Na Silvia Cintra + Box 4

20/jun

Renata Har expõe na Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. “alabastro” é uma formação natural calcária que foi tomada como ponto de partida pela artista para sua primeira individual na galeria. Na mostra, que conta com curadoria de Caique Tizzi, a artista desvenda através de alegorias visuais e poéticas a relação do alabastro com a sua materialidade geológica e as suas múltiplas interpretações.

 

A exposição é uma grande instalação composta de mídias variadas. Uma grande pintura sobre carpete com tinta spray, pigmento, tinta e colagem de objetos; outra pintura em tela com betume, lantejoulas, farinha e goma damar; esculturas em gesso com purpurina, vidro e neon e ainda uma série de monotipias sobre papel.

 

Uma grande banheira de ferro com pintura preta naval e óleo e outra escultura feita com tecido e balões prateados vazios também fazem parte da mostra e serão usados por Renata em uma ação performática na noite de abertura.

 

“alabastro” também conta com o vídeo Guerra e Esbórnia feito em parceria com o cineasta Karim Aïnouz a partir de imagens de arquivo encontradas na internet que mostram a formação geológica do alabastro. Esse vídeo funciona como texto curatorial e descreve um mundo onde a água se transformou em calcário. Esta mostra é assinalada como a primeira exposição da artista no Brasil.

 

 

Sobre a artista

 

Renata Har deixou o país para estudar na França, na École des Beaux-Arts, em Paris sob a tutela de Christian Boltanski. Vive desde 2012 em Berlim, onde também atua, junto com Caique Tizzi, em um coletivo de artistas chamado Agora.

 

 

De 08 de julho a 04 de agosto.

Poesia na Caixa/Rio

02/jun

A CAIXA Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reúne em sua Galeria 1, no dia 10 de junho (sábado), às 16hs, personagens de destaque da cena poética local e de outros estados no grande sarau de abertura da exposição “Poesia agora”. A mostra exibe trabalhos dos principais poetas em atividade no Brasil, fazendo um mapeamento do cenário da poesia contemporânea nacional, além de inspirar o público a criar seus próprios versos. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e Governo Federal.
Com curadoria de Lucas Viriato, criador do jornal de literatura “Plástico Bolha”, a exposição traz uma coletânea do trabalho de mais de 500 poetas brasileiros e estrangeiros, entre textos, livros, vídeos, fotos, registros sonoros e saraus. A ideia é abrir espaço para o trabalho de poetas em atividade que, apesar de serem pouco conhecidos, possuem uma produção relevante.

 

A criatividade, porém, não se limita ao talento dos escritores: instalações dinâmicas e instigantes, criadas pelo premiado cenógrafo mineiro André Cortez, agradam os mais diferentes públicos. “A mostra tem diversas camadas e atrai tanto quem quer conhecer a fundo a variedade da produção poética contemporânea quanto quem quer fazer um passeio leve e diferente”, explica o curador Lucas Viriato.

 

A exposição “Poesia agora” é um desdobramento do trabalho de edição feito por Lucas Viriato no” Plástico Bolha”, desde 2006. Fruto de um projeto universitário no departamento de Letras da PUC Rio, a publicação se tornou um dos mais respeitados jornais literários do país. A ideia de fazer uma mostra com base nesse trabalho nasceu quando o diretor do Museu da Língua Portuguesa, SP, Antonio Carlos Sartini, conheceu o jornal. Juntos, eles montaram uma grande exposição que atraiu cerca de 200 mil pessoas ao museu em 2015. Em 2017, a Caixa Econômica Federal assumiu o patrocínio do projeto, que, após ficar em cartaz na CAIXA Cultural Salvador agora chega ao Rio de Janeiro.

 

 

Poesia viva

 

Ao todo, são seis alas com obras em exposição, sendo algumas especialmente preparadas para a participação ativa do público. Assim, a mostra não só aproxima o leitor do poeta como também, por vezes, mescla esses papéis.

 

No “Escriptorium”, cercado de portas iluminadas com projeções de poemas, está uma grande mesa com 50 livros – cada um com uma palavra impressa na lombada. Ao empilhar de forma diferente os livros, o visitante poderá montar sua própria poesia a partir da combinação dessas palavras. Dentro de cada livro, estão apresentados oito poemas, somando o total de 400 trabalhos de diferentes autores. As demais páginas estão em branco e o visitante pode registrar sua poesia ali, lado a lado com a dos melhores poetas.

