Cris Cavalcante, NY/Fortaleza

23/jul

Cris Cavalcante usa sua formação em química para suas pinturas ultracoloridas. A artista cearense Cris Cavalcante usa em suas pinturas uma técnica desenvolvida a partir de sua pesquisa com polímeros, pigmentos e solvente, que ao reagirem criam belas formas ultracoloridas. Antes de cursar arte na School of Arts de Nova York, ela havia se formado em química, e aplica este conhecimento em sua prática no ateliê. Seus trabalhos estão em coleções privadas em Portugal, Luxemburgo, Alemanha, Estados Unidos e China (Xangai), e no Brasil em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, onde também podem ser vistos em seu espaço de arte no bairro de Aldeota. Passou a infância e a juventude no Rio de Janeiro, retornando a Fortaleza aos 25 anos, onde fica baseada. Suas pinturas ocuparão um espaço próprio na Casa Cor Fortaleza 2019, entre 12 de setembro e 22 de outubro.

 

Agora, a partir de 22 de julho, suas pinturas integram a coletiva “4 Elements”, na Van Der Plas Gallery, no Lower East Side em Nova York. Fundada em 1980 pelo austríaco Adriaan Van Der Plas, a galeria é especializada em arte contemporânea. A mostra reúne trabalhos que lidam com os quatro elementos: fogo, ar, água e terra.

 

 

Selfie na Fundação Iberê Camargo

02/jul

A Fundação Iberê, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 06 de julho dois andares da exposição “#Selfie: Iberê em modo retrato”. O quarto andar será ocupado com 13 fotos para documentos do artista e outras 36 de Iberê retratando personalidades, como a mãe Doralice Bassani Camargo, Vasco Prado, Sivuca e Adriana Calcanhotto. No terceiro, as três salas serão totalmente interativas, com espelhos e iluminação especial para selfie do público.

 

Diferente do que muitos imaginam, o autorretrato não é algo relativamente novo. A primeira selfie foi feita em 1839 pelo metalúrgico Robert Cornelius, pioneiro na fotografia dos Estados Unidos. Na época, os autorretratos eram o tipo mais comum de fotografias, compreendendo um número estimado de 95% dos daguerreótipos sobreviventes. Na pintura, se afirmou no século 14 e passou a ocupar um lugar de destaque na arte europeia, atravessando diferentes escolas e estilos artísticos.

 

A difusão da retratística acompanhava os anseios da corte e da burguesia urbana de projetar suas imagens na vida pública e privada. Paralelamente aos retratos realizados sob encomenda, e a outros concebidos com amigos e familiares, os artistas produziam uma profusão deles que funcionavam como meio de exercitar o estilo, como instrumento de sondagem de estados de espírito e também como recurso para a tematização do ofício.

 

Iberê retratista

 

Ao longo da vida, Iberê Camargo criou diferentes representações de si mesmo. Pintava-se sob um olhar interior que o mostrava como uma máscara, um enigma, o arquétipo da insondável natureza do homem: “Pinto porque a vida dói”.

 

Para ele, “[…] retratar-se revela narcisismo, todos os pintores o são. Na sucessão de minha imagem no tempo, ela se deteriora como tudo que é vivo e flui. Muitas vezes, me interroguei diante do espelho. No passar do tempo, nos transformamos em caricaturas”, dizia Iberê.

 

A selfie é, portanto, a forma mais expansionista de autoexpressão visual. É algo especialmente fascinante como o ato de retratar a si mesmo tenha sobrevivido a tantas passagens, transformações e movimentos que a arte atravessou em sua história.

 

Até 29 de setembro.

Vik Muniz na Paulo Darzé

27/jun

Vik Muniz é artista plástico, fotógrafo e pintor, conhecido internacionalmente por usar materiais inusitados em suas obras, como lixo, açúcar e chocolate. Pela primeira vez na Bahia, não só com uma individual, apresentando a criação de novas obras, a exposição Handmade retoma caminhos e procedimentos que já havia trilhado no passado, investigando de forma aguda e sintética a tênue fronteira entre realidade e representação, entre o objeto original e sua cópia. A abertura acontece no dia 04 de julho, das 19 às 22 horas, na Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, com temporada até 10 de agosto.

 

No dia 05 de julho, o artista abre uma nova mostra no Museu de Arte Moderna, Solar do Unhão, sob o título Imaginária, trabalhos criados a partir de milhares de recortes de catálogos de exposições, onde revisita a arte sacra, através das figuras dos santos. “Os santos, exemplos de pessoas que colocaram a sua fé acima da própria vida, sempre exerceram um enorme fascínio nas mentes artísticas. Não é por coincidência que a história da arte esteja tão relacionada à história da fé. Grande parte do que admiramos na história da arte está objetivamente relacionada à arte sacra e, subjetivamente, ao ato de acreditar. Eu, como artista contemporâneo, sempre ansiei compartilhar os temas que tanto colaboraram para o desenvolvimento da cultura das imagens”.

 

HANDMADE

 

O público não verá em Handmade obras realizadas a partir de imagens conhecidas, tampouco referências a materiais mundanos – aspectos comuns no trabalho do artista. Vik alude nesta mostra à vasta tradição da arte abstrata, destilando para isso suas fórmulas básicas na criação de maneiras inusitadas de meditar sobre a imagem e o objeto, sobre a ambiguidade dos sentidos e a importância da ilusão, onde traça a constante preocupação do artista em transcender as dimensões simbólicas da imagem. Além da paradoxal relação entre imagem e objeto e do recorrente uso de estratégias ilusionistas – “A ilusão é um requisito fundamental de todo tipo de linguagem”, diz, “esses trabalhos flertam com a arte conceitual e estabelecem um intenso diálogo com a arte abstrata, cinética e concreta. Sobretudo, pelo interesse comum em relação às teorias da Gestalt, mais especificamente nos campos da psicologia e da ciência”. Repetição, ritmo, profundidade, espaçamento, uso das cores primárias ou gradações sutis de cinza e preto estão entre as questões caras à abstração e que compõem o alfabeto com o qual Vik lida em Handmade. Mas vai, além disso, ao lançar mão do vocabulário construtivo para mais uma vez colocar em questão o estatuto da imagem no mundo contemporâneo. “A exposição mostra um artista diferente e que sou eu ao mesmo tempo”, conclui.

