Coleções/Colecionadores

22/jul

Com o tema “Colecionador-historiador: um papel involuntário?”, o próximo “Happy Aura” vai discutir uma das muitas características assumidas por quem coleciona arte, que é o papel de historiador/historiadora.

 

Os colecionadores João Marinho (Recife), Jorge Alex Athias (Belém) e Ylmar Corrêa Neto (Florianópolis) são o convidados para este debate, e incorporam, cada um a seu turno, a persona historiadora na elaboração de suas coleções.

 

A conversa será mediada por Nei Vargas.

Data: 24/07 (sexta-feira)
Horário: 18h
O Happy Aura é uma sala on-line de acesso livre pela Plataforma Zoom.
Os acessos são limitados e é necessário inscrever-se para receber o link:

Promoção conjunta

07/maio

 

Artistas representados

 

Promoção conjunta

 

A Galeria Mamute, Porto Alegre, RS, se une a artistas, galerias e agentes culturais de várias cidades do país no projeto p.art.ilha, uma estratégia de fortalecimento do mercado de arte diante da crise da Covid-19, criando também uma rede de apoio à comunidades em situação de vulnerabilidade.   Através de ações coordenadas, o projeto p.art.ilha busca estabelecer uma sinergia com colecionadores privados e institucionais, além de sensibilizar novos públicos para a arte.

 

Estamos lançando p.art.ilha: ação#1, primeira iniciativa do grupo, evento on-line em que uma criteriosa seleção de obras está à venda com condições muito especiais: a cada aquisição durante o mês de maio, o colecionador ganhará um crédito de igual valor para compra de obras de outros artistas da mesma galeria.

 

O objetivo a curto prazo é manter ativos os profissionais que atuam na cadeia criativa do setor artístico: artistas, galeristas, produtores, editores, curadores, pesquisadores, fotógrafos, montadores e técnicos. Acreditamos que somente a união e a criatividade poderão minimizar as consequências desastrosas desse momento difícil. A médio prazo, o grupo pretende explorar novos caminhos para a sustentabilidade dos negócios do setor, privilegiando processos colaborativos.
Somos um grupo aberto a todas as galerias que se identifiquem com o nosso objetivo. Queremos arejar o mercado e recepcionar negócios inovadores, startups e projetos artísticos que não têm vez em nosso mercado atual. E, na atual conjuntura, queremos também somar esforços para mitigar o impacto social da crise, doando recursos para instituições, como Casa Chama (sp), Lá da Favelinha (bh), Lanchonete (rj), Por Nossa Conta (sp) e Salvando Vidas (sp).

 

ARTISTAS  REPRESENTADOS DA GALERIA MAMUTE

 

Andressa Cantergiani . Antônio Augusto Bueno . Bruno Borne . Camila Elis . Claudia Hamerski . Clóvis Martins Costa . David Magila .  Dione Veiga Vieira . Emanuel Monteiro . Fernanda Gassen . Fernanda Valadares . Gabriel Nehemy . Goia Mujalli . Hélio Fervenza . Ío . Letícia Lampert . Marília Bianchini .  Pablo Ferretti . Patrícia Francisco . Sandra Rey . Sandro Ka.

 

p.art.ilha: ação #1  |  galerias participantes 
aura (sp) . b_arco (sp) . c.galeria (rj) . carcara (sp) . casanova (sp)  . desapê (sp) . eduardo fernandes (sp)   . janaina torres (sp) . karla osorio (df) . mamute (poa) . mapa (sp) . lume (sp) . oma (sbc) . periscópio (bh) . sé (sp) . soma (ctba) . ybakatu (ctba)

Arte em Sintonia

05/maio

A  multiartista Liana Timm, Porto Alegre, RS, criou o “Arte em Sintonia”, um canal de comunicação para informar, comentar, debater e divulgar aspectos das diversas modalidades de arte.

 

Sobre a artista

 

Arquiteta, desenhista, pintora, artista digital, escritora, atriz e singerwoman de larga experiência no setor artístico, Liana Timm  já realizou exposições e performances na França e nos Estados Unidos, além de considerável número de exposições individuais em espaços públicos e privados, perfazendo mais de quatro décadas de atividades ininterruptas.

