Nuno Ramos no Instituto Ling

21/jun

 

 

Em cartaz até 18 de setembro, Nuno Ramos apresenta no Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS, a performance “Dito e Feito – Aos Vivos, em Porto Alegre”.

 

 

Em 2018, Nuno Ramos iniciou a série de performances Aos Vivos. Através dela, articulou temas constantes em sua obra: a palavra, o tempo presente e todas as contradições envolvidas na relação entre esses dois elementos. Embora existam modificações de trabalho para trabalho, o procedimento é mais ou menos o mesmo: atrizes e atores escutam, ao vivo, com um fone de ouvido, determinada programação da televisão e, depois, repetem o que escutaram, em outra situação cênica. Embora não seja preciso arremedar todas as falas e sons, o elenco deve pronunciar apenas o que escuta. Sem adicionar nada nem comentar de maneira explícita o que escutou. A ideia é replicar as falas de um contexto em outro.

 

 

Como o texto é dobrado com pouca diferença de tempo em relação ao som original, o que acontece no palco é quase simultâneo ao que é transmitido pela TV. É como um presente que se repete com poucos segundos de defasagem. Esse presente é duplicado, como uma versão transplantada da outra transmissão, como um reflexo pálido. Talvez esteja para a televisão como as serigrafias sem cor, em alto contraste, de Andy Warhol estão para as fotografias. As falas fora da televisão tornam-se despidas dos bastidores que lhe conferem inteligibilidade. A réplica mostra-se ligeiramente diferente do original, é um eco dissonante e isolado da transmissão televisiva.

 

 

A programação contínua, ou a transmissão ao vivo, como matéria de trabalho também é um marcador de tempo. Ela garante que as ações reproduzam algo que acontece em horário muito similar. É a garantia de que estamos vendo algo que acontece naquele agora.

 

 

Para esta exposição no Instituto Ling, Nuno Ramos resolveu dar mais uma volta no assunto. Elaborou a performance “Dito e feito”, a se realizar entre os dias 15 e 18 de junho de 2021. Aqui, as atrizes e o ator em palco reproduzirão não as falas mais protocolares e editadas da TV, mas o que for capturado por uma equipe nas ruas de Porto Alegre.

 

 

Depois de tentar fazer o eco desencontrado da voz da televisão, que chamou, em seu livro Cujo (2008), de “o verdadeiro ventríloquo, cuspidor de imagens e de vozes”, o artista agora nos traz, pelo YouTube, uma repetição desencontrada dos acontecimentos que os repórteres da exposição encontram. O que é dito no palco não se acerta totalmente com o que é feito na rua. Há alguma interferência na transmissão. Vemos o que sobra dessa vida; um resíduo que não se apaga, mesmo neste período particularmente trágico.

 

 

Tiago Mesquita, curador

 

 

Sobre o artista

Nuno Ramos nasceu em 1960, em São Paulo, onde vive e trabalha. Formado em filosofia pela Universidade de São Paulo, é pintor, desenhista, escultor, escritor, cineasta, cenógrafo e compositor. Começou a pintar em 1984, quando passou a fazer parte do grupo de artistas do ateliê Casa 7. Desde então tem exposto regularmente no Brasil e no exterior. Participou da Bienal de Veneza de 1995, onde foi o artista representante do pavilhão brasileiro, e das Bienais Internacionais de São Paulo de 1985, 1989, 1994 e 2010. Em 2006, recebeu, pelo conjunto da obra, o Grant Award da Barnett and Annalee Newman Foundation. Dentre as exposições individuais que fez, destacam-se, em 2010, as produzidas na Gallery 32, em Londres, Inglaterra; no Galpão Fortes Vilaça, em São Paulo, Brasil; e no MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil. Publicou “O mau vidraceiro” (2010), “Ó” (2008), “Ensaio geral” (2007), “O pão do corvo” (2001) e “Cujo” (1993). Como cineasta, roteirizou e codirigiu com Clima, em 2002, os curtas-metragens “Luz negra” e “Duas horas”. Em 2004, roteirizou e dirigiu o curta “Alvorada”. Roteirizou e codirigiu com Clima e Gustavo Moura o curta “Casco”, também em 2004, e “Iluminai os terreiros”, em 2006. Recebeu em 2009, o Prêmio Portugal Telecom (hoje Prêmio Oceanos) de Literatura por “Ó”. Em 2006, ganhou o Grant Award da Bernett and Annalee Newman Foundation; o 2º Prêmio Bravo! Prime de Cultura, Artes Plásticas – Exposição; e o Prêmio Mário Pedrosa – ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte. Em 2000, venceu o concurso El Olimpo – Parque de La memoria, para a construção, em Buenos Aires, de monumento em memória aos desaparecidos durante a ditadura militar argentina. Em 1987, recebeu a 1ª Bolsa Émile Eddé de Artes Plásticas do MAC/USP. E, em 1986, o Painting Prize da 6th New Delhi Triennial, Nova Delhi, Índia.

