Exposição no Instituto Ling

26/jun

 

A inauguração da exposição “Livro Verde” exibição individual de Michel Zózimo no Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, será no dia 02 de julho, terça-feira, às 19h, com bate-papo entre o artista, a curadora e o público. A mostra permanecerá em cartaz até 11 de outubro.

Livro Verde – Michel Zózimo

O que separa a cobra do tronco? O focinho da trufa? O cheiro da chuva? O pelo do gato? O canto do pássaro? A pedra do frio? O gosto da uva? A raiz da terra? O bico da fruta? A maçã do pavão? A língua da formiga? A semente do abacate? A jaca do céu? O mel da abelha? O rato dos restos? A orelha da rã? A gralha do galho? O verme do vivo? O rio do silêncio? O caju da lágrima nordestina?

A exposição “Livro verde”, de Michel Zózimo, reúne um conjunto de 15 desenhos e uma grande colagem feita a partir de recortes de toda sorte de animais, retirados de antigas enciclopédias naturalistas. Estes trabalhos encontram-se expostos no ambiente, e os desenhos, reproduzidos em um livro de artista de mesmo nome, também disponível na exposição. Há tempos intrigado pelas imagens que os livros de ciências naturais criam para as coisas, Zózimo vem desenvolvendo um conjunto de trabalhos que se relacionam intimamente com o universo das enciclopédias. A verve classificadora que animou intelectuais desde a antiguidade, tanto na tradição ocidental quanto na oriental, buscava circunscrever as fronteiras dos fenômenos e dos seres, isolando o máximo possível suas singularidades. Em direção oposta, a literatura, a arte, as narrativas míticas descortinam a porção arbitrária das divisões e a permeabilidade dos contrários.

O desenho abismal de Michel Zózimo engendra um espaço antes do tempo, onde um animal habita o outro, um olho de cavalo sai de uma folha, um sorriso surge no escuro da mata.  Feitos em lápis aquarela e nanquim sobre papel algodão, construídos mediante um processo de densidades de pontilhados, nuances cromáticas, padronagens diversas de acordo com a pele das coisas, esses trabalhos parecem vindos do avesso de um livro raro, onde o desenho não se separa da mão que o fez, e o olho que vê é o corpo inteiro.

Gabriela Motta – Curadora

Sobre a curadora

Gabriela Kremer Motta nasceu em Pelotas (1975). É pesquisadora, crítica, curadora em artes visuais e professora adjunta no Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – DAV-UFRGS. Desenvolveu sua pesquisa de pós-doutorado junto ao PPGAV – UFPEL, na qual propunha a criação de vinhetas radiofônicas sobre arte contemporânea aproximando as noções de performance e curadoria. Como curadora, realizou projetos em diversas instituições, tais como Instituto Ling, Fundação Iberê Camargo, MACRS, MAC Niterói, Itaú Cultural e SESC Santa Catarina, entre outras. Também teve artigos publicados em livros, catálogos e anais. Atualmente, desenvolve o projeto de pesquisa Documentação como preservação – a arte contemporânea no museu.

Sobre o artista

Michel Zózimo nasceu em Santa Maria (1977) e vive e trabalha em Porto Alegre. É doutor em Artes Visuais pelo IA da UFRGS e professor do Colégio de Aplicação da UFRGS. Ele tem dois livros publicados através de Prêmios de Incentivo à Produção Crítica da FUNARTE e, em 2011, recebeu o Prêmio Residência Artística do PECCSP no Hangar, em Barcelona. Entre suas principais mostras estão o Programa de Exposições do Centro Cultural de São Paulo (2010); Rumos Artes Visuais (Itaú Cultural, SP, 2011); Temporada de Projetos Paço das Artes (SP, 2012); 9ª Bienal do Mercosul (Memorial do Rio Grande do Sul, 2013); Festival Vídeo Brasil (SESC São Paulo, 2014); Soft Cover Revolution (Fundación Arte Vivo Otero Herrera, Madri, 2015); RS XXI (Santander Cultural, Porto Alegre, 2017); e 36º Panorama da Arte Brasileira (MAM-SP, 2019). Em 2021, realizou a individual O nome vem depois, com curadoria de Lilia Schwarcz, na Sé Galeria, e, em 2023, participou do Artist-in-residence Programm des Salzburger Kunstvereins, produzindo a publicação de artista BERG.

