Na fachada do Oi Futuro

29/out

O “Grande Campo”, projeto de arte pública do Oi Futuro no Centro Cultural do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, ganhará uma obra de Suzana Queiroga, artista conhecida por seus guaches acompanhados de versos que formam poemas visuais. No que a artista chama de “gigantesca folha de papel”, foram desenhados os versos “Me apequeno/ Voo/ Me separo/ Vento” sobre uma imagem do mar, dos ventos e do ar. O projeto tem relação direta com a série de desenhos “Livro do AR”, apresentada em 2013, no MAC, em Niterói, onde Suzana Queiroga reflete sobre o último voo do pai, morto em um desastre aéreo quando a mãe estava grávida da artista. A curadoria é de Alberto Saraiva.

 

 

A palavra da artista

 

“Foi como dar um salto radical do intimismo da pequena folha de papel para a escala urbana”, resume a artista sobre este trabalho.

 

 

A partir de 04 de novembro.

Evento no Parque Lage

28/out

A Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Jardim Botâncio, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no espaço das Cavalariças e Capela, no próximo dia 03 de novembro, a exposição “EAV 75.79 – um horizonte de eventos”, que reúne gravuras, objetos, fotografias, cartazes, filmes e documentos que abordam os anos 1975 a 1979, período inaugural da instituição, fundada e dirigida por Rubens Gerchman. A curadoria é de Helio Eichbauer, cenógrafo e colaborador essencial daquela gestão, criador das inovadoras oficinas do Corpo e Pluridimensional, e Marcelo Campos, professor da Escola e coordenador do Memória Lage. “Horizonte de eventos” é a expressão científica que significa a fronteira teórica ao redor de um buraco negro, e ao estar relacionada ao período de 1975-1979 da EAV, é o conceito norteador da exposição.

 

Marcelo Campos observa que passaram pelas dependências da EAV “artistas, críticos de arte, antropólogos, diretores de teatro, cenógrafos, poetas, músicos”. Aglutinados por Rubens Gerchman, colaboraram com a Escola Helio Eichbauer, Frederico Morais, Lygia Pape, Celeida Tostes, Gastão Manoel Henrique, Roberto Da Matta, Rosa Magalhães. “Além do cinema, a poesia tinha ampla difusão, nos eventos do Verão a 1000, coordenados por Chico Chaves”, lembra o curador. Em shows e noites festivas de lançamentos de “poema-processo” circulavam pelo pátio da piscina da EAV músicos e poetas como Chacal, Neide Sá, Falves Alves (Rio Grande do Norte), Almandrade (Bahia) e Paulo Brusky (Pernambuco), Luiz Melodia, Caetano Veloso e Jards Macalé.

 

“Horizonte de eventos” é a expressão científica que significa a fronteira teórica ao redor de um buraco negro, e ao estar relacionada ao período de 1975-1979 da EAV, é o conceito norteador da exposição. “Apresentamos uma possível iluminação sobre o sentido de arquivo, de memória. Ao mesmo tempo, todo o restante, o que compõe a escuridão, continua a existir como potência, mas não se deixa ver, por razões que a história brasileira ainda está a revelar”, diz Marcelo Campos

 

A diretora da EAV Parque Lage, Lisette Lagnado, observa que “em 1975, Gerchman assume a direção do então Instituto de Belas-Artes e logo chacoalha sua estrutura. Atualizar o ensino da arte no Brasil está na origem da EAV”. Para Marcio Botner, presidente da Oca Lage, organização social que administra a EAV e a Casa França-Brasil, “pensar a Escola de Artes Visuais do Parque Lage é pensar no Gerchman. Para ter arte tem que ter risco e liberdade. Ele abriu um espaço único de união das artes”.

 

 

Gravuras de 1976

 

A exposição ocupará as Cavalariças do Parque Lage e seu espaço contíguo, a Capela, com cenografia e móveis desenvolvidos por Helio Eichbauer, que criou dois biombos com quatro folhas cada, tendo como face quadros-negros sobre estruturas vazadas. Dispostos em ziguezague, eles exibirão reproduções de fotografias da época feitas por Celso Guimarães. O pensamento que norteava a prática exercida nas oficinas de Eichbauer emolduram os biombos, em frases-proposições como: Espaço topológico, Singularidade. Sincronicidade, A busca do espaço humano, Ritos de passagem, Encantaria.Pajelança, Sociologia da arte, Foto.síntese, Janelas dimensionais, Brasil.Idade, Espaço lúdico, Oficinas   Território tribal, Arte do fogo, Entropia e arte, Terra mater, Intuição e método.

 

Em uma das paredes estarão gravuras feitas em 1976, na EAV, pelos artistas Avatar Moraes (1933-2011), Dionísio Del Santo (1925-1999), Eduardo Sued (1925), Gastão Manoel Henrique (1933), Isabel Pons (1912-2002), Newton Cavalcanti (1930-2006), Roberto Magalhães (1940), Susan L’Engle (1944), e por Rubens Gerchman. Sobre um cubo, estará um trabalho recente e inédito do artista Thomas Jefferson (1978), estudante da EAV.