 

 

As performances da exposição “Dito e Feito: Aos Vivos, Porto Alegre” aconteceram ao vivo pelo canal do Instituto Ling no YouTube nos dias 15, 16, 17 e 18 de junho.

 

 

Visita técnica de José Resende

18/jun

 

 

O artista José Resende esteve em Porto Alegre, RS, no dia 17, para uma visita técnica de sua nova exposição em preparação na Fundação Iberê Camargo, prevista para novembro. Para esta mostra, serão selecionadas obras especialmente para dialogar com o centro cultural e instaladas nas partes interna e externa do prédio.

 

 

Resende aproveitou para vistoriar seu monumento “Olhos Atentos”, na orla do rio Guaíba, próximo à Usina do Gasômetro, fechado para visitação desde 2018. Acompanhado do diretor-superintendente da Fundação, Emilio Kalil, e da coordenadora de Artes Plásticas da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, Adriana Boff, foi discutida a reabertura junto com a exposição.

 

Segundo projeto da Prefeitura de Porto Alegre, já aprovado pelo artista, a alternativa viável será a instalação de um regulador de público no eixo da escultura, limitado a 20 visitantes por vez.

 

 

Olhos atentos: um presente para a cidade

 

 

José Resende, junto com Carmela Gross, Mauro Fuke e Waltércio Caldas, foi um dos artistas convidados pela 5ª Bienal do Mercosul para produzir obras permanentes para Porto Alegre. Segundo o curador-geral Paulo Sérgio Duarte, na época, as intervenções foram pensadas como obras de arte para serem usadas pelo público; para que passeiem sobre elas, olhem a paisagem a partir delas, ou simplesmente descansem sobre elas.

 

 

“Olhos Atentos” é composta por duas vigas de aço, que se estendem acima do rio Guaíba, formando uma passarela. Para Resende, cuja característica marcante é a relevância dos materiais empregados e suas relações com o espaço, em lugar de apenas utilizá-los como suporte para formas convencionais, a obra nasceu com o propósito de fazer “Porto Alegre enxergar-se com novos olhos”.

Palatnik em BH

 “Palatnik e a Arte Cinética: uma perspectiva histórica”
Os curadores da exposição “Abraham Palatnik – A reinvenção da pintura”, Felipe Scovino e Pieter Tjabbes, e o historiador da arte, Michael Asbury, conversaram sobre o início do panorama da arte cinética no Brasil e, em particular, a trajetória de Abraham Palatnik.
O artista foi um dos pioneiros desse movimento no mundo, aliando conhecimentos matemáticos, como geometria e física, à criação artística. Palatnik tem papel central na discussão sobre o abstracionismo no Brasil. Ele conjuga o uso de motores mecânicos e lâmpadas com um ritmo de cores e volumes que fazem com que sua obra seja singular. O campo da arte cinética ganhou novas abordagens com o trabalho desse artista, quando ele passou a fazer uso de materiais pouco associados à pintura.
A contribuição de Abraham Palatnik na passagem da arte moderna à contemporânea, suas inovações no campo do design e como se deu sua recepção no exterior, são pontos que foram abordados no webinar que aconteceu no canal do YouTube do Banco do Brasil. Para assistir basta acessar o link :  https://www.youtube.com/bancodobrasil.
PATROCÍNIO: Banco do Brasil
REALIZAÇÃO: Art Unlimited
COMUNICAÇÃO: Alves Madeira

Vídeo documentário

17/jun

 

 

 

Confira agora mesmo o vídeo documentário sobre “Inéditos e Reciclados”, uma exposição de Vera Chaves Barcellos, produzido pela Flow Films, com direção de Hopi Chapman e Karine Emerich, em Viamão, RS.

