Exposição e livro de Gonçalo Ivo

14/ago

A Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, abrirá para o público no dia 19 de agosto a exposição “Gonçalo Ivo – Zeitgeist”, com 79 pinturas criadas pelo artista nos últimos cinco anos, das séries “Le jeu des perles de verre” (“Jogos de contas de vidro”), “Cosmogonias”, “Cardboards” e “L’inventaire des pierres solitaires” (“Inventário das pedras solitárias”). A exposição permanecerá em exibição até 28 de setembro.

Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, presidente do Conselho do Museu de Arte do Rio, amigo do artista, e que acompanha seu trabalho há mais de trinta anos responderá pela curadoria. A quase totalidade dos trabalhos é inédita, e apenas cinco deles estiveram na exposição homônima realizada no Paço Imperial, em abril de 2022, que teve 26 obras selecionadas pelo mesmo curador.

Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho destaca que Gonçalo Ivo “é considerado um dos maiores coloristas contemporâneos do país”. O artista nasceu no Rio de Janeiro, em 15 de agosto de 1958, e se divide entre seus ateliês na serra de Teresópolis, no Rio de Janeiro, em Paris e em Madri. O termo Zeitgeist significa “espírito de tempo”, e foi usado inicialmente pelo filósofo e escritor alemão Johann Gottfried von Herder (1744-1803). Será exibido o filme “Gonçalo Ivo – uma biografia da cor” (2024, 28’), dirigido por Katia Maciel, com fotografia de Daniel Venosa, feito especialmente para a mostra.

A exposição será acompanhada do livro “Gonçalo Ivo – Zeitgeist” (Edições Pinakotheke), bilíngüe (port/ingl), com 328 páginas, em formato 21 x 27cm. A organização é de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, apresentação de Max Perlingeiro, e textos de Tomás Paredes, Nicholas Fox Weber, diretor-executivo da Josef & Anni Albers Foundation, Lêdo Ivo (1924-2012) e Nélida Piñon (1934-2022) – que fez sua última visita ao ateliê do artista em Teresópolis em maio de 2022 -, e um poema visual inédito de Luciano Figueiredo, criado especialmente para a publicação. O livro contém ainda uma detalhada cronologia do artista, e a mais longa entrevista concedida por ele, dada a Luiz Chrysostomo, “iniciada em janeiro de 2022, enquanto Gonçalo estava em suas residências-ateliê de Madri e Paris”, e finalizada “numa manhã ensolarada, no início do outono de 2023, no Museu Isamu Noguchi, em Nova York”.

Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho afirma que a exposição e o livro refletem “as inquietações do artista nos últimos cinco anos, vindo de uma sequência de vivências intensas, descobertas e afetos”. “Manifesta um profundo desejo de partilhar uma longeva trajetória de arte, marcada por percepções corajosas e fragmentadas de nossa contemporaneidade. Lidar com a não linearidade que a vida nos impõe e os espantos decorrentes dela, como bem disse o poeta Gullar, revela que a persistência é uma característica diferenciada da construção humana. Insistir, rever ou retornar não são contradições, mas ações que nos permitem existir e revelar um outro lado possível”, diz. O curador enfatiza que suas séries de trabalho “falam do tempo como tema central, buscam dar conta de um presente mutante, desobstruem uma voz interna que estava por vezes emudecida”. Outros aspectos do artista assinalados por Luiz Chrysostomo são “a facilidade com que navega e deglute manifestações do românico ao barroco espanhol, de culturas africanas ancestrais ao modernismo europeu”, e que se “confunde com o domínio técnico com que manipula pigmentos, têmperas e óleos”.

Max Perlingeiro, diretor da Pinakotheke Cultural, destaca que o público vai se surpreender com a exposição. “Além de trabalhar as cores como ninguém, ele está em constante mutação, como pode ser visto nessas três séries novas que surgiram em 2018”. Ele conta que a ideia do livro e da exposição surgiram ao ver a pintura “Cosmogonia – Melancolia, para Giacomo Leopardi e Francisco de Goya” (2021), na montagem da exposição no Paço Imperial, acompanhado por Luiz Chrysostomo: “Tive a certeza de que iria entrar nesse universo mágico da produção do seu novo livro. E que livro!”.

