Graphos: Brasil, mulheres

25/mar

A Graphos:Brasil, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou duas exposições que têm a temática feminina como eixo central: a individual da escocesa Clare Andrews e a coletiva “Mulheres, chegamos!” com a participação do elenco feminino da galeria, além de cartazes do grupo Guerrilas Girls.

 

Clare Andrews apresenta as pinturas da série”Deeds not Words” nas quais relata um dos mais importantes momentos na luta das mulheres  pela conquista de seus  direitos na sociedade, o movimento sufragista. Clare Andrews apresenta 40 trabalhos em óleo sobre tela inspirados no conjunto de manifestações realizadas por mulheres no final do século XIX em luta pelo direito ao voto e em “sufragettes” como Emily Wilding Davison – mártir do movimento após ter sido golpeada pelo cavalo do rei no Derby da Inglaterra em 1914.

 

A segunda  exposição, “Mulheres, chegamos!”, traz pinturas, esculturas, fotografias, instalações e cartazes das artistas Anna Bela Geiger, Bettina Vaz Guimarães, Cristina Ataíde, Daniela D’Arielli,  Gabriela Noujaim, Liliana Porter, Monica Barki, Monica Potenza, Sani Guerra e Susana Anágua. Nesta mostra o público também vai poder conferir a arte provocativa das Guerrilas Girls, coletivo norte-americano, que utiliza performances e cartazes com apelo pop  para questionar o lugar da mulher na sociedade contemporânea, particularmente das artistas mulheres. A exposição apresenta 25 cartazes do grupo fundado em 1985 e que até hoje mantém sigilo sobre a identidade de suas integrantes, utilizando máscaras de gorila durante as aparições públicas em alusão a benfeitores anônimos como Batman e Homem-Aranha. Famosas em todo o mundo por sua arte engajada e de humor irônico, as ativistas participaram da 51ª Bienal de Veneza e de diversas exposições e apresentações ao redor do mundo.

 

“Observando a coleção de  posters feitos pelas Guerrilas Girls e o mote principal de sua luta – a  dificuldade das artistas mulheres se fazerem presentes nos museus, instituições e, principalmente, nas galerias de arte norte-americanas – me dei conta de que nós, diferentemente do mercado estrangeiro, damos bastante espaço às nossas artistas (só no time da Graphos temos 11) porque consideramos que artista é substantivo e/ou adjetivo de dois  gêneros. Não faz diferença, quando se trata de qualidade e expressão, se os criadores da beleza são homens ou mulheres”, declara o galerista e curador, Ricardo Duarte.

 

 

Até 12 de abril.

Rosângela Rennó: encontro

19/mar

A Casa do Saber, com o apoio da ArtRio, apresenta a aula “Revelando os arquivos fotográficos de Rosângela Rennó”. O encontro com a artista – que já participou das bienais de Veneza em 1993 e 2003, Berlim em 2001, São Paulo em 1994 e 2010, Havana em 1997 e Istambul em 2011 – aconteceu na sede da instituição, na Lagoa, Rio de Janeiro, RJ.

 

Rosângela Rennó não costuma tirar muitas fotos. No entanto, ela se transformou em uma das principais referências em artes plásticas quando o assunto é fotografia, suas ressignificações e desdobramentos. Ela prefere manipular imagens e negativos feitos por outras pessoas, muitas vezes anônimas, retrabalhando a memória e, sobretudo, as ausências e faltas na memória. Em uma época em que o apelo da fotografia é onipresente, Rosângela conseguiu construir uma obra original com reconhecimento de crítica no Brasil e no exterior. Seus trabalhos estão em alguns dos principais museus de arte no exterior, como o Reina Sofia, em(Madri, a Tate Modern, em Londres, o Arts Institute of Chicago, o Guggenheim, em Nova York e o Stedelijk em Amsterdan.

 

Ela também acaba de ganhar o prêmio de melhor foto-livro do mundo da Paris Photo-Aperture Foundation, na França, com “A01 [COD. 19.1.1.43] – A27 [S|COD.23]”, livro sobre as fotografias de Augusto Malta furtadas do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Nesse encontro especial, Rosângela mostrou e comentou seus últimos trabalhos a partir de investigações em arquivos fotográficos e falou de sua dedicação à produção de foto-livros.

Instalação de Miguel Rio Branco

18/mar

Uma instalação com quatro projeções de imagens que transitam pelas temáticas de violência e poder, trabalhada simultaneamente sobre quatro telas de voil, com áudios diferentes, constitui o núcleo central da mostra “Gritos surdos”, de Miguel Rio Branco, que ocupará a Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exposição reúne instalações realizadas pelo artista no início da década de 2000, que nunca foram exibidas no Rio de Janeiro. Além da obra que estará na nave central da Casa França-Brasil, uma das salas laterais exibirá uma projeção com imagem fixa e áudio. A outra vai mostrar um “site specific” em neon‚ no qual vidros de pára-brisas de automóveis, acidentados ou baleados, refletem luzes fluorescentes que piscam de modo intermitente, perfiladas por linhas de neon vermelho, com fotografias em cibachrome. As obras de “Gritos Surdos” foram concebidas originalmente para uma mostra individual do artista no Centro Português de Fotografia, Porto, Portugal, em 2001 e também exibidas na Galeria Millan, São Paulo, SP, em 2004 e em Arles, França, nos “Rencontres d’Arles”, na Église des Frères Prêcheurs, em 2005. Ao lembrar que Miguel Rio Branco não apresenta uma exposição institucional no Rio de Janeiro há muitos anos, Evangelina Seiler, diretora da Casa França-Brasil, diz que “Gritos Surdos” proporciona uma reflexão sobre difíceis aspectos da condição humana. – “A obra de Miguel Rio Branco nos faz pensar sobre o que às vezes não queremos ver”.

