Os olhos, o espelho da alma

24/jul

Exposição de fotografias do colombiano David Matiz ocupam o Instituto Cervantes de São Paulo. Com mais de uma década de experiencia, David Matiz desenvolveu um estilo particular que combina a técnica fotográfica com uma narrativa visual única, focado especialmente em retratos. A inauguração acontece no dia 1º de agosto e a exposição estará aberta ao público até o dia 31 do mesmo mês.

Apaixonado por capturar a essência da alma através dos olhos, David Matiz criou uma série de retratos que refletem a profundidade e a emotividade de seus sujeitos. Esta exposição busca demonstrar como as expressões oculares podem revelar os verdadeiros sentimentos e pensamentos de uma pessoa. A metáfora poética de que “os olhos são o espelho da alma” foi uma inspiração central para ele, que utiliza sua lente para captar momentos que transcendem as palavras e as ações externas.

“Os olhos, o espelho da alma” convida os espectadores para uma experiência visual, concetando-se com as emoções e a essência interna das pessoas retratadas. Através de suas obras, David Matiz faz com que o público visitante se confronte com o olhar profundo dos sujeitos retratados, revelando uma verdade que só pode ser percebida através dos olhos. A exposição não só destaca o talento de David Matiz, mas também oferece uma oportunidade única para explorar a natureza humana sob uma perspectiva íntima e contemplativa.

Gustavo Malheiros no Museu Histórico Nacional

23/jul

A jornada de atletas olímpicos brasileiros rumo às Olimpíadas de Paris 2024 – marcadas pela histórica predominância feminina na delegação -, foram registradas pelo fotógrafo Gustavo Malheiros. O resultado poderá ser visto na mostra de fotografias em preto e branco “Olímpicos” no dia 20 de julho, no Museu Histórico Nacional, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Nessa ocasião será lançado o livro homônimo, pela Arte Ensaio Editora. Conhecido por sua longa trajetória dedicada a livros de arte autorais, além do seu trabalho no campo da moda e publicidade, este projeto teve início em novembro de 2023. A grande maioria das fotos, no entanto, foram feitas até maio de 2024. “Pegamos a estrada e nos aventuramos pelo país, documentando a vida de atletas de várias modalidades. Nossa missão era capturar não apenas a habilidade física, mas também o compromisso e a paixão que os movem. Testemunhamos sua busca pela excelência e o sonho de conquistar a medalha olímpica” afirma Gustavo Malheiros.

“Olímpicos” apresenta cerca de 35 imagens em preto e branco selecionadas do livro, além de uma sala de projeção com outros registros. Essas fotografias revelam uma visão íntima e poética do cotidiano dos atletas, destacando a força cultural de suas jornadas pessoais rumo a Paris. Com foco especial nas atletas femininas, que serão predominantes na delegação brasileira (algo nunca ocorrido antes), a mostra celebra a graça, a resiliência e a determinação destas mulheres extraordinárias. Entre os atletas e modalidades retratados, estão: Alice Gomes (Trampolim); Bia Ferreira (Boxe); Bárbara Seixas e Carol Solberg (Vôlei de Praia); Gabriela Roncatto (Natação); Gabriel Medina (Surfe); Giulia Penalber (Luta Livre); Guilherme Costa (Natação); Guilherme Schmidt (Judô); Ingrid Oliveira (Salto Ornamental); Isaac Souza (Salto Ornamental); Isabela Abreu (Pentlato Moderno); Jade Barbosa (Ginástica Artística); Lucas Verthein (Remo); Maria Clara Pacheco (Taekwondo); Pepe Gonçalves (Canoagem); Rayssa Leal (Skate); Tota Magalhães (Ciclismo de Estrada); Ygor Coelho (Badminton). E, na Ginástica Rítmica Brasil: Bárbara Galvão, Débora Barbosa, Gabriella Castilho, Giovanna Silva, Maria Eduarda Arakaki, Maria Fernanda Moraes, Mariana Gonçalves, Nicole Duarte, Sofia Pereira. Time Rugby Brasil: Aline Furtado, Bianca Silva, Chalia Costa, Luiza Campos, Mariana Da Silva, Marina Costa.

Sobre o livro “Olímpicos”

“Olímpicos” celebra os atletas olímpicos brasileiros, documentando sua preparação para os jogos de 2024. Este é o terceiro trabalho de Gustavo Malheiros dedicado a eles, sucedendo suas coberturas para os Jogos Olímpicos do Rio 2016 e Tóquio 2020. Durante meses, Gustavo Malheiros e sua equipe viajaram pelo Brasil, capturando não apenas a habilidade física, mas também a profundidade cultural e emocional das histórias dessas mulheres inspiradoras. O livro é editado pela Arte Ensaio Editora e conta com 256 páginas (R$ 150,00).

