Miniarte Magia

25/jul

 

 

A primeira edição do Projeto Miniarte Internacional ocorreu em 2003 na Usina do Gasômetro, com mais de cem participantes sob a chancela da Prefeitura Municipal de Porto Alegre Alegre.

 

Desde sua fundação pela artista plástica Clara Pechansky, o objetivo do projeto é democratizar a arte permitindo acesso livre aos artistas, que não são submetidos a qualquer seleção, e divulgando as obras para um público cada vez mais diversificado. Desse modo, o Projeto Miniarte Internacional cumpre um duplo papel social. Ao longo de seus 19 anos, sempre organizado por artistas independentes, em espaços públicos e gratuitos, o projeto já percorreu os cinco continentes.

 

Para a edição de 2022 foi ecolhido o tema “Magia”, abrangendo uma grande variedade de interpretações e técnicas, como Pintura, Desenho, Gravura, Colagem, Fotografia, Escultura e Cerâmica.

 

A “Miniarte Magia” vai mostrar 192 (cento e noventa e dois) artistas que representam Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, Equador, Estados Unidos, Índia, Irã, México e Portugal somando ao todo 21 (vinte e um) Artistas Convidados, 12 (doze) Artistas Líderes de Grupo, cada um trazendo consigo mais de 10 (dez) artistas, e 33 (trinta e três) Artistas Prestígio, uma inovação introduzida nesta edição.

 

A 42ª edição do Projeto Miniarte Internacional terá sua inauguração, mantendo a tradição, no Centro Municipal de Cultura de Gramado, RS, dia 30 de julho, e a 43ª edição acontecerá em Porto Alegre, RS, em 08 de outubro no espaço profissional da Gravura Galeria de Arte.

 

42ª edição – Gramado – até 30 de agosto.

43ª edição –  Porto Alegre – até 29 de outubro.

 

Iberê no Festival de Cinema de Gramado

20/jul

 

 

O filme em curta-metragem sobre a produção de Iberê Camargo será exibido no Festival de Cinema de Gramado. O documentário “Tudo permanece em constante movimento”, da artista visual Cristine de Bem e Canto, foi selecionado para o 50° Festival de Cinema de Gramado, na categoria Curta-metragem Gaúcho. Com sete minutos de duração, o filme será exibido no dia 14 de agosto, no Palácio dos Festivais, com entrada gratuita.

 

O filme nasceu a partir da participação da artista no XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, cujo resultado pode ser conferido no Google Arts & Culture da Fundação Iberê Camargo, instituição parceira do projeto “Iberê Camargo: um corpo fotográfico”.

 

Em 1992, ao acompanhar a produção de guaches das séries “Andando contra o vento” (1993) e “O homem da flor na boca – um ato de amor à vida” (1992) e da pintura “Tudo te é falso e inútil V” (1993), no ateliê da rua Alcebíades Antônio dos Santos, Cristine produziu aproximadamente 500 fotogramas em preto e branco. As imagens ficaram guardadas durante 30 anos e foram retomados em 2022 para a produção de um livro digital.

 

Com o transcorrer do tempo, essas fotografias revelaram uma nova potência: ao dedicar-se a transposição do analógico para o digital, no tratamento das imagens, a artista percebeu a integração do corpo do pintor com o próprio corpo da pintura e, também, do espaço que ambos habitavam.

 

“Porque tu tiras tantas fotos?” – perguntou Iberê a Cristine. Esta resposta só viria décadas depois: para colocar o corpo do pintor uma vez mais em movimento. Para isso, ela precisou também da animação que o vídeo possibilita. Aliado ao trabalho de design de som, que reforça a corporificação do espaço e seus afetos, assim surgiu o documentário. No tratamento das fotografias, alguns movimentos e gestos de Iberê Camargo quase imperceptíveis – como abrir e fechar a boca, para assimilar a mesma expressão de seu modelo, foram reativados na sequência animada das fotografias.

 

Diálogo espacial no MON

15/jul

 

 

O MON, Curitiba, PR, promove a exposição coletiva “Ópera Citoplasmática”, com a participação de vinte três artistas e cerca de setenta obras, ocupando o espaço do Olho. A curadoria é de Diego Mauro e Luana Fortes. A curadoria adjunta e concepção é de João GG.

 

“Ópera Citoplasmática” propõe um diálogo com o próprio espaço expositivo do Olho, fazendo com que a sua especificidade arquitetônica participe do projeto. A luminosidade controlada do local possibilita um desenho expográfico e uma ambientação experimental, incorporando a curvatura do teto e o vidro escuro das janelas imensas como elementos importantes.

 

A seleção dos artistas considerou a multiplicidade de linguagens, que inclui desde as mais tradicionais pintura e escultura, passando por instalações, vídeos, projeções de texto, intervenções sonoras feitas especialmente para a exposição e interferências espaciais.