 

Três bancadas de madeira conterão originais de cartazes, publicações, documentos e fotografias da época pertencentes ao acervo da EAV, descobertas pelo projeto Memória Lage. Para dar ao público a noção do período, do contexto cultural e da abrangência de atividades realizadas pela instituição – que poderiam tanto ser discussões sobre feminismo, exibição de danças afro-brasileiras, sessões de cinema, ou incontáveis eventos de música e arte – esses documentos estão dispostos sob os temas Cultura popular, Cultura negra, Poesia, Cinema, Política cultural, Videoarte, Gravura, Escultura, Pintura, e Atmosfera. No centro do espaço, uma mesa giratória, como um moinho de quatro pás, conterá destaques dos registros dos eventos e atividades.

 

Na Capela, espaço contíguo à Cavalariça, será exibido um vídeo com depoimentos recentes e inéditos de Helio Eichbauer, dos artistas Roberto Magalhães e Xico Chaves, do editor Mário Margutti e do fotógrafo Celso Guimarães, que colaboraram com a gestão de Rubens Gerchman. Com cerca de uma hora de duração, o vídeo foi produzido por duas equipes da EAV – projeto Memória Lage, com entrevistas feitas por Juliana Rego e Thábata Castro, tendo à frente Marcelo Campos e Sandra Caleffi; e integrantes do Núcleo de Arte e Tecnologia, responsáveis pela filmagem e edição, em coordenação de Tina Velho.  Em um primeiro momento as entrevistas foram pensadas como forma de suprir uma lacuna documental do Memória Lage, mas o resultado rico e surpreendente foi determinante para que fosse inserido na exposição.

 

 

Intuição e Método

 

As famosas e criativas práticas realizadas por Helio Eichbauer entre 1975 e 1979 estavam fortemente embasadas em pensadores como Gilles Deleuze (1925-1995), Michel Foucault (1926-1984) e Félix Guattari (1930-1992). Frases como “A arte não reproduz o visível. Torna visível”, de Paul Klee (1879-1940), “Educação não é privilégio”, de Anísio Teixeira (1900-1971), e “Toda percepção é também pensamento. Todo processo de raciocínio é também intituivo. Toda observação é também invenção”, de Rudolf Arnheim (1904- 2007), também são referências para Eichbauer. Dentre as publicações que acompanharam o artista-professor estão “Os estados múltiplos do ser” (1932), de René Guénon (1886- 1951); “Abstração e empatia” de Wilhelm Worringer (1881-1965), “Escultura negra” (1915), de Carl Einstein (1885-1940), e o “Guia prático”, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que para ele traz “o mundo sonoro da infância”.

 

Lisette Lagnado, no texto que acompanha a exposição, cita a questão proposta por Gerchman em um poema escrito durante a estada do artista em Nova York, entre 1969 e 1971: “como conduzir um programa “não branco, não europeu, não colonial, não geográfico”, e onde fazer circular esta ideia de cultura”? Ela complementa: “Não há terreno mais fértil para tamanha ambição do que uma escola. Mais ainda, uma escola de arte”. A respeito do período inaugural da EAV Parque Lage, Marcio Botner exalta “as gerações de artistas que juntos aprenderam a misturar as artes e voar longe, do Parque Lage para o mundo”.

 

 

Até 11 de janeiro de 2015.

Joana Cesar na Athena

23/out

Joana Cesar abre mostra na Galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. A artista tornou-se conhecida pelas inscrições ilegíveis, ou seja, seu alfabeto particular de símbolos, e agora apresenta nova série de (dez trabalhos) inéditos na exposição “Nome”, cuja curadoria traz a assinatura de Ivair Reinaldim.

 

Trazendo novidades em seu processo de criação, Joana conta que os suportes se parecem cada vez mais com caixas do que com quadros. As laterais estão ficando mais altas e essa mudança acontece por conta da relação de Joana com a construção do próprio trabalho, cada vez mais afastado da pintura e caminhando na direção da escultura em seu processo de colagem e pintura sobre madeira. Outro momento é que a artista não usa mais pincéis e trabalha apenas com as mãos, panos, algumas trinchas, rodos e lixas. “Sigo em busca de trazer à tona uma memória – que não vem; mas parece querer chegar”, diz ela.

 

Joana Cesar já conquistou colecionadores, participa de feiras como a Art Rio, SP Arte, Art Miami e será lembrada por ter produzido seu dialeto na perimetral do Rio, antes de ter sido historicamente derrubada. A mostra reúne um conjunto de trabalhos recentes e inéditos, concebidos a partir de sobreposições de camadas de papeis retirados de outdoors e muros da cidade, assim como de imagens pessoais ou ligadas ao universo íntimo da artista. No espaço da tela, memórias reais e inventadas, claras e imprecisas, atravessam-se, aproximam e se afastam, através da ação intermitente de Joana.

 

Ao nos depararmos com esses objetos, podemos concluir: aquilo que é visível aos olhos encontra-se apenas na superfície da tela. Para o curador da exposição, Ivair Reinaldim, o  gesto da artista é o de uma arqueóloga à avessas, que, ao invés de cavar, provoca o soterramento dessas imagens, histórias e memórias. No entanto, ao promover o apagamento literal das camadas subjacentes de cada trabalho, a artista metaforicamente as escava em busca dos significados mais profundos contidos nesses elementos e em seu processo.