Sobre o artista

Gustavo Malheiros é formado pela School of Visual Arts de Nova York, iniciou sua carreira como assistente do renomado fotógrafo Bruce Weber. Com um portfólio diversificado, já realizou exposições em Londres, Hong Kong, Madri, Turim, Paris e Nova York, além de Rio de Janeiro e São Paulo. No campo da publicidade, trabalhou com grandes agências como WMcCann, Lew Lara\TBWA e Giovanni DraftFCB. Suas fotografias já foram publicadas em revistas como Vogue, Trip, TPM e GQ. É autor de diversos livros, incluindo “Brazilyorkers”, “Backstage”, “Pedra e Luz”, “Ilhas Brasileiras”, “Tempestade”, “Verão Passado”, “Superação”, “O Coração do Brasil”, “Anônimos Famosos”, “Marco Zero”, “Artistas e Seus Estúdios”,  entre outros.

Conjuntos que ativam recordações

“Memórias Habitadas”: exposição coletiva do Festival Sesc de Inverno repensa memórias e arquivos através da arte. A mostra reúne obras de 21 artistas e pode ser vista nas galerias das unidades do Sesc RJ em Nova Friburgo, Teresópolis e Três Rios.

A exposição coletiva “Memórias Habitadas” já pode ser vista nas galerias das unidades do Sesc RJ em Nova Friburgo, Três Rios e Teresópolis. A mostra, que integra a programação do Festival Sesc de Inverno, reúne um grupo de artistas que se propõe pensar memórias e arquivos para além de leituras historicamente consolidadas. As obras poderão ser conferidas pelo público até outubro (veja o cronograma por unidade abaixo). A entrada é gratuita e pode ser acompanhada por mediadores. O que pode um arquivo? Como seus acervos são narrados e tutelados? Onde fica a fronteira do que aconteceu e do que foi inventado? Essas são algumas inquietações que a exposição traz ao público a partir das obras de diversos de artistas de vários estados do país.

Exibida concomitantemente nas três unidades do Sesc, “Memórias Habitadas” tem curadoria de Barbara Copque, Letícia Puri e Roberta Mathias e consultoria de Ana Paula Alves Ribeiro, e reúne trabalhos de 21 artistas: Alberto Pereira, Alessandro Fracta, Alice Yura, Asmahen Jaloul, Bruno Gari, Domeio, Eliana Alves Cruz, Gê Viana, Joelington Rios, Marina Feldhues, Mariana Maia, Mayara Ferrão, Mbé, Pérola Santos, Rona, Roberta Holiday, Rodrigo Ribeiro-Andrade, Silvana Marcelina, Tayná Uràz, Xadalu Tupã Jekupé e Yoko Nishio.

“Nas diferentes galerias e transbordando além de seus espaços físicos, propomos conjuntos que ativam recordações e convidam a pensarmos o que está presente, mas também o que está fora dos arquivos. As obras se conectam ao pensamento crítico da escritora Saidiya Hartman que, diante das incompletudes cristalizadas dos arquivos, nos perguntam: “o que há mais para saber?” e nos conduzem a um desaprender, a um exercício de escutas, colagens e narrativas que mesclam histórias pessoais e fabulações, onde os afetos e a beleza insurgem para contestar os silenciamentos e apagamentos dos arquivos oficiais”, declararam as curadoras.

Um dos destaques da mostra, o artista indígena Xadalu Tupã Jekupé aceitou o desafio do Sesc RJ e revisitou os arquivos do IHGB, no Rio, para compor a produção de uma obra inédita que faz parte da exposição.

“Através da pesquisa, a gente revisou esses documentos do período colonial fazendo uma releitura por meio de obras que vão circular nestas três cidades. Além de descentralizar, vamos decolonizar esse pensamento colonial que ainda habita nas instituições – e aos poucos as instituições vão se acostumando a ter esse novo olhar. Com esses espaços de exposição a gente cria narrativas e diálogos com o espectador”, disse o gaúcho da cidade de Alegrete, território da antiga missão jesuítica de Yapeyu, um dos alvos de sua pesquisa. O trabalho do artista está exposto na galeria de Artes Visuais do Sesc Nova Friburgo.