Programação infantil

Nos sábados, dias 31 de agosto e 14 de setembro, às 11h, haverá oficinas para as crianças, coordenadas pela equipe do educativo da Pinakotheke Cultural, a partir da exposição de Gonçalo Ivo. No primeiro sábado, a atividade será “Colagens Fantásticas: Transforme Papelão em Arte”, inspirada na série “Cardboard”. Em 14 de setembro, a oficina “Galáxias de Arte: Pinturas Mágicas das Cosmogonias” vai propor ao público infantil fazer pinturas, partindo das obras da série “Cosmogonia”. A entrada é gratuita, e a classificação é livre.

Vinicius Gerheim n’A Gentil Carioca São Paulo

A Gentil Carioca anuncia “Tororó”, a primeira exposição de Vinicius Gerheim n’A Gentil Carioca São Paulo. O texto crítico é assinado por Felipe Molitor, que observa: “Tororó apresenta um conjunto pujante de paisagens que vacilam entre cenários interiores e exteriores, onde mesmo as figuras mais evidentes são fugidias o suficiente para se libertarem em uma enxurrada de abstrações. Como se fossem reminiscências, os parcos registros de um quarto, sala, cozinha, quintal se misturam a jardins, matagais, céus ou riachos – uma confusão típica da fantasia dos sonhos. A dimensão onírica também pode fazer referência às imagens fugazes da memória, afinal, recordar lugares e momentos do passado envolve uma boa dose de imaginação.”

As obras, inéditas, despertam os sentidos com suas camadas de tinta ricas em cor e textura. Elas constroem perspectivas variadas, criando uma espacialidade única que transcende o racional. Os elementos emergem conforme as demandas da própria pintura, adaptando-se às formas e cores: um trovão pode se transformar em um galho, uma flor em uma boca, um galho em uma cobra, uma folha em um pássaro…

O artista ainda ressalta a beleza que surge da repetição e sobreposição de formas e cores nas telas: “É algo que exige muita paciência, dedicação, disciplina e uma certa energia atlética, pois é necessário repetir o processo várias vezes, aproveitando a camada de baixo enquanto ainda está ligeiramente molhada, sem perder o timing das outras camadas. Acho que tudo isso enriquece o processo.”

A individual ficará aberta à visitação até o dia 21 de setembro.

Viagem Pitoresca pelo Brasil

13/ago

Nara Roesler São Paulo apresentará, a partir do dia 17 de agosto, a exposição “Viagem Pitoresca pelo Brasil”, com dezenove fotografias em grande formato, recentes e inéditas, de Cássio Vasconcellos, produzidas nos últimos três anos, em que faz uma homenagem às florestas brasileiras, resultado de incursões pelos vestígios de mata atlântica em São Paulo, Paraná, e Rio de Janeiro. Em cartaz até 12 de outubro.

No salão com pé direito duplo, um painel curvo, com doze metros de extensão por três de altura, com a imagem de uma figueira da mata gaúcha, dará um caráter imersivo para o público. A curadoria é de Ana Maria Belluzzo, crítica e pesquisadora, professora titular de Historia da Arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo. O evento integra o Circuito Jardim Europa, que acontecerá neste dia.

Para produzir cada fotografia, muitas vezes o artista leva um dia inteiro de buscas pela luz e pelo ângulo perfeitos. As imagens são então trabalhadas digitalmente em várias etapas e camadas, até obter o resultado desejado. “Em uma representação que lembra muito os artistas viajantes, como Thomas Ender e Rugendas, Cássio faz um trabalho requintado, em que mesmo em fotos panorâmicas é possível identificar cada um dos elementos, em um naturismo e detalhismo tais que por instantes há a dúvida se é fotografia ou gravura”, observa o pesquisador e curador Theo Monteiro.

Na abertura, no dia 17 de agosto, será lançado o livro “Cássio Vasconcellos – Viagem Pitoresca pelo Brasil” (Fotô Editorial, 2024), com 192 páginas, formato 32 x 23,5cm, e textos da curadora e pesquisadora Ângela Berlinde, do historiador Julio Bandeira e do botânico Ricardo Cardim.

O título da exposição faz referência aos primeiros registros conhecidos das florestas brasileiras, iniciados pelo aristocrata e arqueólogo francês Conde de Clarac (1777-1847), com seu desenho “Floresta Virgem do Brasil”, gravado em metal por Claude François Fortier (1775-1835), em 1822, referência para os chamados “artistas viajantes” do século 19, integrantes da Missão Artística Francesa, como Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que ao voltar à França publicou “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil” (1834-1839).

