Lançamento de livro de Cristina Canale

08/mar

A Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, tem o prazer de convidar, no dia 14 de março, às 19h, para o lançamento do livro “Faces”, dedicado à produção da pintora Cristina Canale às séries de retratos, com textos dos curadores Galciani Neves e Victor Gorgulho, 224 páginas e 130 imagens. Radicada em Berlim há mais de trinta anos, Cristina Canale é considerada uma das mais importantes artistas brasileiras, e uma das expoentes da Geração 80. No lançamento de seu livro, ela irá conversar com o curador Victor Gorgulho.

O livro “Faces” reúne 103 obras criadas por Cristina Canale desde 2006, além de detalhes que destacam as pinceladas com texturas das tintas, colagens de tecidos e o seu caderno de anotações, que dá muitas pistas sobre seu processo criativo. As obras são majoritariamente de faces de mulheres – corpo-paisagem, como definiu Galciani Neves -, e a artista conta que começou a fazer esses retratos há mais de dez anos, mas que só há sete passou a mostrá-los.

“Os retratos começaram a partir de um momento no processo que passei a focar nas partes do corpo separadamente, criando narrativas a partir só de pés, mãos, e… rostos. Meio que a parte pelo todo… Daí para entrar nos retratos como um território iconográfico foi um pulo”, explica. “O retrato é um território vasto que vai da abstração à narrativa. Alguns foram feitos a partir de pessoas bem conhecidas, mas sem preocupação de figurar estes personagens. Apenas usei elementos da imagem”, comenta.

Marcelo Lago no Ateliê 31

Um dos nomes da geração de escultores do Rio de Janeiro na década de 1980, o artista Marcelo Lago inaugura a exposição individual “Esculturas, Pinturas, Gravuras” no Ateliê 31, Cinelândia, Centro, Rio de Janeiro, RJ, no dia 15 de março. Nessa mostra, Marcelo Lago apresenta 22 obras que compõem a sua trajetória, além de trabalhos recentes e inéditos. A mostra permanecerá em cartaz até o dia 15 de abril e a curadoria é assinada por Shanon Botelho.

“Para este momento Marcelo Lago nos propõe uma reflexão sobre a mutabilidade dos materiais – metais, bonecos de plástico, lambris, corpos e outros – e de três conceitos que fundamentam a sua pesquisa visual: Energia, Memória e Movimento”, descreve o curador. A produção dos trabalhos de Marcelo Lago tem processos longos. Ele utiliza diversas materialidades que envolvem desde fibra de vidro, plástico, chapa de alumínio, até motor de aquário. “Sou eclético com relação aos materiais, normalmente tenho uma ideia e busco a solução para a fatura, mas cada material tem sua própria linguagem, que sempre contribui com a poética final”, revela Marcelo Lago.

A obra mais recente e ainda inédita que será apresentada na mostra é “Energia Primal” (2024), da série Energias, uma escultura vertical em PVC e tinta automotiva, medindo 160 x 60 x 3 cm, na qual o artista propõe uma interrupção da ordem (linhas paralelas que se encontram no infinito), através da energia mais contundente possível, o calor. Mas ainda na exposição será possível encontrar outros trabalhos pouco vistos, como é o caso da série “Memórias, Sonhos e Reflexões”, que esteve no Paço Imperial (2005) e em função de uma greve ficou apenas duas semanas em cartaz. Embora tenha na escultura uma marca registrada, sendo um dos principais nomes de sua geração, o desenho sempre esteve presente na dinâmica do artista. “Sempre desenhei, desde muito jovem, mas nunca expus, pois depois que comecei a trabalhar com a três dimensões, e já faz mais de quarenta anos da minha primeira exposição individual, toda minha energia ficou direcionada na escultura e suas relações com o espaço”, diz o artista. Os desenhos da série “Sondas Espaciais” (2011), foram escolhidos para serem apresentados ao público pela primeira vez. “Movimento nesta exposição significa o momento atual de Marcelo Lago, um artista aguçado no exercício de suas capacidades criativas, em constante movimento em busca de novos materiais, formas de comunicar e de constituir objetos tridimensionais dotados de verdade e afeto”, define Shannon Botelho.

Sobre o artista

Marcelo Lago nasceu em 1958, no Rio de Janeiro. Participou da icônica exposição “Como Vai Você Geração 80?”, na EVA do Parque Lage, Marcelo Corrêa do Lago dá continuidade a uma geração de escultores do Rio. Suas peças se integram à paisagem urbana, como “Intervenção Vermelha”, grande tubo de aço pintado que durante quatro anos “abraçou” toda a fachada da Casa de Cultura Laura Alvim, na praia de Ipanema, ou o “Grande Painel Azul” que foi feito para sua primeira exposição no Paço Imperial, mas que a pedido de seu diretor, Lauro Cavalcante, ficou instalado no atrium por 12 anos. Tem trabalhos também no jardim da PUC Rio, no metrô Barra Funda, em São Paulo, Museu da República, em Brasília, no jardim do Museu Mineiro, em Belo Horizonte e na Praça Paris, Centro do Rio, onde permaneceu por três anos. Marcelo Lago mora e trabalha em Petrópolis, desde 1984, onde além do ateliê, desenvolve atividades como professor de escultura contemporânea, curadoria e produção cultural.

