Charles Lessa no Instituto Ling

13/abr

 

O Instituto Ling recebe o artista visual cearense Charles Lessa para realizar uma intervenção artística em uma das paredes do centro cultural. De 10 a 14 de abril o público poderá acompanhar gratuitamente a criação da nova obra, observando as escolhas, os gestos e os movimentos do artista. Após a finalização, o trabalho ficará exposto para visitação até o dia 03 de junho, com entrada franca.

A atividade faz parte do projeto LING apresenta, que este ano conta com a curadoria de Bitu Cassundé, pesquisador e atual Gerente de Patrimônio e Memória do Centro Cultural do Cariri (Crato/CE). Após a finalização do trabalho, Lessa comentará a experiência e o resultado em bate-papo com o público e o curador no sábado, 15 de abril, às 11h, em frente à obra. Faça sua inscrição sem custo.

 

 Beiradas – a margem como centro

A ideia, ou imagem, do que entendemos sobre o Nordeste brasileiro se configura, em muito, pelo olhar do outro, pelo engessamento clichê, preconceituoso, racista, que alimenta narrativas ultrapassadas e solidifica um imaginário colonizado. Mas são muitos os “Nordestes” que se reinventam e se firmam como possibilidades de reconstrução, afinação e reorganização dessas centralidades. Pensar o centro hoje é, principalmente, subverter a ordem e observá-lo a partir das beiradas. Dentro de um mesmo território ecoam diferentes posições, contraposições e reposicionamentos; o corpo, como um agente importante dessas transformações, reorganiza diferentes paisagens por meio dos deslocamentos, das diásporas internas e do desejo. A dialética entre o Corpo e o Território também é atravessada por questões políticas, sociais e culturais, que, a partir do lugar da subjetivação, reorganizam, fabulam e ficcionalizam outras composições desse mesmo território. As beiras, as margens, as bordas, as extremidades se reconfiguram como importantes centros, que elaboram novas perspectivas sobre o Nordeste brasileiro – outras paisagens, outras maneiras de observar um mesmo ponto, de acessar as memórias, a ancestralidade e os mestres e mestras da cultura popular. Estão também na linguagem e na oralidade importantes mecanismos de ativação desses distintos territórios. A curadoria desta edição evidencia um recorte de artistas que possuem a margem como centro, seja numa perspectiva geográfica ou poética.

Bitu Cassundé

 

Sobre o curador

Bitu Cassundé nasceu em Várzea Alegre, CE, 1974. É Gerente de Patrimônio e Memória do Centro Cultural do Cariri (Crato, CE), foi curador do Museu de Arte Contemporânea do Ceará de 2013 a 2020 e coordenou o Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema da Artes de 2013 a 2018. Também integrou a equipe curatorial do projeto À Nordeste, no SESC 24 de Maio, em São Paulo (2019), juntamente com Clarissa Diniz e Marcelo Campos; participou da equipe curatorial do Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural de São Paulo (2008 a 2010); e dirigiu o Museu Murillo La Greca, em Recife (2009 a 2011). Em 2015, participou da 5ª edição do Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça, da equipe curatorial do 19º Festival Videobrasil e do Projeto Arte Pará. Com Clarissa Diniz, formou a coleção contemporânea do Centro Cultural Banco do Nordeste, vinculado ao projeto Metrô de Superfície. Em 2022, foi curador da exposição Antonio Bandeira: Amar se Aprende Amando, na Pinacoteca do Estado do Ceará. Suas últimas pesquisas se dedicam a investigar as relações de trânsito entre as regiões Norte e Nordeste do Brasil, com ênfase nos ciclos econômicos, nos fluxos migratórios e nas conexões entre vida, desejo e arte. Questões relacionadas à subjetividade, confissão, intimidade e biografia também integram suas pesquisas. Atualmente, desenvolve pesquisa de doutorado em Artes na UFPA e vive entre Crato e Belém.

 

Sobre o artista

Charles Lessa nasceu em Crato, CE, 1993. É artista visual licenciado pela Universidade Regional do Cariri – URCA, desenvolve trabalhos em pintura, com desdobramentos na arte urbana, e escultura. Cria ficções com a pintura figurativa, na qual investiga a estética popular em diálogo com a arte contemporânea. Participou de exposições individuais e coletivas, como Que na próxima existência se houver eu nasça girafa, no CCBNB, em Cariri (2019), e Viagem à aurora de um novo mundo, na galeria b_arco, em São Paulo (2020), e no 72º Salão de Abril, em Fortaleza (2021). Também participou de edições do Concreto – Festival Internacional de Arte Urbana e foi artista pesquisador no Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema das Artes em 2021. Foi indicado ao Prêmio Pipa 2022. Vive e trabalha em Crato, no Cariri (Ceará).

Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens.

 

 

Revisão histórica do Brasil

 

O Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, será inaugurado com uma exposição que repensa a história do Brasil a partir de obras de doze artistas negros, e uma programação de música, cinema, atividades para as crianças, oficinas e um seminário.

