Lançamento da Coleção PHTBX

06/dez

 

 

A palavra dos editores

O que têm em comum a maestria da cor de Walter Firmo;  a abordagem híbrida e conceitual no olhar de Claudia Jaguaribe; o registro histórico e intimista do Clube da Esquina pelas lentes de Cafi; a dramaticidade de luz e cores nos movimentos femininos de Ana Quintella; o noir enigmático construído por Milton Montenegro e a aridez e o alumbramento da paisagem de Walter Carvalho? A participação na Coleção Phtbx (PHOTOBOX), uma proposta inovadora de colecionismo, difusão e memória da arte fotográfica. Um time de estreia dos sonhos para amantes da fotografia, experientes ou iniciantes na arte de colecionar. As primeiras edições já estão disponíveis para pré-venda em nosso site e com desconto de 15% para compras realizadas até o dia 07/12/22.

Angela Magalhães, Nadja Peregrino e Gabriela Toledo, curadoras e pesquisadoras da fotografia, traçam um recorte sobre a trajetória artística de fotógrafos consagrados e trazem, em edição personalizada, caixas individuais contendo 12 obras em impressão fine art. Compõem a edição um texto curatorial sobre cada artista e o selo do impressor – Estúdio Lupa. As caixas, desenvolvidas com exclusividade pela Ipsis, terão tiragem limitada, numerada e certificada, com projeto gráfico assinado por Mariana Jaguaribe. Caso tenha interesse em obter mais informações sobre a Coleção Phtbx (Photobox), entre em contato e enviaremos um catálogo com mais detalhes sobre o conteúdo de cada caixa. Entre luzes e sombras, entre o visível e o invisível, o desafio é adentrar num mundo onde o imaginário é a mola mestra da vida.

Ana Chafir, Gabriela Toledo e Sergio Cohn.

 

Publicação de Waltercio Caldas

29/nov

 

Material impresso faz parte da exposição “Livro Espelhos Consequências” em cartaz na galeria do Leblon até 02 de dezembro. Além de fotos dos trabalhos, a publicação inédita traz anotações do artista, surgidas no decorrer do processo de criação. Lançado pela Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon, o material impresso faz parte da mostra “Livros Espelhos Consequências”. Além de fotos das 14 obras inéditas, a publicação traz anotações de Waltercio Caldas, retiradas de sua caderneta de trabalho. A publicação é gratuita e está disponível para todos que visitarem a exposição.

A exposição na Mul.ti.plo traz a assinatura poética do artista, de relacionar objetos que à sua visão pertencem à mesma família, entre eles os livros e os espelhos. As consequências ficam por conta da reverberação da mostra em outras atitudes, como na publicação, por exemplo. É a terceira vez que o artista expõe na galeria carioca – a primeira foi em 2012, com múltiplos; e a outra em 2017, com desenhos.

Waltercio Caldas trabalha a partir do conhecimento poético dos objetos e das coisas. Na mostra, ele chega a formas extremamente rigorosas e precisas, carregadas de sugestões impossíveis de serem traduzidas em outras linguagens. “A obra de arte entra em nossa vida de forma transversa, como algo que não conhecemos, inaugurando sua própria presença. Me interessa esse aparecimento, essa perplexidade inicial”, diz ele, que prioriza em sua prática artística a tridimensionalidade. “Por enfatizar novos aspectos da gravidade, do peso e das matérias, as obras surgem pondo entre parêntesis sua inserção no mundo”, afirma.

O reconhecimento da obra de Waltercio Caldas não encontra fronteiras. Sua arte é tanto poética quanto precisa. Segundo texto do crítico e professor Paulo Sérgio Duarte, “não existe arte contemporânea que não seja experimental. Sabemos disso desde Adorno e sua Teoria Estética. Mas existe algo em Waltercio Caldas além do experimentalismo: um ascetismo que não se confunde com aquele da Minimal Art. Trata-se de uma economia que não é avessa ao campo semântico, à polissemia dos significados. Isso estimula a experiência da obra”.

 

 

 

Colección Oxenford em exposição no MAC Niterói

08/nov

 

Com organização da produtora cultural Act. e curadoria do poeta e curador argentino Mariano Mayer, “Un lento venir viniendo – Capítulo I” apresenta uma inédita seleção de obras da Colección Oxenford, uma das principais coleções de arte contemporânea da Argentina.

Entre os dias 19 de novembro e 26 de fevereiro de 2023, o público terá a oportunidade inédita de conhecer um recorte da Colección Oxenford na exposição Un lento venir viniendo – Capítulo I, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC Niterói). A coleção é fruto de uma paixão do empresário e colecionador argentino Alec Oxenford pela arte contemporânea argentina, e de sua convicção na necessidade de apoio à cena local. “Comecei minha coleção em 2008 decidindo incorporar, em sua maior parte, obras de artistas vivos e adquiridas exclusivamente através de galerias de arte. Eu gosto de viver minha época através da arte. O que mais me interessa é que a arte gera uma série de perguntas para as quais eu não tenho respostas”, conta o colecionador.

Os dez primeiros anos da formação do acervo foram assessorados pela curadora Inés Katzenstein, hoje responsável pelo departamento de arte latino-americana do MoMA, em Nova York. Com cerca 550 peças de 150 artistas, a Colección Oxenford reúne um panorama muito seleto de obras da arte argentina das primeiras décadas do século XXI e alguns trabalhos prévios a este período, devido à sua relevância para o contexto da arte contemporânea no país.

Com organização da produtora cultural Act., dirigida por Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes, curadoria do poeta e curador argentino Mariano Mayer, e patrocínio de Itaú e Globant, a mostra é composta de 57 obras e apresenta uma diversidade de linguagens, entre pinturas, fotografias, vídeos, instalações visuais e sonoras, performances, esculturas, colagens e publicações. Destaque também para trabalhos de artistas fundamentais para a arte contemporânea argentina como Guillermo Kuitca, Julio Le Parc, Alejandra Seeber, Marcelo Pombo, Fernanda Laguna, Diego Bianchi, Claudia del Río, David Lamelas, Valentina Liernur, Juan Tessi, Karina Peisajovich, Eduardo Navarro, Silvia Gurfein e Alberto Goldenstein, entre outros.

Este é o primeiro ato de um projeto itinerante que também será apresentado no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, ao longo de 2023. Cada capítulo vai exibir uma seleção diferente de obras da Colección Oxenford, que, em cada caso, responde a uma proposta curatorial inspirada por um episódio emblemático do contexto cultural local, fortalecendo o diálogo entre os cenários artísticos brasileiro e argentino.

“Ao conhecer a Colección Oxenford, percebi junto a Alec o potencial institucional deste acervo que retrata de forma exclusiva a produção contemporânea argentina. Assim nasceu a ideia de uma exposição sem precedentes nas instituições brasileiras, com o objetivo de reunir as práticas artísticas da Argentina e do Brasil – países que, apesar de vizinhos, carecem de um intercâmbio cultural mais próximo”, afirma João Paulo Siqueira Lopes, um dos idealizadores da exposição e diretor da Act.

