Homenagem proustiana

19/abr

O Santander Cultural, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, exibe a exposição-homenagem “Paulo Gasparotto – Certas pequenas loucuras…”, que permite – proustianamente – um mergulho no universo pessoal do jornalista Paulo Raymundo Gasparotto. Os interessados em conhecer mais sobre a vida do profissional poderão visitar a exposição na qual encontrarão uma mescla de textos e imagens, informações e contextualização histórica, obras de arte, antiguidades e objetos do acervo pessoal que retratam a personalidade e a trajetória profissional do homenageado. A curadoria é assinada pela professora, crítica e historiadora de arte Paula Ramos. Em exibição cerca de 150 peças através da quais os 80 anos de vida  – e 50 dedicados ao colunismo social – são revisitados. Em exibição obras (pinturas, desenhos e gravuras) assinadas por Iberê Camargo, Farnese de Andrade, Roberto Magalhães, Magliani, Siron Franco, João Fahrion, Maristany de Trias, Victorio Gheno, Michel Drouillon, Maria Tomaselli, Waldeni Elias, Elizethe Borghetti, Maria di Gesu, André Venzon, Felipe Caldas, Britto Velho, Fernando Baril, João Faria Vianna, Octávio Araújo e fotografias de Roberto Grillo, Tonico Alvares, Liane Neves e Lizette Guerra.

 

Paula Ramos visualiza esta oportunidade como um privilégio:  “Além de ter contato com uma pessoa incrível, apaixonada pela vida e por seu trabalho, bem como por Porto Alegre e seus personagens, Gasparotto é um ícone: de comunicação, de elegância, de humanidade. Sinto-me agraciada por essa oportunidade e tenho certeza de que o público ficará surpreso ao percorrer a exposição”.

 

Carlos Trevi, coordenador geral da unidade de cultura do Santander em Porto Alegre, destaca que “o Santander Cultural aposta numa programação que fomenta a pluralidade, por meio de iniciativas voltadas para manifestações artísticas contemporâneas, e traz, nas mostras biográficas, personalidades gaúchas que contribuíram para o desenvolvimento da sociedade”.

 

 

Autodefinição

 

“Voluntarioso, teimoso, impaciente, altamente emocional e muito apaixonado, sempre, por tudo e sobretudo. A única razão de eu viver, sempre, foi estar apaixonado por alguma coisa, por algum objeto, por alguma pessoa. Sem emoção não há vida. Hoje, procuro não ter tantas raivas, até porque não vale a pena. E procuro ter mais paixões”, define-se o jornalista.

 

 

Sobre o homenageado

 

Paulo Raymundo Gasparotto é jornalista, colunista, avaliador e leiloeiro. Nasceu no dia 20 de abril de 1937, em Porto Alegre, RS. Homem de múltiplos gostos, de plantas e animais a arte, Antiguidades, Música, Moda e Literatura, começou sua carreira no final dos anos 1950, no jornal “Ele e Ela” e, na sequência, na Revista do Globo. Em 1963, ingressou no jornal Zero Hora e, nos anos seguintes, escreveu sobre moda, arte, elegância e vida social. Manteve coluna nos periódicos Folha da Tarde, Correio do Povo, Zero Hora e O Sul.

 

 

A mostra pode ser visitada até 28 de maio.

Yoko Ono em São Paulo

12/abr

Com curadoria de Gunnar B. Kvaran, crítico islandês e diretor do Astrup Fearnley Museum of Modern Art, em Oslo, a exposição “O CÉU AINDA É AZUL, VOCÊ SABE…”, pretende revelar os elementos básicos que definem a vasta e diversa carreira artística de Yoko Ono – uma viagem pela noção da própria arte, com forte engajamento político e social. Uma das principais artistas experimentais e de vanguarda, associada à arte conceitual, performance, Grupo Fluxus, happenings dos anos 60, uma das poucas mulheres que participaram desses movimentos, Yoko Ono continua questionando de forma decisiva o conceito de arte e do objeto de arte, derrubando esses limites. Foi uma das pioneiras a incluir o espectador no processo criativo, convidando-o a desempenhar um papel ativo em sua obra.

 

Esta exposição, patrocinada pelo Bradesco e Instituto CCR, foi concebida especialmente para o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, é formada por 65 peças de “Instruções”, que justamente evocam a participação do espectador para sua realização. São trabalhos que sublinham os princípios norteadores da produção da artista, ao questionar a ideia por trás de uma obra, destacando a sua efemeridade enquanto a dessacraliza como objeto.

 

O curador ressalta que “O CÉU AINDA É AZUL, VOCÊ SABE…”, uma retrospectiva de “Instruções”, evidencia as narrativas que expressam a visão poética e crítica de Yoko Ono. São trabalhos criados a partir de 1955, quando ela compôs a sua primeira obra instrução, “Lighting Piece” (Peça de Acender), “acenda um fósforo e assista até que se apague”. Na exposição, é possível seguir a sua criatividade e produção artística pelos anos 60, 70, 80, até o presente.