Os curadores Marcelo Campos e Filipe Graciano reuniram aproximadamente 40 obras, que ocuparão um espaço monumental de 3.350 metros quadrados, dos artistas Aline Motta, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Azizi Cipriano, Cipriano, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa, Moisés Patrício, Nádia Taquary, Rosana Paulino, Thiago Costa e Tiago Sant’ana, das quais seis comissionadas especialmente para a exposição. A mostra busca ainda refletir sobre a cidade de Petrópolis, conhecida como “imperial”, e que tem uma forte memória negra.

O Café Concerto do Centro Cultural Sesc Quitandinha, amplo teatro com capacidade para 270 pessoas, vai sediar a programação de música e de cinema. Os curadores são todos negros. A curadoria de música é do cantor, compositor, violonista e poeta baiano Tiganá Santana. A mostra de cinema terá como curador Clementino Junior, cineasta dedicado à difusão da obra audiovisual racializada. O grupo Pretinhas Leitoras, formado pelas gêmeas Helena e Eduarda Ferreira, nascidas em 2008 no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, estará à frente das atividades infantis, que serão feitas na Biblioteca do Centro Cultural. Para ampliar a percepção do público das obras expostas, haverá oito oficinas e laboratórios, nos salões da exposição e nas Varandas. Flávio Gomes, pesquisador do pensamento social e da história do racismo, da escravidão e da história atlântica, será o curador das ações da linguagem escrita, literária e oral paralelas à exposição. Estão também sendo programadas performances com grupos artísticos da região.

No dia 15 de abril, às 19h, haverá um show de Juçara Marçal.

 

Revisões históricas no Brasil

O curador Marcelo Campos diz que passou a observar “o modo como os artistas negros lidam com o período das navegações”. “Este trauma, esta tragédia de nossa sociedade, exibidos nas documentações de maneira normalizada, com ilustrações de grilhões, correntes. Junto com os artistas, pensamos em como lidar com isso”, diz. “De que modo a arte lida com o imaginário do trauma da escravidão, da diáspora”. Ele menciona as pesquisas feitas pelo sociólogo inglês Paul Gilroy, estudioso da diáspora negra, e autor do livro “Atlântico negro” (1993), tema presente nos trabalhos, e lembra que a artista Rosana Paulino, em conjunto de trabalhos de 2016, chamou de “Atlântico vermelho”, em alusão a Gilroy, evocando a violência da escravidão e seus desdobramentos até os dias de hoje. Marcelo Campos conta que em aulas, bibliografias e várias ações, há “importantes revisões históricas no Brasil, com a inclusão de autoras e autores negros”. Enquanto nos anos 1990 os afro-americanos já “iam direto na ferida”, observa, no Brasil as iniciativas eram isoladas. As políticas públicas dos últimos 20 anos, entretanto, com as cotas para estudantes negros, “em que a UERJ foi pioneira”, e a penetração das universidades no interior do país, como Cariri e Recôncavo Baiano, propiciaram a que os negros passassem a ter acesso às diversas áreas de conhecimento. “Esta pressão obrigou a academia e os espaços de arte a se modificarem”. Dos doze artistas convidados, seis foram comissionados para criarem trabalhos especialmente para a exposição: Azizi Cypriano, Juliana dos Santos, Moisés Patrício, Pedro Cipriano, Thiago Costa e Tiago Sant’ana. O título “Um oceano para lavar as mãos” é retirado de um verso da música “Meia-noite”, composta por Chico Buarque e Edu Lobo para a peça “O Corsário do Rei” (1985), de Augusto Boal. “Este verso sempre me chamou a atenção na música. A ideia de limpar – que pode ter sentido de cura, de purificação, presente em obras como as de Ayrson Heráclito – ou de não se fazer nada a respeito”.

 

Petrópolis: Uma cartografia negra

Marcelo Campos destaca que a exposição busca também “repensar a cidade de Petrópolis”. Conhecida como cidade imperial, Petrópolis tem uma cartografia de presenças negras, tendo abrigado quilombos em várias regiões do município: Quilombo da Tapera, no Vale das Videiras – com uma comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Palmares em 2011 – Quilombo Manoel Congo, Quilombo Maria Comprida, Quilombo da Vargem Grande, e, de acordo com pesquisadores, também no local onde em 1884 foi construído o Palácio de Cristal, no Centro.

Filipe Graciano, arquiteto e urbanista, idealizador do Museu de Memória Negra de Petrópolis, e coordenador de Promoção da Igualdade Racial do Município, conta que a expografia vai salientar a ideia de encontros contida nos múltiplos significados que a palavra oceano traz. “Independentemente de nossa história de apagamento, nosso país se revigora com a presença negra. Além do trauma e da tragédia impostos aos negros, o oceano traz uma perspectiva de encontro, de afeto, cura, cuidado e resiliência”, explica. “As obras dos artistas refletem este encontro de várias culturas, a diversidade cultural da África, na criação dessa memória que atravessa a vida como ela é”. Para ele, a exposição “revisita este apagamento, esses riscados que repensam e refazem essa memória, essa presença”. “A monumentalidade do espaço do Centro Cultural Sesc Quitandinha vai ao encontro da monumentalidade da existência negra no Brasil”, observa. Graciano assinala a importância do olhar curatorial negro, com artistas negros, para contar “outra história, que não a única no Brasil”. “A potencialidade das mãos, de lavar a história”. “A exposição é quase um ato de reparação histórica”, afirma, observando que o trabalho educativo dará uma contribuição para “repensar a memória da cidade”.