 

 

A palavra do artista

 

– “Como artista, trabalhei em cima de imagens fotográficas‚ do cinema digital‚ das luzes de neon e da poética que as artes plásticas me oferecem. Tudo se transforma no resultado da minha obra”, resume Miguel Rio Branco, ao falar sobre o seu processo criativo.

 

“Gritos surdos” é composta por vídeos, fotografias e objetos. No entanto, sobre este tipo de composição, o artista ressalta: – “Cada pedaço na verdade já contém um todo, já pode bastar em si mesmo, fotograficamente falando; porém, poeticamente, ele precisa dos outros pedaços para completar o discurso”.

 

– “Trabalho como um pesquisador, como um colecionador de momentos e objetos, uma pessoa que vai atrás de marcas deixadas por outros, um pouco como um arqueólogo. Hoje em dia eu me vejo muito como um arqueólogo que vai pegando marcas; o meu trabalho não tem mais o ser humano explícito, mas tem a marca dele, os restos que ele deixa, as maneiras com que ele trabalha as coisas. Não registro a arquitetura que o homem faz num edifício, mas os buracos onde ele vive, os restos que ele larga para trás”, conclui.

 

 

Sobre o artista

 

Um dos mais completos artistas visuais brasileiros, Miguel Rio Branco começou a expor suas pinturas em 1964, mas foi como fotógrafo e diretor de fotografia que conquistou reconhecimento nacional e internacional, a partir dos anos de 1970. Estudou fotografia em Nova Iorque, onde trabalhou por dois anos como fotógrafo e diretor de filmes experimentais.  Nos nove anos seguintes, dirigiu e fotografou filmes em longas e curtas metragens. Desenvolveu, em paralelo, uma fotografia autoral de forte carga poética, que logo o legitimou como um dos melhores fotojornalistas de cor.  A ênfase de Miguel Rio Branco ao olhar pessoal lhe rendeu prêmios importantes, como o francês Kodak de la Critique Photographique, em 1982, e o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do MAM- SP em 1980, além da presença de seus trabalhos nas revistas mais importantes do mundo, como Stern, National Geographic e muitas outras. Como diretor de fotografia, foi premiado pelos filmes “Memória Viva”, de Otávio Bezerra, e “Abolição”, de Zózimo Bulbul. Seu vídeo “Nada levarei quando morrer, aqueles que me cobrarei no inferno”, 1982, venceu a categoria Melhor Fotografia no Festival de Brasília e foi duplamente premiado no XI Festival Internacional de Documentários e Curtas de Lille, França: levou o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica Internacional. Publicou os livros “Dulce Sudor Amargo”, Fundo de Cultura Económica, México, 1985; “Nakta”, com um poema de Louis Calaferte , Fundação Cultural de Curitiba, 1996;  “Miguel Rio Branco”, com ensaio de David Levi Strauss, Aperture, 1998; e “Silent Book”, Cosac Naify, 1988. Seguiram-se “Entre os olhos, o deserto”, 2000, também pela Cosac Naify e “Notes on the tides”, 2006. O mais recente de seus livro “Você está feliz”, 2012,  editado pela Cosac Naify, foi indicado ao “Photobook Award 2013”. Miguel Rio Branco possui obras no acervo de coleções públicas e particulares nos EUA, na Europa e no Brasil: MAM-Rio,  MAM-SP, MASP-SP, Centre Georges Pompidou, Paris, San Francisco Museum of Modern Art, USA, Stedelijk Museum, Amsterdan, Museum of Photographic Arts, San Diego, California, USA, e Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, USA. Entre 2000 e 2013, o artista realizou 50 exposições individuais no Brasil, na Europa, Estados Unidos e Japão. Possui espaço especial (individual) no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, MG.

 

 

 De 24 de março a 25 de maio.

Ron Mucek no MAM-Rio

Em 2013, Ron Mueck foi convidado para apresentar suas novas esculturas na Fondation Cartier pour l’art contemporain em Paris. Essa mostra estará sendo exibida em sua íntegra no Museu de Arte Moderna, MAM-Rio, Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, depois de já ter sido apresentada no Fundación PROA, Buenos Aires. É a primeira vez que a obra de Ron Mueck é exibida na América do Sul. Além das seis importantes esculturas recentes, esta mostra agrega três esculturas inéditas. Também será apresentado um novo filme sobre a criação de Mueck realizado por Gautier Deblonde para a mostra em Paris. Ao revelar-nos o artista solitário em seu processo de trabalho, o filme acentua ainda mais a sensibilidade e a força das esculturas de Mueck e ressalta sua particular ressonância nos dias de hoje.

 

Uma exposição de Ron Mueck é um evento incomum. Mueck vive em Londres e suas mostras têm sido aclamadas no mundo todo, desde o Japão, Austrália e Nova Zelândia, até o México. Mueck trabalha lentamente em seu pequeno estúdio ao norte de Londres, e o próprio tempo transmuta-se em um elemento importante dentro de seu processo criativo. O detalhe de suas figuras humanas é meticuloso, com surpreendentes mudanças de escala que as distanciam do realismo acadêmico, da pop arte e do hiper-realismo.

 

Três novas esculturas são exibidas aqui pela primeira vez, depois do evento original em Paris: dois adolescentes na rua, uma mãe com seu bebê e um casal de idosos na praia. Parecem congelados em momentos da vida, e cada uma delas captura o vínculo entre dois seres humanos. A natureza da conexão entre ambos se revela em suas ações, pequenas, comuns, e ao mesmo tempo, misteriosas. A precisão de seus gestos, a representação fidedigna da carne, a insinuação da suavidade da pele, lhes confere uma aparência de absoluta realidade. Estas obras não descrevem situações ou pessoas reais, mas a obsessão com a verdade nos fala de um artista que busca a perfeição e que é extremamente sensível à forma e à matéria. Na busca da verossimilhança, Mueck cria obras secretas, meditativas e fascinantes. Iluminar as verdades universais. Essas figuras que parecem tão comuns e ordinárias também irradiam uma espiritualidade e uma forma humana tão profunda que provocam em nós uma resposta. Mueck revela a natureza surpreendente de nossas relações com o corpo e nossa existência, indo muito além das tradições do retratismo.

