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Anna Letycia
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Goeldi
A exposição “Experimentação e Método” comemora os 40 anos da Oficina de Gravura do Ingá e resgata a memória de sua importância em um momento de redemocratização do Brasil e de grande efervescência cultural em Niterói, RJ. Significa, sobretudo, uma homenagem à sua idealizadora, a artista Anna Letycia, que implantou uma coordenação inovadora preocupando-se em não alijar a gravura dos debates contemporâneos e interseções com outras linguagens. Com esse intuito, atraiu inúmeros professores de diferentes suportes das artes visuais, como Alair Gomes, Aluísio Carvão, Newton Cavalcanti, Rubem Grilo, Carlos Martins, Ronaldo do Rego Macedo, José Lima, entre outros. A oficina para Anna Letycia é um “…local de trabalho, um campo de pesquisa, troca de informações e experiências”. Esse pensamento de experimentação, mas também de rigor e método, priorizado pela artista tornou a Oficina do Ingá um polo central para a cena artística de Niterói e do Rio de Janeiro. “As oficinas do Ingá foram um dos berços artísticos dos anos 80. Uma geração que nasceu em ateliês, que não frequentou “aulas formais” ou universidades. Nesse sentido, o Parque Lage, o Museu do Ingá e o MAM representaram locais de formação artística prática”, afirma Marcus Lontra que assina a curadoria da exposição junto com Viviane Matesco.
“’Experimentação e Método” será o fio condutor da mostra que conta com obras da própria Anna Letycia, de seus professores Oswaldo Goeldi, Iberê Camargo e Darel Valença Lins, além de seus colaboradores e alguns dos seus ex-alunos que se destacam na arte contemporânea, como Analu Cunha, Marcus André, Felipe Barbosa, Rosana Ricalde, Ana Miguel, Fernando Lopes, Chang Chi Chai, Beatriz Pimenta, Armando Mattos, entre vários outros que produziram obras exclusivas para a exposição. Como uma comemoração do contexto artístico de Niterói, a exposição inclui também jovens artistas que nasceram ou atuam na cidade revelando seu vigor cultural. “Essa exposição homenageia Anna Letycia e consolida a importância da gravura não só pelo papel da Oficina, mas também pela coleção do Museu, referencia em Goeldi e tantos outros gravadores consagrados”, complementa a curadora Viviane Matesco.
As oficinas do Ingá foram um dos berços artísticos dos anos 80
A exposição “Experimentação e Método” amplia a gravura em um campo híbrido contemporâneo. A discussão da reprodutibilidade de imagens com múltiplos processos e tecnologias inovadoras será um caminho para explicitar a gravura numa concepção ampliada e experimental. O deslocamento da gravura em direção a outras linguagens enfatiza os procedimentos de impressão na gravura. Essas questões perpassam os trabalhos de artistas contemporâneos presentes nesta mostra que certamente marcará o olhar de quem a visitar. Sob o comando da museóloga Mariana Varzea, o projeto educativo da exposição terá oficinas e atividades de arte-educação sobre as técnicas da gravura, para todas as idades realizadas de quarta a domingo, durante o horário de funcionamento do Museu.
A oficina criada por Anna Letycia
A oficina de Gravura do Museu do Ingá, espaço da Secretaria de Estado de Cultura/Funarj, iniciou atividades em caráter experimental em agosto de 1977, embora a inauguração oficial tenha ocorrido apenas em 14 de dezembro de 1977. Oferecia cursos de desenho (Aluísio Carvão) e diversas modalidades da gravura pela própria Anna Letycia, José Assumpção Souza e José Lima, Mario Doglio (ex-diretor de Gravura da Casa da Moeda), Isa Aderne e Newton Cavalcanti (xilogravura), Carlos Martins e Solange Oliveira (em 1978), e Edith Behring (em 1982). No ano seguinte, Anna Letycia recebe o prêmio estadual Golfinho de Ouro pela criação da oficina. A subsequente inauguração da oficina de escultura sob a coordenação de Haroldo Barroso imprimiu um clima efervescente ao Museu do Ingá, que se tornou polo de experimentação e contemporaneidade na cidade de Niterói. É importante destacar a participação de Rossini Perez, renomado gravador, que em meados da década de 1980 substitui a coordenação da oficina por alguns meses, período no qual Anna Letycia se afasta para organizar mostra de seu trabalho. Também é fundamental mencionar a participação de Ricardo Queiroz como principal colaborador, que continua até hoje o trabalho iniciado por Anna Letycia.