Paisagem de um Mundo Partido

04/mar

“Paisagem de um Mundo Partido”, é o título da exibição individual
que a artista plástica argentina Gloria Seddon, inaugura no dia 07 de
março, permancendo em cartaz até 19 de abril, no Edifício Argentina,
Sala Antonio Berni , no Consulado da República Argentina.
Naturalizada brasileira, a artista convidou Alexandre Murucci para
fazer a curadoria desta exposição que celebra seus 25 anos de carreira.
Nestes trabalhos recentes, assim como em outros anteriores, a artista
parte de conceitos intensos que resultaram nas séries: “Urbana”,
“Erótica”, “Psicanalítica” e “Ecológica”, sendo algumas delas
figurativas e outras, abstratas. Em “Paisagem de um mundo partido”,
a artista parte da verificação de uma “grieta” sócio política no mundo
contemporâneo para criar obras abstratas, mas não alheia ao mundo
concreto da realidade.

A palavra da artista
“Na série apresentada nesta individual trago um questionamento sobre
o “mundo partido”, algo que esteve sempre presente em mim. Foi o
que me incitou a criar obras que, mesmo abstratas, pudessem despertar
este sentido no espectador. Sempre procurei uma transcendência,
superar questões que na adolescência eram mais subjetivas e
existenciais; hoje, através da arte, são mais políticas e sociais,
inerentes à cidade”.

A palavra do curador
“Ao reabrir o embate pictórico de seu percurso para buscar um olhar
panorâmico de sua produção dos últimos 25 anos, Gloria Seddon
mergulhou numa viagem ao mesmo tempo genômica e emocional. Em
sua individual de ampla latitude, a artista revisita fases de sua
investigação a partir de um trabalho, que, longe de ser seminal em sua
trajetória, foi um ponto de reflexão no conjunto de sua obra. Dividida
em núcleos entrelaçados por similar vocabulário, Gloria discorre

influências acumuladas ao longo da vida, num mergulho em sua
arqueologia de formação, revelando mentores, admirações e
nostalgias, que a levaram inclusive, até o trabalho de seu pai, artista
por vocação poética da existência, a quem homenageia dando lugar de
honra a um dos seus trabalhos, assim como comentando no vídeo que
estará presente na exposição, as impactantes vivências familiares. Ao
focar uma produção intensa para esta exposição de ares monumentais,
Seddon se deparou com seu pluralismo como base de sua assinatura,
mas também com sua gênese, clara quando vemos a evolução de seu
pensamento plástico, o adensamento de sua pintura, a ampliação de
seu vocabulário e a experimentação em seus limites de abordagem –
ora mais psicológicos, ora narrativos”. Alexandre Murucci.

Sobre a artista
Artista visual, escritora e psicanalista, Gloria Seddon realizou o curso
de Especialização em História da Arte e da Arquitetura do Brasil
(2003-5), titulou-se Doutora em História Social da Cultura na PUC/RJ
(2008-13) e, desenvolveu-se tecnicamente na arte pictórica com
Rubem Gerchman e Maria Teresa Vieira (1975-80); e na EAV com
Fernando Cocchiarale, Anna Bella Geiger, Luís Ernesto, Afonso
Tostes e outros, (1990-2000). Entre as exposições realizadas
destacam-se as individuais: “Retrospectiva”, Atelier da Artista (1999);
“Do sonho à Arte”, Centro Cultural da Universidade Santa Úrsula,
(2000); “Erótica”, Sala Antonio Berni, no Consulado da Argentina,
(2002), e as coletivas com o Grupo Bikoo-Kai (1998-2009) na Sala
Antonio Berni e no Museu Nacional de Belas Artes (2002); “Uma vez
a Arte”, Sala Antonio Berni, com psicanalistas/artistas da Escola
Brasileira de Psicanálise – AMP “Os dejetos Du-Champ na Clínica
psicanalítica” (2011); na Galeria Zagut, curadoria de Augusto
Herkenhoff (2019-22); em O Lugar (2019-23); no “Festival
Internacional de Esculturas – RJ”, Centro Cultural dos Correios Rio,
curadoria de Paulo Branquinho (2019); Museu da República, “Criarte”
curadoria de Martha Niklaus (2019) e “Zum Zum”, curadoria de
Frederico Dalton (2019); no Espaço Cultural dos Correios/Niterói,
curadoria de Norma Mieko Okamura, “Biozius”, (2022); na Triplex,

curadoria de Raimundo Rodrigues (2023); “Paisagem do Mundo
Partido”, curadoria de Alexandre Murucci no Espaço Cultural dos
Correios/Niterói (2023-24). Fundadora do Fórum de Artes e Políticas e
do Bloco Vade Retro, participou de leilões e bienais de arte. Em 11 de
abril de 2023, foi agraciada com a Medalha de Criatividade na
Exhibition in the Dundas Street Gallery, Artcom Expo, em Edinburgh,
Escócia.