 

Ron Mueck deu novo sentido à escultura figurativa contemporânea. Ron Mueck vale-se de uma enorme diversidade de recursos, como fotos de jornais, histórias em quadrinhos ou obras-primas históricas, recordações proustianas ou antigas fábulas e lendas. “Still Life”, obra de 2009, se enquadra dentro da tradição clássica desse gênero; “Woman with Sticks”, obra de 2009, inclina-se para trás sob um feixe de lenha e nos faz lembrar dos contos de fadas. “Drift ‘, de 2009, e “Youth”, de 2009, parecem inspiradas em manchetes de jornais, ainda que também evoquem obras do passado. Em outras esculturas de Ron Mueck, como o grande autorretrato adormecido “Mask II”, de 2002, os sonhos transformam-se subitamente em realidade.

 

Seu processo criativo, muito circunspecto, é revelado no novo filme de Gautier Deblonde intitulado “Still Life: Ron Mueck at Work” ou “Natureza morta: Ron Mueck trabalhando”. Esse filme foi produzido para a exposição na Fondation Cartier pour l’art contemporain. Rodado no estúdio de Mueck enquanto ele produzia suas novas obras para a mostra, nos oferece uma oportunidade única e rara de observar o artista perdido em seu próprio processo criativo. Apoio: Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris; Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.

 

A exposição foi concebida pela Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris e a curadoria é de Hervé Chandès e Grazia Quaroni.

 

 

De 19 de março a 01 de junho.

Registro: Franco Terranova Arte/Poesia

14/mar

Antes de falecer, em dezembro de 2013, o marchand Franco Terranova ainda teve tempo de concluir seu último e um dos mais brilhantes projetos. Reuniu poemas inéditos e antigos com suas impressões de toda uma vida. Conseguiu expressar desde as lembranças de sua longínqua Itália até a paixão por Ipanema, bairro que escolheu para viver em 1950. Todas as memórias estão reunidas no livro “Carma Carnadura”, que a Réptil Editora lançou em fevereiro, na Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. O tempo, elemento perene na obra de Franco, é soberano nas páginas de “Carma Carnadura”. Na sua influência nas relações humanas, na percepção dos afetos e, também, as marcas físicas por ele deixadas.

 

Com fotos feitas pelo filho, o fotógrafo Marco Terranova, o poeta aparece nu, num ensaio que mostra a decomposição do corpo de um homem em plena vida. “Ele ainda estava um pouco reticente e consegui convencê-lo a posar citando o final do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, em que o personagem vai envelhecendo até que renasce para uma nova vida”, lembrou Marco. Dor, amor, ódio e outros sentimentos são apresentados nos poemas concretos, sem vírgulas ou pontos finais, o que torna a leitura uma experiência emocionante e profunda. “Poeta audacioso e original, Franco Terranova não se ajustava aos padrões usuais de linguagem”, disse dele o também poeta e amigo Ferreira Gullar. Fundador da memorável Petite Galerie, a primeira galeria de arte moderna no Brasil, que funcionou no Rio de Janeiro de 1954 a 1988, Franco apresentou ao país muitos dos artistas hoje renomados.

 

Conhecido pela sensibilidade e gentileza, deixou muitos amigos. “Era uma pessoa bondosa, muito mais idealista do que marchand. Ele acolhia os artistas”, diz Nelson Leiner. “Ele foi um marchand menos mercador e mais movido pelo afeto”, resume Daniel Senise. “Carma Carnadura” é o segundo livro de Franco Terranova lançado pela Réptil Editora – ele escreveu 14. Em outubro de 2012, a parceria com a editora Luiza Figueira de Mello resultou em “Sombras”, livro-objeto que contou com obras de arte de 73 artistas, entre eles, Tunga, Carlos Vergara, Antonio Dias, Millôr Fernandes, Emanoel Araújo, Avatar Morais, Anna Bella Geiger e Frans Krajcberg, criadas especialmente para ilustrar suas poesias. “O Franco é a pessoa mais íntegra e cheia de amor que conheci. Tenho muito orgulho destes trabalhos, sinto saudades dele todos os dias”, diz Luiza, que de tão amiga virou herdeira de seus direitos autorais.

 

 

SOBRE FRANCO TERRANOVA

 

Vindo da Itália em 1947, depois de lutar na Segunda Guerra Mundial, Franco Terranova criou – no Rio de Janeiro – a Petite Galerie, um diminuto espaço na Avenida Atlântica, em Copacabana. Seu último endereço de atividades, na Barão da Torre, em Ipanema, fechou ao longo de três dias de 1988, com um evento que Terranova batizou de “O eterno é efêmero”, com todos os artistas convidados que haviam trabalhado e exposto na galeria, artistas criando obras nas paredes, em seguida pintadas de branco. A galeria foi berço para muitos dos principais artistas plásticos do Brasil contemporâneo. O marchand também é reconhecido por introduzir no mercado brasileiro técnicas atualizadas de marketing cultural, realizar os primeiros leilões de arte moderna e fomentar a produção cultural no país. Com 14 livros publicados, Franco também dedicou-se a escrever poesias até seu falecimento, em dezembro de 2013.