 

Os participantes são Boto, Darks Miranda, Fernanda Galvão, Gabriel Pessoto, Giulia Puntel, Hugo Mendes, Iagor Peres, Ilê Sartuzi, Janaína Wagner, João GG, Juan Parada, Juliana Cerqueira Leite, Luiz Roque, Mariana Manhães, Marina Weffort, Maya Weishof, Miguel Bakun, Motta & Lima, Paola Ribeiro, Rafael RG, Renato Pera, Rodrigo Evangelista e Wisrah Villefort.

 

Ascânio MMM no MON

04/jul

 

 

A partir de 07 de julho, “Grid”, é a exposição em cartaz na Sala 01 do MON, Museu Oscar Niemayer, Curitiba, PR, sob curadoria assinada por Felipe Scovino, que apresenta os últimos 25 anos de trabalho de Ascânio MMM (1941-) e sua relação particular com a grade, signo marcante para artistas, como Ascânio, que ajudaram a repensar as bases do pensamento abstrato-geométrico no Brasil. A grade ou grid, com a grafia em língua inglesa mesmo, como muitas vezes é pronunciada no vocabulário das artes, representa também o diálogo que mantém, desde o início da sua trajetória nos anos 1960, com a escultura e a arquitetura.

 

A forma como essas obras mantém um balanço entre o material, invariavelmente o metal, e a sua capacidade orgânica é um ponto nodal da exposição. Percebe-se que há um convite ao toque que elabora uma circunstância de pele mesmo a essas formas industriais.

 

As obras oscilam entre um estado de equilíbrio e ordem, de um lado, e instabilidade e organicidade, por outro. São arquiteturas que exploram a memória e a afetividade de um espaço da cidade. Revelam simultaneamente tramas e cobogós, levando a nossa imaginação para tempos e lugares distintos, e revivendo em nossas memórias, formas que fazem parte da nossa própria história.

 

O grid também é um propositor de lugares. A figura de uma malha vazada faz com que o olhar “fure” o volume, promovendo não só um diálogo incessante entre arte e arquitetura, mas também nos movendo para outras culturas, como a associação que realiza com as tradições mouras e o legado que o muxarabi trouxe para a contemporaneidade.

 

Nesse emaranhado de estruturas metálicas, o grid se torna uma estrutura ilusória, mole e participativa, provocando sensibilidades e afetos àquilo que costumeiramente é identificado como da ordem da construção objetiva.

 

Sobre o Artista

 

Nasceu em Fão, Portugal, em 1941, vive e trabalha no Rio de Janeiro desde 1959. Sua formação inclui passagem pela Escola Nacional de Belas Artes entre 1963 e 1964, e pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ), entre 1965 e 1969, onde se graduou. Atuou como arquiteto até 1976. Começou a desenvolver seu trabalho artístico a partir de 1966 ainda na FAU e posteriormente em paralelo com a prática de arquiteto. Neste mesmo ano, exibiu pela primeira vez seus trabalhos ao público, no I Salão de Abril no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. São deste período as caixas, cubos de madeira sobre as quais o espectador pode movimentar quadrados de diferentes tamanhos, formando desenhos variados. A relação entre escultura, arquitetura, matemática e filosofia fixou-se como questão central do seu trabalho durante toda a década de 1970. Neste período, a partir de módulos de ripas de madeira pintadas de branco e um eixo, desenvolveu progressões em torções verticais e horizontais, explorando a questão da luz e sombra. Na década de 1980, com os relevos e esculturas Fitangulares, interessou-se pela madeira crua, passando a explorar as cores naturais da madeira de diferentes espécies (cedro, mogno, pau marfim, ipê, freijó, etc). Já no final dos anos 1980 surgiram as primeiras Piramidais de madeira. Nos anos 1990, a questão das grandes dimensões e o espaço público tornaram-se uma preocupação central para Ascânio e as pesquisas com perfis de alumínio se intensificaram. O alumínio tornou-se então a base para a criação de novos trabalhos, sempre utilizando o módulo. As esculturas desta fase caracterizam-se pelos tubos retangulares de alumínio cortados, que geram esculturas de grandes dimensões com vazios internos e sucessões de transparências e opacidades, tornando-as quase imateriais conforme a posição do espectador. Nos anos 2000, desenvolve os Flexos e Qualas. Nos primeiros, os parafusos que eram usados nas Piramidais foram substituídos por arames de aço inoxidável amarrando os tubos quadrados cortados com um centímetro, e gerando tramas flexíveis. Nos Qualas, a amarração de arame foi substituída por argolas, resultando em uma trama “que se atravessa pelo olhar, pela luz e pelo vento”. Na década 2010, com os Quasos, mantém seu interesse pelas possibilidades do alumínio, e passa a inverter a lógica convencional do uso dos parafusos de tamanhos variados. Estes trabalhos oferecem torções e flexões resultantes da desconstrução da malha geométrica construída, introduzindo a questão da imprevisibilidade nos seus trabalhos. A cor voltou a ser usada mas de forma sutil. A produção artística de Ascânio foi objeto de estudo e análise crítica por Paulo Herkenhoff no livro Ascânio MMM: Poética da Razão (BE? Editora, 2012). Em 2005 foi publicado o livro Ascânio MMM (Editora Andrea Jakobsson, 2005), com textos de Paulo Sergio Duarte, Lauro Cavalcanti, Fernando Cocchiarale e Marcio Doctors.