 

Curadoria de Theo Monteiro com doze artistas

27/fev

A Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ,  apresentaá, no dia 29 de fevereiro, das 18h às 21h, a exposição “Essa cidade ‘sempre’ maravilhosa”, com trabalhos de doze artistas selecionados pelo curador Theo Monteiro. As obras discutem questões ligadas à cidade do Rio de Janeiro, como a paisagem, lazer, violência, sexualidade, o sagrado, em toda a complexidade que envolve esta metrópole que “desempenha papel decisivo na formação cultural e política do país”. O título da exposição é retirado da apresentação que o grande compositor Ismael Silva (1905-1978) fez antes de cantar seu clássico “Antonico”, no disco “Se você jurar”, de 1973.

Os artistas participantes da exposição são: Alberto Baraya (1968, Bogotá), Ana Hortides (1989, Rio de Janeiro), André Griffo (1979, Barra Mansa; vive no Rio de Janeiro), Arthur Chaves (1986, Rio de Janeiro), Celo Moreira (1986, Rio de Janeiro), Elian Almeida (1994, Rio de Janeiro), Jaime Lauriano (1985, São Paulo), Marcos Chaves (1961, Rio de Janeiro), Priscila Rooxo (2001, Rio de Janeiro), Raul Mourão (1967, Rio de Janeiro), Vik Muniz (1961, São Paulo; vive e trabalha no Rio de Janeiro e em Nova York), Yohana Oizumi (1989, Rubiataba, Goiás; vive e trabalha em São Paulo).

A palavra do curador

No térreo da Nara Roesler Rio de Janeiro, estão os trabalhos que “dialogam diretamente com questões de natureza mais cotidiana….Se fazer presente em uma cidade espremida entre mares, morros e mares de morros requer capacidade humana, técnica, trabalho e estratégia. Paisagens idílicas convivem ao lado de elementos como violência, sexualidade, arquitetura, lazer, propaganda, cultura de massa, histórias e memórias…Falamos de uma urbe que conjuga uma natureza de aparência intocada com a agitação característica de uma metrópole latino-americana. E existe todo um universo no meio e por causa disso. No piso superior, “…afloram os temas ligados ao espírito, aqueles que só a lógica, a sociologia e o intelecto não dão conta de explicar….Em uma cidade onde a vida se faz veemente, só o cotidiano não dá conta. E aí entram o metafísico, o onírico, o sagrado e o celestial…A religião, por exemplo, e seus desdobramentos, afinal, falamos de uma metrópole em que a fé é um destacado agente social e político, mas não somente. Também o futebol (o que é o Maracanã senão um grande templo devotado ao nobre esporte bretão?), o carnaval e a ficção dão as caras por aqui, mostrando uma cidade cujo imaginário se enraiza não só geograficamente, mas também nas almas”.

Em cartaz até 06 de abril.

Conversa com artista e curador no Paço Imperial

 

No dia 02 de março, às 16h, será realizada uma conversa gratuita e aberta ao público com a artista Ana Holck e o curador Felipe Scovino na exposição “Entroncados, Enroscados e Estirados”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Na ocasião, também será lançado o catálogo da mostra em formato e-book, com 37 páginas, texto do curador, fotos da exposição montada e das obras, com design do Estúdio Afluente. O catálogo terá visualização gratuita no novo site da artista: www.anaholck.com, que também será lançado no sábado.

Em cartaz até o dia 24 de março, a exposição apresenta obras inéditas de Ana Holck, que marcam uma nova fase na sua reconhecida e destacada trajetória de 22 anos nas artes. São apresentados oito trabalhos, pertencentes às três séries que dão nome à mostra. As obras, que foram produzidas este ano, em porcelana e aço inox – materiais até então nunca utilizados pela artista -, transitam entre a ideia de pintura e escultura.

Arquitetura italiana no Rio

19/fev

Um novo polo cultural é inaugurado na celebração dos “150 Anos da Imigração Italiana no Brasil”. O Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro, o Instituto Italiano de Cultura do Rio e o IED (Instituto Europeu de Design) se reuniram em prol da criação do “Polo Cultural ItalianoRio – arte, design e inovação”, que abrirá para o público no dia 22 de fevereiro, na semana em que é comemorado o Dia Nacional do Imigrante Italiano no Brasil. Inteiramente revitalizado, o novo polo cultural funcionará como uma vitrine, reverberando o diálogo entre Itália e Brasil em várias instâncias. Situado no prédio da Casa d’Italia, no coração do Centro do Rio (próximo à Cinelândia e ao aeroporto Santos Dumont), o espaço com lounge e mezanino totaliza quase 500m² e foi projetado para abrigar exposições de arte, moda e design, além de eventos de gastronomia, tecnologia e inovação. Serão oferecidos também cursos, seminários, ciclos de palestras e demais programações. Com a proposta de reforçar e estabelecer laços culturais e científicos, estão previstas parcerias com a colaboração de outras instituições.