Dois artistas na Galatea Salvador

18/jun

A Galatea Salvador anuncia sua segunda exposição, intitulada “Bahia afrofuturista: Bauer Sá e Gilberto Filho”. A mostra se estrutura em dois núcleos distintos: no primeiro, fotografias de Bauer Sá (1950, Salvador, BA), produzidas entre os anos 1990 e 2000, exploram a potência da ancestralidade afro-brasileira através de figurações do corpo negro representado como protagonista da cena; no segundo, esculturas em madeira que retratam cidades utópicas e modernas imaginadas por Gilberto Filho (1953, Cachoeira, BA) se reúnem pela primeira vez de forma tão ampla em uma exposição, com obras produzidas desde 1992 até o momento atual.

Este diálogo entre os trabalhos dos artistas baianos cria uma rica narrativa visual, conectando ancestralidade e fabulação em torno de futuros possíveis. A exposição conta também com texto crítico do artista e curador Ayrson Heráclito, reconhecido por abordar símbolos e tradições vinculados à cultura afro-brasileira em sua obra, e Beto Heráclito, escritor e historiador.

Com abertura em 04 de Julho e duração até 28 de Setembro.

Waltercio Caldas em BH

14/jun

A individual “Mero Espaço”, de Waltercio Caldas, acaba de chegar à Albuquerque Contemporânea, em Belo Horizonte.

“Não há melancolia, há desconcerto” diz Luiz Camillo Osorio, referindo-se às obras recentes de Waltercio Caldas. Nos trabalhos do artista, as noções de tempo e espaço são exploradas com linguagem e rigor formal próprios. Diversas obras, diante da perspectiva tridimensional, exaltam a temporalidade, sugerindo movimentos e deslocamentos no espaço e provocando tensões, outra marca de seu percurso artístico.

Nesta mostra, Waltercio Caldas descarta as noções de desenho, pintura, escultura e objeto. Para ele, todos os trabalhos têm caráter tridimensional e convidam o espectador a estabelecer as relações entre os objetos: “A exposição só acontece se você estiver fisicamente, ela não se reproduz, ela não se transforma em imagem de vídeo ou celular. Ela propõe uma relação física das pessoas com os objetos que elas vão ver”, explica.

“Mero Espaço” descarta a ideia de “produção mais recente do artista” e apresenta mais de cinco décadas de trabalho de Waltercio Caldas. De acordo com o artista, a mostra não é o fim do trabalho, mas característica fundamental da própria obra.

Uma exibição em conjunto para Iberê Camargo

Após quase 30 dias de portas fechadas, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS,  reabre suas portas no dia 20 de junho, com entrada gratuita até o final de julho.

“Iberê e o MARGS” – uma exposição conjunta durante a maior catástrofe ambiental do RS

Em uma parceria inédita, a Fundação Iberê Camargo e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul inauguram, na FIC, no dia 27 de julho, a exposição “Iberê e o MARGS: trajetórias e encontros”. Com curadoria de Francisco Dalcol e Gustavo Possamai, a mostra apresentará mais de oitenta obras do artista pertencentes aos acervos das duas instituições. O título foi inspirado em um dos mais importantes eventos no MARGS relacionados ao artista: a mostra “Iberê Camargo: trajetória e encontros”, realizada em 1985. Ela se deu no lastro das comemorações de seus 70 anos, que incluíram uma retrospectiva apresentada pelo próprio MARGS em 1984 e o lançamento do livro Iberê Camargo em 1985, considerado ainda hoje uma das mais completas publicações de referência sobre o artista.