“Aproximar o cenário artístico latino-americano, estabelecendo relações entre os países deste território é uma de nossas missões. Temos feito isso por meio de projetos editoriais, mas é a primeira vez que desenvolvemos uma exposição com esse foco”, completa.

O curso livre de pintura de Ivan Serpa, no MAM Rio, e sua atuação no Grupo Frente são alguns dos pontos de partida do curador Mariano Mayer para a seleção de obras argentinas do primeiro ato apresentado no MAC Niterói. “Percorrendo a noção de influência, este primeiro capítulo descobre uma série de proximidades e rupturas que tal ação significou para a arte contemporânea argentina. Advertimos que a transmissão de experiências e posições entre artistas não formou um sistema linear organizado a partir de atos precursores, mas sim uma estrutura complexa, diferenciada e atemporal”, afirma Mariano Mayer. A pintura como matriz e como problema, a cidade e as formas do urbano, os espaços de sociabilidade artística, a literatura e as outras artes, os vínculos afetivos e as formas de desaprendizagem são destacados nesta exposição como chaves para pensar as formas adotadas pelos vínculos de influência na arte contemporânea argentina.

Cada capítulo da exposição contará ainda com uma publicação inédita que apresentará um ensaio de Mariano Mayer, ao lado de um texto de um curador da cena local, ambos produzidos exclusivamente para a ocasião: Pablo Lafuente, diretor artístico do MAM Rio, assina o texto sobre as relações entre arte e pedagogia, publicado no contexto do MAC Niterói. Realizado via Lei de Incentivo à Cultura, o primeiro capítulo da mostra ocupará todos os espaços do MAC Niterói. A expografia conta com painéis planejados por Miguel Mitlag, Sebastián Gordín e Mariana Ferrari, artistas da Colección Oxenford.

 

Participantes: Un lento venir viniendo – Capítulo I

Alberto Goldenstein, Alejandra Seeber, Alejandro Ros, Alfredo Londaibere, Ana Vogelfang, Bruno Dubner, Cecilia Szalkowicz, Claudia del Río, Daniel Joglar, David Lamelas, Deborah Pruden, Diego Bianchi, Eduardo Costa, Eduardo Navarro, Fabio Kacero, Federico Manuel Peralta Ramos, Fernanda Laguna, Florencia Bohtlingk, Guillermo Kuitca, Jane Brodie, Joaquín Aras, Jorge Gumier Maier, Juan Tessi, Julio Le Parc, Karina Peisajovich, Liliana Porter, Luis Garay, Marcelo Alzetta, Marcelo Pombo, Mariana Ferrari, Marina de Caro, Pablo Accinelli, Pablo Schanton, Rosana Schoijett, Sebastián Gordín, Silvia Gurfein, Valentina Liernur.

 

Sobre a Colección Oxenford

A Colección Oxenford apoia, por meio de diferentes iniciativas, o desenvolvimento da cena artística contemporânea argentina. Seu ambicioso programa de aquisições, que durante os dez primeiros anos contou com a seleção da curadora Inés Katzenstein, permitiu reunir uma mostra representativa das diferentes tendências estéticas que dominaram a produção artística contemporânea durante o século XXI, um período excepcionalmente complexo, no qual a arte argentina experimentou transformações fundamentais em suas linguagens e materiais, bem como em suas práticas, imaginários e instituições. As atividades da Colección Oxenford incluem o desenvolvimento de um programa de bolsas de viagem internacionais, que já beneficiou quase 90 artistas, e que, durante a emergência causada pela pandemia de Covid-19, foi transformado em assistência financeira para mais de 60 nomes. Recentemente, a coleção também esteve envolvida na promoção de reflexões sobre a arte contemporânea argentina, convidando 40 importantes pesquisadores locais para escrever ensaios sobre obras do acervo. A Colección Oxenford também tem sido generosa em sua colaboração com museus e galerias, a quem emprestou trabalhos em inúmeras ocasiões, com o objetivo de contribuir para a divulgação da produção artística argentina contemporânea.

 

Sobre o colecionador Alec Oxenford

Cofundador da OLX e da letgo, Alec Oxenford é um empresário argentino residente no Brasil. É grande colecionador e membro ativo de comunidades internacionais em prol das artes latino-americanas. Entre 2013 e 2019, dirigiu a Fundación ArteBA. Atualmente, ocupa postos como: membro do Acquisition Committee do MALBA e Membro da Latin American and Caribbean Fund (LACF) do MoMA.

 

Sobre a Act.

Fundada em 2017 por Fernando Ticoulat e João Paulo Siqueira Lopes, a Act. preenche diversas lacunas do mundo da arte, em escala global, e está envolvida com agentes de todo o circuito: artistas, colecionadores, galerias, museus e instituições culturais. Tem como missão conectar arte e pessoas a partir do desenvolvimento de consultorias, projetos e publicações. Atua em todas as frentes de criação, curadoria, gestão e produção de projetos de arte para empresas, criando elos entre marcas e seus públicos. Além dos projetos, a Act. aconselha interessados em arte – com coleções recém-iniciadas ou já estabelecidas – em como comprar, gerenciar e catalogar suas obras. Un lento venir veniendo é o primeiro projeto de exposição da Act.

 

Sobre o curador

Mariano Mayer nasceu em Buenos Aires, Argentina, 1971, é poeta e curador independente. Entre seus últimos projetos como curador figuram Táctica Sintáctica, Diego Bianchi (CA2M, Móstoles, 2022), Tiempo produce pintura – pintura produce tiempo. Álex Marco (Espaid39; Art Contemporani39, El Castell39, Riba-roja, 2022), Nunca Lo Mismo, junto a Manuela Moscoso (ARCOMadrid2022); Remitente (ARCOMadrid2021); PRELIBROS (ARCOMadrid – Casa de América, Madrid, 2021); Azucena Vieites. Playing Across Papers (Sala Alcalá 31, Madrid, 2020); La música es mi casa. Gastón Pérsico (MALBA, Buenos Aires, 2017); En el ejercicio de las cosas, junto a Sonia Becce (Plataforma Argentina-ARCOmadrid 2017. Publicou Fluxus Escrito (Caja Negra, Buenos Aires, 2019); Justus (Ayuntamiento de Léon, 2007) e Fanta (Corregidor, Buenos Aires, 2002). Dirigiu o programa em torno da arte argentina: Una novela que comienza (CA2M, Móstoles, 2017).

 

Sobre o MAC Niterói

Inaugurado em setembro de 1996, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) é o principal cartão-postal da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Sua forma futurista criada por Oscar Niemeyer tornou-se um marco da arquitetura moderna mundial. O MAC abriga a Coleção João Sattamini, uma das mais importantes coleções de arte contemporânea do país, e recebe mostras focadas na produção contemporânea brasileira e latino-americana, realizada da década de 1950 até os dias de hoje.