 

O ato de nomear está relacionado ao processo de construção de sentido. Pensar em um nome não é apenas definir como designar algo, mas dar significado a certos significantes – imagens, traços, lapsos, memórias –, a partir da importância que estes passam adquirir no momento em que aparecem e desaparecem. O processo de produção dos trabalhos de Joana Cesar guarda uma relação simbólica com a gestação, com a formação de algo que procura vir ao mundo à procura de um nome.

 

 

Como tudo começou:

 

Um trecho da mureta da via expressa que liga a Zona Sul à Barra da Tijuca apareceu coberto de inscrições ilegíveis numa manhã do ano passado. Era uma sequência de símbolos, pintados em tinta branca, que ocupava toda a altura do muro. Estendia-se por mais de 100 metros e tinha quase 400 sinais compridos e estreitos. Vários deles eram repetidos, o que sugeria tratar-se de um alfabeto. As letras tinham ângulos retos e poucas curvas. Algumas lembravam a escrita latina – era possível identificar um I, um X, um Y espelhado, um U de ponta-cabeça. Não havia espaço que delimitasse as palavras. Se aquilo fosse mesmo uma mensagem, era incompreensível. Inscrições semelhantes haviam sido deixadas em muros e viadutos da Gávea, da Lagoa, do Leblon e bairros adjacentes. Há mensagens escritas no alfabeto enigmático num acesso ao túnel Rebouças, no muro de uma escola e na frente do Jardim Botânico. Entre grafites e pichações, os escritos de Joana costumam ficar na parte de cima de muros altos e outros lugares improváveis.

 

No início eram inscrições pequenas.  À medida em que Joana ganhava confiança, aumentou a frequência das saídas para escrever os relatos cifrados. Ela produz suas próprias tintas. Mistura pigmento em pó, cola e água na proporção adequada à superfície que escolhe. Sai para pintar de carro ou bicicleta, e leva galões, rolos e cabos extensores de tamanhos variados. Hoje, prefere ficar nas proximidades da sua casa, na Gávea, “porque sou mulher e pinto sozinha”, afirma. A artista começou a escrever quando era adolescente, por conta da dificuldade de se expressar. “Foi nessa época que inventei o código. Ele servia apenas para eu poder manter um diário sem o risco de o meu irmão mais velho ler, onde eu relatava meus sonhos e minhas paixões”, diz Joana.

 

Quando começou a produzir seus códigos através da arte, no ateliê, que dividia com sua mãe, também artista plástica, ficou com vontade de ir para a rua e mostrar seus textos. Mas não venceu a timidez: preferiu se expor de modo incompreensível, recorrendo ao alfabeto secreto que concebera na puberdade.

 

 

De 06 de novembro a 13 de dezembro.

Na Silvia Cintra + Box 4

22/out

Em sua terceira individual na galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, Rodrigo Matheus  apresenta uma série inédita de esculturas, instalações e colagens produzidas durante temporada na cidade após período de quase quatro anos no exterior. Os trabalhos são construídos a partir de postais  enviados do Rio de Janeiro para a Europa ao longo do século XX. São cartões encontrados pelo artista em feiras de segunda mão europeias, trazidos de volta ao destino de origem e, aqui, combinados a postais enviados da Europa e encontrados na capital carioca em pleno século XXI. Rodrigo Matheus titulou essa nova exibição individual como “Do Rio e para é to Rio and from”.

 

A micronarrativa é pano de fundo de esculturas e instalações que repetem no interior da galeria, de 31 de outubro a 06 de dezembro, aquilo que se observa como recorrente na cidade: a relação entre a vegetação e a arquitetura. O vocabulário modernista das construções dos anos de ouro e as grades de ferro anexadas a seus prédios posteriormente. O comércio vigoroso da região do Saara que corresponde à agenda da cidade – Carnaval, Natal, Ano Novo. O macaco que sobrevive entre aquilo que foi civilizado e o que nunca será. O jogo de permissão e interdição mediado pela praia.

 

O conjunto de obras que a exposição abriga se vale do próprio repertório visual da cidade para o desenvolvimento de esculturas que se apropriam tanto daquilo que é planejado quanto aquilo que é espontâneo e improvisado na malha urbana. “Os materiais utilizados nestes trabalhos saem deste contexto. Grades de metal de padrões variados, plantas artificiais, areia e telas de proteção para reforma de prédios, vitrines do Saara e materiais de construção questionam  a imagem glamourizada dos cartões postais face aos problemas reais que a cidade enfrenta”, comenta o artista.

 

Ainda nas palavras de Rodrigo Matheus, “Do Rio e para é to Rio and from” discute a ambiguidade do processo de modernização brasileiro a partir do imaginário que o Rio de Janeiro projeta. “Porta de entrada do país e monumento natural, antiga capital do Império Português, antiga capital do Brasil, destino turístico e hoje alvo de um retrofit urbanístico que busca fundar no seu centro histórico uma ilha globalizada cercada de uma paisagem tropical avessa a domesticações”.