 

Em outra ala, o público é convidado a participar de um desafio: escrever um poema sem utilizar uma das vogais. Os poemas mais criativos serão impressos em formato lambe-lambe e expostos na mostra. Assim, a exposição vai sendo modificada ao longo do tempo, subvertendo a ideia de que uma mostra literária apresenta somente obras antigas e já consagradas.

 

O espaço “Poesia de rua” também tem grande apelo entre os visitantes. Se, nas demais salas, as portas eram iluminadas, agora elas parecem tapumes e muros da cidade. E, dessa vez, o público age como curador, selecionando as melhores poesias e pichações por meio de fotos tiradas por ele mesmo em sua cidade. As fotos poderão ser enviadas através do e-mail participepoesiaagora@gmail.com ou postadas nas redes socias em modo público com a hashtag #PoesiaAgora. As melhores imagens serão selecionadas e exibidas ao longo da exposição.

 

 
Até 06 de agosto.

Três no Santander Cultural

31/maio

Dentro da proposta de valorizar o trabalho curatorial neste ano, o Santander Cultural, Porto Alegre, RS, inaugurou a exposição que leva o nome dos seus artistas integrantes: “Zerbini, Barrão, Albano”. Ao todo, são 43 obras, em diferentes técnicas, como pintura, gravura, escultura e fotografia. A seleção para cada artista ficou a cargo de um curador diferente. As obras de Luiz Zerbini, SP, tiveram a curadoria de Marcelo Campos. As de Barrão, RJ, de Felipe Scovino; e as de Albano, SP, por Douglas Freitas. “Foram seis cabeças dividindo o mesmo espaço”, explicou o diretor-superintendente do Santander Cultural, Carlos Trevi. Com estilos diferentes, o desafio foi promover o diálogo entre as diferentes linguagens de cada artista.

 

As esculturas de Barrão ocupam a parte central da galeria, com trabalhos na cor branca. “Geralmente meus trabalhos têm escala menor, mas como fiz obras especialmente para esta exposição, levei em conta o espaço e fiz em escala maior”, explica Barrão. As obras de Albano e Zerbini estão nas laterais. Zerbini apresenta monotipias, pinturas e, em primeira mão, três mesas, cujos superfícies de vidro lembram praias e ondas. Já Albano traz instalações que abordam a questão da luz e da sombra e um tríptico fotográfico.

 

 
Até 16 de julho.

sobre a terra : na Gentil Carioca

28/maio

A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta “primeiro estudo: sobre a terra”, exposição curada por Bernardo Mosqueira. A coletiva se dará na Rua Gonçalves Lêdo,17 (sobrado), com a abertura ocorrendo no dia 27 de maio às 18hs. O contrabólide “Contra-Bólide Nº1 – Devolver a Terra de volta à Terra”, de Hélio Oiticica, será executado às 18h durante a abertura, na Praça Tiradentes. No prédio nº 11 acontecerá simultaneamente a abertura da exposição individual de Bernardo Ramalho “ASCENSÃO cada semente é uma planta”.

 

 

 

Artistas envolvidos no projeto

Anna Bella Geiger | Carol Valansi | Guga Ferraz | Hélio Oiticica | Luiz Alphonsus
Maria Laet | Manfredo de Souza Neto | Matheus Rocha Pitta | Mestre Didi|Rafael Rg | Regina Galindo | Rodrigo Braga

 

 

 

 

A PALAVRA E A TERRA

 

 

Carlos Drummond de Andrade, 1962.

 

I

Aurinaciano

 

o corpo na pedra

a pedra na vida

a vida na forma

 

Aurinaciano

 

o desenho ocre

sobre o mais antigo

desenho pensado

 

Aurinaciano

 

touro de caverna

em pó de oligisto

lá onde eu existo

 

 

Auritabirano

 

 

II

Agora sabes que a fazenda

é mais vetusta que a raiz:

se uma estrutura se desvenda,

vem depois do depois, maís.

 

 

O que se libertou da história,

ei-lo se estira ao sol, feliz.

Já não lhe pesam os heróis

e, cavalhada morta, as ações.

 

 

Agora divisou a traça

preliminar a todo gesto.

Abre a primeiríssima porta,

era tudo um problema certo.

 

 

Uma construção sem barrotes,

o mugir de vaca no eterno;

era uma caçamba, o chicote,

o chão sim percutindo não.

Um eco à espera de um ão.