O curador e pesquisador Theo Monteiro salienta que “é muito difícil fotografar mata fechada, e com o tratamento feito por Cássio ele consegue criar um tipo de representação que lembra muito o que os viajantes estrangeiros faziam – Clarac, Rugendas (1802-1858), Thomas Ender (1793-1875) – só que é fotografia”. “Com este tratamento muito requintado e elaborado, ficamos na dúvida por alguns instantes se é fotografia ou gravura, que é uma ideia da fotografia e da arte contemporânea: de que meio estamos falando? Até que ponto aquele meio é verídico ou não, se é real ou imaginário? Não é simplesmente uma releitura de um trabalho acadêmico. Tem um jeito de fazer um enquadramento no olhar que fica compreensível. Por mais panorâmico que seja o trabalho do Cássio, você consegue identificar cada um dos elementos. Tem um naturismo, um detalhismo. Não é simplesmente bater uma foto da mata”, afirma.

Cássio Vasconcellos ressalta: “Não tenho a preocupação de revisitar os locais feitos pelos artistas viajantes, e até nem seria possível, com a transformação havida na paisagem desde então”.

Para o público perceber este diálogo proposto pelo artista com os pintores viajantes, estarão na exposição reproduções em alta qualidade das obras “Fôret Vierge Du Brésil” (“Floresta Virgem do Brasil”),1822, buril, 68 x 87 cm, gravura em metal de Claude Francois Fortier a partir de desenho do Conde de Clarac; “Forêt Vierge (Le bords du Parahiba)” e “Valle da Serra do Mar” (“Chaine de Montagnes près de la Mer”), litografias de Charles Motte (1784-1836), a partir de desenhos de Jean-Baptiste Debret, presentes na edição de “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, Paris, Firmin Didot Frères, tomo I,1834.

Ana Maria Belluzzo, no texto que acompanha a exposição, destaca que “o artista apura valores inerentes à fotografia, acentua e transforma registros do real, que são interpretados com aplicação de recursos de edições digitais”. “A imagem ganha teor expressivo ao aparecer revestida de dimensões plásticas, gráficas, táteis”, observa. “Sob comando da escrita da luz, os raios luminosos emitidos pela vegetação chegam até nós. Vistas em contraluz introduzem o sujeito/observador no interior da mata. Em contrapartida, o desfoque do fundo das fotos e o aspecto turvo de entes vegetais, em destaque, tendem a recriar cenários enigmáticos, até fantásticos. Motivam sensações oníricas. A visão da natureza nos escapa. A irrealidade da paisagem também se insinua pela extrema limpidez de pormenores ampliados. Imagens nos transportam para um mundo fantástico, por vezes fantasmático”.

Cristina Canale na Casa Roberto Marinho

12/ago

Os 40 anos de carreira da artista plástica carioca Cristina Canale serão celebrados com exposição em dois tempos na Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ. O instituto cultural inaugura na próxima quinta-feira (15) duas exposições para marcar essas quatro décadas, “Dar forma ao mundo” e “Paisagem e memória”.

“Dar forma ao mundo” é uma retrospectiva da obra de Cristina Canale traduzida em 50 obras, com curadoria de Pollyana Quintella. Ela passeia pelas diferentes fases da artista e a arquitetura da Casa Roberto Marinho ajuda a conduzir a exposição.

O hall do primeiro andar marca o início e o fim da mostra. E as sete salas que se interligam de forma circular segmentam os diferentes períodos da pintura de Cristine Canale, evidenciando a transformação de sua arte.

“Nessa temporada, apresentamos a Cristina Canale curadora no térreo e, no primeiro andar, exibimos a sua obra. Ao percorrer o espaço expositivo veremos o quão fluidas, no seu caso, podem ser essas fronteiras nas paisagens do mundo criado por ela”, destaca o diretor do instituto, Lauro Cavalcanti.

Radicada há mais de 30 anos na Alemanha, a artista tem como marco inicial de sua carreira a exposição “Como vai você, Geração 80?”, realizada em 1984, no Parque Lage.

“O conjunto destas duas exposições mostra meu olhar dentro de um acervo brasileiro, que é a minha origem, e, paralelamente, o meu percurso de 40 anos como artista plástica. São dois conjuntos de sensibilidades, com comunicações e pontes entre eles. Foi uma experiência muito rica ver esse diálogo”, avalia Cristine Canale,

Em exibição até 17 de novembro.