 

 

O documentário conta com falas da artista e de Margarita Kremer, coordenadora do Setor Educativo da Fundação Vera Chaves Barcellos.

 

 

Para assistir ao documentário, basta acessar nossas plataformas digitais:

 

 

YouTube | Instagram | Facebook

 

 

SERVIÇO | Agendamentos para visita à Sala dos Pomares | Visitas individuais ou grupos de, no máximo, 06 pessoas por horário.

 

Leda Catunda na Paulo Darzé

25/maio

 

 

“Outono” é a mais nova exposição de trabalhos inéditos, de Leda Catunda na Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia com temporada até o final de junho. Mostra presencial e virtual reúne trabalhos criados entre 2020 e 2021. Para o artista e professor da Escola de Belas Artes da UFBA, Ricardo Bezerra, no texto escrito especialmente para o livro-catálogo, “…a exposição Outono deve nos motivar a refletir sobre a construção do nosso olhar, procurar anular nossa referência para que possamos olhar as coisas como se fossem a primeira vez. Devemos buscar em nós aqueles “olhos de criança” que Henri Matisse nos convidou a olhar a vida para, quem sabe, construir uma nova imagem do mesmo mundo que supomos ser conhecido por nós. Toda arte é uma criação, um fazer surgir algo nunca visto. As obras dessa exposição nascem de um grande desprendimento, uma maturidade artística e uma liberdade invejável. Como liberdade, não é satisfatoriamente explicável, porque deixa de ser liberdade quando explicada”.

Reabertura do MARGS

12/maio

 

 

Estamos agradecidos e recompensados pela aprovação do público, que se sentiu seguro e confiante para ir ao MARGS, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, cumprindo as regras visitação. Estas são imagens do dia da nossa reabertura, terça-feira, 11 de maio.

 

 

O MARGS retorna com 2 exposições inéditas, ocupando 8 salas e galerias, além do foyer do Museu:

“Lia Menna Barreto: A boneca sou eu – Trabalhos 1985-2021”

“Bruno Gularte Barreto: 5 CASAS”

 

 

Neste primeiro momento, e em acordo com a legislação vigente, o MARGS reabre para visitação sob agendamento, em 2 modalidades:

Visita presencial sem mediação

Visita presencial com mediação

 

 

Os agendamentos devem ser feitos pelo Sympla:

www.sympla.com.br/produtor/museumargs

 

 

O período de visitação segue de terça a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h), sempre com entrada gratuita.

Na “Visita presencial com mediação”, são 2 faixas de horários, para grupos de até 6 pessoas: 11h às 12h e 14h às 15h, de terça a sábado.

 

 

Para a reabertura, o MARGS adotou uma série de medidas de segurança sanitária e de regras para acesso e visitação, com o objetivo de criar um ambiente seguro e que ofereça uma experiência que possa ser aproveitada da melhor maneira. A  preparação do Museu incluiu sinalização informativa sobre regras a serem cumpridas pelos visitantes, instalação de dispensadores de álcool desinfetante pelo percurso da visitação e a implementação de um protocolo de sanitização dos espaços de circulação coletiva e de superfícies de uso comum (banheiros, corrimões, elevador).

 

 

Entre as regras, estão limitação do número de visitantes a 15 simultâneos, uso obrigatório de máscara, medição de temperatura e respeito à distância de 2m.

 

O retorno do Museu está sendo tratado com muito cuidado e responsabilidade, assegurando a saúde dos funcionários e dos públicos. Como instituição pública, estamos seriamente empenhados com o compromisso de reduzir as possibilidades de contágio, colaborando para oferecer condições de segurança sanitária à sociedade como um todo.

 

 

Estaremos monitorando o transcorrer da reabertura e as alterações estipuladas pela legislação frente à pandemia.

Manteremos o público informado sobre qualquer atualização dos protocolos.

Preparamos um Guia de Regras para Acesso e Visitação com os protocolos e medidas de segurança sanitária:

 

 

http://www.margs.rs.gov.br/…/Guia-Plano-de-Retorno-e…

 

 

Aguardamos sua visita!

