Sertões Nômades

16/dez

Pelo sexto ano consecutivo o Museu do Homem do Nordeste, Fundação Joaquim Nabuco, Casa Forte, Recife, PE, promove uma “mobilização do olhar” em favor da compreensão do mosaico antropológico em que consiste esse fantástico panorama algo artificialmente chamado de Nordeste, inconfundível com o ponto cardeal ou com a divisão política que lhe corresponde no Estado Brasileiro.
Nordeste que foi, no passado, o território inaugural da nacionalidade, e que é, no presente o cenário preferencial da representação de um dos maiores e mais resistentes mitos brasileiros: Os Sertões.
No entanto, como já advertia Giambattista Vico, mito não significa necessariamente fábula: mito pode ser, apenas, uma palavra para referir, em uma determinada cultura, uma realidade primordial. Um alicerce. Sedentários ou nômades, seriam os Sertões um dos alicerces da Cultura Brasileira?
Em exposição trabalhos de Alexandre Severo, Fernanda Chemale, Ricardo Labastier.

 

 

 Até 06 de janeiro de 2015.

Sérvulo Esmeraldo na Paulo Darzé Galeria

02/dez

Natural de Crato, Ceará, em 1929, o artista plástico Sérvulo Esmeraldo encerra o calendário da temporada de 2014 da Paulo Darzé Galeria de Arte, Corredor da Vitória, Salvador, Bahia. O rigor geométrico-construtivo dos trabalhos de Sérvulo Esmeraldo projetou o nome do artista em destaque a partir da década de 1950. Após longa residência no exterior (Paris) e ter adquirido renome internacional, o artista atua pela divulgação da arte nordestina e pela renovação artística do seu estado. Sua obra está representada em grandes museus do mundo e em coleções públicas e privadas do Brasil e exterior.

Sérvulo Esmeraldo confere delicada fluidez a esculturas de sólidos geométricos, que dão sequência à sua pesquisa cinética e concretista. Enunciadas por seus contornos, de metal esmaltado em branco e preto, as formas vazadas parecem desafiar a gravidade e brincam com o olhar do espectador nas perspectivas que ganham outras dimensões por meio do jogo de luz e sombra.

 

 
De 04 de dezembro a 10 de janeiro de 2015.

Lançamento de Catálogos

O próximo sábado, 06 de Dezembro, é o último dia para visitar a exposição “Um Salto no Espaço” na Sala dos Pomares, na Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS. A data conta ainda com o lançamento dos catálogos “Um Salto no Espaço”  e “Limites do Imaginário”. O catálogo de “Um Salto no Espaço” conta com texto de Neiva Bohns, diretora cultural da FVCB, e traz ainda um DVD, produzido pela Flow Filmes, com uma visita comentada pela exposição.

 

Já “Limites do Imaginário”, publicação gerada a partir da exposição realizada em 2013 na Fundação e que teve curadoria de Vera Chaves Barcellos e Neiva Bohns, conta com texto sobre a mostra e é ricamente ilustrada com imagens das obras que foram expostas.

Maria Lynch em Salvador

01/dez


A Roberto Alban Galeria, Ondina, Salvador, Bahia, apresenta a exposição “Maria Lynch – Roda Viva”, com obras inéditas da artista carioca nascida em 1981, um dos nomes de destaque de sua geração. A mostra reúne 12 pinturas em grande formato feitas pela artista entre 2013 e este ano, e uma escultura de parede, em tinta e tecidos, produzida em 2014. Morando em Nova York desde 2013 para uma residência artística na Residence Unlimited, ela também tem exposição agendada na Store Front for Art and Architeture.

 
Os trabalhos apresentados na Roberto Alban Galeria são desenvolvimento de uma série iniciada no ano passado, com “mulheres ausentes, ou projeções de mulheres idealizadas, em meio ou em contradição com um mundo onírico e lúdico”, explica a artista. Ela conta que uma parte das obras foi produzida em Nova York, as pinturas com fundo preto, em que “também procurava essa ambiguidades da representação através das cores, e uma ausência completa de vestígios humanos, como se fosse a cena abandonada por alguém”. A exposição é acompanhada de um catálogo, com texto crítico de Mario Gioia, curador independente, formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

 
Ele observa que “…a produção de Maria Lynch é um corpo estranho na complexa tessitura da arte contemporânea brasileira, nesse começo de século 21, e isso é bom. Para a individual que fica em cartaz na Roberto Alban Galeria, em Salvador, a artista carioca parece desdobrar questões já rascunhadas na história da arte do país. Nessa linha, podemos eleger a percebida em ‘Baile à Fantasia’ (1913), de Rodolfo Chambelland (1879-1967), trabalho-chave da nossa modernidade, quando forma e conteúdo se unem de modo intrincado e salientam esse espírito de tempo (na época, virada do Novecentos para o século 20) que carrega, de modo mais latente ou explícito, a melancolia e o pessimismo. São sentimentos que irão denotar que, sim, o festejo carnavalesco retratado tem data para acabar. Mais o peso de uma Quarta-feira de Cinzas do que a embriaguez dos dias comemorativos. É como se as figuras esvaziadas e em branco das novas pinturas de Lynch fossem reedições contemporâneas desses antigos personagens, só que agora estrelando uma dança desritmada, em ambientes fragmentados, incompletos e não preenchíveis, mesmo que envoltas num colorido sedutor”.

