Multiverso de Raimundo Rodriguez

31/ago

A Sergio Gonçalves Galeria, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, no dia 05 de setembro,

sábado, às 14h, a exposição “Multiverso: nada que você já não tenha visto antes”, do artista

plástico Raimundo Rodriguez. A mostra vai apresentar as incontáveis dimensões categóricas

em que a obra de Rodriguez transita, abusando de cores vívidas, do jogo geométrico das

formas e de palavras. Por meio de um apanhado de obras, que formam pequenos universos

díspares, pequenos multiversos povoados, sobretudo, por “quadro-objetos”, serão resgatados

e ressignificados. O trevo da sorte, os latifúndios de papel, a fórmica e o tecido, os lactofúndios

de caixas de leite, a série “diapositivos”, entre outros.

 

A metáfora que tangencia a mecânica quântica, quando transferida poeticamente para o

campo das artes visuais, mais precisamente, para a produção multifacetada do artista plástico

Raimundo Rodriguez, traduz com excelência a capacidade criativa – traço pós-moderno, com

que o artista produz suas obras, desenvolvendo inúmeras linguagens, muitas vezes, em

suportes alternativos como pinturas, desenhos, objetos, “não-objetos”, assemblages/colagens,

esculturas, entre outros. O trabalho do artista conecta-se com a arte popular brasileira, o

neodadaísmo, o dadaísmo, o neorrealismo e a pop art.

 

Em diversos veículos, tais como teatro, carnaval, centros culturais, vídeos e televisão, as

criações de Raimundo Rodriguez ultrapassam limites e preenchem lacunas de expressão. O

artista, acompanhado por sua equipe, foi o responsável pela estética final  das construções da

novela “Meu Pedacinho de Chão”, dirigida por Luiz Fernando Carvalho. A partir de

“Latifúndios”, Raimundo Rodriguez fez pedacinhos de chão remendados onde se desenvolveu

todo o enredo na novela.  A obra  foi incorporada à arquitetura de toda a fictícia “Vila de Santa

Fé”,  onde casas, portas, paredes, janelas, altares, molduras, cimalhas e inúmeros detalhes

foram criados a partir de latas de tinta descartadas e,  em suas mãos, ganharam um novo

significado. Raimundo Rodriguez é representado pela Sergio Gonçalves Galeria de Arte pela

qual participou das quatro últimas edições da SP-Arte e também da Feira Pinta, de Nova York e

Miami.

 

 

Até 10 de outubro.

Artistas da TRIO Bienal

27/ago


A TRIO Bienal, exposição que integra as comemorações do aniversário de 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, é uma mostra internacional de arte contemporânea em torno de obras tridimensionais, com 170 artistas de 47 países.  A curadoria, a cargo de Marcus de Lontra Costa, sob o tema “Quem foi que disse que não existe amanhã?”  – frase de uma letra do rapper Marcelo D2 – pretende discutir o momento de incerteza e de crise, tanto no Brasil quanto no mundo, e resume a persistência na procura de uma determinada arquitetura no caráter utópico da arte, recarregando fortemente a fé modernista em um mundo mais perfeito, a partir da falta de distinção entre arte e vida.

 
No módulo Utopias, que acontece no Memorial Getúlio Vargas, Glória, Rio de Janeiro, RJ, participam neste módulo os artistas Afonso Tostes – BR, Ai WeiWei – CN, Alex Flemming – BR, Ana Miguel – BR, Anna Bella Geiger – BR, Cildo Meirelles – BR, Fábio Carvalho, BR, Felipe Barbosa – BR, José Rufino – BR, Laerte Ramos – BR, Los Carpinteros – CU, Lourival Cuquinha – BR, Mauricio Ruiz – BR, Nelson Félix – BR, Tom Dale – US, entre muitos outros.

 
Destaque para Fábio Carvalho (fotos) que será representado por um total de cinco obras. Da série “Delicado Desejo” serão apresentadas quatro peças ­ armas de fogo compostas por um patchwork de rendas diversas, com as quais o artista faz uma reflexão da mistura de fascínio e repulsa que muitos têm por armas de fogo, em especial no continente americano. Além das quatro peças da série “Delicado Desejo”, também será apresentado o trabalho “Eros & Psiquê” ­ um fuzil de brinquedo de plástico, dentro de uma vitrine de madeira escura, similar às vitrines onde se exibem armas de fogo reais em coleções, sendo que o fuzil está cercado de borboletas monarcas de plástico, como se estas usassem o fuzil como pouso e abrigo.