 

 

Mostra do Estilista Tomo Koizumi

30/abr

 

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, em uma parceria inédita com a Japan House São Paulo, inaugurou a exposição “O fabuloso universo de Tomo Koizumi”. A mostra propõe uma perspectiva da moda contemporânea sob o olhar de um artista que foge das tendências tradicionais e ousa com suas peças marcantes. Serão apresentadas treze surpreendentes criações do jovem estilista Tomo Koizumi, revelação na semana de moda de Nova Iorque de 2019 e que vem conquistando respeito e admiração no mundo fashion. O designer se destaca por criações famosas pelo encantamento, em produções únicas feitas com 50m a 200m de organza japonesa cada uma, de cores e volumes extravagantes, que representam o seu universo recheado de referências nas artes tradicionais e na cultura pop japonesa. Com o apoio do Consulado Geral do Japão em Porto Alegre, a iniciativa de apresentar os trabalhos de Tomo Koizumi na capital gaúcha acontece em função do projeto de itinerância da instituição nipônica, iniciado este ano por meio de colaborações com as principais organizações culturais do país.

 

 

A exposição individual revela a essência do olhar de Tomo Koizumi, por meio de dez peças icônicas das coleções de 2019 e 2020 do estilista. Para a mostra no Brasil, foram criadas também três peças exclusivas, mesclando referências do nosso Carnaval e dos quimonos tradicionais japoneses. Além disso, a exposição conta com um vídeo do último desfile, realizado na Tokyo Fashion Week, permitindo ao visitante vislumbrar a força e a dramaticidade que é vestir uma peça do estilista. Por fim, recortes íntimos da sua carreira e do seu processo criativo estão presentes no espaço expositivo em um mural, que contém desde imagens de referência que serviram de inspiração para as suas coleções, até fotos pessoais feitas pelo artista nos últimos anos. Tomo Koizumi é extravagante, surpreendente, criativo, vibrante. Suas peças são o perfeito encontro da intimidade do trabalho manual ao glamour, sofisticação e teatralidade. Para cria-las, bebe e mescla fontes tradicionais e populares do Japão como os mangás, robôs e o estilo Lolita”, comenta Natasha Barzaghi Geenen, Diretora Cultural da Japan House São Paulo e curadora da mostra, que conta com projeto expográfico do escritório Metro Arquitetos. Sediada na Avenida Paulista, a Japan House São Paulo é uma instituição que apresenta e difunde a cultura japonesa em suas diversas vertentes e, nesta nova fase institucional, ressalta como um dos objetivos a expansão geográfica como uma plataforma de integração para o Brasil e toda América Latina.

 

 

Destinada para todas as idades e com recursos de acessibilidade como libras e audiodescrição, a exposição “O fabuloso universo de Tomo Koizumi” promete cativar tanto os amantes da moda como o público em geral, atraídos pelo olhar de um jovem artista que foge das tendências tradicionais e ousa em cada corte de tecido. Finalista do prêmio LVMH em fevereiro de 2020, Tomo é considerado hoje um dos principais jovens designers do Japão e do mundo, não só por criar vestidos disputados por celebridades internacionais para eventos de gala e red carpet, mas também por ousar em peças que são verdadeiras obras de arte.

 

 

Sobre o artista

 

 

Nascido na província de Chiba, há 32 anos, Tomo foi descoberto pelo dono de uma loja de varejo, que ficou encantado pelas roupas produzidas por ele, ainda quando era estudante universitário. Fundou, então, a sua marca “Tomo Koizumi” e, antes da ascensão ao mundo da alta costura internacional, trabalhou como figurinista para diversos designers japoneses. Em 2016, teve uma de suas peças usada por Lady Gaga durante uma visita ao Japão. No final de 2018, sua carreira decolou quando seu perfil no Instagram foi descoberto por Katie Grand (na época, editora-chefe da revista inglesa LOVE), que ficou fascinada por seu trabalho, orquestrando um desfile na semana de moda de Nova Iorque (2019) com apoio de Marc Jacobs e de um grande time de peso. Tomo Koizumi levou à passarela seus vestidos volumosos e coloridos, surpreendendo o público e tornando-se destaque nos principais veículos de imprensa e nas redes sociais de todo o mundo.

