Para Reynaldo Roels Jr.

15/jul

No mês que marca dez anos da morte do crítico de arte, coordenador do Núcleo de Pesquisa do MAM de 1991 a 1992 – e curador do Museu de 2007 até a sua morte súbita em 2009 -, Reynaldo Roels Jr, ganha mostra e livro em sua homenagem. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 6 de julho de 2019 uma exposição em homenagem a Reynaldo Roels Jr. (1951-2009), com curadoria de Fernando Cocchiarale, que reúne obras de 15 artistas que Reynaldo admirava e com os quais mantinha contato permanente, como José Bechara, Iole de Freitas, Ivens Machado, Anna Maria Maiolino, Vicente de Mello, Ione Saldanha, Manfredo de Souzanetto, Franz Weissmann e Victor Arruda.

 

As obras reunidas pertencem à Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – em doação de Eduardo de Barros Roels e Ana Beatriz de Barros Roels, Ferreira Gullar e Projeto Colecionadores MAM 3 – à Coleção Hélio Portocarrero, e à Coleção Gilberto Chateaubriand / MAM Rio.

 

A trajetória profissional de Reynaldo Roels Jr. se entrecruza com diversos momentos da história recente do MAM Rio, de onde foi curador de 2007 até a sua morte súbita em 2009, e coordenador do Núcleo de Pesquisa do Museu de 1991 a 1992. Foi ainda curador da Coleção Gilberto Chateaubriand de 1997 a 2000, e diretor da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage entre 2002 e 2006, e crítico de arte do “Jornal do Brasil”, de 1985 a 1990.

 

Artistas na exposição

 

Anna Maria Maiolino, Cláudio Fonseca, Franz Weissmann, Iole de Freitas, Ione Saldanha, Ivens Machado, João Magalhães, João Carlos Goldberg, Jorge Duarte, José Bechara, Manfredo de Souzanetto, Ronaldo do Rego Macedo, Victor Arruda, Vicente de Mello, Walter Goldfarb.

 

Até 25 de agosto.

 

Dia 18 de julho de 2019, das 15h às 18h: conversa aberta/lançamento do livro “Escultura – 3-D”

 

 

Novíssimos 2019, 48ª edição

12/jul

Frases retiradas do Tinder viram instalação, escritas com sal da água do mar são reveladas em telas, números de velhas cadernetas de telefones sendo contatados por um celular de última geração. Foram gravados em vídeo, cerca de 3.000 fotografias dispostas como uma paleta de Pantone que podem ser manuseadas. Estas e outras linguagens compõem as obras da 48ª edição do Salão de Artes Visuais “Novíssimos”, que abrirá no dia 18 de julho, às 18h, na Galeria de Arte Ibeu, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ. Sob curadoria de Cesar Kiraly, a coletiva conta com pinturas, instalação, objeto, vídeo e desenhos de 13 artistas selecionados: Cláudia Lyrio, Evandro Machado, Fernanda Sattamini, Fernando Soares, Henrique de França, Juliana Gretzinger, Marcus Duchen, Mariana Hermeto, Nicole Kouts, Thais Stoklos, Talita Tunala e Tangerina Bruno, uma dupla de artistas gêmeos. Na noite de abertura, será divulgado o nome do artista contemplado com uma exposição individual na Galeria de Arte Ibeu em 2020. A edição deste ano será composta por temáticas diversas. Inspirado pelos últimos debates sobre o poder que as cores têm de identificar segmentos, o artista Evandro Machado, por exemplo, irá expor imagens que buscam sabotar a transformação das cores em discurso político. As obras retratam um mundo frio e calculista, onde tudo tem que ser levado a uma construção geométrica da realidade e os objetos não têm peso, não há gravidade. Dentro deste universo existem monolitos, presenças de imposição neste lugar inerte, no qual cubos flutuam carregando uma bandeira similar a brasileira.
“Parte do discurso do trabalho é a vontade de criar confusões, a partir da contaminação desses campos cromáticos. O verde e o amarelo têm o poder de serem representativos do que o brasileiro acredita. Nesse momento nacionalista, percebemos que o vermelho, por exemplo, se tornou uma cor mais difícil de ser aceita”, explica Evandro, que se inspirou no filme “2001: uma odisseia no espaço” para compor estas obras.

A dupla de gêmeos Tangerina Bruno irá expor a série “Para uma pintura”, composta por 2.971 fotografias em forma de objetos que são oferecidos ao público para serem manuseados. As obras mostram a origem do processo de criação dos artistas, que pintam a partir de fotografias tiradas por eles mesmos realizando ações, da maneira mais natural possível, em casa. “São imagens muito cruas, pois não estávamos preocupados se seria uma foto bonita, mas queríamos entender qual a ideia e chegar na imagem. Pegamos uma única imagem e usamos de referência para pintura, ou juntamos para colagem, reunimos no Photoshop para fazer a cena, passamos o desenho para a tela e começamos o processo de pintura. Quando pensamos neste processo, geralmente temos acesso ao resultado final. Mas, dessa forma, estamos representando todas as possibilidades que poderiam ser dadas à pintura”, analisa a dupla.

 

“O sigilo é a garantia do replay”, “nunca vou gostar de você mais do que gosto de beber”, “só me curta se tiver todos os dentes na boca”, “desaprendi a flertar, mas ainda sei comer e tomar vinho” são algumas das frases presentes no oráculo que será apresentado pela carioca Juliana Gretzinger, todas retiradas de aplicativos de relacionamento há cerca de dois anos. “Vejo o oráculo com humor, pois há um deboche envolvido. É um oráculo que, na verdade, não está preocupado em responder nada”, resume a artista.

 

Fernanda Sattamini irá apresentar o trabalho “As ondas que nos separam”, composto por gravuras com mensagens que a artista escreveu pensando em enviar para alguém e, depois, molhou na água do mar.

 

O paulistano Marcus Duchen irá expor duas obras inspiradas em uma viagem feita durante cerca de quatro anos por cidades do Sul de Minas, na qual o artista captou as impressões e as cores dos locais. Segundo ele, esta é uma pesquisa, quase geográfica, de alguém que não tinha naturalidade com os ambientes visitados e que, por meio da abstração, pode captar as sensações proporcionadas pela viagem.

