Instalações com luz solar

30/maio

A Galeria Deco, Bela Vista, São Paulo, SP, apresenta, a primeira exposição individual do artista japonês Koji Munemasa em São Paulo. Intitulada “Viewing the Same: Pôr do Sol de São Paulo e Nascer do Sol de Tokyo”, a mostra reúne uma série de instalações que utilizam a luz solar e espelhos para tratar da sensação de felicidade.

 

Sombras, reflexos, autorreconstrução e imagens projetadas são usadas com maestria pelo artista que tem como intuito levar o especador a refletir sobre a pequenez dos problemas cotidianos, a partir de uma experiência sobre a luz. O comparativo da distância solar exige do conhecimento científico de Koji Munemasa um cálculo de posicionamento e ângulos que é um ato lúdico de estruturação do espaço, tratando a luz solar não só como fonte energética, mas uma existência que engendra graça e sensação de felicidade. O artista também mostra uma série de mensagens de paz refletidas com luzes e espelhos em muros e paredes de construções ao redor da galeria.

 

O destaque da mostra é a instalação “Viewing The Same”, na qual Koji Munemasa ocupa uma das salas da galeria com uma janela voltada ao lado oeste, representando um ponto de vista do sol nascente no Japão em uma parede.  A obra deve ser visitada no entardecer, mais precisamente ao pôr do sol. São Paulo e Tóquio se encontram em posições opostas nos meridianos do globo terrestre, o pôr do sol daqui é o sol nascente de lá. Participa ainda da mostra uma instalação que projeta uma silhueta humana que, através de um espelho mecanizado, desenha na superfície da parede a imagem do modelo com luz incidente sobre a sombra. Além de sua produção e pesquisa, Koji Munemasa atua como escultor de objetos para a renomada artista japonesa Yayoi Kusama.

 

 

Até 15 de junho.

José Damasceno na Fortes Vilaça

13/maio

A Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Sobre o Objeto de 8º Grau”, individual de José Damasceno. O artista apresenta sua mais recente instalação, homônima ao título da mostra, além de um conjunto de serigrafias e uma pintura na parede do espaço expositivo. Sobre o “Objeto de 8º Grau” é um conjunto de pequenas esculturas de obsidiana distribuídas sobre duas mantas retangulares de feltro no chão, como recentes descobertas de um sítio arqueológico. Damasceno, que frequentemente emprega em suas esculturas diversos tipos de rochas, dessa vez elegeu a obsidiana que lhe despertou interesse durante suas viagens a Guadalajara. Trata-se de uma espécie de vidro vulcânico, criada a partir da rápida solidificação do magma; amplamente difundida na Mesoamérica pré-colombiana, era usada como espelho e também como ferramenta bélica, e frequentemente associada ao ocultismo e a rituais astecas.

 

Contrastando com a opacidade do feltro, a superfície negra e reflexiva de cada peça de obsidiana reflete em si a imagem de cada uma das outras peças da exposição, criando um jogo de espelhos que, por sua vez, evoca o pequeno texto “La imagen de séptimo grado”, do escritor argentino Macedonio Fernández. Nele, o autor descreve a viagem de uma imagem através de diferentes reflexos (a memória e a representação pictórica entre eles) e defende que em cada qual a imagem deixa sua própria inscrição.

 

De maneira semelhante se colocam os “Estudos Paragráficos II”, um conjunto de doze serigrafias dispostas linearmente na parede contígua à instalação. Nesses trabalhos, a palavra paragráfico revela uma mediação entre a inscrição gráfica e suas possibilidades de materialização, salientando a tensão entre as dimensões bi e tridimensional, o virtual e o real. A obra de Damasceno coloca-se na zona limítrofe onde o imaginário multiplica-se nos diversos reflexos da linguagem, e a experiência do real se dilui nesses reflexos. A proposta de Damasceno não é, portanto, apresentar um objeto de oitavo grau, mas um convite a procurá-lo.