 

ENCONTROS

29/abr

Live com curadores/ Fundação Iberê

22/abr

 

Live na fundação Iberê Camargo

 

No próximo sábado (25), às 11h, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, faz live no Instagram com Denise Mattar, curadora da próxima exposição “O Fio de Ariadne”. O bate-papo será conduzido por Gustavo Possamai, responsável pelo acervo da Fundação e co-curador da mostra. Até julho, estão previstas lives quinzenais sobre outros temas abordados no catálogo da exposição pelas professoras Blanca Brites, Maria Amelia Bulhões, Paula Ramos e Andrea Giunta.

 

Neste sábado, Denise abordará a produção de tapeçarias na arte ocidental desde suas origens até a contemporaneidade, com atenção especial às realizadas pelo Artesanato Guanabara, ateliê do Rio de Janeiro que produziu as de Iberê Camargo.

 

A primeira tapeçaria de Iberê foi confeccionada em 1975 e hoje integra a coleção Roberto Marinho. Outra, que chegou recentemente de Portugal para a exposição, decorava o consultório da Clínica Odontológica De Luca, no Rio de Janeiro, da qual Iberê foi cliente.Também participa da mostra a tapeçaria que reproduz um dos estudos para o painel monumental de 49 metros quadrados realizado por Iberê para a sede da Organização Mundial da Saúde, em Genebra.

 

Exposição inédita – Durante as décadas de 1960 e 1970, além de sua intensa produção em pintura, desenho e gravura, Iberê Camargo realizou trabalhos em cerâmica e tapeçaria. Eles respondiam a uma demanda do circuito de arte, herdada da utopia modernista, que preconizava o conceito de síntese das artes; uma colaboração estreita entre arte, arquitetura e artesanato.

 

Com assessoria técnica das ceramistas Luiza Prado e Marianita Linck, Iberê realizou, nos anos 1960, um conjunto de pinturas em porcelana, com resultados surpreendentes. Na década seguinte selecionou um conjunto de cartões, que foram transformados por Maria Angela Magalhães em impactantes tapeçarias.

 

Há algum tempo a Fundação Iberê Camargo vinha estudando essa faceta da produção do artista e a oportunidade de apresentá-la surgiu paralelamente à realização, pela primeira vez nas dependências da instituição, da Bienal do Mercosul. A conjuntura feminina que permeou a produção dessas tapeçarias e cerâmicas revelou grande afinidade com o conceito geral da 12ª edição.

 

Convidada pelo centro cultural a desenvolver esse projeto, a curadora Denise Mattar, juntamente com Gustavo Possamai, expandiu essa percepção inicial, revelando o fio de Ariadne: a urdidura feminina que apoiou o trabalho de Iberê Camargo ao longo de sua história.

 

Prevista para abril de 2020, a abertura da exposição foi adiada por tempo indeterminado em colaboração às medidas de controle da propagação do novo Coronavírus (Covid-19).

 

Josafá Neves e a Mitologia afro

10/mar

Exposição de Josafá Neves encontra-se em exibição no Museu Nacional da República, em Brasília, DF, trazendo reflexões sobre arte, religião e origens. Mostra inédita na capital do país, a exposição “Orixás” provoca o olhar do público em relação à História da Cultura Africana Brasileira, um convite para mergulhar na história do negro em nosso país, transformada em obra de arte através de esculturas, pinturas e instalações. O trabalho do artista transcende às últimas duas décadas e tem inspirado gerações, agregando grande valor à arte contemporânea. “Orixás: geometria, símbolos e cores” alude à última fase em que se encontra o trabalho do brasiliense Josafá Neves. Pesquisando a mitologia iorubana ele busca soluções estéticas, símbolos e cores pertinentes a cada um dos 16 orixás estudados à exercícios geométricos que permitam aproximações com uma dimensão simbólica. A curadoria da exposição é assinada por Marcus de Lontra Costa, crítico de arte e curador.