No MARGS, Iberê ganhou mostras individuais, participou de inúmeras exposições coletivas e ministrou cursos. Teve também o ingresso de outras obras suas no acervo por meio de compra, transferências e doações, além de um espaço de guarda de parte de seu arquivo pessoal, o qual destinou à instituição em 1984. Foi também no MARGS que ocorreu sua despedida, com o velório público que teve lugar nas Pinacotecas, o espaço mais nobre e solene do Museu.

Além de trazer novos sentidos a esta exposição, o trágico contexto do Rio Grande do Sul ressoa no posicionamento público de Iberê Camargo, um crítico ferrenho dos governantes pelo descuido irresponsável com a natureza. “Entendemos que a exposição não poderia ocorrer em uma espécie de vácuo factual e histórico, sem situá-la no momento e na realidade em que nos encontramos. Assim, a mostra nos permite refletir sobre esses temas através da perspectiva de Iberê, que sempre criticou veementemente a negligência com a natureza, diante dos processos de dominação e destruição ambiental. É pelo olhar dele que podemos renovar o apelo, em nome das instituições de memória e enquanto sociedade, a um compromisso definitivo com a preservação da arte e do meio ambiente”, comentam os curadores.

Burle Marx e Amílcar um diálogo de gigantes

04/jun

O dia 04 de junho é a data do  30º  aniversário  da morte de Roberto Burle Marx e, trinta esculturas de grandes dimensões de Amilcar de Castro irão compor o Jardim Burle Marx no Eixo Monumental de Brasília, onde permanecerão por dois anos. Esse diálogo de gigantes faz parte do Projeto Amilcar de Castro No Jardim Burle Marx e representa um marco na capital do país. O evento é uma realização do IPAC em parceria com o  Banco de Brasília.

Itinerância artistica

03/maio

Curitiba é o palco de uma das mostras itinerantes da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, em parceria com o Museu Oscar Niemeyer. Com curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, a exposição, que foi um sucesso de público e crítica em 2023, desembarcou na cidade, onde permanecera aberta ao público até 26 de maio. Este ano, a mostra se expande para quinze cidades, e Curitiba receberá um recorte especial, sendo um dos maiores fora de São Paulo, com a participação de dezesseis participantes: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami, Amos Gitaï, Anna Boghiguian, Dayanita Singh, Gabriel Gentil Tukano, Geraldine Javier, Katherine Dunham, Luana Vitra, Maya Deren, Min Tanaka e François Pain, Morzaniel Ɨramari, Rosana Paulino, Sammy Baloji, Sonia Gomes, Tadáskía e Zumví Arquivo Afro Fotográfico.

A 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, explora as complexidades e urgências do mundo contemporâneo, abordando transformações sociais, políticas e culturais. A curadoria busca tensionar os espaços entre o possível e o impossível, o visível e o invisível, o real e o imaginário, dando voz a diversas questões e perspectivas de maneira poética. A coreografia, entendida como um conjunto de movimentos centrados no corpo que desafia limites, considera diversas trajetórias e áreas de atuação, criando estratégias para enfrentar desafios institucionais e curatoriais. As coreografias do impossível geram suas próprias relações, tempos e espaços, oferecendo uma experiência marcante aos visitantes.

Para os curadores, é crucial que a exposição alcance mais cidades, transcendendo os limites do Pavilhão da Bienal. Segundo eles, “os debates propostos pela 35ª Bienal atravessam inúmeros territórios de todo o mundo; assim, não restringir as coreografias do impossível ao Pavilhão da Bienal é de extrema importância para o trabalho realizado”.

Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, destaca a relevância não apenas de levar as coreografias do impossível para um público mais amplo, mas também de fortalecer os laços entre as instituições culturais. “Levar a mostra para mais cidades e com um parceiro tão importante quanto o Museu Oscar Niemeyer é de extrema importância para o fortalecimento das instituições culturais do Brasil. A troca de experiências entre públicos e instituições é uma das grandes riquezas das itinerâncias da Bienal de São Paulo”, afirma.

A diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika, comenta que a arte tem a capacidade de comunicar sem palavras e, por isso, proporciona uma conexão profunda e presente, que muitas vezes não seria possível de nenhuma outra maneira. “Ao participar da itinerância desse tão importante evento, o MON ajuda a transpor barreiras por meio da arte e, desta forma, permite um elo entre pessoas, mundos e vivências”, afirma.

Até 26 de Maio.

Mostra inédita e inovadora de Pedro Salles

O fotógrafo Pedro Salles tem a experimentação e a inovação como chaves do seu trabalho. Foi assim que ele explorou o conceito da água como elemento capaz de atribuir características humanas aos sujeitos minerais e vegetais da natureza, a partir de imagens captadas na Chapada Diamantina (Vale do Pati e Morro do Castelo) e Salvador. O resultado pode ser visto na exposição “Paisagens como Sujeitos na Fotografia”, que será aberta ao público no dia 30 de abril, às 17hs, permanecendo em cartaz até o dia 14 de maio na Galeria Cañizares, Canela, Salvador, na Escola de Belas Artes da UFBa, BA.

A mostra tem curadoria do conhecido fotógrafo e professor Edgard Oliva e decorre do Doutorado em Artes Visuais que Pedro Salles cursa na UFBa. No total, são 22 fotografias que convidam o espectador a refletir sobre o significado das paisagens, apresentando-as ora como sujeitos objetivos e necessários, ora como estruturas subjetivas e efêmeras. Para ampliar a contemplação, o fotógrafo se utiliza dos meios tecnológicos contemporâneos, a partir de uma estética própria e singular.

“O objeto de pesquisa e do exercício fotográfico de Pedro Salles nos faz rever, em certo sentido, como são ressignificadas as paisagens que brotam em ambientes nos quais se manifestam a partir de uma estética que nos faz percebê-las ora como sujeitos necessários e objetivos, ora como estruturas embaçadas e subjetivas. Seguindo essa ordem da natureza do olhar, Pedro nos evoca a observar o distante em uma paisagem macro, mesmo que tão próxima do nosso olhar pelos meios tecnológicos atuais”, analisa Edgard Oliva.

A impermanência da natureza e sua constante mutação são temas centrais explorados por Salles. Sua abordagem, fundamentada na noção de fotografia expandida, busca capturar não apenas a imagem, mas também o deslocamento e a transformação dos elementos naturais ao longo do tempo. A exposição reflete o cerne da pesquisa desenvolvida pelo fotógrafo como parte de seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes UFBA.

Sobre o artista

Pedro Salles é fotógrafo, mestre em Antropologia e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA, sob a orientação do professor Edgard Oliva. Sua pesquisa inovadora mergulha profundamente na relação entre a fotografia e o ambiente, desafiando as fronteiras tradicionais deste meio artístico. Suas experimentações técnicas e materiais oferecem uma visão única sobre a transitoriedade da natureza e a necessidade premente de sua preservação.

Paulo Darzé exibe dois artistas

25/abr

A Paulo Darzé Galeria apresenta duas exposições no dia 30 de abril, “Relevos e Pinturas” de Hildebrando de Castro e “Desfrutar do tambor”, de Guilherme Almeida. As mostras abrem às 19 horas, e ficam abertas ao público até o dia 1º de junho, de segunda a sexta, das 9 às 19 horas, e sábados das 9 às 13 horas. A Paulo Darzé Galeria fica na Rua Chrysippo de Aguiar, nº 8, Corredor da Vitória. Salvador/BA.

