Arjan no MAM-Rio

07/jul

O MAM-Rio, Praia do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta “Américas”, série inédita de 30 pinturas de Arjan Martins com curadoria do crítico de arte Paulo Sérgio Duarte. Arjan é um artista independente com residência e atelier em Santa Teresa, o bairro dos artistas no Rio de Janeiro. Dono de um desenho firme e autoral, Arjan utiliza diversos recursos como referência inclusive figuras ligadas ao jazz.

 

 

Sobre o artista

por Paulo Sergio Duarte

 

Embora a arte contemporânea tenha, em ruptura com uma vertente poderosa do passado moderno, retornado, com insistência, aos universos temáticos, nem sempre, esse retorno é acompanhado de exigência poética e formal. Aqui nesta exposição, intitulada por Arjan Martins de “Américas”, o tema é o da alteridade, o da solidariedade étnica.  Mas esse retorno que acompanhamos pelo menos nos últimos, agora, em Arjan, não eclipsa a qualidade pictórica.  É evidente que a questão expressiva que está presente é uma escolha muito bem-sucedida. O expressionismo, apesar de suas grandes contribuições à história da arte no Brasil, basta lembrar Segall, Goeldi, Guignard, Iberê Camargo, nunca foi uma corrente programática e nem se formou em movimentos, como na Alemanha, por exemplo. Ocorreu em episódios plásticos exemplares para constituir uma vertente de nossa visibilidade que se diferencia radicalmente da tradição construtivista e do abstracionismo geométrico, esses sim, com um programa claro de defesa da racionalidade nos trópicos dominados pelos afetos.

 

Arjan escolhe a tradição expressiva. Não está sozinho na pintura contemporânea brasileira nessa opção, mas existe algo muito importante que chama a atenção em sua linguagem e que o diferencia: não existem firulas nem macetes. Se é possível ao lirismo ser direto e, às vezes, mesmo duro, ou melhor, cru, esse é o de Arjan. Não há nada épico ou dramático, no sentido teatral ou poético do termo, há uma invenção lírica de abordagens desses temas que são os da sua raça, digamos agora, politicamente correto, etnia, Arjan é um artista negro. A arte do pintor está em transformar, uma tragédia, um drama, toda uma história que é nossa, nesse lirismo rigoroso e austero. Mas seu trabalho oscila entre retratos de figuras íntegras, flagradas no cotidiano, e fragmentos de imagens que convivem na mesma tela. Aí está sua versatilidade formal. O talento não se distribui como as equações da racionalidade contemporânea dominada pelas demandas do mercado. O talento pousa, sabe-se lá por que, em espíritos privilegiados. Arjan é um desses elevados.

 
Rio, junho de 2014.

 

 

Uma entrevista com o artista

 

RIO – Nascido Argentino Mauro Martins Manoel, o artista plástico carioca Arjan Martins, de 54 anos, desde o batismo lida de alguma forma com questões de identidade, nacionalidade, migração… Isso porque, além de ter o prenome em homenagem à avó materna, Argentina, aprendeu desde cedo que sua mãe, Liège, e as tias Antuérpia e Namur eram também nomes de cidades belgas. Anos mais tarde foi pai de Laura, 15, sua filha com uma italiana.

 

Pois em “Américas”, sua primeira individual no MAM…Arjan investiga, em 30 pinturas e desenhos, os fluxos migratórios para as Américas no período colonial, sobretudo o do tráfico negreiro.

 

Nas telas “cartográficas”, há plantas de navios negreiros, senhoras negras com bacias na mão e caravelas trazendo sabe-se lá quantos africanos escravizados. Usou como base principal para seus estudos o livro-catálogo “Para nunca esquecer: Negras memórias/ memórias de negros”, organizado por Emanoel Araújo, diretor e fundador do Museu AfroBrasil, em São Paulo.

 

— Tudo isso ajuda a entender a ausência do lugar dos negros na nossa sociedade, uma pirâmide ainda irregular. É importante olhar para o passado para não se perder.

 

Ele é autor de dois murais que, nos últimos anos, viraram cartões-postais de Santa Teresa, onde mantém ateliê e mora há 20 anos. Ambos retratam três mulheres nuas em movimento e remetem às “Três Graças”, de Peter Paul Rubens, artista barroco do século XVII.