 

 

Sobre o artista

 

José Damasceno nasceu no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais, destacam-se Coordenadas y Apariciones, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid, Espanha (2008); Espace Topographie de l’Art, 37 Festival d’ Automne à Paris, France, 2008; Viagem à Lua, 52. Biennale di Venezia, Pavilhão Brasileiro, Venice, Italy, 2007; Observation Plan, Museum of Contemporary Art, Chicago, USA, 2004. Em exposições coletivas, destacam-se: Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil, Wexner Center for the Arts, Ohio, USA, 2014; Biennale of Sydney, Australia, 2006; XXV Bienal de São Paulo, Brasil, 2002. Sua obra está presente em diversas coleções públicas, entre as quais: Cisneros Fontanals Art Foundation – CIFO, Miami, USA; Colección Jumex, DF, Mexico; Daros-Latinamerica AG, Zurich, Switzerland; Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, Brasil; MACBA – Museu d´Art Contemporania de Barcelona, Barcelona, Spain; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; MoMA, New York, USA.

 

 

De 17 de maio a 14 de junho.

Diálogos Móveis

12/maio

A galerista Marcia Barrozo do Amaral, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre as portas da galeria para a apresentação da instalação “Diálogos Móveis” do artista plástico Luiz Phillippe, que além de ter obras no acervo do colecionador Gilberto Chateaubriand, no MAM-Rio, já realizou exposições individuais em Roma, na Galeria Candido Portinari – Embaixada do Brasil, e na The Economist Art Gallery, de Londres, onde pode comemorar a venda de um de seus trabalhos para o ex-beatle George Harrison. Nesta instalação, que é uma continuidade da conhecida série das cadeiras de pernas cruzadas do artista, o espectador se vê substituído pelas cadeiras, nas quais ele normalmente se sentaria. É impedido por elas próprias, que cruzam as pernas, sentadas sobre si mesmas e dialogam em situações e atitudes até então reservadas a eles. Como se dessem uma pausa para repensar a sua longa existência. “Quem? As cadeiras ou os homens?”, questiona Luiz.

 

A partir de 16 de maio, participando do projeto CIGA / ArtRio – Circuito Integrado de Galerias de Arte.

Até 23 de maio.

Visita guiada

05/maio

Nesta quarta-feira, 7 de maio, às 19h, acontece o lançamento do catálogo e a visita guiada à mostra “águas furtadas”, com a artista Laura Erber e a curadora Glória Ferreira, na Galeria Laura Alvim, Casa de Cultura Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Haverá distribuição de catálogos aos presentes. Entrada franca.

 

A exposição reúne videoinstalações e colagens realizadas de 2008 a 2014, em que Laura Erber coloca em tensão cinema, vídeo e pintura, fazendo emergir histórias de águas e com elas, figuras literárias, míticas ou reais, destoantes entre si, como o poeta Ghérasim Luca morto no rio Sena em 1994, uma Vênus em desequilíbrio nas rochas do Mediterrâneo ou os primeiros caranguejos do planeta, como narrados por uma menina de seis anos. em sua versão da origem da vida, na pequena televisão de uma casa de bonecas.

Arte Chinesa

11/abr

Inaugura na Oca, Parque Ibirapuera, São Paulo, SP, a exposição “ChinaArteBrasil”. A mostra apresenta mais de 110 obras distribuídas entre pinturas, esculturas, instalações, fotografias, vídeos, site specifics, todas inéditas em São Paulo, criações de 62 artistas chineses contemporâneos. “ChinaArteBrasil” propõe intensificar o diálogo cultural entre Brasil e China. Assim, duas curadoras, historiadoras de arte, foram convidadas para selecionar o acervo da mostra: a brasileira residente em Berlim Tereza de Arruda e a chinesa Ma Lin, que vive e trabalha em Shangai.