 

Mariana Hermeto irá apresentar parte de objetos e materiais presentes em uma casa. Em um exercício de agrupamento, a artista trabalha a geometria e a (des)função de cada um deles, buscando a poesia na ressignificação do que é ordinário. O trabalho de Mariana se baseia na pesquisa da construção de uma arquitetura íntima e se assenta no cotidiano e nas relações estabelecidas a partir dele.

 

Na série “Força”, Fernando Soares utiliza a borracha de câmaras de bicicletas e as ressignifica para abordar a maleabilidade da matéria. O artista recolhe o material em uma loja de bicicletas perto de seu ateliê e tenciona a borracha em um chassi de madeira, retratando as nuances entre o tenso e o relaxado, como a respiração. A ideia é abordar movimentos completamente opostos mas que, na verdade, são complementares. “Nos trabalhos de Novíssimos, os selecionados são os mais tensionados. Na superfície de borracha, forço um pouco o material para ter abertura e criar conceitos de espacialidade. O próprio material se contrai e, por vezes, está solto, relaxado, tendendo apenas para a força da gravidade”, explica o artista.

 

Os desenhos figurativos de Henrique de França exploram o branco do papel através de mínimas insinuações de linha e sombra. Sua inclinação a abandonar figuras no vazio é audaciosa e intrigante. Assim, o artista define artificialmente os limites entre o urbano e o rural como os limites da civilização, de modo a criar dramáticas composições onde algo parece estar para acontecer ou acabou de acontecer. Há um sentimento de reflexão, como se os personagens estivessem em profundo pensamento sobre a vida, memória, esperança e mudança. Os trabalhos criam histórias com as quais todos podem se relacionar de um ponto de vista pessoal e nostálgico, mas ao mesmo tempo relatam o confronto de gerações, tradições e classes, como modo de refletir sobre a construção de uma sociedade, por uma perspectiva latino-americana.

 

Thais Stoklos irá apresentar a série “Sol, estou acordada”, falando sobre o dia e noite, luzes do céu, o pôr do sol, de intensidades de energia, de sentimentos humanos. Seus trabalhos são apresentados como verdadeiras pinturas feitas através da sobreposição de tules, que foram introduzidos nas obras da artista através da confecção de saias de bailarinas para suas filhas. Neste sentido, ela lança mão de tudo aquilo que é descartado: linhas, papéis, galhos, tecidos e pedras são reunidos e, com eles, Thais propõe novas formas, agrupando elementos em uma linguagem urbana, industrial ou natural. Como que se traçando caminhos ou construindo monumentos efêmeros, retrata a importância do sutil, na fugacidade do contemporâneo.

 

Cláudia Lyrio irá expor duas obras: “Teoria” e “Anteparo”. “Teoria” é um trabalho híbrido de desenho e pintura, de ficção e ciência, que tem como objeto o estudo do Pardal, ave da cidade (ave da polis, ave política). Cláudia apresenta esse pássaro de diversas maneiras e aponta algumas de suas características com pequenos textos entremeados. Este trabalho é a ação de observar e traz as etapas do desenho, os rascunhos, as inseguranças e inquietações do estudo. Mostra dados do animal e de seu ciclo de vida, nome científico e ano de sua chegada ao Brasil escritos em retalhos de linho colados sobre um canto da tela. Já a obra “Anteparo” é um desenho a carvão, grafite e aquarela sobre tela de algodão com imprimação transparente, mostrando uma floresta em perspectiva lateral, com árvores secas e queimadas. É um políptico composto de cinco telas que evocam o formato de um biombo dobrável de pequenas dimensões. Na primeira tela à esquerda, um pássaro solitário observa a vastidão da natureza degradada.

 

Inspirada no filme “Blade Runner”, Talita Tunala usa a metáfora das metrópoles chuvosas, sombrias e melancólicas, trazendo para o presente e representando cenas cotidianas atuais com a mesma atmosfera desalentada. Para Novíssimos, a artista procurou dar mais densidade aos tons escuros das obras, retirando com ranhuras a cor do papel cartão, acrescentando pequenas coberturas com lápis de cor, ao invés de usar a tinta sobre o papel branco como normalmente faz. Esse gesto é similar ao de um esculpir sutilmente, fazendo emergir imagens como se estivessem esperando para serem descobertas, exigindo do espectador um certo esforço do olhar para seu desvelamento.

 

A pesquisa central dos trabalhos de Nicole Kouts gira em torno da ressignificação de imagens, lugares da memória, narrativas multiformes, sobreposição de linguagens, dogmas da atualidade e da arqueologia do processo criativo. Todas essas questões são compreendidas dentro de um contexto de convergência e divergência entre os meios analógicos e digitais. Essa investigação é uma constante tentativa de encontrar consistência e novos parâmetros no quebra-cabeças que é a linguagem visual contemporânea. “As interlocuções entre arte e tecnologia, imagem impressa, audiovisual, desenho e colagem são a principal matriz geradora destes trabalhos. Há também a influência de outras linguagens artísticas como a música, o cinema, os quadrinhos, a ilustração, a literatura e o teatro. Os títulos, textos e sobreposição de imagens são um elemento importante, em geral compostos por minúcias que coleto em meus cadernos, abordando a amplitude das transformações de sentido e de narrativas construídas por múltiplas associações”, explica Nicole. “Novíssimos” tem como proposta reconhecer e estimular a produção de novos artistas, e com isso apresentar um recorte do que vem sendo produzido no campo da arte contemporânea brasileira, em suas variadas vertentes. Até 2018, 633 artistas já haviam participado de “Novíssimos”, que teve sua primeira edição em 1962.