Leda Catunda e a Paisagem selvagem

09/ago

A Fortes D’Aloia & Gabriel apresenta até 05 de outubro, “Paisagem selvagem”, a nova mostra de Leda Catunda na Carpintaria, que marca o retorno da artista ao Rio de Janeiro uma década após sua última exposição individual na cidade, no Museu de Arte Moderna. Os trabalhos apresentados mostram uma inflexão barroca na sua pesquisa, onde o acúmulo de elementos têxteis e citações imagéticas que caracteriza sua obra é intensificado por uma multiplicação de procedimentos e ornamentos e pela proliferação de formas de língua, saliências, barrigas estofadas e abas de tecido de todas as cores. Refletindo sobre o fluxo de estímulos visuais e digitais, Leda Catunda se debruça sobre nossa exposição incessante aos ícones, signos e emblemas da cultura de massas.

Acrescentando uma gama de referências paisagísticas a essa dimensão tipicamente contemporânea, a artista abre caminho para uma paradoxal junção de natureza e artifício, desierarquizando pretensões de gosto e registros altos e baixos num processo onívoro e voraz. Nesses híbridos de pintura e objeto, motivos históricos como o santo católico em São Tomás (2024) convivem com as logomarcas e gráficos ready-made de um trabalho como Paisagem selvagem II (2024). Em Cinema (2024), estampas de camisetas com imagens de filmes cult, como “Lolita” ou “De volta para o futuro” formam a superfície de um volume almofadado, numa compilação de referências reunidas pela artista que entrelaça o lado afetivo da memória com os objetos e produtos da indústria cultural.

A produção de formas curvas, serpentinadas, enrugadas, enroladas, dobradas, acumuladas, antitéticas e labirínticas alcança o volume máximo em “Paisagem selvagem II”, citada acima, e “Caprichosa” (2024), onde toda essa cornucópia visual se dispõe em um tableau de cenas fragmentárias. Nestas obras a tendência maximalista e cumulativa deste corpo de trabalho se condensa de maneira enfática.

Desde sua última mostra individual no ICA Milano, em 2023 na Itália, a ênfase de Leda Catunda sobre o drapeado, o caimento, a costura e a estamparia fazem da indumentária, da silhueta e da fisionomia humanas material de composição plástica e conceitual, principalmente em trabalhos como “Sete saias” (2024).

“O excesso de imagens em tudo que nos cerca gera uma forte ilusão de velocidade. Seja no âmbito virtual, na internet, ou real nas irriquietas superfícies que revestem as cidades, nas ruas, edifícios ou mesmo nas roupas das pessoas, essa visualidade pungente parece provocar a sensação de um encurtamento do tempo. Assim nos tornarmos ansiosos do porvir, de um futuro que nos surpreenda mesmo sem que tenhamos podido optar, escolher. Nessa nova realidade nada acontece, tudo flui. E, desta maneira a vida segue o fluxo louco dos acontecimentos repentinos. A adaptação implica noutra sorte de raciocínio, numa modificação do sistema associativo para reencontrar capacidade de leitura deste novo real e assegurar espaço para novas ideias e novos destinos.” – Leda Catunda

A exposição é acompanhada por um ensaio crítico de Carlos Eduardo Riccioppo, Professor Doutor do Departamento de Artes da Universidade Estadual Paulista – Unesp.

Edições 10 e 11 da Casa Tato

06/ago

A Galeria Tato, Barra Funda, São Paulo, SP, apresenta o “Ciclo Expositivo 10 e 11”, mostra que reúne cerca de 30 obras de 28 artistas participantes de duas edições da Casa Tato, programa principal da galeria, que trabalha a inclusão de artistas promissores no sistema da arte. A abertura ocorre em sua sede, na Barra Funda, o circuito efervescente de arte na capital paulista. A curadoria é de Sylvia Werneck e Claudinei Roberto da Silva, com assistência de Maria Eduarda Mota. Em exibição até 28 de agosto.

Nessa exposição, os artistas participantes das edições 10 e 11 da Casa Tato se encontram no meio do caminho. O primeiro grupo conclui seu ciclo de acompanhamento, enquanto o segundo o inicia. São eles, respectivamente:

Adriana Nataloni, Anna Vasquez, Bianca Lionheart, Desirée Hirtenkauf, Edu Devens, Gela Borges, Glenn Collard, Isabel Marroni, Janice Ito, Jaqueline Pauletti, Marcelus Freschet, Marina Marini Mariotto Belotto, Neto Maia, Tomaz Favilla.