 

Segundo Nelson Inocêncio, professor de artes visuais da Universidade de Brasília, “…o trabalho de Josafá Neves nos remete às poéticas de outros artistas afro-brasileiros que produziram suas obras com base nas mitologias africanas”. Ele mesmo admite a influência de Rubem Valentim na elaboração de seus emblemas alusivos a várias divindades do panteão iorubano. A arte de Josafá não se restringe a este diálogo com o mestre, mas também se espraia, permitindo que estabeleçamos aproximações com as poéticas de outros de artistas como Emanoel Araújo, do mineiro Jorge dos Anjos e do carioca-brasiliense Olumello. Sua pintura tem como peculiaridade as pinceladas negras, as quais expressam com firmeza seus sentimentos em traços distintos. A prática da pintura para o artista é de um valor incontestável e efetivo. Preparando as telas de forma paternal e zelosa, peculiarmente pinceladas na cor preta, atinge as mais íntimas emoções dos expectadores em seus 24 anos de dedicação integral ao ofício das artes.

 

A palavra do curador

 

As obras produzidas por Josafá Neves para essa exposição revelam a potência de imagens desprezadas pelo discurso oficial. Aqui não há espaço para acomodações, discursos conciliatórios, não há a busca em criar uma falsa ideia de harmonia e integração social num país majoritariamente formado por mestiços, filhos do estupro de mulheres negras por parte do homem branco, afirma Marcus de Lontra Costa.

 

Sobre o artista

 

Artista autodidata nascido em Gama, Brasília – DF, em 1971. Josafá Neves começou a desenhar aos cinco anos de idade nas calçadas e ruas onde morava. Mudou-se para Goiânia com sua família aos sete anos e foi nesta cidade, desde 1996, que Josafá Neves passou a se dedicar integralmente às artes plásticas. Artista com trajetória e reconhecimento internacional, participou de diversas exposições individuais e coletivas, em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Goiânia, Havana/Cuba, Caracas/Venezuela, Paris /França e USA.

Até 29 de março.

 

 

Filme no Instituto Ling

06/fev

A artista Romy Pocztaaruk exibe até 21 de março o filme “Antes do Azul” no Instituto Ling, Porto Alegre, RS. O filme é projetado em looping, na galeria do centro cultural.

 

Ar do tempo

 

Em um ambiente que nos transporta para uma sala de cinema de outros tempos, Romy Pocztaruk nos apresenta seu novo filme, “Antes do Azul”. Durante pouco mais de dez minutos, seremos submetidos a uma sequência de cenas sutilmente narrativas e radicalmente sensoriais, um jorro de imagens-pensamento sobre a existência e a violência, sobre a passagem do tempo, sobre tecnologias de morte, sobre a potência de corpos animais e minerais, sobre a arte como possível rastro a ser deixado pela humanidade quando ela mesma não sobreviver à sua onipotência.

 

Logo no início, em uma das primeiras cenas da projeção, o estranhamento que iremos experimentar já se anuncia na presença de um elemento incomum, uma luva com unhas vermelhas. A mão que veste essa luva busca por cristais reunidos em uma pequena mesa. São substâncias minerais e seu mistério que a também misteriosa mão tateia. Uma mulher negra, vivida pela atriz e cantora Valéria (ex-Houston), ocupa o centro energético do curta. Agora, é ela mesma quem recolhe fragmentos rochosos e os deposita dentro de sua roupa, como se buscando uma fusão entre seus corpos, cindidos há muito tempo. Já aí, nosso olhar não enxerga somente união, mas conflito, impasse áspero, desejo – sentimentos que perpassam todas as imagens.

 

A partir dos gestos dessa personagem, de suas expressões, seus movimentos, sua voz, seus olhares e os olhares a ela dirigidos, o filme se estrutura, construindo um ambiente em que passado, presente e futuro se confundem. Uma boate do século XXI, a guerra nuclear e a era das cavernas. Tudo ao mesmo tempo agora. Cronologias estilhaçadas entre movimentos de dança, fotos estáticas da ciência sedenta de poder, e uma volta à natureza, uma fuga da ideia de ser humano. A cobra morde o próprio rabo.