 

Sobre os artistas

 

 

Cláudia Lyrio é natural do Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Sua pesquisa busca pensar o ciclo da vida, a natureza e seus elementos, tendo a pintura como linguagem. A artista tem seu interesse voltado para questões cromáticas, alquímicas, processo e artesania. Em seu trabalho, uma ideia de paisagem vem se deixando entrever através de diálogos com pensamentos de campos de cor, Land Art e com as pesquisas dos viajantes naturalistas. Distância, perda, deterioração e efemeridade são parte do seu vocabulário. Formação em Pintura e Letras (UFRJ), especialista em História da Arte (PUC-Rio) e mestre em Literatura (UFRJ). Algumas exposições já realizadas: “Luz Balão” (Galeria Solar/RJ); “Pessoas, Cidades e Afins” (MARCO/MS); “Aos Fios Entreguei o Horizonte” (Galeria Hiato, Juiz de Fora/MG), todas em 2018. Em 2017, destacam-se: “Imersões” (Casa França-Brasil/RJ), “Além da Imagem” (Sem Título Galeria, Fortaleza/CE) e “Miragens” (CMAHO/RJ). Participou dos Salões Rio Claro (2015), Guarulhos e Vinhedo/Prêmio Aquisição Pintura (2016) e Fortaleza (2017). Artista selecionada para individual no Museu de Arte de Blumenau (SC) em 2019.

 

Evandro Machado é natural de Blumenau, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro. Foi ilustrador e desenhista de HQ em Santa Catarina. No Rio de Janeiro, em 2007, frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em 2006, fez a primeira viagem no Programa Dynamic Encounters e, em 2008, participou da Residência CAPACETE, no Rio de Janeiro. Em 2009, realizou uma campanha da TV Futura para a Organização Mundial de Saúde, com curadoria de Fernando Cochiarale. Recebeu bolsa de estudos no Parque Lage para o Programa, em 2011, e Bolsa de Acompanhamento de Pesquisa, em 2013. Seus trabalhos foram acompanhados por Luiz Ernesto, Lívia Flores e Glória Ferreira.

 

Juliana Gretzinger é formada em Práticas Artísticas Contemporâneas pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (2015) e em Produção Audiovisual pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro (2017). Atualmente, é estudante no curso de Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFRJ, exercendo função de pesquisadora bolsista no projeto PIBIAC Fotografia Contemporânea. Pesquisa a fotografia, a imagem digital e os efeitos da internet na sociedade contemporânea.

 

Fernanda Sattamini vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sua produção explora processos experimentais e alternativos, transitando entre fotografia, gravura, escultura e objetos. Tomando como ponto de partida imagens apropriadas e suas próprias fotografias e anotações, a pesquisa que desenvolve aborda questões acerca da memória, saudade e solidão. Graduada em Publicidade e Marketing pela PUC-Rio, completou seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Ateliê da Imagem e Escola sem Sítio, no Rio de Janeiro.

 

Fernando Soares nasceu em São Paulo, onde reside e trabalha. Seu trabalho discute a natureza pictórica da matéria em si, através de pinturas/objetos, colagens e instalações. Sua pesquisa parte das propriedades e/ou ambiguidades dos materiais que utiliza e fatores como ação e reação dos mesmos em seus trabalhos. Iniciou seus estudos e produções de maneira autoditada, aos 17 anos, para posteriormente frequentar o Hermes Artes Visuais, onde ainda participa de elaborações de projetos e acompanhamento de sua produção. Participou de diversas exposições coletivas e individuais em galerias e espaços independentes, além de ser selecionado para salões e feiras de arte contemporânea.

 

Henrique de França nasceu e trabalha em São Paulo. Formado em Artes Plásticas pela USJT e pós-graduado em Design Gráfico pela FAAP, já participou de diversas exposições no Brasil e no exterior, entre elas “No Barrier to Entry”, na Gallery19, em Chicago (2018) e “Desenho Ocupado”, na Galeria Leme, em SP (2009). Entre suas exposições individuais destacam-se “Torpor”, no Sesc Interlagos, em SP (2016), e “Lugares Congruentes”, no Carpe Diem Arte e Pesquisa, em Lisboa, Portugal (2013). Os trabalhos exploram as possibilidades de representação do imaginário latino-americano no tocante à sua história recente, sobrepondo memória individual e coletiva dentro do escopo do desenho contemporâneo figurativo.

 

O paulistano Marcus Duchen iniciou muito jovem sua trajetória pelas artes, com participações em projetos e campanhas como ilustrador, em São Paulo. Em 2001, já em Minas Gerais, se formou em Arquitetura e, em 2004, fez sua primeira mostra coletiva no grupo Poéticas Visuais, no Instituto Moreira Salles, em Poços de Caldas. Depois, veio a exposição individual por premiação no BDMG Cultural, em 2006, em Belo Horizonte, e a coletiva no Espaço Cultural de Guarulhos, em 2008, em São Paulo. Em seguida, uma individual por premiação no Salão de Arte Contemporânea de Guarulhos, no mesmo ano. Outros prêmios vieram, como a menção honrosa no Salão de Arte Contemporânea de Arceburgo, Minas Gerais, em 2018, a seleção pela publicação de arte na Califórnia, Selah Magazine, no mesmo ano, e aprovação na galeria Art Lab Gallery, em São Paulo, entre outros. Em 2018, o artista também teve uma obra incluída no Livro “Arte Sempre”, coletânea dos artistas de Minas Gerais. Sua plataforma de expressão é o óleo sobre a madeira, em grandes painéis que misturam, atualmente, o abstrato a instantâneos da vida, em traços imemoráveis de paisagens mineiras.

 

Mariana Hermeto é designer e artista. Sua pesquisa se assenta no cotidiano e nas relações estabelecidas a partir dele. Numa procura por brechas e encaixes, através da contenção e da ruptura, do acúmulo e do vazio, há uma busca silenciosa pela ressignificação do comum e pela construção de uma arquitetura íntima. Participou de exposições coletivas como “Formação e Deformação”, nas Cavalariças da EAV Parque Lage, em 2018; “Fixo, só o prego”, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, e “Doze métodos de se chegar a lugar algum”, no Paço Imperial, em 2019.