 

 

Sobre o artista

 

Rodrigo Matheus nasceu em 1974, em São Paulo, e vive e trabalha entre Londres e sua cidade natal. Graduou-se em Multimídia e Intermídia na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) e é mestre em escultura pelo Royal College of Art, na capital inglesa. Seus trabalhos articulam diversas mídias — vídeos, instalações e esculturas — em obras que discutem a natureza da representação na arte e sua relação com o design industrial. Apresentam situações que questionam as estruturas de poder por trás de identidades visuais que regram nossa subjetividade em nome do progresso civilizatório. Ao aproximar elementos industriais e naturais em um só corpo, o artista lança com suas obras um olhar crítico sobre as noções coletivas de representação da natureza forjadas dentro de um ambiente público e urbano. Modifica e propõe novas combinações para o mecanismo da vida cotidiana. Constrói a partir de objetos em circulação no mundo novas possibilidades de sentido fora daquelas programadas pela sua função. É representado por galerias em Londres, Rio de Janeiro, São Paulo e Los Angeles e suas obras estão presentes em diversas coleções públicas e particulares, como Instituto Inhotim, MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e instituto Itaú Cultural.

 

Dentre as exposições individuais, destacam-se Coqueiro Chorão, Ibid Projects (Londres, 2014), Colisão de Sonhos Reais em Universos Paralelos, Fundação Manuel Antonio da Mota (Porto, 2013) e Handle with Care, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2010). Já entre as coletivas, chamam atenção as participações de Rodrigo em Champs Elyseés, no Palais de Tokyo (Paris, 2013), Imagine Brazil, Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013) e Itinerários – Itinerâncias, 32ª Panorama do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2011), The Spiral and the Square, Bonniers Kontshall, Stockholm, (Suécia, 2011).

 

 

A partir de 30 de outubro.

Caverna Kitsch na Caixa Rio

21/out

A Caixa Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, na Galeria 1, a exposição “Caverna Kitsch”, do artista visual paulistano Gabriel Centurion. A mostra apresenta uma pintura-mural, que se estende pelas paredes da galeria, conjugada com 10 pinturas sobre tela em grandes dimensões, mobiliário pessoal do artista e um vídeo, formando um ambiente lúdico e fantástico.

 

Com curadoria de Ricardo Resende, a exposição reúne a produção mais recente do artista visual, que reflete seu apelo ao exagero e a situações estranhas do cotidiano. A obra de Gabriel Centurion celebra o universo kitsch, que é caracterizado por objetos de valor estético exagerado ou de “gosto duvidoso”.

 

O ponto de partida no processo criativo do artista é o que se caracteriza como uma pintura intencionalmente mal feita, que se assemelha à produção de artistas dos anos 80. O universo retratado nas pinturas de Gabriel Centurion, em geral, são imagens virtuais acessadas na internet e projetadas para a tela ou direto para as paredes. O artista cria situações inusitadas e de figuração distorcida. O resultado são pinturas que retratam situações irreais, fantásticas e impensáveis no dia a dia.

 

“É como se a pintura saísse da parede para o espaço da exposição, tornando-se tridimensional e levando o público a fazer parte dela”, explica o curador.

 

 

Sobre o artista

 

Gabriel Centurion é formado pelo Instituto de Artes da UNICAMP e participante do Ateliê Fidalga – grupo de pesquisa em arte contemporânea que vem expondo os trabalhos dos seus integrantes em diversos locais do Brasil. Recebeu vários prêmios como Salão de Arte Contemporânea Luis Sacilloto,  Santo  André (SP); a Bienal do Sesc e o Salão Victor Meirelles, Florianópolis (SC).

 

 

Sobre o curador

 

Curador do Museu Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro, Ricardo Resende é mestre em História da Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Tem carreira centrada na área museológica. Organizou a mostra Leonilson: Sob o Peso dos Meus Amores, em 2012 e dirigiu o Centro Cultural São Paulo.

 

 

De 30 de outubro a 21 de dezembro

O pop Ron English no Brasil

A exposição denominada “Ron English – Do estúdio para a rua” apresenta 110 obras do polêmico artista contemporâneo, que definiu seu estilo como POPaganda, na Caixa Cultural, Galerias 2 e 3, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Misturando referências do cenário pop, da história da arte, da propaganda, dos quadrinhos e da música, a mostra expõe pôsteres, quadros, murais e fotografias do americano, além de um documentário.

 

Conhecido por suas intervenções em outdoors e suas obras provocativas que misturam publicidade com cultura pop americana, Ron é um dos três grandes nomes do Surrealismo Pop, ao lado de Robert Williams e Mark Ryden, e um dos mais importantes da arte contemporânea. É considerado um dos criadores da street art e das intervenções urbanas.

 

O artista criou uma obra especialmente para a exposição brasileira. Trata-se da imagem de uma borboleta sul-americana, que expressa sua admiração pelos valores e belezas do ecossistema do continente e como ele afeta todo o planeta. O trabalho faz referência ao “efeito borboleta”, fenômeno sobre grandes consequências causadas por pequenas mudanças.

 

Em paralelo à mostra, será exibido o documentário “POPaganda: The Art and Crimes of Ron English”, dirigido pelo espanhol Pedro Carvajal. O filme exibe o processo criativo do artista e mostra como são instaladas suas obras em outdoors não autorizados. O documentário explora, também, a paixão de Ron English em fazer com que as pessoas pensem mais sobre a relação entre a sociedade e o consumo.