Maior evento multilinguagem do país, o Festival Sesc de Inverno acontece até 28 de julho de 24 localidades do estado do Rio de Janeiro – a maior edição de todos os tempos. São mais de 550 atrações gratuitas ou a preços populares com música, teatro, dança, literatura, cinema, circo e artes visuais. A exposição “Memórias Habitadas”, porém, poderá ser vista até o mês de outubro. Este ano, o conceito do festival celebra a multiplicidade do Brasil, representada pelo acróstico “P-L-U-R-A-L”, que busca resumir em seis outras palavras a diversidade cultural do país: P, de povos, L, de lugares, U, de união, R, de raízes, A, de artes e L, de linguagens. A programação completa pode ser conferida em festivalsescdeinverno.com.br.

Exposição “Memórias Habitadas”

Galerias do Sesc Nova Friburgo, Sesc Teresópolis e Sesc Três Rios. Artistas: Alberto Pereira, Alessandro Fracta, Alice Yura, Asmahen Jaloul, Bruno Gari, Domeio, Eliana Alves Cruz, Gê Viana, Joelington Rios, Marina Feldhues, Mariana Maia, Mayara Ferrão, Mbé, Pérola Santos, Rona, Roberta Holiday, Rodrigo Ribeiro-Andrade, Silvana Marcelina, Tayná Uràz, Xadalu Tupã Jekupé e Yoko Nishio

Curadoria: Barbara Copque, Letícia Puri e Roberta Filgueiras Mathias

Consultoria: Ana Paula Alves Ribeiro

Sesc Nova Friburgo: Av. Pres. Costa e Silva, 231

Sesc Teresópolis: Av. Delfim Moreira, 749

Sesc Três Rios: R. Nelson Viana, 327

A diversidade de linguagens de J. Cunha

18/jul

A Pinacoteca Pina Estação, Largo General Osório, Santa Efigênia, São Paulo, SP, apresenta até 29 de agosto uma retrospectiva de J. Cunha (Salvador, 1948), a maior já realizada em sua carreira. Próximo de completar exatos 60 anos de carreira, J. Cunha recebe sua maior exposição individual sob a curadoria de Renato Menezes. Com cerca de 300 itens, entre pinturas, desenhos, cartazes, estampas, objetos e documentos, “J. Cunha: Corpo tropical” exibe a trajetória do artista, acompanhando seus percursos pela Bahia e sua projeção nacional e internacional. A mostra enfatiza o caráter experimental, a diversidade das linguagens e o compromisso político do artista e de sua obra.

Códice e obras inéditas

Como ponto alto está a obra Códice (2011-2014), um painel de três por sete metros que nunca foi exposto em São Paulo e apenas três vezes apresentado ao público de forma completa. Na mostra, são apresentadas também algumas obras inéditas dos anos 1970, além de um expressivo conjunto de tecidos estampados para o bloco afro Ilê Aiyê, produzidos entre os anos 1980 e 2000.

A exposição se divide em três partes, organizadas de maneira cronológica:

Parte 1: “Made in Brasil”, onde vemos o início da carreira do artista, dividido entre a pintura e a dança, preocupado em refletir sobre o Nordeste e em criticar o avanço do capitalismo e a perda das identidades locais.

Parte 2: “Passar por aqui”, são apresentados os 25 anos seguintes de sua carreira, dos anos 1980 a 2005, período marcado pelo aprofundamento de sua atividade gráfica.

Parte 3: “Neobarroco Afro-pop”, é apresentada a fase mais madura do artista, desde os anos 2000 até os dias atuais. Sua pintura ganha escala, sua atenção volta-se para os grafismos caboclos, ícones pop e símbolos do cangaço.

Sobre o artista

J. Cunha nasceu na Península de Itapagipe, em Salvador, em 1948. José Antônio Cunha ingressou no curso livre da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia aos 18 anos de idade. Foi cenógrafo e figurinista do grupo folclórico Viva Bahia, colaborou com o Balé Brasileiro da Bahia, Balé do Teatro Castro Alves e, durante 25 anos, assinou a concepção visual e estética do bloco afro Ilê Aiyê, além de decorações dos Carnavais de rua de Salvador. Artista plástico, designer gráfico, cenógrafo, dançarino e figurinista, participou de bienais, integrou exposições coletivas e realizou mostras individuais nos Estados Unidos, na África e na Europa.

A extensão da identidade de Marisa Nunes

“Liberdade Só – A Sombra da Montanha é a Montanha”: A Reflexão de Marisa Nunes sobre a Liberdade e a História” é uma imersão artística com curadoria de Juliana Mônaco na Art Lab Gallery, Vila Madalena, São Paulo, SP, que mergulha na complexa relação entre Liberdade e História. A mostra explora a busca humana pela liberdade através de uma lente pessoal e coletiva, onde cada peça reflete a profundidade das experiências da artista. Inspirada pelo poema “A bandeja de prata” de Natan Alterman. A artista investiga a metáfora “não se entrega um estado numa bandeja de prata”, utilizando-a como fundamento para suas criações e afirmando que “a sombra da montanha é a montanha” em uma representação da totalidade de sua exposição, onde cada trabalho é uma extensão de sua própria identidade. O vernissage será no dia 20 de julho e permanecerá em exibição até 05 de agosto.

