Isabel Ramil no Santander Cultural

07/abr

Espaço que contribui há mais de década para a divulgação da arte contemporânea no circuito de Porto Alegre, RS, o Santander Cultural iniciou sua programação de exposições para 2014. Com a primeira das quatro mostras do “Projeto RS Contemporâneo”, que destaca a produção de jovens artistas, a instituição abre um calendário que ainda contará com Vik Muniz e uma homenagem à memória do escritor Moacyr Scliar.

 

A exposição “A Dimensão Lírica das Coisas” apresenta a produção recente de Isabel Ramil. O curador Gilberto Habib selecionou trabalhos que, ao mesmo tempo em que demonstram a diversidade de linguagens de uma artista em formação (fotografia, vídeo, gravura, desenho e áudio), têm em comum referências de infância e família. É o caso de “Implacável”, instalação composta por áudio e 25 fotos que a artista registrou nas ruas de Rosário do Sul, RS, cidade de seus avós. Nesse trabalho, Isabel Ramil compõe cenas a partir de uma série de lugares que são igualmente identificados por placas de sinalização, criando uma espécie de jogos de metalinguagem. O folder da exposição traz uma foto de Isabel Ramil em performance na qual representa o escritor Marcel Proust na pose que foi pintado por Jacques-Emile Blanche.

 

O RS Contemporâneo ainda apresentará a produção dos artistas Daniel Escobar, Romy Pocztaruk e Ismael Monticelli.  Seguindo com sua programação, em 21 de maio o Santander trará uma exposição que já se candidata a figurar entre as principais do ano em Porto Alegre: Vik Muniz, um dos nomes brasileiros mais requisitados no exterior, apresentará 45 trabalhos produzidos desde os anos 1980. O artista é conhecido por usar materiais e imagens de todo tipo, de lixo reciclável a recortes de revistas. Destacando colagens e fotografias, será a primeira individual de Vik em Porto Alegre.

 

 

Até 04 de maio.

Iberê: anos 80

01/abr

Entrou em cartaz a mostra “Iberê Camargo: as horas [o tempo como motivo]”, na Fundação Iberê camargo, Porto Alegre, RS. Com curadoria do filósofo e crítico de arte Lorenzo Mammì, a exposição joga luz sobre a produção do artista durante a década de 1980, em um ponto de virada de sua produção, quando Iberê insere as primeiras figuras humanas em sua obra. Esses elementos passam a estabelecer novas dinâmicas em seus quadros, configurando o espaço pictórico como um lugar fora do tempo, de simultaneidade entre memórias e presente. Entre os carretéis e a produção tardia das idiotas e dos ciclistas, desponta um Iberê de cores fortes e de figuras abundantes, que reflete sobre o seu lugar no tempo e sobre o lugar do tempo na obra.

 

As figuras de Iberê, frequentemente autorretratos, olham ora para os objetos, ora para fora do quadro, estabelecendo novas tensões internas às telas. O gesto não está só na marca deixada na tinta, mas está ele também representado. Agora, o artista não pinta somente meras lembranças, pinta a si mesmo junto a elas, colocando-se também em cena. Essa é uma presença angustiada, como fica evidente nos nomes de algumas obras, como Grito (1984) e Medo (1985).
É nessa década que se dá também a consagração de Iberê Camargo como um dos grandes artistas brasileiros – ele alcança grande valorização no mercado e serve de referência para a geração de artistas responsáveis pela “volta à pintura”.  Por isso, a exposição também traz notícias de jornais pertencentes ao acervo documental da Fundação, mostrando como o artista era retratado pela mídia da época e contextualizando o recorte de obras apresentado.

 

Cabe ressaltar, ainda, o novo fôlego de produção literária que acompanha essa mudança na pintura de Iberê: o artista trabalha nas prosas autobiográficas reunidas posteriormente em Gaveta dos Guardados e publica, em 1988, No andar do tempo, em que resgata contos antigos e apresenta novos, colocados lado a lado como as figuras nos quadros, em uma revisão e atualização do passado em sincronia com o presente. O curador chama a atenção para o conto O relógio, de 1959, em que o personagem vasculha obsessivamente uma latrina, fascinado pelos objetos do passado que encontra e com a própria matéria em decomposição. Uma analogia aos quadros da época: os elementos do passado e do presente mesclados, sobrepostos, em uma massa de memória e de tempo.
A exposição acontece no 2º andar da Fundação Iberê Camargo.