Catia Goffinet, Chalirub, Christian Sendelbach, Fause Haten, Genô Ribeiro, Izidorio Cavalcanti, Leandersson, Mariana Serafim, Mariane Chicarino, Melina Cohen Rubin, Otavio Veiga, Paulo Troya, Silvana Archillia e Simone Freitas.

Panmela Castro no MAR

Panmela Castro abre exposição individual no Museu de Arte do Rio. Pela primeira vez, a artista apresentará exposição totalmente participativa, que se inicia em processo e, através de performances e ações, será construída com o público. A exposição “Ideias radicais sobre o amor”, da carioca Panmela Castro, será inaugurada no dia 09 de agosto. Com mais de 20 anos de trajetória, a artista apresentará uma exposição tendo como fio condutor a ideia da psicologia que fala sobre a necessidade de pertencimento como impulso vital dos seres humanos. Com curadoria de Daniela Labra e assistência curatorial de Maybel Sulamita, serão apresentadas 17 obras, sendo 10 inéditas, entre performances, fotografias, pinturas, esculturas e vídeos, que exploram questões como afetividade, solidão, visibilidade, empoderamento, autocuidado e memórias.

“Essa individual de Panmela Castro permite ao público conhecer muitas facetas de sua linguagem interdisciplinar. Seu trabalho navega por diferentes mídias e suportes de um modo único, reunindo questões estéticas, afetivas e ativistas em uma obra que é fundamentalmente performática e processual. A exposição no MAR traz obras inéditas e versões de outras já existentes, formando um ambiente lúdico, instigante e transformador”, afirma a curadora Daniela Labra.

A exposição irá se construir através de performances, ações e participações do público, que acontecerão ao longo do período da mostra. “Todas as obras de alguma forma precisam do outro para existir ou se completar, é uma exposição que começa em construção”, ressalta Panmela Castro. A exposição será inaugurada com três telas em branco da série “Vigília no Museu”, que serão pintadas quando o museu estiver fechado ao público. Em forma de vigílias dentro do MAR durante a noite, a artista se encontrará com pessoas para retratá-las. Um conjunto com 50 fotografias com registros da série “Vigília” também fará parte da mostra.

A exposição conta, ainda, com obras inéditas nas quais o público é convidado a participar. Na obra “Chá das Cinco”, por exemplo, o público é convidado a tomar um chá e compartilhar conselhos com outros visitantes da exposição através de bilhetes deixados debaixo do pires. Já em “Vestido Siamês”, duas pessoas poderão vestir, ao mesmo tempo, um grande vestido rosa feito em filó. Além disso, o público será convidado a trazer batons para a obra “Coleção de Batons” e objetos para deixar em um casulo, que serão transformados em esculturas pela artista. Esses objetos, que podem trazer memórias boas ou ruins, serão ressignificados e eternizados pela arte.

Inspirada nos tradicionais jogos arcade (fliperama), a obra “Luta no Museu” será um jogo para o público, no qual os lutadores são os artistas Allan Weber, Anarkia Boladona, Elian Almeida, Priscila Rooxo, Vivian Caccuri e Rafa Bqueer. Os cenários retratados são o Museu de Arte do Rio, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. A artista propõe o jogo como uma brincadeira de luta entre artistas, onde o vencedor expõe sua obra no museu. Completando as obras inéditas, estará o vídeo “Stories”, uma coleção de pequenos vídeos publicados no Instagram da artista (@panmelacastro), que convidam o público a fazer parte das diferentes situações de sua vida e de seu processo artístico.

Além dos trabalhos inéditos, obras icônicas da artista também farão parte da exposição, como “Biscoito da sorte” (2021), que traz os tradicionais biscoitos japoneses com mensagens feministas criadas pela artista; “Bíblia feminista” (2021), na qual o público poderá escrever ideias que guiem a emancipação e a luta por direitos das mulheres cis e trans, e “Consagrada” (2021), fotoperformance na qual a artista aparece com o peito rasgado com esta escarificação, fazendo uma crítica à forma como o mercado de arte elege seus personagens.