 
O universo feminino é o tema central da pesquisa da artista, que comenta: “a partir do excesso em torno do feminino e do universo lúdico, extermino qualquer traço do mundo masculino, que é uma maneira de evidenciar sua presença perante tal ausência”. “A angústia e a ansiedade nunca são resolvidas, essas são as áreas onde o meu trabalho são instauradas, há uma repulsa à realidade. Recrio uma ficção, uma alegoria, um excesso junto a fragmentos do imaginário. O apagamento da identidade do feminino é mais que a vontade de não estar presente no mundo, e sim o de escondê-lo. Assim restituo um certo mundo, sublimando o real numa lógica particular. Abstrato e erótico, entre o gozo e a culpa, nesses paradoxos, vou encontrando liberdade para a imanência, para a celebração do delírio, da catarse onírica e a diferença imagética.”

 

 
Sobre a artista

 
Maria Lynch nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 1981 onde vive e trabalha. Formada pela Chelsea College of Art and Design, Londres, onde concluiu pós- graduação e mestrado em 2008. Entre suas principais exposições estão “The Jerwood Drawing Prize”, em 2008, com itinerância a partir de Londres para outras cidades da Inglaterra. No mesmo ano participou de “Nova Arte Nova”, no CCBB, Rio e São Paulo. Em 2010, ganhou o Prêmio Funarte de Artes Plásticas Marcantônio Vilaça, participou da exposição “Performance Presente Futuro Vol III”, Oi Futuro, RJ. Em 2011, integrou a 6º Bienal de Curitiba VentoSul, e em 2012 foi convidada para expor no Paço Imperial, Rio, e para a residência artística Bordalo Pinheiro, em Lisboa, Portugal. Foi também convidada para expor durante as Olimpíadas de Londres, 2012, no Barbican Centre. Em 2013 fez exposição individual na Galeria Anita Schwartz e foi convidada pelo Itamaraty a fazer residência em Lima. Maria Lynch está presente em importantes coleções públicas como Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Centro Cultural Candido Mendes,  Coleção Gilberto Chateubriand, Brasil/MAM Rio, Ministério das Relações Exteriores, Palácio do Itamaraty, e Committee for Olympic Fine Arts, em Londres.

 

 

De 11 de dezembro a 12 de janeiro de 2015.

Os rinocerontes estão chegando

18/nov

No século XVI alguns animais exóticos foram “inocentes protagonistas de jogos de poder mundiais”. Nesse contexto, no ano de 1515 aportou em Lisboa, como um presente diplomático, o primeiro rinoceronte a pisar em solo europeu (Ganda), que naquele mesmo ano foi eternizado em gravura de Albrecht Dürer, constituindo-se como uma das imagens mais marcantes da história da reprodutibilidade. Antecipando as comemorações dos 500 anos de “Ganda” de Dürer, este projeto apresenta uma abordagem criativa do tema em gravuras e instalações gráficas de artistas vinculados a instituições de ensino de artes da África do Sul, Brasil, Portugal e Polônia. Por se tratarem de trabalhos múltiplos, exposições semelhantes abrem simultaneamente na Cidade do Cabo, Porto Alegre, Lisboa e Lodz. A organização geral é de José Quaresma da Universidade de Lisboa, com curadoria no Brasil de Maristela Salvatori, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A exposição acontece na Sala O Arquipélago, Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, e ficará em cartaz até 28 de novembro e conta ainda com um ciclo de conferências: Rhinos are Coming: A Story that Changed History, a saber:

 

Portento diplomático com José Quaresma (Artista, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).

 

A partir das noções de Empreinte (Didi-Huberman), Immémorial (Michel Guérin) e Instalação (Julie Reiss), será desenvolvido um arco de ampla e sucessiva mediação entre a Gravura ancestral da Gruta na Ilha de Celebes (Indonésia), os Rinocerontes da Gruta de Chauvet (França), o Ganda de Dürer, e o espírito da Instalação Gráfica Contemporânea.

 

A iconologia do Rinoceronte de Dürer com Francisco Marshall (Historiador, professor do PPGAV/Instituto de Artes/UFRGS).

 

Análise iconográfica e iconológica do caso do rinoceronte Ganda, dos imaginários teratológicos modernos e da arte de Albrecht Dürer (1471-1528), com apresentação do histórico e do contexto genético desta representação.

 

The Rhinoceros in South African Visual Vernacular (conferência com tradução) com Stephen Inggs (Artista, professor da Michaelis School of Fine Art, University of Cape Town).