 

Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência; o impasse do filme é também o nosso: quem sobreviverá à destruição contínua a qual a terra é submetida

 

Gabriela Motta / Proposição curatorial

 

Sobre a artista

 

A artista nasceu em 1983, Porto Alegre, RS, Brasil. Em diversos suportes, Romy Pocztaruk lida com simulações, refletindo sobre a posição a partir da qual a artista interage com diferentes lugares e com as relações entre os múltiplos campos e disciplinas da arte. Diversas vezes premiado, o trabalho da artista está presente em coleções como as da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu de Arte do Rio. Ela participou da 31ª Bienal de São Paulo com a série “A Última Aventura”, em que investiga vestígios materiais e simbólicos remanescentes da construção da rodovia Transamazônica, um projeto faraônico, utópico e ufanista relegado ao abandono e ao esquecimento. Suas principais exposições individuais foram “Geologia Euclidiana”, Centro de Fotografia de Montevideo (Uruguai, 2016), e “Feira de ciências”, Centro Cultural São Paulo (2015). Entre as principais exposições coletivas, estão “Convite à viagem: Rumos Itaú Cultural”, Itaú Cultural (São Paulo, 2012); Region 0. The Latino Video Art Festival of New York (Nova York, 2013); a 9ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2013); a 31ª Bienal de São Paulo (2014); “BRICS”, Oi Futuro (Rio de Janeiro, 2014); “POROROCA”, Museu de Arte do Rio de Janeiro (2014); “Uma coleção Particular: Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca”, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2015); “Télon de Fondo”, Backroom Caracas (Venezuela, 2015).

 

Exibição do filme Antes do Azul 

 

Duração: 13 minutos

 

O filme é projetado em looping, na galeria do centro cultural.

 

FICHA TÉCNICA

 

Direção: Romy Pocztaruk / Estrelando: Valéria / Texto: Daniel Galera

Direção de Produção: Larissa Ely / Assistente de Produção: Paula Ramos

Direção de Fotografia: Lívia Pasqual / Trilha Original e Desenho de Som: Caio Amon

Ilustração: Matheus Heinz / Figurino: Alice Floriano, Larissa Ely, Romy Pocztaruk, Humans and Aliens

Figurantes: Renata de Lélis, Camila Vergara, Thais Hagermann

Cenografia: Lívia Pasqual e Romy Pocztaruk / Cabelo e Maquiagem: Juliane Senna

Diretor de Elenco: João Madureira / Motorista: Cássio Bulgari

Montagem: Caio Amon, Leonardo Michelon, Romy Pocztaruk

Primeiro assistente de câmera e operador: Deivis Horbach

Elétrica: Daniel Tavares / Finalização & Cor: Rafael Duarte

Design gráfico: Guss Paludo e Romy Pocztaruk

 

Música Original

 

“Fim dos Tempos”  (Caio Amon / Romy Pocztaruk /Daniel Galera) / Voz: Valéria  / “Blue Echoes” (Caio Amon / Romy Pocztaruk /Daniel Galera) / Voz: Valéria

Agradecimentos: Luisa Kiefer, Linha, Prefeitura de Santa Tereza, Casio / Arquivos: NASA, Preelinger Archive, USA Atomic Energy Comission / A exposição tem patrocínio da Crown Embalagens e financiamento do Ministério da Cidadania / Governo Federal.

 

Até 21 de março.

 

 

 

Floresta negra na Paulo Darzé

13/jan

A Paulo Darzé Galeria, Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória, Salvador, Bahia, abre sua programação 2020, no dia 30 de janeiro, das 19 às 22 horas, com a exposição do artista baiano Anderson Santos, tendo por título “Floresta negra”, com curadoria do professor Danillo Barata, permanecendo em temporada até o dia 19 de fevereiro.

 

Texto do curador

 

A singularidade dessa mostra está estruturada em um processo sensível de como as técnicas de pintura tradicional são renovadas no encontro com as novas mídias. Os aspectos conceituais abordados remetem à instauração de uma problemática cada vez mais constante na contemporaneidade que diz respeito ao fluxo de imagens, sua fruição e a cultura remix. É, segundo o filósofo Philippe Dubois, na incrustação – textura vazada e na espessura da imagem – que, de certa maneira, os espaços de produção da imagem são reorientados.