 

A obra de Athos Bulcão no Farol Santander

11/abr

Considerado como um artista completo, o Farol Santander exibe pela primeira vez em Porto Alegre, RS, obras de Athos Bulcão. Seus trabalhos percorrem áreas múltiplas como o desenho, pintura, painéis, design de superfície, murais, vestimentas e paramentos litúrgicos. Sua grande marca é a integração da arte na Arquitetura, como os muros escultóricos do Congresso Nacional e também do Hospital Sarah Kubitschek.

A exposição Athos Bulcão traz um recorte de sua extensa obra. Mais de 160 obras podem ser visitadas no mezanino do prédio e também na área externa, resultando uma ampla imersão e rica experiência para o público. O conjunto destaca pinturas, projetos e desenhos, peças gráficas, painéis de azulejos, fotomontagens, máscaras e objetos do período de 1940 a 2000. Três jogos de diferentes padrões de azulejos, estão em uma das salas do mezanino, e permitem que o público tenha a experiência de criar sua própria obra de arte. Na área externa, dois cubos com fachadas de azulejos de diferentes cidades do Brasil e do exterior, convidam o público para conhecer o trabalho de Athos no interior do Farol Santander indo ao encontro que dizia o próprio artista, “a arte existe para impactar, para provocar as pessoas”. O legado doado pelo artista está preservado na Fundação Athos Bulcão, em Brasília. Este acervo inclui as criações de ateliê – desenho, pintura, gravura, fotomontagem, objetos, o trabalho gráfico em jornais, revistas, livros e capas de discos. Athos Bulcão se destacou em seu diálogo direto com a Arquitetura, porém, sua obra vai muito além.

A curadoria da exposição Athos Bulcão é de Marília Panitz e André Severo e a produção é de Daiana Castilho Dias, presidenta do IPAC- Instituto de Pesquisa e Promoção da Arte e Cultura.

 

Sobre o artista

Nascido no bairro carioca do Catete em 1918, Athos Bulcão seguiu o roteiro obrigatório daquela época para jovens ricos ou de classe média, estudar Medicina, Engenharia ou Direito. No seu caso, ficou com a primeira opção, mas abandonou o curso em 1939 para se dedicar à arte. Em 1948 recebeu uma bolsa de estudos do Governo Francês e foi estudar em Paris. Retornou ao Brasil em 1949, e em 1952 foi admitido no serviço de documentação do Ministério da Educação e Cultura, e mais tarde passou a colaborar em projetos do arquiteto Oscar Niemeyer, com quem fez parceria nas obras de construção de Brasília e também com o premiado arquiteto João Filgueiras Lima. Em 2018, uma grande exposição em Brasília foi organizada para marcar os 100 anos do artista, que teve a capital da República como o principal cenário de suas obras monumentais. O artista faleceu aos 90 anos, vítima do Mal de Parkinson, em Brasília, DF, em 2008.

Exposição no Recife

06/abr

 

O artista Bruno Fish inaugurou sua primeira exposição individual, no Museu Murillo La Greca, Parnamirim, Recife, PE. A mostra, que fica em cartaz até o dia 02 de junho, se chama “Cerâmicatomicamente” e apresenta 28 obras, entre esculturas e pinturas, criadas nos últimos 6 anos. São 14 quadros e 14 peças em cerâmica que, de acordo com a produção do evento, carregam influências surrealistas e regionais do artista. Nas obras, são retratados peixes, lobos, primatas, com cores vibrantes e uma fusão com a forma e os hábitos humanos.

O nome da exposição, “Cerâmicatomicamente”, faz referência ao processo que a cerâmica passa quando submetida à alta temperatura e também ao alcance sem fronteiras da mente. A curadoria é de Felipe Campelo.

 

 

Paulo Monteiro no Instituto Ling

 

A mostra “Paulo Monteiro: Linha do Corpo” fica em cartaz no Instituto Ling, Porto Alegre, RS, até 17 de junho, com visitas livres de segunda a sábado e a possibilidade de visitas com mediação para grupos, mediante agendamento prévio e sem custo pelo site. O público poderá conferir ao todo 67 obras, criadas de 1990 até 2022. Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens.

 