 

Um olhar sobre a imagem vernacular do rinoceronte na cultura Sul-Africana, da arte à publicidade, e como ela foi apropriada para as questões espirituais, estéticas, políticas e de conservação. A imagem do rinoceronte aparece em primeiro lugar na arte rupestre da África do Sul, onde acredita-se ter tido significado religioso para os bosquímanos na expressão de experiências espirituais. Sua aparição na arte Sul-Africana contemporânea tem um papel mais político que, no trabalho de William Kentridge, pode ser lido como um símbolo da África colonial, um animal selvagem que precisa ser domado e explorado em benefício da Europa.

 

Travelling Prints (conferência com tradução) com Alicja Habisiak-Matczak (Artista, professora da Akademia Sztuk Pieknych, Lodz)

 

O trajetória do Rinoceronte de Dürer e possibilidades de circulação de gravuras nos dias de hoje. Algumas experiências de intercâmbio e a configuração da cidade de Lodz como um lugar de acolhimento de gravuras “em viagem”.

 

Rinocerontes do Museu Agrícola do Ultramar com Luís Jorge Gonçalves (Arqueólogo, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).

 

Em 1929 foram expostos na Sala das Colônias do Pavilhão de Portugal, da Exposição Universal de Sevilha, dois rinocerontes taxidermizados oferecidos pela Agência Geral do Ultramar. Mais uma vez o rinoceronte era “embaixador” de um Portugal colonial, com forte presença em África, como o rei D. Manuel tinha realizado no início do século XVI. Os dois rinocerontes foram depois remetidos para o Palácio da Calheta, onde estava instalado o Jardim Colonial e Museu Agrícola Colonial, ficando expostos para a Exposição do Mundo Português de 1940, para ai permanecerem até aos nossos dias.

 

A imagem do Rinoceronte com Fernando Rosa Dias (Historiador, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).

 

A gravura do Rinoceronte de Dürer é explorada como ícone de uma encruzilhada de mudanças de paradigmas no advento da modernidade, ao que Heidegger definiu como «a conquista do mundo como imagem». Entre o bestiário medieval e o desejo de ilustração científica, esta imagem de reprodutibilidade capta um animal exótico de valor diplomático ao serviço do jogo de exibição das cortes barrocas.

 

 

Anunciando uma invasão: um rinoceronte e muitas histórias com Maristela Salvatori (Artista, professora do PPGAV/Instituto de Artes/UFRGS).

 

Apresentação de diferentes visões sobre a perspectiva de encontro e/ou ressignificação de Ganda, abordando a interpretação dos artista da equipe brasileira deste projeto, todos oriundos do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professores e alunos, de graduação, mestrado e doutorado, que responderam com entusiasmo a este desafio.

 

 

 

Animais raros na arte: imaginação e realidade com Maria Amélia Bulhões (Historiadora, professora do PPGAV/Instituto de Artes/UFRGS).

 

Se os animais raros permeiam o universo imaginário dos artistas através dos tempos, na contemporaneidade muitos deles se alimentam dessa tradição dando a ela novos sentidos. Walmor Corrêa é um desses artistas que mergulha totalmente no mundo animal para dele extrair uma obra rica e complexa. Ao primeiro olhar, suas obras parecem entrar no detalhado realismo que caracteriza os museus, os livros científicos e as enciclopédias. Observando mais detidamente, percebe-se que nada do que ali está é real ou possível. Para surpresa do espectador, vai se evidenciando um teatro do absurdo que se desdobra em inúmeros atos. A ambiguidade está sempre presente, não só como ferramenta operacional como também na estrutura de linguagem.

 

 

Rinocerontes mutantes. Fragmentos variáveis com Helena Kanaan (Artista, professora do Instituto de Artes/UFRGS).

A partir de uma ‘imagem-valise’, HELENA KANAAN ressalta a série como problemática intrínseca a constituição da imagem gerada por uma matriz. Do contorno de um rinoceronte às variações internas, acontecem combinações dos fragmentos em diferentes técnicas gráficas. A linguagem das correlações entre dissemelhanças é potencializada no formato livro de artista, conduzindo a uma alternância de aproximadamente 6000 concepções visuais. A série de rinocerontes com suas variantes, junto a pretensa multiplicidade de leituras de fragmentos impressos vai além e, o movimento provocado pelas mãos, torna-se animação por bits.

 

 

Sobre os artistas e palestrantes

 

José Quaresma

 

Coordenador geral do Projeto Rhinos are coming. Professor na FBAUL, é Doutor em Estética e Filosofia de Arte e Mestre em Estética e Filosofia de arte pelo Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Licenciado em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Curador de exposições coletivas, tem editado e coeditado livros sobre investigação em Arte, Arte Pública, Estatutos Ontológicos da Imagem, Arte em Ambiente Digital e Reprodutibilidade entre outros. Realizou numerosas exposições, entre elas as coletivas The Rape of Europe, com exposições em Utrecht, Lodz, Porto Alegre e Lisboa, 2013, e Printmaking, Installation, Poetry, The Joy of a Reencounter, com exposições em Granada, Utrecht, Copenhaga, Londres e Lisboa, 2012.

