas de extrema direita. Em suas gravuras, o autor do famoso “Navio de Emigrantes” evoca temas judaicos e a sua aldeia nativa, além do cotidiano do país que o acolheu.

 

Polonesa de origem, Fayga Ostrower (1920-2001) viveu com a família na Alemanha até a fuga noturna atravessando florestas para a Bélgica e, de lá, para o Brasil, em 1934. Dedicou-se durante meio século à arte e passou do figurativo ao abstrato em suas gravuras. Além do seu legado artístico, foi uma pensadora que refletiu sobre arte e estética em diversos livros.

 

O austríaco Axl Leskoschek (1889-1975), de orientação política de esquerda, precisou sair da Áustria quando se filiou ao partido comunista. No Brasil, foi professor na Fundação Getúlio Vargas e teve um ateliê famoso na Glória. Formou uma geração de expoentes da gravura, como a própria Fayga Ostrower. O visitante poderá ver o seu delicado livro “Miniaturas brasileiras”, com cenas do cotidiano.

 

A exposição “Três gravuristas e o exílio no Brasil: Fayga Ostrower, Axl Leskoschek, Lasar Segall”, com obras do acervo do MNBA, pretende despertar a reflexão sobre uma temática cada dia mais atual – o sofrimento do exílio, o acolhimento, a riqueza que reside no olhar de uma outra cultura. Esta mostra inaugura uma parceria entre o MNBA e a Casa Stefan Zweig, de Petrópolis, RJ, dedicada ao tema do exílio. A mostra é complementada por painéis, cartas, fotos e filmes.

 

 

Até 03 de fevereiro de 2019.