Ernesto Neto participa da Bienal da Tailândia

08/dez

Ernesto Neto, Rio de Janeiro, Brasil, 1964. O trabalho de Ernesto Neto envolve principalmente instalações e esculturas, e mantém um diálogo longevo com as interações espaciais promovidas pela arquitetura. O procedimento arquitetônico de Neto não ergue paredes ou bloqueios, mas erige membranas e peles, redes e invólucros. Há embutido nos seus espaços uma relação com a natureza, seja nas formas orgânicas que as estruturas assumem, seja no acolhimento que as instalações permitem. O público não é pressuposto como um grupo de observadores, mas incorporado desde o projeto às instalações. Os espaços de Ernesto Neto, que são percorridos, atravessados, habitados, também remetem aos penetráveis de Oiticica, precursores de seus ambientes plurisensoriais. De Oiticica, Neto aproveita também o olhar atento aos elementos da criatividade periférica, incorporando em seus trabalhos materiais e técnicas de construção vernaculares. As redes, material central na sua obra, permitem envolver, abarcar, pendurar, mas também são uma estrutura para deitar, uma ferramenta do descanso, da preguiça e da contemplação.

 

 

Um Diálogo Artístico Inovador

 

 A NONADA ZN, encerrando sua agenda expositiva de 2023, exibe duas mostras distintas que convergem em um espaço de exploração artística único. A exposição coletiva “Caos Primordial”, sob curadoria de Carolina Carreteiro, e a individual “Nada mais disse”, de Raphael Medeiros, estarão em exibição nas três salas expositivas e no Galpão, respectivamente, no térreo da fábrica da Penha, Rio de Janeiro.

“Caos Primordial” é uma exposição coletiva que reúne mais de 40 artistas notáveis, cada um contribuindo para uma narrativa coletiva que se desdobra sob o novo paradigma estético apresentado por Félix Guattari em “Caosmose”. As cerca de 80 obras, entre pintura, escultura, instalação, fotografia e vídeo arte, são assinadas por nomes como Alexandre Canônico, Allan Pinheiro, Amorí, Ana Matheus Abbade, André Barion, Andy Villela, Anna Bella Geiger, Bruno Alves, Bruno Novelli, Camila Lacerda, Chacha Barja, Cipriano, Daniel Mello, David Zink Yi, Ernesto Neto, Fabíola Trinca, Iah Bahia, Lucas Almeida, Luisa Brandelli, Mariano Barone, Marta Supernova, Melissa de Oliveira, Miguel Afa, Nati Canto, Olav Alexander, R. Trompaz, Rafael D’Aló, Rafael Plaisant, Raphael Medeiros, Rena Machado, Richard Serra, Rubens Gerchman, Samara Paiva, Siwaju, Tatiana Dalla Bona, Thiago Rocha Pitta, Tiago Carneiro da Cunha, Túlio Costa,Tunga, Varone e Zé Bezerra que participam deste diálogo artístico sob uma curadoria perspicaz. A abstração radical emerge como uma ruptura profunda com as tradicionais concepções de arte e pensamento, baseadas no paradigma da separação. Esta mesma abstração convida-nos a explorar as dobras entre o caos e a ordem, transformando a estética em um terreno de experimentação que desafia categorias pré-estabelecidas. A curadora Carolina Carreteiro destaca que, “…sob essa perspectiva, a estética se torna uma ferramenta para experimentação e pesquisa, transcendendo os limites da compreensão convencional e criando a partir do próprio caos criativo. “Caos Primordial” é um evento multifacetado, representando uma abordagem diversificada e inovadora no cenário artístico contemporâneo”.

 

“Nada mais disse” de Raphael Medeiros

No Galpão da NONADA ZN, em exibição “Nada mais disse”, a primeira exposição individual de Raphael Medeiros. Este trabalho híbrido transcende as definições convencionais de um filme, apresentando uma instalação cinematográfica composta por pinturas, esculturas e um roteiro. Medeiros faz anotações sobre a linguagem do cinema para além da moldura do plano, convidando os espectadores a explorar a linguagem cinematográfica em sua totalidade. 

Obs: Para uma experiência ideal, recomenda-se visitar o Galpão ao anoitecer, quando a condição de luz oferece a atmosfera perfeita para apreciar a instalação em toda a sua profundidade.