Potenciais escultóricos

Desde o seu surgimento no Oriente Médio, a escultura, com a pretensão de transferir a realidade para a forma artística, ganhou destaque no Renascimento, com o “Davi”, de Michelangelo. No século XXI, a escultura revela um desprendimento do artista, que abre mão dos materiais clássicos para a produção deste tipo de obras, como a pedra, madeira, barro, e outros materiais. Deixou-se de lado também a ênfase à questão tridimensional, elemento básico na definição da ideia clássica de escultura e de sua estrutura estática: “Hoje os artistas pensam a escultura a partir da fotografia, vídeo e performance, além dos trabalhos que partem de referências diretas à história da escultura, como Brancusi, Man Ray e Michelangelo”, afirma Fernanda Lopes, curadora da mostra “Aparições”, na Galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. Um depoimento de Michelangelo sobre seu processo de trabalho e seu papel como artista deu nome à exposição: “Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus já a vêem”. Para Filipe Masini, à frente da galeria, a palavra aparição está ligada ao presente (de ser visto, tornar-se visível, mostrar-se), ao passado (no sentido de origem, princípio) e também como sinônimo de “fantasma, visão ou espectro”.

 

 

Partindo do título da mostra é possível pensar o conjunto de trabalhos apresentados na Galeria Athena Contemporânea, refletindo que os artistas da mostra já não lidam com a escultura nem com o mundo da mesma maneira que os mestres clássicos mas, ainda assim, seus trabalhos guardam relação com a ideia de “aparição”. Muitos partem de objetos e ações comuns do mundo, que são invisíveis em nosso dia a dia, e para os quais os artistas chamam nossa atenção.
A exposição coletiva, que tem como objetivo apresentar obras com potencial escultórico, apresenta 20 trabalhos de 12 artistas, entre eles Adriano Amaral, Ana Paula Oliveira, André Griffo, Bruno Baptistelli, Daniel de Paula, Debora Bolsoni, Flora Leite, Frederico Filippi, João Loureiro, Jorge Soledar, Raquel Versieux, e Wagner Malta Tavares.

 

São trabalhos entre objetos, vídeos, performances, fotografias e intervenções, produções recentes desses artistas, realizadas entre 2006 e 2014. Grande parte desses trabalhos são inéditos e alguns foram criados especialmente para esta mostra, na qual os artistas se apropriam de um tema, usando materiais do cotidiano.

 

 

De 20 de março a 19 de abril.

 

Toz expõe no Hélio Oiticica

11/mar

O traçado inconfundível de um dos artistas urbanos mais atuantes do Rio de Janeiro, Tomaz Viana, conhecido como Toz, estampa e projeta alegria e cores na cidade desde a década de 90. O artista, que adotou o Rio como cidade do coração, que vem assinando sua arte impactante pelas paredes e muros, incluindo um de 30 metros na Rua Sacadura Cabral, transpôs sua obra para telas, papéis, objetos e tecidos. Toz já realizou uma série de exposições individuais. Em 2013, além de ter participado da sua primeira feira de arte internacional, a Brazilian Art Fair, em Miami, também lançou um livro compilando seus principais trabalhos. Toz é representado pela Galeria Movimento e agora parte para mais um grande passo em sua carreira: sua primeira exposição institucional. Não só a primeira de Toz, mas a primeira individual de um artista urbano no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Isabel Portella, que acompanha a carreira do artista desde 2010.

 

Em “Metamorfose”, Toz ocupará três salas divididas em quatro ambientes do Centro Cultural, somando 300 m2. Nelas apresentará uma instalação rica em detalhes onde, pela primeira vez, dois importantes personagens do artista estarão na mesma exposição: o “Insonia” e o “Vendedor de Alegrias”, que mostram, ineditamente, ser a mesma figura na passagem da noite para o dia. O “Insonia”, que se mostra místico e carrega uma cartela de cores sombrias e escuras, inspirado nas noites perdidas, se transforma no “Vendedor de Alegrias”, uma realidade ensolarada, alegre e cheia de vida e alto astral. O objetivo é fazer com que as pessoas visitem o cotidiano dos personagens, transitem por uma passagem que inspira filosofia e mudança e entenda esta troca de vibrações, onde estarão espalhadas fotografias, objetos, instalações, tudo representando o mundo de seus personagens e selecionado criteriosamente pelo artista. A trilha sonora é assinada pelos experts Rafael Droors e Jonas Rocha.

 

No primeiro momento o público irá se deparar com a instalação, quase um labirinto filosófico, e começará a percorrer o caminho da imaginação de Toz, sendo levado primeiramente a um universo noturno, através da reconstituição do quarto de devotos do Insonia, guardião dos notívagos, cheio de detalhes e referências à entidade da noite. Mais à frente começa o processo de metamorfose. O público enfrentará uma instalação do Insonia de 1,90 m, suspenso no meio do ambiente, cujas paredes serão pintadas em tons escuros, para recriar uma atmosfera noturna. Depois da escuridão, chega-se à luz. Nesta ocasião, o expectador vai entrar em uma sala cheia de bolas de vinil coloridas e encontrar o outro personagem, o “Vendedor de Alegria”, de 1,90m, levitando no meio delas.

 

Na terceira sala estarão expostas 14 telas inéditas expressando esta metamorfose. Os trabalhos virão acompanhados de fotografias de personalidades que mostrarão fazer parte deste mundo Insonia / Vendedor de alegria, assim como todos nós. Nessas seis obras, artistas como Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Marcelo D2 e sua filha Maria Joana, entre outros, foram fotografados pela lente de Fernando Young, que já captou imagens de artistas como Caetano Veloso, Fernanda Montenegro, Gilberto Gil, entre outros grandes. Com interferências artísticas de Toz, os trabalhos mostrarão o que a exposição “Metamorfose” quer passar para o público, fazendo um link com o universo dos personagens: “Todas as pessoas têm os dois lados, as trevas e uma vibe mais tranquila e serena, e as fases fazem parte do nosso dia a dia. Posso dizer ainda que o Insonia e o Vendedor de Alegria me representam também, eu sou apenas mais um”, finaliza Toz.