 

Arjan guarda como primeira lembrança artística a vez em que, aos 9, reproduziu um desenho infantil de Walt Disney:
— Mas congelei ali por falta de alguém que me incentivasse.

 

Tal “empurrão” veio apenas nos anos 1990, com os professores dos cursos que fez na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Antes disso, encarou britadeira, serviço militar, construção civil e trabalhos como office boy e barman.
— Vendi muito pão integral caseiro para pagar os cursos do Parque Lage.

 

 

 

Sem firulas

 

Curador de “Américas”, Paulo Sérgio Duarte explica por que a obra de Arjan se diferencia:
— Alguns artistas, na tentativa de se apoiar no expressionismo, criam uma paródia e, consequentemente, até um pastiche do movimento. Já com ele não há firulas nem macetes.Atualmente, ele produz de modo independente, sem ser representado por galerias. Diz que nunca se sentiu à vontade com as contrapartidas oferecidas por elas em troca da exclusividade.
— Hoje, sobrevivo da crença no que realizo. Tenho muita satisfação de ocupar um lugar autoral.

Fonte: O artista plástico carioca Arjan Martins – Leo Martins / Agência O Globo.

 

 

Até 24 de agosto.

Homenagem mural

Registro de instalação da pintura “Lou Tarsimona”, mural de Ozi para o novo muro do Instituto Rubens Gerchman, Barra da Tiuca, Rio de Janeiro, RJ. O artista realizou uma fusão de imagens icônicas dos artistas Rubens Gerchman (Mona Lou) e Tarsila do Amaral (A Negra). Clara Gerchman (filha do pintor Rubens Gerchman) e o curador Marco Antonio Teobaldo estiveram na coordenação do projeto.

Dois pintores na Casa Daros

04/jul

A Casa Daros, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Vânia Mignone + René Francisco Rodríguez – Pinturas”, com curadoria de Hans-Michael Herzog, que reúne 21 trabalhos dos dois artistas. Hans-Michael Herzog destaca que os trabalhos expostos vão mostrar uma “pintura mais gráfica, com o uso de palavras. Os trabalhos de René Francisco são irônicos e remetem à propaganda cubana, dentro do realismo socialista. Os de Vânia Mignone também usam conceitos de imagens da publicidade, e abordam o universo feminino, “em uma variação mais poética”. A exposição encerra a temporada dedicada à pintura na Casa Daros, que tem como âncora “Fabian Marcaccio – Paintant Stories”, em cartaz até 10 de agosto próximo. A Casa Daros também informa que não funcionará em dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo e na final, dia 13 de julho.

 

 

Placas de Sinalização

 

 

Vânia Mignone diz que seu trabalho “tem muito de cartazes publicitários, placas de sinalização, que eu adoro”. “E, se me perguntarem, vou dizer que nem considero meus trabalhos propriamente quadros, considero placas. Eu acho essa coisa do quadro na parede um pouco demais, eu nunca quis isso”. Ela conta que fica “muito contente” ao ouvir comentários que comparam seu trabalho à fotografia. “Minha pintura tem uma visão, um ângulo, pega situações ou cenas muito mais ligadas à fotografia e ao cinema do que a uma técnica de modelos posando ou alguma construção mais tradicional da imagem”, observa.

 

“Gosto da pintura, porque ela tem essa proximidade muito grande com o espectador, que vai ver onde tem mais tinta, onde a mão estava mais pesada, o que foi rabiscado, cortado”. Vânia Mignone destaca que há um aspecto importante: “É que no âmago de meu trabalho esteja claro que ele foi feito no Brasil”. “É uma obra brasileira, foi feita aqui e eu gosto que ela mostre isso, não por meios óbvios. Eu moro em Campinas, onde não temos grandes exposições, pois elas estão em São Paulo. Mas, se você consegue fazer um bom trabalho aqui, dentro de suas influências e possibilidades, ele vai ser tão bom quanto uma pessoa que está morando em Nova York. Se a arte é boa, ela alcança o mesmo patamar que todo mundo”.

 

Para René Francisco Rodríguez, a pintura é ”um meio que sempre vai existir”. “E é justamente esse seu mistério o que a torna fascinante em relação a qualquer outro tipo de arte. É algo que é muito, muito velho, mas é tão vivo que parece até novo. Quero dizer, foi tão esquecida que se assemelha a um descobrimento; cada vez que voltamos a ensinar e falar de pintura, nos surpreendemos novamente”.

