Duas mostras no MAM-Rio

13/abr

O MAM- Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura duas duas exposições: a primeira mostra individual do consagrado artista mexicano Damián Ortega e “Ver e ser visto”, que abordará as relações entre arte, imagem e psicanálise.

 

O artista Damián Ortega, que se divide entre a Cidade do México e Berlim, apresentará no Espaço Monumental do MAM Rio a exposição “O fim da matéria”, com uma instalação inédita em que um grande cubo de isopor de cerca de 6mx6mx6m será transformado durante o período da exposição por um grupo de escultores anônimos brasileiros, que originalmente trabalham para o carnaval. Todos os dias eles irão retirar pedaços deste cubo para fazer esculturas que, juntas, funcionarão como uma espécie de inventário da história da escultura. Dentre as obras que serão feitas em isopor estão trabalhos de artistas como Alberto Giacometti, Louise Bourgeois, Jeff Koons, Henry Moore, Ernesto Neto, Rodin, entre outros. Esta é a primeira exposição individual do artista no Rio de Janeiro, que só expôs anteriormente em uma instituição no Brasil em 2007, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte,MG.

 

 

Até 14 de julho.

 

 

Ver e ser Visto

 

Já a mostra “Ver e ser Visto” tem curadoria do psicanalista Guilherme Gutman e terá obras em diferentes técnicas e suportes, como pinturas, desenhos, esculturas e instalações, de cerca de 60 artistas brasileiros e estrangeiros, como Artur Barrio, Angelo Venosa, Anna Maria Maiolino, Carlos Zílio, Djanira, Gustavo Speridião, José Damasceno, Mira Schendel, Pancetti, Vieira da Silva, Waltercio Caldas, Wesley Duke Lee, entre outros.

 

Como parte da exposição, serão realizadas performances no MAM Rio.

 

No dia da abertura, às 19h, o artista Tiago Rivaldo apresentará “Horizonte de nós dois”.

 

No dia 18 de abril, às 16h, serão realizadas mais três performances: a terceira etapa da performance “Horizonte de nós dois”, chamada “Banco de Olhos”; “(Estudo para) um corpo ideal”, de Raphael Couto, e “Veste Nu”, de Daniel Toledo, Ana Hupe.

 

 

Até 19 de julho.

Ocupação Galo

08/abr

A “Ocupação Galo” será inaugurada na Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, no dia 08 de Abril, às 18 horas, quando será realizada, pela primeira vez, uma residência artística de uma semana, na qual o artista Galvani Galo expandirá suas pinturas murais em todas as paredes da galeria. Munido de tinta e pincéis em mãos, Galo realizará um trabalho site specific com seus personagens, híbridos de animais e máquinas, que possuem articulações mecânicas detalhadas e descritas em um sofisticado complexo que reporta aos manuais técnicos de engenharia mecânica. De acordo com o curador da mostra, Marco Antonio Teobaldo, sua pintura é carregada de ironia e reflete a inquietação do artista que tem exibidos seus trabalhos nas paredes  das construções das periferias dos grandes centros, sobretudo da grande São Paulo, cidade onde trabalha e reside.

 
A exposição terá ainda alguns objetos escultóricos (Toy Art), trabalhos em acrílica sobre tela e gravuras produzidas recentemente. Na mesma ocasião será lançado o programa Amigos do IPN, com o objetivo de sensibilizar um número maior de pessoas sobre a importância da preservação do sítio arqueológico, por meio de um sistema de doações voluntárias. A coordenação geral é de Ana Maria de la Merced Guimarães dos Anjos e a produção traz a assinatura da Quimera Empreendimentos Culturais.

 
A Galeria Pretos Novos tem acolhido dentro de sua programação diversas temáticas de exposições de artes visuais, realizadas por artistas contemporâneos do Rio de Janeiro e de outras localidades. A partir de pesquisa realizada pelo curador do espaço, os artistas convidados apresentam livremente suas propostas, tendo como ponto de partida suas percepções sobre o ambiente expositivo e a importante história que ele abriga. Esta experiência tem superado expectativas e trazido excelentes resultados, que se refletem na crescente visitação que a Galeria Pretos Novos vem recebendo, desde a sua inauguração.