 

 
De 05 de setembro a 26 de novembro.

Exposição na Fundação Vera Chaves Barcellos

21/ago

A Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, apresenta a mostra “Destino dos Objetos | O

artista como colecionador” e as coleções da FVCB. Impressões, desenhos, fotografias,

gravuras, fotocópias, objetos, esculturas, colagens e vídeos integram a mostra que reúne um

diverso grupo de 50 artistas de várias nacionalidades. Com curadoria de Eduardo Veras,

“Destino dos Objetos” examina como, por diferentes caminhos, os artistas se fazem

colecionadores, ou, pelo menos, como seus trabalhos podem replicar algo do furor

colecionista.

 

Há aqueles que tratam de isolar, recolher e sacralizar peças específicas, peças que

imediatamente perdem sua função original, mesmo que não renunciem às memórias que

carregam. Há também aqueles em que, mais do que a escolha, despontam as noções de

acúmulo, ordenamento e classificação. Entre uns e outros, o artista emerge como o sujeito dos

desejos e das decisões, oferecendo ou adivinhando um destino para os objetos.

 

A exposição remonta ao gérmen da própria Fundação Vera Chaves Barcellos, cuja origem

encontra-se nas coleções de arte formadas pelos artistas Vera Chaves Barcellos e Patricio

Farías ao longo dos anos, antes mesmo da formalização desse importante centro de divulgação

de arte contemporânea.

 

Participam da mostra artistas brasileiros, latino-americanos e europeus: 3NÓS3, Albert

Casamada, Almandrade, Amanda Teixeira, Anna Bella Geiger, Antoni Muntadas, Boris Kossoy,

Brígida Baltar, Cao Guimarães, Carlos Asp, Carmela Gross, Christo, Daniel Santiago, Elcio

Rossini, Ester Grinspum, Evandro Salles, Feggo, Gisela Waetge, Gretta Sarfatty, Hannah Collins,

Heloísa Schneiders da Silva, Hudinilson Jr., Jailton Moreira, Jesus R.G. Escobar, Joan Rabascall,

Joaquim Branco, Joelson Bugila, Julio Plaza, Klaus Groh, León Ferrari, Lia Menna Barreto, Mara

Alvares, Marcel-li Antunez, Marcelo Moscheta, Marco Antônio Filho, Marcos Fioravante, Maria

Lúcia Cattani, Mariana Silva da Silva, Marlies Ritter, Mario Ramiro, Mário Röhnelt, Michael

Chapman, Nicole Gravier, Nina Moraes, Patricio Farías, Rogério Nazari, Téti Waldraff, Ulises

Carrión, Vera Chaves Barcellos e Waltércio Caldas.

 

A exposição contará com uma programação paralela com palestras, conversas com artistas,

além das visitas mediadas e da promoção do Curso de Formação Continuada em Artes – ações

permanentes do Programa Educativo da FVCB, que segue oportunizando vivas experiências

com a arte e estimulando a formação de novos públicos.

 

 

De 22 de agosto a 12 de dezembro.

Lidia Lisboa na Galeria Pretos Novos

20/ago

A Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Casulo”, da artista

visual Lidia Lisboa, com a curadoria de Marco Antonio Teobaldo. São vinte e uma obras em

dimensões variadas, realizadas em crochê, que lembram de imediato os formatos de casulos e

marsúpios, em que as tramas são formadas a partir de retalhos de tecidos rasgados e

reagrupados. A memória da infância da artista estabelece uma forte conexão com  sua recente

produção, na qual utiliza tecidos que possibilite criar tramas, construindo volumes e invólucros

vindos de uma espécie de viagem no tempo, em que algumas passagens de sua vida eram

envoltas por fantasias e sonhos de menina.