 

A galeria

NONADA, um neologismo que remete ao não lugar e a não existência, também abre “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa e a união desses conceitos representa o pensamento basilar desse projeto. Como o próprio significado de NONADA diz, ela surge com o intuito de suprir lacunas momentâneas ou permanentes acerca de um novo conceito. A galeria, inclusiva e não sectária, enquanto agente promotor de encontros e descobertas com anseio pela experimentação, ilustra possibilidades de distanciar-se de rótulos enquanto amplia diálogos. “NONADA é um híbrido que pesquisa, acolhe, expõe e dialoga. Deixa de ser nada e passa a ser essência por acreditar que o mundo precisa de arte… e arte por si só já é lugar”, definem João Paulo, Ludwig, Luiz e Paulo. A NONADA mostrou-se necessária após a constatação, por seus criadores, da imensa quantidade de trabalhos de boa qualidade de artistas estranhos aos circuitos formais e que trabalham com os temas do hoje, sem receio nem temor em abordar temas políticos, identitários, de gênero ou qualquer outro assunto que esteja na agenda do dia; que seja importante no hoje. “Queremos apresentar de forma plural novos talentos, visões e força criativa”. O processo de maturação do projeto da NONADA foi orgânico e plural pois “abrangeu desde nossa experiência como também indicações de artistas, curadores, e de buscas onde fosse possível achar o que aguardava para ser descoberto”, diz Paulo Azeco. 

 

Conversas entre Coleções

06/dez

Em “Conversas entre Coleções” contamos com seis dos mais importantes acervos particulares. Propusemos-lhes o desafio de estabelecer conexões entre suas obras e aquelas da Coleção Roberto Marinho.

Além da qualidade dos trabalhos apresentados temos a oportunidade de observar seus critérios de reunião: diálogos em duplas; estabelecimento de parentescos e entornos de artistas reconhecidos com outros ainda em pouca evidência; diálogos de tempos diversos, intencionais ou reunidos pelo acaso; a trajetória brasileira de dois artistas judeus com migração provocada pela eclosão de guerras e perseguições na Europa da primeira metade do século XX; paisagens, geografias, mapas, ações afirmativas e questionamentos étnicos.

Uma rara reunião que é um convite ao prazer, à educação visual e à reflexão. Um momento mágico no qual produções de tempos e geografias tão díspares vivem juntas em nossa presença e sensibilidade. Tesouros e incentivos na construção diária de nossas vidas: um hoje composto de pretérito e futuro.

Lauro Cavalcanti

Diretor-Executivo da Casa Roberto Marinho

 

Os jardins de Wilson Cavalcanti

23/nov

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS – Sedac, e o Banrisul apresentam a exposição “Wilson Cavalcanti – Os jardins que me habitam”. A mostra será inaugurada no dia 25 de novembro, às 10h30, em evento aberto ao público, e seguirá em exibição até 18 de fevreiro de 2024, ocupando duas salas no 2º andar expositivo do Museu. A exposição é parte da ampla programação comemorativa, alusiva ao aniversário de 70 anos do MARGS, a ser celebrado em 27 de julho.

A exposição

A exposição “Os jardins que me habitam” é a primeira a trazer uma compreensão mais abrangente e histórica sobre a produção artística de Wilson Cavalcanti, o Cava. Contemplando os mais de 50 anos de trajetória do artista, sendo também a sua primeira individual apresentada pelo MARGS, a mostra apresenta uma abordagem que revisa e aprofunda o entendimento público da sua diversificada e extensa produção, desenvolvida em desenho, gravura, pintura e objeto. Além de trazer a parte mais reconhecida e consagrada de seu trabalho, sobretudo o viés figurativo e expressionista em gravura e pintura; redimensiona a sua obra ao trazer a público produções menos conhecidas, a exemplo de seus desenhos-pinturas, suas pinturas-objetos, os procedimentos construtivos e os flertes com a abstração, assinalando a importância em sua poética pessoal e a relevante contribuição no contexto das transformações do meio de arte e das convenções do fazer artístico vivenciadas por sua geração na história da arte sul-rio-grandense. Assim, a mostra revela um artista inquieto, polivalente, em constante produção e que pauta a sua prática artística em grande parte pelo emprego dos procedimentos experimentais e mesmo conceituais que desenvolve. São apresentadas mais de 100 obras, realizadas desde os anos 1970, incluindo parte de seus trabalhos que integram o Acervo Artístico do MARGS, onde está representado com mais de 30 obras.  Organizada e realizada pelo MARGS, a exposição tem curadoria de Felipe Caldas, curador convidado, e Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS, com produção de José Eckert, Núcleo de Curadoria do Museu.