 

 

Até 09 de novembro.

Mario Carneiro em livro

31/mar

A belíssima edição do livro que apresenta a obra completa de Mario Carneiro contribui com valor inestimável para a memória das artes visuais do país e será lançado na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, dia 10 de abril. Os autores realizam bate papo com o público antes dos autógrafos. O livro será distribuído gratuitamente ao público presente.  Seu “olhar educado nas artes visuais” – como o próprio Mario Carneiro gostava de dizer – foi o diferencial na sua fotografia de cinema, imprimindo nas suas imagens uma sensibilidade e uma temporalidade características.

 

Sua concepção de iluminação foi identificada e celebrada por companheiros de trabalho e estudada por teóricos do cinema.   No entanto, sua extensa e rica obra visual, composta por desenho, pintura, gravura e fotografia ainda não haviam sido reunidas e estudadas. A publicação do livro “Mario Carneiro  Trânsitos”,  vem preencher esta lacuna, evidencia a dimensão da obra do artista e colabora para acrescentar informação à história da arte brasileira recente.

 

Os textos do curador, poeta e crítico de arte Adolfo Montejo Navas, do jornalista, escritor, pesquisador e crítico de cinema, Carlos Alberto Mattos e de Fabiana Éboli, artista plástica, professora e pesquisadora de artes visuais, respondem eficientemente ao conceito central do livro que é a ideia do trânsito do artista pelas diferentes linguagens. Dividido em sete capítulos com cerca de 300 imagens, a edição descortina a vasta produção visual do artista multimídia reconhecido como o grande fotógrafo do Cinema Novo. Sua atividade profissional nos meios cinematográficos dispensa apresentação. Contemplado com o Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais – 2010, o livro será distribuído gratuitamente às principais instituições culturais de todo o país.

 

 

Sobre Mario Carneiro

 

Mario Carneiro fez desenho, gravura, pintura, fotografia, cinema e se assumia como pintor. Sua formação universitária foi em arquitetura. Formou-se em 1955 na Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro, paralelamente ao estudo da pintura. O desenho foi uma constante, feito em casa ou no ateliê, nos sets de filmagem ou na prancheta. No período passado na França, fins da década de 1940 e início da de 1950, onde Mario Carneiro conhece Iberê Camargo e com ele estabelece uma amizade e há uma grande produção de gravura, ao lado do estudo da pintura. Nesta mesma época, junto com o pintor Jorge Mori, faz cópias dos grandes mestres no Louvre, exercita a fotografia e logo surge o cinema através de uma câmera presenteada pelo pai por sugestão da irmã. A fotografia em preto e branco atesta, já nos fotogramas da década de 40, um olhar agudo nos contrastes. Em 1953, Mario faz seus primeiros filmes amadores, alguns de caráter experimental e influência dadaísta, entre eles “A Boneca”, com colaboração de Mori. A obra de Mario Carneiro, a maior parte produzida na segunda metade do século XX, é marcada pela passagem da modernidade para a contemporaneidade. Mario fez parte de uma geração de artistas que criou pontes nessa transição, explorando várias linguagens artísticas e deixando uma obra diversa e coerente com seu momento histórico.

 

 

Sobre os autores

 

Adolfo Montejo Navas é poeta, critico e curador independente. Correspondente da revista internacional Lápiz, de Madri, desde 1998, e colaborador de diversas revistas culturais. Ganhou Premio Mario Pedrosa de Ensaio Arte e Cultura Contemporânea (2009, Fundação Joaquim Nabuco). Sua última produção bibliográfica inclui “Anúncios” (Katarina Kartonera, 2012), “O outro lado da imagem – A poética de Regina Silveira” (Edusp, 2012), “Poiesis Bruscky” (Cosac Naify, 2013).

 

Carlos Alberto Mattos é jornalista, crítico de cinema e escritor. Autor de livros sobre os cineastas Walter Lima Jr., Eduardo Coutinho, Carla Camuratti, Jorge Bodanzky, Maurice Capovilla e Vladimir Carvalho. Foi coordenador de cinema do CCBB-Rio e presidente da Associação de Críticos  de Cinema-RJ. Criou o DocBlog (extinto) em O Globo. É editor da revista Filme Cultura.