 

A partir da obra “Casulo” (que também serve de suporte para a sua performance de

mesmo nome), a artista apresenta um repertório muito peculiar que trata do recolhimento e

transformação, assim como pode ser observado na Natureza. Talvez por isso a escolha do

silêncio para executar a sua performance, que sugere o movimento feito pela lagarta antes de

adormecer coberta pelos seus fios e depois se libertar, já em outro corpo. Compete à artista,

confeccionar texturas e se desfazer delas quando não fica satisfeita com o resultado. Ela

persegue a forma desejada até alcançá-la.

 

Criada em uma família numerosa em que predominam as mulheres, Lidia Lisboa

encontrou-se com a maternidade aos treze anos de idade. Esta experiência marcante e

incrivelmente positiva (de acordo com as próprias palavras da artista), reaparece na poética de

sua série “Ventre”. Em formatos de úteros e marsúpios, seus trançados evocam a vida que está

por vir e reiteram a feminilidade tão presente em suas obras. Este ciclo criador surge em

outros trabalhos, semelhantes às ovas de animais em um estado letárgico como se ali dentro

existissem embriões germinando e prestes a eclodir.

 

Mesmo flertando com a moda e o design, a artista segue com o impulso de  formular

um pensamento sobre a criação da vida. Alguns de seus colares são feitos a partir da

justaposição de contas de cerâmicas moldadas a mão por ela mesma, formando um conjunto

que pode ser associado ao sagrado, tanto pela matéria de que é feito, quanto pelo formato.

Uma outra série de colares é feita a partir do desmembramento de bonecas de borracha e

plástico, reagrupadas com outros itens, de modo que formem um cordão de ordem aleatória,

mas que carrega em si uma forte carga dramática. Grande parte destas bonecas foram

encontradas pela artista, nas ruas de diferentes cidades por onde passou.

 

Não há como dissociar as experiências pessoais de Lidia Lisboa da sua inquietação

artística, revelando-nos uma produção biográfica, repleta de simbolismos e coberta de lirismo.

 

 

Até 17 de outubro.

 

CASULO

 

artista: Lidia Lisboa

curador: Marco Antonio Teobaldo

inauguração 19 de agosto – 18h

visitação 20 de agosto a 17 de outubro

terça a sexta – 12h > 18h

sábado – 10h > 13h

Galeria Pretos Novos

Rua Pedro Ernesto, 34 – Gamboa

fone 2516-7089

pretosnovos@pretosnovos.com.br

 

Um corpo e duas cabeças

Animais e plantas de cimento, pães calcinados; autorretratos, orelhas de ouro e prata aplicadas sobre conchas de caramujos, um divã carregado de simbologias. Em sentido literal e figurado, quase tudo o que Beatriz Carneiro e Ricardo Becker apresentam na exposição “Um corpo, Duas cabeças”, a partir do dia 29 de agosto, no Espaço Movimento Contemporâneo Brasileiro, EMCB, Horto, Rio de Janeiro, RJ, foi retirado “do fundo do baú” – seja de suas memórias ou de seus arquivos pessoais.

 

Dois nomes da cena contemporânea, eles vão apresentar suas reflexões, singularidades e experiências de arte em laboratórios espalhados pelo casarão do Horto, um imóvel tombado do início do século XIX. Duas instalações fluidas e livres vão ocupar salas, corredores, um pátio, e o segundo andar com obras reunidas pela curadora Cristina Burlamaqui.

 

 

Autorretrato com um mergulho em Brancusi, Magritte, Giacometti…

 

Ricardo Becker apresenta uma coletânea de trabalhos em que aborda questões autobiográficas, carregada de símbolos e autorretratos, além de fotos de partes de seu corpo. No trabalho de baralhos, o artista utiliza fotos de quando era criança.  Em outros reverencia artistas como Beyus, Brancusi e Giacometti. O ponto alto da instalação de Ricardo Becker é um  velho divã em couro utilizado na psicanálise, apoiado em quatro caramujos, no pátio, e faz composição com outros trabalhos do artista, feitos com galhos e fotos.

 

 

A palavra da curadora

 

“A visão consistente de Beatriz Carneiro, que transita entre escultura, instalação, pintura e videoarte, desponta como um antipoema dos anos 60, embeleza o processo do fazer e, mesmo quando usa materiais do cotidiano, foge da escultura tradicional, pois as obras se amontoam e vão invadindo os espaços”, analisa a Cristina.