 

 

De 21 de outubro a 21 de dezembro.

Tomie Ohtake no Rio

17/out

O espaço carioca da galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta série inédita de pinturas de Tomie Ohtake. O acervo reunido exibe a alta qualidade e vitalidade da consagrada artista, uma festa de cor para os olhos.

 

 

Tomie Ohtake, de branco.

Texto de Paulo Miyada

 

Algum dia, em algum lugar, alguém teve que sussurrar pela primeira vez, talvez um pouco envergonhado, sem muita convicção, que achava curioso como a figura representada na Monalisa de Leonardo da Vinci parecia estar sorrindo, mas talvez não estivesse… É impossível saber como isso se deu, mas a confusão desse sincero personagem anônimo da história da arte alastrou-se sem limites e aderiu à obra de tal forma que hoje é impossível olhar para a Monalisa – ou mesmo para uma de suas milhares de reproduções – sem espiar o seu sorriso ambíguo.

 

Este é um exemplo anedótico do quanto as interpretações e dúvidas do público podem aderir a uma obra de arte até o ponto em que não podem mais ser dissociadas ou esquecidas. Ao mesmo tempo, é uma consequência talvez involuntária do enfrentamento rigoroso de Leonardo da Vinci com o problema dos contornos para a visão humana. O artista sabia que as coisas a rigor não possuem uma linha limítrofe na sua borda, mas também sabia que a visão contava com uma série de recursos para delimitar os contornos dos objetos. Não tropeçamos nas coisas e sabemos aferir suas formas porque contamos com a paralaxe entre nossos olhos e com a diferença de plano focal entre os objetos para compreender sua volumetria e limite, mesmo quando não os circundamos para verificar nossas impressões. Os contornos, portanto, não existem de fato, mas são, mesmo assim, visíveis para o homem. Como a pintura poderia lidar com isso? Como ela definiria a forma dos objetos sem simplificar a representação adicionando linhas de contorno ao redor de cada figura?

 

Para Da Vinci, a solução passava pelo sfumato, técnica que tornava os limites entre os volumes pintados razoavelmente indistintos. Na sua pintura, os campos de cor dissolviam-se uns nos outros, suprimindo assim o choque seco entre as figuras pictóricas e dando ao olho do espectador a tarefa de – assim como faz o tempo todo – inferir a posição dos contornos onde na verdade eles não existem. Assim como o mundo real, a pintura do Renascimento exige que o olho do espectador “pense” para interpretar seus limites. E assim, o sorriso ambíguo da Monalisa emerge da indefinição das bordas da pintura de Da Vinci – que faz com que duvidemos se está ali a continuação da linha da boca em animação ou a sombra discreta da bochecha que pende sobre a boca plácida.

 

A fascinação com o sorriso não é apenas uma confusão elevada a leitura recorrente acerca da obra mais célebre do Renascimento – é o resultado do encontro entre o olhar imaginativo do público com a pesquisa pictórica do artista. Apesar de parecer uma anedota, essa história vem à mente quando pensamos na produção recente de Tomie Ohtake. Pois, diante das novas pinturas, a todo tempo o olho se surpreende com o que ora apreende e o que ora lhe escapa. Encontramos, por exemplo, uma tela quadrada, toda preenchida por texturas feitas com massa pigmentada, dentro da qual enxergamos uma forma arredondada, mais ou menos quadrada, inclinada na composição. Viramos um pouco para o lado e olhamos de novo para a tela, agora para enxergar um volume comprido mais ou menos oval, inclinado do canto direito para o canto esquerdo da tela. Então, um passo atrás, mais um desvio de olhar, e não reconhecemos mais nenhuma forma proeminente, apenas uma tela branca texturizada. Dois passos à frente e, daí, a gestualidade da tela fica ainda mais em evidência e, pelas sombras projetadas entre os volumes de tinta, é possível adivinhar inúmeras figuras – como faz uma criança que enxerga formas nas nuvens. Frente a uma mesma tela, portanto, o observador pode ficar em dúvida sobre o que está vendo, oscilar entre um polígono e uma mancha, como oscila aquele que olha para a boca da Monalisa. A diferença é que Tomie Ohtake não está revisitando o sfumato, sua investigação é outra.

 