 

As “Instruções” de Yoko Ono, conforme o curador do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada, oscilam entre sugestões tão sucintas e abertas que se realizam tão logo são lidas, como “Respire”, de 1966; “Sonhe”, de 1964; “Sinta”, de 1963; “Imagine”, de 1962; ou em uma sequência de ações realizáveis por qualquer um que se dedique a isso, como “Pintura para apertar as mãos (pintura para covardes)”, de 1961; “fure uma tela, coloque a sua mão através do buraco , aperte as mãos e converse usando as mãos”; “Peça de Toque” de 1963; “toquem uns aos outros”; “Mapa Imagine a Paz”, de 2003; “ peça o carimbo e cubra o mundo de paz”. Há também as sugestões aplicáveis apenas no campo mental, poético ou imaginário, como “Peça do Sol”, de 1962; “observe o Sol até ele ficar quadrado”; “Capacetes-Pedaço de Céu”, de 2001/2008; “pegue um pedaço de céu, saiba que todos somos parte um do outro”; “Peça para Limpar III”, de 1996 e “tente não dizer nada negativo sobre ninguém, por três dias, por 45 dias, por três meses”.

 

Já as proposições como “Mamãe é linda”, de 1997; “escreva suas memórias sobre a sua mãe”; “Emergir”, de 2013/2017; “faça um depoimento de alguma violência que tenha sentido como mulher”; e “Árvore dos Pedidos para o mundo”, de 2016; “faça um pedido e peça à arvore que envie seus pedidos a todas as árvores do mundo”, são casos, como ressalta Miyada, que ao mesmo tempo antecipam e catalisam o poder atuais dos depoimentos pessoais multiplicados pelas redes. Nessas peças a artista solicita do público as suas histórias e faz de sua obra um algoritmo que os processa, publica e armazena.

 

Entre as obras da exposição há uma série de filmes, dois dos quais com a participação de John Lennon na concepção. Em “Estupro”, 77 min, de 1969, o músico foi codiretor e em “Liberdade”, de 1970, de apenas um minuto, assina a trilha sonora. Também registrada em filme presente na mostra, “Peça Corte”, 16min, de 1965, traz a icônica performance da artista realizada no Carnegie Hall, em 1964, em Nova Iorque, na qual o público pôde cortar um pedaço de sua roupa e levar consigo.

 

 

Até 28 de maio.

Projeto POMARIUM

A Allegro Produções e AstraZeneca Brasil inauguram a mostra “POMARIUM”, com desenhos de Paulo von Poser, fotografias de Silvestre Silva, reproduções do acervo da “Coleção Brasiliana” do Banco Itaú e cenografia de Fabio Delduque. O curador Ivor Carvalho, ao deparar-se com a possível extinção de diversas espécies de frutas nativas brasileiras, desenvolveu um conceito de mostra cultural por meio de experiências sensoriais e diversas linguagens artísticas, reunindo cerca de 50 obras de arte que mostram sua importância na história e desenvolvimento do país.

 

Realizada na Praça da Matriz em Cotia, SP, a exposição tem seu espaço criado para possibilitar as mais diversas relações sensoriais. Um pórtico de entrada conduz a uma estrutura climatizada com sons, cheiros, texturas e “surpresas”, onde o público vivencia experiências sinestésicas, em ambiente com representação de espécimes da flora brasileira, por meio de suas centenas de frutas nativas distribuídas pelos biomas nacionais. A exposição nos recebe com uma bela maquete “natural” e obras históricas dos primeiros registros dessas frutas tipicamente brasileiras, num cenário clássico; ao adentrar, o visitante percorre um corredor intitulado decadência, que retrata a atual situação de devastação da natureza pelo ser humano, o mal-uso dos recursos naturais, agrotóxicos, aquecimento global e outras maledicências. Ao sair deste corredor, encontra uma floresta em tamanho natural que ativa os sentidos do visitante, repleta de obras de arte, onde é celebrada a esperança e que ações semelhantes ocorram, a fim de conscientizar as pessoas para mudanças em seus hábitos de consumo e comportamentos frente à natureza.

 

O conceito central e primeiro de “POMARIUM”, como define seu curador e idealizador Ivor Carvalho, é amplo, plural e desprovido de vaidades. O propósito é coletivo:Quando soube que havia centenas de espécies frutíferas nativas que quase ninguém conhece e que muitas delas estão em perigo de extinção, percebi que havia ali uma grande oportunidade de transmitir uma mensagem de reconexão com a natureza por meio de linguagens artísticas diversas, numa rica exposição de arte que combinasse elementos naturais, obras de arte clássicas com cenografia lúdica e sensorial, acompanhada de ações efetivas de preservação ambiental e reflorestamento”.

 

A personagem central de “POMARIUM” são as “Frutas”, mas a equipe que a torna possível uniu-se ao projeto por inúmeras razões. Douglas Bello, do Sítio do Bello, vê o projeto com propósitos de futuro: “Imagine poder restaurar o sentimento profundo de pertencimento à natureza.  Seus ritmos, suas cores, seus sabores, seus aromas. Transformar isso em ações, em arte, em realização”. Fabio Delduque que “pensou” o espaço expositivo, define que “de uma forma lúdica, com a expografia criada para transportar o espectador em viagem pelo fabuloso universo das frutas brasileiras e suas interpretações artísticas, esperamos contribuir para que as crianças, jovens e adultos possam aprender um pouco mais sobre ecologia, alimentação saudável e as nossas frutas nativas”.