Sobre o artista

Wilson Cavalcanti, Pelotas/RS, 1950, notoriamente conhecido por Cava, é artista e professor, com atuação também como educador social no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, onde foi aluno de Paulo Peres e Danúbio Gonçalves, também foi professor do Atelier Livre, Participou do Festival de Inverno de Ouro Preto, estudou gravura em metal com Assunção Souza, cursos com Carlos Martins, Marília Rodrigues. Teve trabalhos publicados em jornais e revistas como Folha da Manhã, Pasquim, Zero Hora, Versus, Planeta. Sua obra foi exibida no Uruguai, Argentina, Chile, Alemanha, França, Holanda, Grécia, Canadá, México, Japão, Espanha e Egito, Ponto de Arte. Possui obras nos acervos: MARGS, Pinacoteca Aldo Locatelli de Porto Alegre, Fundação Vera Chaves Barcellos, Pinacoteca Barão de Santo Ângelo da UFRGS, Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, Museu Casa da Xilogravura, Viamão.

Celebrando Guimarães Rosa

23/out

Acontecimento original no Instituto Ling, Porto Alegre, RS, para celebrar o aniversário de 60 anos da obra de Guimarães Rosa, a professora Kathrin Rosenfield convidou os artistas visuais Maria Tomaselli, Marcos Sanches e Raul Cassou para criarem suas próprias visões dos pequenos milagres que o escritor tirou da existência e imortalizou em seus textos. O evento é uma homenagem aos “causos” narrados nos 21 contos do livro “Primeiras Estórias”. O evento também terá atrações musicais, com a presença especial dos músicos Stefania Johnson (flauta), Guilherme Sanches (pandeiro) e Mathias Pinto no violão 7 cordas. Além da exibição única das obras, vamos mergulhar nos textos e nas questões suscitadas pelo autor, a partir de uma roda de conversa com os três gravuristas e as críticas literárias Regina da Costa da Silveira e Kathrin Rosenfield. Com entrada franca, o evento acontecerá no dia 28 de outubro, às 16h. Faça sua inscrição pelo site.

Sobre Kathrin Rosenfield

É professora titular de Filosofia e Literatura na UFRGS, autora de vários livros sobre literatura, filosofia e arte. Aborda com perspectivas filosóficas, antropológicas e psicanalíticas autores de diversas literaturas. Seu ensaio “Desenveredando Rosa – a obra de J. G. Rosa” ganhou o Prêmio Mário de Andrade. Atualmente, Kathrin Rosenfield traduz obras ficcionais e ensaísticas do romancista austríaco Robert Musil. Trabalha em projetos vinculando a pesquisa acadêmica e dramaturgia com o público amplo.

Sobre Regina da Silveira

Possui graduação em Letras Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976), mestrado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990) e doutorado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997) – UFRGS; Pós-doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, junto ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura (2017) – UFRJ. Tem experiência na área de Letras, em Programa de Pós-graduação Mestrado e Doutorado em Letras, como professora na UNIRITTER de 1993 a 2017, literatura brasileira, literatura comparada, literaturas africanas de língua portuguesa, desenvolvendo pesquisas sobre Guimarães Rosa, animismo, realismo animista. Professora aposentada, participa como professora colaboradora do Grupo de Pesquisa e do Grupo de Trabalho Vertentes do Insólito Ficcional, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Participa do Conselho Consultivo Estudos Literários da Editora Dialogarts Publicações, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Arte Brasileira na Casa Fiat