 

Handmade explora a natureza da percepção, da realidade e da representação, e desafia questões de materialidade. As obras de Handmade remetem aos princípios fundamentais da arte abstrata propriamente dita – cor, composição, forma e ritmo – e se servem de conexões com movimentos da arte abstrata, como a op art, a arte conceitual e o construtivismo. As obras são excepcionalmente ricas em alusões, exigindo dos espectadores o direcionamento da atenção para os próprios materiais e os levando a refletir sobre o seu processo de criação. Como sugere o título da série, estas obras únicas são resultado de um processo híbrido que integra elementos artesanais ou físicos – sobretudo pintura e colagem – com fotografia digital de alta resolução. Estes estudos abstratos e materiais convidam o espectador a investigar mais de perto a dicotomia entre o objeto físico e sua representação, e, ao mesmo tempo, reinventam as possibilidades de construção da imagem fotográfica. A complicada relação imagem-objeto ressaltada nestas obras funciona sempre nos dois sentidos. O que se espera que seja uma foto não é; e o que se espera que seja um objeto é uma imagem fotográfica. Numa época em que tudo é reproduzível, a diferença entre a obra e a imagem da obra quase não existe. Os resultados da investigação e da experimentação são complexas composições, cada obra individual apresentando combinações de diferentes técnicas – papel e papelão são pintados, recortados e organizados em uma superfície, e em seguida são fotografados para poderem ser manipulados novamente. Depois são reorganizados e fotografados de novo, criando, assim, múltiplas camadas de volume, sombras e planos pictóricos. As formas geométricas simples e as cores primárias criam uma tensão e uma impressão de movimento dinâmico. Ao criar diferentes camadas que revelam elementos subjacentes e suas fotografias, inventa-se uma verdadeira trompe-l’œil onde os objetos e seus correspondentes fotográficos se entrelaçam em um jogo visual de ilusões.

 

Sobre o artista

 

Vik Muniz (Vicente José de Oliveira Muniz) nasceu em São Paulo, no dia 20 de dezembro de 1961. Formou-se em Publicidade na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, em São Paulo. Em 1983, mudou-se para Nova Iorque. Atualmente vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York. Vik Muniz iniciou sua carreira artística ao chegar à Nova York em 1984, realizando sua primeira exposição individual em 1988. A partir desta data, começou a desenvolver trabalhos que faziam uso da percepção e representação de imagens usando diferentes técnicas, a partir de materiais como o açúcar, chocolate, catchup, gel para cabelo e lixo. Naquele mesmo ano, criou desenhos de fotos que memorizou através da revista americana Life. Fotografou os desenhos e a partir de então, pintou as fotos para conferir um ar de realidade original. A série de desenhos foi denominada “The Best of Life”. Vik Muniz fez trabalhos inusitados, como a cópia da Mona Lisa de Leonardo da Vinci, usando manteiga de amendoim e geleia, como matéria prima. Com calda de chocolate, pintou o retrato do pai da psicanálise, Sigmund Freud. Também recriou muitos trabalhos do pintor francês Monet. Alcançou reconhecimento internacional como um dos artistas mais inovadores e criativos do século 21. Conhecido por criar o que ele descreve como ilusões fotográficas, trabalhando com uma surpreendente variedade de materiais não convencionais – incluindo açúcar, diamantes, recortes de revista, calda de chocolate, poeira e lixo – para meticulosamente criar imagens antes de registrá-las com sua câmera. Suas fotografias muitas vezes citam imagens icônicas da cultura popular e da história da arte, desafiando a fácil classificação e envolvendo de maneira divertida o processo de percepção do espectador. Sua produção mais recente propõe um desafio ao público ao apresentar trabalhos que colocam o espectador constantemente em xeque sobre os limites entre realidade e representação, como atesta a obra Two Nails (1987/2016), cuja primeira versão pertence ao MoMA de Nova York. Em 2005, Vik lançou um livro denominado “Reflex – A Vik Muniz Primer”, contendo uma coleção de fotos de seus trabalhos já expostos. Uma de suas exposições mais comentadas foi denominada “Vik Muniz: Reflex”, realizada no University of South Florida Contemporary Art Museum, também exposta no Seattle Art Museum Contemporary e no Art Museum em Nova York. O processo de trabalho consiste em compor imagens com os materiais, normalmente perecíveis, sobre uma superfície e fotografá-las, resultando no produto final de sua produção. Em 2010, foi produzido um documentário intitulado “Lixo Extraordinário” sobre o trabalho de Vik Muniz, com catadores de lixo de Duque de Caxias, cidade localizada na área metropolitana do Rio de Janeiro. A filmagem recebeu um prêmio no festival de Berlim na categoria Anistia Internacional e no Festival de Sundance. O artista também se dedicou a fazer trabalhos de maior porte. Um deles foi uma série de Imagens das Nuvens, a partir da fumaça de um avião, e outras feitas na terra, a partir do lixo. No dia 7 de setembro de 2016, na abertura dos “Jogos Paraolímpicos Rio 2016”, Vik Muniz, um dos diretores da cerimônia, criou uma obra de arte formada por peças de um quebra-cabeça que eram levadas por cada delegação, com o nome do país de um lado e a foto dos atletas do outro. Cada peça era colocada no centro do palco do Maracanã, e com a colocação da última peça, pelo artista, formou-se um enorme coração que começou a pulsar com o uso de projeção de luzes. A obra de arte fez referência ao conceito central da cerimônia resumido na frase: “O coração não conhece limites”. Uns dos mais recentes trabalhos de Vik Muniz são os 37 mosaicos que decoram as paredes internas do novo trecho do metrô de Nova Iorque, que liga a Rua 72 à Segunda Avenida. Inaugurado em dezembro de 2016, obra que durou três anos para ser concluída, e que explora os diversos tipos de frequentadores do metrô de Nova Iorque. Nesta sua trajetória vem realizando prestigiadas exposições em instituições como o International Center of Photography, New York; Fundació Joan Miró, Barcelona; Museo d’Arte Contemporanea, Rome; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Tel Aviv Museum of Art e Long Museum, Shangai. Suas exposições recentes incluem Vik Muniz: Handmade (Nichido Contemporary Art, NCA, Tóquio, Japão, 2017); Afterglow: Pictures of Ruins (Palazzo Cini, Veneza, Itália, 2017); Vik Muniz (Museo de Arte Contemporáneo, Monterrei , México, 2017); Vik Muniz: A Retrospective (Eskenazi Museum of Art, Bloomington, EUA, 2017); Vik Muniz (High Museum of Art, Atlanta, EUA, 2016); Vik Muniz: Verso (Mauritshuis, The Hage, Holanda, 2016); Escola Vidigal – 15ª Mostra Internazionale di Architettura | La Biennale di Veneza (Veneza, Itália, 2016); Une Saison Brésilienne | Vik Muniz na Coleção Géraldine e Lorenz Bäumer (Maison Européenne de la Photographie, Paris, França, 2016); Lampedusa, 56a Bienal de Veneza, (Naval Environment of Venice, Itália, 2015) e Vik Muniz: Poetics of Perceptions (Lowe Art Museum, Miami, EUA, 2015).