 

Nicole Kouts é graduada em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e desenvolve seus trabalhos de forma multidisciplinar nas linguagens da arte e tecnologia, do audiovisual, da imagem impressa e do desenho. Participou de exposições coletivas nacionais e internacionais, dentre elas a “SP-Arte” (São Paulo, 2018 e 2019), “MADA – 1ª Mostra Audiovisual do Barreiro” (Belo Horizonte, 2018), Abstratas Moradas (Museu Belas Artes de São Paulo, 2018), “1ª Bienal de Artes de Taubaté” (Taubaté – SP, 2018) e “Cosmovisión Femenina” (Cidade da Guatemala, 2018). Realizou cursos e oficinas com os artistas Paulo Bruscky, Lourenço Mutarelli, Carlos Fajardo, Márcia de Moraes, J. Borges, Helena Freddi e Augusto Sampaio, e é assistente da artista Lia Chaia, importantes referências em sua pesquisa. Dedica-se também à ilustração, figurino e cenografia, fantoches e à música.

 

Thais Stoklos nasceu na África do Sul e reside em São Paulo. É formada em Pedagogia (2000) pela PUC-SP e pós-graduada em Imagem e Som pelo Senac (2005). Participou de residência artística em Londres, na Slade School of Fine Arts (2016), e em Berlim, na Berlin Art Institute (2017). Participou do grupo de acompanhamento de projetos com Pedro França, no Mam (2015), e, atualmente, participa do grupo de acompanhamento com Nino Cais, Carla Chaim e Marcelo Amorim, no Jardim do Hermes. Já expôs individualmente na Galeria Arte Formato e Arte Hall e, coletivamente, em diversas galerias e salões. Foi ganhadora do prêmio do Salão Nacional de Artes no Mac de Jataí.

 

Talita Tunala vive e trabalha no Rio de Janeiro, e é graduada em Psicologia. Sua formação artística foi feita na EAV/RJ e na Escola Sem Sítio/RJ. Dentre as exposições que participou nos últimos três anos, destacam-se a individual “O Melhor Fruto”, no Espaço Cultural Correios, em Niterói (2019) e as coletivas “Aos Fios Entreguei o Horizonte”, na Galeria Hiato, em Juiz de Fora; “A/Fronta/A”, na UNB, em Brasília; “Feminino Gabinete de Curiosidades”, no Museu Palácio Rio Negro, em Petrópolis; “Luz Balão”, na Galeria Solar, no Rio de Janeiro, todas em 2018. Em 2017, destacam-se os salões “68º Salão de Abril Sequestrado”, “Salão das Ilusões” e “Fortaleza”, e as coletivas “Miragens”, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro; “Além da Imagem”, na Galeria Sem Título, em Fortaleza; “Imersões Poéticas”, na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro.

 

Tangerina Bruno é a dupla formada pelos gêmeos Letícias e Cirillo, naturais de Porto Ferreira, onde vivem e trabalham a quatro mãos e duas cabeças, da concepção à execução. Assinam com o seu sobrenome, Tangerina Bruno. Entre as exposições, destacam-se “Novas Aquisições” (2012-2014); “Coleção Gilberto Chateaubriand”, no MAM/Rio; “Coletiva no Auroras”; “17º Programa Exposições”, no MARP”; “28ª Mostra de Arte da Juventude”, no Sesc Ribeirão Preto. Entre os salões que já participaram estão “50º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba” e o “25º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande”.

Até 23 de agosto.

 

 

MAM RIO/Instalação de Sonia Andrade

11/jul

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou no segundo andar, Espaço 2.3, a exposição “… às contas”, uma instalação inédita criada especificamente para o espaço do Museu pela artista Sonia Andrade, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. A artista dispõe em nove colunas – cada uma com cerca de quatro metros de altura – contas de serviços básicos pagas e acumuladas entre 1968 e 2018, como luz, gás, telefone, televisão, internet e celular.

 

Distribuídas por tipo de serviço e em ordem cronológica, as contas estão unidas por elos metálicos e presas a correntes usadas habitualmente para amarrar e trancar bicicletas. “Ao usar este material, a artista deliberadamente introduziu uma carga semântica que faz alusão à impossibilidade de se viver livre dessas contas, da perda da mobilidade, da escravidão submetida por esses encargos”, destaca Fernando Cocchiarale. O curador acrescenta que a artista não pretendeu uma aproximação estatística ou de gráficos econômicos. “É uma materialização poética do que a pessoa paga para viver”, diz. O conjunto de contas, formado inicialmente por contas de luz, água, gás e esgoto, com o passar dos anos, ganhou a companhia das contas de televisão a cabo, de internet, de telefone fixo e de celular.

 

Os dois curadores apontam, no texto que acompanha a exposição, que parte da produção da artista nos últimos 50 anos teve o “corpo colocado como centro da ação”. “Em seus primeiros vídeos, na década de 1970, o corpo era testado em seus limites e condicionamentos, seja deformado por um fio de náilon, tendo os cabelos tosados, a mão presa a uma tábua por pregos e fios ou ainda parcialmente aprisionado em gaiolas”, lembram. Neste trabalho mostrado agora no MAM, “o corpo não é mais tratado de maneira icônica, mas por meio dos índices que efetivamente permitiram a sobrevivência real da artista. É o corpo como termômetro, unidade de medida e arena”, afirmam Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

 

Sonia Andrade realizou sua primeira individual, em 1976, na Área Experimental do MAM Rio. No Museu, realizou outras mostras individuais, sendo a última em 1999: “Goe, and catche a falling starre – Sonia Andrade”. As demais foram “Situações Negativas”, em 1984 e “A Caça – Sonia Andrade”, em 1978.

 

Sobre a artista

 

“Nasci no Rio de Janeiro em 1935. A minha relação com as artes plásticas começou quando eu já estava perto de fazer 40 anos. De início, estudei com a artista Maria Tereza Vieira entre 1972 e 1973; durante 1974 frequentei as aulas da Anna Bella Geiger, e nesse mesmo ano, 1974, eu e Fernando Cocchiarale decidimos organizar um grupo do qual fizeram parte os artistas Ana Vitoria Mussi, Anna Bella Geiger, Leticia Parente, Miriam Danowski, Ivens Machado, Paulo Herckenhof, Fernando e eu. O grupo funcionou com reuniões semanais até 1976, quando foi dissolvido. A partir de 1978 passei a morar, também, em Paris, onde entre 1978 e 1982 estudei caligrafia chinesa com o mestre Ung No Lee. Em 1982, mudança para Zurique, onde morei até 1998, quando voltei definitivamente para o Rio de Janeiro. Em Zurique estudei a caligrafia chinesa com a mestre Suishu Tomoko Arii no Ostasiatische Seminar da Universitat de Zurich. Durante todos os anos em que morei no exterior o meu tempo foi dividido igualmente entre a Europa e o Brasil”.