 

 

 

 

primeiro estudo: sobre a terra

 

 

 

(ao meu amor)

 

 

Análises de fósseis e vestígios materiais indicam que a geofagia era praticada entre os Homo habilis há 2 milhões de anos e entre os primeiros Homo sapiens há mais de 150 mil anos. Nos últimos 5 milênios, a ingestão de terra esteve presente na cultura de povos das mais diversas origens e, hoje em dia, é hábito comum no interior do Brasil, no Sul dos Estados Unidos, no Haiti e em diversas regiões em todos os continentes. A geofagia é utilizada como forma de disfarçar a fome, com propósitos medicinais, como parte de preceitos ritualísticos ou simplesmente por gosto ou cultura alimentar. Nesse último caso, a terra é utilizada como ingrediente em receitas, como acompanhamento de outros alimentos, na forma de bolos e biscoitos, in natura ou simplesmente temperada com especiarias. Muitas crianças e principalmente mulheres grávidas são acometidas pela alotriofagia (popularmente conhecido como “pica”) e sentem vontade incontrolável de comer terra, barro, tijolo e outros elementos que não são convencionalmente alimentos.

No Brasil, que tem mais de 50% de sua população afrodescendente, a geofagia era comum entre os negros escravizados entre os séculos XVI e XIX, e sua prática era castigada com violência física e com o uso da Máscara de Flandres, cuja imagem sobre o rosto de Anastácia ainda assombra o imaginário brasileiro. O banzo (espécie de saudade profunda do passado africano, limite do sujeito diante da exploração e da desumanização no novo continente) levava muitos negros à morte por desnutrição ou pelo suicídio. Desterritorializados, à distância irremediável de sua terra natal, muitas vezes os negros escravizados se matavam por meio da geofagia excessiva, ou seja, tiravam a própria vida comendo muita terra.

A partir do entendimento da força simbólica desse gesto íntimo de preencher a própria luz digestiva ou própria sombra existencial com terra é que se iniciou uma pesquisa sobre os procedimentos criados pelos artistas para se relacionarem com esse elemento. Dada a amplitude e potência desse tema, essa exposição é necessariamente incompleta – como um punhado de terra diante de todos os solos do planeta. Movimentando-se entre sobre a terra e o subterrâneo (“underground é difícil demais pro brasileiro”), essa mostra reúne uma primeira e contida experiência curatorial sobre a relação material, conceitual, política e simbólica entre o humano e a terra.

Da terra viemos, da terra vivemos, para a terra voltaremos. Está na terra o curso do destino. Se a epistemologia hegemônica confunde terra com território (e, portanto, ser com ter), devemos recorrer a outras epistemologias para compreender que só é possível algum futuro se entendermos ser terra. Ser da terra. É da terra a grande força ancestral, a alimentação, os ciclos naturais, a abundância e a cura. Somente reconhecendo seu poder e relevância, seremos capazes estar com ela num pacto de saúde e prosperidade. Onilé Mojuba! Salubá! Arroboboi! Atotô! Demarcação já! Demarcação já!

 

Bernardo Mosqueira, Maio de 2017

No Centro Cultural São Paulo 

O Centro Cultural São Paulo, Paraíso, São Paulo, SP, inaugurou a exposição “Objetos sobre arquitetura gasta”, a primeira exposição individual do artista plástico André Griffo na cidade. Na exposição, que integra I Mostra do Programa de Exposições 2017 do centro cultural, o artista apresenta obras produzidas recentemente, sendo quatro pinturas, uma delas inédita, e uma instalação. “Os trabalhos fazem parte da minha atual pesquisa e este projeto almeja estabelecer um relacionamento com o público que permita o seu engajamento na proposta artística”, diz o artista.

 

André Griffo, que é representado pela galeria Athena Contemporânea desde 2013, já realizou exposições em importantes museus e centros culturais, como no Museu de Arte do Rio (MAR), no Museu da República e na Caixa Cultural, ambos no Rio de Janeiro. Também participou de uma mostra coletiva no Paço das Artes, em São Paulo.

 

Em “Objetos sobre arquitetura gasta”, o artista exibe quatro pinturas que representam espaços desocupados, vestígios ali deixados. “O processo é iniciado com a procura de edificações desabitadas para o registro fotográfico (e posterior reprodução em pintura) dos locais onde sejam percebidos sinais das ocupações passadas, evidentes na arquitetura e ou nos objetos remanescentes”, explica o artista, que busca o silêncio em suas obras.