 

Em 2001, representou o Brasil no Pavilhão da 49a Bienal de Veneza. Em dezembro de 2008, o MoMA sediou Artist’s Choice: Vik Muniz, Rebus, como parte de uma série de exposições com artistas convidados. Também foi convidado da edição do ano 2000 da Bienal de Whitney, no Whitney Museum of American Art; da 24ª Bienal Internacional de São Paulo; e da 46ª Corcoran Biennial Exhibition:Media/Metaphor, na Corcoran Gallery of Art em Washington, DC. Seus trabalhos fazem parte de coleções de arte públicas como a do Museum of Modern Art, Nova York;Guggenheim Museum, New York; Tate, London; Metropolitan Museum of Art, Nova York; Los Angeles Museum of Contemporary Art, Los Angeles; Tate Gallery, Londres; Centre Georges Pompidou, Paris; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri; e do Museum of Contemporary Art, Tokyo. O trabalho do artista também é tema do filme Lixo Extraordinário (Waste Land), indicado ao Oscar de melhor documentário em 2010. Em 2011, foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO.

O universo de Emanoel Araujo

11/jun

Será dia 13 de junho, às 19 horas, na Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, o lançamento do livro “O Universo de Emanoel Araujo”.

 

O livro “O Universo de Emanoel Araújo” contém textos e imagens sobre a vida e a obra do artista, através da apresentação de 180 trabalhos, representados nas variadas fases e meios de sua criação: cartazes, livros, xilogravuras, esculturas em aço, madeira, concreto, fibra de vidro,  máscaras, painéis em mármore, concreto e granito, gravuras, totens, relevos, estruturas, biombos, mostrando neste panorama sua produção, onde se vê explicitamente a raiz africana, nagô e iorubá, e o interesse nato do artista pela cultura popular baiana e as tradições modernistas brasileiras e europeias.

 

Com rica complementação de fotos e textos de Claudio Leal, Odorico Tavares, Hugo Loetscher, Waldeloir Rego, além do próprio Emanoel Araújo, como o que abre a publicação, sobre São Paulo, e ao final um caderno com artigos, entrevistas e pensamentos, denominado “Reflexos”, onde o artista descreve fatos de sua trajetória, homenageia amigos e reflete sobre a fundação do Museu Afro Brasil, entre outros. A publicação é uma edição limitada de três mil exemplares, pela Capella Editorial, e contou com o patrocínio da Biolab, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

 

 

Sobre o artista

 

Emanoel Araujo nasceu em 15 de novembro de 1940, em Santo Amaro da Purificação. Descendente de três gerações de ourives veio a se tornar aprendiz de marceneiro e talhador, e ainda criança, aos 13 anos, passou a trabalhar na Imprensa Oficial da sua cidade, em linotipia e composição gráfica. Esta experiência do fazer foi fundamental na sua formação, tanto no domínio técnico, quanto no da expressão. Após completar o curso secundário mudou-se para Salvador, com planos de cursar Arquitetura. Na capital começou a frequentar exposições, visitar museus e ateliers, levando-o então a ingressar na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Realizou sua primeira exposição individual aos 20 anos, ainda na Bahia, mas já mostrava sua obra em 1965 na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro, e na Galeria Astreia, em São Paulo. Ao longo dos anos, acrescentou ao seu currículo dezenas de exposições individuais e coletivas, não apenas em vários Estados brasileiros como em diversas partes do mundo – México, Cuba, Chile, Nigéria, Israel, Japão, Estados Unidos e alguns países da Europa. Foi contemplado no decorrer da sua carreira com considerável número de prêmios, entre os quais a Medalha de Ouro da III Bienal Gráfica de Florença, Itália (l972), dois prêmios (gravura e escultura) por linguagens distintas, sendo, em 1974, considerado o melhor gravador do ano, e em 1983 o melhor escultor do ano, ambos concedidos pela Associação de Críticos de Arte de São Paulo. Em 2007 recebeu o Prêmio Ciccillo Matarazzo – ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte por sua contribuição à Arte e à Cultura brasileira. Muitas de suas obras estão em coleções particulares, edifícios públicos, e em Museus como o Museu deArte Moderna/RJ; Fundação Rockfeller/NY, USA; Austin/Texas, USA; Arte Moderna de Firenze/Itália; County Museum/Los Angeles, Califórnia, USA; Arte Contemporânea/SP; Sidney/Austrália; Kansai/Japão; Arte São Paulo-MASP/SP; Arte de Brasília/DF; Palácio do Itamaraty/Brasília, DF; Nacional de Belas Artes/RJ; Brennand/PE; Museu de Pernambuco/PE. Além da atividade como artista, se tornou um dos principais gestores da área cultural no Brasil, tendo dirigido o Museu de Arte da Bahia (1981 a 1983), a Pinacoteca do Estado de São Paulo (1992 a 2002), tendo tornado esta última um dos mais importantes museus do Brasil. Em 2004 criou o Museu Afro Brasil, sediado em São Paulo, onde atualmente é Diretor Executivo e Curador. Sua última exposição na Bahia foi em outubro de 2011, na Paulo Darzé Galeria, com o título “Geometria do medo”, apresentando 21 relevos, todos brancos. Com esta mostra encerra seus quase vinte e cinco anos sem que realizasse uma exposição na Bahia.