Abrindo a agenda anual de exposições temporárias, a mostra “1874-2024: 150 anos de amizade e conexão entre Itália e Brasil, juntos rumo ao futuro” apresentará um painel de 42 m², grafitado pelo artista Bruno Big, retratando a chegada dos imigrantes e o relevante desempenho deles no cultivo do café, além de vídeos e paneis temáticos sobre sua influência na formação sócio cultural da sociedade carioca e brasileira. No mezanino, será inaugurada “Dell’Architettura – presença italiana na paisagem carioca”, com cerca de 40 imagens de mestres da arquitetura, captadas por Aristides Corrêa Dutra. Haverá, ainda, a exposição do novo logotipo oficial do 150º Aniversário da Imigração Italiana no Brasil, selecionado através de um concurso entre os alunos das escolas italianas no Brasil, lançado pela Embaixada da Itália em Brasília. A iniciativa foi divulgada nas Escolas italianas paritárias no Brasil e foi selecionado como vencedor o projeto de Joshua Azze Distel, de 17 anos, aluno do 4º ano do Liceu Científico da “Fondazione Torino”. O logotipo representa um navio, o meio de transporte utilizado por milhões de imigrantes que, com coragem e espírito de aventura, lançavam-se em longas travessias oceânicas em direção ao “novo mundo”, em busca de melhores condições de vida. Num jogo de encaixes formados por linhas minimalistas, o número “150” é inserido no desenho do navio: o “zero” representa, ao mesmo tempo, o número e um semicírculo, como um horizonte, um céu comum, composto pelas cores das bandeiras dos dois países, simboliza a ligação histórica e cultural entre eles.

Sobre a exposição “Dell’Architettura – presença italiana na paisagem carioca’

Ricardo Buffa, Luigi Fossati, Raffaele Rebecchi, Antonio Virzi, Mario Vodret e Antonio Jannuzzi estão entre os grandes nomes da arquitetura italiana que deixaram seu legado na cidade do Rio de Janeiro e que integram “Dell’Architettura – presença italiana na paisagem carioca”. Registros de joias arquitetônicas de diferentes épocas, feitos em preto e branco pelo fotógrafo, professor e artista visual Aristides Corrêa Dutra, foram selecionados para esta exposição, que é realizada pelo Instituto Italiano de Cultura do Rio e poderá ser visitada até 26 de abril.  Aristides também assina a curadoria e os textos das fotografias, destacando-se entre elas: o Edifício Lage (1924-1925), na Glória; o Edifício Seabra (1931), na Praia do Flamengo; o Edifício Unidos (1937), no Centro; o Hospital Nossa Senhora das Dores (1910-1914), em Cascadura; a Igreja Matriz de São Geraldo (1931), em Olaria; a Torre da Antiga Sé (1905-1913), no Centro; a Vila Maurina (1915), em Botafogo; a casa Villino Silveira (1915), na Glória.

Sobre o artista

Aristides Corrêa Dutra é fotógrafo, artista visual, mestre em Comunicação pela ECO\UFRJ e professor da Universidade Veiga de Almeida. Como fotógrafo e observador da arquitetura, realizou, ao longo de 2016, as mostras “Conversação”, no Parque das Ruínas, “Da misericórdia à justiça”, no Museu da Justiça do Estado do Rio de Janeiro, e “Logos”, na Biblioteca de Manguinhos.

A Amazônia vista por Hiromi Nagakura

O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro inaugura a exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, mostra idealizada pelo Instituto Tomie Ohtake, de São Paulo que permanecerá em cartaz até 27 de maio. Com curadoria de Ailton Krenak e curadoria adjunta de Angela Pappiani, Eliza Otsuka e Priscyla Gomes, a exposição apresenta 160 fotografias inéditas no Brasil do premiado fotógrafo japonês Hiromi Nagakura, realizadas em viagens com Krenak, principalmente pelo território amazônico, entre 1993 e 1998. A mostra, com entrada gratuita, chega ao CCBB RJ ampliada, com uma nova seleção de imagens, além de objetos dos povos visitados, que não estiveram presentes na edição paulistana da exposição.

Além disso, lideranças indígenas de diversas etnias participarão de conversas realizadas em torno da exposição, junto com o fotógrafo e o curador.  No dia da abertura da exposição, às 17h, haverá a roda de conversa “Hiromi Nagakura e Ailton Krenak encontram os povos da floresta”, com a presença da dupla e também das lideranças indígenas Moisés Pyianko Ashaninka e Leopardo Huni Kuin, com a participação de Marize Guarani, presidente da Associação Indígena Aldeia Maracanã. No dia 29 de fevereiro, também às 17h, haverá mais uma roda de conversa, “Hiromi Nagakura e Ailton Krenak encontram os povos do cerrado”, com Krenak, Nagakura e as lideranças indígenas Marineuza Pryj Krikati, Maria Salete Krikati e Caimi Waiassé Xavante, com a participação de Carlos Tukano, presidente do Conselho Estadual de Direitos Indígenas do Rio de Janeiro. No dia 01 de março, às 17h, Ailton Krenak e as cinco lideranças indígenas da Amazônia convidadas farão palestra no CCBB RJ.

