A Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a individual “nbp-etc: escolher linhas de repetição”, de Ricardo Basbaum, sob curadoria de Glória Ferreira, com trabalhos inéditos ou nunca apresentados no Rio de Janeiro.
“nbp-etc: escolher linhas de repetição” é mais uma etapa da prática artística de Ricardo Basbaum, que por mais de duas décadas tem desenvolvido projetos em diversas linguagens. Com foco na relação com o visitante, na produção de som a partir da escrita, na postura investigativa e auto-reflexiva do artista e na construção de plataformas colaborativas e de performances, o artista, atuante desde os anos 80, pesquisa a arte como mecanismo para articular experiência sensorial, sociabilidade e linguagem.
A exposição começa impedindo a entrada direta do visitante na galeria. Ele se depara com estruturas arquitetônico-escultóricas que o obrigam a desviar e buscar outro percurso de acesso, construindo uma relação evidente com o corpo. “É uma performance ‘compulsória’”, propõe o artista. Nas paredes da mesma sala, há jogos de palavras, com refrões, citações e repetições, para vocalização aberta. Na noite de abertura, os cantores Lucila Tragtenberg e Licio Bruno realizam experimentos de livre vocalização dos textos.
Na sala seguinte, Basbaum usa diagramas em que se pode visualizar processos de pensamento conceitual de sua produção. Dois grandes diagramas desenhados sobre a parede contêm comentários sobre o ambiente da arte dos anos 80 no Rio de Janeiro e sobre o vocabulário com o qual o artista vem construindo o projeto NBP – Novas Bases para a Personalidade, em desdobramento desde os anos 1990.
No terceiro diagrama, na próxima sala, os comentários se referem diretamente à construção da mitologia do artista. Este diagrama se desdobra também em peça sonora, construída pela superposição de textos falados por Basbaum, editados e mixados, disponíveis através de fones de ouvido e mobiliário para o público se acomodar. Aqui, Basbaum promove a ativação de textos como elementos visuais e sonoros.
Os três diagramas e os módulos de escuta contribuem para a visualização e espacialização da fala do artista – enquanto obra – no local da exposição.
A última sala da galeria tem uma retrospectiva de 11 vídeos da série eu-você: coreografias, jogos e exercícios, realizados entre 1999 e 2014, e apresentados juntos pela primeira vez nesta mostra. Os vídeos registram ações com pessoas vestindo camisas com os pronomes ‘eu’ [vermelho] e ‘você’ [amarela], explorando situações performativas de dinâmica de grupo. A partir de instruções preliminares do artista, coreografias variadas são desenvolvidas em grupo, muitas vezes tendo como referência as linhas arquitetônicas dos locais onde a ação acontece, que podem ser uma praça no interior do Brasil, uma quadra de escola ou espaços do Museu de Arte Moderna de Nova York. Há camisetas ‘eu’ e ‘você’ em português, inglês, mandarim, árabe e bengali. Realizados em contextos diversos, como residências, oficinas e exposições, os vídeos apresentam eu-você: coreografias, jogos e exercícios no Brasil, País de Gales, na Inglaterra, Espanha, China e nos Estados Unidos.
Basbaum avalia que “todas estas formas de ação – estruturas, textos, desenhos, diagramas, vídeos – próprias da arte contemporânea, convergem nesta exposição em torno de um problema que se tornou cada vez mais presente em minha prática: como alguém se produz como artista? que tipo de artista se quer e se pode ser?”
“Ricardo denomina de artista-etc. (como também se autodefine) esse artista que se desloca por diversos papéis e politiza as relações com o circuito de arte, e que entende a produção poética como construção, fabricação de problemas”, diz a curadora Glória Ferreira.
Sobre o artista
Ricardo Basbaum, São Paulo, 1961, é artista e escritor. Vive e trabalha Rio de Janeiro. Investiga a arte como dispositivo e plataforma para articulação da experiência sensorial, sociabilidade e linguagem. Desde os anos 1980 desenvolve um vocabulário específico, aplicado de modo particular a cada novo projeto. Projetos individuais recentes incluem re-projecting (london) (The Showroom, Londres, 2013), diagramas (exposição antológica, Centro Galego de Arte Contemporánea, Santiago de Compostela 2013) e conjs., re-bancos*: exercícios&conversas (Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, 2011). Sua última exposição individual no Rio de Janeiro foi vibrosidade&vibrolução (A Gentil Carioca, 2011).
Seu trabalho foi recentemente incluído em A Singular form (Secession, Viena, 2014), Garden of Learning (Busan, 2012) e Counter-Production (Generali, Viena, 2012), entre outros eventos. Participou da documenta 12 (2007) e da 25ª e 30ª Bienais de São Paulo (2002, 2012). É autor de Manual do artista-etc (Azougue, 2013), Ouvido de corpo, ouvido de grupo (Universidade Nacional de Córdoba, 2010) e Além da pureza visual (Zouk, 2007). Contribuiu com Materialität der Diagramme – Kunst und Theorie (Ed. Susanne Leeb, b_books, 2012). É professor do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Trabalhou como Professor Visitante da University of Chicago entre outubro e dezembro de 2013.
Até 16 de novembro.