 

A instalação “Predileção pela alegoria – Andaimes”, de 2016, feita em ferro, encontra-se nos jardins do centro cultural. A obra, que já foi apresentada nos jardins do Museu da República, no Rio de Janeiro, é composta por andaimes utilizados para construção e reparo de edificações, que são modificados com a inclusão de elementos provenientes da arquitetura gótica. Existe um contraponto entre o que é funcional e o que é estético. “Os ornamentos, elementos combatidos pela arquitetura funcionalista, modificam a estrutura dos andaimes, uma vez que suas aparições tornam-se corpos estranhos à armação, ao mesmo tempo que a estrutura modular modifica a natureza decorativa dos arcos, inserindo os elementos estéticos num contexto que não lhes são nem um pouco usual”, conta o artista. Para André Griffo, existe um diálogo entre as obras da exposição, mesmo se tratando de suportes diferentes. Além de todas tratarem do tema da Arquitetura, em uma das pinturas, por exemplo, há elementos góticos, que também estão presentes na instalação.

 

 

 

Sobre o artista

 

André Griffo foi bolsista no Programa de Aprofundamento da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 2013, com Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale e Marcelo Campos, mesmo ano em que realizou suas primeiras exposições individuais “Commando”, pelo edital de ocupação da Galeria de Arte Fernanda Perracini Milani, Prefeitura de Jundiaí, SP e “Reúso e Retardo”, na Galeria Athena Contemporânea no Rio de Janeiro. Em 2015,realizou as exposições individuais “Intervenções pendentes em estruturas mistas”, Palácio das Artes, BH, “Predileção pela Alegoria”, na Galeria Athena Contemporânea e “Engenho Maratona”, na Universidade de Barra Mansa, RJ. No ano passado, participou das exposições coletivas “Ao Amor do Público I – Doações da ArtRio (2012-2015) e MinC/Funarte”, no Museu de Arte do Rio (MAR), instituição que possui obra do artista em seu acervo, e “Intervenções”, no Museu da República, Rio de Janeiro. Outra mostra coletiva que integrou, foi “Instabilidade Estável”, em 2014, proposta pela curadora Juliana Gontijo para a Temporada de Projetos do Paço das Artes, em São Paulo. Em 2015, participou da exposição coletiva “Aparição no Espaço”, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro, de curadoria de Fernanda Lopes e recebeu o Prêmio Especial do Júri no 47º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, SP . Entre os prêmios, em 2012, recebeu o da Leitura Pública e Análise de Portfólios no 44º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, SP e foi indicado ao Prêmio Investidor Profissional de Arte, PIPA, em 2014.

 

 

 

Até 27 de agosto.

Nelson Felix na Millan

15/maio

A Galeria Millan, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta até o dia 20 de maio, a exposição inédita de Nelson Felix “Variações para Cítera e Santa Rosa”. A mostra, que ocupa os espaços da Galeria e do Anexo Millan, reúne esculturas e desenhos que refletem as ações do quarto trabalho da série “Método poético para descontrole de localidade”, iniciada em 1984.

 

“O Método poético, como expressa o título, visa traduzir uma ideia de espaço, de construção poética, que amalgama locais por meio do desenho e ações semelhantes”, explica o artista. Como uma ópera e seus atos, as três obras anteriores – “4 Cantos”, “Verso” e “Um Canto Para Aonde Não Há Canto” -, foram realizadas em Portugal (2007/08), em Brasília (2009/11) e São Paulo (2011/13). E agora o quarto trabalho na Galeria Millan e no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, simultaneamente.

 

“Como nos livros de poesia moderna, em que desenhos ou gravuras criavam uma relação entre texto e imagem, o “Método” possui um processo similar. Nesse sentido, esculturas, desenhos, ações, fotografias, vídeos e deslocamentos ilustram um texto, formando uma noção de lugar, que submete-se a um desenho no próprio globo terrestre”, revela Nelson Felix.

 

Em “Variações para Citéra e Santa Rosa”, como no projeto no MAM carioca, Nelson Felix elege o poema de Mallarmé “Um Lance de Dados Jamais abolirá o Acaso” para desestruturar a ideia de um só espaço expositivo. Partindo desse princípio, ele lança um dado, com o número seis em todas as faces, sobre um mapa-múndi, em uma data e hora estabelecidas e em um local incidental do curso de uma estrada. O dado, jogado, define seu acaso, não mais pela aleatoriedade do número, mas sim pela aleatoriedade de sua posição indicada sobre o mapa. Com isso, o artista viaja a Cítera, ilha jônica grega e a Santa Rosa, no pampa argentino.