Sobre Anna Letycia
Anna Letycia Quadros nasceu em Teresópolis, Rio de Janeiro, 1929. Gravadora. Inicia estudos de desenho e pintura com Bustamante Sá, na Associação Brasileira de Desenho, no Rio de Janeiro. Na década de 1950, no Rio, frequenta o curso de André Lhote, estuda gravura com Darel, na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), e com Iberê Camargo, no Instituto Municipal de Belas Artes. Realiza curso de xilogravura com Oswaldo Goeldi, na Escolinha de Arte do Brasil, e de pintura com Ivan Serpa, com quem participa da criação do Grupo Frente. Em 1959, frequenta o ateliê do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), coordenado por Edith Behring. É convidada a lecionar gravura no ateliê desse museu, atividade que exerce entre 1960 e 1966. Dá aulas de gravura em Santiago, onde recebe o título de professor honoris causa da Pontifícia Universidade Católica do Chile, em 1961. Em 1977, instala em Niterói a Oficina de Gravura no Museu do Ingá, que coordena até 1998. Desenvolve ainda atividades de cenógrafa e figurinista, e atua principalmente em parceria com Maria Clara Machado. Em 1998, é publicado o livro Anna Letycia, de Angela Ancora da Luz, pela Editora da Universidade de São Paulo.
Sobre os curadores
Formado em Comunicação Social pela PUC-Rio, Marcus Lontra é crítico de arte e curador independente. Curador da mostra “Como vai você, Geração 80”, assume em 1983, a diretoria da Escola de Artes Visuais do Parque Lage até 1987. Antes, de 1975 a 1983, foi editor da revista Módulo, fundada por Oscar Niemeyer, em 1955. Crítico de arte dos Jornais O Globo (1983-1984), Tribuna da Imprensa (1986-1987) e Isto É (1986 -1987). Entre 1987 e 1989 foi assessor do Ministério da Cultura. Dirigiu os Museus de Arte Moderna, de Brasília (1989), do Rio de Janeiro (1990 -1997) e de Recife (1998 – 2001). Foi curador de diversas importantes exposições, entre elas: “Como vai você, geração 80?” (1984, junto com Sandra Magger e Paulo Roberto Leal); “Infância perversa”, no MAM- RJ (1995); “Onde está você geração 80?”, no CCBB, em 2004. É curador do prêmio CNI Sesi Senai Marcantonio Vilaça. Desde 1998 é diretor da Lontra Produções Culturais.
Viviane Matesco é Doutora em Artes Visuais (UFRJ), crítica e curadora, foi professora de História da Arte na Escola de Artes Visuais/Parque Lage (1998 a 2008) e atualmente leciona na Universidade Federal Fluminense (UFF) em Niterói. Trabalhou na Funarte, no Museu de Arte Moderna e no Projeto Rumos Visuais/Itaú Cultural. Realizou diversas curadorias entre elas “Sala Especial de Amilcar de Castro” (Funarte), “Tehching Hsieh” no Centro Helio OIticica e “Corpo na Arte Brasileira” (junto com Fernando Cocchiarale no Itaú Cultural/SP). Publicou os livros “Corpo, Imagem e Representação” (Zahar, 2009), “Em torno do Corpo” (UFF, 2016). Como curadora do Museu do Ingá (2009 – 10) realizou a exposição “A Paisagem no Acervo Banerj” e publicou o livro “Uma coleção em estudo – Acervo Banerj”.
Até 27 de maio de 2018.