 

Inéditos e Reciclados

 

 

A Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, promove a abertura da exposição “Inéditos e Reciclados – Uma exposição de Vera Chaves Barcellos”. A exposição reúne trabalhos desenvolvidos ao longo de mais de 40 anos de investigação fotográfica na produção da artista.

 

 

As visitas serão disponibilizadas através de agendamento seguindo de forma responsável os protocolos de prevenção recomendados pelos órgãos oficiais. O uso de máscara de proteção é obrigatório e, por ora, as visitas estão restritas somente ao público adulto.

 

 

SERVIÇO | Agendamentos para visita à Sala dos Pomares a partir do dia 24 de abril. Visitas individuais ou grupos de, no máximo, 06 pessoas por horário.

 

 

Horários disponíveis:

 

 

Terças, das 10h às 17h;
Quartas, das 10h às 17h;
Quintas, das 14h às 17h;
Sábados, das 14h às 17h.

 

 

Agendamentos pelo telefone: (51) 9 8229 3031 ou e-mail: educativo.fvcb@gmail.com preferencialmente com 24h de antecedência, mediante e-mail de confirmação do setor Educativo.

 

Elizabeth Jobim em Curitiba

26/abr

 

 

A Simões de Assis, Curitiba, Paraná, apresenta até 12 de junho a exposição “Entre Tempos”, individual de pinturas de Elizabeth Jobim.  Pela primeira vez, Beth traz ao olhar do público uma grande série de trabalhos feitos diretamente com tecido; o material já vinha sendo experimentado em alguns objetos recentes, mas aqui os vemos em escala grande. O linho é o material escolhido e as cores, assim como em suas pinturas, tendem a um tom mais terroso e sóbrio. Essas cores compõem listras e formas poligonais que apelam aos sentidos do espectador – não apenas devido aos seus contrastes inteligentes, mas pela sua materialidade. Estamos diante de pinturas que se apresentam ligeiramente moles aos nossos corpos e, como qualquer tecido, imediatamente parecem nos convidar ao toque. “Entre tempos” contrasta com a fugacidade das terríveis notícias que invadem nossos corpos incessantemente e nos convida a uma velocidade mais lenta na fruição dessa reunião de trabalhos. Em um presente tão tomado por tragédias, essa exposição de Beth Jobim – assim como grande parte de sua pesquisa – é um aceno às sutilezas que perduram no mundo.

 

 

Texto de Raphael Fonseca

 

 

A trajetória de Beth Jobim dentro do campo das artes visuais possui cerca de quatro décadas; sua primeira participação em uma exposição foi em 1982, no Rio de Janeiro. Quando observamos trabalhos de diferentes momentos de sua pesquisa, dois elementos parecem constantes: a pintura e suas relações com o corpo humano.

 

 

No que diz respeito à forma como seus trabalhos costumam ser lidos pelo viés da abstração, prefiro pensar nesta associação mais pelo piscar de olhos do que pela relação monogâmica; prestando atenção em seu percurso, é notável que parte de sua pesquisa se inicia com a imitação do real e se transforma em composições que podem ser interpretadas de forma mais aberta pelo público. Seus trabalhos por vezes se encontram em diálogo com imagens muito precisas – lembro, por exemplo, dos desenhos e pinturas que dialogam com a escultura de Giambologna representando o Rapto das Sabinas ou, ainda melhor, as imagens em que responde ao grupo escultórico do Laocoonte. Todos esses trabalhos são da década de 1980 e trazem, cada um a seu modo, algo que me parece estar presente com diferentes graus de sutileza no olhar da artista: um interesse pela fisicalidade e pelo movimento do corpo humano com seus contornos anticlássicos cheios de veias, rugas e torções.

 

 

Como notou Paulo Sergio Duarte em ensaio sobre seu trabalho[1], se nas pinturas anteriores a essas séries notamos seu interesse pela gestualidade e pela cor da chamada “Geração 80”[2], quando analisamos trabalhos de décadas posteriores novamente percebemos sua atenta observação do mundo – tubos de tinta e pedras portuguesas foram pontos de partida para experimentar diferentes escalas, cores e texturas. Quando esse dado explicitamente figurativo sai de cena, a artista destaca o apelo sensorial de suas composições – desencontros entre diferentes tamanhos de tela, respostas diretas à arquitetura das salas onde expôs, jogos entre diferentes profundidades dentro do mesmo objeto-pintura e até mesmo ocupações espaciais que se dão pelo acúmulo de pequenas pinturas. Nos últimos anos, Beth chega a tirar a pintura das paredes e trazê-la para o centro, tanto em formatos semelhantes a caixas/totens, quanto também em conversas com aquelas pedras que tanto observou.