 

 

Francisco Marshall

 

Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988) e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (1996), realizou pós-doutorado na Princeton University (NJ, EUA, 1998), como bolsista Capes-Fulbright, convidado de Peter Brown, e na Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg (Alemanha, 2008-9), como bolsista da Fundação Alexander von Humboldt. É professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando no Depto. e PPG História (IFCH) e no PPG Artes Visuais (IA). Tem experiência nas áreas de História e de Arqueologia Clássica, com ênfase em História Antiga e Medieval, atuando principalmente em história antiga, arqueologia clássica, museologia, iconologia, estudos do imaginário e história da cultura.

 

 

Stephen Inggs

 

Nascido na Cidade do Cabo, 1955. Professor de gravura e fotografia na Michaelis School of Fine Art, da University of Cape Town, onde também exerceu a função de Diretor. É graduado em Fine Art, pela Natal Technikon, e realizou estudos de pós-graduação na Brighton Polytechnic, Inglaterra, e na University of Natal, África do Sul. Realizou exposições individuais na Inglaterra e na África do Sul, participou de numerosas exposições coletivas na África do Sul e exterior. Entre suas publicações destacamos os livros Making Prints With Light e What’s Bred in the Stone: Art and Technique of Lithograph (2011 e1998, ambos editados pela Michaelis School of Fine Art).

 

 

Alicja Habisiak-Matczak

 

Nascida em Piotrków Trybunalski, Polônia, 1978. É Doutora em Artes pela Akademia Sztuk Pieknych, Lodz, onde também é professora. Realizou estudos superiores no Departamento de Gráfica e Pintura da Akademia Sztuk Pieknych (Academia de Belas Artes), de Łódź. Recebeu bolsa de estudos de pós-graduação do Ministério da Cultura e do Patrimônio Nacional e do Governo italiano para a Academia de Belas Artes de Urbino, Itália. Realizou exposições individuais na Polônia e no exterior. Participou de numerosas exposições coletivas de gravura e desenho. Recebeu prêmios na Polônia, Romênia, Itália e Canadá. É membro da Associação Internacional de Designers Gráficos – AMIGRAV, com sede em Montreal.

 

 

Luís Jorge Gonçalves

 

Nascido em Portugal, em 1962, é doutor em Ciências da Arte e do Patrimônio pela Faculdade de Belas- Artes da Universidade de Lisboa, com a tese Escultura Romana em Portugal: uma arte no quotidiano. Professor na Faculdade de Belas-Artes, atua nas áreas de História da Arte (Pré-História e Antiguidade), Museologia, Arqueologia e Patrimônio, na graduação, no mestrado e no doutorado. Tem desenvolvido pesquisas em Arte Pré-Histórica, Escultura Romana, Arqueologia Pública e Paisagem. Desenvolve ainda projetos em ilustração reconstitutiva do patrimônio, da função da imagem no mundo antigo e interfaces plásticas entre arte pré-histórica, antiga e arte contemporânea. É responsável por exposições monográficas sobre monumentos de vilas e cidades portuguesas.

 

 

Fernando Rosa Dias

 

Nasceu em Caldas da Rainha, 1964. Professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Doutor em Ciências da Arte pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL). Mestre em História da Arte Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Pesquisador do Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes (CIEBA) – Secção de Ciências da Arte e do Património. Tem organizado colóquios e exposições, editado livros e artigos, e coordenado edições, em torno de questões como a arte portuguesa do século XX, a Investigação em Arte, a Imagem, as vanguardas culturais, entre outros.

 

 

Maristela Salvatori

 

Organizadora do ciclo de palestras, curadora do projeto Rhinos no Brasil, é professora do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde foi Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Doutora por Paris I, Estágio Sênior/CAPES, Université Laval, Canadá. Líder do Grupo de Pesquisa Expressões do Múltiplo. Artista Residente na Cité Internationale des Arts, Paris, e no Centro Frans Masereel, Kasterlee, Bélgica. Realizou individuais e participou de coletivas no Brasil e exterior, recebeu prêmios, entre os quais o prêmio GRAV’X 1999, Fundação GRAV’X / Galerie Michèle Broutta, Paris.

 

 

Maria Amélia Bulhões

 

Graduada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1973), mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1983), doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1990) e pós doutorado na Universidade de Paris I, Sorbonne (1997) e na Politecnica de Valencia (2008). Atualmente é professor do corpo permanente do PPG em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando na área de Artes Visuais, com ênfase em História, Teoria e Crítica de arte Coordena o Grupo de Pesquisa Territorialidade e subjetividade. Dedica-se principalmente aos seguintes temas: artes visuais contemporâneas, arte na América Latina e web arte. Escreve, desde junho de 2011, uma coluna semanal sobre artes visuais no jornal online Sul 21.