 

 

 Verger por Maureen Bisilliat       

04/nov

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresenta, entre 19 de novembro e 28 de janeiro de 2023, “Ver a vida com Verger por Maureen Bisilliat”, exposição que promove um encontro entre a obra de Maureen Bisilliat (1931, Englefield Green, Reino Unido) e Pierre Verger (1902, Paris, França – 1996, Salvador, Bahia), dois fotógrafos que, através do olhar estrangeiro, contribuíram para a formação de um imaginário afirmativo da cultura popular brasileira. A mostra reúne uma seleção feita por Bisilliat de fotografias realizadas por Verger entre as décadas de 1930 e 1950 e fotografias de sua série “Perspectivas” (2021), elaborada a partir de um trabalho de imersão no seu arquivo. “Ver a vida com Verger por Maureen Bisilliat” também inaugura o novo espaço da Galeria Marcelo Guarnieri, que a partir de 19 de novembro funcionará no número 1054 da Alameda Franca. O catálogo da exposição, publicado pela Editora Vento Leste, será lançado durante a abertura.

Em “Perspectivas” (2021), Maureen Bisilliat resgata fotografias dos ensaios “Pele preta”, “Sertões”, “Caranguejeiras” e “A João Guimarães Rosa” para imprimi-las em novas configurações. O formato de 32 x 112 cm escolhido permitiu à artista experimentar com a composição a partir de duas operações: montando sequências de imagens de uma mesma série ou ocupando um terço do canvas com apenas uma fotografia, sendo o restante do espaço dominado pela total ausência de luz. Esse formato, 32 x 112 cm, remete ao da fotografia panorâmica, que permite registrar até 360º de uma paisagem através de capturas de diversos pontos de vista. Embora incorpore em “Perspectivas” (2021) a ideia de uma visão panorâmica, a montagem de Bisilliat não pretende formar uma sequência linear, mas uma sobreposição de temporalidades que lhe permite trabalhar em narrativas de repetições e cortes abruptos. O formato do canvas também remete ao do filme fotográfico e a total ausência de luz que ocupa mais da metade do espaço em algumas dessas obras poderia aludir a uma imagem não revelada da sombria realidade atual. Por meio dessas operações, a fotógrafa coloca em perspectiva o tempo passado, da captura da imagem, e o tempo presente, de suas intervenções, utilizando-se dos contrastes entre luz e sombra, mecanismo estrutural da fotografia, para refletir sobre a opacidade do tempo presente.

“Pele preta”, datado do começo da década de 1960 e realizado nas cidades de São José do Rio Pardo e São Paulo, foi o primeiro ensaio fotográfico de Maureen Bisilliat e marca a transição de seu trabalho da pintura para a fotografia. “A série deriva de meus tempos de estudante, quando frequentava ateliês de modelo vivo, atenta à anatomia, à movimentação do corpo e à iluminação. O corpo humano, minha porta de entrada na pintura, acabou por me levar à fotografia”, conta Maureen. Em 1966, o trabalho foi exposto no MASP, naquela que seria sua primeira grande exposição individual.

A série “Sertões” é composta por fotografias feitas entre 1967 e 1972 em aldeias e lugares santos dos municípios de Canindé, Juazeiro do Norte e Bom Jesus da Lapa, nos estados do Ceará e da Bahia, e contou com o incentivo de uma Bolsa da Fundação Guggenheim. Algumas das imagens dessa série deram origem à publicação “Sertões: Luz & Trevas”, de 1982, que combina trechos do clássico “Os Sertões” (1902) de Euclides da Cunha com os seus registros fotográficos, produzindo diálogos, justaposições e dissonâncias.

Durante os anos em que trabalhou como fotojornalista para a Editora Abril (1964-1972), Maureen Bisilliat pôde fotografar em contextos diversos do Brasil, produzindo ensaios que ficaram célebres, entre eles “Caranguejeiras”, no qual retrata mulheres catadoras de caranguejos na aldeia paraibana de Livramento. O ensaio, que foi capa da edição de março de 1970 da revista Realidade, integrava uma reportagem que contava com texto de Audálio Dantas. Em 1984, as fotografias foram publicadas em livro, acompanhadas pelo poema “O cão sem plumas” (1950), de João Cabral de Melo Neto.

“A João Guimarães Rosa”, realizado durante a década de 1960 em algumas viagens pelo sertão mineiro, surgiu do desejo de Bisilliat de conhecer e retratar os gerais de Guimarães Rosa depois da leitura de “Grande sertão: veredas” (1956). As viagens da fotógrafa eram intercaladas por encontros e trocas com o escritor, que, diante das imagens feitas por ela, indicava nomes de pessoas, lugares, roteiros a seguir e outros detalhes. Em 1969, o ensaio foi publicado em livro, acompanhado por trechos do romance, o que marca o início do seu trabalho de “equivalências fotográficas” com a literatura brasileira que geraria, posteriormente, outros ensaios e publicações produzidas em diálogo com autores brasileiros.

Assim como Maureen, Verger também consolidou sua linguagem fotográfica por meio de viagens, embora não fosse fotojornalista. Durante a década de 1930, passou por países como China, Filipinas, Egito, Máli, Níger, Vietnã e Djibuti. Entre os anos de 1934 e 1939, publicou mais de 1.200 fotografias em jornais, revistas e livros, como o jornal francês Paris Soir e prestigiosas revistas como Life, Daily Mirror, Arts et Métiers Graphiques. Em 1945, depois de ter vivido por dois anos em Buenos Aires e já no Peru, trabalhando para o Museu de Lima, Verger publicou aquele que seria um dos primeiros fotolivros feitos na América Latina e também um dos primeiros registros de antropologia visual: “Fiestas y danzas en el Cuzco y en los Andes”. Ao chegar ao Brasil, em 1946, começou a trabalhar para a revista O Cruzeiro e realizou, durante os dois anos subsequentes, um de seus mais importantes trabalhos sobre a cultura popular nordestina.

A partir de então, Verger também deu início a uma investigação sobre as relações entre Bahia e África, mais especificamente sobre os rituais e costumes das culturas e religiões afro-brasileiras e africanas em Salvador e na Costa do Benin – e se tornou um estudioso do culto aos orixás. Com uma bolsa de estudos, partiu para a África, onde renasceu em 1953 como Fatumbi – “nascido de novo graças ao Ifá” – e foi iniciado como babalaô, um adivinho que se utiliza do jogo do Ifá. Sua pesquisa, que resultou em inúmeros livros, escritos avulsos, fotografias e exposições, é tida como obra de referência para os estudos sobre as culturas diaspóricas. Em 1988 Verger criou a Fundação Pierre Verger, instituição que preserva seu acervo e divulga sua obra até hoje, notadamente através de publicações e exposições realizadas na Bahia, no Brasil e no mundo, assim como incentiva o desenvolvimento da fotografia baiana. A Fundação atende também pesquisadores que dialogam com as temáticas estudadas por Verger ao longo de sua vida e desenvolve através de seu Espaço Cultural atividades educacionais e culturais com as pessoas oriundas dos bairros populares ao seu redor.