 

 

MON exibe Juarez Machado

 

 

A exposição comemorativa “Juarez Machado – Volta ao Mundo em 80 Anos”, na sala 3 do Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, PR, apresenta até 18 de setembro a obra de um dos mais representativos e importantes artistas brasileiros. O multiartista catarinense Juarez Machado tem sua história ligada a Curitiba, para onde se mudou no início dos anos 1960 para estudar na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Ele completou 80 anos em 2021. A exposição reúne 166 obras em diversos suportes: pintura, desenhos, fotos, escultura e instalação. A coletânea abrange desde o início da carreira do pintor na capital paranaense até sua fase internacional com a mudança para Paris, em 1986 – passando pelos períodos no Rio de Janeiro, onde se destacou também como ilustrador, cenógrafo para televisão e teatro, figurinista, escultor e cartunista, entre outros ofícios criativos. A curadoria é de Edson Busch Machado.

 

“Lúdica e poética como tudo o que Juarez Machado produz, a mostra percorre com interatividade diferentes décadas, estilos, localidades, materiais, técnicas, mídias e vertentes artísticas”, afirma a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer (MON), Juliana Vosnika. “Artista com obra no acervo, ele escreve agora o seu nome definitivamente na história do MON, num importante momento em que completa 20 anos e se consolida entre os principais museus da América Latina”, comenta.

 

Curitiba

 

A exposição inclui trabalhos que remetem ao início da carreira do artista em Curitiba. “Seu despertar como artista teve início em Joinville. Mas foi em Curitiba que ele fundamentou esse trabalho antes de seguir pelo mundo”, diz Edson Busch Machado, que é também irmão do artista.

 

A mostra conta, por exemplo, com desenhos feitos com graxa para sapato na Rua XV de Novembro, no início dos anos 1960, quando Juarez nem sequer tinha recursos para comprar tintas. “O público de Curitiba irá se identificar com o Juarez que viveu em Curitiba de 1961 a 1964, quando também fez grandes amizades com nomes como Fernando Velloso, João Osorio Brzezinski, Fernando Calderari e Domício Pedroso”, lembra o curador.

 

Ateliês

 

O nome da exposição – uma referência ao clássico de Júlio Verne “A Volta ao Mundo em 80 Dias” – traduz, em parte, o movimento constante de Juarez Machado, que nasceu em Joinville (SC), em 1941, e hoje se divide entre seus ateliês nas capitais fluminense e francesa depois de correr o mundo. A mostra inclui obras produzidas em diferentes locais – sobretudo em ateliês em Paris, mas também em locais temporários para o artista, como Veneza e Saint Paul de Vence, na França. “Cada ateliê é representado com cores, códigos e uma linha pictórica diferente, que a exposição reúne muito didaticamente”, explica Busch Machado.

 

Influência

 

A obra de Juarez Machado tornou-se patrimônio mundial, colecionando prêmios de arte nacionais e internacionais. Suas criações, ricas em ousadia, complexidade e humor, influenciaram gerações de artistas no Brasil e no exterior. Entre os artistas influenciados por Juarez Machado está o diretor francês de cinema Jean-Pierre Jeunet, que se inspirou no inconfundível universo de cores do pintor para criar o visual do famoso filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001). O diretor conheceu o artista no início dos anos 2000, comprou quadros e estudou seu estilo.  “É possível relacionar a temática, as paletas de cores e diversas nuances do filme com todas as pinturas da exposição, pois Jeunet se inspirou diretamente nas obras do artista”, explica o curador. “O público conseguirá identificar cores como o verde veronese e o vermelho terral que são vistos em “Amélie”, explica Busch Machado.

 

Mímica

 

No Brasil, o artista multimídia também deixou sua marca em referências da cultura popular como o semanário impresso “O Pasquim” e a TV Globo, onde criou quadros humorísticos e musicais, além de assinar a criação de cenários e figurinos. Muitos ainda se lembram dos vídeos de mímica que Juarez Machado criou e estrelou para o programa “Fantástico” nos anos 1970. A exposição fará referência a este famoso personagem nacional com a exibição de alguns desses vídeos em dois monitores. “É realmente uma figura significativa para muita gente que começou a conhecer Juarez a partir deste quadro do Fantástico”, lembra o curador.

 

Ilustração

 

Também tiveram a assinatura de Juarez Machado capas de livros e discos e projetos de design e arquitetura ao lado de nomes como Sergio Rodrigues e o próprio Oscar Niemeyer. Algumas das mais de 200 capas de discos e livros criadas pelo artista poderão ser vistas na vitrine de artes gráficas da mostra, que ajudará a compor a retrospectiva da vida e obra de Juarez, juntamente com um painel de fotografias e informações biográficas.