 

Fabiana Éboli Santos é Mestre em Linguagens Visuais – EBA- UFRJ, artista plástica, professora na Escola de Belas Artes UFRJ. Socióloga, curadora e pesquisadora em artes visuais, com diversos prêmios em seu currículo, exposições e textos publicados.

 

Antonio Dias na Fundação Iberê Camargo

14/mar

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS,  recebe a exposição “Antonio Dias – Potência da Pintura”, com curadoria do crítico Paulo Sergio Duarte, que apresenta um recorte da produção mais recente do artista. As pinturas e esculturas produzidas entre 1999 e 2011 revelam os questionamentos atuais de Antonio Dias, que se volta com força para as questões pictóricas do pigmento, do plano e da composição, afastando-se dos objetos, instalações e telas tridimensionais característicos de sua produção dos anos 60 e 70, a parte mais divulgada de sua obra para o público. “Antonio Dias – Potência da Pintura” é composta, majoritariamente, por obras como “Refém: John Wayne encontra Harum Al-Hashid”, de 2007, e “Fornalha”, de 2006, montagens de telas que se encaixam e sobrepõem, sobre as quais são aplicadas tinta vermelha e branca, cobre, ouro e malaquite, em formas e texturas particulares. Essas composições incorporam traços característicos na trajetória de Antonio Dias, como o retângulo incompleto e o vermelho puro, recorrentes em sua obra desde as fases iniciais. Separando a pintura em elementos, Antonio Dias revela novas possibilidades para a bidimensionalidade da tela – que, em sobreposição, adquire um caráter tridimensional – e para os pigmentos, que se contaminam, fundem e variam.

 

Além das telas, integram a exposição objetos criados em bronze e argila, também parte da investigação mais recente do artista. “Duas torres”, obra de 2002, é composta por peças de bronze moldadas a partir de pilhas de latas, que passam a falsa impressão de um precário equilíbrio, em referência ao ataque terrorista ocorrido em Nova York, em 11 de setembro do ano anterior. Já as pequenas moradias de “Quatro casas” e “O bem e o mal” – algumas em cerâmica, outras em bronze – coexistem lado a lado, com suas portas abertas e objetos em escalas irreais, todas sem teto, obrigando o espectador a olhar do alto, em direção ao chão. No ar, os “Satélites” – peças em bronze moldadas a partir de latas de queijo e penduradas por fios de nylon – puxam o olhar para cima. O humor de Antonio Dias vem personificado na obra “Seu marido”, um boneco amarelo e peludo, sentado no átrio da Fundação, aparentemente apático – até que desperta, treme por alguns instantes e volta à imobilidade inicial, em um retrato divertido e crítico do homem contemporâneo. O público terá a chance de conhecer, no átrio, 3º e 4º andares da Fundação, trabalhos pouco vistos deste importante artista brasileiro e presenciar os desdobramentos mais recentes de sua obra.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1944, o artista aprendeu com o avô os rudimentos do desenho e foi aluno de Oswaldo Goeldi. A partir de 65, viveu em Paris, Milão e Nova York e, em 1977, passou uma temporada na Índia e no Nepal, estudando técnicas de produção de papel artesanal. Desde 1988, vive na Alemanha, onde é professor.

 

 

A palavra do curador

 

Esta é uma exposição de obras recentes de Antonio Dias. O bom é viajar pelas telas e pelas outras obras, mas a primeira tentação é compreender “recentes” em um cerco cronológico, pela datação da obra e, a partir do momento atual, recuar relativamente pouco no tempo e marcar assim um período: “recente”, aquilo que data de pouco tempo, novo, fresco. Afinal de contas, é esse mesmo o sentido da palavra. Mas é na sua evidência que o “recente” sutilmente aprisiona o nosso olhar e lhe retira a liberdade. E, tampouco, está livre a obra mantida no interior das barreiras do tempo recente. É uma dupla prisão – do olhar e da obra – construída pela evidência primeira do sentido de um adjetivo – recente – que simplifica em demasia a ordem do tempo. O que quer dizer ser recente? Quer dizer feito há pouco tempo. Aqui, nos últimos quatorze anos. Mas será que o tempo, na obra, se reduz a esse tempo do relógio, da ampulheta ou mesmo do grego cronos? Não, na obra de arte o presente traz uma história e seus fantasmas, e se essa obra é uma aventura que se prolonga ao longo de mais de cinco décadas é, também, uma história de conflitos. O que temos diante de nossos olhos não é uma acumulação de trabalho, nem a acumulação de um patrimônio tal como o capital de um portfólio de aplicações nas bolsas de valores; o que temos é o resultado mais recente de uma luta simbólica entre a matéria e o pensamento que atravessou muitas brigas até chegar a esse ponto; esse é o trabalho do artista. Tampouco temos diante de nós um “resultado”. Estamos diante de momentos de um processo. Veio de antes e prosseguirá. Não se trata, absolutamente, de examinar a obra como processo, de como ela é realizada nos seus métodos do fazer do ateliê, mas como processo de construção de uma vida inteira dedicada à arte. É outro processo, não aquele dedicado a ficar na cozinha do ateliê e examinar os procedimentos do artista nas misturas das tintas, nas camadas e superfícies que se superpõem; estudos de pigmentos e macetes do artífice. O “recente” esconde esses muitos tempos que temos diante de nós; tempos de elaboração de ideias, de suas substituições e de suas lutas para se materializar visualmente.