Nas fotografias de Pierre Verger selecionadas por Maureen Bisilliat é possível observar uma predominância de retratos, cenas de trabalho e de celebrações. São situações de igual interesse para Bisilliat, nas quais é possível conhecer a cultura de uma população por meio de seus movimentos de corpo e expressões faciais, vestimenta, costumes, instrumentos musicais e arquitetura. Os trabalhos retratados em suas obras, por exemplo, são aqueles comumente executados por pessoas racializadas; trabalhos informais que podem remontar às tradições sertanejas e da pesca ou mesmo do âmbito da construção civil, realizados de maneira coletiva por exigirem grande esforço físico. Verger registra a puxada de rede em 1946 na praia de Itapuã, na Bahia, enquanto Bisilliat vai registrar, vinte anos depois, a cata de caranguejos na aldeia de Livramento, na Paraíba. Imagens que surgem de situações de estranhamentos e afinidades entre fotógrafo e fotografado e que se constroem nessa relação. Tanto para Pierre Verger como para Maureen Bisilliat, essas fotografias tinham o objetivo não só de apresentar Brasis muitas vezes desconhecidos para o próprio Brasil dos grandes centros – no caso de Verger, Áfricas e Ásias para o resto do mundo – como também de reconhecer a importância de tais atividades na preservação de tradições culturais.

 

 

Coleção de manuscritos em exibição

26/set

 

Fundamentada na coleção de manuscritos de Pedro Corrêa do Lago, considerada uma das maiores e mais relevantes do mundo nesse campo, “A Magia do Manuscrito” é uma exposição que apresenta a escrita como um dos meios viscerais pelos quais deixamos rastros de nossa existência. No momento em que grande parte de nossa comunicação se torna totalmente imaterial, essa coleção transmite o poder da caneta e do papel para iluminar a energia, a paixão, a vulnerabilidade e a imaginação da humanidade através dos tempos.

Com curadoria do próprio colecionador, foi originalmente apresentada pela Morgan Library Museum, em 2018, na cidade de Nova York. A exposição conta com cerca de 180 peças originais na letra de figuras de destaque, divididas em seis grandes áreas da humanidade – arte, história, literatura, ciência, música e entretenimento – com escritos de personalidades internacionais, como Isaac Newton, Darwin, Einstein, Marie Curie, Nelson Mandela, Mozart, Michelangelo, Picasso, Frida Kahlo, Van Gogh, Beethoven, Kafka, Tolkien, Simone de Beauvoir, e muitos outros. Para a exibição do Sesc Avenida Paulista, Arte I (5º andar), São Paulo, SP, a curadoria foi repensada para inclusão de mais nomes relevantes na cultura brasileira, como Tiradentes, Machado de Assis, Santos Dumont, Clarice Lispector, Villa-Lobos, Pixinguinha, Fernanda Montenegro, Carmen Miranda, Oscar Niemeyer, Dom Pedro I, Princesa Isabel, dentre outros.

Pedro Corrêa do Lago, que formou a coleção por mais de cinquenta anos, é escritor, curador e historiador da arte. Nascido no Rio de Janeiro em 1958, foi presidente da Biblioteca Nacional do Brasil entre os anos de 2003 e 2005 e fundou, em 2002, a Editora Capivara. É o curador da coleção Brasiliana Itaú, em exposição permanente no Itaú Cultural. Em coautoria com sua esposa, a escritora e jornalista Bia Corrêa do Lago, venceu o Prêmio Jabuti em 2009 pelo livro “Coleção Princesa Isabel – Fotografia do Século XIX”.

 

Visitação: Até 15 de janeiro de 2023.

 

Claudia Jaguaribe exposição e livro

24/ago

 

 

A exposição de fotografias de Claudia Jaguaribe “Quando eu vi a Flor do Asfalto”, até 24 de setembro na Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, faz uma investigação sobre a  a natureza e a sociedade na atualidade. O livro da artista  “Asphalt Flower”, editado pela Éditions Bessard, encontra-se à venda na galeria.

 

Claudia Jaguaribe

 

A relação entre a natureza e a humanidade é uma das questões mais importantes do século XXI. A incerteza do nosso futuro e os desafios para a nossa sobrevivência física e psíquica na Terra levantam questões ecológicas, sociais e artísticas que demandam uma urgência no seu tratar. O Brasil, país de dimensões continentais, possui características e estruturas de alto contraste que tornam tal situação ainda mais agravante. Se por um lado habitamos um território composto por grandes extensões de biomas preservados, por outro, testemunhamos o aceleramento de sua devastação.

 

Desde 2008 Claudia Jaguaribe vem abordando tais questões por meio de sua obra. A necessidade de expandir as possibilidades da linguagem fotográfica fez com que o trabalho ganhasse consistência ao longo de sua trajetória. Sua produção contempla assim uma diversidade de meios como a fotografia, a foto escultura, o vídeo e o livro. Na exposição “Quando eu vi a Flor do Asfalto”, que se realizará na Galeria Marcelo Guarnieri em São Paulo em agosto de 2022, serão exibidas as séries “Flor do Asfalto” (2020) e “Jardim Imaginário” (2019), além de “Asphalt Flower” (2022), livro inédito publicado pela editora francesa Éditions Bessard. O lançamento do livro ocorrerá durante a abertura da exposição. Também será apresentada uma seleção de fotografias de séries anteriores em que Jaguaribe explorou a ideia de emaranhamento entre natureza e cultura.

 

“Flor do Asfalto” (2022) revisita a ideia de paisagem como um jardim, um espaço de conexão entre homem e natureza onde é possível observar a dinâmica dos ciclos da vida (crescimento, floração e declínio) como um reflexo da sociedade que o molda. As imagens de flores sobrepostas que integram-se simbioticamente às formas asfálticas nos mostram uma superfície que encapsula a natureza desde os tempos bíblicos e que não pode mais ser separada dela. O trabalho possui o formato de uma frisa composta por partes que, unidas, formam uma única imagem. Nesta exposição será apresentado também “Asphalt Flower”, fotolivro publicado pela editora francesa Éditions Bessard que tem o formato leporello em alusão à obra.