 

Tereza reuniu obras de artistas pertencentes à primeira geração dos grandes expoentes que demarcaram o cenário chinês e internacional a partir da década de 1990. São eles: Ai Weiwei, Cao Fei, Chen Qiulin, Cui Xiuwen, Feng Zhengjie, He Sen, Huang Yan, Jin Jiangbo, Li Dafang, Li Wei, Liu Jin, Lu Song, Luo Brothers, Ma Liuming, Miao Xiaochun, Rong Rong & Inri, Shi Xinning, Wang Chengyun, Wang Qingsong, Wang Shugang, Weng Fen, Xiao Ping, Xiong Yu, Xu Ruotao, Yang Fudong, Yang Qian, Yang Shaobin, Yin Xiuzhen, Yu Hong, Yuan Gong, Zhang Hui e Zhou Tiehai.

 

Em “A Arte Chinesa Intervém na Sociedade”, o foco são as conversas sobre como os artistas apresentam os problemas sociais e como rompem os limites da arte.

No segmento “História, Memória e Futuro”?, Ma Lin mostra artistas que, por meio de diferentes temas e suportes, exploram diferentes problemas que as pessoas alguma vez já imaginaram ou negligenciaram. A terceira e última parte, “Imagem e Forma”, discute o desenvolvimento da pintura no pós-modernismo, que destaca o relacionamento entre imagem e forma.

 

 

Até 18 de maio.

Nazareno apresenta obras inéditas

07/abr

O Oi Futuro, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Somos Iguais” do artista Nazareno, sob a curadoria de Tainá Azeredo. No primeiro nível, o artista apresentará instalação composta por 18 instrumentos musicais infantis restaurados, acompanhados de fotografias em grandes formatos registrando o estado em que foram encontrados. Uma trilha sonora criada pelo músico Paulo Beto a partir dos próprios instrumentos de brinquedo, especialmente para a mostra, completa a ambientação. O arranjo parte da tentativa de reprodução de músicas infantis e melodias harmônicas, mas acaba por criar sons inusitados produzidos pelos instrumentos defeituosos. Os pequenos instrumentos exibidos foram pinçados da coleção particular de Nazareno, formada desde o final dos anos 1990. O artista começou a restaurá-los no ano 2000 e enfrenta dificuldades em conseguir peças para completar os reparos. Para exibir sua visão sobre homens e instrumentos, as obras serão expostas com suas particularidades moldadas pelo tempo. Alguns foram completamente restaurados, outros apresentam mazelas e os danos causados pelo uso e o passar dos anos.

 

“Alguns foram fabricados há mais de 60 anos e as peças já não são mais produzidas”, conta Nazareno. “Este trabalho tem relação direta com os sentimentos humanos. A impossibilidade de consertar os danos se mostrou como uma metáfora: assim como os brinquedos, alguns sentimentos, depois de danificados, não podem ser reparados. Nesse ponto, acredito que nós ‘Somos Iguais’ aos instrumentos”, conclui.

 

No nível térreo, serão exibidas fotos autobiográficas inéditas da série de “De Onde (eu) Venho”, que ilustram o processo criativo do artista, registrando seu local de trabalho. Completam a mostra três vídeos do artista feitos especialmente para a ocasião. Munido de uma câmera, Nazareno foi a casas de amigos registrar particularidades de seus ambientes. Os vídeos foram designados pelos nomes dos proprietários das residências. A produção está a cargo de Anderson Eleotério e Izabel Ferreira – ADUPLA Produção Cultural.

 

 

Sobre o artista

 

Nazareno nasceu em São Paulo e passou sua infância e adolescência em Fortaleza. Em 1987, mudou-se para o Distrito Federal, onde concluiu bacharelado em Artes Visuais pela Universidade de Brasília em 1998. A partir do ano seguinte, participou de diversas exposições de destaque pelo Brasil e exterior e foi premiado no Salão de Artes Visuais de Brasília de 2001. Em 2004, lançou o livro “São as Coisas que Você Não Vê que nos Separam” e em 2013 o livro “Num lugar não longe de você”. Possui obras em diversas coleções públicas e privadas. Nazareno é reconhecido por explorar aspectos relativos a memórias, perdas e superações. Também trabalha questões como a impossibilidade de transformação do sujeito frente ao mundo contemporâneo. “Entrar no trabalho de Nazareno é como abrir um álbum de família, em que cada página e cada imagem vem acompanhada de uma narrativa pessoal, transformada pelo tempo e pela memória. Buscando nas raízes profundas de sua própria história e escavando um passado familiar, o artista fala sobre a impossibilidade da recuperação de emoções que pertencem a um tempo antigo”, explica a curadora, Tainá Azeredo.