 

Silvestre Silva, fotógrafo especialista em registrar frutas brasileiras deste os anos de 1980, dedica-se à fotografia e pesquisas de campo sobre o tema: “a câmera fotográfica passou a ser uma extensão de meu olhar, com o objetivo de compartilhar conhecimento botânico, visando gerações atuais e futuras. O Brasil possui imensa e única diversidade de flora, por isso é fundamental democratizar este conhecimento”. O artista plástico Paulo von Poser, grande entusiasta da natureza e ativista ambiental, criou um projeto de imagens para instalação imersiva – “O abc das frutas brasileiras” – uma série de 23 desenhos inéditos representativos da extrema diversidade e variedade das frutas brasileiras desconhecidas pelo nosso paladar olfato culinária e arte. “Tem sido uma oportunidade importante de apresentar meu desenho na sua maior potência educativa e de arte, nas várias dimensões da diversidade de nossa mais autêntica expressão de abundância: nossos biomas de flora e fauna…”, define o artista.

 

Intervenções artísticas e culturais como músicas, workshops, palestras, compõem a agenda do “POMARIUM”, sempre com o tema principal da exposição como linha guia. Cada uma das espécies será devidamente identificada com as características que a formam e contam mais sobre sua história.

 

Após a conclusão do projeto, os pomares serão doados para a cidade de Cotia, por meio de uma parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, caracterizando uma ação de preservação ambiental efetiva, objetivo principal da mostra que quer trazer o sentimento de pertencimento à natureza às pessoas que a vistam e que, em função das interferências urbanas de um país como o Brasil, se afastaram de tais características.

 

 

De 19 de abril a 21 de maio.

Gravuras na SP-Arte 2017

07/abr

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, oferece ao público durante a SP-Arte de 2017, de 06 a 09 de abril, na Área de Museus e Centros Culturais no Pavilhão Ciccillo Matarazzo (Pavilhão da Bienal), Parque Ibirapuera, Portão 3, a oportunidade única de aquisição de obras gráficas de artistas contemporâneos, pequenas coleções desdobradas a partir de diferentes aproximações, tanto temáticas quanto técnicas.

 

Na curadoria elaborada pelo artista Eduardo Haesbaert (coordenador do Acervo e Ateliê de Gravura da instituição), foram selecionadas 232 cópias de gravuras realizadas por 31 artistas, dentre eles Tomie Ohtake, León Ferrari e Waltercio Caldas. A seleção estabelece uma amostragem abrangente dos 15 anos de atividades do Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura. A ideia foi gerar conjuntos que exibissem a diversidade de linguagens e poéticas, assim como momentos distintos na carreira dos artistas selecionados.
Desde a sua criação, o Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura da Fundação Iberê Camargo recebeu 99 artistas e, na feira SP-Arte de 2017, promoverá, pela primeira vez, a exibição de nove conjuntos de gravuras do total produzido.

 

Dentre os nove conjuntos, três deles são compostos por obras de um único artista: o tríptico de Regina Silveira, uma seleção de três gravuras de Waltercio Caldas, e quatro trabalhos de Marcos Chaves que formam um obra única. Os demais grupos reúnem trabalhos de 5 artistas, entre eles Antonio Dias, Nuno Ramos, Shirley Paes Leme, Nelson Leirner e Paulo Bruscky, explorando diferentes aproximações temáticas, históricas e formais.

 

 

Conjunto 1:

 

Formado por três latino-americanos: León Ferrari, Jorge Macchi e Liliana Porter, o conjunto apresenta gravuras desenvolvidas no ateliê da FIC durante a participação desses artistas em distintas edições da Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Reflete, mesmo que de forma sutil, o forte teor político que marca sua produção. León Ferrari, aliás, já havia trabalhado junto ao antigo ateliê de Iberê Camargo e acredita-se que esta seja a última gravura realizada pelo artista em vida.

 

Conjunto 2:

 

Numa seleção de quatro trabalhos que formam um obra única – quase um objeto – este conjunto representa a criação de Marcos Chaves a partir de sua ideia de sinalização. Artista reconhecido por suas obras em foto, vídeo e instalações, foi incitado a traduzir sua poética para a técnica da gravura de forma inédita.

 

Conjunto 3:

 

O tríptico de Regina Silveira aqui reunido funciona como um índice para nos aproximarmos de sua obra, que joga com as questões de luz, projeção e sombra. A artista, aluna de Iberê Camargo na década de 1960, produziu estas gravuras enquanto trabalhava em sua exposição solo “Mil e Um Dias e Outros Enigmas”, realizada especialmente para a Fundação Iberê Camargo, em 2011.

 

Conjunto 4:

 

Artista de reconhecimento internacional, Waltercio Caldas nos oferece, através desta seleção de três gravuras, uma entrada para sua trajetória, marcada pelo rigor estético no uso da palavra e da linha. O conjunto apresenta uma amostragem da produção deste autor, homenageado em exposição monográfica inédita realizada na Fundação Iberê Camargo, em 2012, sob o título “O Ar Mais Próximo e Outras Matérias”.

 

 

Conjunto 5:

 

O conjunto apresenta uma seleção de 5 artistas contemporâneas aqui reunidas tanto pela diversidade de suas poéticas quanto pela potência comum de seus trabalhos: Shirley Paes Lemes, Karin Lambrecht, Ana Maria Tavares, Célia Euvaldo e Germana Monte-Mór. As gravuras apresentam desde a linguagem marcada pela matéria pura, como em Célia Euvaldo à quase evanescência de Shirley Paes Leme, passando pela espiritualidade encarnada de Karin Lambrecht.