 

Na Galeria e no Anexo Millan encontra-se em exposição, dezoito desenhos (em lacre, mármore, planta, cabo de aço, bronze e tecido) e sete esculturas (em mármore de Carrara, bronze, planta e tv), que remetem ao poeta francês e aos espaços percorridos pelo artista. “Existe hoje um entrecruzamento de fatores físicos e não-físicos acoplados ao entorno da arte, fatores como: informações, significados, história, hierarquia, tempo etc.; o nosso espaço atual, pelo menos em arte, não é mais tão limpo. Neste quarto trabalho, como nos anteriores, também reúnem-se ambientes externos e internos, mas seu interesse encontra-se nos múltiplos significados criados no próprio sítio da exposição”, conclui o artista.

O anjo de Nelson Leirner

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, apresenta a partir do dia 13 de maio a obra “O anjo exterminador”, do artista Nelson Leirner, no primeiro andar da Pinacoteca – Praça da Luz, 2, São Paulo, SP. A obra será exposta no Octógono. Feita em 1984, a peça foi remontada em 2014 e reúne centenas de estatuetas e bibelôs alinhados em dois grupos posicionados frente a frente e separados por uma ponte. O título do trabalho faz referência ao filme homônimo do espanhol Luis Buñuel.

Essa obra soma-se a outras 12 peças do artista que já pertencem ao acervo do museu, a maioria datada da década de 1960. Essa instalação permite à Pinacoteca ampliar a representação da obra de Leirner em sua coleção.

 

 

Sobre o artista

 

A palavra da curadoria

 

por José Augusto Ribeiro, curador da Pinacoteca

 

A produção de Nelson Leirner envolve a paródia do sistema de arte e a apropriação de imagens e objetos corriqueiros, desde meados da década de 1960. Materiais da cultura de massa e itens decorativos, como quadros, estatuetas e selos adesivos, aparecem na obra do artista para questionar e rir de hierarquizações de “bom” e “mau” gosto, de “alto” e “baixo” registro. Muitas vezes com alusões a obras, escolas e estilos canonizados pela História da Arte, de Michelangelo a Fontana, do barroco ao Young British Artists, de Duchamp e do neoplasticismo a Beuys e à arte conceitual. Tudo isso misturado a um repertório em que cabem ainda anúncios publicitários, a figura do Mickey Mouse, o distintivo do time do Corinthians, etc.

 

A ideia de uma sociedade que não deixa romper os próprios limites ou que reproduz distinções entre grupos de indivíduos é comum ao filme de Buñuel e à obra do artista brasileiro. O trabalho de Leirner é também um de seus primeiros a lançar mão desse procedimento de acúmulo e distribuição de pequenas esculturas em uma cena que lembra uma procissão.

 

Até 31 de julho.

 Mostras no Museu da República

09/maio

As duas novas exposições que ocupam espaços no Museu da República, Catete, Rio de Janeiro, RJ, guardam em comum o fato de ambas remeterem, de alguma forma, à história do lugar.

 

Em “Do pó ao pó”, o artista Zé Carlos Garcia lança, na Galeria do Lago, um questionamento sobre a importância dos bustos que “povoam” os corredores do museu, com suas montagens de pedras sedimentares que se assemelham a figuras humanas sem identidade.

 

 

“Do pó ao pó”

 

Morador de Nova Friburgo, o artista Zé Carlos Garcia começou a selecionar pedras que tivessem alguma identificação com os rostos humanos há mais um menos um ano atrás. O resultado deste garimpo pode ser conferido na exposição “Do pó ao pó”, totalizando cerca de 18 peças de pedra que remetem a bustos, na Galeria do Lago.

 

“Minha ideia é instigar o questionamento sobre os bustos de figuras consideradas importantes, mas que hoje ninguém sabe quem são. Por que devemos louvá-los?”, provoca Zé Carlos Garcia. Uma curiosidade: o Museu da República possui a maior coleção de bustos de todos os presidentes do Brasil na 1ª República.