 

 
De 08 de abril a 23 de maio.

Poemas Visuais

07/abr

A Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, São Paulo, SP, apresenta a mostra “Poemas Multimídia” de Paulo Aquarone. A exposição composta de poemas multimídia criados entre os anos de 1997 e 2014, através de objetos, vídeos e instalações, nos quais se destaca o lado lúdico de cada poesia, instigando o espectador a interagir com as obras.

 

Paulo Aquarone é poeta multimídia brasileiro, produz desde a década de 1990, trabalhos poéticos com apelo visual, buscando diversas mídias para concluí-los, entre elas o computador e internet que utiliza para divulgação e produção. Nesse período realizou exposições em diversos espaços como: Centro Cultural São Paulo, Casa das Rosas-Espaço Haroldo de Campos, FILE (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica) no prédio da FIESP, Biblioteca Nacional de Lisboa (comemoração aos 500 anos do Brasil), Caixa Econômica Federal, Biblioteca Central do Rio de Janeiro e São Paulo, Conexões Tecnológicas – Prêmio Sérgio Motta de Arte e Tecnologia, Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho – Castelinho do Flamengo, Rio de Janeiro, e VídeoBardo na Argentina. Também publicou seu trabalho em diversas revistas como em Boek 861 (Espanha), Celuzlose (Brasil), Expoesia visual experimental (México), L’eiffel terrible (Espanha), Texto Digital (Brasil), Literatas (Moçambique), ffooom (Brasil), entre outras.

 

 

A partir de 07 de abril.

Rodrigo Braga – Tombo

31/mar

Radicado no Rio há quatro anos, artista conhecido por sua pesquisa sobre a relação entre homem e natureza, Rodrigo Braga, faz instalação com troncos de palmeiras imperiais na Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, através da exposição “Tombo”, nome do site specific do jovem artista da cena de arte contemporânea.

 
Rodrigo Braga criou a instalação “Tombo” especialmente para o vão central da Casa França-Brasil. Ali, estarão dispostas no chão mais de 15 toras de aproximadamente cinco metros de comprimento cada, segmentadas de cinco palmeiras imperiais centenárias. “Tombo” provoca uma imediata relação com as 24 colunas internas do espaço, um dos marcos neoclássicos do país, construído em 1820 pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny (1776-1850), para ser a Praça do Comércio, em determinação de D. João VI.

 
A curadora Thais Rivitti observa que “as toras de árvore caídas, dispersas pelo espaço desordenadamente, e as colunas do prédio, construídas de forma regular e ritmada, criam entre si uma série de relações de aproximação e de distanciamento que se desdobram em vários sentidos”.  “Em primeiro lugar, o trabalho recoloca em discussão o par ‘natureza e cultura’: a natureza aparece nas palmeiras em seu estado bruto, e a cultura na arquitetura neoclássica da qual as colunas são parte importante”.

 
Ela lembra que foi justamente João VI, chegado ao Rio em 1808, quem plantou no recém-inaugurado Horto Real, atual Jardim Botânico, o primeiro exemplar da palmeira Roystonea oleracea, por isso batizada de imperial. As sementes, nativas do Caribe, chegaram às mãos do Rei trazidas das Ilhas Maurício, então colônia francesa no Oceano Índico. Na época buscava-se adaptar ao Brasil espécies estrangeiras. Da mesma forma que a palmeira, as colunas da Casa França-Brasil também representam esta tentativa de “aclimatação”. “Revestidas por uma pintura que imita mármore, mostrando o caráter problemático e postiço da importação de estilos e modos de vida, as colunas da Casa França-Brasil revelam ao visitante as adaptações do neoclássico no país”, explica.