 

Anderson Santos se irmana a uma nova tendência de autores que ao utilizar o digital como dissolução da imagem tem como imperativo conhecê-la para finalmente desintegrá-la. Essa transição poética da pintura a óleo para o digital não passa por um aperfeiçoamento, mas sim por uma licença que permite ao artista se reautorizar como pintor, pois isola a pintura para desfigurá-la, sem hierarquia ou convenção de gosto. Desse modo, compreende uma visão mais polissêmica do que entendemos como pintura contemporânea. Cria ao modo do que preconiza Gilles Deleuze em “A lógica da sensação”, para tratar das obras de Francis Bacon, uma fuga em direção a uma forma pura, por abstração; ou em direção a um puro figural, por extração ou isolamento, obtido numa equação de tentativa e erro, própria do fazer artístico.

 

“Floresta Negra” é um divisor de águas na poética de Anderson. Nela, ele amadurece, se encontra com sua família e seus filhos nos contos e fábulas dos irmãos Grimm, envolto na dualidade, no obscuro e o sombrio. Se no passado sua pintura tentava neutralizar a narração e a figuração, nesse momento as micronarrativas invadem o seu cotidiano traçando novas visões de futuro ou de afro futurismo.

 

A exposição pelo artista

 

Tenho dois filhos, um de um ano e outro de quatro, quase cinco anos. Quando do preparo para esta exposição e tendo o costume de contar histórias para eles dormirem, um dia me dei conta que quase todas as histórias infantis se passam em florestas, selvas, ou lugares com uma densa vegetação. Comecei então a relacionar esta descoberta, do protagonismo da floresta como lugar onde surgem as histórias, com o momento de agora, dessa era antropocênica que vivemos e do obscurantismo político mundial, e em particular, com o cenário local.

 

Quando voltei da Itália no início de 2019, encontrei Salvador em luto, parecia pra mim que uma noite negra tinha encoberto a cidade, os amigos ansiosos, com muito medo do que estava por vir, e, para culminar, no fim de abril perdi minha irmã. Como sou um otimista e tenho dois filhos pra brincar, descobri com eles que de dentro do escuro podem surgir monstros, lobos ferozes, mas também tapetes mágicos, cavalos alados e outras histórias. E que é por isso que a floresta é negra, não ousamos conhecê-la de verdade e nem podemos, porque ela é território da nossa imaginação…

 

E se hoje muitos ouvidos se voltam para as vozes que vem de dentro do escuro das florestas do mundo, tentando criar novos tipos de relação com os saberes dos povos que de alguma maneira ao longo dos séculos cultivaram um modo de viver diverso do modelo em que vivemos, é porque parece que o modelo vigente está afundando, como a cidade de Veneza.

 

Muitos acreditam que a cura para todo o mal dessa era, milagrosamente surgirá de dentro do escuro da floresta, ou dos laboratórios do vale do Silício, o grande problema que se apresenta é que “não tem pra trás”. Nós não existiremos para toda a eternidade, mas o planeta continuará sem nós, apesar do nosso rastro. Se não dá pra voltar e consertar o que fizemos, o que nos resta é imaginar Wakandas dentro do escuro da floresta, lá onde o Google Earth não alcança, e onde utopicamente as novas tecnologias e os saberes tradicionais se encontram e produzem maravilhas.

 

Esta exposição integra meu mestrado na Escola de Belas Artes da UFBa, e trata do encontro da pintura a óleo com o digital. Entendo que o uso por pintores de tablets e smartphones para a prática da pintura digital está transformando a maneira como a pintura de cavalete é pensada e realizada. O meu objetivo com essa exposição é criar um espaço de encontro onde a pintura, a realidade aumentada e o vídeo convivam sem atritos, nem choques. E que pessoas de todas as idades se divirtam olhando através dos seus smartphones as coisas estranhas que encontrei na floresta que imagino. Para isso construí junto com a startup Ripensarte, um aplicativo para que as pessoas possam acessar ao conteúdo em realidade aumentada contido em várias imagens ao longo da mostra. O app se chama Eosliber e já está disponível gratuitamente para quem quiser baixar nas lojas IOS e Android, mas a experiência de visualização só se dará, estando diante das obras que serão expostas.