 

“O trabalho do Zé Carlos Garcia promove a reflexão sobre diversas questões e simbolismos que acompanham o ser humano desde sempre. Vida e morte, permanência, deterioração, pedra e pó são algumas das instigantes propostas exploradas pelo artista visual, ao retomar sua pesquisa sobre monumentos urbanos, representados por ele como bustos em pedra sedimentar”, afirma a curadora Isabel Sanson Portella.

 

Já o artista visual Alessandro Sartore, propõe, com sua instalação “Fa Pianger e Sospirare”, montada no Coreto, uma volta à sua função regressa. A curadoria é assinada por Isabel Sanson Portella e a abertura acontece no dia 13 de maio, a partir das 16h, com food trucks e bebidinhas do Hostel Contemporâneo.

 

 

“Fa pianger e sospirare”

 

Alessandro Sartore foi buscar na sua própria memória a música reproduzida dentro do Coreto onde monta a sua instalação “Fa pianger e sospirare”. O nome da exposição foi tirado de um trecho da canção italiana “Quel Mazzolin Di Fiori”, que Sartore ouvia na casa da família de ascendência italiana quando criança.

 

“Idealizei a manipulação do espaço de forma que ele voltasse a ter uma função regressiva, já que o público terá que adentrar o coreto para ouvir a música e visualizar a obra composta por luzes que emanam de uma gambiarra dourada, fumaça e uma bailarina de porcelana no centro de um banco. Se para ouvir música o público antigamente se reunia do lado de fora, agora terá que adentrar a construção existente para vivenciar outra forma de arte. Pretendo acionar, ao mesmo tempo, as memórias afetiva, visual e auditiva dos visitantes”,explica Alessandro Sartore.

 

“Sartore gosta de pensar na manipulação dos espaços como uma equação matemática. Imagina todas as informações agregadas ao seu trabalho como dimensões. São mais do que camadas sobrepostas, são planos cuidadosamente organizados que constroem espaços tridimensionais. Em ‘Fa Pianger e Sospirare’, percebemos claramente os diversos planos com que o artista construiu sua equação. A delicada porcelana, a luz, a fumaça e a música trazem para dentro do espaço o encantamento que antes dele saía”, explica a curadora, Isabel Sanson Portella.

 

 

De 13 de maio a 20 de agosto.

Fabio Mauri na Bergamin & Gomide

25/abr

A Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, tem o prazer de apresentar a partir de 11 de março a primeira exposição individual no Brasil do artista italiano Fabio Mauri, o qual participou em 2012 da dOCUMENTA (13), em Kassel, além de seis edições da Bienal de Veneza (1954, 1974, 1978, 1993, 2013, 2015).

 

A mostra FABIO MAURI (SENZA ARTE) foi realizada em parceria com Olivier Renaud-Clément e com a galeria suíça Hauser & Wirth, que abriga toda a coleção do artista, e fez em 2015 e 2016 uma grande retrospectiva de Mauri nos Estados Unidos e em Londres.

 

Mauri nasceu em Roma, em 1926, e teve sua vida e obra marcadas pelo fascismo. Sua família era proprietária de uma das editoras mais importantes de literatura no país, por consequência, Mauri foi criado entre escritores e artistas e naturalmente se tornou amigo próximo de intelectuais e grandes nomes da vanguarda italiana do pós-guerra, como Ítalo Calvino, Umberto Eco, Pier Paolo Pasolini e Jannis Kounellis.

 

No final dos anos 1950, Mauri inicia sua produção artística em formatos tradicionais, como pinturas em telas e desenhos em papéis. Desde então, sua obra já tinha grande preocupação com questões ideológicas e políticas, o que foi acentuado nas décadas seguintes com o desenvolvimento da sua produção em formatos mais contemporâneos, em particular seu interesse pela “imagem projetada” e pela “tela escura” do cinema e da televisão – através de vídeos e projeções – além do elemento cênico, que se dava através da inserção do público dentro da obra em suas ações/performances e instalações, seja de forma participativa ou apenas como observador.

 

Segundo Carolyn Christov-Bakargiev, curadora da dOCUMENTA (13) e do Castello di Rivoli, “É verdade que Mauri abordou temas numerosos e diversos, usando uma variedade de abordagens expressivas, mas um fio comum fundamental, quase uma obsessão, percorre todos os seus movimentos, apesar do caráter multiformes de sua obra. Subjacente a todas as suas obras está uma meditação na tela – o cinema e a televisão – e as implicações da projeção para a sociedade e para a subjetividade contemporânea.”