 

 
Ruínas e transformação

 
Uma das salas laterais da Casa França-Brasil será ocupada por uma videoinstalação com imagens do processo de corte e retirada das palmeiras, já condenadas, no Horto, zona sul do Rio. Rodrigo Braga comenta que o título da exposição remete “ao desastre, ao tombo pela ruína ou pelo envelhecimento”. “Esta relação de perda, de envelhecimento, de queda, ou de derrubada deliberada pelo homem, de certa forma se relaciona com meus trabalhos anteriores, em que há este limite de tensão entre o que é a força da natureza e a força do homem, essa quebra de braço entre o que o homem é capaz de fazer com a natureza e de como a natureza é capaz de reagir”. “Mas também se relaciona com mudança, transformação, ciclo natural, de fim e recomeço”, diz. “Gosto de ver esta dimensão especulativa do trabalho, da imaginação das pessoas, qual leitura vão ter”.

 

Na outra sala lateral estarão referências históricas, como plantas arquitetônicas da antiga Praça do Comércio, desenhos de botânica, relatos de viajantes, e crônicas da época, como a do escritor francês Charles Ribeyrolles que, em 1858, descreve as palmeiras imperiais do Jardim Botânico “como uma sala em um palácio, como se fossem colunas elegantes, fazendo esta relação entre palmeira e arquitetura”.

 

 
Sobre o artista

 
Nascido em Manaus em 1976, Rodrigo Braga logo mudou-se para Recife, onde graduou-se em Artes Plásticas pela UFPE (2002). Atualmente vive no Rio de Janeiro. Expõe com regularidade desde 1999 e em 2012 participou da 30ª Bienal Internacional de São Paulo. Em 2009 recebe Prêmio Marcantonio Vilaça – Funarte/MinC; em 2010 o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, em 2012 o Prêmio Pipa/MAM-RJ Voto Popular e em 2013 o Prêmio MASP Talento Emergente. Possui obras em acervos particulares e institucionais no Brasil e no exterior, como MAM-SP, MAM-RJ e Maison Européene de La Photographie, Paris.

 

 
Visita guiada e conversa aberta

 
No dia 29 de abril de 2015, às 19h, será realizada na Casa França-Brasil uma conversa aberta com o artista Rodrigo Braga e a curadora Thais Rivitti. No dia 2 de maio, às 16h30, o artista Rodrigo Braga fará uma visita guiada para o público.

 

 
De 1º de abril a 24 de maio.

Made in Brasil

11/mar

Chama-se “Made in Brasil” a exposição inédita que reunirá na Casa Daros Rio, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, mais de 60 obras de alguns dos mais importantes artistas brasileiros da contemporaneidade. São instalações, fotografias, objetos, vídeos e desenhos de Antônio Dias, Cildo Meireles, Ernesto Neto, José Damasceno, Miguel Rio Branco, Milton Machado, Vik Muniz e Waltercio Caldas, todos pertencentes à Coleção Daros Latinamerica.

 

 

De 21 de março a 09 de agosto.

Marina Abramović no Brasil

09/mar

Sob a curadoria de Jochen Volz, o Sesc Pompéia, São Paulo, SP, apresenta a maior retrospectiva da artista na América do Sul. O evento “Marina Abramović  – Terra Comunal”, abriga três instalações de imersão, exemplares que representam as mais importantes performances de Marina Abramović  nos últimos doze anos, uma seleção especial de vídeos de todas as fases de sua carreira e um espaço destinado aos “Objetos Transitórios” – criados com minerais e outros materiais orgânicos do Brasil -, que apontam a contínua e produtiva relação da artista com o país desde 1989. Na programação consta ainda a apresentação (única) da performance do artista Ayrson Heráclito no dia da abertura, e uma intensa programação paralela durante a permanência da mostra em cartaz.

 

Oito artistas brasileiros, selecionados por Marina e outros curadores, também realizam performances autorais de longa duração durante a mostra. Para participar, é necessário inscrever-se previamente no site do Sesc.

 

A programação recebe também “Space In Between” (Espaço Entre), um espaço dedicado ao aprofundamento de pesquisa sobre performances e arte imaterial. Nele acontecem palestras e atividades com artistas e convidados de diferentes áreas.