 

Para a curadora Isabel Portella, Toz, ao nomear sua próxima exposição – “Metamorfose”, certamente quis ir além das mudanças da noite para o dia, da escuridão para a luz e as cores. “Insônia e o Vendedor de Alegria nos dizem muito mais do que isso. Falam, assim como o escritor Kafka, de solidão, de procura, mas também da euforia e da liberdade. É preciso a noite para que se faça o dia. É necessário um período intermediário para que se possa realizar a beleza da transformação, dessa metamorfose que se faz no recolhimento do casulo. Insônia nasceu para contar das noites sem dormir, das criaturas que povoam essas horas, do que acontece quando tudo fica escuro. Dois anos depois Toz nos surpreendeu  com o Vendedor de Alegria, com o excesso de cores e a leveza dos balões de gás. Foi o tempo necessário para a mutação, para que se desse a metamorfose que vai nos levar a múltiplas leituras”, termina Isabel.

 

 

De 15 de março a 08 de maio.

Ícones do Design Na Caixa Cultural Rio

10/mar

A Caixa Cultural Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição de mobiliário “Design brasileiro, moderno e contemporâneo”, que chega ao País após passar por Berlim e Lisboa. Cerca de 80 obras, entre ícones modernos, peças raras e inéditas, de 16 expositores ocuparão duas galerias da instituição para contar a história do design de móveis no Brasil. Durante a exposição, também serão exibidos vídeos com depoimentos de alguns designers. Do Rio de Janeiro, a mostra seguirá para a CAIXA Cultural Brasília, onde será apresentada entre maio e julho.

 

A exposição traz peças dos renomados Sérgio Rodrigues, Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, José Zanine Caldas, Joaquim Tenreiro, Aida Boal, Jorge Zalszupin, Paulo Mendes da Rocha, Gustavo Bittencourt, Carlos Motta, Domingos Tótora, irmãos Campana, Maneco Quinderé, Zanini de Zanine, Rodrigo Almeida e Móveis Cimo, entre outros, para mostrar o que se fez e o que está sendo realizado no Brasil neste segmento.

 

A ideia de criar a mostra surgiu na Alemanha, em 2012, a partir do encontro entre Zanini de Zanine e Raul Schmidt, que queriam mostrar a produção brasileira na Europa. De Berlim, a exposição seguiu para Lisboa como principal evento na abertura do ano do Brasil em Portugal. Em paralelo à realização na CAIXA Cultural Rio, a mostra também será apresentada na Sala Brasil, na sede da Embaixada Brasileira em Londres.

 

“O design brasileiro não tem uma característica única. Pelo tamanho do país, são muitas linguagens, culturas diferentes, materiais diversos”, diz Zanini de Zanine, curador da mostra com o colecionador e estudioso do assunto Raul Schmidt Felippe Junior. “É esse regionalismo, que se tornou globalizado, que está sendo proposto na parte contemporânea da exposição. A partir do momento em que você começa a traduzir o seu bairro, a sua cidade, isso passa a ser mundial, em termos de interesse”, completa.

 

 

 Sobre os expositores

 

AIDA BOAL – A escolha da profissão de arquiteta foi consequência natural de sua incoercível vocação para o desenho, tanto assim que, ainda como estudante, excursionou pelo campo da escultura (modelagem) e pintura, e deu, também, seus primeiros passos no terreno do “design” de móveis, estes no enlevo que povoaria mais tarde sua derivante dedicação. Neste campo, começou a projetar e executar móveis, sempre com a preocupação de aliar a harmonia das formas com o conforto, esmerando-se, cada vez mais, na anatomia de seu traçado a fim de proporcionar o máximo de conforto possível.

 

CARLOS MOTTA – É uma estrela de primeira grandeza do design nacional, várias vezes premiado. A honestidade está presente na qualidade de elaboração do móvel, feito para durar muito, usando principalmente madeiras maciças como amendoim, mogno, cedro e cabriúva. Arquiteto de formação, Carlos Motta preserva as características de ateliê de seu trabalho, pronto para projetar qualquer coisa que o cliente queira em madeira. Mas há vários criou produtos em linha, como mesas, camas, aparadores, escrivaninhas, armários, objetos e principalmente cadeiras, sua paixão declarada – já desenhou cerca de 25 modelos diferentes. Imune à pretensão do vanguardismo, Motta faz móveis belos de ver e confortáveis de usar, e permanece evoluindo dentro de um caminho próprio.

 

DOMINGOS TÓTORA – O mineiro Domingos Tótora, nascido e criado em Maria da Fé, cidade situada na Serra da Mantiqueira, sul de Minas Gerais, cursou Artes Plásticas na FAAP e ECA-USP em São Paulo. De volta à sua aldeia após os estudos, elege o papel reciclado como matéria prima para o seu trabalho, que transita entre a arte e o design. Suas peças de extrema beleza incluem bancos, mesas, vasos, fruteiras, centros de mesa e peças de mobiliário que se reportam às cores da natureza, como cascas de árvore, pedras e terra. Na textura seus objetos trazem os efeitos de luz e sombra do sol com a mesma intensidade que a luz solar percorre os vales. Suas peças piloto são desenvolvidas num processo simultâneo onde concepção e execução andam juntas e se complementam em todos os níveis, da matéria prima aos aspectos econômicos e sociais. O processo é 100% manual e tem a certificação do Instituto de Qualidade Sustentável.