 

Ele afirma que a pintura “é uma espécie de janela que muda seu significante a cada época”. “Houve um momento, por exemplo, em que a pintura era uma janela para Deus. Além disso, todas as formas de arte lidam com a questão da representação, e quem instituiu esse problema para sempre foi a pintura”. “Para mim, pintar é um momento de reclusão, um regresso à memória e à análise. Entro no ateliê e me interno, vivo uma espécie de ‘incomunicação’, pois é um período em que você se volta para si, quer acalmar-se, olhar seus objetos, seu trabalho, suas recordações. Ou seja, há um retorno ao passado. De certa forma, para mim, pintar é como escrever, fazer literatura. O ateliê é, para mim, como um hospital, onde você se cura”, diz.

 

Sobre a temporada de pintura, que teve ainda as exposições “Luiz Zerbini – Pinturas” e “Guillermo Kuitca + Eduardo Berliner – Pinturas”, Hans-Michael Herzog observa que não pretendeu esgotar o assunto, nem abranger toda a pintura atual, e sim mostrar “diferentes tipos de pintura existentes na atualidade, como um relance, uma olhadela”.

 

 

Programa Meridianos

 

 

No dia 3 de julho de 2014, às 17h, os artistas Vânia Mignone e René Francisco Rodríguez vão falar sobre trajetória, com mediação do curador Hans-Michael Herzog. O evento será realizado no auditório da instituição com entrada gratuita, mediante distribuição de senhas uma hora antes.

 

 

 

Sobre os artistas

 

 

René Francisco Rodríguez, nascido em 1960, em Holguín, Cuba, é um dos expoentes da arte contemporânea em seu país, com projeção internacional, e uma reconhecida atividade como professor. Participou da 26° Bienal de São Paulo, em 2004, da Bienal de Veneza, em 1999 e 2007, da Segunda Bienal de Arte Contemporânea de Tessalônica, Grécia, em 2009, e de duas edições Bienal de Havana, em 1997 e 2000.

 

Vânia Mignone nasceu em 1967, em Campinas, São Paulo. Entre suas principais mostras, estão a 25ª Bienal de São Paulo, em 2002, “20 anos de Programa de Exposições”, no Centro Cultural São Paulo, “Se a pintura morreu o MAM é um céu!”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ambas em 2010, “Brazil: Moving Horizons, The UBS Art Collection-1960s to the Present Day”, no National Art Museum of China, em Pequim, em 2008, “Contraditório-Panorama de Arte Brasileira”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2007. No momento faz uma mostra panorâmica no MAC USP, em São Paulo, até 30 de novembro próximo.

 

 

 
De 05 de julho a 10 de agosto.

 

Babilônia 1500

27/jun

A 1500 Babilônia, Leme, de Alex Bueno de Moraes, inaugura seu espaço no Rio de Janeiro, abrindo com a exposição “Algumas Coisas São Perdidas Para Nunca Mais Serem Encontradas”, do fotógrafo Julio Bittencourt, com curadoria de Ilana Bessler. Composta por 16 imagens, esta série é resultado da imersão do artista em locais abandonados – uma fábrica no centro de São Paulo e uma ilha no sul do Japão, onde pessoas viveram ou criaram negócios – com a intenção de registrar a passagem do tempo, o que levamos conosco e o que deixamos para trás.

 

Ao longo de dois anos e meio, Julio Bittencourt passou algumas noites nas duas locações escolhidas, clicando sempre à noite, no escuro, produzindo a maioria das imagens com longas exposições. As fotografias mostram cenas mínimas, indícios ou vestígios que captam a essência dos espaços, como objetos muito antigos, cobertos de resíduos deixados pelo tempo – uma máquina de costura, uma banqueta, uma TV, retratos familiares – ou janelas que mostram, além da passagem do tempo, resquícios da paisagem. “São imagens residuais às avessas, que se depositam em nossa mente não pela incidência luminosa, mas pela intensidade do escuro”, comenta Illana Bessler. Os objetos e espaços recriam histórias, memórias e cicatrizes impressas pelo tempo e pelas pessoas que os vivenciaram, e acabam nos levando ao questionamento universal: “Para onde vamos?”.