 

Escultura

 

Entre os destaques da exposição estão dezenas de esculturas, suporte com o qual Juarez Machado se destacou logo no início da carreira. Há obras em bronze, metal e gesso, além da conhecida instalação criada com estátuas de Branca de Neve e os Sete Anões. Também estará presente a famosa bicicleta com rodas quadradas que inspirou o logotipo do Instituto Juarez Machado.

 

Instituto

 

Mais recente empreendimento de Juarez Machado em Joinville, o instituto que leva seu nome foi fundado pelo artista em 2014, com a ideia de estimular a arte na cidade catarinense. A instituição, sediada em uma antiga casa da família construída em meados da década de 1930, desenvolve pesquisas, resgate e promoção de obras de Juarez e de outros artistas locais. O instituto vem desenvolvendo mostras paralelas a partir da aprofundada pesquisa sobre a trajetória de Juarez Machado para a exposição aberta agora no Museu Oscar Niemeyer.

 

Bicicleta

 

Segundo o curador da exposição, Edson Busch Machado, a ideia é que o público percorra a mostra como se estivesse fazendo um passeio de bicicleta – um dos ícones do universo pictórico de Juarez. Esse é o tema da projeção de vídeo que encerra a exposição. “Juarez mescla a bicicleta, um elemento da infância em sua cidade natal, com a descoberta da figura humana, seja no estudo da anatomia no Belas Artes ou das belas mulheres que ele tão bem retrata em suas pinturas. E, a partir desses dois elementos, a curadoria parte para suas demais obras”, explica. “É uma viagem de bicicleta que percorre esses 80 anos e relembra todos esses elementos – os ateliês, as paisagens, as mulheres”, explica Busch.

 

Educativo

 

Ao longo do período expositivo, estão previstas seis oficinas para escolas públicas de Curitiba. Também haverá duas visitas guiadas realizadas pelo curador da exposição para o público visitante, com tradução em libras, às 11h e às 15h do dia 24 de agosto. Um tour virtual da mostra com audiodescrição também será disponibilizado online.

 

A exposição “Juarez Machado – Volta ao Mundo em 80 Anos” foi concebida pelo Instituto Juarez Machado e fica em cartaz até 18 de setembro. A mostra é uma realização da Secretaria Especial da Cultura (Ministério do Turismo) e do MON e tem patrocínio da Vonder.

 

Até 18 de setembro.

 

 

Carlito Carvalhosa, um tributo

15/jun

 

 

O Instituto Ling, Porto Alegre, RS, apresenta até o dia 10 de setembro a exposição “Linhas do Espaço Tempo: Carlito Carvalhosa” resultando em um verdadeiro tributo ao artista – e obra – através de um conjunto de expressivos trabalhos do consagrado multiartista contemporâneo. A curadoria traz a assinatura de Daniel Rangel.

 

Caminhos circulares

 

Linhas do Espaço Tempo reúne fragmentos cronológicos da trajetória artística de Carlito Carvalhosa. Pinturas, esculturas e instalações que remontam a mais de trinta e cinco anos de produção marcados por elaboradas conexões plásticas, históricas, mentais e sensitivas. A mostra é a primeira no Brasil desde que o artista nos deixou em maio de 2021, motivo central do enfoque retrospectivo e prospectivo. Estruturada por obras-símbolos de diferentes fases, a exposição abarca um recorte compacto, que demonstra a coerência da pesquisa do artista. Registros do seu processo de criação, de reflexões e de memórias marcantes de sua trajetória, além de uma inédita instalação site-specific com postes de madeira, desenhada em um de seus caderninhos para um espaço imaginado com características arquitetônicas similares às da galeria do Instituto Ling. Passado pensado para o futuro, realizado no presente. Pensar, refletir e observar por meio de traços, rabiscos, desenhos, anotações, escritos e achados – em sua maioria guardados em cadernos de bolso – era uma prática comum no dia a dia de Carlito. Um processo típico de pesquisador, mas que, no caso dele, estava conectado a uma personalidade efusivamente curiosa e naturalmente disciplinada. Era um sedento pelo conhecimento; aprendia e ensinava com a mesma generosidade, recorrendo à sensibilidade e à formação privilegiadas para estabelecer profundos intercâmbios com entornos díspares – uma prática que foi marcada por conscientes (des)conexões com a historicidade da arte, sobretudo relacionada a uma constante pesquisa de materiais e suportes. Carlito não seguia um caminho reto e linear; preferia o trânsito circular entre espaços e tempos, suportes e materiais, o branco e as cores, o erudito e o popular, ciências e religiões. Opostos atraíam o artista, que explorava com frequência relações entre transparência, opacidade e reflexividade, criando uma espécie de “trialética” que viria a caracterizar sua produção. Tudo junto e, ao mesmo tempo, separado; uma amálgama de elementos díspares que se encontravam por meio do gesto do artista, tornando o diálogo quase eterno, assim como sua obra, assim como ele.

