O MAM-RIO, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, Petrobras, Bradesco Seguros, Light e
Organização Techint apresentam, a exposição “Amilcar de Castro”, uma grande retrospectiva
da obra do importante artista plástico mineiro, que nasceu em 1920 e faleceu em 2002. Com
curadoria de Paulo Sergio Duarte, a mostra ocupará o Salão Monumental, os Pilotis e os
Jardins do Museu, com 56 obras produzidas desde a década de 1960 até 2001.
Quatro esculturas, em grandes dimensões, feitas em aço cortén, estarão na área externa do
Museu. Duas delas, da década de 1990, estarão nos Pilotis: uma com mais de três metros de
comprimento, e cinco toneladas, e outra de 4,70 metros de comprimento por 2,40 metros de
altura, pesando três toneladas. A obra mais alta é da década de 1970, e estará nos Jardins do
Museu: quatro metros de altura por dois de largura, com quatro toneladas. Em frente ao lago,
estará uma escultura da década de 1980.
Nas esculturas é utilizada a técnica de “corte e dobra”, um dos traços marcantes da obra do
artista, como explica o curador: “Na escultura, são raríssimos os trabalhos em que se encontra
a solda. O método foi partir de um plano quadrado, retangular, de um quadrilátero irregular
ou circular, realizar um corte e a dobra, gerando não apenas a tridimensionalidade, mas,
sobretudo, uma nova experiência do espaço”.
A exposição terá, também, esculturas menores, que ficarão no interior do Museu. Dentre os
destaques, está um conjunto composto por 140 esculturas em aço cortén, diferentes umas das
outras, que têm em comum o fato de terem, em ao menos um dos lados, 23 cm. A grande
maioria das esculturas foram feitas em aço cortén, na exposição também haverá obras em
mármore, granito, madeira e vidro. “Ao método de corte e dobra, a partir da década de 1980,
vem se somar o método da utilização de blocos de aço e madeira no qual serão realizados
apenas cortes que permitem, pelo deslocamento entre as partes, diversos exercícios de
experiência da escultura. Alguns desses trabalhos foram também realizados em mármore”,
ressalta o curador Paulo Sergio Duarte.
A mostra contará ainda com seis “desenhos” em tinta acrílica sobre tela, que é como Amilcar
de Castro chamava suas pinturas sobre tela e sobre papel, em que usa basicamente as cores
preto e branco, deixando rastros das cerdas do pincel nas telas.
IMPORTÂNCIA HISTÓRICA
Amilcar de Castro é um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros.
“Retrospectivamente, observando-se com a distância de várias décadas, a produção
escultórica desse período, tanto a europeia, a norte-americana, como a japonesa, tem-se a
ideia da dimensão da contribuição de Amilcar que se manifesta com destaque desde a 2ª
Bienal Internacional de São Paulo, em 1953. O poder da obra, sua potência poética, reside na
coerência do método, perseguido ao longo de toda a trajetória do trabalho”, afirma o curador.
Paulo Sergio Duarte também chama a atenção para o fato de ele ter sido um dos artistas que
assinaram o “Manifesto neoconcreto”, em 1959 – escrito pelo poeta e crítico Ferreira Gullar –
junto com Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanúdis.
“Em um país que vivia o empenho do segundo governo Vargas e, logo depois, o Programa de
Metas de Juscelino Kubitschek com a construção de Brasília, era necessário que, além da
aventura arquitetônica, houvesse um conjunto de obras de arte significativo, ainda que de
circulação extremamente restrita pela ausência de um empenho efetivo na formação de
coleções públicas. Toda a rica reflexão crítica e teórica se fundava, sobretudo, numa produção
local. A obra de Amilcar de Castro é um dos pilares dessa produção. E não é exagerado dizer
que é um dos elevados momentos da arte da segunda metade do século 20”, diz o curador.