 

Até 22 de setembro.

 

 

Light Art Rio no Oi Futuro

01/jul

O Oi Futuro, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, abre dia 07 de julho a exposição “Light Art Rio”, dedicada à light art (arte da luz), com instalações e esculturas de luz de artistas contemporâneos. A curadora Fernanda Vogas convidou três artistas que incorporam a luz como elemento principal de criação para expor obras no projeto, em cartaz no Centro Cultural Oi Futuro até 28 julho.

 

A mostra inclui obras dos artistas Alexandre Mazza (PR), Anaisa Franco (SP) e Carmen Slawinski (RJ). Tomando como ponto de partida o uso da luz para alterar a percepção dos espaços na arte contemporânea, os trabalhos dos artistas exploram temáticas de cor, tempo, luz artificial, projeção e tecnologia. De instalações a esculturas, os visitantes experimentarão a luz em suas diversas formas sensoriais e espaciais.

 

O artista Alexandre Mazza vai apresentar trabalhos de diferentes épocas que possuem como unidade a água. A obra “Água-viva” de 2012 propõe ao visitante uma reflexão sobre a relação do natural e do artificial. A obra “Bússola”, de 2017 foi pensada durante uma expedição imersiva de 20 dias do artista no Salar de Uyuni, a maior planície de sal do mundo, na Bolívia, e traz a imagem de uma bússola boiando em um riacho sobre uma rolha de cortiça, em busca de orientação. As obras “Águas I, II, III e IV” de 2019, expressam a força e a potência de uma queda d´água contínua de cachoeiras. Atualmente, o artista também apresenta a exposição “Somos sua luz”, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, em Ipanema, até o dia 13 de julho.

 

A artista Anaisa Franco vai apresentar a obra “Sistema circulatório”, uma escultura de luz que é conectada à internet por um software que mapeia todo o tráfego das companhias aéreas. O software cria centenas de linhas de luz que representam todas as rotas dos aviões que estão voando, em tempo real, por todo o planeta. No ser humano, o sangue circula, transporta e entrega os nutrientes e oxigênio necessários para as células. A obra cria uma metáfora entre a circulação do corpo humano, que distribui nutrientes e oxigênio, e o transporte aéreo, que conecta distâncias e culturas.

 

A artista Carmen Slawinski vai apresentar uma obra criada especialmente para o projeto.  A obra “A cor que habito”, feita com planos de fios brancos iluminados, delimitam campos de cor-luz, criando um ambiente imersivo, onde o visitante mergulhado na cor experimentará a luz em suas formas sensoriais. A artista cria uma nova arquitetura para a sala de exposição através de luz.

 

Sobre a curadoria e os artistas

 

 

FERNANDA VOGAS

 

Idealizadora e curadora, é Mestra em Artes Visuais pelo PPGAV – UFRJ e graduada em comunicação social. Foi aluna da Escola Massana – Centre d’Art i Disseny em Barcelona e frequentou as aulas de filosofia dos professores Francisco Elia e Ivair Coelho. Seu currículo apresenta filmes experimentais premiados e exibidos no Göteborg International Film Festival (Suécia), Copenhagen Art Festival (Dinamarca), TousEcrans Festival (Suíça), Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano (Cuba), CefalùFilm Festival (Itália), entre outros. Em 2010 foi selecionada para participar do projeto Gesamt, filme-instalação idealizado pelo cineasta Lars Von Trier. Disaster 501: WhatHappenedto Man? Em 2017 criou o Acusmática Visual ao lado do artista espanhol Xabier Monreal, um projeto de arte sonora com participações em festivais como o FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (2018), Bogotá Short Film Festival (2018), Arquivo em Cartaz (2018) e Mostra do Filme Livre (2018)

 

ALEXANDRE MAZZA

 

Artista com formação musical, trabalhou durante 18 anos como baixista e compositor e passou a se interessar pela luz e pela eletricidade. Desde 2008 se dedica somente ao que chama de “multiplicação da luz”, utilizando diversos materiais, tais como espelhos, vidros, metais, lâmpadas, acrílicos e madeira. É principalmente através dos objetos que o artista confronta seus espectadores com jogos visuais: com o que se vê e o que se acredita ver, com o que está ali e o que se imagina estar. Indicado ao prêmio Pipa em 2012 e 2014, o artista já apresentou seus trabalhos em exposições no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ), no Centro de Artes Hélio Oiticica, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, entre outros. Suas obras estão em diversas coleções privadas e públicas como a do MAM RJ e do Museu de Arte do Rio (MAR).

 

ANAISA FRANCO

 

Artista, cria interfaces que ligam o físico com o digital, utilizando conceitos da psicologia e das ciências cognitivas. Desde 2006 tem desenvolvido trabalhos em Medialabs, residências e comissões em Instituições. É mestre em Arte Digital e Tecnologia pela Universidade de Plymouth na Inglaterra, financiada pela Bolsa Alban e Bacharel em Artes Plásticas pela FAAP em São Paulo. Tem exibido internacionalmente em exposições como 5th Seoul International Media ArtBienalle em Seoul na Korea, ARCOmadrid, Vision Play no Medialab PRADO, Sonarmática no CCCB em Barcelona, Espanha. Tekhné no MAB e Mostra LABMIS em Sao Paulo, Live Ammo em Taipei, entre muitas outras.

 

CARMEN SLAWINSKI

 

Artista plástica e lighting designer, expôs seus trabalhos de pintura em Paris, Mônaco, Cagnes Sur Mer e La Garde. Em 1993 a luz entra na sua pintura e expõe no Centro Cultural Cândido Mendes (Ipanema) 1996 e no Museu Nacional de Belas Artes em 1998. Criou em 1999/2000 iluminação cinética para a fachada do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio. Em 2002, fez a iluminação “Alice e o Barão na Cidade Maravilhas” no interior do túnel da rua Alice, ligando Laranjeiras ao Rio Comprido. Em 2008 realizou a instalação “Contenções” no Centro Cultural Parque das Ruínas. Em 2013 apresentou a obra “Tecendo planos com fios de luz” no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio. Em 2015, criou o projeto de iluminação do Projeto Paixão de Ler no Museu de Arte do Rio – MAR.