Sobre o artista

Guilherme Almeida, nascido em Salvador, em 2000, traz à tona uma exposição singular que reflete as narrativas e experiências do corpo negro na contemporaneidade. Graduando em Artes Plásticas, sua obra mergulha nas complexidades da vida urbana e da cultura pop, especialmente do hip-hop. Em seus trabalhos, que abrangem pintura, escultura e instalação, Guilherme Almeida utiliza suportes não convencionais, como jornais e eucatex, para destacar a potência e autonomia do corpo negro, desafiando marginalizações históricas. A exposição “Desfrutar do tambor”, permeada por uma estética vibrante e uma abordagem sensível, convida o espectador a refletir sobre questões de poder, memória e identidade afro-brasileira, enaltecendo a beleza e a resiliência das comunidades negras.

Sobre o artista

Hildebrando de Castro, artista pernambucano radicado em São Paulo, desvela uma jornada artística marcada pela meticulosidade e pela transformação técnica ao longo das décadas. Desde sua estreia nos anos 1970 até suas recentes incursões na série “Janelas”, sua obra revela um constante diálogo entre o figurativo e o geométrico, entre o real e o simbólico. Sua nova exposição, intitulada “Relevos e Pinturas”, mergulha nas paisagens urbanas e arquitetônicas, ressaltando a intersecção entre luz e sombra, forma e espaço. Inspirado pela teoria dos espaços urbanos, Hildebrando de Castro  nos convida a uma jornada sensorial e poética, onde cada obra é uma janela para novas percepções do mundo que nos cerca.

Celebrando a arte de Poty

17/abr

Os 100 anos de Poty Lazzarotto estão sendo celebrados com três exposições inéditas em Curitiba. O centenário foi no dia 29 de março. No Museu Oscar Niemeyer (MON), uma mostra com aproximadamente 500 obras do artista, nome relevante na produção artística paranaense e brasileira, o público pode esperar um recorte das principais temáticas do Poty, como relata a curadora Maria José Justino. A iniciativa vem da doação de mais de 4,5 mil peças do desenhista para o museu, em 2022. Segundo a diretora-presidente, Juliana Vosnika, a mostra é uma das mais grandiosas da instituição.

Com o apoio institucional do MON, a Caixa Cultural inaugurou uma exposição com gravuras do artista que conversam com a arte digital. Além das obras originais, a mostra conta com vídeos, hologramas, uma experiência imersiva em óculos 3D e um documentário inédito, a curadoria é de Juliane Fuganti.

No Museu Municipal de Arte (MuMA) também está em cartaz uma exposição com 100 trabalhos de Poty, distribuídos entre ilustrações, gravuras e um busto em bronze.

“Trilhos e Traços – Poty 100 anos”, no MON, Sala 6

“Poty Expandido”, na Caixa Cultural Curitiba, Galeria do 2º andar

“Poty de Curitiba, Curitiba de Poty”, no MuMA.

Em cartaz até janeiro de 2025,

Mano Penalva na Simões de Assis Curitiba

12/abr

Dois pra lá, dois pra cá

Uma das possibilidades de revisão da história social do Brasil apresenta-se através de uma história do movimento. Polivalente, esse movimento pode acontecer de inúmeros modos: migrações populacionais, variações de maré, dinâmicas comerciais e de troca e, próprio ao corpo cultural, a dança. Apesar das variantes sedutoras, opto por manter esta investigação historicamente próxima ao “movimento”, pela insubordinação que o próprio fenômeno carrega consigo em relação ao desapego disciplinar e à liberdade de deslocamento no pensamento.

Em Dois pra lá, dois pra cá, exposição individual de Mano Penalva em Curitiba, é a tentação do olho que comanda o deslocamento, que ativamente distorce a imagem fruída ao passo que o espectador se move no espaço. As salas expositivas, idealmente neutras, tornam-se um diagrama de coreografias planejadas pelo artista. Nas obras da série Ventana, produzidas com ripas de madeira multicoloridas, é como se cada canto assobiasse, chamando para mais perto, em disputa com os chamarizes em si mesmo. Os trabalhos demonstram uma repulsa à frontalidade, a um ponto de vista único, hermético e pré-fixado, questão amplamente discutida pela prática escultórica contemporânea. Ambíguo, os objetos tridimensionais de Penalva se apresentam camuflados de pinturas postos à parede; sem a intenção do engano, mas com o truque do fascínio. A apontar para uma crise de classificação em um mundo de objetos e nomes cambiantes, o trabalho engendra compreensões intervalares em sua própria natureza.