 

Interessado pela necessidade de apropriação de objetos por pessoas e, conseqüentemente, pelas histórias e vidas que tais coisas carregam, Julio Bittencourt se entrega à busca dessas energias “ancestrais”, fotografando dentro de ambientes escuros, abandonados, em um silencioso laboratório solitário, onde pôde testar limites técnicos e psicológicos. “Talvez eu tenha levado a solidão e o silêncio ao extremo neste projeto, no âmbito pessoal, mas com certeza não deixei de fotografar pessoas – elas só não estavam mais lá”.

 

A individual de Julio Bittencourt foi escolhida para inaugurar a 1500 Babilônia, galeria de Alex Bueno de Moraes que foi transferida de Nova York para o Rio de Janeiro. O projeto – especialmente desenvolvido para abrigar a galeria – vem inovar em localização (no Morro Babilônia) e relacionamento com clientes, artistas, colecionadores e amigos das artes, com uma vista arrebatadora, acrescentando essa paisagem como um extra a seus visitantes. Após forte atuação no mercado cultural norte-americano, com a 1500 Gallery, a 1500 Babilônia representa importantes nomes da fotografia nacional, bem como expoentes do mercado europeu, norte-americano e asiático, como Julio Bittencourt, Beatriz Franco, Bruno Cals, Robert Polidori, Hirosuke Kitamura (Oske), entre outros.

 

 

A partir de 28 de junho.

Papel de Seda

22/jun

Idealizada pelo curador Marco Antonio Teobaldo, a Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, apresenta parte de uma proposta feita aos artistas convidados para que criassem obras sobre o mesmo suporte (que dá o título da mostra): “Papel de seda”. A ideia inicial era de apresentar as obras coladas diretamente sobre as paredes da galeria, reiterando o caráter frágil e efêmero da matéria. Contudo, surgiram trabalhos que extrapolaram a bidimensionalidade e o emprego deste material.

 

É o caso do artista paulistano Ozi, que buscou em suas memórias de infância recursos para construir um balão inflável, convidando o visitante a percorrer os olhos sobre a sua superfície, enquanto a obra gira em torno do seu próprio eixo, revelando uma coreografia de duas bailarinas em estêncil, sobre o papel. Fábio Carvalho, criou a instalação “Parada Monarca”, composta de bandeirolas carimbadas com tinta acrílica e que também remetem aos festejos juninos. Ele aplica as figuras de soldadinhos alados, que dispostos como em um desfile militar, flamulam a mensagem de que virilidade e sensibilidade podem estar juntas.

 

Colados diretamente sobre as paredes, temos os trabalhos do italiano Omino71, que tem um apurado domínio sobre a técnica de desenho e pintura em tinta acrílica sobre este tipo de papel, formando uma enorme cabeça de super-herói com a inscrição “Eu sei os nomes”. Repetindo a ação que ele tem feito em vários países da Europa, inscrevendo a mesma frase nos idiomas locais por onde a obra é apresentada. Já seu conterrâneo, Mr. Klevra, também de Roma, exibe uma obra em homenagem a extraordinária cantora lírica peruana Yma Sumac (1922-2008), inserindo em seu retrato uma auréola dourada, como se fosse uma imagem sacra em estilo bizantino.

 

Moisés Patrício traz de São Paulo a obra da série “Aceita?”, em que a representação de sua própria mão oferece a cabeça de seu ídolo de infância: Ronaldo, o fenômeno. O artista dá continuidade ao trabalho no qual criou uma foto por dia, durante dois anos, para questionar a fragilidade de suas referências. Eduardo Denne, o mesmo artista que criou para o pátio do IPN o retrato de um africano escravizado, desta vez apresenta uma obra da série “Orixás”, com a figura de uma exuberante mulher negra. Esta mesma imagem e outras da mesma série, têm sido reproduzidas pelos muros da cidade. Partindo para o mundo da fantasia, com uma pegada de História em Quadrinhos, Fábio Birita apresenta mais uma aventura espacial do cachorro Birita, personagem que acompanha o repertório do artista há mais de dez anos.

 

“Papel de Seda” surgiu para que os artistas se divertissem com a ideia de criar algo novo e leve. Da mesma forma que foi idealizada para que os seus visitantes se divirtam! A coordenação geral é de Ana Maria de la Merced Guimarães dos Anjos e a coordenação Núcleo de Cultura de Maria da Penha dos Santos. Uma produção da Quimera Empreendimentos Culturais e realização do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos – IPN.

 

 

De 25 de junho a 30 de agosto.