Paulo Monteiro: Linha do Corpo

Esta exposição traz trabalhos de um segmento decisivo na obra de Paulo Monteiro, subsequente a um período de imersão na pintura, no sentido extremo do Expressionismo Abstrato e da Transvanguarda a que aderiu nos anos 1980-90 com o grupo Casa 7, que agitou essas décadas. Já então, a afinidade com as “caricaturas pictóricas” de Philip Guston e sua produção de quadrinhos denunciava a paixão pelo traço. Esta série de desenhos em grafite, os guaches, as peças de parede, as esculturas e as “pinturinhas” recentes assinalam um deslocamento, partindo daquela urgência e excesso expressivo para uma meditação gráfica: um recuo abrupto ao silêncio da linha. O desenho, em sua nudez de efeitos, é aqui o meio para refazer uma gênese, uma decantação da forma como grafia do movimento. Um traço incerto, que ora desliza, ora resiste expondo rebarbas da fricção com o papel. Um passo aquém para ganhar distância, meditar aquele fazer, autenticá-lo. O empasto anterior se torna rarefeito; a efusão converte-se em absorção, a ponto de se reduzir a elementaridades. O papel branco e o grafite preto que o sulca; a massa de argila (depois fundida em metal) que se erige num breve movimento (achatar, cortar e torcer): um mesmo pequeno gesto. A arte torna-se sua reflexividade; desenho mental, percurso errático do desejo. Dobra-se sobre si mesma, abstrai, duplica-se e sonha outros espaços. Instável, volta a desmoronar na massa amorfa. Mas o traço deve conter-se, descolar dos contornos, abstrair para avançar no espaço e, então, aventurar-se. Foi preciso despir-se de toda “coloração”, concentrar-se no gesto elementar, para, enfim, acessar esse núcleo poético que, desde então, perpassa toda a obra. Uma tensão limite entre a mobilidade e a leveza da linha e o peso das massas escultóricas, que nunca se consolida em “boa forma”, mas se articula numa ambiguidade pulsante, esculpindo corpos nas superfícies.

 

Virginia H. A. Aita

 

Sobre o artista

Conhecido como um dos nomes expoentes da geração surgida nos anos 80 no Brasil e tendo participado do notório grupo Casa 7, Paulo Monteiro desenvolveu ao longo das últimas décadas um extenso, coeso e vibrante corpo de trabalho, marcado por uma vontade profundamente particular, mas cuja capacidade de articulação aspira à linguagem universal. Suas pinturas e esculturas atravessam as influências recolhidas da transição do expressionismo abstrato para o neoexpressionismo e do minimalismo para elaborar estados de espírito e situações radicais em suas manifestações mais espontâneas. Baseado na síntese, o núcleo de sua pesquisa se encontra na natureza da conformação da matéria, que se estica em linhas, esparrama-se em marcas gráficas, demarca relevos, cortes, torções, dobras e desmanches, sempre em exercícios marcados pela combinação de delicadeza e rigidez.

A simplicidade de seus gestos não reduz o disparo de múltiplas experiências. Muito pelo contrário, aponta para uma ambiguidade, tão determinada quanto bem-humorada. Sua obra pode ser encarada a partir de aspectos do pensamento metafísico, mas também em diálogo com noções de coreografia e dança, ventilando questões a respeito do deslocamento, das medidas de distância e dos limites que delineiam o que entendemos como dentro e o que especulamos como fora. São manifestações que lidam, sobretudo, com o estado contínuo de transformação das coisas; e com a consciência que nos permite manter-nos sempre abertos para a chegada de novas imaginações. Seu trabalho integra inúmeras coleções permanentes, incluindo: MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAC-SP (Museu de Arte Contemporânea de São Paulo), MAM-RJ (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) e Museu de Arte Contemporânea de Niterói.

 

Sobre a curadoria

Virgina H. A. Aita, possui breve incursão pelas artes nos anos 1990 e mestrado e doutorado em Filosofia, especializou-se em filosofia moderna, estéticas anglo-americanas e Arthur C. Danto. Estudou Filosofia e História da Arte na Universidade de Columbia (Barnard College, NY), onde realizou seu pós-doutorado em Estética entre 2015 e 2016, e participou de cursos temporários na School of Visual Arts. Lecionou na UFRGS, na UFBA, na Casa do Saber (SP) e no Instituto Ling. Atuou como curadora na Fundação Iberê Camargo e em projetos independentes, produzindo textos na área de filosofia e crítica de arte. Recentemente coorganizou o IV Seminário Estética e Crítica de arte da FFLCH-USP (“Sentidos na Asfixia”), onde faz pós-doutorado e integra grupos de pesquisa em estética.

 

Desenhos inéditos de Iberê Camargo

22/mar

No dia 15 de abril, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura uma exposição com desenhos do grande artista. A iniciativa de mostrar esses trabalhos, muitos deles jamais ou raramente expostos, foi da artista Vera Chaves Barcellos. Além de lançar luz sobre a produção de Iberê Camargo, a exibição de “Iberê Camargo: Desenhos” será uma imersão no processo criador do artista e no ser humano que ele foi. A exposição “Iberê Camargo: Desenhos” traz a  curadoria criteriosa da artista Vera Chaves Barcellos, abrangendo desde os primeiros estudos do pintor até a sua morte, em agosto de 1994.

Dos mais de 3,7 mil trabalhos disponibilizados pelo acervo, a artista escolheu 432. Desses, 163 serão expostos, e o restante exibidos através de projeção. O apanhado inclui desenhos da figura humana – desde estudos de aprendizagem do início da carreira do artista e que retornaram no início dos anos 1980 até o final de sua vida; retratos de homens e mulheres – acadêmicos, expressionistas da década de 1980 e de diversas épocas de sua companheira, Maria Camargo; autorretratos que atravessam a vida do pintor; paisagens; carretéis e desenhos da sua última fase. Para a curadora da mostra, o desenho é a mais espontânea e, talvez, a mais reveladora das formas de expressão de Iberê.