 

Sobre o artista

 

Anderson Santos nasceu em Salvador, Bahia, 1973, É pintor, trabalhando principalmente com o óleo sobre tela, cartão, madeira, e desenhista, utilizando o grafite ou o carvão sobre papel, e destes dois caminhos desenvolvendo pintura e desenho digital no iPad, adaptando a técnica tradicional para esta nova realidade digital, com isto realizando experimentos em vídeo, cartazes e storyboards para cinema. Graduado em Artes Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), expôs nas principais capitais brasileiras. Participou na Itália da Expoarte em Milão, em ocasião da Expo 2015 e da Esposizione Triennale delle Arti Visive em Roma. Possui obras em coleções particulares e fundações no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. Entre suas atuações se destaca a de professor, ministrando oficinas de pintura digital com tablet é voltada àqueles que desejam aprender a desenhar e pintar com os novos aplicativos que simulam a pintura tradicional para IPad e tabletes, com foco no aplicativo artrage disponível para os sistemas operacionais iOS e Android. Anderson foi um dos membros do coletivo internacional responsável pela publicação da revista online Boardilla, na qual se ocupava da editoração gráfica e curadoria, além de produzir e dirigir artisticamente as exposições de artes visuais da revista. Atualmente é Diretor Artístico de Ripensarte e um dos responsáveis pela publicação da revista online Magazzino. Divide seu atelier entre Salvador e Milão.

 

 

O Grupo de Bagé na Fundação Iberê Camargo

28/nov

Ocupando dois andares da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, estarão na mostra “Os 4 – Grupo de Bagé”, desde 30 de novembro até 01 de março de 2010, cerca de 180 trabalhos oriundos de 24 instituições e acervos particulares. Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Porto Alegre), Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu da Gravura Brasileira/FAT/Urcamp (Bagé) e Instituto Carlos Scliar (Cabo Frio, RJ) são algumas das instituições a emprestarem obras; além de peças do espólio de Danúbio Gonçalves, Glênio Bianchetti e Glauco Rodrigues, emprestadas por suas famílias. Esta é a constituição da grande mostra retrospectiva, feita a partir de uma ampla pesquisa de documentação, reportagens de jornais e cartas que, tanto o grande público, quanto os entusiastas e conhecedores do Grupo serão agraciados com uma nova e generosa visão sobre o tema.

 

A palavra da curadoria

 

Uma espontânea, mas bem executada mistura de temas universais e modernos, elaborados a partir da experiência e da representação de aspectos regionais, é o que caracteriza e une o trabalho dos quatro artistas, que, mais por sua proximidade e camaradagem, do que propriamente por um desejo de formar um movimento com uniformidade estética, ficou conhecido como Grupo de Bagé. Um grupo de pessoas muito talentosas que o acaso uniu, criou um trabalho tão sólido que a passagem do tempo apenas renova seu interesse.

 

Na Bagé da metade da década de 1940, longe do agito dos principais centros urbanos, os jovens amigos Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti descobriram uma atividade diferente para passar o tempo nas férias de verão. Começaram ali seus exercícios de pintura e desenho e, a partir de 1948, junto com o já iniciado nas artes Danúbio Gonçalves, e outros curiosos, como Clóvis Chagas, Deny Bonorino e Julio Meirelles, passaram a aprofundar seus interesses nas técnicas e teorias clássicas. Na cidade, ainda morava Pedro Wayne, escritor politicamente engajado, que desde os anos 1930 produzia romances, poemas, peças de teatro e folhetins em formato moderno. Wayne se correspondia com Erico Verissimo e Jorge Amado, além de ter relações com o pintor moderno José Moraes e, por conta disso, tornou-se o mentor intelectual daqueles tão interessados meninos. O círculo se fechou com a chegada de Carlos Scliar, que voltava de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, com uma recheada bagagem intelectual e contatos de artistas atuantes no conturbado cenário mundial.