 

Tomas Barth no IAB/RS

03/jun

A exposição “COOPERAÇÃO”, mostra individual de Tomas Barth, entra em cartaz na Galeria Espaço IAB, Galeria de Arte do Instituto de Arquitetos do Brasil, Solar do IAB, Centro Histórico, Porto Alegre, RS.  A exibição parte de uma reflexão do artista sobre nossa sociedade, atenta e em largo desenvolvimento na área da comunicação, mas com um longo caminho a percorrer em relação à preservação do planeta como uma cultura coletiva. Para Barth a sociedade em geral ainda é muito individualista e pouco cooperativa, apesar de várias iniciativas neste sentido.

 

 

De 30 de maio a 1º de julho.

Ai Wei Wei em Curitiba

21/maio

As galerisa SIM e Simões de Assis apresentam a primeira exposição do conceituado artista internacional em Curitiba, PR.

 

AI WEIWEI

 

Para entender Ai Weiwei, é preciso conhecer seu passado e suas origens. Seu pai – o poeta Ai Qing, um libertário e membro da Revolução Chinesa – caiu em desgraça na nova sociedade que se configurou e foi enviado, junto com sua família, para campos de trabalho na área rural da China, logo depois do nascimento de Ai Weiwei. A influência do pai em sua vida é imensa.

 

Uma das imagens mais fortes para o artista é a de quando Ai Qing decidiu queimar seus livros diante do filho, para evitar mais punições caso o regime viesse à sua casa – eram principalmente livros de arte e poesia. Pai e filho fizeram uma fogueira e, página por página, foram queimando os livros, como se se despedissem daquelas imagens e palavras. Um ato de profunda violência para um poeta e intelectual e, acredito, um ato fundador para seu filho, tanto como artista quanto ativista.

 

Uma maneira de ler as obras do artista chinês é compreendê-lo em seus múltiplos pontos de vista, como um intérprete das culturas chinesa e ocidental. Ele encontra maneiras de manter ambiguidades, expressando-se de forma explícita para um dos lados (seja o Ocidente ou o Oriente), e de forma velada para o outro. Exemplo disso são as fotografias e papéis de parede icônicos e massivamente reproduzidos de Finger [Dedo], que têm um significado muito direto na maioria das culturais ocidentais, mas são vazios de sentido para os chineses, para quem gestos ofensivos não são normalmente utilizados e para quem esse, em particular, tem menos significado. As imagens inaugurais de Ai Weiwei soltando o vaso da Dinastia Han são, para qualquer ocidental, imagens perturbadoras de desrespeito e uma atrocidade em relação à memória e à história. Para um chinês acostumado aos absurdos da Revolução Cultural, todavia, tal gesto não é tão chocante.

 

O convite para Ai Weiwei vir ao Brasil era também um convite para uma interpretação e para a realização de novos trabalhos. Nesse modelo, ele seria capaz de experimentar a cultura local e digeri-la a seu modo, e o Brasil teria a chance de entender e experimentar as modalidades e o processo criativo do artista. Por outro lado, nós nos tornamos mestres na arte de absorver e digerir à nossa maneira influências exteriores. O convite não foi para uma refeição cotidiana: foi para um banquete mutuofágico, em que se come e se é comido pelo outro, em que cada lado devora o outro – seu corpo, sua alma e sua energia.

 

Weiwei fez um firme gesto inicial ao tentar fundir a cultura, ele decidiu fundir em ferro a maior, mais antiga e ameaçada árvore ainda em pé no sul da Bahia. Apropriar esta árvore dentro de sua oeuvre é como capturar a espinha dorsal da consciência de nossa civilização -uma árvore que tem estado de pé por mais de 1200 anos viu a própria formação da nação.

 

Mas logo este processo começou a se tornar multidirecional. E nossas próprias questões começaram a ocupar sua mente. Nossa iconografia escravocrata, nossas injustiças sociais, nossa fé e códigos.  Ai Weiwei começou a ser permeado pela latência da cultura brasileira: ele incorporou o Alfabeto Armorial de Ariano Suassuna em seus escritos; ele encontrou um modo irreverente de lidar com Ex-votos para expressar sua inquietação com a injustiça; ele foi levado pelo mundo natural e suas sementes; ele começou a busca pela conexão China-Brasil; ele foi desconcertado pelas condições de escravidão tanto no passado como no presente; Ele foi agora ocupado.

 

Este jogo é um grande modelo para promover o contato, o entendimento e para desafiar as noções pré-concebidas de ambos os lados. Com fricção, barulho, um território incerto a ser descoberto e uma combinação de temperos nunca antes combinados, produzindo um novo sabor para a arte de Ai Weiwei e para nossa cultura. E com a dor e o prazer de uma mordida dada e uma mordida recebida.

 

 

Até 29 de junho.

Darzé exibe Florival Oliveira

15/maio

A Paulo Darzé Galeria, Corredor da Vitória, Salvado, Bahia, apresenta de 16 de maio, com temporada até 15 de junho, a exposição de esculturas, painéis e objetos de Florival Oliveira. São 40 trabalhos individuais, com a montagem em processo de instalações sobre o plano horizontal e vertical da galeria feita em madeira, aço inox, alumínio plotado e MDF com jato de tinta.

 

Para Florival, fora as técnicas e materiais utilizados, realça a temática, implícita no título do texto de apresentação escrito por Carolina Paz, denominado Plano Fértil. “O processo se dá no coletivo com trabalhos desenvolvidos em aço inox e soda, plotagem em alumínio recortado, MDF e pintura automotiva. Os trabalhos em madeira, resultam de processo individual utilizando as sobras de madeira das carpintarias, a exemplo dos arcos em meia lua que organizam o trabalho tridimensional”.

 

“Minha última individual foi em 2013. Ao longo dos últimos seis anos surgiram propósitos bem específicos quanto ao resultado daquilo que atualmente apresento e o que deve ser mostrado. Foi salutar o amadurecimento das ideias culminando uma nova conceituação nos direcionamentos processuais. As ações nas mostras coletivas permitiram o desenvolvimento do trabalho a uma dilatação de importância paradigmática o que faz resultar em mudanças conceituais e técnicas. Acredito que esse foi e é resultado dessas minhas caminhadas como artista, buscando uma aproximação do contexto contemporâneo enquanto linguagem. Esse é um valor especificamente meu quando busco no inusitado a potência devida como expressão da minha arte”.