 

Essa luta para que a potência da arte se afirme diante de nossos olhos é o que está presente aqui nesta exposição.

 

 

De 13 de março a 18 de maio.

Sebastião Salgado – Genesis

O renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado apresenta, na Usina do Gasômetro, Porto Alegre, RS, a exposição “Genesis”, que reúne 250 imagens realizadas ao longo de oito anos em viagens por lugares isolados do mundo. Com curadoria de Lélia Wanick Salgado, a mostra faz parte do 7º FestFoto – Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre.

 

 

Aula Magna

 

O projeto chega à capital gaúcha e conta com a presença do fotógrafo, que ministra na sexta, 14, uma Aula Magna, com entrada franca, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS.

 

 

 

Sobre o fotógrafo e a curadoria

 

 

Radicado na França, Sebastião Salgado trabalha com fotografias em preto e branco baseadas em temáticas sociais. O conhecido fotógrafo já conquistou inúmeros prêmios internacionais. “Genesis” retrata animais, tribos e paisagens clicadas em diferentes lugares do mundo, ao longo de 8 anos de viagens. A curadoria da exposição é da mulher do fotógrafo, Lélia Wanick Salgado. No evento, também será lançado o livro Genesis, editado pela editora alemã Taschen e a biografia “Da Minha Terra à Terra”, edição da Companhia das Letras. Sebastião Salgado tornou-se fotojornalista em 1973, profissão que seguiu desde então. Também estudou Economia na Universidade de São Paulo, USP, e escreveu sua tese sobre o assunto em 1969, na França. Formada em Arquitetura pela École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris e Urbanismo na Universidade de Paris VIII, Lélia também dedicou sua vida à fotografia. O casal vive na França. O fotógrafo receberá título de Cidadão de Porto Alegre e Lélia Wanick o Diploma de Honra ao Mérito.

 

 

A exposição divide-se em cinco núcleos geográficos:

 

Planeta Sul – Da Antártica e da Patagônia, há paisagens de geleiras e animais como pinguins, leões-marinhos e baleias. Outras fotos mostram a fauna e a flora das Ilhas Malvinas, Argentina, das Ilhas Diego Ramírez, Chile e das Ilhas Sandwich, território britânico, pertencente às ilhas da Geórgia do Sul.

 

 

Santuários – Paisagens vulcânicas e a fauna do arquipélago Galápagos, Equador, além de povos isolados e da vida selvagem na Nova Guiné, na Guiné Oeste, em Sumatra, ilha da Indonésia e na ilha de Madagascar.

 

 

África – Nos desertos da Namíbia e do Saara, lugares pouco visitados. Da vida selvagem, há os gorilas encontrados nas fronteiras de Ruanda, Congo e Uganda. Entre as tribos, estão os Himba da Namíbia, os Dinkas do Sudão e os Omo Sul da Etiópia, além de povos do Deserto Kalahari, em Botswana, e de ancestrais comunidades do norte da Etiópia.

 

 

Terras do Norte – Paisagens raras do Alasca, do Colorado, EUA, e do Parque e Reserva Nacional Kluane, Canadá. Há também cenas do extremo norte da Rússia, incluindo o local de reprodução do urso polar, na Ilha Wrangel, e a península de Kamchatka, na ponta mais oriental do país. O núcleo ainda mostra a população indígena Nenet do norte da Sibéria.