 

GUSTAVO BITTENCOURT – O design sempre foi uma paixão. Desde criança em seus desenhos já demonstrava o gosto pela criação, pelo desenvolvimento de novas ideias e com a Mãe Arquiteta apenas aguçou o sentimento. Formado em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2009, Gustavo esta sempre em busca de novos conhecimentos. O que o levou a estudar no Politécnico di Torino, na Itália, durante a Universidade e recentemente a trabalhar em uma galeria de móveis e artes em Los Angeles, a Thomas Hayes Gallery. Trabalhou com ícones do cenário nacional atual como Zanini de Zanine, Marcelo Rosenbaum, Rodrigo Calixto. Durante sua formação acadêmica foi premiado em importantes concursos como Movelsul, premiado em 2010 com a cadeira Trapeziu, que faz parte da mostra.

 

IRMÃOS CAMPANA – Os Irmãos Campana (Humberto Campana, Rio Claro, 17 de março de 1953, e Fernando Campana, Brotas, 19 de maio de 1961) são respectivamente, formado em Direito pela Universidade de São Paulo, e em Arquitetura pelo Unicentro Belas Artes de São Paulo. Hoje a dupla goza de reconhecimento internacional por seus trabalhos de Design-Arte, cuja temática discute elementos do cotidiano, que são transformados em peças de caráter artísticos, com uma linguagem única e de, até, uso possível. Profissionais que despertam o interesse internacional, são os uns dos poucos brasileiros com peças no acervo do MoMA, em Nova Iorque.

 

JOAQUIM TENREIRO – Artífice do design de mobiliário brasileiro, Joaquim Tenreiro – português de nascimento – se estabeleceu no Brasil ainda novo, exercendo a profissão de marceneiro, herança de família. Aos poucos, sua verve utópica foi o conduzindo como projetista de móveis com o apoio intuitivo e interesse de diversas empresas no Rio de Janeiro, como a Laubissh & Hirth. A genialidade de Joaquim Tenreiro – atemporal e, simultaneamente, tão próxima desta geração – entre um punhado de exposições Brasil afora e nos EUA, culminou no título de Melhor Escultor do Ano, em 1978, pela APCA.

 

JORGE ZALSZUPIN – No ano de 1949, desembarcava no Rio de Janeiro o polonês Jerzy Zalszupin. Formado em arquitetura na Romênia, começou sua carreira no escritório de arquitetura do seu conterrâneo Luciano Korngold, no estado de São Paulo. No início não podia assinar pelos seus projetos, por não ser brasileiro, mas depois que se casou e teve sua filha no país, recebeu sua nacionalidade e pode abrir o próprio escritório. Foi a partir daí que surgiu o Jorge Zalszupin, designer e artesão de móveis. Fundou sua marca, a L’Atelier, em 1959, com a proposta de um lugar para criações conjuntas, na produção de poltronas como a Dinamarquesa, a Paulistana entre outros móveis. Pelo valor histórico e qualidade do design de seus móveis, vários deles estão sendo desde 2005 reproduzidos com muito sucesso e aceitação no mercado nacional e internacional.

 

JOSÉ ZANINE CALDAS – José Zanine Caldas ficou conhecido como o “mestre da madeira” por conta de seus trabalhos primorosos com essa matéria-prima. Cadeiras, mesas, sofás e aparador, entre outras criações feitas a partir de chapas planas de madeira compensada, compõem o acervo da mostra. As peças foram desenhadas e produzidas a partir de 1948, ano em que Zanine fundou, em parceria com Sebastião Pontes, a ‘Móveis Artísticos Z’. Durante os 14 anos em que permaneceu no negócio, o designer assinou produtos que marcaram o encontro harmônico entre o modernismo e o artesanato tradicional brasileiro.

 

LINA BO BARDI – Estudou na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma. Inconformada com os móveis que encontrou no chegar ao Brasil, a italiana Lina Bo Bardi (1915-1992), posteriormente naturalizada brasileira, decidiu desenhar o mobiliário para seus projetos de arquitetura. Fundou com Giancarlo Palanti o Studio de Arte Palma que funcionou de 1948 a 1950 – para produzir móveis em série. O ponto de partida foi a simplicidade estrutural, aproveitando-se a extraordinária beleza das veias e da tinta das madeiras brasileiras, assim como seu grau de resistência e capacidade.  Lina manteve intensa produção cultural até o fim de sua vida, em 1992.

 

MANECO QUINDERÉ – A consequência natural do trabalho em teatro e música foi o convite para iluminar espetáculos de ópera e balé. A partir de então, as artes plásticas também se renderam ao talento de Maneco e surgiram os projetos de luz para exposições. Toda essa experiência levou os arquitetos mais importantes do país a procurarem parcerias em seu trabalho, para iluminar seus projetos e, desde 2000, colabora com projetos de iluminação para residências e comércio. Maneco ainda desenha e produz luminárias diferentes assinadas por ele.

 

MÓVEIS CIMO – A empresa iniciou suas atividades no início do século passado, em 1912. Em 1921, iniciou a produção de cadeiras a partir do reaproveitamento das aparas de imbuia para serem comercializadas nos centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro. Seu pioneirismo foi conquistado devido a alguns fatores: o reaproveitamento de material, a comercialização nos maiores centros urbanos do país e a criação de um produto de qualidade destinado à produção em escala. A Cimo foi pioneira na introdução da tecnologia da laminação diferenciando-se de seus concorrentes. Seu produto dominou o mercado nacional de móveis para instalações comerciais e institucionais, com repercussão na América Latina, tornando-a a maior fábrica do ramo de mobiliário na América Latina da década de 30 até 1970. Seu legado é incontestável e histórico: as inovações tecnológicas e a funcionalidade dos seus móveis demarcaram um período da história e da cultura brasileira.