A artista utiliza técnicas mistas em pintura, com sobreposições de tintas e colagens de folhas de ouro, além de esculturas em aço. Sua obra é uma manifestação da evolução pessoal e coletiva, tecendo memórias de infância, adolescência e a construção de sua personalidade adulta. As influências culturais e religiosas são evidentes em suas peças, refletindo a complexidade da busca humana pela liberdade. A exposição inclui uma instalação premiada em primeiro lugar no Bunkyo 2023, sob a orientação de Yutaka Toyota, além de 35 pinturas em técnica mista, 11 esculturas em ferro carbonado e dois painéis inéditos de 3×3 metros. As obras de Marisa Nunes são marcadas pelo uso simbólico do vermelho e do preto, representando a fumaça, o sangue e o caos das guerras que permeiam a História da Humanidade. O aço carbonado é utilizado para simbolizar a dor, enquanto as paletas leves e os cenários de paz contrastam, sugerindo a dualidade entre conflito e serenidade.

Juliana Mônaco, curadora da exposição, destaca que a arte de Marisa Nunes é uma expressão multifacetada da liberdade. Sua imersão na cultura oriental e o estudo disciplinado de temas complexos enriquecem a narrativa visual de suas obras. Cada peça é uma extensão de sua própria essência, revelando uma harmonização entre formas, cores e sentimentos que refletem a dualidade da vida.

A biografia de Marisa Nunes é um testemunho de perseverança e dedicação. A artista dedicou-se por aproximadamente três anos à criação dos painéis de grande formato que integram esta exposição. A artista apresenta um trabalho que vai além da simples representação, oferecendo ao público uma experiência imersiva e reflexiva sobre a jornada em busca de liberdade e autocompreensão.

Alban Galeria apresenta mostra de Paulo Whitaker

17/jul

A Alban Galeria, Ondina, Salvador, BA, apresenta a exposição “Paulo Whitaker – Solavanco, ou entre o cético e o racional e o místico e sensível”. Trata-se da segunda do artista na galeria, desta vez reunindo obras – pinturas e desenhos – que convergem para uma nova abordagem artística, diferente dos trabalhos produzidos nos últimos anos. Paulo Whitaker ocupa um espaço singular na produção contemporânea brasileira, sendo um artista de renome internacional, com presença em diversas bienais e obras espalhadas por vários países. A abertura da exposição acontecerá no dia 25 de julho e permanecerá aberta ao público até 31 de agosto.

“As pinturas apresentadas aqui substituem a vibração de formas sobrepostas e sobrecarregadas – característica de trabalhos anteriores, realizados entre 2000 e meados da década de 2010 – por superfícies com um número menor de elementos, em que a maioria dos componentes está disposta lado a lado ou em justaposição”, analisa o crítico José Augusto Ribeiro, mestre em Teoria, História e Crítica de Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e atualmente curador-sênior na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Segundo José Augusto Ribeiro, é comum nas obras desta fase atual do artista “que as formas se encostem, liguem-se sutilmente, pelas pontas. Os elementos são colocados, dessa maneira, em relação aberta e direta uns com os outros – autônomos e, a uma só vez, em contato. Quase como se estivessem a lembrar que a produção como um todo conduz sua marcha pelas extremidades da linguagem, a fim de estender-se ao limite, para aproximar-se de outros conhecimentos, técnicas e soluções – da colagem, da gravura, da serigrafia, da escultura”.

Paulo Whitaker, por sua vez, diz que as obras dessa mostra atestam a natureza imprevisível do seu trabalho. Como ele observa, o uso do stencil e das “máscaras” de papel é marcado por uma “inserção abrupta”, que se reforça com as próprias características de sua criação: “Sempre trabalhei no chão, fazendo pinturas que vão sujando, ficando menos limpas, manchadas, deixando aparente o processo criativo. Tudo o que a pintura passou até chegar a um resultado final fica registrado na criação. Não tenho ímpeto de esconder isso. Tudo é explicito. O uso do papel na feitura das máscaras facilita essa exposição criativa, levando aos contornos imprecisos do que pretendo evidenciar”, explica o artista, lembrando que “hoje em dia me sinto muito a vontade para revisitar o meu trabalho de 30 anos atrás, trabalhando em cima disso, ainda que com o necessário distanciamento”.