 

“Jardim Imaginário” (2019) é uma série de fotografias constituídas por planos sobrepostos que produzem encontros entre flores exuberantes e paisagens urbanas. As imagens que formam a base real sobre a qual Jaguaribe cria o imaginário foram produzidas em reservas ambientais e jardins brasileiros emblemáticos, tais como o Parque Inhotim e o Sítio Roberto Burle Marx. As plantas tropicais sobrepostas são emolduradas ora por fotografias de fragmentos de construções arquitetônicas, ora por registros de devastações produzidas por queimadas, criando imagens que mostram a interseção e o diálogo inevitável entre uma visão idílica da nossa natureza e o testemunho das enormes mudanças que vem ocorrendo. As esculturas apresentadas na exposição também fazem parte desta pesquisa e introduzem, na fotografia, elementos escultóricos presentes nos jardins de Burle Marx, gerando assim um diálogo entre fotografia, paisagem e arquitetura que se realiza no campo tridimensional. Uma forma que ganha uma paisagem ou uma paisagem que ganha uma forma.

 

As outras obras que integram a exposição são, de alguma maneira, a gênese e origem desta pesquisa. “Quando eu vi” (2008) pode ser definida como uma paisagem em construção. As bibliotecas de Jaguaribe são obras icônicas deste período de sua produção que buscava por formas simbólicas de preservação de uma natureza então ainda intacta. A realização de “Pau Mulato”, uma das fotografias da série, marca o primeiro momento em que a abstração de uma forma vegetal levou à criação de peças escultóricas. Já “Aba katu” (2014) é um ensaio poético sobre a visão dos naturalistas viajantes do século XIX que tinham a flora e a fauna como objetos de um escrutínio “científico”.

 

A série “Confluência” (2019), leva a fotografia para o campo da abstração, dando seguimento a sua relação com a natureza através de uma investigação sobre as suas qualidades pictóricas. Nela, estão representados os rios Tocantins, Paraná, Solimões e Iguaçu que se mesclam, assumindo um novo corpo como num processo de metamorfose.

 

Na série “Jardim de Lina” (2018) há uma espécie de embate e complementaridade entre arquitetura e natureza. Nas imagens, o jardim parece invadir a arquitetura modernista da Casa de Vidro, tornando difícil a distinção entre os limites do espaço interior e do exterior. A partir do desejo de tensionar ainda mais esses limites entre o dentro e o fora, entre a fotografia e a escultura, a artista intervém nas imagens com desenhos de círculos que remetem ao vocabulário da arquitetura modernista de Lina Bo Bardi que tinha nas formas da natureza uma fonte de inspiração.

 

“Quando eu vi a Flor do Asfalto” permitirá ao público revisitar a trajetória de Claudia Jaguaribe que há 30 anos dedica-se a produzir uma obra original e potente na qual a denúncia se faz não por uma abordagem jornalística, mas por um olhar artístico que nos reinsere na beleza misteriosa e complexa da vida e do mundo.

 

 

Vida e obra de Lorenzato em livro

05/ago

 

 

A vida e a obra do artista mineiro Lorenzato estarão no centro do encontro que acontece na livraria Megafauna, Edifício Copan, Avenida Ipiranga, 200, loja 53, República, São Paulo, SP, no dia 06 de agosto (sábado), às 11h, por ocasião do lançamento de “Lorenzato”. Organizador do livro, o curador Rodrigo Moura conversa com o crítico Tiago Mesquita e a artista Patricia Leite, e na sequência autografa os exemplares.

 

Durante muitos anos limitada a um círculo pequeno de admiradores, a obra de Lorenzato vem conquistando novos públicos e consolidando seu lugar entre os artistas modernos brasileiros. As pinturas de Lorenzato remontam a sua origem na classe trabalhadora, condição que o levou a conjugar as ambições artísticas à necessidade de sustentar a família com o trabalho na construção civil, podendo se dedicar inteiramente à arte somente com mais de 50 anos.

 

LORENZATO – Rodrigo Moura – Ubu Editora

 

Obra bilíngue que reúne os principais trabalhos do pintor mineiro Amadeo Luciano Lorenzato que produziu um corpo de obra estimado entre 3 mil e 5 mil pinturas com temas e iconografias os mais diversos, que refletem sua biografia e sua relação com a paisagem de Belo Horizonte, MG, seu entorno e sua urbanização. Suas obras conhecidas datam dos anos 1940, quando ele volta ao Brasil depois de ter passado quase trinta anos

 

a Europa, a 1995, ano de sua morte. O artista só pôde se dedicar inteiramente à arte com mais de cinquenta anos, quando se aposenta devido a um acidente de trabalho. Seu ofício como pintor-decorador lhe inspirou a criação de uma técnica pictórica original, que se valia de instrumentos adaptados da decoração de paredes. Com o auxílio de um pente, ele raspava a tinta sobre a superfície repetidas vezes, criando uma fusão de cores com texturas e promovendo uma sensação de movimento. Costumava manipular as tintas a partir de pigmentos minerais encontrados no mercado, e frequentemente as aplicava sobre uma camada de alvaiade que contribuía para intensificar a vibração das cores. A fabricação dos suportes pictóricos, parte importante de sua economia de meios, o levava a reaproveitar pedaços de chapas de madeira e embalagens, às vezes recobertas com tecido ou papel, costurados ou colados à mão. Os formatos eram quase sempre pequenos ou médios – no máximo um metro no lado maior -, denotando certo sentido de domesticidade. Seus quadros têm aspecto áspero: são opacos, táteis e sensoriais. Durante muitos anos limitada a um círculo pequeno de admiradores, sobretudo de artistas e marchands de sua cidade natal, a obra de Lorenzato vem conquistando novas audiências nos últimos vinte anos por meio de exposições, sobretudo em galerias profissionais, que culminaram numa série de apresentações internacionais em 2019. Essa reapreciação consolidou seu lugar entre os artistas modernos brasileiros, contribuindo para a ampliação do cânone. Assim como outros artistas chamados preconceituosamente de primitivos ou ingênuos, Lorenzato recorreu a fontes populares, reprocessando-as com referências eruditas dentro de uma perspectiva não hierárquica. Sua obra deve, pois, ser compreendida como parte da modernidade tardia brasileira.

 

“Lorenzato” é uma publicação da Ubu e está disponível nas principais livrarias.

320 Páginas – Formato 17.5 × 25 × 2.8 cm – R$179,00

 

Sobre o autor e palestrantes

 

Rodrigo Moura é curador, editor e crítico de arte. Trabalhou em instituições brasileiras, como o Museu de Arte da Pampulha, o Instituto Inhotim e o MASP. Desde 2019, é curador-chefe no Museo del Barrio, em Nova York.

 

Tiago Mesquita é crítico de arte e professor de história da arte. Doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo, é autor de livros como Imagem útil, imagem inútil e Cassio Michalany: como anda a cor.

 

Patricia Leite é artista, com bacharelado em Desenho e Gravura pela UFMG. Participou do Núcleo Experimental de Arte, dirigido por Amilcar de Castro, e foi professora de pintura no Curso Livre da Escola Guignard. Tem obras nas coleções de instituições como o Museu de Arte da Pampulha e a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 

*Diante do aumento dos casos de Covid, a Megafauna recomenda aos frequentadores da loja o uso de máscara.