 

 

Sobre o Oi Futuro

 

O Oi Futuro é o instituto de responsabilidade social da Oi, que desenvolve e apoia programas e projetos nas áreas de educação, cultura e sustentabilidade. O Oi Futuro tem um compromisso com a transformação e com a inclusão social, tendo como missão promover o desenvolvimento humano por meio das tecnologias da informação e da comunicação. Desde 2001, suas ações visam democratizar o acesso ao conhecimento e reduzir distâncias geográficas e sociais, com especial atenção à população jovem.

 

Na educação, os programas NAVE e Oi Kabum! usam as tecnologias da informação e da comunicação, capacitando jovens para profissões na área digital e criativa, fornecendo conteúdo pedagógico para a formação de educadores da rede pública e fomentando o desenvolvimento de modelos inovadores. Já na área cultural, o Oi Futuro mantém dois espaços culturais no Rio de Janeiro (RJ) e um em Belo Horizonte (MG), com programação nacional e internacional de qualidade reconhecida e a preços acessíveis, e o Museu das Telecomunicações nas duas cidades, além de apoiar festivais e projetos em todas as regiões Brasil por meio do Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados.

 

O programa Oi Novos Brasis reafirma o compromisso do Instituto no campo da sustentabilidade, com o apoio e o desenvolvimento de parcerias com organizações sem fins lucrativos para a viabilização de ideias inovadoras que utilizem a tecnologia da informação e comunicação para acelerar o desenvolvimento humano. O esporte completa o seu escopo de atuação apoiando projetos aprovados pelas Leis de Incentivo ao Esporte, tendo sido a Oi a primeira companhia de telecomunicações a apostar nos projetos socioeducativos inseridos na Lei Federal.

 

 

De 14 de abril até 1º de junho.

Tabuleiros de Leila Pugnaloni

26/mar

A exposição “Tabuleiros”, de Leila Pugnaloni, curadoria de Marco Antonio Teobaldo, ocupará os espaço da Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ. “Tabuleiros” reveste-se como uma espécie de retrospectiva da artista, em que ela pontua historicamente questões relacionadas ao trabalho escravo no Brasil, ao mesmo tempo que resgata lembranças de sua infância no Rio de Janeiro e a influência que a cidade exerceu sobre a sua trajetória profissional. Além dos tabuleiros, a artista exibirá pinturas sobre telas e madeira (séries “Módulos de Luz” e “Jujus”), desenhos e fotografias, produzidas a partir de 2007 até 2014. Nessa exposição a artista cria um arco no tempo através de uma poética desde vida dos escravos, aos ambulantes de hoje em dia.

 

A partir de sua visita ao sítio arqueológico Cemitério Pretos Novos, a artista realiza uma pesquisa sobre o mercado da escravidão no Rio de Janeiro, que remonta um traçado sobre a vida dos escravos de ganho até a rotina dos vendedores ambulantes de hoje em dia. Criando uma instalação com tabuleiros repletos de referências históricas, antropológicas e até mesmo auto-biográficas, Leila Pugnaloni promove, a partir de seu trabalho, uma reflexão sobre a importância do negro no Brasil.

A Galeria Pretos Novos é um espaço voltado à pesquisa curatorial e ocupações artísticas instalado sobre o sítio arqueológico do recém descoberto Cemitério dos Pretos Novos, na Gamboa. Único do país, o IPN tem como missão a preservação da memória da cultura nacional e, com a programação da galeria, divulgar e promover arte contemporânea produzida por artistas brasileiros.

 

Leila Pugnaloni realizou no Museu de Arte do Rio – MAR uma série de oficinas de Desenho, Poesia e Movimento, a partir de leitura de textos do poeta Paulo Leminski e modelos (passista de escola de samba, dançarinos de funk, charm e passinho).

 

 

Até 11 de maio.