“Não surpreende que Panmela hoje seja respeitada internacionalmente, tanto pela inventividade de sua arte quanto pela postura em relação a assuntos como violência de gênero de diversos tipos. Esse tema há anos a estimula a criar ações artísticas, pinturas, objetos e também desenvolver um trabalho de cunho pedagógico e político através de sua organização que usa as artes para promover direitos, principalmente o enfrentamento à violência doméstica, a Rede NAMI”, diz a curadora Daniela Labra.

Completam a mostra, quatro performances que a artista fará ao longo do período da exposição. No dia 17 de agosto, será realizada “Culto contra os embustes” (2020), um ritual onde a autoestima e a energia vital são usadas para afastar indivíduos malévolos da vida de cada participante. No dia 28 de setembro, será a vez de “Honra ao mérito” (2023), realizada na I Bienal das Amazônias, que aborda a falta de reconhecimento das mulheres e propõe uma cerimônia onde medalhas são concedidas ao público feminino, como forma de valorizar seus talentos e ações dignas de destaque. “É uma reparação histórica”, afirma Panmela Castro. No dia 05 de outubro, será a vez da performance inédita “Revanche” (2019), na qual a artista confronta as imposições do feminino compulsório, convidando o público a apreciar o momento de um acerto de contas com o urso de 4 metros de altura que estará na mostra. Já no dia 12 de outubro, será realizada “Ruptura” (2015), na qual a artista se desfaz de uma espécie de “caricatura da feminilidade”, abrindo espaço para discussões mais amplas sobre gênero e alteridade. Todas as obras de performances serão registradas e terão seus vídeos exibidos na exposição.

Até 24 de novembro.

Sobre a artista

Panmela Castro vive e trabalha no Rio de Janeiro e em São Paulo. Artista visual cuja prática artística é movida por relações de afeto e alteridade. Com base na ideia de “Deriva Afetiva”, ela propõe o acaso como o sujeito de uma busca incessante por um sentido de pertencimento. A partir do pensamento da performance, a sua produção artística converge em trabalhos que permeiam a pintura, a escultura, a instalação, o vídeo e a fotografia. Panmela Castro é graduada em pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2007), possui mestrado em Processos Artísticos Contemporâneos pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2011) e é pós-graduada em Direitos Humanos, Responsabilidade e Cidadania Global na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2023). Seu trabalho faz parte de coleções internacionais, incluindo o Stedelijk Museum e o ICA Miami, assim como importantes coleções no Brasil, como o Instituto Inhotim, MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Nacional de Belas Artes e Museu de Arte do Rio. Ativista social e protagonista da quarta onda feminista, segundo Heloisa Buarque de Holanda no seu livro “Explosão Feminista”, Panmela Castro é fundadora da organização sem fins lucrativos Rede NAMI. Desenvolve um trabalho de base na promoção dos direitos das mulheres e de enfrentamento à violência doméstica, tendo atingido mais de 200.000 pessoas na última década. Por seus esforços na área de direitos humanos, ela recebeu inúmeros prêmios, incluindo ser nomeada Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial, o DVF Awards, e estar listada pela prestigiada revista americana Newsweek como uma das 150 mulheres corajosas que estão mudando o mundo.

Sobre o Museu de Arte do Rio

O MAR é um museu da Prefeitura do Rio e a sua concepção é fruto de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e a Fundação Roberto Marinho. Em janeiro de 2021, o Museu de Arte do Rio passou a ser gerido pela Organização de Estados Ibero-americanos (OEI) que, em cooperação com a Secretaria Municipal de Cultura, tem apoiado as programações expositivas e educativas do MAR por meio da realização de um conjunto amplo de atividades. A OEI é um organismo internacional de cooperação que tem na cultura, na educação e na ciência os seus mandatos institucionais. “O Museu de Arte do Rio, para a OEI, representa um espaço de fortalecimento do acesso à cultura, ao ensino e à pluralidade intimamente relacionado com o território ao qual está inserido. Além de contribuir para a formação nas artes e na educação, tendo no Rio de Janeiro, com sua história e suas expressões, a matéria-prima para o nosso trabalho”, comenta Leonardo Barchini, diretor da OEI no Brasil. Em 2024, a OEI e o Instituto Arte Cidadania (IAC) celebraram a parceria com o intuito de fortalecer as ações desenvolvidas no museu, conjugando esforços e revigorando o impacto cultural e educativo do MAR, a partir de quando o IAC passa a auxiliar na correalização da programação. O MAR tem o Instituto Cultural Vale como mantenedor, a Equinor e a Globo como patrocinadores master e o Itaú Unibanco como patrocinador. São os parceiros de mídia do MAR: a Globo e o Canal Curta. A Machado Meyer Advogados e a Wilson Sons também apoiam o MAR. O MAR conta ainda com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, do Ministério da Cultura e do Governo Federal do Brasil, também via Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Nova representação