 

 

De 10 de março a 10 de maio.

Matías Duville na Luisa Strina/SP

05/mar

Galeria Luisa Strina, Cerqueira Cesar, São Paulo, SP, apresenta “Escenario, proyectil”, a segunda exposição individual do artista argentino Matías Duville, cinco anos após sua primeira exposição na galeria. Seu trabalho se encontra exposto atualmente no CCSP- Centro Cultural São Paulo na exposição coletiva “Beleza?”. Durante o mês de março, o artista inaugura exposição individual no MAM-Rio.

 

O trabalho de Matías Duville gira em torno de temas como espaço e volume, elementos orgânicos e inorgânicos, os quais muitas vezes tomam a forma de grandes instalações no espaço expositivo. Para a exposição na Galeria Luisa Strina, Matías Duville desenvolveu desenhos em grande escala, um video, uma instalação central e peças montadas no chão da galeria, explorando a relação entre civilização e natureza.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em Buenos Aires, em 1974, participou de uma série de residências na Colômbia (FLORA, Honda, 2014); França (SAM Art Projects, Paris, 2013); EUA (John Simon Guggenheim Memorial Foundation Fellowship, New York, 2011 e Skowhegan Residency Scholarship, 2011); Itália, Brasil e Peru. Participou também de exposições coletivas no Petit Palais, Paris (2013); MUSAC – Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León (2010); MALBA-– Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (2009); CIFO – Cisneros Fontanals Art Foundation, Miami (2008). Também realizou um projeto conjunto no Drawing Center de Nova Iorque , em 2009, que resultou em livro publicado em 2013. Seu trabalho faz parte das coleções do MOMA – Museum of Modern Art, New York; MALI – Museo de Arte de Lima, Peru; MACRO – Museo de Arte Contemporaneo de Rosario, Argentina; MAMBA – Museo de Arte Moderno de Buenos Aires; Patricia Cisneros Collection, New York, EUA; ARCO Foundation, Madrid, Espanha.

 

 

Até 28 de março.

Enigmas

03/mar

A Fundação Vera Chaves Barcellos e o Centro Municipal de Arte Hélio Oitica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresentam nas Galerias 1 e 2 (térreo), a exposição “Enigmas”, de Vera Chaves Barcellos. A abertura da mostra integra a programação do Tiradentes Cultural, iniciativa conjunta de espaços culturais situados no entorno da Praça Tiradentes.

 
Partindo de uma imagem fotográfica e com uma origem totalmente circunstancial, “Enigmas” surge de três fotografias de primatas do Zoológico de Barcelona que, manipuladas em laboratório, conformaram as três principais imagens da exposição. Em cada uma se propõe um conceito: o olhar ou atenção, a mão ou o gesto, a reflexão ou o pensamento. Destes conceitos, surgem outros elementos que resultam nessa instalação.

 
Construída como uma espécie de laboratório – composto por fotografias, imagens, fósseis, pedaços de pele e caixas de sal -, “Enigmas” lança o público em um universo tão familiar quanto intrigante, confrontando-o com o desconhecido mas também com o reconhecível. O projeto, financiado pela Rede FUNARTE, marcou a abertura da Fundação Vera Chaves Barcellos em 2005, em Porto Alegre. Ao completar 10 anos, a mostra chega ao Rio de Janeiro.

 
Para o curador Bernardo José de Souza, “Enigmas” resgata questões ontológicas que jamais deixaram de despertar a curiosidade do homem, e fazer avançar o conhecimento científico. “Vera Chaves Barcellos investiga a natureza humana e, por consequência, a origem da vida”.

 
“Fotografias de primatas contemplativos, aparentemente confortáveis em suas celas num zoológico, produzem um incômodo sentimento de empatia com esta espécie ancestral tão semelhante à nossa ao ponto de recuperarmos, ainda que inadvertidamente, a noção de sermos todos animais – muito embora nós dotados de uma inteligência transcendente”, revela o curador.

 
Está previsto um encontro entre a artista, o curador e Fernando Cochiaralle aberto ao público, e também haverá o lançamento do catálogo da exposição.