Silvia Cintra + Box 4 com Marcius Galan

25/mar

A galeria de artes Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, recebe o artista plástico Marcius Galan para a exposição “Como Dobrar uma Bandeira Como Desdobrar”. Atualmente, Galan é um dos principais jovens artistas no cenário das artes no Brasil. “O movimento de ida e volta (dobrar e desdobrar) aparece na construção do título assim como na montagem do trabalho na parede, onde a sequência pode ser lida como expansão ou contração. Esse movimento circular sugere um lugar suspenso entre uma tomada de posição (desdobrar uma bandeira) e uma sensação de impotência e apatia diante de um panorama sócio-político obscuro (dobrar uma bandeira)”, explica Galan. Ainda segundo o artista, o trabalho lida com o paradoxo geométrico da divisão infinita de um plano, ou seja, com a premissa de que podemos dividir teoricamente uma área em duas partes iguais infinitamente.

 

Chama atenção ainda a série “Cartografias abstratas”, onde mapas são cobertos por alfinetes de identificação de posicionamento. Ao obstruírem quase totalmente as informações que poderiam ser usadas para identificação do lugar, os alfinetes criam assim possibilidades poéticas que se distanciam da ideia de precisão. Já em “Como Surgem as Ilhas”, uma moeda é ampliada em uma fotocopiadora até que se perca a referência da primeira imagem, devido à ampliação e aos ruídos inerentes à qualidade da reprodução xerográfica. Outros trabalhos que integram a mostra lidam de maneira mais abstrata com questões relacionadas à geometria, uma evolução da proposta apresentada na exposição “Área Útil = Área Comum”, em 2010, também na galeria carioca.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em Indianápolis, Estados Unidos, em 1972, Marcius Galan vive e trabalha em São Paulo. Com especial interesse pela geometria, o artista frequentemente propõe situações que alteram a percepção do espectador, “seja na imitação de objetos industriais com esmero artesanal, seja ao impor relações físicas e espaciais estranhas aos materiais, de certa maneira forjando sua transformação”. Participa de exposições no mundo todo e expõe nas instituições mais importantes do Brasil, entre eles o Inhotim.

 

 

Até 26 de abril.

Trio na galeria Vermelho

Um inédito cartaz triplo é o que oferece a galeria Vermelho, Pacaembu, São Paulo, SP, através das exposições individuais “Neste Lugar” de Daniel Senise (salas 1 e 2), “Repetição da ordem” de Nicolás Robbio (sala 3) e a instalação “Escalpo Islâmico” de Dora Longo Bahia (Terraço). Na abertura aconteceu o lançamento – pelas Edições Tijuana- do livro de artista “La Pintura Española” de Daniel Senise.

 

A arquitetura dos espaços do cotidiano alimenta a concepção e a produção das obras de Daniel Senise, constituindo a poética que permeia sua obra como um todo. O conjunto das obras que integram a individual “Neste Lugar” mantém em sua gênese essa característica e retoma um elemento conceitual importante já utilizado por Senise no início dos anos 2000. Nelas, o artista volta a revelar o interior de grandes espaços expositivos, como nas colagens National Gallery, Gemäldegalerie e Musée D’Orsay.  O resultado do interesse de Senise pela arquitetura, história e dinâmicas empregadas nestes grandes acervos públicos está presente na instalação “Eva”, mostrada no Centro Cultural São Paulo, em 2009. Na obra, composta por blocos similares a tijolos feitos em papier maché, a partir da reciclagem de catálogos, livros de arte e convites de exposições, Senise aponta para o apagamento pelo qual passam vários dos acervos públicos. Em 2009, Senise literalmente escondeu a escultura “Eva”, de Brecheret, atrás de quatro paredes feitas com os restos de papel destas instituições.