 

O mais importante e profícuo contato de Scliar foi com Leopoldo Mendez, do Taller de Grafica Popular (TGP) do México, cujo trabalho influenciou o grupo de Bagé, especialmente na divulgação de causas políticas a favor da paz, da liberdade, dos direitos dos trabalhadores e da justa distribuição das riquezas. As técnicas de gravura, que facilitam a reprodução em grande escala, possibilitaram que as obras chegassem ao público de maneiras distintas, seja na forma de ilustração de artigos na revista Horizonte, ou em materiais publicitários e panfletos do Partido Comunista. Por outro lado, a produção do grupo complementava a obra de Wayne, ilustrando as descrições das condições miseráveis nas quais viviam – e as humilhações a que eram submetidos os trabalhadores da região, nas estâncias, charqueadas e nas minas de carvão. A junção desses dois aspectos fez com que o trabalho do Grupo delineasse características estéticas e temáticas próprias bastante particulares, que impedem ainda hoje sua classificação dentro de categorias como o Realismo Socialista, por exemplo.

 

Na década de 1950, foram criados o Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e o Clube de Gravura de Bagé (1951), os quais mais tarde se uniram e criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais, tomado como modelo até a atualidade. A participação nos clubes foi essencial para a consolidação da carreira dos quatro artistas, criando oportunidades que acabaram por separá-los. No ano de 1956, com o encerramento das atividades dos clubes, cada um seguiu uma trajetória distinta, porém, sempre carregaram características de seus anos de formação, na produção de material gráfico e ilustrações para a Revista Senhor (no caso de Carlos Scliar e Glauco Rodrigues), e na constante volta aos temas regionais, em sua maior parte com um viés de crítica social. Em 1976, os quatro artistas voltaram a produzir juntos em Bagé, em um encontro que resultou na criação do Museu da Gravura Brasileira e em obras que retomaram a temática regional, porém refletindo as mudanças e diferentes caminhos que cada um deles traçara após a separação.

 

Contar essa história é o objetivo principal da exposição Os quatro; mas com uma nova e ampliada abordagem. Novas leituras e percepções acerca do trabalho do Grupo, frutos de estudos e documentários realizados por diversos pesquisadores em nosso Estado, estarão refletidos no cenário da exposição. Não apenas trabalhos de Scliar, Danúbio, Glauco e Glênio estarão expostos, mas nomes como Lila Ripoll, Pedro Wayne e Clovis Assumpção aparecerão para contar mais sobre a trajetória e influências desses artistas de Bagé. Nas paredes da FIC, não haverá apenas gravuras, mas quadros, aquarelas e capas de revistas, que mostrarão a versatilidade e rica produção dos quatro artistas.

 

Carolina Grippa e Caroline Hädrich

 

Curadoras

 

Imagem: da esquerda para a direita Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Carlos Scliar e Danúbio Gonçalves.

 

 

Nove artistas em Niterói

22/nov

No mês em que o palácio dos Correios completa 105 anos e o Espaço Cultural Correios Niterói, RJ, comemora cinco anos de funcionamento, nove artistas mulheres vão ocupar os espaços comuns do local com a exposição “Nas águas que se escondem”, que será inaugurada no dia 30 de novembro.

 

“Queremos brindar o público com esta grande exposição de arte contemporânea para que as pessoas percebam a importância do palácio como espaço para a arte, afirma Denise Anne, diretora dos Correios Niterói.
Carolina Kaastrup, Edna Kauss, Fátima Pedro, Ivani Pedrosa, Myriam Glatt, Roberta Paiva, Talita Tunala, Vanessa Rocha e Yoko Nishio irão apresentar obras in situ, instalações, objetos, postais e vídeos que dialogam com a arquitetura eclética do palácio dos Correios, com sua função originária (como a troca de cartas e postais), com a localização e a paisagem que envolve o edifício e a história de Niterói, única cidade fundada por índios. “Água que se esconde”, que inspira e dá título à exposição, é uma das possíveis traduções do nome tupi da cidade de ‘Niterói (outrora “Nictheroy” ou “Nitheroy”).

 

Segundo a curadora, Marisa Flórido, “a exposição, ‘Nas águas que se escondem’, revolve, como fazem as ondas e as marés, as camadas de memórias esquecidas, de histórias submersas, de trocas perdidas e atualizadas, de paisagens desveladas.