 

Conjunto 6:

 

Este grupo reúne trabalhos de cinco artistas não habituados à técnica da gravura e aponta justamente para a experimentação presente na trajetória de cada um. Antonio Dias, Nelson Félix, Jorge Menna Barreto, Ricardo Basbaum e Carlos Fajardo estabelecem, assim, um diálogo na matéria e no verbo, com obras que trazem tanto a organicidade e o corpo, como em Nelson Félix, quanto a pura racionalidade de Carlos Fajardo.

 

Conjunto 7:

 

José Resende, Nelson Leirner, Paulo Bruscky, Carlos Zilio e Eduardo Sued, todos artistas de grande renome nacional, são “filhos” de uma mesma geração. Em ação desde os anos 60, cada um a seu modo desenvolveu uma atuação estética com alta carga política. Nesta seleção, se encontram explorando uma técnica pouco utilizada em suas obras: a gravura em metal.

 

Conjunto 8:

 

Este conjunto lança gravuras de cinco artistas, todos integrantes do grupo Casa 7, atuante em São Paulo na década de 80: Rodrigo Andrade, Nuno Ramos, Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez e Paulo Monteiro. Responsáveis por uma revolução na pintura brasileira daquela época, hoje com carreiras individuais, nos brindam com suas experimentações na técnica da gravura, embora não deixem de nos remeter ao legado pictórico presente em suas trajetórias tão diversas.

 

Conjunto 9:

 

Formado pelos artistas Tomie Ohtake, Arthur Luiz Piza, Daniel Acosta, Daniel Senise e Marcelo Solá, este conjunto traz a produção em gravura de cinco artistas com abordagens completamente diversas. Revela representantes de diferentes gerações e fases de carreira artística. São obras que se aproximam da gravura a partir da tradição, como em Tomie Ohtake, utilizando os parâmetros canônicos da técnica, ou a partir da experimentação e inovação, presentes na serigrafia de Daniel Acosta ou no chine collé de Marcelo Solá.

Instâncias do Olhar

06/abr

A Fortes D’Aloia & Gabriel, Vila Madalena, São Paulo, SP, recebe em sua galeria, “Instâncias do Olhar”, a nova exposição de Efrain Almeida. Personagens habituais na prática do artista ressurgem através de esculturas em madeira e bronze, aquarelas e bordados, repletas de simbolismos e elementos biográficos. As obras parecem formar uma fábula pessoal suspensa no tempo.
Efrain Almeida ressignifica temas e figuras do seu repertório sob uma perspectiva circular. O trabalho central da exposição, por exemplo, tem relação direta com sua mostra anterior em São Paulo: em “Uma coisa linda”, de 2014, o artista exibiu 150 passarinhos em bronze no Galpão, reencenando o pouso de um bando de galos-de-campina no quintal de sua casa. Inédita de 2017, no entanto, há apenas um pássaro, caído de costas sobre um tablado de madeira. A imagem evoca liricamente a memória de seu pai que faleceu ano passado. Era dele a exclamação que deu título à obra de 2014, o que dá mais sentido à escolha lacônica para o nome usado em 2017 (uma referência às palavras die e dad). O galo-de-campina, aliás, é uma ave típica do Nordeste e que, assim como fez seu pai em vida, migra do norte ao sul do país.
Ninho do Beija-Flor, de 2016, contrasta com esse peso ao retratar o instante em que o diminuto pássaro abre os olhos, fazendo seu primeiro contato com o mundo. O conceito da visão como signo mediador entre sujeito e realidade é desenvolvido ainda em outros trabalhos da exposição. As asas da Mariposa, de 2016, mimetizam os olhos de um predador como mecanismo de defesa. No autorretrato “Cabeça”, Mestiço, de 2017, o artista devolve o olhar ao espectador através da superfície reflexiva do bronze. E em “Cabeça”, Transe, de 2017, os olhos da escultura de madeira revelam sua introspecção, em um movimento para dentro de si. Aqui, o interesse de Efrain volta-se ao transe como um estado de interstício – entre imaginário e o real, entre a loucura e a sanidade -, análogo ao próprio ofício do artista.
Em “O Outsider”, de 2017, o autorretrato ganha forma através de uma camisa de seda bordada com o rosto do artista. “Hanging” de 2017, também um bordado de seda, é uma paisagem porosa na qual o horizonte sustenta um ninho. Nas esculturas e aquarelas da série “Pouso”, Efrain retrata beija-flores empoleirados para capturar um instante efêmero de quietude. A paleta reduzida dessas aquarelas evoca o céu de um melancólico fim de tarde, atribuindo à paisagem um estado de espírito.

 

 

Sobre o artista
Efrain Almeida nasceu em Boa Viagem, Ceará, 1964, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Entre suas exposições recentes, destacam-se: Uma pausa em pleno voo, Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2015; Lavadeirinhas, SESC Santo Amaro, São Paulo, 2015; O Sozinho, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2013; 29ª Bienal de São Paulo, 2010; 10ª Bienal de Havana, 2009; Marcas, Estação Pinacoteca, São Paulo, 2007. Sua obra está presente em diversas coleções públicas e privadas do Brasil e do mundo, entre as quais: MoMA – Nova York, MAM São Paulo, Centro Galego de Arte Contemporânea, Santiago de Compostela, Espanha, Toyota Municipal Museum of Art, Toyota, Japão, Pinacoteca do Estado, São Paulo, entre outras.

 

 

Até 20 de maio.