 

Daniel Rangel

 

Curador

 

Sobre o artista

 

Carlito Carvalhosa, (1961 – 2021). A obra de Carlito Carvalhosa envolve predominantemente as linguagens da instalação, pintura e escultura. Nos anos 1980, integrou o Grupo Casa 7, em São Paulo, do qual faziam parte também Rodrigo Andrade, Fábio Miguez, Nuno Ramos e Paulo Monteiro. As tendências do neoexpressionismo eram visíveis na produção desses artistas, sobretudo a utilização de superfícies de grandes dimensões e a ênfase no gesto pictórico. No fim dessa década, após a dissolução do grupo e alguns experimentos com encáustica, Carvalhosa concebeu quadros com cera pura ou misturada a pigmentos. Nos anos 1990, dedicou-se à produção de esculturas de aparência orgânica e maleável, utilizando materiais diversos, caso das “ceras perdidas”. Ainda em meados dessa década, fez também esculturas em porcelana. Carvalhosa atribui profunda eloquência à materialidade do suporte, mas a transcende e aborda questões mais amplas, relativas às transformações do espaço e do tempo. Deparamo-nos, em sua prática, com a tensão entre forma e matéria, explicitada na disjunção entre o visível e o tátil. Aquilo que vemos não é o que tocamos, assim como o que se toca não é o que se vê. A partir do início dos anos 2000, o artista começou a realizar pinturas sobre superfícies espelhadas que, nas palavras do curador Paulo Venâncio Filho, “colocam nossa presença dentro delas”. Não raro, Carvalhosa realizou instalações em que, além de técnicas usuais, faz uso de materiais como tecidos e lâmpadas.

 

Sobre o curador

 

Daniel Rangel é curador, produtor e gestor cultural. Mestre e Doutorando em Poéticas Visuais da Escola de Comunicações e Artes da USP, graduado em comunicação social em Salvador, Bahia. Atualmente é curador geral do Museu de Arte Moderna da Bahia. Foi diretor-artístico e curador do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo) em São Paulo (2011-16), diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, da Secretaria de Cultura do Governo do Estado (2008 a 2011) e atuou como assessor de direção do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) na gestão de Solange Farkas (2007-08). Em curadoria, dentre os principais projetos realizados, destacam-se a mostra REVER_Augusto de Campos, (2016); Ready Made in Brasil (2017); Quiet in the Land (2000), uma parceria entre o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, o MAM-BA e o Projeto Axé, em Salvador. Desenvolveu projetos curatoriais para a 8ª Bienal de Curitiba, Brasil (2015), a 16ª Bienal de Cerveira, Portugal (2013) e a II Trienal de Luanda, Angola (2010). Realizou ainda curadorias de mostras individuais de importantes artistas brasileiros, como Tunga, Waltercio Caldas, José Resende, Ana Maria Tavares, Carlito Carvalhosa, Eder Santos, Marcos Chaves, Marcelo Silveira, Rodrigo Braga, e Arnaldo Antunes, e com este último recebeu pela mostra “Palavra em Movimento” o prêmio APCA 2015, de Melhor Exposição de Artes Gráficas. É pesquisador associado do Fórum Permanente do IEA-USP.

 

Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério do Turismo/Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens e Fitesa.

 

 

Nova mostra de Isabel Becker

14/jun

 

 

Encontra-se em exibição no Martha Pagy Escritório de Arte, Brasília, DF, a recente série de trabalhos da fotógrafa Isabel Becker. Inspirada no modernismo da arquitetura de Brasília, Isabel Becker inova nessas obras, dessa vez sem empregar o fugaz registro do momento do click instantâneo, que até hoje norteou seu trabalho, para se aventurar em fotografias estudadas, usando a luz e a sombra como tintas.

 

Partindo da luz mais dura, e suas sombras sobre as fachadas da capital, a artista recria desenhos dentro do desenho da obra monumental criada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Os brise-soleils e os cobogós, recursos de ventilação muito usados nessas fachadas, se transformam em ilusões de ótica, bem ao gosto do Optical Art dos anos 70. A influência dos azulejos de Athos Bulcão aparece no formato quadrado dos quadros. Os fragmentos arquitetônicos que protagonizam o trabalho de Isabel Becker foram mapeados com a contribuição da arquiteta candanga Graziela Pires. Foram locais cuidadosamente escolhidos de maneira a transmitir o máximo da força e dos conceitos da arquitetura local. Com curadoria de Christiane Laclau da Artmotiv essa exposição marca um novo momento de Isabel Becker.