Intercâmbio cultural

18/jun

À convite de Thelma Innecco e Lorena Coutinho, da Modernistas Hospedagem e Arte, Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, e da diretora de arte Betty Prado, o curador Renato De Cara, fez uma seleção especial no acervo da Galeria Mezanino, São Paulo, SP, para apresentar seus artistas ao Rio de Janeiro. O objetivo é promover um intercâmbio cultural entre galerias de outros estados. Esta é a segunda exposição entre galerias de fora na Anexo, a primeira foi a Art Cycling, com curadoria de Alessandra Clark. Com um casting de artistas brasileiros contemporâneos, a Galeria Mezanino procura mostrar ousadia, técnica e experimentação no cruzamento das linguagens artísticas.

 

Na Galeria Anexo, na Modernistas, serão apresentadas doze artistas, que trabalham com pintura, fotografias e gravuras. Entre os artistas do acervo estão nomes como o gravurista e pintor Francisco Maringelli; Jaime Prades, um dos pioneiros da urban art em São Paulo; as pinturas de Sergio Niculitcheff, Sergio Lucena e Mauricio Parra; gravuras e pinturas de Ulysses Bôscolo; André Albuquerque; os desenhos homoeróticos de Francisco Hurtz; as fotografias adulteradas de Leo Sombra; as ilustrações de Filipe Jardim; Thelma Vilas Boas e Christiano Whitaker.

 

 

Sobre as galerias

 

O espaço ao lado da Modernistas Hospedagem e Arte, em Santa Teresa,  acolhe outro empreendimento: a Anexo Galeria de Arte. A proposta do novo espaço é trabalhar com artistas brasileiros e estrangeiros, que desenvolvam trabalhos nas mais diversas mídias, como pintura, desenho, escultura, fotografia e arte urbana. Uma mistura de estilos e propostas, que é uma consequência natural da diversidade tão característica do Rio de Janeiro.

 

A Galeria Mezanino é um espaço idealizado pelo jornalista, fotógrafo e curador Renato De Cara. Voltada ao pensamento e reflexão sobre arte, atua como observatório do que é tendência na produção artística contemporânea brasileira. Desde 2006, realiza exposições regulares e promove conversas e encontros com curadores e profissionais de arte, além de oficinas com pintores, escultores, fotógrafos e gravadores buscando, a partir do diálogo entre várias linguagens, dimensionar e dar visibilidade ao trabalho dos criadores.

 

 

De 25 de junho a 30 de julho.

Guillermo Kuitca + Eduardo Berliner

13/jun

Dando sequência à temporada dedicada à pintura na Casa Daros, exposição reúne cerca de cem obras dos dois artistas de gerações e nacionalidades diferentes: o argentino nascido em 1961, e o brasileiro nascido em 1978. Os trabalhos, além de criarem um diálogo entre si, confrontam a mostra “Fabian Marcaccio – Paintant Stories”, também na instituição. A curadoria é de Hans-Michael Herzog. A exposição reúne cerca de cem obras, entre pinturas e desenhos, dos dois artistas. Guillermo Kuitca, nascido em Buenos Aires em 1961, é um nome reconhecido no circuito internacional da arte, e no Brasil participou de várias edições da Bienal de São Paulo: a 24a, em 1998; a 20a, em 1989; e a 18a, em 1985; e ainda da I Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 1997. Eduardo Berliner, nascido no Rio em 1978, já ocupa um lugar de destaque na cena artística, tendo participado da 30o Bienal de São Paulo, em 2012, e da Bienal de Curitiba, em 2011, entre outras importantes exposições, como a dos finalistas do Prêmio PIPA, também em 2011, e do Prêmio CNI-SESI Marcantonio Vilaça, no MAM Rio, em 2010.

 

Hans-Michael Herzog observa que o trabalho de Guillermo Kuitca e Eduardo Berliner “tem muito em comum”, mas que buscou fazer uma seleção de obras que não colocasse esta analogia de forma tão evidente. Ambos trabalham um universo onírico – “às vezes de pesadelos” –, com elementos infantis, do mundo assombroso das crianças. Ele destaca ainda que o trabalho de ambos contém certo aspecto mórbido, “mais sublimado em Kuitca”.