Reminiscências/Livro e exposição

25/jun

 

Em sua nova exposição na Fortes D’Aloia & Gabriel, Carlos Bevilacqua apresenta uma instalação, esculturas e aquarelas que operam na tensão permanente entre instabilidade e equilíbrio, no intervalo semântico definido por ele como “instante poético”. Durante a abertura, a Editora Cobogó promove o lançamento do livro do artista carioca, monografia que percorre seus 30 anos de carreira através de reproduções de obras, estudos e anotações. A publicação conta com introdução do próprio artista, depoimentos de colegas, texto crítico de Paulo Sergio Duarte e entrevista concedida a Luiz Camillo Osorio.

 

Bevilacqua resume seu trabalho escultórico afirmando: “Eu não trabalho com formas. Trabalho com forças”. Ele emprega materiais como madeira e aço em suas configurações mais sintéticas – linha, ponto, círculo, esfera – para então testar seus limites físicos até o momento preciso em que as tensões encontram seu ponto de estabilidade. A forma é, portanto, a expressão de uma força, que por sua vez resulta da interação das energias potenciais de cada elemento. Ensaio Sobre Linhas Concretas (2019) surge desse exercício e apresenta uma complexa estrutura com linhas de aço que cruzam o espaço da Galeria de parede a parede. Cada seção das retas que compõem essa instalação aérea é interrompida por outros elementos (molas, parábolas, círculos) que atuam como intervalos na propagação de energia pela rede inteira. Em outros trabalhos, como Estrelas fixas (2019) e 3 Luas e o Cubo de Ouro (2015), a imbricada dinâmica de forças opera em uma escala fluida e variável, revelando a liberdade com que Bevilacqua transita entre o micro e o macro.

 

Na série inédita Paletas e Fantasmas (2019), o artista emprega paletas de pintura que, ao invés de tinta ou pinceis, abrigam elementos escultóricos para engendrar cenários ou “armadilhas simbólicas”, como ele descreve. A alusão à pintura ecoa ainda no conjunto de trabalhos da primeira sala da exposição, que têm a cor como fio condutor. Exibindo pela primeira vez em sua carreira uma série de aquarelas, Bevilacqua associa as figuras vibrantes dessas obras com as esferas coloridas que pontuam as esculturas O Vermelho Originário (2017) e O Vermelho da Noite (2017).

 

Sobre o artista

 

Carlos Bevilacqua nasceu no Rio de Janeiro em 1965, onde vive e trabalha. Depois de estudar arquitetura no Brasil, cursou a New York Studio School of Painting, Drawing and Sculpting (Nova York, 1991/1993). Entre suas exposições, destacam-se as individuais no MAM Rio (Rio de Janeiro, 2000), no MAM-SP (São Paulo, 1992) e, mais recentemente, Indeterminado no Centro Cultural Candido Mendes (Rio de Janeiro, 2019). As mostras coletivas incluem participações em: Lugares do Delírio, SESC Pompeia (São Paulo, 2018) e MAR (Rio de Janeiro, 2017); Intervenções Urbanas, Museu da República (Rio de Janeiro, 2016); Calder e a Arte Brasileira, Itaú Cultural (São Paulo, 2016); Desejo da forma, Akademie der Künste (Berlim, 2010); Um Mundo Sem Molduras, MAC-USP (São Paulo, 2009). Sua obra está presente nas coleções do Instituto Inhotim, do MAM Rio, do MAC-USP, entre outras.

 

De 25 de junho a 10 de agosto.

 

No Anexo Milan

24/jun

Mario Cravo Neto é o atual cartaz do Anexo Milan, Pinheiros, São Paulo, SP, através da exposição “O Estranho e o Raro”. Mario Cravo Neto teve como um de seus mestres seu próprio pai, o escultor Mario Cravo Junior e hoje é considerado como um dos artistas brasileiros pioneiros da fotografia contemporânea brasileira a receber reconhecimento internacional – a partir dos anos 1970 -, realizando mostras em diversas capitais ao redor do mundo. Algumas das mais importantes de sua carreira foram  as XI, XII, XIII, XIV e XVII Bienais de São Paulo, Geográfias (in)Visibles, Arte Contemporáneo Latinoamericano en la Colecion Patricia Phelps de Cisneros, Centro Cultural Eduardo León Jimenes, Santiago, República Dominicana(2008), Mapas Abiertos, Fotografia Latino-Americana 1991-2002, entre outras.

 

As obras apresentadas na exposição pertencem ao período de  sua passagem por Nova Iorque, onde viveu no final dos anos 1960, e por Salvador, cidade onde nasceu. Faz parte desse recorte o período em que o artista ficou imobilizado em decorrência de um acidente de carro. Nesse espaço de tempo Neto ficou na casa de seus pais, e a dor e as transformações que marcam essa etapa da vida do artista se refletem em seus registros, que fundem o imaginário místico e religioso. A curadoria é de Bené Fontelles e a exposição é composta de 52 fotos e uma instalação.

 

 

Até 13 de julho.

Arte-veículo

05/jun

O SESC/Santos, São Paulo, SP, apresenta a exibição coletiva com 40 artistas e grupos estudados na pesquisa Arte-veículo, da curadora Ana Maria Maia. Desde a televisão, inaugurada em 1951, e a Internet, difundida no início dos anos 2000, diferentes artistas e grupos figuraram no agendamento midiático para nele experimentar e praticar “inserções em circuitos ideológicos”, como alegou Cildo Meireles em 1970. Ou disseminar “ideias vírus”, conforme Giseli Vasconcelos prescreveu já em 2006, fazendo ressoarem ao longo das décadas os termos de uma relação que se dá entre os veículos de comunicação como hospedeiros e os artistas como parasitas.