 

Sobre o espaço

 

Martha Pagy Escritório de Arte representa e agencia artistas de gerações e linguagens diversas, acompanhando o desenvolvimento de suas carreiras e produção para a inserção de seus trabalhos no mercado da arte contemporânea. Com a proposta de criar um espaço que permita ao espectador um contato mais exclusivo e intimista com a arte, Martha Pagy trouxe a galeria para sua casa, em 2013, apresentando as obras num ambiente e cenário propícios à fruição e à reflexão, e incentivando o colecionismo. De 2007 a 2012 dirigiu a galeria Largo das Artes, Centro Histórico do Rio, onde realizou exposições de arte contemporânea com nomes do Brasil e do exterior, e promoveu o lançamento de jovens talentos na cena artística brasileira. Foi uma das responsáveis pela formulação do perfil de atuação do Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro, na função de diretora de programação e patrimônio, desde sua inauguração, em 1989, até 2003.

 

Até 23 de agosto.

 

 

MAC Paraná, Clube de Colecionadores do museu

 

 

O Museu de Arte Contemporânea do Paraná exibe até 31 de julho a exposição “Insólitos”. Com a curadoria de Pollyanna Quintella, a exposição, aborda o incomum, o anormal, o que não é habitual, o infrequente e o raro na visão de cinco artistas convidados: Daniel Acosta, Mano Penalva, Maya Weishof, Tony Camargo e Washington Silvera e outros artistas importantes do acervo do MAC Paraná. Junto aos cinco artistas convidados, encontram-se em exposição importantes obras históricas de António Manuel, Cybele Varela, Henrique Fuhro, Pietrina Checcacci, Vera Chaves Barcellos, Solange Escosteguy e Ubi Bava, produzidas nos anos 1960 e 1970 e que fazem parte do acervo do MAC Paraná. Artes que trazem produções revolucionárias e um grande papel de experimentação no campo artístico em uma época de luta sociopolítica.
O MAC está funcionando atualmente nas salas 8 e 9 no Museu Oscar Niemeyer. “Insólitos” fica em exibição até 31 de julho.

 

Clube de Colecionadores

 

Além de dar continuidade ao projeto de remixar obras do acervo do MAC Paraná com artistas convidados, “Insólitos” traz em si uma potente novidade: os artistas convidados nesta exposição inauguram o Clube de Colecionadores do MAC Paraná, que visa incentivar o colecionismo de arte contemporânea e a arrecadação de fundos para novas aquisições de obras que serão, futuramente, incorporadas ao acervo da instituição. Essa é a primeira ação da Associação de Amigos do MAC (AAMAC), uma organização sem fins lucrativos criada exclusivamente para arrecadar fundos para a preservação do acervo do MAC Paraná.

Historicamente, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná é um espaço de fomento e preservação da arte produzida no Brasil desde a década de 1940. Para Ana Rocha, diretora do museu, “o Clube de Colecionadores reforça ainda mais profundamente essa vocação do museu e fortalece a preservação da memória artística contemporânea que é salvaguardada aqui”.

 

Sobre as obras

 

As obras evidenciam uma visão de outro ponto de vista, a tradução do invisível, a interpretação fora do padrão e da obviedade daquilo que a imagem e um objeto representam. O artista baiano Mano Penalva utiliza a dualidade de significados por meio de obras feitas em materiais e utensílios presentes nos mercados populares, nos afazeres domésticos e na vida cotidiana. Entre elas, a intitulada “Namoradeira,Tramas”, exemplifica esse olhar além do óbvio. “As duas cadeiras unidas por uma única faixa de nylon representam o encontro dos corpos frente a frente”, explica ele. A visão do oposto também é traduzida pelo artista Washington Silvera, que exibe nas esculturas a linguagem surrealista e a poética hercúlea. Em sua obra “Luva e Espelho”, ele revela o reflexo, a dualidade entre o leve e o pesado da luva e a direita e a esquerda das mãos. Já a artista curitibana Maya Weishof, com o fascínio por imagens antigas, traz em suas pinturas a adaptação para a atualidade com traçados coloridos, delirantes, deformados e inusitados. Em “Noite Estrelada”, a artista debruça-se sobre a releitura do corpo da mulher, e relata que traz “erotismo e humor para uma imagem a princípio asséptica”. Nas “Fotoplanopinturas” do artista paranaense Tony Camargo, há a captura através de luz e movimento, a marcação de um momento performático por meio da fotografia e sua passagem para o suporte tridimensional. Para ele, busca nesses trabalhos “reencarnar” vistas. “Talvez o sentido desses objetos, como arte, está na vontade de recombinar compactando imagens ou lugares narrativos”, explica. O escultor gaúcho Daniel Acosta também visa dinamismo. Na mistura de arquitetura e design, trabalha com cores vibrantes, inspirado na arte oriental e traçando linhas em objetos. Segundo ele, “…nos trabalhos a sobreposição dos elementos ornamentais sintéticos, que cruzam da direita para a esquerda e vice-versa, criam um dinamismo por contraposição”.

 

Obras inéditas de Antonio Asis no Brasil

13/jun

 

 

A Galeria Simões de Assis, em seu módulo de Curitiba, PR, apresenta uma seleta de obras do artista argentino Antonio Asis. A exposição obedece ao título geral de “Antonio Asis: Partículas Mentais – Obras de 1960 a 2019”.