 

O mesmo suporte foi utilizado por Senise na instalação apresentada na 29ª Bienal de São Paulo, em 2010. Nesse caso, os blocos de papel reciclado contendo milhares de informações acerca de pintura foram usados não apenas na construção do espaço expositivo mas se transformaram na obra em si, conduzindo o observador, como menciona Marco Silveira Mello, “para atentar às superfícies e ver, nos pequenos  vestígios das placas,… acontecimentos pictóricos ou evocativos à compleição da pintura”. Na instalação “Parede com 5 buracos”, criada por Daniel Senise para o projeto “Travessias 2 – Arte Contemporânea na Maré”, na favela da Maré, RJ, em 2013, a referência a essas grandes instituições é literal. A obra foi apresentada sobre uma parede localizada na entrada do espaço expositivo, com cinco buracos por onde podia-se ver as maquetes idênticas às salas de museus, como o Musée D’Orsay (Paris), o MoMA (Nova York), o National Gallery (Londres), e o MAM RJ (Rio de Janeiro). No ultimo buraco, o observador podia visualizar o espaço onde ele se encontrava. Segundo o artista, a obra revela algo comum nos dias de hoje que é a substituição da presença real decorrente da democratização da informação. “Neste Lugar” contará com duas maquetes. Uma delas será montada na fachada da Vermelho, e reproduzirá o hall de entrada da galeria, sugerindo um jogo metalinguístico entre experiência física e representação pictórica.

 

Já nas obras “Musée du Louvre”, “Museo del Prado”, “Galleria degli Uffizi” e “National Gallery” da série “Museu”, todas de 2013, Senise fragmenta as reproduções publicadas por esses museus sobre suas coleções e acondiciona todo esse conteúdo em caixas de acrílico transparente, criando uma ideia análoga a de coleção, gênese de todo museu. Comentar a história da arte e, mais especificamente, a história da pintura integra o léxico de Senise. Na exposição “Neste Lugar”, entretanto, essa estratégia aparece ampliada, evidenciando o caráter impalpável e imprevisível que intermedia a relação entre observador e obra de arte. “La Pintura Española”, livro de artista que Senise lançou na data de abertura da individual, materializa por meio de um jogo de luzes e espelhos, esse procedimento.

 

 

“Repetição da ordem”

Nicolás Robbio

 

A individual “Repetição da ordem” de Nicolás Robbio foi construída a partir de três símbolos que representam o Poder: a bandeira, a grade e a moeda. Símbolo de estados soberanos, clãs ou de sociedades de pessoas regidas por lei ou pela tradição, a bandeira aparece na vídeo instalação “Sem Título” (2014), representada apenas pela sombra que reproduz. Sua matriz, nesse caso ausente, nos daria pistas de sua procedência. Porém, o interesse de Nicolás Robbio está na simbologia da “Bandeira”. “Los de arriba, los de abajo. Los buenos, los malos”, vídeo criado por Robbio em 2011, emprega imagens de grades de ferro utilizadas em casas e edifícios, para tecer um comentário sobre a impossibilidade de permanência e de conciliação entre opostos. O acúmulo de poder aquisitivo acontece por meio da moeda. No “Todos os caminhos levam a Roma” [2014], duas moedas de países diferentes, como Inglaterra e Colômbia, se relacionam de forma equilibrada num sistema de engrenagem, como se o valor que representam pudesse ser equivalente. Em “Repetição da ordem” Robbio cria uma representação acerca da sociedade atual, por meio dos símbolos do poder que a fazem funcionar.

 

 

Escalpo Islâmico

Dora Longo Bahia

 

Obra criada e apresentada originariamente no 2º andar do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, durante a 28ª Bienal de São Paulo, em 2008, “Escalpo Islâmico”, de Dora Longo Bahia, emprega motivos islâmicos sobre um fundo de tinta acrílica vermelha, para tecer um comentário acerca da violência.