“Nagakura-san é um samurai. Sua espada é uma câmera que ele maneja com a segurança de quem já passou por campos de refugiados e esteve no centro das praças de guerra, por lugares como África do Sul, Palestina, El Salvador e Afeganistão. Depois desse mergulho no inferno global, quando sentiu de perto a loucura dos seres humanos, o samurai da câmera descobriu a floresta amazônica e seus povos nativos”, escreveu Ailton Krenak, curador da mostra, no texto que acompanha a exposição.

Viagens ao longo de cinco anos

As viagens de Nagakura e Krenak abarcaram quase cinco anos, de 1993 a 1998, dezenas de horas, sempre na companhia da produtora e intérprete Eliza Otsuka. A exposição, acompanhada dos encontros, é o resultado de uma “união de esforços para fazer uma celebração em torno dessa amizade alimentada pelo sonho e beleza da obra do fotógrafo Hiromi Nagakura”, diz Ailton Krenak.

Segundo Krenak, a mostra traz algumas das belas imagens das viagens às aldeias e comunidades na Amazônia brasileira. “Momentos de intimidade e contentamento entre “amigos para sempre” inspiraram esta mostra fotográfica mediada por encontros com algumas das pessoas queridas que nos receberam em suas cozinhas e canoas, suas praias de rios e nas aldeias: Ashaninka, Xavante, Krikati, Gavião, Yawanawá, Huni Kuin e comunidades ribeirinhas no Rio Juruá e região do lavrado em Roraima”, destaca o curador. As viagens alcançaram os estados do Acre, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, São Paulo e Amazonas. A aproximação entre Krenak e Nagakura começou numa conversa, sentados em esteiras, na sede da Aliança dos Povos da Floresta, no bairro do Butantã, em São Paulo, onde se conheceram, quando Eliza Otsuka apresentou o plano de viagens de Nagakura. “Ela (Eliza) resumiu com estas palavras o conceito todo do projeto para alguns anos dali para frente: ele vai ser a sua sombra por onde você for, quando estiver dormindo e quando estiver acordado”, recorda-se Krenak. Esta história toda está reunida em um dos livros escrito em nihongo, publicado pela editora Tokuma (Tóquio, 1998), intitulado “Assim como os rios, assim como os pássaros: uma viagem com o filósofo da floresta, Ailton Krenak”, assumido por Krenak como a sua biografia feita por Hiromi Nagakura.

Sobre o artista

Hiromi Nagakura nasceu em 1952 na cidade de Kushiro, ao norte da ilha de Hokkaido, no Japão. Desde criança, amou gente e a natureza, interessado em pessoas e culturas de outros lugares do mundo. Sentia-se atraído pelo novo, pelo desconhecido. Viajou para destinos diversos, visitou as ilhas do Pacífico Sul, entrou em contato com povos nômades do Afeganistão. Foi então que sentiu a necessidade de documentar seus encontros e começou a praticar e se aperfeiçoar nas técnicas da fotografia. Para ele, desde o início, a fotografia sempre foi um instrumento para se relacionar com o mundo e a diversidade de culturas, paisagens e pensamentos. Formou-se em direito, mas seguiu a carreira de fotógrafo. Trabalhou na agência noticiosa Jiji Press porque admirava os fotógrafos reconhecidos por seus trabalhos de cobertura de guerras. Em 1979, com 27 anos, Nagakura decidiu tornar-se fotojornalista independente, caminho que acabou levando-o a conhecer a África do Sul, Zimbábue, União Soviética, Afeganistão, Turquia, Líbano, El Salvador, Bolívia, Peru, Brasil, Indonésia, México, Groenlândia e vários outros países, em todos os continentes. Realizou centenas de viagens e exposições, publicou dezenas de livros, foi personagem de inúmeros documentários, escreveu reportagens, ministrou oficinas e palestras, recebeu prêmios.

Sobre o curador

Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953 no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, quando o povo Krenak vivia no exílio, expulso de seu território tradicional por invasores que ocuparam e depredaram as matas densas às margens do Watu, como o povo originário chama seu avô-rio. Depois, nos anos de ditadura, a antiga aldeia Krenak foi transformada em prisão indígena, testemunha da violência contra os povos que insistiam em desafiar a ordem imposta vivendo de um modo diferente. Ailton viveu parte de sua vida em São Paulo, onde estudou e começou sua militância no movimento que começava a surgir no final dos anos 1970, reunindo indígenas de muitas etnias em torno de uma luta comum por direitos. Sua imagem pintando o rosto de preto no Congresso Nacional tornou-se símbolo da resistência indígena na Constituinte. Coordenou a União das Nações Indígenas, o Núcleo de Cultura Indígena, o Centro de Pesquisa Indígena, a Embaixada dos Povos da Floresta e a Aliança dos Povos da Floresta ao lado de seringueiros, extrativistas e ribeirinhos pela vida da (e com a) Floresta. Regressou nos anos 2000 a seu território, que ajudara a consolidar em 1999. Hoje vive às margens do Watu, ferido pela lama do rompimento da barragem de dejetos da Samarco em 2015. Ali o povo se fortalece, rememora a língua e os ritos, restabelece a vida. Nos últimos anos, Ailton Krenak tem se dedicado à manifestação do pensamento através do som e do poder sagrado das palavras, refletindo sobre temas que afetam a todas e todos nós, seres vivos de todas as humanidades, companheiros da mesma canoa Terra que navega no firmamento. Suas palavras estão registradas em livros que nos aproximam da cosmologia dos povos originários e confrontam nossa vida cotidiana. Autor de Ideias para adiar o fim do mundo (2019), A vida não é útil (2020) e Futuro ancestral (2022). É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade de Brasília (UNB) e pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Em 2023, foi eleito como membro da Academia Brasileira de Letras e Academia Mineira de Letras.