 

Texto de Matthieu Poirier

 

Esta primeira exposição de Antonio Asis (Buenos Aires, 1932 – Paris, 2019) no Brasil reúne um conjunto de importantes obras de seu espólio. Ela pretende mostrar, ao longo de uma trajetória de quase 60 anos, a singularidade de um dos inventores e personagens essenciais da arte óptica e cinética. Durante a primeira metade dos anos 1950, Asis teve sua formação na Escuela de Bellas Artes de Buenos Aires – como seu compatriota Julio Le Parc – onde foi iniciado na arte geométrica do Construtivismo e da Bauhaus, bem como na lógica perceptiva da teoria da Gestalt por Héctor Cartier. Este também o introduziu à arte cinética, cuja aparição se deu na exposição “Le Mouvement” (O Movimento), em 1955, na Galeria Denise René em Paris, o que levou Asis a se estabelecer nessa capital em 1956, no coração de sua efervescência estética. Foi-lhe necessário reformar a abstração do pós-guerra, ainda tributária de valores e padrões de composição ultrapassados. Desse modo, ele explorou, durante certo tempo, o gesto circular “livre” e natural da mão, projeções luminosas e gráficas, mas também a geometria colorida de Albers. Isso o levou a criar, entre 1956 e 1960, um sistema estético singular, que excluiu peremptoriamente a pintura de cavalete. Afastou-se, assim, da aura da tela têxtil, esticada no chassis, privilegiando suportes deliberadamente modestos, como o papel, a cartolina ou, por vezes, a madeira, mais adaptados à elevada precisão do traço do compasso e do tira-linhas – privilégio de arquitetos e designers gráficos – assim como aos matizes lisos, planos e regulares da superfície pictórica. Asis usa as boas formas da Gestalt (o círculo e o quadrado) como ponto de partida. Traduz intuitivamente a concepção moderna da realidade micro e macroscópica como um continuum vibrante de partículas, um sfumato atmosférico. A energia dessas partículas pintadas, minúsculos elementos que formam a camada pictórica, desdobra-se não tanto no suporte inerte, mas na mente do espectador, nos recônditos de seu cérebro. A forma geométrica rigorosa, multiplicada e potencializada em uma miríade de signos, desintegra-se ali mesmo, in vivo, num fenômeno vibrante e instável. O conjunto da obra de Asis é, assim, constituído por séries contendo combinações matemáticas potencialmente infinitas, cada obra distinguindo-se por sua estrutura, ou seu “código”, absolutamente únicos, e pelos seus micro-acidentes pictóricos (transbordamentos, empastamentos, marcas do ateliê e outras rebarbas) detectáveis a olho nu. À luz da teoria da informação e da ciência cognitiva, sua linguagem reúne a frontalidade de Mondrian e as “grades ébrias” de Moholy-Nagy. Essa lógica da tremulação emerge em Asis de arranjos mais mecânico. Porém, como sempre, o diabo mora nos detalhes: é se aproximando de cada elemento, distinguindo os múltiplos pequenos acidentes e irregularidades no traçado dos contornos e na aplicação da cor com a ajuda de finíssimos pincéis, que a ação sempre manual do artista aparece. Essa recusa da expressividade (das paixões, que tradicionalmente se liga à policromia), bem como a adoção de uma combinatória que rege a forma, são então associadas à arte programmata, teorizada em 1962 por Umberto Eco, e encontram suas fontes em Jean Arp e Sophie Tauber-Arp. Até sua morte, em 2019, Asis aplicou esse método com excepcional constância, até formar o que aparenta ser – após cerca de sete décadas e com exceção de um punhado de múltiplos – uma imensa mandala budista: diagramas geométricos feitos por monges tibetanos com areia de várias cores diretamente no chão. Na era da serigrafia e da reprodutibilidade mecânica, então adotada por Vasarely ou mesmo Warhol, Asis optou, portanto, pela ação manual, apenas com leve emprego de ferramentas, e, assim, antimoderna. Porém, a história agora lhe dá razão: as primeiras produções dessa gigantesca e sistemática palheta de cores, já desde 1958, foram pintadas em rigorosos matizes lisos, planos, em quadrados ou discos. Elas prefiguram certos capítulos da pintura conceitual e pós-conceitual que viriam mais tarde: por um lado, as pinturas da série Farben de Gerhard Richter (a partir de 1972) e, por outro lado, as Spot Paintings de Damien Hirst (a partir de 1986). Considerando as mundanidades do mercado incompatíveis com a concentração monástica exigida pela sua arte, Asis exerce incansavelmente sua prática no refúgio de seu ateliê parisiense. A esse respeito, a atual organização de um catálogo raisonné, de um comitê científico e da reestruturação do seu espólio e dos seus arquivos, em articulação com várias instituições museológicas, convidam hoje a uma melhor compreensão de sua obra, da qual o próprio artista, com grande modéstia, mas também escaldado pelos anos de esquecimento que a arte cinética conheceu, não quis participar. O exame da obra, tanto na sua totalidade como no detalhe, leva-nos a pensar que a verdadeira singularidade de Asis foi mal compreendida: ele foi também um proponente da arte programada e um precursor da arte conceitual, na medida em que parte da sua prática foi tecida em paralelo à teoria da informação – que se tornaria a “informática”, na qual os dados digitais são exibidos no plano, em grade, de acordo com abcissas e ordenadas, a fim de serem mais bem integrados pelo sujeito. Da mesma forma, ele foi, como Bridget Riley ainda é, um defensor da policromia pictórica, um herdeiro das nuvens neoimpressionistas de Seurat, das teorias das cores de Chevreul e dos “contrastes simultâneos” de cores teorizados pelo casal Delaunay. Asis criou, simultaneamente, “pinturas” autênticas e fenômenos em si. Elas não têm a finalidade de ajudar a apreender melhor o objeto visto; ao contrário, ao recusar a percepção “plena”, jogam contra o olho e não a favor dele. Assim, os padrões de círculos concêntricos – alvos -, sozinhos ou às vezes dispostos em uma grade, abundantes na arte perceptiva de Asis, são tanto visuais quanto antivisuais. Em Interférences (Interferências), por exemplo, anéis concêntricos se sobrepõem como as ondas produzidas por gotas de chuva caindo em uma superfície de água. Mas não nos enganemos, de uma obra a outra, de uma nuvem a uma constelação, de um tabuleiro de xadrez a essa forma-chave aparentemente simples, composta de finos círculos coloridos e concêntricos, e que o artista realizou de 1968 até sua morte: foi o próprio olho que se tornou o alvo.