 

 

Apresentação da mostra

 

Escrita por Carolina Paz, artista e cientista social, sob o título Plano Fértil, é realçado em seu texto que “a obra de Florival Oliveira é puro processo derivado de sua relação íntima com os materiais, suas condições socioeconômicas de produção e o compromisso com os procedimentos que o artista impõe a si e aos objetos que produz. Conhecer essa trajetória é um privilégio que agrega ainda mais força à leitura do trabalho”.

“Quando a poesia é potente há quem acredite que ela fale por si. Diz-se que experimentá-la no presente, sem qualquer outra informação a seu respeito, é suficiente. Porém, conhecer o processo de sua produção pode ampliar as possibilidades de experiência do espectador sobre a obra. Como esse trabalho foi feito? Quais as considerações e decisões tomadas pelo artista para tal e qual gesto no trabalho?”

“A obra de Florival Oliveira é puro processo derivado de sua relação íntima com os materiais, suas condições socioeconômicas de produção e o compromisso com os procedimentos que o artista impõe a si e aos objetos que produz. Conhecer essa trajetória é um privilégio que agrega ainda mais força à leitura do trabalho”.
“As peças em exposição na Paulo Darzé Galeria são consequências de investigações anteriores e desdobramentos das formas com as quais o artista trabalha há décadas. Nesta nova série, as esculturas parecem querer ocupar mais as superfícies das paredes e do chão do que a atmosfera do lugar”.

“Formas selecionadas de uma numerosa produção orientada por um intenso interesse de Florival em explorá-las em todas suas dimensões, por dentro e por fora, para os lados, horizontal e verticalmente, como se quisesse esgotar todas as possibilidades de suas configurações e posições”.

“São quatro as formas primordiais a partir das quais Florival opera desdobramentos isolando seus conteúdos. Olhando-as a partir de seu interior cria os “módulos vazados” em aço inox. Quando as delineia e as contorce sugere um corpo em movimento. São formas-sujeito e são suas próprias trajetórias, seus passos representados em formas sólidas, “objetos” e “painéis escultóricos” em MDF cobertos pelo branco da tinta automotiva”.

“Vibrando em cópias de si mesmas e em uma proliferação de facetas querendo se mostrar por inteiro, as formas modulares conjugadas em três planos, os “relevos” recortados do papel cartão colorido com tinta acrílica de cores diferentes, parecem confirmar essa volta da escultura ao bidimensional. Não para apaziguá-la ou conformá-la à parede, mas evidenciando a capacidade infinita de cada face-plano em gerar a partir de si as demais formas que ocupam o mundo”.

“Florival revela intuitivamente uma conexão com sua história pessoal e seu desenvolvimento artístico na xilogravura. É fascinante descobrir, acompanhando sua produção bem de perto nos últimos dois anos, que talvez tudo se originou ali, na xilo: as sobras de madeira retiradas da matriz são formas que o interessam desde sempre. Curvas, meia luas… O olhar que se encanta por essas formas primordiais também as encontra, em outro contexto, nas sobras das oficinas de marcenaria locais (do sertão baiano, onde vive o artista). Lá esses indícios de madeira são encontrados em maior escala. São arcos e semiarcos do refugo dos cortes de portas e janelas feitas pela serra de fita”.

“Lidar com esses “módulos”, assim denominados por Florival, é algo que parece tomar todo seu pensamento. Sou testemunha de que é quase impossível fazê-lo enxergar quaisquer formas no mundo sem essa sua elaboração modular e matemática. Uma combinação de cálculos de adição, acoplamento e divisão está em seu olhar e em seu discurso. Sou da opinião de que este raciocínio traduz sua visão de mundo de forma profunda. E creio que esta é uma ação de procura e descoberta inesgotável”.
“A força da brutalidade introvertida dos trabalhos anteriores deu lugar à elegância, também forte, porém graciosa e expansiva. Florival, desta vez, nos propõe pensar em planos férteis de potência infinita”.
Sobre o artista

 

Florival Oliveira nasceu em Riachão do Jacuípe, Bahia, onde vive, hoje dividindo o espaço com Salvador, Bahia, em 18 de agosto de 1953. Iniciou a sua carreira em 1976. Sua obra é detentora de alguns prêmios e está representada nos acervos do Museu de Arte Moderna da Bahia; Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana; ACBEU Salvador; Biblioteca da Universidade da Bahia; Museu Regional de Feira de Santana.

 

Texto de Claudius Portugal

O que logo chama a atenção em seus trabalhos são as suas formas, os volumes, os espaços, os movimentos, e a escolha dos materiais. Há na sua arte uma busca incessante de uma precisão técnica por meio de uma pesquisa incisiva e paciente, através de uma linguagem contemporânea de tratar a matéria. Ao mesmo tempo, é uma arte que tem como chão a sua terra, saberes e fazeres de sua gente, o que faz tornar-se um tradutor do sentimento de universalidade do mundo que vive na sua aldeia, portas do sertão baiano.
Estas são marcas de uma obra onde o desejo de expressão ultrapassa a infância e a vivência de um homem do campo, como é a sua realidade na cidade natal, de vaqueiros e suas roupas de couro, das boiadas, dos utensílios e ferramentas indispensáveis ao dia a dia, expostos na feira semanal, passando pelo homem, agora urbano, estudante e, depois, professor de arte, com acesso à informação, à curiosidade, ao estímulo e ao estudo do que há de mais atual nos grandes centros do mundo através não só das técnicas e materiais, mas de sua inventividade em marcar o aqui e agora.
Estas duas vertentes não se chocam, pois, em sua obra, unida por signos e símbolos do Nordeste, o homem está diante do seu habitat, de seu entorno de sertão, ao lado do homem do mar que a capital lhe acrescentou, na sua navegação por portos que o levam aos quatro cantos do mundo. Levando nesta viagem a sua cidade, a sua gente em seu cotidiano, como referência, como investigação, como paciência – o seu fazer é solitário tanto quanto a sua fala é silenciosa, deixando se vir abertamente na arte que realiza – a aventura pessoal de uma linguagem que expressa sua visão de mundo, o mundo de hoje. A sua arte é seu gesto, sua caligrafia, sua escrita, sua voz, seu grito, e o seu modo de estar e ser no mundo. E isto o deixa exposto à visitação pública ao carregar com ela todos nós, admiradores, e se deixa existir como expressão por aquilo que nomeamos arte.