 

“Becker apresenta sua produção desde os anos 80, com autorretratos, questões envolvendo sons e barulhos, como ‘orelhas de ouro e prata encravadas em grandes caramujos’. Ele mescla referências concretas com brincadeiras poéticas”, conclui Cristina Burlamaqui.

 

 

Um embate entre o Luxo e a Pobreza, a Natureza e a Civilização

 

Como base do laboratório de Beatriz Carneiro, elementos que poderiam ter sido resgatados de algum lugar da infância, como latas velhas amealhadas por aí, onde crescem plantas de cimento. Pães feitos de troncos calcinados e pés de javalis e tatus, reproduzidos em formas acimentadas, revelam o lado dark do seu trabalho, que tem forte conotação de arte povera, resgatando materiais simples e encontrados pelas suas andanças.

 

 

Sobre os artistas

 

Beatriz Carneiro é artista visual formada pela Escola Superior de Arte e Design de Genebra (Haute Ecole d’Art et Design Geneve – HEAD). A artista utiliza materiais orgânicos e industriais em pinturas, esculturas e vídeos. Dentre as exposições de Beatriz, destacam-se “Novas Aquisições 2012/2014 – Coleção Gilberto Chateaubriand” no MAM Rio e na Mercedes Viegas Arte Contemporânea. Nesta mesma galeria, ela ainda apresentou “Coletiva 12”, 2012-2013, “Construções para lugar nenhum”, 2012-2014 e “Cortes”.

 

Ricardo Becker é artista plástico e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Nos anos 80, ele começou a participar de exposições e teve destaque em mostras individuais, como “Desfazer Imagem” nas galerias Eduardo Fernandes, 2010 e Novembro, 2007, onde também esteve com o “Projeto Belvedere”, 2005. Dentre as exposições coletivas, Becker participou do V Salão da Bahia no MAM, 1998, no qual ganhou o prêmio Aquisição. Ele também fez parte do “Novas aquisições – Coleção Gilberto Chateaubriand” no MAM-Rio, 2004 e 2001. Em 20012, levou para a Casa de Cultura Laura Alvim o seu “Projeto Cisco”, com grande sucesso.

 

 

De 29 de agosto a 15 de outubro.

Em memória de artistas plásticos brasileiros

18/ago

Grandes representantes da arte visual brasileira da segunda metade do século XX já partiram

deixando saudades, mas perpetuam-se na história através de suas criações. A exposição “Era

só saudade dos que partiram”, no Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, Portão 10, São

Paulo, SP, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, homenageia alguns dos

artistas que fazem parte da trajetória artística do artista plástico Emanoel Araújo, fundador e

Diretor Curador da instituição.

 

A mostra é composta por aproximadamente 40 obras, entre pinturas, gravuras, esculturas e

fotografias, que revelam a diversidade de personalidades marcantes que partiram nos últimos

anos, como Antônio Henrique Amaral, Antonio Maluf, Arcangelo Ianelli, Edival Ramosa, Gilvan

Samico, Hércules Barsotti, Ivens Machado, Odetto Guersoni, Marcelo Grassmann, Maria Lidia

Magliani, Mestre Didi, Sonia Castro, Tomie Ohtake e Otávio Araújo, recém-falecido, aos 89

anos, no último dia 25 de junho de 2015.

 

Emanoel Araújo comenta: “Esta exposição é uma homenagem à memória dos artistas plásticos

brasileiros, falecidos em diferentes momentos, deixando lembranças das suas humanidades e

de suas criações.”

 

Alguns destes artistas fazem parte do Acervo do Museu Afro Brasil, como: Maria Lidia Magliani

(1946 – 2012), artista irreverente e marcante com suas pinceladas e cores; Mestre Didi (1917 –

2013) um “sacerdote-artista”, que foi um dos fundadores de uma linguagem afro-brasileira

com sua obra escultórica; Arcangelo Ianelli (1922 – 2009) que com cores fortes e uma

particular geometria, o acompanhou por toda sua vida em suas pinturas e esculturas; Edival

Ramosa (1940 – 2015), autor de pinturas, objetos, esculturas e jóias que se manteve fiel as

suas escolhas formais e cromáticas por toda sua carreira, unindo materiais naturais e

industriais e Otávio Araújo (1926 – 2015), que produziu gravuras, desenhos e pinturas

sensuais, aglutinadoras de uma poesia de mistérios e imagens e evocadoras de uma magia

atemporal.