 

 

Sobre os artistas

 

Daniel Senise. Naceu no Rio de Janeiro, Brasil, 1955. Exposições Individuais (seleção): Daniel Senise 2892 – Casa França Brasil – Rio de Janeiro – Brasil (2011); Daniel Senise – Estação Pinacoteca – São Paulo – Brasil (2009); Daniel Senise – Trabalhos Recentes – Museu Victor Meirelles – Florianópolis – Brasil (2008); Daniel Senise – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil (2007); Paintings from the North Ramis Barquet Gallery – Nova York – EUA (2001). Exposições Coletivas (seleção):  O Gesto e o Signo – White Cube – São Paulo – Brasil,  2013; Gravura em campo expandido – Pinacoteca do Estado – São Paulo- Brasil,  2012; Jogos de  Guerra – Caixa Cultural Rio de Janeiro- Rio de Janeiro – Brasil, 2011; 29ª Bienal de São Paulo: Há sempre um copo de mar para um homem navegar – Fundação Bienal de São Paulo – São Paulo—Brasil, 2010; After Utopia – Museo Centro Pecci – Prato – Itália, 2009.

 

Nicolás Robbio. Nasceu em Mar del Prata, Argentina, 1975. Exposições Individuais (seleção): Bandeira em branco não é bandeira branca – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil (2011); O Amanhã de Ontem não é Hoje – Programa Emissores Runidos – Episódio 1 – Fundação Serralves – Porto – Portugal (2009); Indirections – Pharos Centre for Contemporary Art – Nicosia – Chipre (2008). Exposições Coletivas (seleção): Sextanisqatsi: desordem  habitável  – Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (MARCO) – México (2012); 32º Panorama da arte Brasileira – Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) – São Paulo – Brasil (2011); Para ser Construidos – MUSAC – Léon – Espanha (2010); 2° Trienal Poli/Gráfica De San Juan – Porto Rico (2009);  28ª Bienal de São Paulo – Fundação Bienal de São Paulo – Pavilhão Ciccillo Matarazzo – São Paulo – Brasil (2008).

 

Dora Longo Bahia. Nasceu em São Paulo, Brasil, 1961. Exposições Individuais (seleção) Desastres da Guerra, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil [2013]; Trash Metal, Galeria Vermelho, São Paulo, Brasil (2010); Escalpo carioca e outras canções, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), Recife e Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Rio de Janeiro, Brasil (2006]; Marcelo do Campo 1969 –1975, Centro Mariantônia, São Paulo, Brasil (2003). Exposições Coletivas (seleção): Imaginarios Contemporâneos, Museo Tecnológico de Monterrey, Monterrey, México (2013]; The Spiral and the Square, SKMU Sorlandets Kunstmuseum, Kristiansand, e Trondheim Art Museum, Trondheim, Noruega (2012); Destricted.br, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil (2011); IX Bienal Monterrey FEMSA, Centro de las Artes, Monterrey, México (2009); 28ª Bienal Internacional de São Paulo, Fundação Bienal, São Paulo, Brasil (2008); Farsites: urban crises and domestic symptoms in recent contemporary art, Centro Cultural Tijuana e San Diego Museum of Art, Tijuana – Mexico/San Diego, EUA (2005); Imagem Experimental, Museu De Arte Moderna (MAM SP), São Paulo, Brasil (2000).

 

 

Até 05 de abril.

Instalação de Miguel Rio Branco

18/mar

Uma instalação com quatro projeções de imagens que transitam pelas temáticas de violência e poder, trabalhada simultaneamente sobre quatro telas de voil, com áudios diferentes, constitui o núcleo central da mostra “Gritos surdos”, de Miguel Rio Branco, que ocupará a Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exposição reúne instalações realizadas pelo artista no início da década de 2000, que nunca foram exibidas no Rio de Janeiro. Além da obra que estará na nave central da Casa França-Brasil, uma das salas laterais exibirá uma projeção com imagem fixa e áudio. A outra vai mostrar um “site specific” em neon‚ no qual vidros de pára-brisas de automóveis, acidentados ou baleados, refletem luzes fluorescentes que piscam de modo intermitente, perfiladas por linhas de neon vermelho, com fotografias em cibachrome. As obras de “Gritos Surdos” foram concebidas originalmente para uma mostra individual do artista no Centro Português de Fotografia, Porto, Portugal, em 2001 e também exibidas na Galeria Millan, São Paulo, SP, em 2004 e em Arles, França, nos “Rencontres d’Arles”, na Église des Frères Prêcheurs, em 2005. Ao lembrar que Miguel Rio Branco não apresenta uma exposição institucional no Rio de Janeiro há muitos anos, Evangelina Seiler, diretora da Casa França-Brasil, diz que “Gritos Surdos” proporciona uma reflexão sobre difíceis aspectos da condição humana. – “A obra de Miguel Rio Branco nos faz pensar sobre o que às vezes não queremos ver”.

