Com abertura no dia 12 de agosto, mostra terá a participação de 10 prestigiados artistas:
Alexandre Mury, Arthur Scovino, Berna Reale, Gustavo Speridião, Luiza Baldan, Matheus Rocha
Pitta, Paulo Nazareth, Raphael Couto, Rodrigo Braga e Yuri Firmeza.
Cinquenta trabalhos de dez consagrados artistas brasileiros estarão à disposição do público na
exposição “Novos Talentos: Fotografia Contemporânea no Brasil”, de 12 de agosto a 18 de
outubro, na Galeria 4 da CAIXA Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Vanda
Klabin e coordenação e idealização de Afonso Costa, a mostra apresenta visões fotográficas
variadas, com linguagens e processos de criação únicos que se utilizam de momentos políticos,
da mutabilidade da natureza e até do próprio corpo como experimento. A exposição faz um
interessante recorte de como a imagem vem sendo usada por nomes de diferentes gerações e
caminhos distintos, cujas produções vão muito além de um meio específico. Presente de forma
vibrante no mercado contemporâneo, a fotografia foi a vertente da arte que mais se
desenvolveu nos últimos anos. Diversas galerias se especializaram no assunto, leilões e feiras
passaram a existir com esse foco exclusivo. Diante desse novo cenário, a exposição apresenta a
fotografia compreendida como uma linguagem.
Paulo Nazareth apresenta a série Notícias da América, resultado de suas longas peregrinações
a pé e de carona pelo continente americano, onde imagens e acontecimentos mostram as
diversas realidades sociais, com a finalidade de expandir o conceito de pátria. Na série Rosa
Púrpura, Berna Reale, que está representando o Brasil na Bienal de Veneza, contou com a
participação de 50 jovens de Belém para discutir a questão da violência contra a mulher. “Me
incomoda muito o ser humano não se ver no outro e me assusta a violência se tornar íntima”,
explica a artista, que é também perita criminal do Centro de Perícias Científicas do Estado do
Pará.
Com um trabalho bastante político, Gustavo Speridião apresenta a série Movimento –
Ayotzinapa Vive!, que registra manifestações e atritos em regiões urbanas do México e do Rio
de Janeiro. “Comecei a ter sentimentos de querer mudar o mundo e procuro imagens que
refletem o processo revolucionário mundial”, diz. A violência, o desencanto, a condição da
miséria humana estão presentes na impactante série Brasil, de Matheus Rocha Pitta. O artista
mistura carnes vermelhas num processo mimético com as areias escaldantes de Brasília.
A partir de imagens produzidas em São Paulo e no Chile, Luiza Baldan cria contrapontos para
os espaços solitários, onde a sensação de vazio, aliada ao silêncio, circula livremente em
cenários ora intimistas, ora urbanos. Luiza Baldan participará de outras exposições neste
segundo semestre, no Centro Cultural São Paulo e na galeria Bergamin & Gomide, SP.
A parceria entre o homem e a natureza estão presentes nas fotos de Rodrigo Braga, que cria
um documento visual extremamente perturbador. Yuri Firmeza registra as ruínas da cidade
histórica de Alcântara, primeira capital do Maranhão, construída no século XIX na esperança
de hospedar o imperador D. Pedro II. Atualmente o lugar tem um centro espacial, instalado
pela Força Aérea Brasileira. O artista aproveita a paisagem para mostrar o tempo
sedimentado, não linear, não cronológico. A série Ruínas propõe o pensamento crítico à lógica
de crescimento das metrópoles.
Já os artistas Alexandre Mury, Arthur Scovino e Raphael Couto utilizam o próprio corpo para
suas práticas artísticas. “As fotografias mergulham em territórios ambíguos, pois lidam com o
campo da performance, testando os limites do corpo em diversas situações estéticas”, diz a
curadora. Erotismo, rituais e mitologias estão presentes na série Nhanderudson – num ponto
equidistante entre o Atlântico e o Pacífico, de Scovino. O artista escolheu uma imagem central
que representa o Caboclo meio-dia, e fotografou, sempre neste horário, na Chapada dos
Guimarães, no Mato Grosso.
Alexandre Mury representa os quatro elementos naturais, ar, água, fogo e terra, a partir de
seu próprio corpo. Nos trabalhos, está presente uma poética da turbulência, em que parece
estar vulnerável, num esgotamento de suas forças. “Essa mostra é muito oportuna para reunir
nomes de prestígio da arte contemporânea brasileira e seus trabalhos mais recentes”,
comemora Mury, que recentemente teve sua produção exposta no SESC Glória, em Vitória, e
na Roberto Alban Galeria, em Salvador.
Para Raphael Couto, as ações de metamorfose do corpo se dão no detalhe, no fragmento.
Abrir pele, cortar, costurar, colar e rasgar são, segundo o artista, gestos destrutivos que se
tornam construtivos. Ele parte de uma sensibilidade corporal e acrescenta reflexão sobre a
linguagem plástica. “Estou muito feliz com a possibilidade de colocar o meu trabalho em
diálogo com artistas que admiro e que são referências para o meu trabalho”, diz Raphael.
A palavra da curadora
“As obras apresentadas servem como um interessante panorama de visualização da produção
da fotografia contemporânea nacional. A ideia da curadoria é tirar partido deste frescor em
uma mostra que reúne as obras mais próximas ao espírito inquieto desses artistas, cada um na
sua dimensão particular, sempre em incessante processo criativo. Eles repensam, rediscutem e
reinventam a extraordinária tradição fotográfica por meio de um pensamento plástico atual,
com desenvoltura artesanal, intelectual e imaginativa inéditas até aqui.”
A palavra do idealizador
“A foto é apenas um recurso do desenvolvimento do trabalho deste grupo. Tanto que seria
possível fazer uma exposição com os mesmos artistas usando outros meios como vídeo,
objeto, pintura, instalação, performance, etc. Tal diversidade de caminhos, seja pelo viés
político, social, estético, construtivo, visceral, performático, ambiental ou corpóreo, entre
tantos outros, delineia e pontua essa dita ‘nova identidade’, que norteia e reflete os rumos da
fotografia no país.”,
A mostra Novos Talentos: Fotografia Contemporânea no Brasil é produzida pela R&L
Produtores Associados, dos sócios Rodrigo Andrade e Lucas Lins.