 

 

De 18 de agosto a 18 de outubro.

Conversa entre artista e curadora

14/ago


Neste sábado, dia 15 de agosto, às 16h, o MAM Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, realiza uma conversa gratuita com a artista Iole de Freitas e a curadora Ligia Canongia na exposição “O peso de cada um”. A mostra, que pode ser vista até o dia 13 de setembro, ocupa o Espaço Monumental do Museu com uma instalação inédita, feita especialmente para o local, composta por três esculturas de grandes dimensões, duas suspensas e uma no chão, em aço inox espelhado e fosco, que pesam no total quase quatro toneladas. A exposição traz ainda trabalhos em vidro com impressão fotográfica sobre película, da série “Escrito na água”, de 1996/1999, pertencentes ao acervo da artista e da Coleção Gilberto Chateaubriand/ MAM Rio.

Francisco Dalcol apresenta Antônio Augusto Bueno na Galeria Mamute

12/ago

A Galeria Mamute, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, divulga e convida para a abertura da

exposição “Antes era só o vão”, do artista Antônio Augusto Bueno. A mostra com curadoria de

Francisco Dalcol apresenta um conjunto de trabalhos abrangendo pinturas, instalação, vídeo

com participação de Bebeto Alves, Eduardo Montelli e Luís Filipe Bueno e, gravuras em metal

impressas por Marcelo Lunardi.

 

 

A palavra do curador

 

Antes era só o vão

 

Os trabalhos de Antônio Augusto Bueno parecem atravessados por algo que não lhes

pertence, mas ao mesmo tempo os constitui. Esse aparente desacerto vem de uma indisciplina

do artista, no sentido de uma postura interessada na liberdade de experimentar no trânsito

entre linguagens, sem se prender a uma ou outra, intercambiando constantemente técnicas e

procedimentos.

 

Nas obras que integram a nova série “Antes era só o vão”(1), pintura é também gravura, assim

como escultura é desenho, e gravura é pintura. Os inversos também, pois um está sempre no

outro, formando zonas de indefinição. E ao se contaminarem, trazem como recompensa a

descoberta, com todas as aberturas e possibilidades que os momentos de incerteza ensejam.

 

A montagem da exposição na Mamute busca tirar força desses rebatimentos, do ir e vir que se

estabelece entre as obras e as diferentes modalidades artísticas que as compõem, propondo

ao espectador, a partir da disposição dos trabalhos, algumas relações visuais; umas mais

imediatas, outras menos explicitadas.

 

A instalação na entrada da galeria ocupa o pequeno espaço vago ao lado da escada. Se antes

era só um vão, há agora ali a tentativa de transformar esse não lugar em uma situação.

Realizado especialmente para esta mostra, o trabalho é composto por gravetos que Antônio

Augusto recolhe e estrutura em forma de armações, filiando-se a uma série de outras obras de

viés escultórico que tem realizado ao longo de sua produção. É como se ele desenhasse o

objeto no espaço, vendo nos galhos as linhas do desenho, mas também as manchas, quando

reunidos como espécie de grandes maços e ramalhetes.

 

As salas expositivas do andar de cima apresentam as novas pinturas e gravuras da série “Antes

era só o vão”. Nas telas em grande formato, as manchas carregam um aspecto de vestígios

ancestrais, como marcas de um tempo passado. Também lembram os troncos das árvores do

quintal do Jabutipê, o ateliê na antiga casa que Antônio Augusto mantém em uma rua ainda

silenciosa no Centro Histórico de Porto Alegre. Remetem ainda às paredes rachadas,

descascadas e fraturadas que permanecem em pé no casarão em ruínas próximo ao Jabutipê

onde foi gravado o vídeo do qual vem o título desta exposição.* De algum modo, essa

visualidade do entorno cotidiano do artista está impregnada nessas pinturas.