Performances e exposição

31/jan

A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura da 19ª edição do Abre Alas, primeira mostra do calendário de atividades da galeria em 2024 que ocorrerá no dia 03 de fevereiro. Além da exposição e do tradicional concurso de fantasias, o evento contará com uma programação de DJs e performances.

Os 28 artistes participantes desta edição são:

BELLACOMSOM, Brenda Cantanhede, Bruno Pinheiro, Carlos Matos, Cynthia Loeb, Emilia Estrada, Guilherme Kid, Jeff Seon, Joelington Rios, Jorge Cupim, Jota Carneiro, LYV, Luiz Pasqualini, Marlon de Paula, Matheus Pires, Mauricio Igor, Medusa, Nalu Rosa, Natha Calhova, Naomi Shida, Rafael Simba, RHAY, Silia Moan, Sofia Ramos, Thaís Iroko, Thiago Modesto, Uma Moric e Virgínia Di Lauro.

A comissão de seleção – composta por Agrade Camíz e Daniela Castro – exerceu uma espécie de ausculta de um corpo social, cuja respiração entendem serem as artes, que reverberou a partir e através dos projetos e práticas artísticas recebidos para compor o 19º ABRE ALAS. Uma respiração coletiva, viva, pulsante. Saúde! Evoé!

Novos artistas selecionados

A Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura, em 02 de fevereiro, às 19h, da exposição “Alvorada”, com 51 trabalhos de 32 artistas selecionados pela chamada pública Projeto GAS – Chamada Aberta de Verão, lançada em agosto do ano passado, e que recebeu 770 inscrições de artistas brasileiros e estrangeiros. Na noite de abertura, às 20h, a artista Carolina Kasting fará a performance “Corpo-Memória”, com a criação de duas pinturas que serão integradas à exposição. “Alvorada” ficará em cartaz até o dia 09 de março.

Cenas do cotidiano; a cultura popular brasileira; a história da arte revista sob a ótica de questões atuais; reflexões do campo político, a natureza e os impactos das ações humanas; gênero e sexualidade são alguns dos assuntos tratados nas obras da exposição. Os trabalhos reunidos em “Alvorada” são resultados de interesses, realidades e práticas distintas entre si. Há artistas que moram no exterior (Gustavo Riego e Graziela Guardino) vivendo em diferentes culturas, enquanto outros convivem com o dia a dia de zonas centrais e periféricas de cidades brasileiras.

Os 32 artistas, que ocuparão todo o espaço expositivo da galeria Anita Schwartz Galeria de Arte são: Ana Raylander (SP), Badu (PB/GO), Bruna Snaiderman (RJ), Bruno Lyfe (RJ), Caetano Costa (PE), Caio Borges (SP), Carolina Kasting (SC/RJ), Cela Luz (RJ), Clarice Rosadas (RJ), Desirée Jaromicz Feldmann (DF), Diego Castro (SP), Flávia Metzler (RJ), Fogo (RJ), Graziela Guardino (SP/Sydney), Guilherme Kid (RJ), Gustavo Riego (Bruxelas/Assunção), Janaína Vieira (SE/SP), Jorge Cupim (RJ), Julia Ciampi e Tiago Lima (MG), Luiz Eduardo Rayol (RJ), Malvo (RJ), Maria Victoria Santos (MG/RJ), Maryam Souza (BA/SP), Michele Martines (RS), Myriam Glatt (RJ), Nita Monteiro (RJ/SP), Rafael Amorim (RJ), Tetê Lian (MG/SP), Thales Pomb (DF/SP), Thix (RS/RJ), Vera Schueler (RJ) e Vinicius Carvas (RJ).

Exposição Rubens Gerchman

19/jan

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Shopping Gávea Trade Center, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 18 de janeiro até 08 de fevereiro, a Exposição Rubens Gerchman. Serão expostas 30 obras do artista, com destaque para as telas Splendor Solis (1971), Nova Geografia (1973) e Ônibus (1962).

Sobre o artista:

“Prefiro sempre dizer que o que faço – minha obra – é meu depoimento diário. Autobiográfico. Costumo dizer que não invento nada. As coisas aí estão. Apenas, é preciso ver, saber ver. Sou constantemente envolvido pelos acontecimentos.” – Rubens Gerchman, 1967, apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013, p. 23.