Nelson Felix no MAM-Rio

04/abr

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 08 de abril a exposição “Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares”, com trabalho homônimo inédito de Nelson Felix – a quarta e última parte da série “O Método Poético para Descontrole de Localidade”, iniciada em 1984. A obra reúne a vivência do artista em dois locais distintos: Citera, uma ilha na Grécia, e a cidade de Santa Rosa, no pampa argentino.  A palavra trilha, repetida duas vezes no título da exposição, tem duplo significado: o percurso percorrido pelo artista e a presença sonora. Um cabo de aço atravessará o espaço do MAM, em tensão máxima, a ponto de emitir um som que será captado e amplificado. Com um total de 270 metros – 35 metros estirados a 60 centímetros do chão e o restante tensionado em volta de pilastras do Museu – o cabo de aço aponta para duas direções: Citera e Santa Rosa.  

 

Em uma pequena sala fechada e toda forrada por espuma, haverá três monitores onde serão exibidos vídeos que registram a vivência do artista em cada um dos locais. As imagens foram feitas por Guilherme Begué e Cristiano Burlan, este último  há quatro anos se dedica a fazer um filme sobre o artista. Caixas de som irão reproduzir o som emitido pela tensão do cabo de aço, que se somará ao som ambiente dos vídeos, constituindo assim, a sua trilha sonora. A estrutura de edição das imagens, que ora se duplicam ora se alternam nos monitores, se assemelha a uma composição musical para três instrumentos.

 

O trabalho de Nelson Felix torna assim o museu dúbio instrumento: musical e uma espécie de bússola, formalizada na direção que indica o cabo de aço no espaço expositivo, a mesma percorrida pelo artista no globo terrestre.

 

A série “O Método Poético para Descontrole de Localidade” sempre teve na poesia seu ponto de partida. No trabalho apresentado no MAM Rio, foi a obra do poeta francês Mallarmé, principalmente seu poema “Um lance de dado jamais abolirá o acaso”, que determinou o início do processo. Nelson Felix lançou sobre um mapa-múndi um dado com o número seis em todas as faces, em data e hora estabelecidas, e em local incidental do curso de uma estrada. Daí surgiram os dois locais-eixo do trabalho: Citera e Santa Rosa (pampa argentino).  Em Citera, lançou o dado ao mar, em Santa Rosa, o enterrou. Nesses lugares, o artista desenhou compulsivamente, durante várias horas, impregnado do ambiente e ao mesmo tempo deixando sua marca nele, como se fundisse à paisagem.

 

Depois de estar em Citera, Nelson Felix observou que “vários artistas realizaram obras sobre a peregrinação a esta ilha: Watteau, Gerard de Nerval, Verlaine, Victor Hugo, Debussy, mais recentemente Theo Angelopoulos, e principalmente Baudelaire, grande influência de Mallarmé”. E descobriu ainda outro fato curioso em comum a esses artistas: com exceção de Watteau, todos haviam frequentado o café-restaurante Closerie des Lilas, em Paris, fundado em 1847. Nelson Felix se sentiu impelido a ir, ele mesmo ao local, e de lá acrescenta algumas imagens aos vídeos da exposição.

 

 

A palavra da curadoria

 

 

Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares, de Nelson Felix, inscreve-se com destaque na programação do MAM de 2017. Tal destaque, entretanto, não se restringe ao reconhecimento da importância inegável de sua obra para a produção contemporânea brasileira. Ao acolher esse projeto da série Método poético para descontrole de localidade (iniciada com o projeto 4 cantos feito pelo artista, a convite da Fundação Serralves, em 2007, na cidade do Porto, em Portugal, o museu também reitera sua vocação experimental e vincula, uma vez mais, seu nome a outras mostras emblemáticas de artistas e movimentos artísticos brasileiros aqui realizadas. Finalmente, Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares soma-se ao nosso programa de exposições temporárias, cuja dinâmica é complementar àquela das mostras do acervo – ou seja, revelar outros pontos de vista da produção de artistas que fazem parte de nossa coleção.

 

De acordo com Felix os trabalhos dessa série “visam traduzir uma ideia de espaço simultâneo, de construção poética que amalgamam locais por meio do desenho […]. Nesse sentido, esculturas, desenhos, ações, fotografias, vídeos e deslocamentos ilustram um texto formando uma noção de lugar que se submete a um desenho no globo terrestre.” A confluência desses espaços diversos, fundamentados experiencialmente, só pode fazer sentido e ser produzida com base num “método poético para descontrole de localidade” marco que separa a ambiguidade poética característica da arte da experimentação cientificamente regulada.

Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes

 

 

Sobre o artista

 

Nascido no Rio de Janeiro, em 1954, Nelson Felix ocupa lugar de destaque na cena contemporânea desde 1978, quando integrou a exposição “Artistas Cariocas”, na Fundação Bienal de São Paulo, até a recente mostra individual “O Oco” (2015), na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Com diversos prêmios, residências e exposições no Brasil e no exterior, o artista participou ainda de várias bienais, como a III Trienal de Desenho (1986), no Germanishes National museum, em Nuremberg, Alemanha; XXIII Bienal Internacional de São Paulo (1996); Bienal do Barro (1998), no Centro Cultural de Maracaibo, Venezuela; II Bienal do Mercosul (1999), em Porto Alegre; Brasil + 500 anos, Mostra do Redescobrimento, Bienal de São Paulo (2000); V Bienal do Mercosul (2005), em Porto Alegre; Bienal no Instituto Tomie Ohtake (2010), em São Paulo; Bienal do Vento Sul (2011), em Curitiba.

 

 

 

De 08 de abril a 04 de junho.