05/ago

A Simões de Assis anuncia a representação de Manfredo de Souzanetto. Sua poética singular é pioneira. Desde a década de 1980 o artista utiliza pigmentos naturais extraídos das terras de Minas Gerais em um movimento de ativismo ecológico, tornando a terra, na condição de pigmento, matéria do seu trabalho. A produção de Manfredo de Souzanetto transita entre os planos bidimensional e o tridimensional na criação de relevos orgânicos, em que as formas criadas pelas cores estão diretamente relacionadas com os formatos das telas.

Sobre o artista

Manfredo de Souzanetto nasceu em Jacinto, MG, 1947. Possui obras em importantes instituições como Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil; Museu de Arte Brasileira FAAP, São Paulo, Brasil; MAC-USP, São Paulo, Brasil; Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, Brasil; MAM-Rio, Brasil; IMS-Rio, Brasil; MAC-Niterói, Brasil; Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil; Musée de l’Abbaye Sainte-Croix, Les Sables d’Olonne, França; Fond National d’Art Contemporain, França; Coleção Statoil, Stavanger, Noruega; Museu de Arte de Israel, Tel Aviv, Israel; e Brazilian American Cultural Center of Washington, EUA.

Nara Roesler SP exibe Julio Le Parc

Exposição Julio Le Parc: Couleurs, 50 obras recentes e inéditas do gênio da arte cinética estarão em exibição na Galeria Nara Roesler São Paulo, Jardins, SP, a partir do dia 08 de agosto.

Trata-se da exposição “Julio Le Parc: Couleurs” do grande mestre da arte cinética. Pinturas, desenhos, um móbile em grandes dimensões, com quatro metros de altura por três metros e meio de largura, e duas estruturas luminosas – em que a luz interage diretamente com as placas cromáticas, provocando um efeito luminoso vertical e ascendente – ocuparão dois andares da Nara Roesler São Paulo. Ativo aos 96 anos, o artista argentino radicado em Paris desde os anos 1950, deu à exposição um título em francês, que significa “Cores”.

Entre as obras, está um conjunto de treze pinturas da série “Alquimias”, criadas este ano que, vistas de longe parecem nuvens cromáticas que vibram, e de perto se percebem as mínimas partículas de cor presentes nas composições. Nesses trabalhos que têm tamanhos que variam de três metros a 1,5 metro, Julio Le Parc se debruça sobre o estudo da cor, suas diferentes paletas e os resultados obtidos a partir da interação entre elas. Sua paleta é constituída de catorze tonalidades, que vem utilizando desde 1959, e que vai desde tons mais quentes, como o vermelho e o laranja, até os mais frios, como o azul e o roxo. No entanto, nas “Alquimias”, as cores são reduzidas a pequenos fragmentos, como se fossem partículas, que se agrupam e se organizam de diferentes maneiras. Vistas de longe, o espectador tem a sensação de estar diante de nuvens cromáticas que vibram conforme as tonalidades se friccionam entre si, mas, de perto, ficam visíveis as partículas de cor presentes nas composições.

Outra série pictórica presente na mostra na qual Julio Le Parc coloca lado a lado faixas de cor que vão dos tons mais quentes aos mais frios, e que através de esquemas sinuosos as cores se intercalam, criando uma superfície dinâmica. São elas “Ondes 174” (2024), “Gamme 14 couleurs Variation 8” (1972/2024), “Gamme 14 couleurs Variation 7” (1972/2024) e “Théme 72-7” (1973/2023), todas elas em tinta acrílica sobre tela.

Obras tridimensionais de Julio Le Parc, uma de suas marcas de beleza e de experimentos cinéticos, estão também na exposição: “Mobile Color” (2024), com placas de acrílico colorido suspensas por fio de nylon, totalizando quase quatro metros de altura por 3,5m de largura, em que o artista propõe a mesma transição cromática nas séries de pinturas expostas; e as duas estruturas luminosas – “Continuellumière” (1960/2023) e “Continuellumière – verte” (1960/2023), ambas em madeira, acrílico, luz e folha colorida, que contém placas de acrílico coloridas com padrões geométricos. Uma vez acesas, a luz interage diretamente com as placas cromáticas, provocando um efeito luminoso vertical e ascendente.