 

OSCAR NIEMEYER – Oscar Niemeyer nunca encontrou limites para a criatividade nas suas obras, e sempre acrescentou valor à sua extensa e extraordinária carreira. Apaixonado pelas linhas curvas e livres, o arquiteto lançou uma coleção de mobiliário com poucas peças em madeira prensada, em parceria com sua filha Anna Maria, desenhadas por ele, a partir de 1970 e em diferentes épocas.

 

PAULO MENDES DA ROCHA – Um dos mais importantes arquitetos e urbanistas brasileiros, assume uma posição de destaque a partir de um premio que recebeu em 2006 chamado Pritkzer, cujo título se refere à arquitetura contemporânea em termos mundiais. Sendo ele um exemplo do pensamento estético caracterizado como a Escola Paulista, tinha como um lema a arquitetura crua, limpa e clara. No âmbito mobiliário, não deixou por menos, foi o criador da famosa Poltrona Paulistana que possui uma estrutura em aço flexível com assento e encosto por uma capa de couro ou tecido. A Paulistana foi também editada em pequenas series, e em 2009, entrou para a seleta coleção permanente do Museu de Arte Moderna – MoMa, em Nova York.

 

RODRIGO ALMEIDA – O designer natural do interior de São Paulo é especialista em criar móveis com apelo global e criatividade brasileira. O trabalho de Rodrigo tem materiais em contextos incomuns ao mobiliário; brincadeiras com texturas, que até poderiam ser consideradas irregularidades, mas que ganham novos significados para se tornarem informação de design. E o resultado são peças únicas e totalmente não óbvias.

 

SÉRGIO RODRIGUES – Sérgio é, sem dúvida alguma, uma das mais admiráveis expressões do design em nosso país. O traço coerente e único inscreveu seu nome na história do design do século 20, sobretudo pela criação de uma grande variedade de produtos, dos quais o mais famoso é a Poltrona Mole. Ao lado de mestres como Joaquim Tenreiro e José Zanine Caldas, Sérgio vem tornando o design brasileiro conhecido internacionalmente. Ele transformou totalmente a linguagem do móvel, foi generoso no traço e no emprego das madeiras nativas. A aproximação de desenho do móvel moderno com certos objetos da cultura brasileira, e a não preocupação com modismos, acentuam o espírito de brasilidade que tanto busca Sergio Rodrigues.

 

ZANINI DE ZANINE – Carioca nascido em 1978, Zanini de Zanine herda de seu pai Jose Zanine Caldas, grande arquiteto e designer brasileiro, o gosto pelo desenho. Estagiário de Sérgio Rodrigues durante um ano, o jovem se forma em desenho de produto no final de 2002 na PUC-Rio. Desde então, optou por ser designer independente. Inquieto, começou a experimentar e produzir seus próprios desenhos. Premiado nos principais concursos do país e com exposições no exterior, Zanini passou a ser convidado para assinar para diferentes marcas nacionais e internacionais.

 

 De 12 de março a 4 de maio de 2014.

Duas na Laura Marsiaj

28/fev

A próxima exposição da artista Renata De Bonis que será realizada na Galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de janeiro, RJ, diz respeito a uma experiência recente que a artista teve de residência – por alguns meses – na Islândia. Esse país, por vezes utilizado na cultura contemporânea como um ícone daquilo que poderia ser um espaço muito diferente do Brasil – gélido, pequenino e com paisagens espetaculares que ecoam os tons da pintura romântica do século XIX – foi recodificado pela experiência da artista. Ao observarmos sua trajetória, é possível associar sua produção à articulação entre pintura, paisagem e deslocamento. Ao observarmos sua nova série de trabalhos aqui reunidos na exposição de nome “Uma pedra por dia”, talvez possamos perceber uma nova nuance de sua prática, ou seja, de imagens que davam conta da amplitude de um espaço (natural ou doméstico), sua atenção agora se volta para detritos, pedras coletadas “no meio do caminho”. Esse pode ser considerado, então, um momento para que o público e a crítica apreciem as novas pinceladas inquietas dessa paleta que se repete, mas de nenhuma forma entedia o nosso olhar, afirma Raphael Fonseca.

 

 

Sobre a artista:

 

Renata De Bonis nasceu em 1984, em São Paulo, onde vive e trabalha. Formou-se no curso e Artes Plásticas da FAAP-SP em 2006. Embora resida em São Paulo, é na busca de espaços e temas distantes do meio urbano que a artista encontra suas principais referências pictóricas. Em suas telas, paisagens silenciosas e cores neutras nos remetem a situações de solidão e vazio existencial. Em busca de paisagens ermas para desenvolver seu trabalho, Renata viajou pelo mundo. Em 2009, passou uma temporada no deserto da Califórnia, frequentando parques nacionais como o de Joshua Tree. Em 2013 morou na Islândia buscando paisagens inóspitas para desenvolver suas pinturas. O uso opaco da tinta a óleo com cera e a paleta de cinzas lúridos estabelecem a melancolia e a ressonância lúgubre de suas imagens, equilibradas pela tensão sutil na passagem de tons, entre os planos da pintura.

 

 

No Anexo, a obra de Cristina Salgado

 

A exposição “A mãe contempla o mar“, de Cristina Salgado que será exibida no espaço anexo da galeria Laura Marsiaj a partir do dia 18 de março de 2014, é composta de objetos realizados entre 1999 e 2002 e desenhos inéditos produzidos entre 2001 e 2012. Mesmo sendo de séries com nomes e datas diferentes, são trabalhos surgidos a partir de uma mesma técnica, a modelagem em papier mâché, e um mesmo inventário simbólico, com suas superfícies rosadas, que imitam a pele clara com algum realismo. Mas é importante mencionar que, ainda que estejam presentes alguns elementos realistas – além da “pele”, sapatos e dedos com longas unhas vermelhas – essas obras se referem ao corpo psíquico, ou ao corpo traumático, o que talvez se possa dizer de todos os trabalhos da artista que se relacionam ao corpo humano. A presença de uma dimensão feminina na obra da artista é uma questão importante, ainda que não seja a única, nem excludente de outras possibilidades de produção de sentidos. Todas as obras, com exceção do Homem bebê (série Instantâneos), estariam relacionadas ao gênero feminino de modo um tanto enfático pela presença dos scarpins ou pelas unhas vermelhas.