“Tive a consciência de que a maioria das mostras realizadas até agora na Fundação se concentrou principalmente na pintura de Iberê Camargo, sem dúvida, a sua maior contribuição para a arte brasileira, seguida de perto por sua extensa produção de gravura, especialmente a gravura em metal. Como vários outros curadores, primeiramente, pensei em organizar uma mostra de suas pinturas, já que esta seria sua expressão máxima, a mais cultuada e certamente a mais nobre. Mas ao deparar com seus desenhos, optei por estes. (…) Constatei que neles poderia haver uma maior revelação de quem fora Iberê Camargo, em todos e extremamente variados momentos de seu inquieto e conturbado temperamento. Seria possível um processo analítico de sua personalidade e psiquismo por meio unicamente de seus desenhos, desvendando seus valores e suas certezas, suas obsessões, seus traumas, seus medos e seus fantasmas”, escreve Vera para o catálogo da exposição. A mostra seguirá em cartaz até 15 de outubro.

 

O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos

Vera Chaves Barcellos, 85 anos, será um dos grandes destaques da programação da Fundação Iberê Camargo em 2023 e a terceira mulher a ocupar mais de um andar do centro cultural, depois de Regina Silveira (“Mil e um dias e outros enigmas”, em 2011) e Maria Lídia Magliani (“MAGLIANI”, em 2022).

Em 06 de maio, abrirá a exposição “O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos”. Com curadoria de Raphael Fonseca (RJ), a mostra traz um recorte de obras realizadas ao longo de 60 anos, que abrange experimentações com pintura e desenho e, num segundo momento, com a xilogravura até trabalhos mais recentes, destacando seu infinito diálogo com a fotografia, além de livros de artista e vídeos.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Perto, Ventos do Sul, DLL Group e apoio da Renner, Dell Technologies, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend. Realização: Petrobras e Ministério da Cultura/ Governo Federal.

 

Frank Ammerlaan em Curitiba

20/mar

 

A Simões de Assis traz novamente ao Brasil o artista holandês Frank Ammerlaan, apresentando em sua sede de Curitiba, PR, a individual “Espelho da Matéria”. A exposição reúne quatro conjuntos de trabalhos de materialidades e processos distintos, mas que compartilham do interesse do artista por materiais que são inusuais nas práticas artísticas contemporâneas. Parte do conjunto foi produzida no Brasil, durante uma residência no Pivô, em São Paulo. Ammerlaan investiga profundamente os elementos que conformam seus trabalhos, manipulando produtos químicos, metais, minerais e substâncias orgânicas, em processos que poderiam ser descritos como alquímicos. O artista articula gestos pictóricos e esculturais com suportes que normalmente são estranhos ao fazer artístico e mais comuns em indústrias ou laboratórios, ao mesmo tempo que conta com reações químicas espontâneas e com os processos naturais de mudança dos elementos, atuando não como um agente da criação, mas sim da transformação.
Até 06 de maio.

Aulas de pintura com têmpera ovo

17/mar

Nos dias 25 e 26 de março (sábado e domingo), o artista André Ricardo participa de duas atividades educativas na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. Os encontros são gratuitos e ocorrem sempre das 15h às 17h.

Em diálogo com sua exposição “André Ricardo: Da pintura necessária”, ele é o convidado da Formação para Professores e Educadores. Durante o encontro, que ocorrerá no sábado, no auditório da Fundação Iberê Camargo, ele falará sobre a técnica de pintura com têmpera ovo e os processos englobados nessa produção. Compartilhará o seu desenvolvimento artístico, além de suas experiências na educação.

No domingo, na sala do Programa Educativo, André Ricardo ministra a Oficina Têmpera Ovo. A vivência com os materiais e procedimentos básicos da técnica será tangenciada pela introdução de suas origens. A técnica, que remete ao processo artesanal e pré-industrial, também adotada na Idade Média, consiste na mistura do pigmento, que é a matéria seca, em pó, com o aglutinante à base do ovo.

“O fato de fazer a minha própria tinta me dá uma relação muito mais próxima com a cor. E quando eu penso na cor, busco na memória afetiva. Cresci na periferia, minha casa tinha o piso vermelho de cera, a parede lavada de cal verde. E a têmpera me ajuda a alcançar a lembrança dessas cores”, explica o artista.

 

Da pintura necessária

Com curadoria de Claudinei Roberto da Silva (SP), “André Ricardo: Da pintura necessária” apresenta 56 obras produzidas com têmpera ovo. Grande parte dos trabalhos será exposto pela primeira vez, entre eles, um pequeno conjunto de pinturas produzidas em NY, em 2022. Neste conjunto é marcante, por exemplo, a familiaridade com uma visualidade de matriz popular e afro-brasileira. Composições que buscam responder ao anseio do artista pela construção de uma memória, algo que possa ajudar a entender sua própria identidade e, por conseguinte, como artista.

Celebrando Martinho de Haro e Florianópolis

13/mar

Mestre da composição, o pintor e desenhista Martinho de Haro (1907-1985) é um dos mais importantes artistas de Santa Catarina e uma forte representação do modernismo brasileiro. Homem e trajetórias qualitativas, ele ganha um tributo em Florianópolis, SC, com a exposição “Indivisível Substância: Martinho de Haro e Florianópolis” que abre no dia 15 de março, no Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação. Aberta até julho, a mostra pode ser visitada gratuitamente de segunda a sábado, entre 13h30 e 18h30.