Individual de Luiz Ernesto

16/mar

O Paço Imperial inaugura dia 16 de março, a exposição “Antes de sair”, de Luiz Ernesto.O trabalho ocupará a sala “Academia dos Seletos”. O artista apresenta uma instalação inédita que une imagem e texto, lidando com os sentidos possíveis dessa relação, na medida em que no cotidiano estamos impregnados de imagens e textos descartáveis e ligeiros.  Para Luiz Ernesto este é um campo fecundo, que amplia a gama desses significados.

 

Em 2007 ao esvaziar o apartamento de sua avó para vendê-lo o artista deparou-se com uma enorme quantidade de objetos, móveis e ambientes repletos de memórias e histórias. Em meio a um processo longo e dolorido, fez registros fotográficos dos cômodos e dos objetos que estavam sendo retirados de uma casa que havia sido marcante em sua infância. O que no início era um registro para recordação deu origem a um novo trabalho de arte.

 

Desde o ano 2000, Luiz Ernesto desenvolve pesquisas que discutem a relação entre imagens e palavras: “Palavras e imagens juntos tornam-se fecundos e têm sua gama de significados ampliada. Neste trabalho, memória e história são minhas principais matérias primas, objetos banais do cotidiano, móveis e ambientes nos quais o tempo imprimiu suas marcas. O que me interessa é explorar seus significados afetivos: as lembranças, as ocasiões, os lugares e as pessoas que aqueles suscitam. Ao longo do processo, fotos e textos tomaram seus próprios rumos libertando-se da obrigação de registrar fielmente a história vivida para gerar uma obra de ficção”, declara o artista.

 

A instalação “Antes de Sair” reúne cerca de 50 fotografias divididas em dez grupos acompanhados de pequenos textos.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Luiz Ernesto Moraes é artista plástico e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Ex- aluno desta escola, Luiz Ernesto foi seu diretor de 1998 a 2002. Em 1992, contemplado com uma bolsa de estudos pelo Conselho Britânico, passou um ano na Escócia, no Glasgow Print Studio onde desenvolveu uma série de trabalhos em diferentes técnicas de gravura. Desde 1979, tem participado de exposições individuais e coletivas. Seu trabalho desenvolve-se em diversos meios, como desenho, pintura, objetos e fotografia e tem como ponto de partida os objetos banais do cotidiano. Para uma exposição sua em 1999, no Paço Imperial, o crítico Agnaldo Farias, assim se referiu ao trabalho do artista: “As pinturas, desenhos e assemblages de Luiz Ernesto sempre se propuseram a animar as coisas de sua letargia para deixá-las transbordar, fazê-las abandonar seu estado inicial rumo a uma condição próxima. O insólito, dizem seus trabalhos, está aqui mesmo.”

 

Desde 2001, Luiz Ernesto vem desenvolvendo um trabalho em fibra de vidro, resina de poliéster e fotografia. Sobre este trabalho o crítico Paulo Sérgio Duarte, num texto intitulado “ A solidão das coisas calmas”, escreveu: “ O que são esses trabalhos de Luiz Ernesto? Não são telas, nem é pintura, ao menos no sentido convencional. No entanto com esta se assemelham, não pela forma no sentido estrito, digamos que lembram a pintura pelo que em inglês chama-se shape. … Na sua fabricação obedecem aos procedimentos da escultura. Têm um molde e lá o artista deita seus lençóis de fibra, seus solventes e suas figuras e suas palavras. …Apesar de suas dimensões, o verdadeiro tema dos quadros é a nostalgia de um mundo em miniatura, sem violência ou nervosismo, onde as coisas calmas pudessem usufruir a sua solidão.”

 

 

 

De 16 de março a 21 de maio.

Individual de Thiago Honório

14/mar

A Galeria Luisa  Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta “Solo”, primeira exposição individual do artista mineiro Thiago Honório na galeria.Honório apresenta o trabalho “Roca”. Trata-se de uma cabeça de imagem de roca ou de vestir do século XVIII disposta sobre sólido geométrico produzido com um procedimento construtivo brasileiro utilizado no período colonial no repertório das construções dos séculos XVIII e XIX, conhecido como pau a pique, taipa de mão, taipa de sopapo ou taipa de sebe.

 

Essa técnica vernacular consiste no entrelaçamento de ripas ou toras de madeiras verticais com vigas de bambu horizontais e amarradas entre si por cipó, engendrando uma grande estrutura tramada cujos vãos se preenchem com barro, resultando numa parede. Das práticas da chamada arquitetura de terra é uma das mais recorrentes, principalmente nas zonas rurais.

 

A cabeça, estátua ou imagem de roca designa a tipologia de imagens sacras processionais que são travestidas com trajes de tecidos, perucas e adornadas com pedras preciosas, semipreciosas ou bijuterias. A palavra roca, como substantivo feminino, significa bastão, haste ou vara, possuindo na extremidade um bojo que se enrola a rama do algodão, do linho, da lã: roca de fiar. Também denota a formação volumosa e elevada de pedra, rocha, rochedo, penhasco.

 

Segundo Thiago Honório: “A imagem de roca tradicionalmente aparece em procissões e consiste numa estrutura de madeira articulável que dá a ver apenas a cabeça, mãos ou braços e, às vezes, os pés da peça esculpida, envolta em indumentária e adereços que a caracterizam conforme seus usos litúrgicos. Grande parte dessas imagens era construída numa escala aproximada da escala natural do corpo humano”. Este gênero de imagens adquiriu considerável difusão no Brasil, sobretudo na Bahia e em Minas Gerais durante o período Barroco, estendendo-se até meados do século XIX.