Artista renomado

Nome renomado do circuito nacional de arte contemporânea, Paulo Whitaker pode ser identificado, de certa maneira, como um integrante da Geração 80 que reivindicou um retorno à pintura, como resposta ao conceitualismo em voga até então. Ainda que estivesse geograficamente distante de nomes como Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Leda Catunda, Luiz Zerbini e mais, o artista partilhava do mesmo senso de vocação quase única e exclusiva à prática pictórica, entendendo a pintura como um ofício diário, digno tanto de densas articulações teóricas quanto de um modelo de trabalho que o exigia (e ainda exige), rigor, dedicação plena e integral a este fazer artístico. Em seu processo, Paulo Whitaker encara a superfície da tela como um plano livre, onde formas, cores e demais elementos aparecem ao longo da feitura da obra, sem que o artista estabeleça um pensamento prévio ou defina pragmaticamente um resultado já pensado para o trabalho artístico. Em sua vasta trajetória, o artista tem sido radicalmente fiel à ideia de um processo de trabalho que viu, ao longo das décadas, o surgimento de cores mais vibrantes tomarem suas telas, ainda que tenha seguido fiel à ideia de um percurso de realização que se assemelha a uma constante resolução dos “problemas” que estas vão lhe apresentando, conforme as pinta, em seu atelier.

Sobre o artista

Nascido em São Paulo em 1958, pintor e desenhista, Paulo Whitaker formou-se em Educação Artística na Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina – Udesc/SC, em 1984.  Entre 1991 e 1992, tornou-se artista residente no Plug In, em Winnipeg, no Canadá, em E-Werk Freiburg na Alemanha e em 1999 no The Banff Centre for the Arts, também no Canadá. Neste mesmo ano participou da exposição Arte Contemporânea Brasileira sobre Papel no MAM, em São Paulo. Ao longo de sua trajetória, participou de importantes eventos internacionais, como a 3ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre; a Biennale de Montreal/Canadá, e a Bienal Internacional de São Paulo.  Em 1993, recebeu o Prêmio Gunther de Pintura do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, em 1998, no VI Salão Nacional Victor e o Grande Prêmio no Museu de Arte de Santa Catarina. Recentemente, participou das exposições: 2024-A Maior Metade, com Virgílio Neto, Galeria Index, Brasília; 2022-Uma Mão Lava a Outra, Olhão SP, collab Virgílio Neto, curadoria de Antônio Lee e, no mesmo ano, Pequenas Pinturas, Auroras SP, curadoria de Ricardo Kugelmans e Pollyana Quintella em 2021-Setas e Turmalinas, Casa de Cultura do Parque, curadoria Gisela Domschke. As obras do artista estão em acervos de importantes instituições e museus como: Museu de Arte de Santa Catarina – MASC, Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC/USP, Museu de Arte Contemporânea do Paraná – MAC/PR, Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Älvares Penteado – MAB/Faap, Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outros.

Conflitos pintados por Arruda e Dunhham

16/jul

Abre hoje na Almeida & Dale, Jardim Paulista, São Paulo, SP, a exposição “Examining Myself and Others: Victor Arruda e Carroll Dunham”, que reúne Victor Arruda e Carroll Dunham, com um conjunto de pinturas e desenhos. A mostra aproxima as obras dos artistas que, como avaliou o curador Dan Nadel, estão conectados em suas investigações sobre masculinidade, conflito, sexo e consciência por meio de figuras distorcidas e genderizadas compostas em paletas de cores vibrantes e inseridas em ambientes impossíveis. Classificação indicativa: 18 anos

Victor Arruda constrói essa vida pintada com imagens vernaculares desenhadas com uma linha elástica e blocos de cores exuberantes. Suas pinturas são planejadas a partir de desenhos, construídas para máxima comunicação gráfica sobre o amor e o desejo, desequilíbrios de poder entre ricos e pobres urbanos, e os mapas mentais e emocionais que dominam a vida brasileira.

Carroll Dunham dá vida às suas telas improvisando dentro de parâmetros composicionais rigorosos, criando atmosfera nos céus e terrenos, preenchendo-os e a seus corpos com seu toque. Suas cenas primordiais de figuras masculinas cilíndricas lutando por esporte ou em combate, posadas e prostradas, e figuras masculinas e femininas congeladas em pleno ato sexual são a essência de nossos começos compartilhados.