Penalva incentiva uma observação livre da forma, pautada pelos apetites sensoriais a serem saciados através do movimento em diversos ângulos, em mudanças completas de cor e composição em determinadas posições. Com esses trabalhos, portanto, o artista propõe ao espectador uma insinuação de dança defronte às obras: dois pra lá, dois pra cá. Tal movimento pendular, como as contas de um ábaco – ou como seus Alpendres que balançam ao vento -, joga pontos de referência a primorosos sistemas estéticos de origem popular, assim como sobrescreve um incontornável legado da arte cinética, sobretudo do modernismo latino-americano. Esse resíduo histórico que acompanha a produção de Penalva é análogo ao ruído visual causado pelos trabalhos apresentados, onde fenômenos ópticos – como o moiré – se intensificam e se acumulam na retina de quem absorve os trabalhos, impregnando o próximo trabalho com o zumbido do anterior. Desse modo, Penalva reverencia a sofisticação de vocabulários visuais igualmente populares – e, por consequência, suas epistemologias e relações sociais -, como na composição de elementos da arquitetura vernacular, na composição de bancas de feira com lonas e caixas de madeira, na diagramação de cartazes com letras pintadas manualmente. As ventanas guardam semelhanças com os aparatos arquitetônicos postos em vãos de janelas e portas que permitem o fluxo de ar ao mesmo tempo que bloqueiam a incidência solar. Tal solução formal, criada em países com climas desafiadoramente quentes, apresenta diversidade caleidoscópica de formas e combinações de padrões geométricos – como em cobogós, muxarabis, venezianas e persianas. Pedindo o inverso do que o objeto que as geram propõe, as Ventanas de Penalva pedem ao espectador que as descortinem, que as esguelhem, que as desvelem em soslaio. Essa geometria dinâmica encontra diálogos bem humorados: em Beijo, por exemplo, a parábola formada pelo tenso peso da fiada de contas encontra, em uma carícia tangente, o arco côncavo da forma circular pintada em acrílica sobre madeira. Essa espécie de colar de miçangas, além de sugerir conexões religiosas e espirituais densamente ocorrentes nas visualidades populares, fazem cócegas no conceito do ornamento, presença temida pelo modernismo minimalista. Em Beleba, esferas imantadas que sugerem divertidas bolinhas de gude, comuns em brincadeiras e rua, também simbolizam campos de troca, de conquistas e de estratégias¹. Visualmente, inserem pontos visuais marcantes em meio ao ritmo vertical, como semibreves em uma partitura rotacionada.

Ao intitular a mostra como Dois pra lá, dois pra cá, o artista desvia o movimento para a dança, e alguns pilares fulcrais bailam no horizonte: a relação intrínseca com a música; a corporificação de expressões culturais das mais diversas, miscigenadas, transpostas e reconfiguradas; a dimensão afetiva; e a efemeridade da dança, que só acontece em determinado momento e, quando se repete, é sempre nova, embora repita uma tradição. A dança é, portanto, inexata em suas recorrências, tenha o mesmo princípio medidor, uma matriz de instruções comum. Quadris, ombros, pés e mãos obedecem a cantos inteligíveis que ativam corpos sensíveis, cuja inteligência corporal é mestra. Há, por certas matrizes, uma tentativa de esquematização dos movimentos da dança, de modo a controlá-lo, reproduzi-lo em intentos disciplinares, geométricos, científicos. Ironizar a tentativa de ensinar alguém a ter molejo foi uma das intenções centrais de Andy Warhol na série Dance Diagram (1961-1962), onde a sinuosidade e espontaneidade dos movimentos dão lugar a linhas duras e vetoriais que instruem sobre o movimento dos pés². Nas ocasiões em que trabalhos dessa série eram expostos – em lugares onde ver pessoas dançando causa estranheza, como museus e galerias de arte –, eram raras as vezes em que os observadores não tentavam replicar as instruções defronte às obras.