11/out

Esta é a primeira vez que uma mostra de tamanha robustez é montada em Belo Horizonte, MG, fora do Museu de Arte da Pampulha (MAP) – algumas obras, inclusive, jamais foram vistas que não na icônica construção encravada às margens da Lagoa da Pampulha, pensada originalmente para abrigar um cassino aberto ao público. A exposição “Arte Brasileira” está organizada em seis núcleos inter-relacionados: Conjunto Moderno da Pampulha, Os Modernos, Pampulha Espiralar: Um Lar, Um Altar, Nossos Parentes: Água, Terra, Fogo e Ar, O Menino Que Vê o Presépio e Novos Bustos. Obras de Cândido Portinari, Guignard, Di Cavalcanti, Burle Marx, Mary Vieira, Oswaldo Goeldi, Antônio Poteiro, Yara Tupynambá, Cildo Meireles, Jorge dos Anjos, Vik Muniz, Nydia Negromonte, Froiid, Wilma Martins, José Bento, Eustáquio Neves e Luana Vitra, entre outros, são artistas de diferentes gerações e movimentos que agora se reúnem na exposição “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura”, inaugurada em Belo Horizonte.

No terceiro e extenso andar da Casa Fiat de Cultura, cerca de 200 obras, entre gravuras, pinturas, fotografias, esculturas e cerâmicas, nunca antes expostas em conjunto, fazem um importante passeio pela produção artística brasileira dos séculos XX e XXI, ressaltando os principais deslocamentos da arte contemporânea do país. Ali, estão nomes que contribuíram para elevar não só o pensamento estético, mas também uma criação que lançou olhares inovadores e utópicos sobre o Brasil, a partir de uma elaboração da releitura de uma identidade nacional proposta pelo modernismo.

As obras expostas na Casa Fiat evidenciam, também, a característica vanguardista do MAP, como sublinha o curador do Museu de Arte do Rio (MAR), Marcelo Campos, que assina a curadoria ao lado de Priscila Freire, ex-diretora do museu, inaugurado em 1957: “Na arte brasileira, a palavra vanguarda foi inaugurada no modernismo e acompanha essa coleção do MAP, que sempre se mostrou com muita coragem ao constituir seu múltiplo acervo”.

Priscila Freire, que esteve à frente do MAP durante 14 anos, diz que pode contar um pouco dessa história por meio da exposição. “Indiquei obras que considero interessantes da coleção de um museu que passou pelo moderno, pós-moderno e contemporâneo sendo sempre contemporâneo”, comenta.

Fruto da parceria entre a Casa Fiat de Cultura e prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Municipal de Cultura, “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” fica aberta ao público até fevereiro do ano que vem e é parte das celebrações dos 80 anos do Conjunto Moderno da Pampulha, eleito Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

Para a secretária de Cultura de Belo Horizonte, Eliane Parreiras, “a exposição é um marco para a história do MAP, abre portas para pesquisas futuras e olhares que até então não tinham sido feitos sobre o acervo e a instituiçao”. Por sua vez, o presidente da Casa Fiat, Massimo Cavallo enfatiza o aspecto ousado, grandioso e inovador da mostra, “que desvela novos ângulos que habitam esse Patrimônio Cultural da Humanidade, nutrindo vínculos de pertencimento e identidades”.

Vocação contemporânea

“Arte Brasileira” dialoga com as indagações que permeiam o que há de mais atual nos debates sociais e com a literatura de Conceição Evaristo, Ailton Krenak e Leda Maria Martins, homenageados e retratados no núcleo Novos Bustos. Muito antes de termos como decolonial ou pós-colonial se popularizarem no nosso vocabulário, as obras que serão vistas na mostra já traziam questionamentos que hoje encontram o pensamento contemporâneo. Quando Marcelo Campos e Priscila Freire propuseram que a exposição revelasse tal traço, perceberam que a coleção do MAP respondia a esse anseio e unia o que é considerado erudito, popular e contemporâneo.

“Só um acervo de vanguarda poderia nos dar insumos e elementos para constituir uma exposição com quantidade de arte popular que temos, com artistas negros e negras e também com muitas mulheres fundamentais para a arte brasileira. A exposição explicita isso, mas também busca renovar a leitura. Muitas obras aqui pertencem ao acervo, mas nunca tinham sido expostas. Isso é fundamental”, explica Campos.