 

 

Krajcberg homenageado pela Pinakotheke Cultural

18/jul

 

 

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta de 25 de julho a 27 de agosto a exposição “Frans Krajcberg (1921-2017) – Natureza em preto e branco”.  Em comemoração ao centenário de nascimento de Frans Krajcberg, um artista pioneiro na defesa do meio ambiente, a mostra cria uma conversa entre suas obras – pinturas, gravuras, esculturas e fotografias em preto e branco – e fotografias e filmes de Luiz Garrido, seu amigo e incentivador ao longo de sua vida.

 

“Sonhei, e ao acordar a natureza

estava preta e branca.

(…) O branco vela o negrume das arvores queimadas.”

 

Frans Krajcberg

 

A exposição tem curadoria de Galciane Neves e Max Perlingeiro, e celebra o centenário de nascimento de Frans Krajcberg, “um precursor na defesa do meio ambiente”, como destaca Marcia Barrozo do Amaral, presidente da AmaFrans. “Ele se revoltou com a destruição da natureza que conheceu em suas viagens pelo país, e sua indignação não esmoreceu até o fim de sua vida, aos 96 anos”, conta.

 

“Natureza em preto e branco” apresenta pinturas, esculturas, gravuras e fotografias em preto e branco de Frans Krajcberg, em diálogo com fotografias e filmes de Luiz Garrido (1945, Rio de Janeiro), seu amigo e incentivador ao longo de sua vida, e que durante décadas o fotografou em diversas ocasiões. Estará na mostra o ensaio e o documentário produzidos por Garrido em 1996, em Nova Viçosa, na Bahia, com registros de intimidade entre os amigos, fruto de um olhar que se achegava do “homem-árvore”, embrenhado na urgência da vida.

 

A exposição será acompanhada do livro “… ao acordar, a natureza estava preta e branca”, com textos de Galciane Neves, Jaider Esbell, Thiago de Mello, Max Pelingeiro, Bené Fonteles, uma entrevista da curadora com o artista Advânio Lessa (1982, Lavras Novas, Minas), amigo de Krajcberg, e ainda o Manifesto do Rio Negro do Naturalismo Integral, de Pierre Restany (1930-2003), lançado em 1978, na presença de Sepp Baendereck (1920-1988) e Frans Krajcberg.

 

A Estética não me basta

 

Max Perlingeiro afirma que “distribuída em telas, esculturas, objetos, relevos e fotografias, a produção de Krajcberg encerra um impressionante libelo pela preservação do patrimônio ambiental, bem de uso comum do povo e consagrado à subsistência e proveito da humanidade”.

 

Marcia Barroso do Amaral conta que ouviu incontáveis vezes Krajcberg dizer: “A estética não me basta. É necessário que a obra possa ecoar e reverberar o grito que trago no peito”. Judeu de origem polonesa, ele chegou ao Brasil em circunstâncias trágicas, aos 27 anos, buscando superar os horrores da Segunda Grande Guerra, conflito no qual esteve pessoalmente envolvido e que lhe roubou a família, dizimada nos campos de concentração. “Aqui, neste país tropical, de natureza exuberante, Krajcberg encontrou mais do que inspiração para sua obra”, diz Marcia.

 

“Além de excepcional artista – premiado em importantes Bienais, como Veneza e São Paulo, e com obras nos acervos de importantes museus, como o Beaubourg, em Paris – Krajcberg foi um combatente, um ativista ambiental, quando ainda pouquíssimosse sensibilizavam pelo tema e por suas drásticas consequências. Impossível examinar suas esculturas, pinturas e relevos sem a conexão profunda e indissociável com a causa que o artista abraçou, integral e decididamente ao longo de sua vida. Nesse caso, não há forma dissociada do conteúdo, do contexto em que fora recolhido o suporte natural”, afirma. Para ela, a obra de Krajcberg “é o alerta de um pioneiro na defesa e preservação de nossos biomas naturais e dos remanescentes povos originários, e uma exortação dolorosamente atual, ante a colapsada fiscalização e controle ambiental sob responsabilidade do Estado brasileiro”.

 

Luiz Garrido por Frans Krajcberg

 

Frans Krajcberg disse sobre a obra de seu amigo Luiz Garrido: A técnica não é tudo, e sim a participação do artista na obra. Na fotografia me impressiona essa relação do fotógrafo com a máquina, a maneira como ele cria, a percepção da luz, o enquadramento da imagem, o momento exato do clique. Conheci o Garrido, em Paris, em 1968, quando ele estudava fotografia, e nossa amizade desenvolveu-se a partir dos muitos encontros nos quais sempre discutíamos bastante sobre o assunto. Depois de alguns anos, descobri, já no Rio de Janeiro, o fotógrafo Garrido e fiquei impressionado com o seu trabalho. Um artista captando, com a máquina fotográfica, uma imagem muito própria, criando sua obra. Isso me impressiona sempre, o talento e o desejo de criar uma obra própria, o trabalho de pesquisa, o domínio da técnica como instrumento e não como fim. A máquina não é tudo, o artista sim. Os retratos, foco de seu atual interesse e que fazem parte dessa exposição, são a síntese dessa união entre técnica, luz, imagem, percepção de um

 

momento fugaz de um olhar, um gesto, uma postura que dizem algo além da imagem retratada. Em resumo, é a participação, por inteiro, de artista, em sua obra, são os retratos do ponto de vista Garrido, é a fotografia como forma de expressão, arte, uma obra que foi cuidadosamente elaborada e que transcende a imagem retratada.

 

Sobre Frans Krajcberg

 