 

 

Amazônia e Pantanal – Na Floresta Amazônica, flagra povos indígenas como os Zo’e do Pará, que até os anos 1980 estavam isolados. Na Venezuela, apresenta o Tepui, as formações geológicas consideradas as mais antigas da Terra. E do Pantanal apresenta a vida selvagem.

 

 

Até 12 de maio.

 

Caleidoscópio da SIM galeria

A SIM galeria, Curitiba, Paraná, apresenta “Vertigo”, exposição de caráter coletivo com artistas de diversas origens (alguns estrangeiros) que lançam mão de materiais inusitados e linguagens múltiplas que perpassam da pintura ao vídeo. A exibição conta com nomes pontuais da cena contemporânea como Carmela Gross, Darren Almond, Eduardo Kac, Isao Hashimoto, Ivan Grilo, Jules Spinatsch, Katinka Pilscheur, Luiz Roque, Luiz Zerbini, Miguel Palma, Nuno Ramos, Odires Milászho e Semiconductor (Ruth Jarman e Joe Gerhardt).

 

 

 

 

A palavra da curadoria

 

 
A vertigem é sintoma de descompasso. Ocorre em curto circuito perceptivo quando, por exemplo, o feedback dos dados processados pelo cérebro diverge das sensações experimentadas pelos sentidos que orientam o corpo no espaço. O indivíduo, mareado, sente como se tudo ao seu redor estivesse a ponto de dissolver; a matéria, então, menos sólida parece ondular em um universo elástico.

 

No âmbito estético, a vertigem é frequentemente associada a situações em que representações ambíguas desafiam a interpretação do olhar. Imagens em que a reversibilidade entre figura e fundo pulsa, alternadamente, disputando a atenção em primeiro plano. Vertigo busca ampliar esta abordagem sugerindo também alegorias de ordem psicológica ou social para além da dinâmica fisiológica.

 

Testemunhamos uma era em que a humanidade está mergulhada no oceano polifônico de informações partilhadas em rede. A conexão com esta teia coletiva insere percepções de outros tempos e espaços no seio da vivência do agora.

 

Há tanto para ver, tanto para saber, tanto para digerir…

Tudo, ao mesmo tempo, dilatado por um caleidoscópio de possibilidades.

O vasto mosaico de expressões singulares é consequência da popularização dos meios técnicos que facilitam o acesso à representação. Após séculos em que somente a voz da elite ecoou no imaginário coletivo, finalmente a evolução tecnológica possibilitou aos demais indivíduos a chance de inscrever suas histórias pessoais na crônica social.

 

Por outro lado, a multiplicação excessiva de pontos de vista circulando indiscriminadamente pode nublar o discernimento subjetivo. O redemoinho de opiniões heterogêneas tem efeitos atordoantes; o acúmulo de diversas referências tende a se tornar indigesto. Paul Valéry alertou, ainda em 1923: “O ouvido não suportaria dez orquestras juntas. O espírito não pode seguir muitas operações distintas, não há raciocínios simultâneos”.

 

O elenco de obras que compõem Vertigo não foi elaborado sob a obrigatoriedade de justificar a coerência do conjunto. Ao contrário, sua seleção é identificada pela noção de enumeração disjuntiva, pela qualidade da lista poética – aquela que não pretende representar integralmente a totalidade, mas sugere um horizonte de eventos abertos às associações flexíveis. Esse conjunto exprime o senso de fragmentação e a complexidade de uma sequência de impressões sem conexões rigorosas.

 

Há desde obras onde a ambiguidade visual incita jogos óticos vertiginosos, até proposições que tensionam os limites da representação, exibindo-a em escala análoga ao espaço físico real (trompe l’oeil). Há também um objeto feito com assemblage de relógios digitais cujos algarismos estão partidos ao meio, quebrando a linearidade da progressão temporal. /Retratos constituídos por milhares de números carimbados, marcando a quantidade de gestos necessários para traçar a figura. /Uma instalação que contabiliza quantas vezes a ganância de certos grupos humanos levou à eclosão de bombas atômicas. /Fotografias de flores transgênicas que contém o DNA do artista que as cultivou. /Gravações de sons captados acima da atmosfera terrestre decodificados em imagens gráficas. /Pintura feita por meio da retenção de gases tóxicos expelidos por um carro. /Cartografias celestes, mapeadas tanto a partir do polo norte quanto do polo sul, sobrepostas em lâminas transparentes, unindo paradoxalmente dimensões opostas no mesmo plano. /Desenhos que apresentam uma notação de escala em uma folha em branco dando margem à projeção mental de um espaço imaginado. /Um filme que mostra o simulacro de uma obra de arte reconhecida transportada a um contexto insólito. /…/