A curadoria de Francine Goudel e Ylmar Corrêa Neto reúne 46 trabalhos de Martinho de Haro que ajudam a traçar novas análises sobre uma criação pictórica amalgamada com Florianópolis, lugar que o artista nascido em São Joaquim escolheu para viver a partir de 1942 e onde morreu em 1985. A mostra tem ainda um Bruggemann (1825-1894), um Eduardo Dias (1872-1945) e um Othon Friesz (1879-1949), todas obras integrantes da Coleção Collaço Paulo, pertencente ao casal Jeanine e Marcelo Collaço Paulo. Para os curadores, Martinho de Haro “revolucionou a representação da cidade, valorizou os costumes, o casario, o mar, o céu, as baías, as auroras e os ocasos, com cores suaves, enquadramentos cinematográficos, ângulos e motivos novos que resultam em uma potente imagem da Ilha de Santa Catarina”.

Produto cultural totalmente patrocinado pela Prefeitura de Florianópolis por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (modalidade doação), a exposição conta com o apoio das empresas Dígitro e Ibagy. Trata-se do segundo projeto expositivo do Instituto Collaço Paulo, inaugurado no bairro Coqueiros em julho de 2022. Entidade privada, sem fins lucrativos, além de salvaguardar a Coleção Collaço Paulo, promove a arte e a cultura por meio de programas de cunho educativo. O casal dedica-se há cerca de 40 anos à aquisição e conservação de um acervo que se concentra na representatividade dos artistas brasileiros do século 19 e dos catarinenses do século 20, abrangendo trabalhos de distintos períodos históricos, diferentes escolas, movimentos e estilos.

Quase sem perceber, no contato com Martinho de Haro, sob a sua influência, Marcelo Collaço Paulo começou a coleção na juventude. Com o passar dos anos, tornou-se um dos principais colecionadores das obras do artista, adquirindo quadros de todas as fases e temáticas peculiares como nus, carnaval, naturezas-mortas, paisagens, casarios e retratos. “Conheci Martinho nos anos 1970, quando era estudante de medicina. Fui levado à sua casa na Altamiro Guimarães, no centro de Florianópolis, pelo seu filho Martin Afonso de Haro. Tive o privilégio de contar com a sua amizade e vê-lo pintar inúmeros quadros no seu ateliê. O meu primeiro Martinho é desta época. Desde então, sempre aproveitei as oportunidades e fui multiplicando o seu olhar na coleção. Até hoje quando vejo um Martinho, me sensibilizo e me emociono. É o maior pintor modernista de Santa Catarina e aquele que expressou a Ilha da forma mais sublime”, situa o colecionador que busca homenagear Florianópolis no seu aniversário, abrindo o núcleo do Martinho da Coleção Collaço Paulo. “Convidamos todos a ver e desfrutar a cidade através dos olhos do mestre Martinho de Haro”, diz ele.

A exposição “Indivisível Substância: Martinho de Haro e Florianópolis” alcança relevância pelo valor do artista, pelo pictórico e pelas representações de uma ilha que se transformou radicalmente ao longo dos anos. Jeanine e Marcelo Collaço Paulo são colecionadores interessados no conjunto de obras de um mesmo artista que, lado a lado, ganham um peso maior já que possibilitam estudos mais aprofundados sobre uma trajetória e, no caso, uma reflexão sobre o passado de Florianópolis, vista em céus, festas, gente, mares e barcos eternizados de modo significativo.

 

Sobre o artista

Natural de São Joaquim (SC), Martinho de Haro nasceu em 1907. Viveu por dez anos no Rio de Janeiro, onde integrou o Grupo Bernardelli e trabalhou como auxiliar de João Timótheo da Costa (1878-1932) na decoração da Igreja Nossa Senhora da Pompéia, e de Eliseo Visconti (1866-1944) na criação do panneau do Teatro Municipal. Realizou na mesma cidade, em 1977, sua última exposição. Em 1937, viaja a Paris, de onde volta cerca de um ano depois em razão da Segunda Guerra. Engajado nos assuntos da cidade, participou em 1949 da criação do Museu de Arte de Santa Catarina (MASC) que ele dirigiu entre 1955 e 1958. Nos 20 anos de morte, Walmir Ayala escreveu: “O diálogo agora é de uma pintura soberana e completa, com um universo de olhares necessitados de justiça e esclarecimento. A Ilha ganha agora sua luz, sua verdadeira luz, porque a obra viva de Martinho de Haro encontra seu continente exato; é um bem público destinado a valorizar a vida comunitária”. No centenário em 2007, uma comissão presidida por Marcelo Collaço Paulo, organizou uma vasta programação com exposição, livros, discussões, convidados ilustres e a produção de um documentário. A iniciativa reuniu o melhor da produção de Martinho de Haro, segundo João Evangelista Andrade Filho, secretário da comissão, na época administrador do MASC. O legado de Martinho de Haro recebeu a atenção de estudiosos e críticos, entre eles Fábio Magalhães, João Evangelista Andrade Filho, Roberto Teixeira Leite e Walmir Ayala, que se debruçaram sobre as obras e indicaram novas perspectivas de entendimento e avaliação. Ao morrer em 1985, em Florianópolis, Martinho de Haro deixa um expressivo legado que ajuda a compreender a cidade sob diferentes abordagens. Parte desta contribuição está na exposição “Indivisível Substância: Martinho de Haro e Florianópolis”. O pintor era pai do também artista plástico e muralista Rodrigo de Haro.