 

De Guillermo Kuitca estarão pinturas sobre madeira e desenhos, que mostram ao público a iconografia do artista, abrange cubismo e casas, e ainda sua pesquisa recente, em fase ainda experimental. As obras vêm de seu ateliê, em Buenos Aires, e da Coleção Daros Latinamerica, sediada em Zurique, Suíça. O curador ressalta que os dois artistas são pintores no sentido preciso da palavra, que sabem “exatamente a cor, a forma, o que significa uma tela branca a ser trabalhada”. As obras de Eduardo Berliner são pinturas a óleo sobre tela e desenhos sobre papel com vários materiais, como nanquim, aquarela e grafite. Hans-Michael Herzog chama a atenção para o “domínio total da técnica, tanto na pintura quanto na obra gráfica” do artista.

 

Guillermo Kuitca afirma que “a pausa diante da pintura é um modo temporal”. “Estar diante de uma pintura, por mais curto que for o tempo, é uma expressão do tempo”, diz. “Eu gosto de pensar a pintura como um meio muito, mas muito, resistente ao tempo; às mudanças importantíssimas que aconteceram nos últimos séculos, pois, de algum modo, pictoricamente, nós, os pintores, quase que continuamos a trabalhar com meio e modos que atravessam épocas completamente diferentes umas das outras”.

 

 

Programa Meridianos

 

No dia de abertura da exposição, os artistas Guillermo Kuica e Eduardo Berliner realizaram um encontro aberto com o público e com a participação do curador Hans-Michael Herzog. O evento aconteceu no auditório da instituição com entrada gratuita.

 

 

Até 29 de junho.

Ernesto Neto: Parquinho

A OS Oca Lage (que administra a Casa França-Brasil e a Escola de Artes Visuais do Parque Lage), Jardim Botânico, Rio de janeiro, RJ, lançou o projeto “Parquinho Lage”, que vai trazer ao Parque Lage instalações de artistas que também se comunicam com o universo infantil. Os trabalhos ficarão um largo período no local, acompanhando as quatro estações do ano.  A obra inaugural foi “Caminhando no Caminho”, de Ernesto Neto, criada em 2010, e inédita no Brasil. Consiste em um meio-fio de cimento que circunda as árvores, para as crianças caminharem por cima, de modo a ser um espaço orgânico onde o visitante entra na escultura, tornando-se parte ativa da obra.

Uma curadoria de Luisa Duarte

A inauguração da exposição “Matriz e Desconstrução”, na Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, conta com a curadoria da crítica de arte Luisa Duarte. A mostra ocupará todo o espaço expositivo da galeria, com trabalhos dos artistas Adriano Costa, Ana Holck, Angelo Venosa, Carla Guagliardi, Daisy Xavier, Érika Verzutti, Gustavo Speridião, Iran do Espírito Santo, José Bento, Luiz Zerbini, Matheus Rocha Pitta, Nuno Ramos, Wagner Morales e Waltercio Caldas.

 

A curadoria da mostra tece diálogos entre obras cuja matriz construtiva é nítida, ou seja, trabalhos cuja visualidade é seca e depurada, de natureza geométrica, e outros nos quais uma narrativa vem à tona, sinalizando uma conversa entre pólos que não são opostos, mas diversos e que fazem parte de uma mesma história da arte brasileira dos últimos cinqüenta anos. Com artistas de diferentes gerações e  obras que variam desde uma de Waltercio Caldas de 1967, espécie de desenho escultórico na parede que já sinaliza procedimentos fundamentais que virão reger o processo dos artistas, até outras datadas de 2013 e 2014. Sem ter como ponto de partida um conceito completamente fechado, a curadora foi alinhavando a ideia da mostra a partir de visitas aos ateliês dos artistas, no contato com os trabalhos e nos diálogos que manteve com os mesmos.

 

 

De 16 de maio a 05 de julho.

O futebol de Eduardo Coimbra

09/jun

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Futebol no Campo Ampliado”, individual de Eduardo Coimbra. Às vésperas do início da Copa do Mundo no Brasil, a mostra, reúne oito maquetes de estádios de futebol fictícios, onde se realizam jogos inventados pelo artista. A Copa, diz Coimbra, foi determinante para a realização desta exposição agora, mas não para a criação de suas obras. A primeira desta série é de 2001, outras três são de 2010 e os outros quatro estádios presentes na mostra foram realizados este ano.