 

 
Texto do curador
Enigmas – por Bernardo José de Souza

 
A partir de uma série de elementos visuais que nos fornecem pistas sobre as questões ontológicas que jamais deixaram de despertar a curiosidade do homem, e fazer avançar o conhecimento científico, Vera Chaves Barcellos investiga a natureza humana e, por consequência, a origem da vida. Construída como uma espécie de laboratório, esta instalação composta por imagens, fósseis, pedaços de pele e caixas de sal, lança o público em um universo tão familiar quanto intrigante, confrontando-o com o desconhecido, mas também com o reconhecível.

 
Fotografias de primatas contemplativos, aparentemente confortáveis em suas celas num zoológico, produzem um incômodo sentimento de empatia com esta espécie ancestral tão semelhante à nossa ao ponto de recuperarmos, ainda que inadvertidamente, a noção de sermos todos animais – muito embora nós dotados de uma inteligência transcendente. Entretanto a faculdade de pensar que, em tese, nos permitiria compreender a complexidade do mundo e das coisas de maneira holística, aparta a humanidade dos demais seres vivos, gerando uma cisão entre cultura e natureza absolutamente deletéria à manutenção da vida; esta consiste em uma das principais questões a se impor à agenda contemporânea nesta era do antropoceno, quando o homem impacta o ecossistema de forma tão dramática ao ponto de rivalizar com as sucessivas mudanças de ordem natural e geológica ocorridas em nosso passado remoto.

 
Se a tipologia de peles de vison (caçados, abatidos?) dispostas na parede concorre com os resíduos de sal que formam um alfabeto grego nas caixas dispostas pelo chão, aludindo assim não só à selvageria de nossa relação com o reino animal, mas também à esfera do conhecimento acumulado ao longo da história, é, no entanto, a imagem de uma primata, vestindo véu e grinalda, que sintetiza a condição humana. Somos os mesmos, mas também somos o outro.

 
A relação com a alteridade segue profundamente mal resolvida em nossa espécie, em que pese nosso esforço coletivo para superar querelas filosóficas e científicas quanto à essência humana, quanto às faculdades humanistas e quanto a esta centelha criativa, por nós tão celebrada, que nos distingue no cosmos de toda e qualquer forma de vida da qual se tem notícia.

 
A imagem difusa da galáxia M100, registrada pelo telescópio Hubble, e publicada pela Associated Press, nos dá a dimensão do universo, mas também a escala e a estatura do homem. O céu seria o limite? Mas há limites para a engenhosidade humana, tanto na ciência quanto na ficção? Não seriam a vida e a própria ciência formas de ficção?

 
Representamos o mundo e, apenas assim, dele depreendemos sentido. Somente deste modo fomos capazes de articular a linguagem, ela própria um instrumento de limitado alcance face à complexidade do mundo.

 
Em seu processo de criação intuitivo, Vera Chaves Barcellos parece ignorar a busca pela resposta última, pelo elo perdido, assim descartando o evolucionismo e mesmo o misticismo para nos demandar ontologicamente, sempre a partir da linguagem: que coisa é essa que chamamos arte?

 