 

Sobre os curadores

Francine Goudel – doutora em artes visuais – teoria e história, pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), mestre em estudos avançados em história da arte pela Universidade de Barcelona, Espanha, pós-graduada em Gestão Cultural pela Universidade Nacional de Córdoba, Argentina. É pesquisadora, curadora, produtora cultural e professora. Atualmente é curadora-chefe do Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação.

Ylmar Corrêa Neto – neurologista e professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coleciona arte relacionada com Santa Catarina. Já organizou e escreveu livros sobre Martinho de Haro (1907-1985), Eli Heil (1929-2017) e Paulo Gaiad (1953-2016) e fez a curadoria de exposições de Eli Heil, Rodrigo de Haro (1939-2021), Carlos Asp, Paulo Gaiad e do acervo do Museu de Arte de Santa Catarina (MASC). É coordenador do recém-criado Clube de Colecionadores de Arte de Coqueiros no Instituto Collaço Paulo.

O período expositivo entre março e julho configura uma agenda que busca ampliar o conhecimento sobre a marcante produção de Martinho de Haro. Iniciativas, de linhas diferenciadas, convergem para reflexões que reúnem nomes e temas significativos que ajudarão a modular um novo pensamento a respeito do artista. Já no dia 15 de março, às 19h30, o curador Ylmar Corrêa Neto faz um Instituto Conversa, compartilhando a conferência “Ocasos Raros em Martinho de Haro”, em que abordará a formação, as técnicas, a evolução e as exibições do pintor modernista, além de suas representações da paisagem, da cultura e do casario florianopolitanos.

Em abril, no dia 24, às 19h30, ocorre o primeiro de um conjunto de encontros idealizados pelo conferencista, pesquisador, professor, autor de livros, uma referência internacional no campo da literatura e das artes visuais, Raúl Antelo. Ele movimentará o Instituto Collaço Paulo para estabelecer o intercâmbio pessoal e a partilha de conhecimento sobre arte, arquivos e exposições na perspectiva de alargar sensibilidades e conexões com amplo público. O evento “Retroprojetor: Encontros do Olhar”, composto de seis conferências entre abril e setembro, duas proferidas por ele mesmo e por pesquisadores que receberam o seu convite, como Ivo Mesquita e Rosângela Miranda Cherem.

No dia 25, às 19h30, o programa Instituto Conversa recebe uma autoridade nas relações entre as artes visuais e a cidade de Florianópolis. Doutora e professora, Sandra Makowiecky fará a abordagem “Florianópolis em Tempos Diversos: Martinho de Haro entre Artistas” em que expõe parte de sua análise apresentada sobre o artista em um dos artigos do livro “A Representação da Cidade de Florianópolis na Visão de Artistas Plásticos”. A fala no Instituto Collaço Paulo, antecipa Sandra Makowiecky, se concentrará nas obras de Martinho de Haro, tecendo considerações e aproximações entre seus trabalhos e outros artistas que, ao longo do tempo, elegeram a cidade como objeto de paixão e poética artística.

A agenda prevê ainda reuniões do Clube de Colecionadores de Arte de Coqueiros (CCAC), o Instituto Homenagem que marca o centenário do crítico de arte catarinense Harry Laus (1922-1992) e os Sábados com Arte, ações desenvolvidas pelo núcleo educativo do Instituto Collaço Paulo.

 

Sábados com Arte

Os sete encontros – “Sábados com Arte” – planejados para o primeiro semestre convidam a participar de uma visita mediada com a equipe do educativo. Previstos para os dias 25 de março, 15 e 19 de abril, 13 e 27 de maio e 10 e 24 de junho, sempre às 15h, a cada sábado as atividades diferenciadas vão além da mediação que dura cerca de uma hora e meia e buscam ampliar o conhecimento em torno das obras reunidas na exposição “Indivisível Substância: Martinho de Haro e Florianópolis”. Com vagas limitadas, 30 pessoas no máximo, as inscrições são por ordem de chegada, mediante manifestação do interesse na recepção do instituto. Menores de 14 anos devem estar acompanhados de seus responsáveis.

As ações propõem o diálogo e a participação. A partir das leituras, imagens, do repertório e das subjetividades de cada visitante, a proposta é construir juntos um percurso singular pela arte de Martinho de Haro. A idade mínima é de sete anos.

 

Equipe Técnica

Curadoria, expografia e textos: Francine Goudel e Ylmar Corrêa Neto – Revisão e edição de textos: Néri Pedroso – Coordenação de montagem: Cristina Maria Dalla Nora – Montagem: Flávio Xanxa Brunetto – Material educativo: Ana Martins e Joana Amarante – Material gráfico: Lorena Galery – Fotografia: Eduardo Marques.