 

O micro universo desta exposição propõe uma narrativa aberta e não linear, articulada em linguagem visual. Orquestra experiências díspares, contrapondo proposições de natureza totalmente diversa. Alude à alguma coisa imensa, impossível de ser totalmente conhecida. Faz analogia à convivência cotidiana com pluralidades cada vez mais abundantes e o consequente sentimento de angústia vertiginosa gerado pela incapacidade de apreender o todo. Apoiado em breves epifanias estonteantes, o tema de Vertigo remete à perda de escala, à desorientação e ao gosto pelo excesso, tão característicos dos tempos turbulentos deste barroquismo tecnológico em que hoje vivemos.

 

Denise Gadelha

 

 

 

DE 13 de março a 19 de abril.

 

 

Artistas internacionais na Fundação Iberê Camargo

06/dez

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, exibe a exposição “ZERO”, uma compilação de obras originais e reconstituições de uma das mais importantes vanguardas do pós-guerra europeu. Iniciado em Dusseldorf no final da década de 50 pelos alemães Heinz Mack e Otto Piene – a quem posteriormente se juntou Günther Uecker –, o movimento “ZERO” promoveu uma ruptura com o expressionismo abstrato e o tachismo em voga, utilizando em suas obras vibração, luz e sombra, monocromia, movimento mecânico e deslocamentos rítmicos. A mostra busca estabelecer um diálogo entre o trabalho do grupo de Mack, Piene e Uecker e o de artistas de outras partes do mundo, cujas aproximações nem sempre se deram de forma consciente – a exemplo dos quadros Branco/Preto de Hércules Barsotti; de Bicho – Relógio de Sol, de Lygia Clark e de Progressão e Sequência Vertical S-30, de Abraham Palatnik. Almir Mavignier, único brasileiro que participou ativamente do movimento, ganha a reconstrução de seu painel de cartazes Forma. Por outro lado, a exposição traz nomes que influenciaram o pensamento de ZERO, como o de Yves Klein com sua pintura monocromática azul e dos Conceitos Espaciais de Lucio Fontana.

 

O trabalho com a luz de Heinz Mack aparece na réplica da estrutura de espelhos em movimento Interferências – Movimentos integrantes de um espaço virtual e na original Vibração da luz, bem como no óleo sobre tela Estrutura dinâmica branco sobre cinza. Já Otto Piene faz a luz dançar com as instalações Balé de Luz, Sonâmbulo e Cilindro de Luz e duas telas, o óleo Luz em agosto e a pintura de fumaça Pintura a fumaça sobre vermelho / 1 volume. Os pregos, matéria-prima de Uecker, aparecem em Pintura branca, que, junto com o Objeto de cabides 1 e a reconstrução de sua Chuva de luz de 66, dão prova do talento e inventividade do artista da Alemanha Oriental.

 

Destaca-se também Hans Haacke, com a reconstrução de Pequena vela, tecido suspenso sobre ventilador, e com sua Escala grande de água. As pinturas móveis de Jean Tinguely e as grandes esculturas de espelhos de Christian Megert estabelecem um paralelo com a ambientação Espaço Elástico de Gianni Colombo, composta por feixes de elásticos movimentados eletromecanicamente. Já Corpo de ar, conjunto de balão, suporte e máquina pneumática, e Linha – trechos de uma linha infinita traçada pelo artista – são uma pequena amostra do trabalho conceitual de Piero Manzoni.

 

Não apenas uma exposição histórica, ZERO é uma experiência fortemente sensorial, que mostra, no segundo e terceiro andares do espaço expositivo da Fundação Iberê Camargo, a atualidade do pensamento de grandes nomes das décadas de 1950 e 1960. Com curadoria da historiadora de arte Heike van den Valentyn, a exposição é uma realização da Fundação com o Museu Oscar Niemeyer de Curitiba e a Pinacoteca do Estado de São Paulo e conta com a parceria do Goethe-Institut e o apoio do Ministério NRW e Pro Helvetia.