 
Sobre a artista

 
Vera Chaves Barcellos nasceu em Porto Alegre, RS, Brasil, em 1938. Nos anos 60, dedicou-se à gravura depois de estudos na Inglaterra e Holanda. Em 1975, foi bolsista do British Council, no Croydon College em Londres, estudando fotografia e sua aplicação em técnicas gráficas. Em 1976, participou da Bienal de Veneza com o trabalho Testarte. Está entre os fundadores do Nervo Óptico (1976-78) e do Espaço N.O. (1979-82), e também da galeria Obra Aberta (1999-2002), atuantes no sul do Brasil. Realizou inúmeras exposições individuais no Brasil e no exterior; participou de quatro Bienais de SP e exposições coletivas na América Latina, Alemanha, Bélgica, Coréia, França, Holanda, Inglaterra, Japão, Estados Unidos e Austrália. Como artista convidada, participou da exposição Cegueses no Museu de Arte de Girona e do Panorama de Arte Brasileira em SP (1997), do Salão Nacional do RJ e da exposição Pasaje de Ida, na Galeria Antonio de Barnola, Barcelona, Território Expandido no SESC Pompéia, SP (2000) e Sem Fronteiras, mostra de abertura do Santander Cultural, em Porto Alegre (2001), onde mostra sua instalação Visitant Genet. Entre suas exposições, a partir do ano 2000, individuais estão: Visitant Genet no Museu D´Art de Girona (2000) e Le Revers de Rêveur na Capela de San Roc, em Valls, (2003), ambas na Espanha, e Enigmas, FVCB, Porto Alegre, (2005). Em 2007, realizou uma grande mostra antológica – O Grão da Imagem – realizada no Santander Cultural, em Porto Alegre, Brasil. Essa mostra contou com curadoria triple de Agnaldo Farias, Fernando Cocchiarale e Moacir dos Anjos. Participou da V Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Porto Alegre (2005) e da mostra MAM na Oca, Arte Brasileira do Acervo do MAM, São Paulo, (2006). Com curadoria de Glória Ferreira, faz uma grande mostra abrangente de sua trajetória denominada “Imagens em Migração”, no MASP, São Paulo, em 2009. No mesmo ano, publicou o livro “Vera Chaves Barcellos- Obras Incompletas”, Editora Zouk, sobre sua obra, analisada em detalhes num extenso texto do filósofo francês especializado no estudo da imagem fotográfica contemporânea, François Soulages. Desde a década de oitenta, realiza instalações multimídia, empregando, além da fotografia, outros meios. Instituiu uma fundação que leva seu nome, dedicada à divulgação da arte contemporânea (2004). Vive e trabalha em Viamão, RS, Brasil, mantendo também seu estúdio em Barcelona, Espanha, desde 1986.

 

 
De 07 de março até 23 de maio.

Zerbini no Galpão Fortes Vilaça

27/fev

Luiz Zerbini retorna a São Paulo para apresentar “Natureza Espiritual da Realidade”,  exposição individual no Galpão Fortes Vilaça, Barra Funda, São Paulo, SP. Através de uma grande instalação e de oito pinturas de grande e médio formato, o artista explora justaposições entre figuração e geometria, natureza e arquitetura. Essas temáticas, frequentes em sua trajetória, são apresentadas com uma complexidade inédita.

 
Em sua pintura, Zerbini parte de imagens fotográficas e as sobrepõe a outros elementos abstratos em uma complexa trama onde figura e fundo se confundem. O modo não-hierárquico como esses elementos são arranjados segue uma lógica interna do processo, em que uma imagem pede por outra sucessivamente, até que a composição se complete. Em Ilha da Maré, essa trama inclui um palco precário com uma galinha, caixas de som, siris, ladrilhos e, finalmente, o mar − ou sua visão particular da água do mar, que permeia ainda outros trabalhos da exposição. Buraco retrata uma caixa com padrões geométricos distintos que é encoberta pela maré. Uma Onda de aspecto ameaçador invade a  maior pintura da exposição, recortada por distúrbios que imprimem ainda mais velocidade à imagem. Em Cachoeira, faixas de cor cruzam a tela e são interrompidas por fragmentos de galhos e pedras, mesclando figuração e geometria de maneira ainda mais complexa.

 
Os trabalhos geométricos da mostra também estão associados à figuração. Algumas obras partem de uma imagem e se tornam totalmente abstratas; outras ganham referências a lugares e objetos em seus títulos. Efeitos óticos norteiam essas pinturas, assim como as experimentações com cor. Em Serra do Luar, uma grade prateada de losangos é sobreposta a outra de quadrados, com intrincado esquema de cores e degradês. Em Ultramarine, um azul denso e opaco  contrasta com as faixas de cores metálicas luminosas em primeiro plano. Os pequenos quadrados coloridos de Chuvisco, por sua vez, confundem o foco da visão e provocam a sensação de miopia.