 

 

Helena Kanaan

 

Artista Visual com investigações em Gravura Contemporânea e Procedimentos Híbridos na Arte Impressa. Doutora em Poéticas Visuais pelo PPG em Artes Visuais / UFRGS e Universidade Politécnica de Valencia / Espanha. Mestre em Poéticas Visuais pelo PPG Artes Visuais / UFRGS. Especialização pela Scuola d’Arte Grafica Il Bisonte Florença / Itália. Professora no Centro de Artes / UFPel (1991 / 2013) na linha de Poéticas Visuais, orientando trabalhos de pesquisa (bacharelado, licenciatura, pós-graduação), quando coordenou o projeto de pesquisa e extensão Grupo Gravadores de Rua com dois bolsistas. Foi membro da Comissão de Consultoria do MALG (Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo) e membro na Câmara de Extensão. Em 2014 assume docência na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando na área da gravura. Coordena o grupo de pesquisa Práticas críticas da gravura à arte impressa. Processos e procedimentos matriciais, transferências, impregnações.

 

 

Até 28 de novembro.

Iberê: 100 anos – A programação

17/nov

A partir de 18 de novembro, dia em que o artista Iberê Camargo faria cem anos de idade, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, promove a abertura da exposição “Iberê Camargo: século XXI”. Com curadoria de Agnaldo Farias, Icleia Cattani e Jacques Leenhardt, a mostra comemorativa baseia-se nas principais questões e séries de trabalhos do artista, como os carretéis e ciclistas. Pela primeira vez desde que a criação da Fundação, todos os ambientes do prédio projetado por Álvaro Siza serão preenchidos por obras. As pinturas, gravuras e desenhos de Iberê Camargo dividem espaço com obras de mais dezenove artistas brasileiros, evidenciando o diálogo entre as diferentes linguagens.

 

 

Programação

 

No dia 19, quarta-feira, às 18h, será lançado o livro “100 anos de Iberê”, pela editora Cosac Naify, com organização de Luiz Camillo Osorio. Na quinta, dia 20, no mesmo horário, acontece o lançamento do filme documentário “Magma”, com direção e roteiro de Marta Biavaschi, que aborda o universo do artista. No dia 21, sexta-feira, ocorre a apresentação do vídeo da performance inspirada na “Série Carretéis”, assinada por Eva Schul.

 

Também nos dias 19, 20 e 21 de novembro, a Fundação Iberê Camargo promove o seminário “Iberê Camargo: século XXI”. Sempre com início às 19h, o evento traz discussões sobre a obra e o legado de Iberê Camargo. A cada noite, haverá um painel de discussões com três palestrantes e um mediador abordando diferentes aspectos da produção do artista.

 

No dia 22, sábado, ocorre o “Encontro para Educadores”, promovido pelo Programa Educativo da Fundação. Nele, os professores têm a oportunidade de conversar com os curadores sobre a exposição. Antes do início do debate, acontece a apresentação do documentário “Pare olhe escute”, realizado pela Fundação Iberê Camargo, com comentário da diretora e roteirista Marta Biavaschi. O filme tem narração do próprio Iberê, com imagens e sons de arquivo, a partir do universo de sua obra e, de acordo com Marta Biavaschi, foram criados quadros vivos que dialogam com seus quadros. Além disso o filme evoca “a paisagem da memória do artista com filmagens realizadas em Restinga Seca, Jaguari, Santa Maria, Porto Alegre e Rio de Janeiro, lugares onde viveu, observou e transfigurou a realidade”. A escolha do título relaciona o Pare Olhe Escute do cruzamento da via férrea com o sentido de parar, olhar e escutar sua obra.

 

 
Outros destaques do Centenário de Iberê Camargo

 

Exposições:

 

Itália

Serão apresentadas três mostras  em maio de 2015. O Museo Marino Marini, em Florença, exibirá gravuras. O Palazzo Pitti, igualmente em Florença, mostrará obras do artista criadas nos anos 1960. O Museo Morandi, em Bolonha, mostrará um paralelo entre as obras de Iberê e do mestre Giorgio Morandi (1890 – 1964), apresentando naturezas-mortas de ambos.

 

São Paulo
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) inaugurou dia 15 a retrospectiva “Um Trágico nos Trópicos”.  A Pinacoteca do Estado de SP terá mostra dedicada às gravuras. No Rio de Janeiro, o Museu de Arte Moderna (MAM) apresentará uma retrospectiva  em outubro de 2015.

 

Interior do RS
A mostra itinerante “Iberê Camargo – Um Homem a Caminho” passa por Bagé, na Da Maya Espaço Cultural e Lajeado,  no Sesc.

 

 

 

Digitalização

 
Até o fim do ano, o acervo da Fundação Iberê Camargo estará disponível na internet, reunindo mais de 5 mil obras e documentos.