 

Para a exposição na galeria, 25 obras foram selecionadas: no salão principal dois carpetes de grandes dimensões vão ocupar o centro da galeria, com as frases  Forse l’arte non è autonoma  [Talvez a arte não seja autônoma] e Non ero nuovo [Eu não era novo], ambos de 2009, e que fizeram parte da dOCUMENTA (13), em 2012, além de uma série de colagens e as instalações On the Liberty (1990) e Ventilatore (1990); no segundo ambiente serão apresentados treze trabalhos da série Photo Finish (1976); a última sala foi reservada para uma projeção do vídeo Seduta su l’ombra, de 1977. Todos os trabalhos são inéditos no Brasil e retratam um recorte abrangente da obra do artista.

 

Trabalhando em paralelo aos principais movimentos artísticos da época, como a Pop Art e a Arte Povera, Mauri colocou em discussão o papel da comunicação midiática como formadora da sociedade lá na década de 1960, quando a televisão ainda dava os primeiros passos. Enquanto artistas na Europa e nos Estados Unidos exploravam as nuances do consumismo e dissecavam os materiais essenciais da criação artística, Mauri abria frente para um questionamento que iria além da estética e da representação: como dar forma a algo tão abstrato como uma ideologia? Qual o papel do artista, do público e da mídia dentro dessa discussão? A problemática que o artista investigou por tantos anos é um assunto extremamente atual nos dias de hoje, sua obra reflete pontos cruciais da vida em sociedade e do pensamento do homem moderno.

 

Em 2015 a obra Il Muro Occidentale o del Pianto [O muro ocidental ou das lamentações], de 1993, ocupou a primeira sala do pavilhão central na 56a Bienal de Veneza, com curadoria de 56ª Bienal de Veneza, com curadoria de Okwui Enwezor. No mesmo ano o artista participou também pela primeira vez da Bienal de Istambul e sua obra foi incluída como parte da exposição permanente do Castello di Rivoli, enquanto outros trabalhos foram adquiridos pelo Centre Pompidou, em Paris.

Até sábado,  29 de abril de 2017.

Teresinha Soares no MASP

Inaugurando um eixo temático sobre sexualidade, que reunirá vasta programação de exposições, o MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, apresenta, a partir de 27 de abril, a exposição “Quem tem medo de Teresinha Soares?”, com mais de 50 obras do intenso período produtivo da artista mineira Teresinha Soares, Araxá, 1927, que se deu entre 1965 e 1976. Esta será a primeira mostra panorâmica de Soares em um museu, tanto no Brasil quanto no exterior, e é também sua primeira grande individual em mais de 40 anos. O título da mostra faz menção à célebre peça “Quem tem medo de Virgina Woolf?”, de Edward Albee, e faz referência aos tabus comportamentais que a obra de Teresinha Soares enfrenta ao se contrapor ao machismo da sociedade e do meio da arte.

 

“Quem tem medo de Teresinha Soares?” ocupa o 2º subsolo do museu com pinturas, desenhos, gravuras, caixas-objetos, relevos e instalações, além de documentação fotográfica sobre as performances e happenings pioneiros da artista. A mostra procura trazer luz à produção pouco conhecida de uma das artistas brasileiras mais polêmicas e contestadoras dos anos 1960-70, que naquele período ocupou com grande destaque os meios de comunicação. Personalidade feminina potente e emancipada, Soares é também escritora e defensora dos direitos das mulheres, somando à sua biografia o cargo de primeira vereadora eleita de sua cidade natal, além de miss, funcionária pública e professora.

 

Artista precursora ao abordar em seu trabalho temas de gênero, como a liberação sexual feminina, a violência contra a mulher, a maternidade e a prostituição, Soares também fez obras lidando com acontecimentos políticos, como na série de pinturas Vietnã (1968), em que apresenta uma original e irreverente abordagem sobre o tema. A representação do corpo é um dos motivos mais recorrentes da obra da artista, abrangendo desde o erotismo e o sexo, até o nascimento, a morte e a relação com a natureza.