 

Até 23 de julho.

 

Registros inéditos

10/jun

 

A Fundação  Camargo, Porto Alegre, RS, disponibilizou, no Google Arts & Culture, um conjunto de imagens inéditas do pintor, registradas pela fotógrafa Cristine do Bem e Canto no início da década de 1990. São 35 fotografias do artista em seu processo criativo no ateliê da casa em que morou até o fim da vida, no bairro Nonoai, em Porto Alegre, e que integram o projeto da fotógrafa, contemplado pelo XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia.

Virgínia Gil Araujo, professora Adjunta do Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo, foi convidada para escrever um texto especialmente para este recorte. “Iberê Camargo pintando e Cristine de Bem e Canto fotografando. Dois corpos juntos em plena atividade, animados e sensibilizados pela possibilidade da invenção. Cristine guardou durante 30 anos mais de 400 negativos das sessões fotográficas realizadas no ateliê de Iberê e agora disponibiliza fragmentos dessa experiência inédita, no seu projeto contemplado pelo XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia. […] O corpo de Iberê Camargo como lugar resiste no ato de pintar mantendo um modo de vida que permite um outro tipo de subjetivação, potencializa o sujeito e o indivíduo enquanto ser no mundo. O ato fotográfico de Cristine de Bem e Canto enfraquece as forças conservadoras através de um caminho sutil e discreto, sem criar ameaças fáceis às formas de imobilidade ainda persistentes na fotografia. Temos nessa vivência comum o ideal de peso dramático junto à leveza lírica”, destaca Virgínia Gil Araujo.

Ainda no texto, ela descreve o primeiro encontro de Iberê Camargo e Cristine de Bem e Canto, que veio “timidamente” por meio de um bilhete escrito à mão: “…a fotógrafa deixou um bilhete nas mãos do artista manifestando a vontade de fotografá-lo pintando. Após alguns dias Iberê telefonou para combinarem esse trabalho em parceria. Durante a primeira sessão podemos perceber as fotografias como imagens-sequência, em que a fotógrafa persegue a ação do artista de modo quase cinematográfico. Essa obsessão pelo movimento é relatada por Cristine: “Passados 30 anos o que mais tenho presente é a vivência de ser afetada pelo movimento daquele corpo que atingiu, diretamente, minha força e minha alma’”. O movimento a que Cristine de Bem e Canto se refere originou, ainda, um documentário fotográfico, realizado com as imagens produzidas por ela. Apresentar as imagens fotográficas em sequência, editadas em vídeo, possibilitou colocar o corpo de Iberê em movimento e tornar visível seu processo de criação.

O Google Arts & Culture disponibiliza mais de dois mil museus ao seu alcance, uma porta para explorar a cultura em toda a sua diversidade e histórias sobre o patrimônio cultural, desde as pinturas dos quartos de Van Gogh, a cela de Mandela aos templos antigos, dinossauros, ferrovias indianas ou comida no Japão. No Brasil, apenas o Projeto Portinari possui um volume tão expressivo de obras publicadas na plataforma. No Rio Grande do Sul, a Fundação Iberê Camargo é a única instituição que integra o projeto de alcance global.