Rubens Gerchman (1942 – 2008) nasceu no Rio de Janeiro, filho de imigrantes judeus da Ucrânia (URSS à época). Sempre desenhou, desde a tenra infância, até em sala de aula, conforme lembra o seu amigo de escola Armando Freitas Filho  – apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013. Seus pais estimularam seu talento e ainda garoto, ele estudou desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Depois cursou a Escola de Belas Artes, onde já se destacava em exposições coletivas da casa. Daí em diante, nunca parou de criar, em 50 anos de trajetória artística e com toda a pluralidade de sua obra.

Um artista notável que já foi pensado e descrito pelos mais importantes críticos, tais como Mario Pedrosa, Frederico Morais, Wilson Coutinho, Ronaldo Brito e Paulo Sergio Duarte. Ademais, Gerchman tem a sua obra e a sua memória devidamente catalogadas pelo Instituto que leva o seu nome e é cuidadosamente dirigido pela filha Clara, que além de organizar todo o acervo, reconhecidamente dissemina a cultura pujante que envolve o artista pelo website e em publicações institucionais bem produzidas, como o livro Rubens Gerchman: o Rei do Mau Gosto (2013).

Difícil posição esta de tentar escrever sobre esse personagem carioca tão genial, frente ao cabedal de reflexões já existentes. Sugestionada pelo próprio Gerchman, na epígrafe desse texto, pensei em me ater aos fatos, mas a sua trajetória profissional é tão extensa que este folder seria todo tomado pela cronologia das inúmeras exposições que ele realizou, desde a primeira, na Galeria Vila Rica, em 1964, até muito tempo depois de seu precoce falecimento. O Instituto, os colecionadores e o mercado de arte continuam se encarregando de fazer a sua arte aparecer, girar e se mostrar como merece. Coube-me, portanto, a tarefa historiadora de ressaltar aqui algumas memórias, a fim de tentar acrescentar alguma novidade à história desse artista.

Atendo-me à cronologia, primeiramente destaco a exposição do artista na Galeria Relevo, em 1965, não por ter sido mais importante que outras, embora a Relevo tenha sido um marco no mercado de arte. Mas porque eu tinha na cabeça um simpático depoimento de Matias Marcier, coletado por mim há poucos meses, sobre quando ele trabalhava nesse lugar de memória, ainda muito jovem, e organizou a mostra do Rubens Gerchman, numa ocasião em que o Jean Boghici estava em Paris.

“Eu fiz a exposição do Gerchman porque o meu irmão (Carlos André) – que era diagramador da Manchete e também trabalhou como jornalista 13 anos no O Globo – foi colega do Gerchman na Manchete e me pediu “olha, Matias, tem um amigo meu, muito meu amigo, que trabalha lá, e queria fazer uma exposição aí na Relevo”. Eu falei para ele trazer os desenhos para eu ver. O Gerchman chegou com os desenhos, eu gostei muito, e falei com o Jean (Boghici). O Jean falou “não vou me meter nisso, vou viajar, você quer fazer, você faz”. E foi feito. Foi a primeira exposição… porque ele tinha feito uma antes, numa galeria que era um antiquário, da irmã de um  crítico de arte que havia naquela época chamado Harry Laus. Mas na Relevo, o cara expôs e saiu em tudo quanto é jornal, porque a Relevo era uma coisa, entendeu? Então, para fazer a apresentação do Gerchman, eu fui pedir ao Mário Pedrosa que não fazia mais apresentações, mas fez essa porque gostava de mim. Escreveu a apresentação do Gerchman, que é linda! O original ficou comigo. Um dia a empregada foi dar uma limpeza no meu quarto, jogou fora junto com um monte de outras coisas. Mas, existe, no catálogo da Relevo, está lá.” (Matias Marcier, entrevista oral em 5/10/23).

No livro Gerchman (Salamandra, 1989), lemos à p. 36 o artista lembrando o fato: “Devo minha exposição individual a Matias Marcier, que levou a minha pasta para Jean Boghici e depois para Mário Pedrosa. Mário foi até a minha casa, ficou encantado com as obras e escreveu um texto”. Seguindo essa trajetória da memória que resolvemos investigar, uma novidade é chamar a atenção para uma mostra realizada em dezembro de 1975, organizada por Evandro Carneiro na Bolsa de Arte. Gráfica era o título da exposição que reunia obras gráficas de todas as fases do artista até aquele ano.