Desde que completou cem anos, em Novembro de 2013, a artista japonesa radicada em São Paulo tem experimentado pinturas monocromáticas, em geral brancas. Pinturas de branco, seria melhor dizer – da mesma forma que os franceses dizem “d’eau”, “du pan”, “du sable”. Não são formas tingidas com pigmento branco, nem são somas de pedaços e elementos brancos sobrepostos, são gestos pictóricos feitos do próprio branco, como uma grande massa cromática uniforme que se acumula e espalha pela tela. A areia e a água são substâncias indivisíveis: não faz sentido falar em “uma água”, mas em uma dada quantidade delimitada por um recipiente: “um copo de água”. Da mesma forma, as pinturas novas de Tomie são “telas de branco”, ou “de vermelho” e “de azul” nas obras mais recentes. Na primeira exposição realizada em comemoração ao centenário da artista no Instituto Tomie Ohtake, Agnaldo Farias e eu cogitamos que em toda sua produção desde meados dos anos 1950, Tomie Ohtake esteve disputando com o labor pictórico a possibilidade de abrir novas veredas para a investigação das cores, dos gestos e da materialidade. Esses três polos, tão caros a quase todos os pintores, converteram-se para ela em um foco constante, nunca eclipsado por manifestos, temas ou até pelo nome das obras – sempre “sem título”. Sua pintura buscou maneiras de extrapolar o campo do já conhecido no que tange à cor, ao gesto e à materialidade: nos anos 1960, subverteu a regularidade da geometria abstrata ao usar papéis rasgados à mão como modelo para a pincelada; em 1972, produziu litogravuras até hoje chocantes em suas combinações cromáticas psicodélicas; ao longo da década de 1980, trocou a tinta a óleo pela acrílica, a fim de explorar transparências e veladuras liquefeitas; nos anos 2000, descobriu modos de dar às linhas feitas pela mão a espacialidade e movimento das esculturas tubulares.

 

Pois bem, por que essa buliçosa pesquisa teria que se interromper e deixar-se fixar em uma equação estável? Tomie Ohtake segue procurando formas de recombinar gesto, cor e materialidade. Agora, utiliza a massa corpulenta e maciça para ganhar corpo e dobrar-se sobre si mesma em movimentos que não são bem pinceladas e tampouco espalhamentos por espátula. São ondas que tremulam sobre a tela, matérias convulsionadas em suspensão. Vez em quando, há um sutil desnível na espessura dessa massa, ou então é a direção dos gestos que varia: o resultado é que, delicadamente, emerge a sugestão de uma linha. Vejamos, não se trata de uma mudança de tonalidade ou da diferença entre dois volumes, mas de dezenas de fragmentos de branco que se agitam apenas o suficiente para desafiar o nosso olhar. E, se mudamos de foco, a linha some. Se trocamos a incidência da luz, ela volta a aparecer.Em certo sentido, trata-se de uma nova visita ao conjunto de pinturas em tons de branco que Tomie Ohtake fez em 1959, parte da série que Paulo Herkenhoff chama de “pinturas cegas”. Então, ela preparava um fundo bastante escuro e, com os olhos fechados, distribuía amplas pinceladas mais ou menos erráticas com tintas à óleo muito luminosas. Entre o que ficava velado pelo branco e o que escapava nas brechas entre as pinceladas, aparecia uma profundidade assombrosa, jogo sensual entre luzes e sombras. Hoje, quando a artista explora a plasticidade da massa pigmentada, retorna a possibilidade do olhar mergulhar na alvura das telas, mas não encontrará as profundezas de outrora, senão passeará pela superfície e pelas sombras geradas por sua própria volumetria e, justamente aí, no intervalo de alguns centímetros, encontrará as pistas para adivinhar seus desenhos.

 

Os cegos agora somos nós, que precisamos apalpar a pintura com a ponta dos olhos. A pintura, então, ganha sentido háptico, quer dizer, qualidade tátil. Não é algo inédito na história da pintura, mas o motor de Tomie Ohtake não está nesse tipo de novidade: trata-se de um jogo com o espectador que abre novas possibilidades de experimentação pictóricas para uma obra que segue se renovando há mais de seis décadas, e isso mobiliza a artista a continuar trabalhando. Há ainda uma surpresa: até algo tão novo para Tomie Ohtake não poderia ser experimentado por uma via apenas, por isso, ela iniciou, há alguns meses, testes sobre o que acontece com seus relevos com a entrada da cor. Começou pelo vermelho e pelo azul. É claro que alcançou resultados diferentes: a vibração rubra lhe permite arriscar desníveis mais abruptos, pois sua luminosidade abrasiva acaba minimizando a percepção das diferenças volumétricas . Já a densidade azul lhe dirige à transparência, alcançada com camadas mais finas de massa. É um novo começo, material para três das telas aqui apresentadas e, possivelmente, assunto para mais um ano de investigações vindouras.O ateliê, que também é casa, de Tomie Ohtake deverá ainda produzir mais desafios ao olhar de quem quiser ver.

 

 

 

Até 22 de novembro.

O ouro e a Arte do Brasil

A nova exposição do CCBB-Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, chama-se “Ouro – Um fio que Costura a Arte do Brasil”, explora a relação do metal precioso – um dos personagens principais da história do Brasil e eterno objeto de desejo no imaginário popular – com a criatividade brasileira. A exposição reúne trabalhos de 30 artistas de diferentes gerações e especialidades. São instalações, desenhos, objetos, esculturas, fotografias, pinturas e joias concebidas por importantes nomes das artes visuais, design, dança, música, arquitetura e paisagismo.

 

Entre as cerca de 50 obras selecionadas, grande parte é inédita ou raramente vista pelo público. Em conjunto, elas apontam para diferentes abordagens que cada um dos artistas dá para o mesmo material.

 

Nomes que hoje já são referências para a história recente da arte brasileira também fazem parte da mostra, como os estudos sobre mapas de Anna Bella Geiger; as pinturas recortadas de Antonio Dias; os objetos de Cildo Meireles que justapõe materiais menos prováveis, como ripas de madeira barata, fixadas com pregos de ouro; as esculturas de José Resende e Tunga; as pinturas à têmpera com pequenas aplicações de ouro sobre placas de madeira de Mira Schendel; e os desenhos de Nelson Felix e Nuno Ramos.