 

 

Exposição da Coleção Eduardo Vasconcelos

10/mar

Exposição de arte “Gravado na Alma” abre no Espaço Cultural do Banco da Amazônia. O vernissage será nesta terça-feira (14) e seguirá aberta ao público para visitação gratuita até 05 de maio, no horário das 9h às 17h. Uma obra da artista Maria Perez Solá, que está em destaque na exposição Eduardo Vasconcelos no Espaço Cultural do Banco da Amazônia, em Campina, Belém, PA, é uma exposição de arte que promete ficar gravada na memória dos paraenses. A exposição de gravuras “Gravado na Alma” foi contemplada pelo edital de pautas do Banco da Amazônia e é composta por mais de 71 obras de artistas nacionais e internacionais que compõem o acervo da Coleção Eduardo Vasconcelos.

Segundo a curadora, Vânia Leal, a exposição é formada por trabalhos de artistas cujos percursos seguem várias técnicas e poéticas. “São vias que possibilitam encontros entre linhas, texturas, arquiteturas, animais e paisagens. É um espaço para dizer: gravura ao infinito do tempo e no tempo. Como um laboratório vivo em constante construção na coleção de Eduardo Vasconcelos”, explica.

Grandes nomes das artes plásticas, como Albrecht Dürer, Rembrandt, Goya, Gustave Doré e Picasso produziram gravuras, bem como artistas brasileiros de renome, como Livio Abramo, Sérvulo Esmeraldo, Flávio de Carvalho, Arthur Luiz Pìza e Tarsila do Amaral. No Pará, a gravura ganha força a partir dos anos 1970, com a obra de Valdir Sarubbi, que, junto a nomes de diversas gerações (inclusive posteriores) como Ronaldo Moraes Rego, Osmar Pinheiro, P. P. Conduru, Jocatos, Armando Sobral, Elaine Arruda, Elieni Tenório, Elisa Arruda, Glauce Santos, Jean Ribeiro e Antar Rohit, marcaram seu nome na trajetória da gravura no cenário amazônico.

“Acreditar na produção artística, no quanto ela representa hoje e para gerações futuras, é a força motriz que impulsiona e dinamiza a coleção. Meu afeto pela arte está gravado na alma, assim como as obras de tantos artistas aqui presentes”, destaca Eduardo Vasconcelos. “Agradeço ao Banco da Amazônia, que, para além de suas atividades financeiras, exerce papel fundamental no fomento ao cenário artístico e na difusão e apoio à cultura, trazendo ao público obras pertencentes a uma coleção privada”, acrescenta.

 

Núcleos da exposição

A curadora explica que a exposição possui quatro núcleos curatoriais: “projeções da natureza mutante”, “corpos passagens”, “formas e desejos da gravura” e “arquiteturas e cartografias imaginárias”.

“Os trabalhos dos artistas que integram a exposição reiteram aproximações e percursos diferentes, criam vertentes distintas entre choques e junções nos núcleos”, avalia. Ainda segundo a curadora, cada núcleo reúne uma sequência de trabalhos expressivos. “No núcleo “projeções da natureza mutante”, por exemplo, os artistas Valdir Sarubbi, Sebastião Pedrosa e Laura Calhoun trazem nas obras uma natureza mais estilizada com diferentes simbologias. Armando Sobral e Ronaldo Moraes Rego gravam desenhos de folha e casca. Diô Viana emerge com força, incisões que remetem gotas que se dissolvem em outras formas da natureza”, explica.

 

Lançamento do catálogo e ações educativas

Ao longo da exposição ocorrerão diversas ações educativas como bate papo com artistas e visitas guiadas para estudantes de escolas públicas, a fim de que adolescentes e jovens tenham contato com a arte. Também ocorrerá o lançamento do catálogo, que será distribuído gratuitamente aos visitantes.

 

A Coleção Eduardo Vasconcelos

Desde 2021, a coleção Eduardo Vasconcelos vem abrindo as portas do acervo pessoal ao público paraense por meio de iniciativas como esta do Banco da Amazônia, que viabiliza edital para selecionar projetos artísticos relevantes à região amazônica. Neste percurso, o colecionador já realizou três mostras a partir de editais similares de incentivo à arte e cultura, cujas exposições nasceram do diálogo entre a curadoria e Eduardo. Sempre convidado para participar de encontros, lives e pesquisas sobre arte e colecionismo, o professor e colecionador de arte Eduardo Vasconcelos tem um acervo de mais de 700 obras entre pinturas, esculturas, fotografias, desenhos e objetos. Há um núcleo só de arte paraense. Movido pela lógica de que a arte deve ser compartilhada, ele decidiu abrir a sua reserva técnica às grandes exposições.

“Temos uma infinidade de obras com elevada importância artística e cultural e que são vistas somente em uma esfera bem restrita. O papel do colecionador de arte não deve se restringir ao mero acúmulo das obras. Permitir que essas obras circulem e tenham visibilidade, contribui para a difusão da cultura e do próprio mercado, envolvendo todos os elos dessa cadeia. Há um papel social e político importante nisso tudo, principalmente na construção de novos olhares para a arte”, diz Eduardo Vasconcelos.