Louise Bourgeois na FIC

14/maio

Em itinerância promovida pelo Itaú Cultural, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, recebe paa exibição a partir do 18 de maio, “Spider”, escultura de Louise Bourgeois.  Depois de permanecer pouco mais de duas décadas em regime de comodato ao lado do Museu de Arte Moderna, São Paulo, SP, em dezembro do ano passado a obra – pertencente à Coleção Itaú Cultural – começou uma série de itinerâncias pelo país. Primeiro foi levada a Minas Gerais, para ser exibida na Galeria Mata do Inhotim. Agora a escultura chega a Porto Alegre com uma novidade: a gravura da artista “Spider and Snake”. Na Fundação Iberê Camargo, a escultura permanecerá em exibição por mais de dois meses. Na sequência, viaja para Curitiba e Rio de Janeiro.

 

“Spider”, obra realizada pela escultora francesa Louise Bourgeois (1911-2010) em 1996, foi vista no Brasil pela primeira vez na 23ª Bienal Internacional de São Paulo e adquirida para a Coleção Itaú Cultural. Em 1997, o instituto a cedeu em regime de comodato ao Museu de Arte Moderna – MAM/SP, no Parque Ibirapuera. Ela permaneceu ali até 2017, em um espaço de vidro de onde podia ser observada da marquise do parque. Na ocasião, a escultura foi enviada para a Fundação Easton, em Nova York, para averiguação e restauro, de modo a garantir a sua longevidade e possibilitar a sua exibição em espaços expositivos diversos. Em dezembro passado, “Spider” botou o pé na estrada.

 

“Assim como fazemos com grande parte da Coleção Itaú Cultural, tomamos a decisão de circular uma das suas mais importantes obras internacionais e ampliar o acesso do público a esta grandiosa escultura”, diz o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron.

 

“Spider reafirma a nossa parceria com a Coleção Itaú Cultural e o nosso compromisso de trazer a Porto Alegre o que há de mais instigante e inquieto na arte moderna no Brasil e no mundo”, arremata o superintendente da FIC, Emilio Kalil.

A parceria entre as duas instituições, vem de longa data e foi retomada em maio de 2018 com a exposição “Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural”, um recorte de 144 obras fotográficas de importantes artistas do movimento modernista brasileiro, dos quais 60 nunca haviam estado antes em Porto Alegre. Agora, a fundação recebe do instituto a mostra da famosa aranha gigante de Bourgeois, que chega pela primeira vez ao Rio Grande do Sul.

 

 

A mostra

 

Esta “Spider” é a primeira das seis que a artista produziu em bronze a partir de meados da década de 1990 e que estão espalhadas pelo mundo. A escultura será exibida até o dia 28 de julho. Com ela, chega também a gravura “Spider and Snake” – a 15ª das 50 realizadas por Louise em 2003, com uma dimensão de 48,2 x 44,1 cm e pertencente ao acervo do Itaú. As viagens da “Spider” pelo Brasil são acompanhadas de um texto do crítico de arte Paulo Herkenhoff e de um vídeo de pouco mais de cinco minutos realizado pela equipe do Itaú Cultural, com relato da também crítica Verônica Stigger. Este material foi produzido especialmente para estas itinerâncias.

 

Entre imagens da escultura, Verônica Stigger discorre sobre a vida da artista que se entrelaça com esta sua criação. Ela reproduz de Paulo Herkenhoff que as aranhas de Louise Bourgeois representam a mãe da artista, sintetizada em dois adjetivos aparentemente paradoxais: frágil e forte. Diz Verônica Stigger: “A fragilidade e a força se conjugam nesta versão de Spider. À primeira vista, é uma peça imponente, até um tanto monstruosa: ela é toda em bronze, com três metros e meio de altura, oito longas patas e um núcleo central duro, todo torcido em espirais, que faz as vezes de cabeça e ventre – um grande ventre capaz de armazenar os ovos.” E conclui: “Em uma olhada mais atenta, percebe-se como, apesar da força e da rigidez do bronze, ela também é frágil, delicada: suas patas são longas e muito finas, dando a impressão de serem insuficientes para sustentar o pesado corpo da aranha.”

 

Feita em bronze, a escultura pesa mais de 700 quilos, 68kg, cada uma das oito patas; 113kg o corpo e 57kg a cabeça. O seu traslado, exige grande cuidado e dedicação. Com a inexistência do esboço e projeto original da escultura, a equipe do Itaú Cultural criou um aparato para garantir a sua estrutura na desmontagem e remontagem. A produção do instituto desenhou uma plataforma que é colocada debaixo dela para sustenta-la. As partes, cujas pontas são de agulha, são retiradas uma a uma enquanto uma espécie de berço se eleva da plataforma para segurar o corpo do pesado aracnídeo. Na remontagem, o caminho é o inverso.

 

 

Itinerância

 

O plano de viagem de “Spider” tem duração garantida por todo o ano de 2019, durante o qual ainda poderá ser vista no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e no Museu de Arte do Rio, MAR-RJ. A previsão é de que a escultura prossiga em sua viagem pelo país no ano seguinte.

Adriana Varejão na Bahia

18/abr

Um dos nomes mais respeitados das artes visuais do Brasil, Adriana Varejão terá pela primeira vez um conjunto significativo de sua obra exposto em Salvador, BA. “Adriana Varejão – Por uma retórica canibal” é a mostra itinerante que circula neste ano em cidades brasileiras fora do eixo Rio – São Paulo, começando pela capital baiana no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), tendo visitação gratuita que se prolongará por dois meses, até 15 de junho. Com curadoria de Luisa Duarte, a exposição faz parte de um projeto que pretende descentralizar o acesso à importante produção da artista, exibindo 20 obras dos seus mais de 30 anos de trajetória, realizadas entre 1992 e 2016, que inclui trabalhos seminais como “Mapa de Lopo Homem II” (1992 -2004), “Quadro Ferido” (1992) e “Proposta para uma Catequese”, em suas Partes I e II (1993).

“Salvador e Cachoeira são cidades fundamentais na construção da minha obra. Nessas cidades, eu encontrei referências importantíssimas do período barroco que usei em muitos de meus trabalhos, especialmente nos que se referem à azulejaria”, afirma Adriana Varejão. “O claustro do Convento de São Francisco, no Pelourinho, e a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, em Cachoeira, além de um sem fim de relíquias como os caquinhos de louça das índias e o teto em estilo chinês pintado por Charles Belleville no Seminário de Nossa Senhora de Belém, me ofereceram elementos para construção de muitos dos meus trabalhos que, pela primeira vez, estarão expostos aqui. Fazer essa exposição é como finalmente retornar à casa da mãe depois de uma longa viagem”, completa a artista.