Um conjunto de 27 desenhos feitos em técnica mista sobre papel, com 29x21cm cada um, chamados de “Proyectos para alquimia”, revela ao público o processo criativo e experimental de Julio Le Parc, nos estudos de cor feitos para suas pinturas da série “Alquimia”. O principal interesse poético de Julio Le Parc é o estudo do movimento, que ao longo de sua trajetória foi explorado das mais diversas maneiras: por meio de pinturas, experimentações com espelhos e outras superfícies reflexivas, instalações, motores e mesmo instalações mais ousadas, como o conjunto que realizou para a Bienal de Veneza de 1966 que, para incluir o espectador, transformou a instalação em um parque de diversões.

Até 19 de outubro.

Carmela Gross na Fundação Iberê Camargo

01/ago

Denominada de “Boca do Inferno”, série de monotipias produzidas por Carmela Gross no Ateliê de Gravura da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, entrará em exibição a partir do dia 10 de agosto. Destaque da 34ª Bienal de São Paulo, a obra composta por 160 imagens foi escolhida para a primeira exposição individual da artista na Fundação Iberê Camargo.

Entre 2017 e 2018, a artista colecionou diversas fotos de vulcões publicadas em jornais e livros. A partir dessas imagens, ela desenvolveu a visualidade de cada uma, utilizando operações digitais para ampliar, recortar e simplificar suas formas em manchas compactas em preto e branco. Isso serviu de base para um exercício diário de reprodução dessa visualidade por meio de desenhos a nanquim e lápis sobre papel.

Com esses esboços em mãos, em 2019, Carmela Gross escolheu o Ateliê de Gravura da Fundação Iberê Camargo para uma imersão de duas semanas nos processos gráficos da monotipia, com a colaboração do artista e impressor Eduardo Haesbaert. Durante esse período, desenvolveu centenas de trabalhos: manchas escuras de tinta que seriam impressas sobre papel e seda, remetendo à ideia de uma grande explosão. “As formas de vulcão têm uma concentração na forma e no gesto dela, do traço, que deixa aquilo pulsante, parecendo que vai explodir”, recorda Eduardo Haesbaert, que foi impressor de Iberê Camargo nos últimos quatro anos de vida e produção do pintor.

Esse processo no Ateliê de Gravura ainda estava em andamento quando os curadores da 34ª Bienal de São Paulo, Paulo Miyada e Jacopo Crivelli Visconti, convidaram a artista para expor os trabalhos na Bienal. “Cento e sessenta vezes, Carmela Gross repete esse ciclo. A cada vez, uma nova erupção, uma nova silhueta, uma nova densidade do pigmento. Cada uma não é necessariamente melhor ou pior que a anterior. Com o acúmulo do fazer, entretanto, o movimento se desvencilha da tendência ao triângulo escaleno, adquirida no desenho repetido dos vulcões. A mancha se torna mais e mais uma mancha, conforme a artista insiste em seu labor. De tanto ser mancha, entretanto, torna-se também pedregulho, meteorito, buraco, tumor”, escreveu Paulo Miyada.

Agora, Carmela Gross apresenta integralmente as monotipias da série. A obra evoca o desabafo e a crítica social feroz do poeta baiano Gregório de Matos, conhecido como “Boca do Inferno”, no século XVII. Portanto, “Boca do Inferno” representa o produto de um processo poético de apreensão e elaboração, remetendo às ideias de vulcão, explosão e impacto, gerando uma verdadeira erupção visual.

“As obras de Carmela Gross parecem ser um exercício premonitório dos tristes acontecimentos recentes em nossa região. Vulcões, em vez das águas que também nos trouxeram destruição, como um retrato em negativo”, destaca Emilio Kalil, diretor-superintendente da Fundação Iberê Camargo, que precisou rever o cronograma de exposições devido à tragédia climática no Rio Grande do Sul: “Boca do Inferno” estava prevista para início de junho, mas Porto Alegre ainda não estava pronta para abrir algumas de suas instituições, nem mesmo para receber visitantes. Tudo havia sido tomado pelas águas, como uma lava”.

A exposição ocupará o terceiro andar da Fundação Iberê Camargo até o dia 17 de novembro.