 

 

Até 04 de março de 2014.

 

Em Curitiba, na SIM galeria

22/nov

O pintor Paolo Ridolfi exibe uma série de obras inéditas na SIM Galeria, Curitiba, PR. Essa nova série de trabalhos foi designada pelo artista como “Pintura ao Quadrado” e ganhou apresentação assinada pelo crítico Fernando Cocchiarale.

 

 

 

A palavra de Fernando Cocchiarale

 

 

As pinturas mais recentes de Paolo Ridolfi, aqui expostas, podem ser tomadas como um balanço poético de sua trajetória, iniciada na década de 1980. Neste balanço, porém, o artista não se contentou em reavaliar as conquistas visíveis daqueles trabalhos que lhe abriram novos caminhos. Ridolfi foi além e mergulhou em direção a uma camada profunda e menos evidente de seu processo criativo: aquela da articulação semântica de recorrências – cromáticas, espaciais, temáticas e intuitivo-conceituais, etc. – que em três décadas formaram um sentido comum, processual, subjacente à sua produção, desde o florescimento inicial até o presente. Dentre as diversas séries de pinturas expostas algumas dão continuidade a experiências anteriores. Este não é o caso de suas Pinturas Vazias. Novas, estas pinturas são a melhor expressão da radicalidade do mergulho dado por Ridolfi. As Pinturas Vazias não são, porém, planos simples. Formadas por paralelepípedos montados e costurados com a mesma lona de suas telas, elas estão pintadas por camadas monocromáticas de tinta acrílica que ratificam seu status pictórico apesar de sua tridimensionalidade flácida.Mais próximos dos temas da própria arte as Pinturas Vazias de Paolo Ridolfi parecem corresponder ao anseio do artista manifesto em seu depoimento – voltar ao primeiro assunto: apenas a arte.

 

 

 

De 26 de novembro a 21 de dezembro.

 

Em Curitiba: Alex Flemming e Clif

19/nov

Com o tema “Território estrangeiro”, o Curitiba Luz Imagem e Fotografia (Clif), Curitiba, PR, começa hoje, na capital paranaense, com uma programação que inclui exposições, palestras, oficinas e sessões de cinema, com curadoria do artista visual Tom Lisboa. A coletiva “Território Estrangeiro”, no Museu Municipal de Arte (MuMa) – Portão Cultural,  abre a programação e reúne nomes importantes da fotografia e das artes visuais, como Juliane Fuganti, Tony Camargo, Vilma Slomp, Rosangela Renó, entre outros.

 

O artista visual Alex Flemming, que também ministrará uma das palestras no Museu Niemeyer, veio da Alemanha especialmente para duas exposições no Brasil, entre elas, a que acontece em Curitiba. “Ele é uma das estrelas do evento”, diz o idealizador do Clif, Guilherme Zawa, que realiza a ação em Curitiba desde 2011.

 

Os trabalhos de Flemming integram importantes coleções de museus no Brasil e no mundo, como o MASP, São Paulo, o Museu Nacional e Belas Artes, Rio de Janeiro, e o Museu de Arte da América Latina, em Washington. No MuMa, estarão expostas obras de uma de suas séries mais famosas, Body Builders (2001-2002), quando o artista fotografou corpos jovens e esbeltos e desenhou em cima das imagens mapas de áreas de conflitos e guerras.

 

Na programação, Zawa destaca ainda a palestra com Eder Chiodetto, um dos maiores curadores de fotografia do país, e a oficina de construção de câmeras digitais artesanais, com Guilherme Maranhão. Pela Rua XV de Novembro, os fotógrafos do coletivo “O Estendal” levarão imagens da série “Paisagem Alterada”, impressas em papel de algodão. As obras, que estarão à disposição do público a partir de amanhã, poderão sofrer intervenções das pessoas. No final do Clif, no sábado, 23, acontece também o “Foto Escambo”, projeto idealizado por Hans Georg, no qual fotógrafos e amadores trocam, sem a necessidade de dinheiro, imagens expostas e sem identificação do autor. “No meio das imagens, têm fotos valiosas que são dadas de bom grado pelos artistas. Também é um momento imprescindível para o fotógrafo que quer tirar um trabalho da gaveta”, diz Zawa.