 

 

Quando vejo os trabalhos reunidos nesta exposição individual da artista, penso que, em verdade, ela dá continuidade a essa experimentação dada pela equação entre pintura e corpo. Aqui, as pinturas a óleo seguem presentes, mas em menor número. Nelas somos convidados a perceber não apenas as frestas entre cores, mas também os momentos em que se opta por um corte na estrutura da tela que faz com que a mesma composição seja dividida por mais de um módulo. Convidando-nos a ficarmos atentos aos detalhes, a artista sugere a diferença entre o branco que separa as cores pintados por suas mãos e aquela linha que também se insere na imagem, mas que se dá a partir de um corte na matéria.

 

 

Pela primeira vez, Beth traz ao olhar do público uma grande série de trabalhos feitos diretamente com tecido; o material já vinha sendo experimentado em alguns objetos recentes, mas aqui os vemos em escala grande. O linho é o material escolhido e as cores, assim como em suas pinturas, tendem a um tom mais terroso e sóbrio. Essas cores compõem listras e formas poligonais que apelam aos sentidos do espectador – não apenas devido aos seus contrastes inteligentes, mas pela sua materialidade. Estamos diante de pinturas que se apresentam ligeiramente moles aos nossos corpos e, como qualquer tecido, imediatamente parecem nos convidar ao toque.

 

 

Há uma presença nessa série que conversa pelo viés da diferença com o uso habitual que a artista faz do rolo em suas pinturas: os pontos de costura. Ao observar os detalhes dessas superfícies, notamos discretas junções que possibilitam tanto que diferentes cores façam parte de uma mesma listra, quanto também que, em outros momentos, o linho abrace a madeira ou o óleo sobre tela. Essa talvez seja uma forma interessante de observar esses trabalhos: abraços longos entre cores que envolvem objetos através do tecido. Isto nos leva a outro dado importante que condiz com a natureza do material: como em qualquer tecido, por mais que haja um esforço por esticá-lo e simular a sua planaridade, sempre podemos notar sua urdidura e pequenas rugas em sua superfície. Eis uma matéria que convida a outra gestão da noção de controle; é importante respeitar a elasticidade e a temporalidade do linho, esse tecido feito milenarmente a partir da planta de mesmo nome.

 

 

“Entre tempos” contrasta com a fugacidade das terríveis notícias que invadem nossos corpos incessantemente e nos convida a uma velocidade mais lenta na fruição dessa reunião de trabalhos. Em um presente tão tomado por tragédias, essa exposição de Beth Jobim – assim como grande parte de sua pesquisa – é um aceno às sutilezas que perduram no mundo.

 

 

Fica o desejo para que, muito em breve, possamos estar reconectados com aquela desaceleração necessária não apenas para dobrar e enlaçar tecidos, mas também para observar os contornos de Laocoonte e as superfícies ao nosso redor.

 

 

[1] DUARTE, Paulo Sérgio. “Pintura plena” in Elizabeth Jobim. São Paulo: Cosac Naify, 2015, págs. 9-51.

 

 

[2] Importante lembrar que a artista participou da célebre exposição “Como vai você, Geração 80?”, em 1984, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e com curadoria de Marcus Lontra, Paulo Roberto Leal e Sandra Magger.

 

 

Festival de Fotografia

19/abr

 

Começa nesta sexta-feira, dia 23, às 19h, a 14ª edição do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre. Com o tema “Fotografia e Silêncio – Nuvens de Escuta”, o FestFoto POA concentra suas atividades e videoexposições, totalmente online e gratuitas, de 23 a 28 de abril, e segue em maio com leituras de portfólios.

 

 

O primeiro painel do evento tem como convidada Sarah Meister, curadora do Departamento de Fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e da exposição “Fotoclubismo: Fotografia Modernista Brasileira, 1946-1964”, que o MoMA inaugura em maio.