Frans Krajcberg foi escultor, pintor, gravador e fotógrafo. Autor de obras que têm como característica a exploração de elementos da natureza. Destaca-se pelo ativismo ecológico, em que associa arte à defesa do meio ambiente. Em toda sua trajetória, participou seguidamente de exposições em importantes museus no Brasil e no exterior, foi premiado várias vezes. Participou de Bienais em diversos países – França, Cuba, Uruguai – foi premiado na Bienal de Veneza, em 1964, integrou muitas edições da Bienal Internacional de São Paulo, desde a primeira, em 1951, e continuamente as de 1953,1955,1957,1961,1963 1977 1979 1989 e 2000. Frans Krajcberg nasceu em 12 de abril de 1921, em Kozienice, na Polônia, filho de um modesto comerciante, e de mãe militante comunista. É o terceiro de cinco filhos: dois irmãos e duas irmãs. Por ser judeu, sofre preconceitos e perseguições pelos nazistas. Toda sua família foi morta no Holocausto. Preso, consegue fugir. Integra-se ao exército russo, aquartelado na Polônia, seguindo para Vilna, de onde é enviado à Romênia. Depois de tentar ingressar sem sucesso na Escola de Belas-Artes de Vitebsk, desloca-se para Leningrado, onde começa a estudar engenharia hidráulica e belas-artes na universidade, em 1940. Em 1941, quando os alemães invadem a URSS, Krajcberg integra-se à Resistência Polonesa, incorporando-se a seguir ao exército polonês, apoiado pelos russos. Com a patente de oficial, ajuda a construir pontes de emergência nas frentes de batalha. No fim da guerra, vai pra Alemanha, estuda com Willi Baumeister (1889-1955), professor da Bauhaus, na Escola de Belas-Artes de Stuttgart. Expõe no Centro de Refugiados da cidade. Em 1948, migra para o Brasil aos 27 anos, incentivado pelo amigo e também artista plástico Marc Chagall. Sem dinheiro e sem saber falar português, dorme ao relento durante alguns dias na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, então partindo para São Paulo, onde, recomendado por Francisco Matarazzo, é contratado para trabalhar como operário na manutenção do Museu de Arte Moderna. Expõe duas pinturas na I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, época em que trabalhava na montagem da exposição no pavilhão Trianon, como funcionário do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Participa do I Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia, em São Paulo. Expõe individualmente na Galeria Domus, em São Paulo. Em 1952, por indicação de Lasar Segall, que dele comprara um desenho, vai trabalhar como engenheiro-desenhista nas indústrias de papel Klabin em Monte Alegre, no Paraná. Contudo, abandona esse emprego para se isolar nas matas para pintar. Ali, no interior do Paraná, Krajcberg testemunha desmatamentos e queimadas nas florestas. Participa da II e da III Bienal Internacional de São Paulo, e em 1956 se muda para o Rio de Janeiro, onde produziu os seus primeiros trabalhos fruto do contato direto com a natureza. Em 1964, criou suas primeiras esculturas com madeiras mortas. Realizou diversas viagens à Amazônia e ao Pantanal, fotografando e documentando os desmatamentos, além de recolher materiais para as suas obras, como raízes e troncos calcinados. Em 1969, participa de exposições em vários países, e passa a ser internacionalmente conhecido. Ganha uma exposição individual no Centro Nacional de Arte Contemporânea e no Centro Georges Pompidou, em Paris. A partir de 1972 viveu no sul da Bahia onde manteve o seu ateliê no Sítio Natura, no município de Nova Viçosa. Chegou ali a convite do amigo e arquiteto Zanine Caldas (1919-2001), que o ajudou a construir sua morada: uma casa, a sete metros do chão, no alto de um tronco de pequi com 2,60 metros de diâmetro. À época Zanine sonhava em transformar Nova Viçosa em uma capital cultural e a sua utopia. Em 1978, durante 32 dias, Frans Krajcberg, o artista Sepp Baendereck e o crítico Pierre Restany cruzaram em um barco o Rio Negro, na região amazônica. Durante o trajeto eles refletiam sobre uma nova maneira de ver, sentir e fazer a arte dentro de uma ótica voltada para a realidade brasileira. Os dois artistas, Baendereck e Krajcberg, então já cidadãos brasileiros e declaradamente apaixonados pela nossa biodiversidade, convidaram o crítico Pierre Restany para que ele aprofundasse sua relação com o Brasil e pudesse perceber melhor a grandeza de nosso país. No final do empreendimento, além de um “Diário de Viagem”, Restany produziu o “Manifesto do Rio Negro”, que foi divulgado em outubro de 1978 em todo o mundo. Em 1996, participa da exposição “Villette-Amazone/  Manifesto para o Meio Ambiente no Século XXI”, no Grande Halle de la Villette, em Paris. “A obra de Krajcberg é um grito contra a destruição da Floresta Amazônica e tem uma força universal”, diz Jacques Leenhardt, sociólogo e filósofo francês que divide com Bettina Laville a organização da exposição. A ideia foi a de transformar o Parc de la Villette em um “território ecológico”. Logo ao entrar, o visitante depara com as esculturas monumentais de Krajcberg, que ocupam, com murais, colagens e fotografias, um espaço de 1.800 m 2 , totalizando 141 peças. Por sua luta para a preservação da natureza, mundialmente reconhecida, Frans Krajcberg recebe em 2012 do prefeito Bertrand Delanoë a mais alta honraria de Paris, a Medalha Vermeil – prêmio de agradecimento pela contribuição às artes. Krajcberg foi o único artista vivo, não francês, que possuiu um espaço dedicado às suas obras mantidas pela prefeitura parisiense. Frans Krajcberg morre em 15 de novembro de 2017, e seu desejo é cumprido: em um domingo, suas cinzas são depositadas no tronco de uma árvore escolhida por ele, no sítio Natura, em Nova Viçosa, onde ele viveu desde 1972. A obra de Krajcberg reflete a paisagem brasileira, em particular a floresta amazônica, e a sua constante preocupação com a preservação do meio ambiente. Ao longo de sua carreira, o artista denunciou queimadas no estado do Paraná, a exploração de minérios no estado de Minas Gerais e o desmatamento da Amazônia e do Pantanal. Antes de morrer, ele focou em fotografia, reproduzindo o desmatamento e o descaso com o meio ambiente.

 

 

Rubem Valentim na Pinakotheke São Paulo

28/jun

 


A Pinakotheke São Paulo, Morumbi, lançará no dia 02 de julho, às 11h, o livro “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria” (pelo selo da Edições Pinakotheke), edição bilíngüe (port/ingl), com 292 páginas, em formato 21 x 27cm, apresentação de Max Perlingeiro, e texto de Bené Fonteles, amigo mais próximo e que acompanhou por duas décadas Rubem Valentim, extraordinário artista, que fez do sagrado sua vida e obra.
O livro que celebra o centenário de Rubem Valentim, contém depoimentos sobre o artista e sua obra escritos por personalidades da arte como Emanoel Araújo, Ferreira Gullar, Giulio Carlo Argan, Roberto Pontual, Clarival do Prado Valladares e Theon Spanudis. Com edição de Camila Perlingeiro e coordenação geral de Luli Hunt, a publicação busca preencher uma lacuna na história da arte sobre este grande artista, e foi possível graças ao patrocínio do Itaú Cultural, a partir da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Secretaria de Cultura/Ministério do Turismo). “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria” poderá ser encontrado nas sedes da Pinakotheke, em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, nas livrarias e plataformas de livros na internet, o preço é R$ 120,00. Para marcar o lançamento do livro, a Pinakotheke São Paulo realiza a exposição “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, com cerca de 100 trabalhos do artista, em pinturas e desenhos, e ainda seus “objetos”, em pintura sobre madeira. A curadoria é de Max Perlingeiro com consultoria de Bené Fonteles. Será exibido, em looping, o vídeo “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, feito especialmente para a ocasião, com 28’15 de duração, direção de Max Perlingeiro, edição de Fabricio Marques, narração de Bené Fonteles e fotografia de Andre Caliento Barone.