 

Mas nada seria assim sem a bem-vinda intromissão da gravura. Nessas pinturas, está plasmado

um processo alongado e pausado, fruto de um procedimento experimental. Sobre a massa de

pigmentos e tinta acrílica, o artista sobrepõe betume em algumas áreas. Esse material, muitas

vezes usado nos processos de gravura, vira tinta também, compondo novas manchas. As

camadas acumuladas são frequentemente raspadas, em um gesto de adição e subtração de

matéria, e também cavoucadas, como nos procedimentos de incisão da gravura. É um

processo não imediato, que leva dias, como o tempo de espera que muitas vezes a gravura

demanda. E nesse transcorrer, que permite um olhar mais vagaroso e, por isso, reflexivo, as

dúvidas advindas sempre dão a ver possibilidades a serem testadas e encaminhadas.

 

Pode-se pensar nesse sentido as gravuras da série. Pela primeira vez, Antônio Augusto

apresenta em público um conjunto representativo de trabalhos gráficos, essa modalidade

artística de tanta tradição e relevância histórica na arte gaúcha. Novamente, interessa ao

artista a margem experimental, aqui oferecida pela gravura em metal e pelo tempo próprio a

seu processo. Isso começa nos modos com que explora o desenho sobre as matrizes, passa

pela alquimia de ácidos e outros materiais aplicados nas placas como se ele as estivesse

pintando, e chega à etapa de impressão, cujas primeiras provas sempre levam o artista a

refazer o percurso do processo em busca de novos efeitos. Assim, a imagem final fixada sobre

o papel é antecedida por uma série de testes e experimentos. O que se obtém são resultados

sobrepostos e acumulados. Ao fim, continua sendo gravura, mas também desenho e pintura. E

ainda escultura. Se na instalação os gravetos se articulam como linhas no espaço, na gravura se

dá o oposto, com as linhas do desenho se tramando como se fossem elas os gravetos.

 

Em um olhar atento, é possível perceber que, ao longo da série “Antes era só o vão”,

evidencia-se um aspecto central que perpassa a totalidade da obra de Antônio Augusto de um

modo tão pessoal: o gosto pela artesania e pelo vagar que lhe é inerente, opções que, ao

serem assumidas pelo artista, ganham certo caráter político em tempos tão apressados e

automatizados como os nossos. Tempos esses dos quais apartar-se conscientemente significa

não só um ato de resistência, mas um gesto autêntico e singular de se colocar no mundo.

 

Francisco Dalcol

(1) “Antes era só o vão” é um trecho do texto de Luís Filipe Bueno que integra o vídeo

apresentado na exposição.

 

 

Sobre o artista

 

Antônio Augusto Bueno é Bacharel em Desenho (2004) e Escultura (2008), pelo Instituto de

Artes da UFRGS. Desde 1998 vem realizando exposições individuais, dentre elas “Cabeças –

armadilhas para um significado” no Museu do Trabalho / POA; “Anotador de Faces” Galeria

Municipal de Arte em Florianópolis, “Uma Maneira de Pensar” no MALG, Pelotas/RS, “As

desórbitas do avesso” na Arte&Fato galeria, POA/RS, “Gravetos Armados” no MAC RS,  Galeria

Iberê Camargo,  Porão do Paço Municipal, POA/RS, “Desenhos” no Estudio Dezenove, Rio de

Janeiro/RJ, “Um outro outono” MARGS.  Desde 1996 participa de exposições coletivas como

“Do Atelier ao cubo branco”, “A bela morte” e “O Cânone Pobre” no MARGS, POA/ RS, “Idades

Contemporâneas”, ”Entre A-Z” e “Da matéria sensível” no MAC-RS em POA/RS, “Desvenda” no

Museu da República, Brasília/DF, ArtLive 2011 na CATM Chelsea, Nova York/EUA. Participou de

salões, dentre eles o Salão do Jovem Artista no MARGS, POA/RS, Salão da Câmara, POA/RS e o

Salão Nacional de Cerâmica no Museu Alfredo Andersen, Curitiba/PR. Em 2015 lançou o livro

Jabutipê, em 2012  o livro “O último homem na lua” com exposição no MAC-RS e Ilustrou o

livro “Arame falado” editado pela editora 7 letras do Rio de Janeiro/RJ . Em 2007 recebeu o

Prêmio Açorianos na categoria Melhor Exposição Coletiva com o Grupo Passos Perdidos e em

2008, o Prêmio Açorianos na Categoria Cerâmica com o Bando do Barro, além de ser indicado

na categoria Artista Revelação. No ano de 2009 foi indicado na categoria Desenho, pela

exposição “Tempo sobre Papel”, em 2012 foi indicado na categoria Escultura pela exposição

“Gravetos Armados” e em 2013 foi indicado em cinco diferentes categorias. Em 2013 recebeu

menção honrosa no 2° `Prêmio IEAVi pela exposição “Circulando linhas”. Tem trabalhos em

acervos do MARGS, MACRS, UFRGS, Fundação Franklin Cascaes e Fundação Kingler Filho.