 

 

A palavra do artista

 

– “Como artista, trabalhei em cima de imagens fotográficas‚ do cinema digital‚ das luzes de neon e da poética que as artes plásticas me oferecem. Tudo se transforma no resultado da minha obra”, resume Miguel Rio Branco, ao falar sobre o seu processo criativo.

 

“Gritos surdos” é composta por vídeos, fotografias e objetos. No entanto, sobre este tipo de composição, o artista ressalta: – “Cada pedaço na verdade já contém um todo, já pode bastar em si mesmo, fotograficamente falando; porém, poeticamente, ele precisa dos outros pedaços para completar o discurso”.

 

– “Trabalho como um pesquisador, como um colecionador de momentos e objetos, uma pessoa que vai atrás de marcas deixadas por outros, um pouco como um arqueólogo. Hoje em dia eu me vejo muito como um arqueólogo que vai pegando marcas; o meu trabalho não tem mais o ser humano explícito, mas tem a marca dele, os restos que ele deixa, as maneiras com que ele trabalha as coisas. Não registro a arquitetura que o homem faz num edifício, mas os buracos onde ele vive, os restos que ele larga para trás”, conclui.

 

 

Sobre o artista

 

Um dos mais completos artistas visuais brasileiros, Miguel Rio Branco começou a expor suas pinturas em 1964, mas foi como fotógrafo e diretor de fotografia que conquistou reconhecimento nacional e internacional, a partir dos anos de 1970. Estudou fotografia em Nova Iorque, onde trabalhou por dois anos como fotógrafo e diretor de filmes experimentais.  Nos nove anos seguintes, dirigiu e fotografou filmes em longas e curtas metragens. Desenvolveu, em paralelo, uma fotografia autoral de forte carga poética, que logo o legitimou como um dos melhores fotojornalistas de cor.  A ênfase de Miguel Rio Branco ao olhar pessoal lhe rendeu prêmios importantes, como o francês Kodak de la Critique Photographique, em 1982, e o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do MAM- SP em 1980, além da presença de seus trabalhos nas revistas mais importantes do mundo, como Stern, National Geographic e muitas outras. Como diretor de fotografia, foi premiado pelos filmes “Memória Viva”, de Otávio Bezerra, e “Abolição”, de Zózimo Bulbul. Seu vídeo “Nada levarei quando morrer, aqueles que me cobrarei no inferno”, 1982, venceu a categoria Melhor Fotografia no Festival de Brasília e foi duplamente premiado no XI Festival Internacional de Documentários e Curtas de Lille, França: levou o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica Internacional. Publicou os livros “Dulce Sudor Amargo”, Fundo de Cultura Económica, México, 1985; “Nakta”, com um poema de Louis Calaferte , Fundação Cultural de Curitiba, 1996;  “Miguel Rio Branco”, com ensaio de David Levi Strauss, Aperture, 1998; e “Silent Book”, Cosac Naify, 1988. Seguiram-se “Entre os olhos, o deserto”, 2000, também pela Cosac Naify e “Notes on the tides”, 2006. O mais recente de seus livro “Você está feliz”, 2012,  editado pela Cosac Naify, foi indicado ao “Photobook Award 2013”. Miguel Rio Branco possui obras no acervo de coleções públicas e particulares nos EUA, na Europa e no Brasil: MAM-Rio,  MAM-SP, MASP-SP, Centre Georges Pompidou, Paris, San Francisco Museum of Modern Art, USA, Stedelijk Museum, Amsterdan, Museum of Photographic Arts, San Diego, California, USA, e Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, USA. Entre 2000 e 2013, o artista realizou 50 exposições individuais no Brasil, na Europa, Estados Unidos e Japão. Possui espaço especial (individual) no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, MG.

 

 

 De 24 de março a 25 de maio.