Carmézia Emiliano no Museu do Pontal

A vida e a cultura do povo Macuxi, além da paisagem natural de Roraima, são as grandes fontes de inspiração da artista indígena Carmézia Emiliano, que, nos últimos anos, vem firmando o seu nome no cenário das artes visuais do país. O Museu do Pontal inaugurou a sua primeira exibição individual no Rio de Janeiro, “Carmézia Emiliano e a vida macuxi na floresta”. Com curadoria dos diretores do museu, Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque, a mostra reúne 21 pinturas (em tinta óleo e acrílica). A exposição segue em cartaz até agosto.

“- Retrato minhas memórias. Não copio de outros. Tiro os desenhos da minha lembrança, dos lugares que fui e das histórias que vi. Retrato as comidas, as danças, bebidas, como fazíamos as redes, o trabalho com a mandioca. A arte para mim é minha vida, minha identidade”, afirma Carmézia Emiliano.

Sobre a artista

Autodidata, Carmézia Emiliano (Normandia, Roraima, 1960) começou a pintar em 1992, utilizando tintas naturais, feitas de ingredientes como folha de algodão roxo, pimenta e jenipapo.  Não parou mais e, aos poucos, foi experimentando novos materiais e aprendendo com a prática. Sua trajetória de vida marca a sua arte, que funciona também como uma forma de propagar sua origem e cultura. O dia a dia dos indígenas, a rotina na maloca, os mistérios do Lago Caracaraña, a diversidade dos animais estão entre os elementos presentes em suas pinturas. Segundo Denilson Baniwa, “A obra de Carmézia Emiliano é, antes de tudo, um convite a conhecer o território Macuxi, assim como parte das complexidades da vida da artista, que escolheu a arte como forma de levar-nos ao interior da Maloca do Japó, em Roraima.”. Nascida na comunidade do Japó, terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, a artista passou a viver em Boa Vista, a partir dos 29 anos. Sua primeira exposição aconteceu em 1996, no Sesc Boa Vista. Mas, a partir dos anos 2020, sua pintura ultrapassou rótulos e fronteiras. Em 2023, contou com uma individual no Masp e participou da 35ª Bienal de Artes de São Paulo e da primeira Bienal das Amazônias.

“- Eu fico muito feliz em ver minhas obras em exposição. Nunca imaginei que isso fosse acontecer. Estou mostrando a cultura macuxi para as pessoas” -afirma Carmézia Emiliano.

Carmézia Emiliano esteve pela primeira vez no Rio de Janeiro, especialmente para a abertura da exposição, e fez planos de visitar o mar.

“- Além dessa importante mostra, que contará com uma grande variedade de obras e com um documentário sobre sua trajetória, durante o festival faremos um bate-papo com a artista e uma vivência de pintura aberta ao público”, explicam Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque, curadores da mostra e diretores do Museu do Pontal.

Galeria Marcelo Guarnieri exibe Mariannita Luzzati

15/jul

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins,  apresentará, entre 30 de julho e 03 de setembro,  a segunda exposição individual de Mariannita Luzzati (1963, São Paulo) na unidade de São Paulo, que contará com texto crítico de Luiz Armando Bagolin. Convidando o espectador a refletir sobre o vazio e o silêncio, Mariannita Luzzati desenvolve sua prática pictórica a partir do interesse pela paisagem e pela simbologia elementar da contemplação que vem associada a ela. Em sua pesquisa, tenta refletir sobre a ideia de “restauração” da paisagem, que diz respeito a um mundo sem excessos, sejam eles de informação, de imagens ou de cores. A ação de esvaziar pode ser observada não só nas paisagens silenciosas que nos apresenta, mas também na paleta de tons rebaixados que utiliza e até mesmo no aspecto difuso da pintura que dá conta de nublar os elementos da cena.

A partir de um sistema pictórico próprio que desenvolveu há mais de 25 anos, Mariannita Luzzati apresenta nesta exposição um diálogo entre pinturas inéditas e pertencentes a séries anteriores, onde a variação de escalas se faz evidente. Como observa Luiz Armando Bagolin: “O ponto de inflexão entre as telas maiores e as novas, menores, parece ser exatamente este, ou seja, o desejo da artista em tornar tudo o que vê mais próximo, no sentido de mais familiar, por mais que os sentimentos de isolamento e inacabamento prevaleçam. E por maior que seja a dimensão do campo colorido (ou do quadro pintado), nunca é ao monumental que sua obra se endereça. Se sua pintura dispensa propositadamente uma profundidade, dispensa igualmente a escala da paisagem como algo épico e farsesco. O seu trabalho, ao contrário, oscila sempre entre um campo de projeção de um espaço físico observável e um espaço de pura imanência que pertence à realidade da própria pintura. Por isso, é avesso também ao sublime grandioso ou terrível (imaginado por Edmund Burke).”