 

No caso de “Roca”, obra que ocupa sozinha grande área da sala de exposições, a cabeça da imagem de roca encontra-se no topo de um “monte” geométrico de pau a pique e taipa de mão.

 

Na exposição “Solo”, a obra “Roca” apresenta-se fincada na terra, solo; com o duplo sentido da ideia de solo, nesse caso tanto a apresentação destinada ao solista quanto a terra. O trabalho busca problematizar à maneira metalinguística as noções de solo, camadas da terra, piso, chão de construção ou casa, ou a superfície que é construída para se pisar; substrato físico sobre o qual se fazem obras. Em sentido figurado, faz referência a nação, país ou região: em solo brasileiro, solo fértil. A etmologia do substantivo solo vem do latim sŏlum, que significa fundo, fundamento, pavimento e planta do pé. E também solo no sentido de só; a solo na ideia de executado por uma só voz ou instrumento; do latim sōlus, a, um a partir da noção de só, solitário; e também pode ser a dança, a ginástica artística, o trecho musical, a apresentação teatral, a exposição individual ou a seção a ser executada por um único intérprete.

 

 

 

Sobre o artista

 

Exposições recentes do artista nascido em Carmo da Paranaíba, em 1979, incluem “Trabalho”, MASP Museu de Arte de São Paulo, 2016; “Boate Azul” em colaboração com Pedro Vieira, Museu de Arte da Pampulha, 2016; “Títulos”, Paço das Artes, 2015. Ainda em 2016, Thiago Honório lançou o seu primeiro livro intitulado {[( )]} – publicado pela editora IKREK – e premiado pelo ProAC. Em 2017 lançará “Augusta”, publicado pela mesma editora. Possui obras nos acervos do MASP; MAC/USP Museu de Contemporânea da Universidade de São Paulo; MAR Museu de Arte do Rio; MAM/SP Museu de Arte Moderna de São Paulo; MAB/FAAP Museu de Arte Brasileira e na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 

 

 

De 14 de março a 29 de abril.

Alfredo Jaar na Luisa Strina

A Galeria Luisa Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta “The Politics of Images”, segunda exposição individual de Alfredo Jaar na galeria. Alfredo Jaar, Chile, 1956, é artista, arquiteto e vídeo maker. Após completar seus estudos no Chile, fixou-se – em 1982 -, Nova York, cidade onde vive e trabalha atualmente. Sua prática artística é focada na criação, distribuição e circulação de imagens na esfera pública.

 

O ponto de partida da exposição é a instalação “The Sound of Silence”, de 2006, “um teatro construído para uma única imagem” (Jacques Rancière). O trabalho conta a história de Kevin Carter (1960 – 1994), fotojornalista sul-africano que se tornou famoso por sua fotografia ganhadora do prêmio Pulitzer. Tirada enquanto Carter se reportava do Sudão em 1993, a fotografia mostra uma criança em estado de inanição se rastejando pelo chão enquanto um abutre a observa. Após o suicídio do autor, a fotografia se tornou propriedade de sua filha Patricia Megan Carter e seus direitos são controlados pela Corbis, a maior agência fotográfica do mundo, a qual controla mais de cem milhões de imagens e é de propriedade de Bill Gates. Usando uma linguagem sucinta, Jaar questiona não só os limites do representável e da possibilidade de observar, mas também trata de questões de responsabilidade tanto do fotógrafo individualmente quanto daqueles que controlam a circulação e a disseminação das imagens, e finalmente, o espectador.

 

“One Million Points of Light”, de 2005, foi realizado na costa de Angola, em Luanda. A câmera foi posicionada em direção ao oceano, apontando diretamente ao Brasil, em memória e homenagem aos 14 milhões de escravos enviados de Angola para o Brasil. A fotografia é reproduzida numa caixa de luz e em cartões postais que os visitantes são convidados a levar para casa.

 

“Searching for Africa in LIFE”, de 1996, foca na ausência de representação e na ausência da África na revista de notícias LIFE (a LIFE foi uma revista de fotojornalismo, fundada em 1936 por Henry Luce- também fundador da revista Time – e encerrou suas atividades com a edição de maio de 2000). O trabalho consiste em uma coleção de 2128 capas, de 1936 a 1996, mostradas em ordem cronológica e visando refletir a chocante escassez de cobertura do continente africano por uma das mais influentes revistas do mundo.

 

Jaar usa uma fórmula similar no trabalho intitulado “From Time to Time”, de 2006, o qual, outra vez, traz à tona os esteriótipos racistas que governam a percepção da mídia ocidental em relação à África. São nove capas recentes da revista Time dedicadas à África divididas pelos únicos três assuntos geralmente cobertos: doenças, fome e conflito armado.

 

 

Sobre o artista

 

Alfredo Jaar realizou exposições individuais em instituições como o New Museum, Nova York, 1992; White chapel Gallery, Londres, 1992; Museum of  Contemporary Art, Chicago, 1992; Moderna Museet, Estocolmo, 1994; Museum of Contemporary Art, Roma, 2005; Berlinische Galerie, Alte National galerie e Neue Gesellschaft für Bildende Kunst, Berlim, 2012; e Museum  of  Contemporary Art Kiasma, Helsinki, 2014.