Os quadros “Os acrobatas” (1958), de Candido Portinari, e “Espaço (da série Luz Negra)”, de Jorge dos Anjos, são dois destaques da exposição. “No Portinari é bonito porque a gente vê um artista modernista observando a cultura popular. Uma das utopias modernistas foi pensar uma sociedade mais justa, igualitária, com os ideais humanistas presentes. A grandeza de Portinari foi alertar para um Brasil que tinha na população suas riquezas culturais”, ressalta o curador.

Sobre Jorge dos Anjos, que tem outras duas obras expostas na Casa Fiat, Marcelo Campos salienta que o ouro-pretano ampliou tradições e “é um artista negro que olha para o seu tempo e, por outro lado, não esquece as discussões ancestrais”.

Entre as obras inéditas, vêm à tona o conjunto de pinturas populares e o presépio pertencente ao núcleo O Menino Que Vê o Presépio, montado em uma das pontas do terceiro andar da Casa Fiat. Exibido pela primeira vez ao público, a obra, inspirada em um conto de Conceição Evaristo, tem cerca de 300 peças e é composta por esculturas em cerâmicas originárias do Vale do Jequitinhonha, com autoria de Cléria Eneida Ferraz Santos e Mira Botelho do Vale.

“Esse é outro grande destaque, vamos colocar isso dentro de uma exposição que, em tese, seria de arte moderna e contemporânea. Esse gesto reforça a ideia de vanguarda do acervo do MAP”, afirma Marcelo Campos. Outra novidade fica por conta do restauro de duas obras: “Estandartes de Minas” (1974), de Yara Tupynambá, e “Tempos Modernos” (1961), de Di Cavalcanti, que se juntarão à mostra.

“Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” joga luz na potência cromática da arte brasileira e faz as pazes com a diversidade e a força das cores, tão rechaçadas e inferiorizadas por uma leitura antiquada e elitista. Com a mostra, atual e tropicalista, o curador diz que esse trauma pode ser superado: “A cor é uma conquista, horizontaliza a arte”.

Programação paralela

No dia 29 de outubro, às 11h, o Encontros com o Patrimônio convida a diretora de museus da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Janaina Melo, para o bate-papo “Museu de Arte da Pampulha (MAP): Um Museu e Suas Histórias”. O evento é virtual e gratuito, com inscrição pela Sympla. Já no dia 07 de novembro, às 19h30, a Casa Fiat de Cultura realiza um bate-papo presencial com os curadores Marcelo Campos e Priscila Freire.

A exposição “Arte Brasileira: A Coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” fica aberta ao público, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10 – Funcionários), até 04 de fevereiro de 2024.

Os encantados da Amazônia

Obra de Anderson Pereira integra por meio dos objetos em forma de altar em conexão com a dimensão espiritual o projeto premiado por meio do “Edital Prêmio FCP de Incentivo à Arte e à Cultura – 2023, da Fundação Cultural do Estado do Pará (FCP). Conta com o apoio do Centro Cultural João Fona, da Prefeitura de Santarém. Na cena, terá um dos quadros pintados pelo artista, que desponta como revelação paraense no seguimento de artes visuais, e ainda vários elementos representativos do cotidiano das pessoas.

“A utilização de cores vibrantes e simbologia específica vai enriquecer ainda mais a narrativa da obra, proporcionando uma imersão na diversidade e profundidade dessas tradições. Quem for ver a instalação vai poder observar as representações artísticas dos encantados em harmonia com a fauna e flora amazônicas, destacando a fragilidade desses ecossistemas diante das mudanças climáticas”, disse.

Encantados

Os encantados da Amazônia são seres míticos e espirituais, frequentemente presentes nas tradições folclóricas e culturais das comunidades amazônicas. Essas entidades são consideradas guardiãs da floresta e seus habitantes, representando uma conexão profunda entre a natureza e as crenças locais. Os encantados podem assumir diversas formas, muitas vezes associadas a animais da região, como botos, cobras, curupiras ou outros seres da floresta. A ligação entre as crenças dos encantados da Amazônia e as concepções afro religiosas, como o Candomblé ou a Umbanda, é muitas vezes uma expressão da riqueza da diversidade cultural e espiritual no Brasil, especialmente nas regiões amazônicas. De acordo com o produtor executivo, Mayco Chaves, que ajudou na pesquisa para o projeto.