 

Ensaio fotográfico de Christian Cravo

 

Estará também na exposição um ensaio fotográfico de Christian Cravo do “Templo de Oxalá”, conjunto com 20 esculturas e 10 relevos criado em 1974 por Rubem Valentim, pertencente ao Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador.

 

Simbologia Mágica – Tradições populares dos negros da Bahia

 

Nascido em Salvador, em 09 de novembro de 1922, e falecido em São Paulo, em 30 de janeiro de 1991, “Valentim queria essa conexão sagrada em complementação com a estética. Rubem Valentim é um artista essencial para uma melhor compreensão da tradição afro-brasileira; e Bené Fonteles, seu principal estudioso e interlocutor por sua conexão espiritual”, escreve Max Perlingeiro no texto “Um artista sacerdote”, na apresentação do livro. “A pedido do artista, Bené torna-se o Ogã (palavra que vem do iorubá e significa “Senhor da minha casa”) do terreiro de Valentim. Aquele que cuida de sua vida e, em consequência, de sua obra. É mais um caso de amizade que a Pinakotheke torna visível!”, destaca Max, responsável pelo planejamento e organização da publicação e curador da exposição. Giulio Carlo Argan (1909-1992), o grande teórico da arte que conviveu com o artista no início dos anos 1960, durante sua estada em Roma, escreveu sobre ele: “Os seus signos são deduzidos da simbologia mágica que se transmite com as tradições populares dos negros da Bahia. A evocação destes signos simbólico-mágicos não tem, entretanto, nada de folclorístico. É necessário expor, antes, que eles aparecem subitamente imunizados, privados das suas próprias virtudes originárias, evocativas ou provocatórias: o artista os elabora até que a obscuridade ameaçadora do fetiche se esclareça na límpida forma do mito. Decompõe-nos e os geometriza, arranca-os da originária semente iconográfica; depois os reorganiza segundo simetrias rigorosas, os reduz à essencialidade de uma geometria primária, feita de verticais, horizontais, triângulos, círculos, quadrados, retângulos; enfim, torna-os macroscopicamente manifestos em acuradas, profundas zonas colorísticas, entre as quais procura precisas relações métricas, proporcionais, difíceis equivalências entre signos e fundo”. “O que a sua pintura, em última análise, quer demonstrar é que nas atuais concepções do espaço e do tempo os símbolos e os signos de uma experiência antiga, ancestral, conservam uma carga semântica não inferior à geometria pitagórica ou euclidiana”, continua Argan. “O seu apelo à simbologia mágica não é, portanto, o apelo à floresta; é, talvez, a recordação inconsciente de uma grande e luminosa civilização negra anterior às conquistas ocidentais. Por isso, a configuração de suas imagens é também mais claramente heráldica e emblemática do que simbólico-mágica”.

 

Melhor síntese sincrética em todas as Américas afetadas por uma colonização brutal

 

Paraense nascido em 1953, artista plástico e poeta, Bené Fonteles destaca que Rubem Valentim “…talvez seja o artista que fez melhor e mais intensamente a síntese sincrética em todas as Américas afetadas por uma colonização brutal que ainda atormenta a consciência no século 21”. “Artista extraordinário que decodificou, durante cinco décadas, a herança mestiça na busca obsessiva de um fazer sempre leal sua “riscadura e sentir brasileiros”, atravessado por propósitos de uma rigorosa e radical artesania”. Ele comenta que Rubem Valentim afirmava: “Fora do fazer, não há salvação”. “Esta salvação era eivada pela   radicalidade de um artista-sacerdote – como ele queria ser em seu mosteiro-ateliê sonorizado pelos cantos gregorianos ou, ainda, Bach e Mozart”, observa Fonteles. “Seja em Brasília ou São Paulo, desenvolvia seu projeto inspirado por sua vocação construtiva vinda da tradição milenar de nossa arte ameríndia assim como dos povos que atravessaram o Atlântico em meio a toda dor e a redimiram num raro projeto cultural e espiritual sem paralelo no mundo. Valentim é produto vital desse ser mestiço que nos tornamos”.

 

Obras do artista em coleções e locais públicos

 

Em 1963, estava sendo criado o Museu de Arte Moderna de Roma, que adquiriu três obras de Rubem Valentim. Em Roma, a Galleria Nazionalle d’Arte Moderna e o Palácio Doria Pamphili também têm obras do artista. Outras instituições na Europa com trabalhos de Rubem Valentim são o Museu de Arte Moderna de Paris, e o Museu de Arte e História de Genebra, Suíça. O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), EUA, e Museu de Arte de Ontário, Canadá, têm obras do artista. Na África, há obras de Rubem Valentim no Museu de Arte de Lagos, na Nigéria, e no Museu de Arte de Marrakech, no Marrocos. No Brasil, coleções e locais públicos onde podem ser vistas obras de Rubem Valentim: em São Paulo – Biblioteca Municipal Mário de Andrade, Centro Cultural São Paulo, Museu Afro-Brasil, Museu de Arte Contemporânea da USP, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Praça da Sé, e Coleção Itaú-Unibanco. Em Brasília: Coleção de Arte do Banco do Brasil, Centro Cultural Banco do Brasil, Palácio do Itamaraty, Palácio do Buriti, Ministério da Educação, e Secretaria da Fazenda do Distrito Federal. Em Salvador: Museu de Arte Moderna da Bahia. No Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna.

Até 30 de julho.

 

 

Cildo Meireles na Revue Cahiers D’Art/Edição Standard

20/jun

 

A Cahiers d’Art apresenta o último número de sua histórica Revue em homenagem a Cildo Meireles. Uma avaliação resplandecente da obra do artista brasileiro Cildo Mireles, a edição apresenta textos publicados anteriormente e placas requintadamente impressas de suas instalações, esculturas e uma seleção de desenhos. A edição é assinada por Guilherme Wisnik e Diego Matos.

 

A palavra do artista

 

Ao longo de vinte anos, meu trabalho tem sido uma sucessão de viagens para o meio. Nas artes visuais, o meio é um conceito amplo e vago: o espaço. E é a repetição obstinada dessa obsessão que me interessa como artista. Tematizando-o. Reconstruindo-o. Juntando tudo. A obra tem sempre vários caminhos possíveis: contém todos eles. Esse caos fascinante é o que mais me atrai nas artes visuais: fazê-lo é totalmente libertador (fato que não impede de ser usado, às vezes, como mero substituto para os ofícios mentais).

 

Cildo Meireles

 

A edição está disponível em inglês e em francês. Apresenta-se embrulhada em papel glassine, dentro de uma caixa de apresentação em cartão.

 

Informação adicional

Edição Padrão

Página 175

Ilustrações 165

Capa mole

Edição bilingue, inglês e francês

Dimensões 24,5 × 3 × 31,5 cm

Peso 1,5kg