 

O trabalho do artista faz parte de coleções tais como a do Museum of Modern Art, Nova York; Tate Collection, Londres; Guggenheim Museum, Nova York; LACMA e MOCA, Los Angeles; Centro de Arte Reina Sofia, Madrid; Centre Georges Pompidou, Paris; Moderna Museet, Estocolmo; e MASP, São Paulo.O artista participou de algumas das mais estabelecidas exposições coletivas ao redor do mundo, tais como a Bienal de Veneza (1986, 2007, 2009, 2013); Documenta, Kassel (1987, 2002); e Bienal Internacional de São Paulo (1987, 1989, 2010).

 

 

De 14 de março a 29 de abril.

Em Salvador

27/jan

O Instituto Cervantes de Salvador, Bahia, apresenta na Galeria Massarda, no Palacete das Artes, no bairro da Graça, a videoinstalação “Doze Pinturas Negras”. Trata-se de um projeto audiovisual do artista ÁngelHaro, que promove uma dramatização de doze das “Pinturas Negras” do renomado pintor espanhol Francisco de Goya.

 

Francisco de Goya representa um marco na história da pintura. Como pintor da Corte Real Espanhola, criou trabalhos excepcionais que influenciaram diretamente o movimento Impressionista. Suas “Pinturas Negras”, no entanto, vão além no que diz respeito à técnica e à temática. Além de marcarem o início do Surrealismo e Expressionismo do século XX, expõem o clima sociopolítico da Espanha de então ao explorar a psiquê e os conflitos internos e externos do país. Em sua obra, Goya revelou fatos que não faziam parte do discurso oficial espanhol, descobrindo, assim, novo uso para sua arte: a pintura como forma de denúncia.

 

As “Pinturas Negras” desafiaram o regime político da época e, ao sobreviverem à Inquisição e se tornarem patrimônio cultural contemporâneo, simbolizaram um grito que não é facilmente silenciado. Nascidos da condição isolada do artista em sua Quinta delSordo, nos arredores de Madri, os conflitos internos de Goya não eram independentes da circunstâncias políticas que o cercavam. Com o fim do Iluminismo e a volta do regime Absolutista, sua loucura é, também, a loucura de seu tempo. Justamente por estar no limite da própria sanidade, Goya pode retratar os horrores do regime de Fernando VII através da representação de seu próprio horror.

 

Cinquenta anos após a partida de Goya para a França, em 1874, o barão Emile d’Erlanger, novo proprietário da Quinta delSordo, comissionou o francês Jean Laurent para fotografar os murais que adornavam várias das salas da propriedade. Essas fotografias, cujos negativos em vidro originais estão atualmente sob os cuidados do IPCE (Instituto do Patrimônio Cultural da Espanha), serviram de guia para transferir os trabalhos para a tela, possibilitando, assim, a restauração posteriormente feita por Salvador Martínez Cubells. Strappo, o processo de separação adotado por Cubells, é uma técnica agressiva que não garante a efetiva transferência de tinta e requer extensivo trabalho nas imagens. Isso significa que as obras que vemos hoje no Museu do Prado não são exatamente aquelas que Goya pintou nas paredes da Quinta delSordo, pelo menos no que diz respeito à sua qualidade plástica.

 

O artista multimídia ÁngelHaro partiu das fotografias de Laurent para reinterpretar as “Pinturas Negras”, criando uma análise do gesto e do impulso físico presente nas obras. Em cada peça audiovisual, o artista alude aos diversos métodos pictóricos empregados por Goya e traduz sua gestualidade em vários registros de movimento, luz, figurino e maquiagem. Todas as cenas foram captadas em alta resolução com câmeras HD 4k utilizando sistema de chromakey. A imagem de fundo criada por Haro é inserida na pós-produção e, por final, as tonalidades são corrigidas digitalmente para equilibrar a gama de cores.

 

O tratamento da iluminação respeita o compromisso de Goya com a subjetividade em cada um de seus trabalhos. Assim, uma iluminação dramática é combinada com efeitos de luz pintados em alguns dos personagens, como em “Saturno devorando um filho”. Além disso, os figurinos são baseados na gestualidade de cada cena. Dos trapos de “BruxasSabá” ou as deformidades de “Saturno devorando um filho” ao realismo de “Leocadia” e a volatilidade de “Visão fantástica”.

 

 

Sobre o artista

 
ÁngelHaro nasceu em Valência, Espanha, em 1958, e passou a infância em Paris até mudar-se com sua família para Murcia, onde estudou engenharia. Atua não só como artista visual, mas também como diretor artístico de teatro, cenógrafo, diretor de cinema e artista gráfico. Sua primeira mostra individual aconteceu em Murcia no ano de 1979. Já realizou exposições nas principais cidades da Espanha, e também em Chicago, Nova York, Paris e países como África do Sul, República Dominicana, Lituânia e Bélgica. Dentre suas principais exposições estão: Estrelladel Norte, na Iglesiadel Salvador del Convento de Verónicas, em Murcia, Espanha, 2015; La Tregua, na Tabacalera, Madri, Espanha, 2014; WaysofanUnruly Man, na Res Gallery, em Johannesburgo, África do Sul, 2012; Suitemelancolie, na Galerie Lina Davidov, Paris, França, 2011; Belfegor, no Museo de Bellas Artes de Murcia, Espanha, 2009; e OnPaper, na HaimChanin Fine Arts, Nova York, EUA.

 

 

Até 05 de março.