 

 

 

Expositores

 

A mostra foi concebida a partir das principais problemáticas da obra de Iberê Camargo e as repercussões na produção de artistas brasileiros contemporâneos. Diferenciando-se de um formato convencional de exposições comemorativas, em geral um conjunto representativo ordenado cronologicamente, a exposição destaca a potência da poética de Iberê Camargo em diálogo com trabalhos de dezenove artistas brasileiros de gerações variadas como Angelo Venosa, Arthur Lescher, Carlos Fajardo, Carmela Gross, Cia. De Foto, Daniel Acosta, Edith Derdyk, Eduardo Frota, Eduardo Haesbaert, Fabio Miguez, Francisco Kingler, Gil Vicente, Jarbas Lopes, José Bechara, José Rufino, Karin Lambrecht, Lenir de Miranda, Regina Silveira e Rodrigo Andrade.

 

 

Até 29 de março.

Kandisnky no Brasil

14/nov

Brasília é a primeira cidade fora da Europa a receber uma exposição com obras do criador do abstracionismo, Wassily Kandinsky. Cerca de 150 peças, entre quadros, objetos, fotos, livros e cartas sobre o artista, seus contemporâneos e suas influências podem ser vistos no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A mostra está dividida em cinco blocos: Kandinsky e as raízes de sua obra em relação com a cultura popular e o folclore russo; Kandinsky e o universo espiritual do xamanismo no Norte da Rússia; Kandinsky na Alemanha e as experiências no grupo Der Blaue Reiter, vida em Murnau; Diálogo entre música e pintura: a amizade entre Kandinsky e Schonberg; Caminhos abertos pela abstração: Kandinsky e seus contemporâneos.

 

As peças em exposição pertencem ao acervo de nove museus e de coleções particulares vindos da Rússia, Alemanha, Áustria, Inglaterra e França. Alguns dos principais itens são do Museu Estatal Russo de São Petersburgo. A organização da mostra também teve participação da Arte A Produções, responsável pela “Virada Russa”, realizada em 2009, no circuito do CCBB.

 

Mais do que apresentar obras do pintor russo, “Kandinsky – Tudo começa num ponto” oferece ao público a oportunidade de conhecer as referências de sua obra, como a relação entre arte e espiritualidade, a cultura popular no norte da Sibéria, o folclore russo, a música e os rituais xamânicos. As peças em exposição estão divididas em três espaços, um deles interativo. Utilizando óculos especiais, o público pode conferir uma das obras do pintor se desmembrando de acordo com o movimento do visitante e emitindo sons. Também é possível ouvir a descrição das cores e de suas características.

 

Na exposição, há pinturas de todas as fases do pintor, ilustrações de contos populares, símbolos religiosos, séries de paisagens, roupas e tambores utilizados em rituais xamânicos, coleções de objetos de cerâmica e litogravuras. Além de Kandinsky, a mostra traz quadros de artistas contemporâneos, como a ex-mulher Gabriele Münter, Alexej Von Jawlensky , Mikhail Larionov, Pavel Filonov, Nikolai Kulbin e Aristarkh Lentulov.

 

O objetivo dos curadores da mostra, Evgenia Petrova e Joseph Kiblitsky, é fazer com que o espectador entenda vida e obra do pintor e também a relação com outros artistas e com a cultura de sua época. A ideia é compreender o contexto que ajudou na sua formação, dar um “mergulho no mundo que cercou e influenciou Kandinsky”. Para o diretor-geral da exposição, Rodolfo de Athayde, entender o gênio criativo implica compreender a sensibilidade que marcou a história da arte no século XX. “Esta exposição apresenta o prólogo dessa história enriquecida, que é a arte moderna e contemporânea. O modo em que se forjou a passagem para a abstração, os recursos a partir dos quais a figuração deixou de ser a única via possível para representar os estados mais vitais do ser humano, e finalmente o novo caminho desbravado a partir dessa ruptura”.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em Moscou, em 16 de dezembro de 1844, Wassaly Kandinsky formou-se em Direito antes de iniciar sua vida como pintor. Uma visita a uma exposição de artistas impressionistas franceses e ao Teatro Bolshoi, onde assistiu à ópera Lohengrin, de Richard Wagner, despertaram o desejo de produzir arte. Em 1896, ele se mudou para Munique, na Alemanha, onde iniciou o curso de pintura. Em 1900, ele ingressou na Academia de Artes de Munique, onde estudou com Franz Stuck. Foi neste período que conheceu a artista Gabriele Münter, com quem passou a viver até o início da 1ª Guerra Mundial. Em 1911, Kandinsky e Franz Marc criaram o grupo Der Blaue Reiter (Cavaleiro Azul).  O período em que viveu na Alemanha é considerado o de maior desenvolvimento da arte abstracionista do pintor. No ano seguinte, ele publicou “Do espiritual na arte”, a primeira fundamentação teórica da arte abstrata. Ele escreveu ainda um livro de memórias e uma coletânea de poesias com 55 litogravuras, ambos em 1913. No início da guerra, voltou para Moscou, já sem Gabriele. Participou de eventos culturais e políticos no período após a Revolução Russa. Casou-se com a filha de um general, em 1917, e cooperou com o comitê popular de educação, ensinando arte e auxiliando na reforma e na criação de museus, entre 1918 e 1921. Kandinsky voltou à Alemanha em 1922. Em seguida, aceitou o convite de Walter Groupiuos e começou a lecionar na escola Bauhaus, onde permaneceu até 1932. Os 159 quadros pintados a óleo e as 300 aquarelas produzidos entre 1926 e 1933 se perderam depois que os nazistas declararam o artista “degenerado”.  Aos 67 anos, o pintor se mudou para a França. Ao lado da mulher, ele passou a viver em Neuilly-sur-Seine, perto de Paris. Foi a última morada de Kadinsky até sua morte, em 13 de dezembro de 1944.