Participou em 2000, da criação do Atelier João Alfredo 512, onde trabalhou até 2007. Em 2007

e 2008 integrou o grupo do Atelier Subterrânea. Desde 2008 realiza seus trabalhos, ministra

aulas e coordena o espaço expositivo do Jabutipê, situado no centro histórico de Porto Alegre.

É artista representado pela galeria Mamute.

 

 

Sobre o curador

 

Francisco Dalcol é doutorando em História, Teoria e Crítica pelo Programa de Pós-Graduação

em Artes Visuais (PPGAV) do Instituto de Artes da UFRGS. Mestre pelo Programa de Pós-

Graduação em Artes Visuais (PPGART), da UFSM, na linha de pesquisa Arte e Cultura, com

ênfase em história, teoria e crítica (2013). Graduado em Comunicação Social, com habilitação

em Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Maria (2003), com especialização em

Comunicação e Projetos de Mídia, ênfase em arte, cultura, internet e cibercultura, pelo Centro

Universitário Franciscano – Unifra (2008). Também trabalha como jornalista (repórter e editor)

no jornal Zero Hora – Grupo RBS, sendo setorista de artes visuais. Tem experiência na área de

Comunicação, com ênfase em Jornalismo, Editoração, Jornalismo Cultural e Jornalismo Digital,

e também na de Artes e Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: história, crítica

e discursos sobre a arte e a produção cultural.

 

 

Até 09 de outubro.

Das ruas para as telas

07/ago

A CAIXA Cultural Rio de Janeiro apresenta a mostra “Movimentos”, do artista visual André De Castro. A exposição traz retratos e referências de jovens que participaram de manifestações democráticas no Brasil, em 2013, e também na Turquia, Grécia e Estados Unidos, formando um painel com 35 telas em serigrafia. No dia da abertura, haverá o lançamento de um catálogo bilíngue produzido pela Aeroplano Editora e Pratt Press.

 

O painel que compõe a mostra, iniciado em 2013 e em constante expansão, está sendo concluído nas exposições do Brasil com telas inéditas. A escolha da técnica não foi por acaso. O silkscreen, também conhecido como serigrafia, é associado a movimentos políticos históricos e a mitificação de personalidades, como Che Guevara, Marilyn Monroe e o presidente Barack Obama, por exemplo. A exposição na CAIXA Cultural traz ainda um texto inédito, bilíngue, do historiador Daniel Aarão Reis.

 

Para reunir as imagens e referências de cada jovem, André De Castro manteve contato com os manifestantes pelo mesmo meio que eles utilizaram para organizar as passeatas na época: a internet.

 

“Busquei contato por hashtags, em grupos do Facebook e no Twitter. A grande maioria dos participantes é de jovens que estão sempre conectados, e assim que os identifiquei, conversei sobre o projeto e ​pedi a cada retratado que enviasse uma foto de rosto e respondesse a uma série de perguntas relacionadas ao movimento político de seu país e sua identidade”, conta André, que não pretende, com seu trabalho, enaltecer heróis ou representantes dos movimentos, mas usar a técnica da serigrafia para valorizar o conjunto formado por indivíduos únicos. ​

 

A individual já foi exibida em Miami, durante a Art Basel; e em Nova York, na BKLYN Fair e na Opus Galery; e foi vista por cerca de 30 mil pessoas em Brasília e Belo Horizonte. Este ano, para dedicar-se à exposição “Movimentos”, no Brasil, o artista transferiu seu estúdio para a antiga fábrica da Behring, no Rio de Janeiro.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido no Brasil, o artista visual André De Castro vive e trabalha ​​entre o Rio de Janeiro e Nova York​. Em 2011, mudou-se para NY para cursar o Master of Fine Arts (MFA), no Pratt Institute e, desde 2013, mantém seu estúdio no bairro do Brooklyn e trabalha como diretor de arte na Saatchi and Saatchi.