 

“O carteiro é o ponto de partida da coletiva, retratado na obra “s/ título”, composta por diversas camisetas produzidas pela artista Carolina Kaastrup, que trazem as formas geométricas e as cores do uniforme, dispostas na fachada do palácio. Entre o corpo do prédio e o do público, flâmulas flutuam ao vento, em fragilidades e persistências.
No centro das escadas, do 2º andar ao térreo, vindo na claraboia, Edna Kauss instala “Tempestas”, obra nas cores azul, amarelo e verde, composta por tubos de poliuretano e cabos de luminosidade contínua. Tempestas do latim, de onde vem a palavra “tempestade”, significa “tempo entre dois momentos”, como um raio que divide o céu, como um signo de advertência.

 

Em uma mesa fica a obra “Voa depressa”, da artista Fátima Pedro. Em alusão às cápsulas colocadas nos pés dos pombos-correio, a obra é composta por desenhos sobre papel, em forma de cilindro, com imagens de fragmentos do corpo de um pombo.

 

Já Ivani Pedrosa ocupa as balaustradas internas do varandão localizado no primeiro andar, com a obra “Ao Léu IV”, uma instalação composta por letras cortadas em PVC com as cores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e as palavras “SIM” (amarelo) e “NÃO” (azul), além de bolas de isopor com tamanhos variados. A intenção da artista é subverter a telegrafia ao convidar o público para escrever sua palavra de ordem nas bolas de isopor, bem como resgatar o objetivo dos Correios: a escrita à mão de mensagens e missivas.

 

Myriam Glatt apresenta placas de papelões pintados em cores tonais e em dimensões variáveis, ao redor dos seis conjuntos de colunas do pavimento térreo. A obra “Imoscapos” intervém na arquitetura do palácio de 1914, no encontro de um material efêmero como o papelão e as colunas centenárias. “O real e o imaginário se unem nesse abraço, dando ao espectador que transita a experiência do convívio direto com a obra e o convidando a circular ao seu redor”, explica a artista.

 

“Abape ende?”, em tupi antigo, significa “Quem és tu?”. Título da instalação de Roberta Paiva, composta por três puçás (rede em cone para pesca), contendo espelhos de bolsa com a pergunta “Abape ende?”, que poderão ser retirados e levados pelo público. Roberta pretende devolver espelhos – objetos que eram dados aos índios pelos portugueses em troca de madeira – ao visitante não como um souvenir, mas como uma reflexão e uma interrogação a ser respondida: ‘Afinal, quem és tu? O que trazes dos povos que aqui habitaram?’

 

Em alusão à “Revolta das Barcas”, ocorrida em 1959 na estação das barcas e que levou ao protesto da população contra um serviço alternativo e ineficiente, Talita Tunala traz “Opus magnum”, instalação composta por um barco desgastado de fibra de vidro de 1,35m x 3m, que a artista recupera para uso, e no qual ela intervém com desenhos, acompanhado de uma narrativa fabular que mistura história, ação e ficção. A obra se apresenta como um instante suspenso de uma ação que só será concluída posteriormente, após o encerramento da exposição, com o retorno do barco ao mar.

No térreo, no hall entre a escada e o elevador, a artista Vanessa Rocha apresenta “S/ título”, um conjunto de aquarelas, no formato de postais (10cm x 15cm) dispostos em um display, que remetem a um tempo suspenso e abordam a precariedade da memória, da comunicação e das relações.

 

Com “Mirantes”, a artista Yoko Nishio reenquadra os dispositivos de segurança do edifício por meio duas estratégias: duas pequenas pinturas de câmeras de vigilância localizadas próximas às câmeras reais; e a colocação no piso do hall da entrada de quatro pequenos tablados circulares. Posicionados sob a mira das câmeras de segurança presentes no local, esses tablados convidam o espectador a pisar na sua superfície e a devolver a mirada, criando um jogo imaginário com os enquadramentos produzidos por tais dispositivos de vigilância.

 

De 30 de novembro até 18 de janeiro de 2020.