Por meio da tinta diluída, sobrepõem-se camadas muito leves que dão corpo a rochedos muito pesados, rodeados pela imensidão do imprevisível oceano. Há uma troca entre cor e forma, onde uma se constrói enquanto a outra se desmancha. Em suas novas pinturas, Mariannita Luzzati passeia por tons azulados e esverdeados por meio do uso de pigmentos como verde, óxido de cromo verde, azul ultramar e azul cobalto, aproximando-se assim, como observado por Luiz Armando Bagolin em seu texto crítico, de um momento da tradição da pintura de paisagem inglesa em que o pintor do gênero buscava uma emancipação e autonomia. “John Constable então aprendeu (e a partir dele, Monet, mais tarde) que, ao pintar a paisagem, deve-se partir sempre de um fundo verde vivo, a fim de obter efeitos mais vibrantes nas sucessivas camadas de cores que serão aplicadas depois sobre este fundo. Invertia-se ou se modificava assim o princípio segundo o qual, na pintura “clássica” ou mais antiga, de gênero alto (a pintura histórica) ou de gêneros mais elevados do que a pintura de paisagem (que era considerado um gênero baixo), iniciava-se a composição a partir de um fundo avermelhado (com cinábrio) ou acastanhado (com sépia ou bistre) como garantia da recepção das luzes e do modelado do claro-escuro na progressão da feitura da pintura.

Sobre a artista

Mariannita Luzzati (1963, São Paulo), vive e trabalha entre São Paulo e Londres. Dentre as exposições individuais e coletivas que participou, destacam-se nas seguintes instituições: Pinacoteca do Estado de São Paulo, Centro Cultural São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, Fundação Iberê Camargo, Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, Museu Vale do Rio Doce de Vitória, Museu Nacional de Buenos Aires, Museum Of London, Haus Der Kulturen Der Welt em Berlim, Maison Saint Gilles em Bruxelas. Suas obras constam em importantes coleções nacionais e internacionais, dentre as quais a Fundação Itaú Cultural de São Paulo; Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Fundação Cultural de Curitiba; Fundação Padre Anchieta – TV Cultura em São Paulo; Museu de Arte de Brasília; Machida City Museum of Graphic Arts em Tóquio; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Centro Cultural Dragão do Mar em Fortaleza; Instituto Figueiredo Ferraz em Ribeirão Preto; Fundação Musei Civici de Lecco e MIDA – Scontrone na Itália; British Museum de Londres; Essex Collection em Colchester na Inglaterra; Credit Suisse First Boston; Halifax plc; Herbert Smith; Rexam plc de Londres; Teodore Goddard, em Jersey e Pearson plc, em Nova York.

Arquitetura para abelhas

12/jul

O artista e ambientalista João Machado apresenta esculturas feitas com a interferência de abelhas nativas. Uma fusão de arte e biologia em obras interespécies.  Com curadoria de Arasy Benítez, mostra acontece no Jardim Botânico Plantarum, Nova Odessa, na zona metropolitana de Campinas, São Paulo, SP, de 13 de julho a 11 de agosto.

Obras manifestam a interdependência das espécies e a importância da biodiversidade no planeta. Um trabalho colaborativo entre humanos e abelhas como forma de mostrar a interdependência entre os seres vivos e a importância da biodiversidade. Essa é a base da pesquisa artística de João Machado, que também é ativista em defesa das abelhas nativas do Brasil. Na mostra “Geoprópolis – Arquiteturas para Abelhas”, o artista apresenta esculturas em cerâmica criadas a partir de desenhos com própolis e finalizadas com a colaboração de abelhas originárias do país. Além de esculturas, a exposição traz desenhos, peças gráficas e uma performance mostrando a comunicação sonora que existe entre plantas e abelhas.

A exposição é mais um desdobramento do projeto desenvolvido por João Machado desde 2015, que aborda temas como colonialismo, desmatamento, território e o crescimento acelerado das cidades, que oprime plantas, animais e humanos. Geoprópolis nasceu de sua pesquisa envolvendo abelhas autóctones brasileiras. Em seu processo artístico, ele tem como companheiros de trabalho os cerca de 50 enxames de abelhas nativas cultivados por ele na Serra da Mantiqueira, em Bocaina de Minas (MG). Também conhecidas como “indígenas”, essas espécies se distinguem por não terem ferrão e serem indispensáveis para a polinização da flora brasileira.