 

Para repercutir intervenções midiáticas no contexto de uma instituição cultural, a curadoria pretende misturar diferentes suportes na organização espacial da exposição, de documentos impressos e registros em vídeo a objetos e instalações. O projeto foge de uma narrativa cronológica para priorizar o entendimento de estratégias recorrentes dos artistas e grupos no decorrer desse intervalo histórico. Desse partido, surgem seus seis núcleos, denominados a partir de verbos que denotam um conjunto de ações: duvidar da verdade, perder-se, duelar, “ouviver”, hackear e ficcionalizar. A exposição propõe também um programa público de performances, conversas e laboratórios, e ainda a reinserção de trabalhos em espaços de imprensa e mídias, como jornais, revistas e programas de rádio, e mesmo redes sociais. Destaque para o Grupo Manga Rosa: Carlos Dias, Francisco Zorzette e Jorge Bassani.

 

Até 28 de julho.

Nacional Trovoa

04/jun

A Baró Galeria, Jardins, São Paulo, SP, apresenta a primeira exposição do Nacional Trovoa em seu espaço expositivo, sob a curadoria de Carollina Lauriano, com obras das artistas Aline Motta, Bruna Amaro, Caroline Ricca Lee, Gabriela Monteiro, Heloisa Hariadne, Igi Ayedun, Juliana Santos, Lidia Lisboa, Luiza de Alexandre, Lyz Parayzo, Mariana Rodrigues, Micaela Cyrino, Monica Ventura, Rebeca Ramos, Renata Felinto, Sheila Ayo, Val Souza e Yaminah Garcia reunindo nesta exposição um conjunto de pinturas, fotografias, assemblages, site-specific, performances e instalações – algumas inéditas, pensadas para a mostra -, e deriva da convocatória nacional proposta pelo coletivo de mulheres artistas Trovoa.

 

 

A palavra da curadoria

 

A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos

 

A exposição A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos parte da convocatória nacional do coletivo Trovoa que visa, para além de mapear a produção de artistas racializadas, trazer o protagonismo desses corpos para o campo da arte. No impulso de investigar a pluralidade de suas pesquisas e práticas artísticas, a mostra reúne um conjunto de vinte e quatro trabalhos produzidos por dezoito mulheres de diversas gerações e diferentes trajetórias.

 

Nesse sentido, a exposição pretende entrecruzar reflexões acerca da produção dessas artistas, inspirando uma curadoria mais aberta, numa perspectiva de busca por singularidades individuais e coletivas. A partir dessa elaboração simbólica, derivam-se os eixos curatoriais que apontam as convergências entre as obras: a busca pela própria identidade, as violências institucionalizadas e os caminhos de cura por meio de suas vivências.

 

Em tempos como os atuais, de crises de representatividade, A noite não adormecerá jamais nos olhos nossos traz à tona o desejo de subverter e ampliar as narrativas a partir de micropolíticas que emergem como possibilidade de redefinir o futuro. Assim, no espectro transformador que a arte possui, tal experiência de encontros, trocas e chamamentos que o circuito Trovoa propôs nacionalmente contribuem para questionar os discursos hegemônicos que cercam, não somente a sociedade, mas também o campo da arte.

Carollina Lauriano

Em cartaz na Bergamin & Gomide

03/jun

A Burrice dos Homens: uma colagem espaço-temporal realizada em conversa com Tiago Carneiro da Cunha na Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP. Até 20 de julho.

 

Entre 1985 e 1986, Martin Kippenberger, em Colônia, embarcou rumo ao Brasil acompanhado pela fotógrafa Ursula Böckler, encarregada de registrar o périplo de três meses. Àquela altura, o artista já era um herói local na Alemanha Ocidental, famoso tanto por seu trabalho quanto por sua personalidade histriônica. Kippenberger nomeou a expedição ao “exótico” país como “Magical Misery Tour”, parodiando o famoso álbum dos Beatles. O tom sardônico e irreverente é típico do artista. Seu slogan também foi o ponto de partida conceitual para uma série de trabalhos embebidos em estereótipos, autodepreciação e interpretações jocosas, que expressam uma aposta na autoridade moral e cultural supostamente conferida por seu passaporte alemão. As fotos de Böckler revelam Kippenberger como um típico “gringo”: vermelho de sol, de shorts e sem camisa, encantado com as mazelas tropicais e pronto a interpretá-las a partir de sua posição privilegiada. Naquela época, ainda se falava em “Terceiro Mundo” e o circuito da arte contemporânea oficial se concentrava essencialmente entre Nova York, Londres e Colônia.

 

“Aqui é o fim do mundo”, escreveu Torquato Neto, quase vinte anos antes, no refrão da música Marginália II, gravada por Gilberto Gil em 1967. O poeta piauiense desconstrói – com a fluência associativa típica do grupo tropicalista – a exaltação nacionalista do romântico Gonçalves Dias. Seu exercício sagaz de intertextualidade desvela a complexa realidade brasileira durante a ditadura militar. Era o início dos chamados “anos de chumbo” e o experimentalismo exuberante da Tropicália logo foi dispersado por uma série de perseguições e pelo exílio dos integrantes do movimento, que antes de partirem protagonizaram uma verdadeira revolução estética no cenário cultural brasileiro.

 

Em 1971, Ivan Cardoso convidou Torquato Neto para interpretar Nosferatu no Brasil, um clássico do gênero “Terrir”, termo criado pelo poeta Haroldo de Campos. No mesmo ano, Neville de Almeida rodou o lendário Mangue-Bangue, uma colagem audiovisual radical realizada numa zona de prostituição carioca que o cineasta visitou com Hélio Oiticica. Os dois filmes revelam certa desconfiança dos cânones da história do cinema ocidental, mostrando, cada um a sua maneira, pela via do absurdo tragicômico e do deboche, um Brasil ameaçado pelo autoritarismo e pela censura.

 

A versão marginal e ensolarada do vampiro Nosferatu, que toma água de coco em Copacabana ao som de bossa-nova, poderia facilmente ser um dos personagens cáusticos de Tiago Carneiro da Cunha, que são o ponto de partida desta exposição. Minha opção, neste texto, de chegar ao seu trabalho pela via da associação livre, replica a dinâmica que nos levou às obras em exposição: uma procura compartilhada por artistas de diferentes gerações que, assim como ele e os exemplos citados acima, optam por habitar a tênue linha entre o cômico, o trágico, o melancólico e o sedutor quando se propõem a representar e a discutir criticamente os códigos visuais que constituem uma ideia de identidade cultural brasileira ou, mais amplamente, da região que se convencionou chamar de América Latina no mundo globalizado e do chamado “circuito internacional da arte contemporânea” – que a propósito começou a ser instaurado na época da viagem de Kippenberger.