 

Na obra “Eurótica”, de 1970, constituída de um álbum de serigrafias feito a partir de desenhos de linha e impresso em papéis de diferentes cores, uma variedade de posições sexuais se configura a partir de combinações de corpos em diferentes interações libidinosas. A partir desses desenhos eróticos, Soares desenvolveu “Corpo a corpo in cor-pus meus”, de 1971, sua primeira grande instalação, que representa um marco em sua carreira. Aberta à participação do espectador, a obra é composta de quatro módulos de alturas variadas, feitos de madeira pintada de branco, como uma espécie de tablado em forma sinuosa, que ocupam 24 m2 do espaço. No dia da abertura, uma performance será realizada para inaugurar a obra, assim como a que Soares realizou no Salão Nobre do Museu de Arte da Pampulha, em 1970, com a participação de bailarinos e a narração de um texto gravado por ela.

 

Embora seja possível relacionar a obra de Soares a algumas tendências dos anos 1960, como a arte pop global, o nouveau réalisme e a nova objetividade brasileira, a artista sempre insistiu em um caráter espontâneo e pessoal para sua linguagem. Ainda hoje, seu trabalho é pouco conhecido do grande público brasileiro, apesar de Soares ter participado ativamente do circuito de arte por dez anos, tendo realizado exposições em galerias, salões e bienais. Atualmente, tem cada vez mais integrado exposições internacionais que a contextualizam no marco da nova figuração dos anos 1960, bem como no da arte política: The EY Exhibition: The World Goes Pop (Tate Modern, Londres, 2015), Arte Vida (Rio de Janeiro, 2014) e Radical Women: Latin American Art, 1960-1985 (Hammer Museum, Los Angeles, 2017).

 

Para o curador da exposição Rodrigo Moura, “…se hoje seu trabalho começa a ser mais reconhecido, inclusive internacionalmente, uma exposição que acompanha sua trajetória de perto e analisa a evolução de sua linguagem contribui não apenas para esse reconhecimento, mas também para entender os mecanismos e as metodologias que informam uma prática feminista no contexto brasileiro daquele período.” Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, comenta a relevância da mostra: “É um privilégio para o MASP apresentar a primeira exposição panorâmica da artista. Assim o museu cumpre um papel crucial, o de apresentar ao grande público uma obra que deve ser considerada e reinscrita na história recente da arte brasileira.”

 

“Quem tem medo de Teresinha Soares?” insere-se no contexto da programação de 2017 do Museu, dedicada à temática da sexualidade. Em torno da mostra “Histórias da sexualidade”, que contará com obras de diferentes períodos e acervos, serão apresentadas exposições monográficas de artistas brasileiros e internacionais, cujas trabalhos suscitam questionamentos sobre corporalidade, desejo, sensualidade, erotismo, feminismo, questões de gênero, entre outros. Após a de Teresinha Soares, seguem-se individuais de Wanda Pimentel, Henri de Toulouse-Lautrec, Miguel Rio Branco, Guerrilla Girls, Pedro Correia de Araújo e Tunga.

 

 
Catálogo

 

Simultaneamente à exposição, o MASP edita o primeiro grande catálogo monográfico da artista, R$150,00 pp. 272, que será lançado na abertura da exposição. O livro tem organização editorial de Adriano Pedrosa e Rodrigo Moura e reúne mais de 200 ilustrações, entre obras de Teresinha Soares, documentos de época e obras de outros artistas, além de textos inéditos dos curadores da exposição, da própria artista e de quatro críticos convidados. Os autores analisam a obra pioneira de Soares e a contextualizam ao lado da produção de outros artistas trabalhando no Brasil e internacionalmente, no mesmo período.

 

Constituem o catálogo os seguintes textos: “Quem tem medo de Teresinha Soares?”, de Rodrigo Moura; “A arte erótica singular de Teresinha Soares”, de Cecilia Fajardo-Hill; “Realista e erótica, minha arte é como a cruz para o capeta”, de Frederico Morais; “O corpo na poética de Teresinha Soares”, de Marília Andrés Ribeiro; “’Acontecências’: devir-mulher nos jornais de Teresinha Soares”, de Camila Bechelany; “Um pop pantagruélico: a ‘arte erótica de contestação’ de Teresinha Soares”, de Sofia Gotti; além de entrevista de Teresinha Soares a Rodrigo Moura e Camila Bechelany e as crônicas de Teresinha Soares “Amo São Paulo” (1968), “Cor-pus meus versus o mar” (1971) e “O impossível acontece” (1973).

 

“Quem tem medo de Teresinha Soares?” tem curadoria de Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira do MASP, e Camila Bechelany, curadora-assistente do MASP. O escritório de arquitetura METRO Arquitetos Associados assina a expografia da mostra.

 

 

 

De 27 de abril a 06 de agosto.