Na mostra, as obras de João Machado serão expostas ao ar livre, em diálogo com a natureza. Uma delas é uma escultura viva, habitada por abelhas da espécie Melipona mondury. O processo de construção dessas esculturas é tão complexo quanto sustentável. Tudo começa com desenhos feitos a partir do própolis que o artista colhe de seus enxames. “Em contato com o papel, o própolis cria formas orgânicas que parecem com o oco das árvores onde as abelhas naturalmente enxameiam. Depois, replico esses desenhos em esculturas de cerâmica, que mais tarde as abelhas vão habitar. Ao longo de algumas semanas, são elas que completam o trabalho, com cerume ou geoprópolis, termo que dá nome ao projeto”, explica ele.

Outro ponto alto da exposição é a incorporação de ruídos extraídos de plantas e abelhas nativas, mostrando a comunicação sonora que existe entre elas. Trata-se da performance “Arquitetura bioacústica para abelha Mandaçaia”, com colaboração de Daniel Magnani. Como programação paralela está previsto o workshop “Arquiteturas para abelhas nativas”, a cargo de João Machado com participação especial do fundador do Instituto Plantarum, Harri Lorenzi. João Machado vai falar sobre abelhas nativas e ensinar sua técnica de construção de casas para abelhas em argila. Harri Lorenzi, engenheiro agrônomo e botânico, terá como tema as plantas nativas, sobre as quais tem dezenas de livros e artigos publicados.

Sobre as abelhas nativas

Uruçu, Mandaçaia, Jataí, Manduri, Bugia, Borá, Tubuna, Irapuã, Iraí… O Brasil possui mais de 300 espécies de abelhas nativas sociais e aproximadamente 1.500 espécies de abelhas nativas solitárias, também conhecidas como abelhas indígenas. Elas estavam aqui antes da chegada da abelha europeia (Apis mellifera), trazida pelos colonizadores. As abelhas nativas são cultivadas e amplamente conhecidas pelos povos originários, fazendo parte da cultura deles há milênios. Essenciais para a nossa sobrevivência, elas são responsáveis pela polinização das plantas. Ameaçadas pelo desmatamento, pela redução de seus habitats naturais e pela concorrência da agressiva abelha europeia, que é exótica ao nosso território, as abelhas nativas correm perigo de extinção.

Sobre o projeto

Essa é a quarta exposição de João Machado em torno da pesquisa Geoprópolis, que atravessa questões como território, anticolonialismo, responsabilidade e cuidado com o meio ambiente. Em maio de 2023, o artista apresentou o trabalho no espaço independente Villa Mandaçaia Projetos, em Pinheiros, São Paulo. Em seguida, no Bananal Arte e Cultura Contemporânea, na Barra Funda; e, no início de 2024, na Oficina Cultural Alfredo Volpi, em Itaquera. Depois da mostra no Jardim Botânico do Instituto Plantarum, em Nova Odessa, a pesquisa segue para outros espaços.

Sobre o artista

João Machado é artista visual, cineasta e ambientalista, nascido no Rio de Janeiro, em 1977. É bacharel em Cinema pela Art Center College em Los Angeles, Califórnia (EUA). Cofundador da Mandaçaia Projetos (SP), espaço de arte independente, em parceria com a curadora Arasy Benitez. Tem uma carreira de 20 anos como diretor de cinema de filmes autorais, documentários e obras de videoarte. Como artista visual, participou de várias exposições em galerias e espaços culturais em diversos países. Em 2014, foi selecionado pelo edital da Caixa Cultural com a exposição individual “Atlas”, apresentada na Caixa Cultural de Salvador, Curitiba e Rio de Janeiro. De 2015 em diante, sua pesquisa artística une-se ao ativismo pela preservação das abelhas sem ferrão nativas do Brasil. Nessa investigação, desenvolve trabalhos em vídeos e esculturas produzidos a partir de elementos extraídos da sua criação de abelhas, como a cera, o própolis e o mel. João Machado vem conduzindo também um mapeamento de abelhas que resistem em ambientes urbanos e fazem morada em lugares inóspitos para elas.

Sobre Arasy Benítez

Nascida em Assunção, Paraguai, é bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2018), dedicando sua pesquisa monográfica ao estudo do setor cultural no desenvolvimento econômico do Brasil. Durante a pós-graduação em Arte: Crítica e Curadoria, na PUC-SP (2022), elaborou uma revisão crítica do conceito de Estética Relacional, abordando o mesmo a partir do trabalho e pensamento de Hélio Oiticica. Cofundadora, gestora e curadora das iniciativas da Villa Mandaçaia (MG) e Mandaçaia Projetos (SP), espaços de arte independentes, se dedica também a curadorias independentes.