 

Também entre os artistas, os irmãos Fernando e Humberto Campana, conhecidos com seus móveis e objetos feitos com materiais banais, extraídos do cotidiano e traçados de maneira artesanal, apresentam na exposição peças, entre mobiliário e joias, que exploram a nobreza e a luz do dourado. O fascínio pelo ouro também se apresenta nas jóias H.Stern presentes na exposição inspiradas na obra do arquiteto Oscar Niemeyer, do paisagista Roberto Burle-Marx, do músico Carlinhos Brown e a companhia de balé Grupo Corpo.

 

 

A palavra do curador

 

“Essa mostra é uma maneira de reunir a diversidade criativa do Brasil a partir de um elemento comum que permite um novo olhar para o que foi criado nesse século”, define o curador, Marcelo Dantas.

 

 

Até 07 de dezembro.

Casa Daros, Rio – Dada on tour

16/out

A Casa Daros, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta “Dada on tour – Zurique 2016”, uma videoinstalação itinerante que antecipa o centenário do movimento Dada, em parceria com o Cabaret Voltaire e Whitebox Arts Center. A curadoria é de Adrian Notz, diretor do Cabaret Voltaire – bar lendário criado em 1916 por um grupo de artistas exilados: Hugo Ball, Tristan Tzara e Hans Arp, entre outros, que deu início ao movimento Dada – e Juri Steiner, diretor administrativo do espaço. “Dada on tour” é uma tenda itinerante, que desde este ano percorre várias cidades ao redor do mundo até culminar com um grande congresso no verão de 2016 em Zurique, Suíça, com um painel com os participantes da viagem realizada em vários países.

 

A tenda móvel, que será instalada no pátio interno da Casa Daros, abrigará a videoinstalação em três canais e com um único áudio em comum. A estrutura da tenda em si contém diversas inteferências, grafismos e pinturas relacionadas ao Dada. Cadeiras e almofadas serão colocadas para o público. A ideia do projeto é propiciar um intercâmbio entre os estudiosos do Dada no Brasil, e, junto com a equipe de arte e educação da Casa Daros, estimular jovens artistas e o público para que vejam o quão vivo está o movimento Dada ainda nos dias de hoje. Pretende-se ainda criar uma troca com a produção artística local em torno dos conceitos caros ao Dada: “embriaguez, corpo e dança, o livre pensar da mente na arte e poesia, mágica, ready made e o grande dada ‘não!’”, se entusiasma Juri Steiner.

 

“Dada on tour” começou com muito sucesso em maio deste ano em Nova York, seguindo em junho para Hong Kong.  É uma realização da associação Dada 100 Zurique 2016, em parceria com o Cabaret Voltaire, em Zurique, e o Whitebox Arts Center. Realização: Kunstumsetzung GmbH. Som: Iris Rennert. Pintura: Andy Ineichen. Film: Sonja Feldmeier. Colaboração científica: Aline Juchler. Logística: Yves Bisang, Isabelle Deconinck, Juan Puntes (Whitebox). Os curadores dizem que estão “extremamente honrados pela parada na Casa Daros, no Rio, por alguns dias, como nosso pequeno e fácil de carregar dada-travel-kit”.

 

 

O MOVIMENTO DADA

 

O Dadaísmo – ou simplesmente Dada – se constitui em um dos mais relevantes legados culturais da cidade de Zurique. No início de fevereiro de 1916, um grupo de artistas exilados – Hugo Ball, Tristan Tzara e Hans Arp, entre outros – abriram uma taberna de cerveja na Spielgasse 1, no coração da Cidade Velha.  O bar se chamava Cabaret Voltaire, e ali eles definiram a criativa destruição do significado, empregando ao fim muitos e variados esforços artísticos.  Oriundo da repulsa à Primeira Guerra Mundial e contra o conceito de nação embutido nela, os artistas escolheram o nome ao acaso, com um estilete inserido em um dicionário, e gostaram da palavra “dada”, afeita a qualquer idioma, e lembrando a fala desarticulada de um bebê.

 

A partir do Cabaret Voltaire, o Dada se apropriou de toda a cidade, se espalhando a seguir para todo o planeta. O questionamento categórico de todo e qualquer conceito estabelecido em arte, literatura, filosofia e política era batizado em Zurique como Dada. E daquele momento até os dias de hoje permanece como a tentativa de vanguarda radical dos artistas em derrubar fronteiras e em desafiar ideias testadas – uma estratégia que é tanto válida hoje como era há cem anos.  Então, Dada permanece relevante quando se aproxima das questões sociais e culturais, e isto conta para o seu sucesso em criar uma ligação entre o então e agora.

 

 

DADA 100 ZÜRICH 2016

 

Fundada em 2012, a associação Dada 100 Zürich 2016 é responsável por planejar e executar o Jubileu Dada em Zurique. Os membros da Associação são: Markus Notter (presidente), Peter Haerle, Jürgen Häusler e  Franziska Burkhardt. Seu diretor administrativo é Juri Steiner.