“Nessa época eu alternava, na Bolsa de Arte, leilões e exposições. Fiz inúmeras exposições e o Gerchman era de uma fertilidade enorme, ele estava produzindo gravuras em São Paulo e também ia começar a fazer coisas com a Lithos aqui no Rio – que eram os grandes impressores da época, o Otávio Pereira em São Paulo e a Lithos aqui no Rio -, então eu propus fazermos essa exposição da obra gráfica dele. E ficou muito bonita, a loja era muito grande, ficou repleta de gravuras. Nesse tempo eu não fazia catálogo e fizemos um poster que dobrava, dobrava, dobrava até virar um folder. Era um folder que se abria em poster e atrás tinha um texto da exposição, mas infelizmente eu não guardei o original e não sei se lá na Bolsa os materiais foram conservados. Mas foi uma magnífica exposição porque a obra gráfica do Rubens é riquíssima!” (Evandro Carneiro, entrevista oral em 15/12/23). Garimpamos no Acervo Digital de O Globo a matéria que nos relembra toda essa história. Repassamos o documento para o Instituto Rubens Gerchman guardar e incluir na cronologia profissional do artista. As memórias vão sempre conformando a história que cresce, infinitamente. Para o artista, o evento teve a importância de democratizar suas obras e se fazer conhecer mais: “Gráfica é uma oportunidade de mostrar o conjunto da minha obra, abrangendo um grande período E tenho o maior carinho por todos os trabalhos que estão lá. A validade de todas as gravuras continua, embora algumas já estejam distantes de mim no tempo. (…) Eu sempre me interessei por gráfica. Meu pai trabalhava nisso e, quando eu entrei para a Escola de Belas Artes, foi apenas por causa do Goeldi. Então eu comprei uma prensa de 800 quilos numa gráfica que estava fechando. (…) e além de eu curtir gráfica, há também o fato de que ela torna a obra mais acessível. É bem mais democrática.” (Rubens Gerchman, 1975, matéria em O Globo de 10/12/1975, p. 33).

Nessa linha minêmica, atrevo-me a compartilhar uma lembrança pessoal. O famoso quadro O Rei do Mau Gosto, capa do livro do Instituto, por longos anos esteve agraciando as paredes da sala de estar da casa dos meus pais. Dizia o artista sobre essa obra: “A ideia é um pouco de provocação, mexer com uma certa arrogância da burguesia, incomodar mesmo. Eu fiz Caixa e Cultura – o Rei do Mau Gosto. É a primeira vez que aparecem asas de borboleta e as bananeiras com dois papagaios. Acho que todo esse clima, quando Hélio cunha o termo tropicália tem a ver com aquelas bananeiras que ele botou depois na entrada.” Rubens Gerchman, 1967, apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013, p. 86.

Mas foi outra obra sua que me impactou na infância, naquele mesmo apartamento: Os desaparecidos. Eu morria de medo daquela pintura porque os olhos dos retratados me acompanhavam aonde quer que eu andasse pela sala. Aquilo me assombrava! Hoje, pelos estudos que realizei sobre o artista, percebo que deve ter sido intenção do Gerchman imprimir aqueles olhares fantasmagóricos à obra, afinal disso se tratava: a denúncia contra os desaparecimentos políticos, pintada em série durante o período da ditadura militar. Uma fantasmagoria, conforme Walter Benjamin.

Frederico Morais destaca que: “(…) a importância de sua obra vai além do campo estético. Esse rio transbordante de imagens que é a sua obra tem implicações sociológicas e políticas, da mesma maneira como falam de nosso imaginário e do inconsciente brasileiro. O que pode mais desejar um artista?” – Frederico Morais, 1986, apud. GERCHMAN, Clara (org.), 2013, p. 39.

Nesse sentido, importa notar algo grandioso que Gerchman também realizou: transformou o Instituto de Belas Artes na vanguardista Escola de Artes Visuais. E fez dali um espaço de criação transdisciplinar entre as mais diversas expressões artísticas, movimentando a cena cultural da cidade nos anos de chumbo. Criou um espaço de liberdade, resistência e encontro no Rio de Janeiro nos anos 1975-1979.   

A mostra que ora apresentamos, organizada por Evandro Carneiro em sua galeria, traz uma diversidade do universo desse artista brasileiro que produzia obras tão importantes quanto plurais, tanto esteticamente quanto sociologicamente. Assim, o acervo aqui reunido tenta dar conta dessa pluralidade temática e temporal: da questão indígena, recorrente nos anos 1970 quando ele lia e relia o Brasil pela ótica do admirado antropólogo Levi Strauss, aos calorosos beijos e bancos de trás de fortuitos carros de passeio. Das malas e outros objetos a serem completados pelo espectador às multidões urbanas e ciclistas. Dos desaparecidos políticos às enormes palavras construídas em trocadilhos, brincadeiras semânticas na criação do espaço formal. Do futebol às violências cotidianas de crimes e destruição ecológica. Estão na mostra o Splendor Solis, reproduzido no catálogo de sua mostra do MAM-RJ, o primeiro Beijo escultórico que foi de seu amigo Gilles Jacquard e algumas outras preciosidades de cada década de sua trajetória.

“O que eu acho do Gerchman? Acho um artista magnífico! Sempre tivemos amizade, sempre tive obras dele. O simples fato de eu fazer uma exposição póstuma na minha galeria diz tudo: tenho o maior respeito e a maior admiração por ele”. (Evandro Carneiro, entrevista oral em 15/12/23).

Laura Olivieri Carneiro

Janeiro 2024