“Eles são vistos como seres benevolentes, mas também demandam respeito e reverência. As lendas dos encantados são passadas de geração em geração, contribuindo para a rica tapeçaria cultural da Amazônia”, afirma.

Anderson Pereira destaca que o tema escolhido fala das espiritualidades na região, nos quais elementos das tradições indígenas da Amazônia e das práticas afro-brasileiras se entrelaçam. “Por exemplo, algumas entidades cultuadas nas religiões afro-brasileiras podem ser associadas ou adaptadas para incorporar características dos encantados da Amazônia. Essas relações são formas que enriquecem as identidades culturais amazônicas”, disse.

Esculturas de Ascânio MMM em retrospectiva

10/out

A exposição “Ascânio MMM: Torções” no Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE), Jardim Europa, São Paulo, SP, apresenta uma retrospectiva da carreira de 60 anos do escultor Ascânio MMM. A mostra, organizada por Francesco Perrota-Bosch, reúne 55 esculturas e instalações, 22 maquetes, 12 desenhos, além de fotos antigas e documentos do artista, que é reconhecido como um expoente da abstração geométrica na América Latina.

O conceito central da exposição gira em torno da ideia de “torção”, que se relaciona com a maneira como Ascânio combina módulos, como ripas de madeira ou pequenos blocos retangulares, para criar esculturas que parecem se retorcer sobre si mesmas, criando uma sensação de movimento e dança. Essas obras demonstram a fusão entre precisão matemática e estética, refletindo sua formação dupla em Artes plásticas e Arquitetura.

A exposição está dividida em duas partes: a primeira apresenta esculturas monocromáticas em madeira pintada de branco, que datam do final dos anos 1960 até o início do século 21. A segunda parte exibe obras das últimas duas décadas, nas quais o artista começou a utilizar o alumínio como base para suas criações.

Além das esculturas, a exposição destaca uma cortina de metal formada por pequenos quadrados vazados, que remete à influência de Hélio Oiticica, com quem Ascânio conviveu nos anos 1960. Também são mencionados outros artistas que influenciaram sua obra, como Franz Weissmann e Alexander Calder, conhecidos por suas esculturas geométricas e móbiles. Uma obra de destaque é Escultura 2, que recebeu o prêmio do Panorama da Arte Brasileira de 1972. A exposição também inclui esculturas instaladas na área externa do museu, criadas a partir das esculturas públicas de Ascânio no Rio de Janeiro, que contrastam com a arquitetura do MuBE e convidam os espectadores a interagir com elas de diferentes ângulos.

Até 26 de novembro.

Impressão em madeira

09/out

A xilogravura de Fernando Mendonça, exposta na Galeria Paulo Fernandes de São José do Barreiro até 29 de novembro, é resultado de um olhar atento ao mundo da arte e ao mundo das coisas. A mostra, que privilegia a exibição das matrizes, reúne dezenas de entalhes em madeira produzidos pelo artista em mais de vinte anos e que pertencem a diferentes colecionadores. Mais do que uma antologia, a montagem pretende compor um grande corpo expressivo, marcado por um profundo interesse em trazer à tona cenas invisibilizadas, que passam despercebidas no cotidiano massacrante das grandes cidades, e por uma busca incessante pela revalorização de técnicas e materiais considerados de menor importância na cultura contemporânea. O reaproveitamento de elementos de refugo e a atenção em construir imagens apenas aparentemente banais criam um terreno fértil para o desenvolvimento de projetos que envolvem também a comunidade do entorno, com a realização de oficinas e aulas práticas nas escolas da região.

Maranhense radicado no Rio há 40 anos, Fernando Mendonça é um artista multifacetado. Trabalha a pintura, o desenho, a impressão em madeira e também desenvolve uma série de atividades relacionadas à arte-educação e movimentos de cultura popular. “Sou um fazedor de coisas”, explica. A xilogravura entra relativamente tarde em sua produção, em 2000, e já recebe no mesmo ano uma premiação no Arte Pará. E foi se impondo como linguagem, permitindo uma conexão entre diferentes aspectos de sua obra, que privilegia a observação e a busca de fazer arte a partir daquilo que é precário e popular, numa evidente conexão com a literatura de cordel, com o expressionismo e, mais especificamente, com a gravura de mestres brasileiros como Goeldi.