 

Nos estádios imaginários, o que se vê são competições que ressaltam propriedades intrínsecas ao futebol tradicional: o drible, o equilíbrio, o toque de bola, a precisão dos chutes etc. Coimbra pensa as novas propostas como desvios do futebol original, com desenhos diferentes de linhas demarcatórias do campo e novas regras para o jogo. As regras mudam, mas o objetivo continua sendo o mesmo: marcar um gol no adversário. Cada estádio foi projetado levando em conta as características formais e dinâmicas das pelejas. A arquitetura assume o papel principal dos jogos, uma vez que sua forma transfere para a audiência as situações espaciais vividas pelos jogadores no campo. Em “Futebol no Campo Ampliado”, as maquetes estão instaladas verticalmente nas paredes para a visão frontal do espectador, tornando explícitos o desenho do campo, as arquibancadas e o volume do objeto. Junto  cada maquete, um texto explica as regras do jogo, evidenciando a relação das arquiteturas com os jogos propostos.

 

O artista convidou também oito pessoas de áreas profissionais variadas, que têm em comum a paixão pelo futebol, para escreverem comentários sobre cada um dos estádios e jogos: Aldir Blanc, Adolfo Montejo Navas, Cássio Loredano, Hilário Franco Jr, Luis Fernando Veríssimo, Luiz Antonio Simas, Paulo Bruscky e o jornalista Sérgio Cabral.

– Achei que seria curioso ouvir o que diversas pessoas, para as quais o futebol desperta profundo interesse, pensariam dessas situações. Seriam pareceres sobre o futebol, não sobre arte. Incluir os textos na exposição constrói mais uma camada de leitura para aquelas proposições espaciais, diz Eduardo Coimbra.

 

 

 

Eduardo Coimbra aponta que, diferente dos estádios comuns, onde o lugar da torcida é a arquibancada ao redor do campo, assistindo à partida “do lado de fora”, nas maquetes apresentadas no Paço Imperial, não há neutralidade da audiência. Em Estádio III (2010), por exemplo, há dois tipos de arquibancada: um mais próximo do tradicional, acompanhando o contorno do campo (que, nesse caso, não tem o formato convencional de retângulo), e outro, localizado em dois pontos no meio do campo, permitindo ao espectador um ponto de vista “de dentro” da partida e, ao mesmo tempo, obrigando que o jogo incopore a presença desse elemento arquitetônico no meio da área.

 

Como em outros trabalhos do artista, essas maquetes não são etapas de projetos a serem realizados na escala real. São ideias espaciais que finalizam em si mesmas a proposta de pensar de uma maneira extrema a relação entre um objeto arquitetônico e sua função. Nelas a relação “palco x plateia” é atravessada por uma noção de espaço onde o movimento de jogo e a solidez da arquitetura são protagonistas de uma narrativa sem hierarquia, num cenário sem figura e sem fundo. Completam a exposição textos inéditos do professor e crítico de arte Agnaldo Farias e da crítica de arte Daniela Name.

 

 

Sobre o artista

 

Eduardo Coimbra nasceu no Rio de Janeiro em 1955, cidade onde vive e trabalha. Iniciou sua carreira no começo dos anos 1990. O foco da ação do artista tem se deslocado gradualmente para trabalhos em grande escala, culminando com a realização de instalações públicas, como  a realizada na Praça XV, no Rio, em 2008, e na Praça Charles Muller, em São Paulo, em 2012; e a do Espaço de Instalações Permanentes do Museu do Açude, no Rio, em 2008. Em paralelo a essa produção em grande escala, Coimbra mantém práticas artísticas mais intimista, como a da grande série de maquetes realizadas a partir de 1999 ou as fotografias/colagens em que ilhas aparecem flutuando no céu, num cenário quase onírico (série Asteroides). Seus desenhos, pinturas, maquetes e objetos têm referência recorrente na paisagem, nas questões de percepção espacial e nos desdobramentos que essa reflexão pressupõe.

 

Coimbra participou da 29ª Bienal de São Paulo (2010) e da 3ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (2001). Exposições coletivas recentes incluem: Coleção Itaú de fotografia brasileira no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2013; Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2013; Bola na rede, Funarte, Brasília, 2013; Espelho refletido, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, 2012; Höhenrausch 2, Offenes Kulturhaus Oberösterreich, Linz, Áustria, 2011; Lugar algum, SESC Pinheiros, São Paulo, 2010; e After utopia, Centro per l’Arte Contemporanea Luigi Pecci, Prato, Itália, 2009.

 

 

Até 10 de agosto.