Para isso, recebe o apoio de um comitê formado por diversas instituições e personalidades da cultura, sociedade e economia suíças. Tanto a cidade como o Cantão de Zurique, bem como o Departamento Federal de Cultura da Suíça dão substancial suporte ao Jubileu Dada. Museus e instituições, iniciativas independentes, festivais e patrocinadores estão envolvidos no evento.

 

 

CABARET VOLTAIRE

 

O Cabaré Voltaire é o local onde em 1916 um grupo de artistas exilados fundaram o Dada, no centro velho de Zurique. Para o centenário, o Cabaré Voltaire oferece informações sobre os vários projetos e iniciativas envolvidas.

 

 

De 22 a 26 de outubro.

Geraldo de Barros no IMS

15/out

O Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta a exposição “Geraldo de Barros e a fotografia”. Com mais de 300 obras, essa é a maior exposição do designer, pintor e fotógrafo já realizada no Rio de Janeiro. A mostra resgata aspectos históricos e o caráter experimental da obra fotográfica do artista, enfocando sua relação com as gravuras e pinturas realizadas entre os anos 1940 e 1990. A curadoria é da pesquisadora Heloisa Espada, coordenadora de artes visuais do Instituto Moreira Salles. No dia da abertura, às 18h, ocorrerá visita guiada com a curadora e a artista Fabiana de Barros. E, às 16h, será exibido gratuitamente o filme “Sobras em obras”, de Michel Favre na sala de cinema.

 

Geraldo de Barros e a fotografia é organizada em três núcleos. O primeiro deles aborda a série fotográfica Fotoformas, produzida entre os anos 1940 e 1950. Serão mostrados exemplos das primeiras fotografias e desenhos feitos pelo artista no imediato pós-guerra, período em que ainda estava envolvido com uma pintura gestual de influência expressionista, monotipias que testemunham o início de seu envolvimento com a arte abstrata e pinturas concretas realizadas na década de 1950, quando o artista era membro do grupo Ruptura. Essa produção será mostrada lado a lado com as diversas experimentações fotográficas realizadas por Barros em Fotoformas: detalhes que enfatizam a estrutura geométrica de objetos do cotidiano; imagens borradas; solarizações; fotografias realizadas a partir de negativos pintados e riscados com instrumentos de gravura; fotografias abstratas realizadas a partir de múltiplas exposições do mesmo negativo; montagens de negativos etc.

 

Geraldo de Barros produzia fotografia, gravura e pintura de forma concomitante, e as diversas técnicas faziam parte de um mesmo processo criativo. Com o intuito de aproximar o público desse rico processo de trabalho, serão mostrados exemplos de negativos riscados pelo artista, bem como folhas de contatos originais que evidenciam as diferentes formas de intervenção na fotografia feitas pelo artista. Nesse núcleo, o visitante encontrará também um grande número de cópias vintage, oriundas de diversas coleções institucionais e privadas, que evidenciam as preocupações formais do artista ao ampliar suas imagens.

 

Com o objetivo de enfocar os modos originais de exibição das fotografias de Geraldo de Barros, a primeira sala da exposição será dedicada à exposição Fotoforma, que o artista realizou no Masp, ainda localizado na Rua 7 de Abril, no centro de São Paulo, em 1951. Serão mostrados documentos fotográficos, notícias e críticas sobre aquela que foi a primeira exposição fotográfica do artista.

 

O segundo núcleo da exposição é dedicado às pinturas realizadas pelo artista nos anos 1960 e 1970. Assim como outros pintores concretos de sua geração, nessa época, Geraldo de Barros se aproximou da Pop Art e da chamada Nova Figuração, que retomava a arte figurativa no contexto da cultura de massas. Ele pintava sobre fragmentos de outdoors publicitários, apropriando-se das fotografias usadas nos cartazes. Ao destacar o aspecto grotesco e invasivo da propaganda, as obras assumem um forte teor crítico.

 

A terceira parte da exposição aborda a série Sobras, realizada em seus últimos anos de vida, um momento em que o artista se encontrava parcialmente paralisado por uma série de isquemias cerebrais que sofreu a partir dos anos 1970. Após anos afastado da fotografia, Geraldo de Barros volta-se para seu arquivo de fotos de família guardado ao longo de décadas. Com a ajuda de uma assistente, ele corta, risca e monta pequenos fragmentos de negativos 35 mm sobre placas de vidros.

 

Geraldo de Barros e a fotografia mostrará pela primeira vez o conjunto completo de 268 colagens de negativos e positivos sobre vidro realizado por Geraldo de Barros no fim dos anos 1990, além de cerca de 70 fotografias ampliadas a partir dessas pequenas colagens. Dessa maneira, a série Sobras será apresentada como um intenso e fértil processo de trabalho, no qual, mais uma vez, Geraldo de Barros se distanciou do caráter documental da fotografia, manipulando-a e transformando-a de diferentes maneiras.

 

A exposição e o catálogo que a acompanha são frutos de uma parceria entre o Instituto Moreira Salles e o Sesc/SP, a instituição brasileira detentora da maior coleção fotográfica do artista, que apresentará Geraldo de Barros e a fotografia em 2015.

 

 

De 18 de outubro a 22 de fevereiro de 2015.