Em Dois pra lá, dois pra cá, Mano Penalva propõe uma ativação similar: em uma sala com paredes em tom mais quente, ecoa um bolero que incentiva os visitantes à dança. As duas caixas de som sobre tripés, defronte aos grandes Alpendres que lavam as paredes do teto ao chão, sugerem dois corpos que, em par, somam-se à dança. A instalação sonora Bolero para o silêncio – composta por Penalva e pelo produtor musical Meno Del Picchia -, além de atentar para os hibridismos culturais da América Latina, suas influências hispânicas e resistências originárias e diaspóricas, disserta sobre a importância do intervalo: a pausa que intercala os passos é tão importante quantos os elementos cheios. Maestro é quem domina o tempo, determina o ritmo e dispõe as frestas na completude. Cercado de obras que privilegiam a apreensão visual em detrimento a outros sentidos, Bolero para o silêncio amalgama-se com o observador em um processo de ignição do corpo através da audição. Nota-se, portanto, uma inexatidão nas práticas da dança: embora haja um decoro que as rejam, cada uma acontece de modo específico, dentro de um parâmetro convencionado. Essa matemática orgulhosamente inexata, descompassada pela generosidade, tende sempre ao transbordamento, a um pouco a mais: surge, assim, a obra Um tanto e meio. Penalva questiona se esse sistema de medida pautado pela partilha não se faz mais pertinente nas relações humanas do que a escala de unidade métrica, onde, em frieza tal, o que determina o que é medido é o comprimento de raios de luz no vácuo em um intervalo mentalmente incompreensível.

Embora as medidas representem uma lata de um litro e uma de meio litro – empírica, sábia e precariamente apropriadas da produção industrial, ao reutilizarem latas metálicas de óleo de cozinha como recipiente para medida de grãos e farinhas em feiras públicas -, Um tanto e meio indaga acerca da arbitrariedade dessas convenções: não se sabe quanto faz um tanto ser um tanto, muito menos meio. A obra propõe uma alternância, sempre dinâmica: de um lado, o cheio intransponível, como esculturas maciças de Iran do Espirito Santo que não servem para medida alguma; ou o vazio presente, como nas moedas sem valor de Cildo Meireles. Os objetos em si nada valem, mas pautam o valor das coisas que medem e trocam. Existem virtualmente, em potência. Com conteúdo mutável, podendo ser preenchidas com matérias dos mais diversos valores, Um tanto e meio enfatiza a dinâmica da troca. Além disso, indaga se propor possibilidades centradas na generosidade nas dinâmicas capitalistas não são encenações utópicas. Complica-se ainda mais quanto as etapas produtivas são subvertidas pelo paulatino abandono da reutilização das latas industriais, passando a produzir artesanalmente – e vender – novos utensílios medidores com volumes aproximados. Assim, reitera-se um deslocamento central: um instrumento de medida passa a ser de representação, em uma ciranda cruzada entre imagem, objeto e significado. Ao mesmo tempo que se referem a uma prática dada, Um tanto e meio independe dos objetos que a constituem, posto que (in)citam, em senso estrito, os movimentos feitos por outras latas que não aquelas. Incentivando os mecanismos imaginativos, Penalva sugere a possibilidade sonora dessas latas quando cheias, como chocalhos que cumprem a percussão do bolero, a soar o ritmo do cotidiano, o barulho das feiras, o som do baile.

Mateus Nunes

Até 20 de abril.