A simplicidade, o gesto rápido e a potência do desenho que o artista extrai das tábuas que coleta nas ruas ou nas feiras traduzem um treino permanente em captar num instante a passagem do tempo. “Tem tanta coisa onde você acha que não tem coisa nenhuma”, diz ele, que atribui o exercício de observação a partir do desenho às lições de Rubens Gerchman, cujas oficinas frequentou ainda jovem, em São Luís. Gerchman pedia aos alunos que desenhassem um bloco por dia, como um diário de bordo. Mendonça conta que, para conseguir papel suficiente, precisou recorrer a um vendedor de papel a quilo, para reciclagem, usando o verso das bobinas para esse treino.

Em seus trabalhos descobrimos cenas que poderiam passar despercebidas: deslocamentos urbanos, enchentes, festas populares, encontros amorosos, fachadas de casarios e partidas de futebol, nas quais um defeito na madeira é transformado em bola. Como descreveu Ronaldo Brito no catálogo da exposição realizada em 2004 que apresentou a obra de Mendonça ao público carioca, “tudo aqui exprime movimento, a começar por essas tábuas finas e compridas, que repetem instintivamente a forma nas ruas”.

A exposição de São José do Barreiro, bem como a anterior, realizada na Galeria de Paulo Fernandes no Centro do Rio, privilegiaram os entalhes, em detrimento das impressões derivadas dessas matrizes. Em parte, porque essa opção evidencia a íntima relação entre aquilo que é sugerido pelos veios da madeira e o desenho que Mendonça extrai da peça durante o entalhe, num movimento orgânico. E em parte porque a exibição desses baixos-relevos ilumina a intenção clara, quase política, adotada pelo artista de valorizar materiais básicos, elementares, e prenhes de significado.

Uma arte que reflete intensamente o movimento de resistência simbolizado pelos terrenos quilombolas em que sempre viveu, seja no Bairro da Liberdade, em São Luís, onde passou a infância e juventude, seja na Gamboa, região conhecida como a Pequena África no Centro do Rio de Janeiro, onde vive no momento.

Há algo mágico nesse resgate. “Ali viveu uma árvore, talvez seja uma forma de dar-lhe uma sobrevida”, confessa. “Você passa por louco”, brinca, complementando que se sente fascinado com esse aspecto primordial do trabalho em madeira, que remete às primeiras expressões do homem. E relembra como essa recuperação daquilo que é enjeitado pela sociedade de consumo marca profundamente a arte brasileira, estando na base da produção de mestres como Castagneto, Farnese e Krajcberg. Um resgate que pode ser profundamente inspirador para os jovens a quem oferece suas oficinas, não apenas ensinando técnicas de impressão e artesania, mas garantindo um espaço de livre expressão e de ampliação da percepção e sensibilidade. Algo como “dar uma bola e tomar o celular”, brinca.

Maria Hirszman

História do funk no MAR

06/out

Música e artes visuais se unem em duas mostras que aportaram no Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, que recebeu a exposição “Funk: Um Grito de Ousadia e Liberdade”, coletiva que conta a história do funk carioca, enquanto um casarão no bairro sedia “Ocupação Iboru”, desdobramento do álbum “Iboru”, de Marcelo D2.

Com mais de 900 obras, a principal mostra do MAR em 2023 recria a história do gênero musical que a batiza, indo dos bailes black da década de 1970 aos dias de hoje. São fotografias, pinturas, objetos, vídeos e instalações de mais de cem artistas, entre eles nomes como Hebert, Vincent Rosenblatt, Blecaute, Maxwell Alexandre, Panmela Castro, Gê Viana e Daniela Dacorso, dentre muitos outros.

A curadoria é de Marcelo Campos, curador-chefe do MAR, Amanda Bonan, gerente de curadoria do MAR, Dom Filó e Taísa Machado, com um time de consultores: Deize Tigrona, Sir Dema, Marcello B Groove, Tamiris Coutinho, Celly IDD, Glau Tavares, Sir Dema, GG Albuquerque, Leo Moraes e Zulu TR.

Na abertura, recebeu uma série de atrações, como apresentação de dança do Afrofunk Rio e show com MC Cacau cantando MC Marcinho.