 
Natureza Espiritual da Realidade − trabalho que dá nome a exposição − é uma instalação composta por dez mesas de madeira, configuradas como vitrines museológicas. O trabalho ganhou sua primeira forma em 2012 quando Zerbini o incluiu na mostra Amor no MAM Rio e, em 2014, recebeu nova composição em Pinturas na Casa Daros, também no Rio de Janeiro. A cada exposição a ordenação das mesas e de seus elementos é alterada, dando ao trabalho um dinamismo constante. Divididas em quadrados, as mesas incluem objetos curiosos recolhidos pelo artista, achados a esmo em viagens ou colecionados por razões pessoais. Conchas, pedras, tijolos, ladrilhos, troncos, plantas, redes de pesca e até mesmo uma nota de dez reais se organizam ora como naturezas mortas, ora como composições abstratas. O tampo de vidro também recebe interferências do artista com grafismos e gelatina colorida, causando alterações na incidência de cor e luz sobre os elementos.

 
Ao estabelecer um diálogo direto com as obras na parede, a instalação pode ser lida como a organização sistemática das referências presentes nas pinturas − um inventário do universo particular do artista. No entanto, é possível também fazer o raciocínio inverso e entendê-la como uma tradução tridimensional do processo pictórico de Zerbini − em especial o modo como organiza elementos tão díspares através de cor e geometria. Natureza Espiritual da Realidade é, portanto, ponto de partida da sua pesquisa, mas ao mesmo tempo o campo de atração de todo o seu trabalho, para o qual todas as coisas parecem convergir.

 

 
Sobre o artista

 
Luiz Zerbini nasceu em 1959, em São Paulo, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro desde 1982. Sua obra foi tema de grandes exposições individuais nos últimos anos, entre as quais: Pinturas, Casa Daros (Rio de Janeiro, 2014); amor lugar comum, Inhotim (Brumadinho, 2013); Amor, MAM (Rio de Janeiro, 2012). Sua obra está presente em diversas coleções públicas, entre as quais: Inhotim Centro de Arte Contemporânea (Brumadinho); Instituto Itaú Cultural (São Paulo); Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; e Museu de Arte Moderna de São Paulo. Paralelamente, Zerbini ainda integra desde 1995 o coletivo Chelpa Ferro, com Barrão e Sérgio Mekler, que explora as relações entre as artes visuais e a música.

 

 

De 28 de fevereiro até 28 de março.

Karin Lambrecht no Instituto Ling

26/fev

O Instituto Ling, Porto Alegre, RS, apresenta em sua galeria, a exposição “Pintura e Desenho”, individual de Karin Lambrecht.  A mostra traz três grandes obras – duas pinturas e uma instalação, composta por desenhos e materiais diversos. O texto de apresentação é de Glória Ferreira e a museografia ficou a cargo de Ceres Storchi.

 
Trabalhando no campo expandido da pintura e da escultura, Karin Lambrecht usa sucatas e objetos variados, além de pigmentos de cores vibrantes que produz e materiais orgânicos, como sangue animal, carvão, água da chuva e terra. Elementos recorrentes em sua obra como as cruzes, o corpo humano e palavras enigmáticas escritas à mão ou carimbadas, emergem das camadas de tinta e sugerem temas como doença, morte e cura.

 
A instalação “Eu sou tu” – uma tenda de voile na qual é possível deitar-se – é inspirada no capítulo “Neve”, do romance “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, e representa um lugar de cura.

 
Já as pinturas “Encontro” e “Schattenwelt” (mundo das sombras), em acrílico sobre tela, apresentam grandes campos de cor e trazem a cruz como elemento principal, tratando de seu anseio por retomar a dignidade espiritual e simbólica da arte, o retorno ao mundo natural, à religiosidade e à transcendência.

 
Nos desenhos apresentados, como os da série “Perdão”, Karin Lambrecht  incorpora pedaços de tijolos de barro tradicionais, feitos de argila. Elemento comum em sua pintura, a artista emprega este material pela primeira vez em seus desenhos.

 

 

Até 10 de maio.