 

 

Ideia

 

O curador do Clif, Tom Lisboa, conta que a escolha do tema “território estrangeiro” (um recorte para falar sobre as outras áreas que “invadem” a fotografia) foi bastante particular. “Quando fui convidado para fazer a curadoria, o Guilherme Zawa me pediu para dar um enfoque muito pessoal à mostra. Toda minha produção mescla a fotografia com outras áreas, tais como a literatura, o vídeo, a pintura, o cinema, a intervenção urbana e a internet”, diz. Lisboa conta que o projeto coincidiu com a leitura do livro Cidade Polifônica, do antropólogo italiano Massimo Canevacci. “Nele, ele afirma que compreendeu o que é ser italiano quando se sentiu perdido em um território estrangeiro, no caso o Brasil. A partir dessa vivência, eu desenhei o que seria o território estrangeiro do Clif. A fotografia deveria aparecer diluída, mas, ao mesmo tempo, afirmando sua identidade perante os outros meios”, define Lisboa.

 

Até 15 de dezembro.

Multiarte: Fortaleza exibe Tomie Ohtake

06/nov

No próximo dia 21 de novembro, Tomie Ohtake completará 100 anos. A Galeria Multiarte (leia-se Max Perlingeiro), Aldeota, Fortaleza, CE, foi convidada por Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake, a integrar o conjunto de instituições e galerias em torno desta grande homenagem a Tomie apresentando obras recentes da artista. Convém assinalar que a ligação afetiva de Tomie Ohtake com Fortaleza data dos anos 1990. Nesta ocasião a artista visitou a cidade e lá fez bons amigos e voltando com regularidade.

 

A presente exposição apresenta um conjunto de obras da sua última produção datada de 2013. São pinturas monocromáticas que mostram a grande capacidade da artista em busca da criação. Entretanto o seu processo criativo, gesto e cor continuam de forma marcante. Nove gravuras em metal de grandes dimensões, constituindo um conjunto raro de uma série praticamente esgotada. E uma escultura de grande formato.

 

 

Sobre a artista: palavras de Agnaldo Farias

 

“Tomie Ohtake, como sempre perseverando na busca da depuração, preparou ao longo dos últimos meses de trabalho contínuo, filtrado por sua costumeira insatisfação, três conjuntos de telas, cada um deles focados numa única cor, ou quase isso. Dois grupos compostos por cores primárias – amarelo e azul -, e o terceiro por uma cor secundária, verde, resultante da soma das outras duas. Os três conjuntos são praticamente monocromáticos, a exceção corre por conta da presença, em algumas das telas verdes e azuis, do vermelho, ou seja, da terceira cor primária. A inclinação imediata é dizer que o vermelho entra de forma discreta, como se ele fosse capaz disto. Pois não é, ainda mais tendo por fundo cores tão intensas, como o azul e o verde empregado pela artista. Qualquer aprendiz sabe que o simples contato entre cores primárias e secundárias, por adjacência ou, pior ainda, sobreposição, é conflitivo. Embora cada conjunto apresentado nesta exposição concentre-se numa cor, todos três têm como denominador comum o mesmo gesto, isto é, a mesma pincelada curta e circular, cuja justaposição e sobreposição combinadas produz o mesmo efeito, a mesma atmosfera cromática arejada como um tecido cuja trama é mais ou menos densa mas sempre esgarçada, deixando ver, ou melhor, atraindo o olhar para dentro de si, convidando-o a mergulhar em suas profundezas, flutuar nas formas enunciadas, devolver-se à luz exterior que incide sobre ela, sobre a porções de branco que lhes constitui. Esses gestos não são guiados pelo acaso, não se justificam pelo puro prazer de existir, como uma ação sem finalidade que se completa em si mesma…”

 

 

A palavra de Ricardo Ohtake

 

“Essas obras são marcadas por texturas resultantes de rápidas pinceladas, cujas curvas remetem à geometria característica de Tomie. São “pinturas para ver”, segundo o crítico Agnaldo Farias, em referência ao cuidadoso e aprofundado olhar que esses trabalhos exigem. Contemplar a exposição torna-se, então, um processo de descoberta e imersão no gesto construtivo da artista”.

 

 

Atividade complementar

 

Como atividade complementar a Multiarte convidou o crítico de arte Agnaldo Farias, curador do Instituto Tomie Ohtake, para proferir uma palestra sobre a produção atual da artista, dia o2 de dezembro às 19h.

 

De 07 de novembro  20 de dezembro.