 

Em 2009, André publicou seu primeiro livro “Funk – que batida é essa”, um conjunto de ilustrações que retratam o funk carioca, fruto do projeto de graduação na PUC, RJ. O artista venceu, em 2013, o prêmio ​Never Stop Never Settle, ​promovido pelo Pratt Institute e Hennessy US​ com o projeto “Movimentos”.

 

 

De 12 de agosto a 12 de setembro.

Christian Boltanski na Baró : Heartbeats

05/ago

A Baró Galeria, Jardins, São Paulo, SP, exibe “ Heartbeats”, primeira exposição do artista

francês Christian Boltanski em uma galeria na América Latina. A mostra, é composta por uma

instalação imersiva que ocupa o térreo do espaço da galeria. A instalação é uma adaptação da

obra “work in progress” Les Archives du Coeur (Os Arquivos do Coração) que, desde 2005, vem

percorrendo diversas instituições de arte coletando batimentos cardíacos de audiências ao

redor do mundo. O trabalho – uma espécie de registro existencial universal, segundo o próprio

artista – vai ganhando forma a medida que esses registros públicos vão sendo adicionados ao

arquivo permanente do artista, instalado na remota ilha japonesa Teshima.

 

Em “Heartbeats”, o processo se inverte: em vez de coletar as batidas dos visitantes, Boltanski

compartilha suas próprias. Por meio de amplificadores, os sons ressoam pelo ambiente

convidando o público para um mergulho no coração do artista. O órgão, comumente associado

ao símbolo da vida, se apresenta aqui como elo comum ao mesmo tempo que compõe a

singularidade de todos os seres. Arquivos e diretórios fazem parte do fascínio do artista desde

os anos 1960. Para Boltanski, eles representam grandes paradoxos: se por um lado são uma

forma potente e preciosa de reconquistar as perdas, por outro são passíveis de limitações e

inverdades. A partir deles, seus trabalhos lançam reflexões acerca da morte, da passagem do

tempo e da luta pela conservação das “pequenas memórias emocionais”. Para ele, essas

últimas confrontam aquelas registradas em livros de história por serem as grandes

colecionadoras das particularidades das experiências humanas.

 

 

Sobre o artista

 

Christian Boltanski nasceu em 1944, em Paris e atualmente vive e trabalha em Malakoff, na

França. Escultor, fotógrafo, pintor e cineasta, é considerado hoje um dos mais consagrados

artistas contemporâneos. O francês foi vencedor de diversos prêmios incluindo o Kaiser Ring,

Goslar, em 2001, o Praemium Imperiale Award pela Japan Art Association, em 2007, e mais

recentemente o Generalitat Valenciana’s International Julio González Prize, este ano.

Participou das principais mostras de arte do mundo como a Documenta (1972, 1977 e 1987) e

a Bienal de Veneza (1980, 1993, 1995 e 2011) e teve grandes retrospectivas e individuais nas

mais renomadas instituições de arte incluindo o Centre Georges Pompidou, em Paris, os

museus de arte contemporânea de Chicago e de Los Angeles, o Park Avenue Armory, em Nova

Iorque e Serpentine e Whitechapel Gallery, em Londres. Boltanski também tem trabalhado

com projetos de teatro incluindo Théâtre du Châtelet, em Paris, e o Ruhr Triennale, na

Alemanha.

 

 

Sobre a galeria

 

A Baró Galeria abriu suas portas em 2010 e desde então se estabeleceu como referência em

arte internacional no circuito brasileiro. Dirigida por Maria Baró (espanhola de nascimento), a

galeria busca aprofundar o diálogo entre artistas, curadores, colecionadores e instituições

culturais através, principalmente, de trabalhos site-specific. Em sua nova fase, a galeria volta

sua atenção para grandes artistas que despontaram entre os anos 1970 e 1980, como o filipino

David Medalla, o mexicano e ex-integrante do grupo Fluxus, Felipe Ehrenberg, o brasileiro

Almandrade, o chinês Song Dong e agora o francês Christian Boltanski.

 

 

Até 12 de setembro.