 

 

Locais e datas.

Depois de Brasília, a mostra “Kandinsky- Tudo começa num ponto” segue para o Rio de Janeiro, entre 27 de janeiro e 30 de março de 2015. São Paulo receberá o evento entre 18 de abril e 29 de junho de 2015. A exposição se despede do Brasil em Belo Horizonte, entre 21 de julho e 28 de setembro de 2015.

Eliane Prolik: Mira & Múltiplos

05/nov

Em paralelo à exposição “Da Matéria ao Mundo”, que acontece no Museu Oscar Niemeyer, a artista plástica Eliane Prolik lança seus mais recentes trabalhos em uma exposição pop-up na SIM Galeria, Curitiba, Paraná. A mostra “Eliane Prolik: Mira & Múltiplos” apresenta a série inédita de esculturas de mesa e dois múltiplos que trazem questões significativas da poética da artista.

 

Em metal, as obras de Eliane Prolik articulam elementos geométricos, urbanos e cotidianos. Suas esculturas constroem uma variedade de intensidades luminosas e ópticas, que capturam o dinamismo do corpo no espaço e na arquitetura. Também fazem parte da exposição os “Tapumes”, de 2013, elementos que criam uma espécie de labirinto para o espectador e que integram a exposição individual da artista no MON, além de “Brise”, de 2014, composta por esculturas suspensas que colocam o tempo em evidência.

 

A mostra ainda traz a obra Mira, realizada entre 2013 e 2014, exibida na feira ArtRio e adquirida para o acervo do Museu de Arte do Rio, o MAR.

 

“É uma obra muito interessante, em que há um aspecto reflexivo. Nessa escultura, você busca o horizonte ao mesmo tempo em que se vê”, explica Guilherme Simões de Assis, diretor da SIM Galeria, que representa a artista com exclusividade.

 

 

De 05 a 12 de novembro.

No Santander Cultural

23/out

Todas as coisas, surgidas do opaco, exposição de Ismael Monticelli é o cartaz da Galeria superior do Santander Cultural, Centro, Porto Alegre, RS.

 

Ismael Monticelli encerra a programação do “Projeto RS Contemporâneo” em 2014. Com curadoria de Luisa Duarte, a exposição reúne sete obras como fotografias e cartazes. Ismael usa como fio condutor objetos do nosso cotidiano e cria novas leituras sobre eles.

 

 

Até 23 de novembro.

A arte incomum de André Venzon

22/out

Artista visual e multimídia, Integrante da nova geração da arte contemporânea no Rio Grande do Sul, André Venzon realiza a exposição intitulada “Pois eu estou em sua memória”, individual na Galeria Península, Centro, Porto Alegre, RS. A mostra recebeu apresentação do crítico paulista Gilberto Habib Oliveira.

 

 

POIS ELE MERECE ESTAR EM NOSSA MEMÓRIA

Texto de Gilberto Habib Oliveira

 

Tão oportuna quanto arriscada, já se faz necessária uma leitura retrospectiva da obra e da trajetória do artista gaúcho André Venzon. A oportunidade é dada pelos ciclos que se completam, ressaltando a visão teleológica dos significados que de pouco em pouco construíram o corpus de sua obra, somados a alguns de seus feitos institucionais, dentre os quais, à frente da Associação Chico Lisboa ou, mais recentemente, do MAC-RS. O risco, em se tratando da arte, é encerrarmos tal percurso em adjetivos que se acercam sem tentar definir. Lançando-nos, pois, a tentativa de esclarecer, sem aprisionar, uma obra por natureza aberta e um percurso por trilhar.

 

André sempre surpreendeu com seu senso de coletividade, envolvendo-se em movimentos, projetos, editais, simpósios ou organizando mostras coletivas pelo Brasil afora. Voltado em seus trabalhos aos  conceitos de identidade e lugar na construção poética, sempre teve coragem e consciência de não relegar o entorno e o social à mera indiferença. Fosse por meio das diversas figuras de alteridade criadas em seu universo estético, nos elementos constituintes da arquitetura e da paisagem presentes desde o início em sua produção; fosse na mobilização de outros artistas, colecionadores, críticos ou dirigentes culturais nas muitas frentes institucionais em que buscou estar inserido. Expressões talvez de uma única realidade construtora de sua identidade como cidadão e como artista, que perpassa a responsabilidade de engajar, envolver, conscientizar ou, no mínimo, provocar espectadores e produtores de um único grande circuito. “Em sua silenciosa luta ética, este jovem artista extravasa a busca de identidade para muito além de si mesmo e projeta-a à arte. Mesmo que esta, hoje, já distante dos seus contornos formais e conceituais, esteja voltada à miragem de referências e ao provisório da verdade, André a resgata como busca máxima de autenticidade e criticidade” profetizava Monica Zielinsky, em seu texto sobre o ainda jovem artista, em 2006.