SOBRE O ARTISTA
Amilcar de Castro nasceu em 1920 em Paraisópolis, MG. Faleceu em Belo Horizonte, MG, em
2002. Escultor, gravador, desenhista, diagramador, cenógrafo, professor. Muda-se com a
família para Belo Horizonte em 1935, e estuda na Faculdade de Direito da Universidade
Federal de Minas Gerais – UFMG, de 1941 a 1945. A partir de 1944, frequenta curso livre de
desenho e pintura com Guignard (1896-1962), na Escola de Belas Artes de Belo Horizonte, e
estuda escultura figurativa com Franz Weissmann (1911-2005). Em 1940, em seus trabalhos,
dá-se a passagem do desenho para a tridimensionalidade. Em 1952, muda-se para o Rio de
Janeiro e trabalha como diagramador em diversos periódicos, destacando-se a reforma gráfica
que realizou no “Jornal do Brasil”. Depois de entrar em contato com a obra do suíço Max Bill
(1908-1994), realiza sua primeira escultura construtiva, exposta na Bienal Internacional de São
Paulo, em 1953. Participa de exposições do grupo concretista, no Rio de Janeiro e em São
Paulo, em 1956, e assina o “Manifesto Neoconcreto”, em 1959. No ano seguinte, participa em
Zurique da Mostra Internacional de Arte Concreta, organizada por Max Bill. Em 1968, vai para
os Estados Unidos, conjugando bolsa de estudo da Guggenheim Memorial Foundation com o
prêmio de viagem ao exterior obtido na edição de 1967 do Salão Nacional de Arte Moderna
(SNAM). De volta ao Brasil, em 1971, fixa residência em Belo Horizonte. Torna-se professor de
composição e escultura da Escola Guignard, na qual trabalha até 1977, inclusive como diretor.
Leciona na Faculdade de Belas Artes da UFMG, entre as décadas de 1970 e 1980. Em 1990,
aposenta-se da docência e passa a dedicar-se com exclusividade à atividade artística.
Texto do curador Paulo Sergio Duarte
Amílcar de Castro e a coerência do método
Estamos diante de um dos elevados momentos da arte da segunda metade do século XX: a
obra de Amílcar de Castro (Paraisópolis, 1920 – Belo Horizonte, 2002). Que essa obra tenha se
materializado num país de periferia, com mais da metade de sua população habitando a zona
rural na década de 1950 (segundo o censo de 2010, hoje, são um pouco menos de 16%), é um
dos problemas que críticos e historiadores da arte do Hemisfério Norte só agora começam a
tentar compreender. O Manifesto neoconcreto (1959), escrito pelo poeta e crítico Ferreira
Gullar e assinado pelo autor, por Amílcar de Castro, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape,
Reynaldo Jardim e Theon Spanúdis; a Teoria do não objeto (1959), de Gullar, e um conjunto de
textos de Mário Pedrosa, escritos ao longo da década de 1950, testemunhavam sobre a
emancipação crítica e teórica sobre a arte no Brasil. O Manifesto neoconcreto é um momento
privilegiado dessa reflexão ao se opor ao positivismo naïve dos teóricos do concretismo e seu
“objetivismo”.
Para esse nível de compreensão da arte ser atingido, num país que vivia o empenho do
segundo governo Vargas e, logo depois, o Programa de Metas de Juscelino Kubitschek com a
construção de Brasília, era necessário que, além da aventura arquitetônica, houvesse um
conjunto de obras de arte significativo, ainda que de circulação extremamente restrita pela
ausência de um empenho efetivo na formação de coleções públicas. Toda a rica reflexão crítica
e teórica se fundava, sobretudo, numa produção local. A obra de Amílcar de Castro é um dos
pilares dessa produção. E não é exagerado dizer que é um dos elevados momentos da arte da
segunda metade do século XX.
Retrospectivamente, observando-se com a distância de várias décadas, a produção escultórica
desse período, tanto a europeia, a norte-americana, como a japonesa, tem-se a ideia da
dimensão da contribuição de Amílcar que se manifesta com destaque desde a 2ª Bienal
Internacional de São Paulo, em 1953. O poder da obra, sua potência poética, reside na
coerência do método, perseguido ao longo de toda a trajetória do trabalho. Na escultura, são
raríssimos os trabalhos em que se encontra a solda. O método foi partir de um plano
quadrado, retangular, de um quadrilátero irregular ou circular, realizar um corte e a dobra,
gerando não apenas a tridimensionalidade, mas, sobretudo, uma nova experiência do espaço.
As possibilidades desse método, ao visitante, estão demonstradas desde esculturas
monumentais no exterior do museu, nas de grande e pequeno porte, e nas 140 esculturas que
têm em comum não se repetir e ter ao menos em uma de suas dimensões 23 cm.
Ao método de corte e dobra, a partir da década de 1980, vem se somar o método da utilização
de blocos de aço e madeira no qual serão realizados apenas cortes que permitem, pelo
deslocamento entre as partes, diversos exercícios de experiência da escultura. Alguns desses
trabalhos foram também realizados em mármore.
A esses se juntam as experiências de escultura em vidro, raramente apreciadas, e os
magníficos “desenhos”, como Amílcar chamava suas pinturas sobre tela e sobre papel.
Espero que aquele que estiver aqui lendo esse texto volte a visitar essa magnífica lição sobre a
arte que é a obra de Amílcar de Castro.
De 26 de novembro a 08 de fevereiro de 2015.