O recorte curatorial da exposição busca enfatizar como muito antes dos estudos pós-coloniais estarem no centro do debate da arte contemporânea, Adriana Varejão já desenvolvia uma pesquisa cuja inflexão está centrada justamente em uma revisão histórica do colonialismo. A mostra descortina diferentes fases de sua produção de modo a levar um conjunto relevante de sua obra pela primeira vez para Salvador, na Bahia, cidade com a maior herança africana do Brasil e responsável por inspirar parte de sua poética.

 

O título da exposição faz referência ao vínculo da obra de Adriana Varejão com a tradição barroca. A retórica é uma estratégia recorrente do barroco, sendo um procedimento que busca a persuasão. Se o método rendeu obras e discursos suntuosos e exuberantes, a favor da narrativa cristã e do projeto de colonização europeu, a retórica canibal, ao contrário, se apresenta como um contraprograma, uma contracatequese, uma contraconquista. Trata-se de uma ruptura com as formas ocidentais modernas de pensamento e ação, em busca dos saberes locais, como o legado da antropofagia. Saem de cena o ouro e os anjos, entram em cena a carne e toda uma cultura marcada pela miscigenação.

Assim, o público tomará contato com uma produção que visita de maneira constante o passado para trazer à luz histórias ocultas, pouco visitadas pela história oficial. A seleção de trabalhos revela ainda a rede de influências que atravessa a obra da artista: do citado barroco à China, da azulejaria à iconografia da colonização, da história da arte à religiosa, do corpo à cerâmica, dos mapas à tatuagem, vasto é o mundo que alimenta a poética de Adriana Varejão. Ao longo da exposição comparecem trabalhos de quase todas as séries produzidas pela artista, tais como: “Terra incógnita”, “Proposta para uma Catequese”, “Acadêmicos”, “Línguas e cortes”, “Ruínas de Charques” e “Pratos”. Na composição da expografia, como ferramenta de mediação com o público, textos curtos descrevem e contextualizam as obras.

“É com muita satisfação que participamos desse importante projeto, que valoriza uma das mais importantes artistas brasileiras da contemporaneidade. Essa parceria sustenta nosso compromisso com a arte e com a democratização da cultura a um número cada vez maior de pessoas”, afirma Antonio Almeida, sócio-diretor da Galeria Almeida e Dale. “Por meio desta itinerância, levaremos a arte singular de Adriana Varejão para cidades que ficam fora do eixo Rio-São Paulo e que, até então, nunca haviam recebido uma exposição da artista”, reforça Carlos Dale, também sócio-diretor da galeria.

 

Para pensarem em conjunto a exposição, Adriana Varejão, junto com Luisa Duarte, uniram-se ao artista visual baiano Ayrson Heráclito e à antropóloga paulista Lilia Schwarcz, referências dos estudos da história e cultura afro-brasileiras, para uma conversa pública, também gratuita, no Museu de Arte da Bahia (MAB). Ambos os museus, vinculados ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) e Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia (SecultBA), são parceiros nesta realização.

Adriana Varejão é representada pelas Galerias Fortes D’Aloia & Gabriel, Gagosian e Victoria Miro.

 

 

Sobre a artista

 

Adriana Varejão (Rio de Janeiro, 1964) –As obras de Adriana Varejão encontram-se em coleções de instituições como Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iorque; Tate Modern, Londres; Fondation Cartier pour l’art Contemporain, Paris; Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro; Fundación “la Caixa”, Barcelona; Stedelijk Museum, Amsterdã; e Hara Museum, Tóquio. Entre suas principais exposições institucionais, incluem-se “Azulejões,” Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro e Brasília, Brasil (2001); “Chambre d’échos / Câmara de ecos”, Fondation Cartier pour l´art Contemporain, Paris (2005, itinerância para o Centro Cultural de Belém, Lisboa; e DA2, Salamanca, Espanha); Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio (2007); “Adriana Varejão – Histórias às Margens,” Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil (2012, itinerância para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; e o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina em 2013); “Adriana Varejão,” The Institute of Contemporary Art, Boston (2014); e “Adriana Varejão: Kindred Spirits,” Dallas Contemporary (2015). A artista participou da Bienal de São Paulo (1994, 1998); 12th Biennale of Sydney (2000); International Biennial Exhibition, SITE Santa Fe (2004); Liverpool Biennial (1999, 2006); Bucharest Biennale (2008); Istambul Biennial (2011); “30x Bienal”, Fundação Bienal de São Paulo (2013); Bienal do Mercosul, Brasil (1997, 2005, 2015); e da primeira Bienal de Arte de Contemporânea de Coimbra, Portugal (2015). Em 2008, um pavilhão permanente dedicado à obra de Varejão foi inaugurado em Inhotim Centro de Arte Contemporânea. Em 2016, foi contratada para produzir um mural temporário baseado em seu épico trabalho “Celacanto provoca maremoto” para cobrir a fachada inteira do Centro Aquático para as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Recebeu o Prêmio Mario Pedrosa (artista de linguagem contemporânea), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), e o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), pela exposição “Histórias às margens”, realizada em 2012/13 no MAM SP, MAM Rio e MALBA.

 

 

Sobre a curadora

 

Luisa Duarte (Rio de Janeiro, 1979) –Crítica de arte, curadora independente e professora. Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Foi por nove anos crítica de arte do jornal O Globo. Integrou o conselho do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2009-2012) e a equipe do programa Rumos Artes Visuais do Instituto Itaú Cultural (2005/2006). Coordenou o ciclo de conferências “Passado, presente e futuro – memória e projeção”, na 28ª Bienal de São Paulo (2008). Organizou em dupla com Adriano Pedrosa o livro “ABC – Arte Brasileira Contemporânea”, pela Cosac & Naify (2014). Organizou o seminário internacional “Biblioteca Walter Benjamin”, no Museu de Arte do Rio – MAR (2015). Foi curadora, em dupla com Evandro Salles, da exposição “Tunga – o rigor da distração” (2018), também no MAR. Em 2019, faz parte da equipe curatorial da 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, sendo responsável pelos programas públicos da edição, cuja abertura está prevista para outubro, em São Paulo.