 

Venzon é, neste sentido, cumpridor de uma vocação profunda de artista. Como poucos que se conhece. Tudo nele é mobilização, da matéria prima ao tema, do significado ao suporte, tudo é pretexto para pensar e compor o papel afirmativo e interrogativo no infinito campo de interações entre artista e espectador. Como destacou a historiadora Paula Ramos, ele “…tem buscado estabelecer pontes formais e conceituais entre o lugar e o sujeito, entre aquele que vivencia e aquilo que o envolve, alinhavando múltiplas temporalidades”.

 

Não haveria, assim, neste infinito de possibilidades, necessidade mais natural do que tentar encontrar, passados os anos, um denominador comum para o que lhe é próprio. E eis que encontra na cor fúcsia dos tapumes ― por vezes aliada à sua textura ou a materialidade mesma da madeira ― um signo forte para si. Não importa não se tratar do primeiro artista a utilizá-la, mas basta ter acertado na escolha, fazendo dela um signo potente e singular de si mesmo.

 

Síntese fascinante, excêntrica e exótica. Social e atemporal, a cor de tapume na poética de André Venzon perpassa uma década sendo incorporada aos seus feitos até converte-se, definitivamente, na pele do artista. Dos vários signos que com ela pode compor em séries de trabalhos como “Qual é o seu lugar?”, “Boates”, “Vitrines”, “Cidade sem face”, “Luxúria”, entre a consciência do lugar, do corpo, da memória e da arte, essa cor já lhe serviu a vários discursos. Vindo agora a completar-se na exposição “Pois eu estou em sua memória”, ela penetra definitivamente nosso imaginário, se derramando como figura espectral, brilhante e fugidia tal como indexada no cartaz da mostra.

 

Hoje “sua”, a cor de André é ainda mais eloqüente, convertida em unidade identitária, mas também suporte de uma alteridade contemporânea, extemporânea, mítica, à serviço das muitas “capas”, peles ou máscaras a que os tapumes se convertem. Incapazes de disfarçar as mazelas, de encobrir os defeitos, de sustentar o (falso) glamour da cidade que, em nome do progresso, mais se arruína ao definir tão somente não-lugares. Destas vãs tentativas, os tapumes, com sua cor marcante, logram apenas ressaltar sua própria identidade e presença. “Matam” a paisagem real para ressuscitarem como memória artística, impondo o protagonismo desta sobre a outra.

 

Novas possibilidades de um imaginário urbano, a tomar a frente dos “flaneurs” e “futuristas”, o fúcsia dos tapumes se somam aos reflexos caóticos de prédios envidraçados e vitrines, sublimando em silêncio o vazio das cidades. Seriam talvez, versões luxuriosas do famigerado cinza das “selvas de pedra”? Ou novas expressões da teatralidade do mundo, ao fazerem-se de moldura ou cortina do palco em que encena-se a vida cotidiana? Eis que André se reveste dessa pele como a alma ancestral das cidades do futuro, a renovar-lhe possíveis novas metáforas. Dando novo corpo, alma e cor a um sempre crescente coletivo de muitos.  Formando um corpus significante, em tempos de uma experiência de arte e de cidade carente de significados.

 

 

Sobre o artista

 

André Venzon, nasceu em Porto Alegre, 1976. Diplomado em Desenho pelo IA/UFRGS. Dedica-se ao estudo dos conceitos de lugar na construção poética dos seus trabalhos. Diante de sua forma de olhar e perceber a arte como atributo social, participou do FUMPROARTE (PMPA), foi presidente da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa (2006-2010) e vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura, membro do Colegiado Nacional de Artes Visuais e, atualmente, é diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – MAC/RS – e curador do Projeto RS Contemporâneo do Santander Cultural. Realizou diversas exposições, entre as quais se destacam: 18º Salão de Arte Jovem de Santos; 3º Salão de Arte de Porto Alegre; 3º Salão Nacional de Arte de Goiás; 4ª Bienal de Arte e Cultura da UNE em São Paulo; BOATES no Centro Cultural dos Correios no Rio de Janeiro e no MARGS; 10ª Bienal de Santos; 13° Salão da Bahia, do Museu de Arte Moderna na Bahia. Foi curador da I Bienal B, artista-âncora do Essa Poa é Boa e oficineiro da Rede Nacional de Artes Visuais da Funarte em Parintins, Manaus e Rio de Janeiro.

 

 

Até 06 de novembro.