 

Yes, nós temos bananas e melancolia tropical para dar e vender na exposição. Optamos por criar um ambiente cacofônico, repleto de associações livres, jogos semânticos, homenagens, intertextualidades, releituras e profanações variadas. Os trabalhos em exposição põem em cheque a ideia de alta e baixa cultura, optam pela transgressão e pela idiossincrasia como antídotos às interpretações rasas, discursos fechados e olhares unilaterais. Levando isso em conta, a inclusão de uma das imagens originais feitas por Böckler – única artista europeia na mostra -, a qual retrata Kippenberger no Brasil, tem a intenção de ressaltar a autonomia do olhar da fotógrafa em relação à abordagem ambivalente do projeto do artista. Em várias imagens, as lentes de Böckler captam com certo constrangimento os movimentos de um artista-turista fanfarrão em um Brasil recém-saído de vinte anos de ditadura militar, e acabam por se tornar um documento visual importante da mentalidade de uma época.

 

Distante da “miséria mágica” estilizada por Kippenberger, o território estereotipado que Carneiro da Cunha explora há anos e que ecoa nesta exposição, é resultado da sublimação intencional de um contexto que é insuportavelmente real. Ao evocar com humor o que é canônico ou inenarrável, sua obra nos aproxima de elementos da nossa sociedade que, por serem tão flagrantes e traumáticos, desafiam a razão. Quando o noticiário se aproxima tão intensamente da narrativa fantástica, os monstros lodosos e os diabos sacanas de Tiago Carneiro da Cunha, ou mesmo o escatológico Polochon de Lina Bo Bardi, deixam de parecer absurdos e nos lembram do potencial agregador – e por que não revolucionário? – do senso de humor como ponto de partida para reflexões criticas sobre dinâmicas sociais arraigadas, e que necessitam de revisão.

Fernanda Brenner

 

 

Lista de artistas:

 

Adriano Costa, Amadeo Luciano Lorenzato, Ana Prata, Anna Bella Geiger, Antônio Dias, Antonio Henrique Amaral, Artur Barrio, Cabelo, Cícero Dias, Cristiano Lenhardt, Erika Verzutti, Glauco Rodrigues, Hélio Oiticica, Ivan Cardoso, Ismael Nery, Jac Leirner, Jarbas Lopes, José Antônio da Silva, Leda Catunda, Lina Bo Bardi, Oswaldo Goeldi, Pedro Caetano, Radamés “Juni” Figueroa, Rogério Reis, Saint Clair Cemin, Tiago Carneiro da Cunha, Tonico Lemos Auad, Ursula Böckler, Vicente do Rego Monteiro, Wilma Martins, Yuli Yamagat.

O poder da palavra no IPN

23/maio

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, do Instituto Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, apresenta registros em vídeo e fotografias, em  “Tu Mata Eu”, exposição inédita que revela parte da pesquisa do artista Sérgio Adraino H. que se fundamenta em teorias e práticas acerca dos fluxos de informações, das fake news e conhecimento na sociedade contemporânea. A curadoria é de Marco Antônio Teobaldo e permanecerá em cartaz até 20 de julho.

 

 

TU MATA EU

 

O artista visual Sérgio Adriano H. participou de 33 exposições nos últimos doze meses, entre individuais e mostras coletivas. Mas o que chama a atenção na intensa produção do artista, além do volume de trabalhos criados e a sua concorrida agenda, é a sua dedicação e comprometimento em se posicionar como homem negro em uma sociedade racista, e, assim, poder dar voz aos seus pares. Por isso, deve-se dizer que o seu trabalho biográfico possui uma carga de sentimentos profundos e que corajosamente são revelados em suas criações. Segundo a reflexão do próprio artista, vivemos em um mundo cada vez mais conectado na ignorância coletiva e a arte cumpre seu papel resiliente, no despertar dos questionamentos e na liberdade individual de pensar, concluir e se expressar.

 

A instalação “Tu Mata Eu”, que dá o nome à exposição, é formada por letras douradas infláveis, emolduradas por impressões de carimbos com as palavras: “preto”, “puta”, “viado” e “trans”.  De longe as palavras formam apenas os desenhos da moldura e de perto são identificadas com seu significado, deixando visível o indivíduo invisível. O desdobramento deste trabalho é uma performance do artista, na qual ele percorre desde o Cais do Valongo, até o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, falando estes quatro adjetivos carregados de preconceito.  Estimulado pela força da palavra, Sérgio Adriano H. apresenta a obra “Brasil brasileiro”, em que frases ouvidas desde a sua infância, até os dias de hoje, são estampadas em roupas de bebê, dispostas em um display, que podem ser manuseadas pelo visitante, como se estivessem em uma loja. Ainda associando este ambiente de compra e venda para tratar do racismo estrutural no Brasil, uma espécie de livraria é montada pelo artista, na qual ele se apropria de publicações antigas e realiza intervenções em suas capas e páginas, conferindo-lhes outros significados, mais próximos à realidade em que vivemos.

 

Contudo, a pesquisa do artista tem se desenvolvido intensamente no campo da fotografia, no qual ele se coloca como objeto central, para tratar do corpo do sujeito negro. Na série “O lugar a que pertenço”, 2018, por exemplo, Sérgio Adriano H. se coloca nu dentro de uma lixeira gradeada, em uma calçada. Já na série “Ruptura do invisível”, o seu rosto aparece pintado de branco, e que gradativamente é diluído por um líquido incolor, até que a imagem se desintegre totalmente. Esta obra possui registros em vídeo e fotografias. “Tu Mata Eu”, exposição inédita apresentada na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, revela parte da pesquisa do artista que se fundamenta em teorias e práticas acerca dos fluxos de informações, das fake news e conhecimento na sociedade contemporânea. Este conjunto de obras faz refletir sobre o poder de nossas palavras e do nosso silêncio também.

 

Marco Antonio Teobaldo

Curador