 

 

Até 15 de junho.

“Museu”, exposição de Daniel Senise

15/abr

Encontra-se em cartaz no Instituto Ling, Porto Alegre, RS, a exposição “Museu”, exibição individual de Daniel Senise. “Museu” reúne um conjunto de nove obras recentes – seis pinturas em grandes formatos e três trabalhos em papel – criadas entre 2017 e 2019. São monotipias que retratam salões de importantes museus ao redor do mundo – como a National Gallery (Londres), a Frick Collection (Nova Iorque), o Rijksmuseum (Amsterdan) e o Museu Nacional de Belas Artes (RJ) -, e aquarelas que reproduzem a padronagem dos pisos de madeira de instituições culturais, como o Museu de Arte Antiga de Lisboa.

 

Ao longo dos seus mais de 30 anos de atividade trabalhando nos limites da figuração na pintura, Daniel Senise é considerado um dos maiores expoentes da chamada “Geração 80” e se afirma como um nome importante na cena internacional contemporânea. Para a curadora Daniela Name, nessa exposição Senise reinveste na questão fundamental de sua obra: a ênfase no ausente. As telas representam os espaços vazios dos museus, vestígios e fragmentos que evocam a memória desses locais. “O conjunto de obras reunidas em Museu evidencia como a imagem latente – ela que não está – atinge uma força radical ao ser sequestrada dos espaços arquitetônicos e simbólicos que foram concebidos para guardá-las. Ela é talvez mais presente em sua ausência do que seria em sua representação”, afirma Daniela em seu texto curatorial.

 

 

A palavra da curadora

 

Reencenar a pintura

 

Museu reúne um conjunto de pinturas recentes de Daniel Senise que retratam salões de importantes museus ao redor do mundo – caso da National Gallery, em Londres, e da Frick Collection, em Nova Iorque -, além de aquarelas que reproduzem a padronagem dos pisos de madeira de instituições culturais. Os museus são hoje uma espécie de ruína, uma nostalgia de outro tipo de relação com a imagem. Apontam para a saudade de um diálogo mais vagaroso e áspero, distante da aceleração das redes sociais e suas fotografias produzidas num turbilhão ininterrupto, mas efêmero e deslizante, com pouquíssima aderência à memória.

Ao se relacionar com os museus, Senise reinveste na questão fundamental de sua obra: a ênfase no ausente. Ao longo de sua carreira, o artista se apropriou de obras de Giotto, Caspar Friedrich, Michelangelo e James Whistler, adulterando-as, velando-as integralmente ou abrindo mão de alguns de seus detalhes fundamentais; também marcou a trajetória de um bumerangue sem apresentar o objeto; usou lençóis de hospitais e motéis para criar uma monumental Via Crucis de corpos ausentes.

Aquilo que falta está ainda em Ela que não está – nome de obra paradigmática que aponta para a ausência que sempre foi o princípio e o fim, aquilo que mais importa em sua obra. O protagonismo dessa imagem recalcada, proveniente de outro tempo e outro espaço, tem feito da obra de Senise uma espécie de conversa com fantasmas.

Tais espectros jamais foram assustadores para o artista. E o conjunto de obras reunidas em Museu evidencia como a imagem latente atinge uma voltagem radical ao ser sequestrada dos espaços arquitetônicos e simbólicos que foram concebidos para guardá-las. Assim como Hamlet, que conversa desenvoltamente com o fantasma de seu pai, Senise vem lidando com o legado de imagens da história da arte como um fóssil em brasa, o leitfossil em constante movimento de que nos fala Warburg. O príncipe atormentado de Shakespeare monta uma peça dentro da peça, num paradigma para a metalinguagem artística. Ao dar outra vida para esses museus amputados, Senise reencena a pintura dentro da pintura, num jogo de reflexos por vezes dilacerante e inquisidor: o que temos feito com as imagens que nos importam?

Daniela Name, curadora.

 

 

Sobre o artista

 

Daniel Senise nasceu em 1955 no Rio de Janeiro. Em 1980, se formou em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo ingressado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage no ano seguinte, onde participou de cursos livres até 1983. Foi professor na mesma escola de 1985 a 1996. Desde os anos oitenta, o artista vem participando de mostras coletivas, como a Bienal de São Paulo, a Bienal de La Habana, a Bienal de Veneza, a Bienal de Liverpool, a Bienal de Cuenca, a Trienal de Nova Delhi, entre outras realizadas no MASP e no MAM de São Paulo; no Musee d’Art Moderne de la Ville de Paris; no MoMA, em New York; no Centre Georges Pompidou, em Paris; e no Museu Ludwig, em Colônia, na Alemanha. Daniel Senise também tem exposto individualmente em museus e galerias no Brasil e no exterior, entre eles o MAM do Rio de Janeiro; o MAC de Niterói; o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba; a Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro; o Museum of Contemporary Art Chicago; o Museo de Arte Contemporáneo, em Monterrey, no México; a Galeria Thomas Cohn Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro; a Ramis Barquet Gallery e a Charles Cowley Gallery, em Nova York; a Galerie Michel Vidal, em Paris; a Galleri Engström, em Estocolmo; a Galeria Camargo Vilaça, em São Paulo; a Pulitzer Art Gallery, em Amsterdam; a Diana Lowenstein Fine Arts Gallery, em Miami; a Galeria Silvia Cintra, no Rio de Janeiro; a Galeria Vermelho, em São Paulo; a Galeria Graça Brandão, em Lisboa; e a Galeria Nara Roesler de Nova York. Atualmente, vive e trabalha no Rio de Janeiro e em São Paulo.

 

 

 Sobre a curadora

 

Daniela Name nasceu no Rio de Janeiro, em 1973. É crítica e curadora de arte, doutora em Comunicação e Cultura e mestre em Histórica e Crítica da Arte pela UFRJ e autora dos livros Norte – Marcelo Moscheta (2012), Almir Mavigner (2013) e Amelia Toledo – Forma fluida (2014). É crítica-colaboradora do jornal O Globo; editora da Revista Caju, uma publicação online dedicada a ensaios e críticas de arte e cultura e assessora de Cultura e Arte da Associação Redes da Maré.

 

 

Até 13 de julho.