 

Há dois desenhos mais recentes, de 2012, que retomam essas formas, agora com mais representação de volume, mas volumes moles, pesando sobre cadeiras. Em cada um deles está presente uma pequena paisagem marinha. Em um desenho de 2003, o único com uma figura humana mais convencional, também sentada em uma cadeira, está a mesma paisagem marinha. Nessas imagens, é como se a contemplação de uma representação do mar envolvesse uma introspecção – um olhar para um horizonte interno. Esses desenhos têm o título de La mer. Esse entrelaçamento de formas orgânicas, maternais e paisagens marinhas são, de certa forma, junto com a homofonia das palavras mãe e mar em francês, o motivo do título em português: A mãe contempla o mar. La mère regarde la mer funciona como uma circularidade – trabalhos antigos e recentes que volteiam por um mesmo território de vocabulário simbólico e formal.

 

 

De 18 de março a 23 de abril.

Acervo MAM-Rio

23/fev

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Acervo MAM – Obras restauradas”, com treze obras pertencentes à coleção do MAM restauradas com recursos no valor de R$ 399.980,50, da Secretaria Municipal de Cultura, via Edital Pró-Artes Visuais 2012.

 

“A mostra apresenta o resultado do esforço do MAM em devolver uma parte da história de uma coleção memorável, que tem crescido e prosperado”, afirma Fátima Noronha, conservadora e restauradora do Departamento de Museologia do MAM. O Museu abriga 6.466 obras em seu acervo próprio, mais 6.400 da Coleção Gilberto Chateaubriand – considerada internacionalmente como uma das mais importantes do modernismo e contemporaneidade brasileiros –, e perto de duas mil fotografias da Coleção Joaquim Paiva, ambas em comodato, totalizando perto de 15 mil obras.

 

Para esta exposição, será apresentado o mais recente conjunto de obras restaurado. Farão parte da mostra obras dos artistas brasileiros Djanira, Ivan Serpa, Lygia Clark, Manabu Mabe, Nelson Leirner, Silvia de Leon Chalreo, e Wega Nery. Dos estrangeiros, estão obras de Alberto Magnelli, Jorge Páez Vilaró, María Luisa de Pacheco, Michel Patrix, Oton Gliha e Serge Poliakoff.

 

Dentre os destaques internacionais da exposição estão trabalhos do artista russo Serge Poliakoff e do italiano Alberto Magnelli, ambos importantes do período do pós-guerra na Europa. Dentre os brasileiros, destacam-se a obra do pintor, gravador e desenhista Ivan Serpa, que também foi professor da escola de artes do MAM e muito ligado à instituição, onde lecionou para crianças e adultos, formando uma geração de artistas. A obra “Forma em evolução” é de 1952, período em que Serpa manifesta seu forte interesse na abstração geométrica e foi uma doação do artista à coleção do museu, em 1953. Há, também, uma pintura de 1960 do artista nipo-brasileiro Manabu Mabe. Medindo 150cm x 184,5cm é a maior tela deste artista pertencente ao Museu. Das treze obras apresentadas – em quase sua totalidade pinturas a óleo sobre tela – apenas quatro (de Serge Poliakoff, Ivan Serpa, Oton Gliha e Nelson Leirner) nunca haviam passado por restauros anteriores e estavam bastante danificadas devido ao incêndio ocorrido no Museu em 1978, que tinha, na época, um acervo de cerca de mil obras. As demais haviam sido restauradas no final da década de 1970, mas precisavam de pequenas recuperações.

 

Carlos Alberto Gouvêa Chateubriand, presidente do MAM Rio, museu criado em 1948, destaca em seu texto que “aos 30 anos de existência, o MAM Rio passou por forte revés com a perda trágica de 90% de sua coleção. Peças significativas puderam ser resgatadas e restauradas; uma pequena parte que não pôde ser recuperada ao longo daquele período foi mantida com zelo e paciência, aguardando uma solução. Hoje esse dia chegou e podemos rever obras de Ivan Serpa, Lygia Clark, Djanira, Manabu Mabe, Wega Nery, Nelson Leirner e Silvia Chalreo, para citar a vertente nacional. Alberto Magnelli, Serge Poliakoff, Oton Gliha, Maria Luisa Pacheco, Michel Patrix e Jorge Páez Vilaró na internacional”.

 

 

NELSON LEIRNER: NOVA OBRA

 

 

A obra de Nelson Leirner, em tecido e zíper, estava bastante danificada e muito frágil estruturalmente para ser restaurada. Por se tratar do único artista vivo da exposição, ele criou uma nova obra, um múltiplo da série “Homenagem à Fontana”, de 1967, baseando-se na original existente no Museu. A restauração das treze obras do acervo do MAM Rio durou um ano e foi coordenada por profissionais especializados contratados pelo Museu: Edson Motta Jr. e Claudio Valério Teixeira, ambos responsáveis pela restauração dos painéis “Guerra e Paz”, de Candido Portinari, pertencentes à ONU, em 2011. A exposição será acompanhada de um livreto, com 76 páginas, formato 21cmx15cm, e textos do presidente do Museu e da conservadora e restauradora do Museu.

 

 

CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO

 

 

O MAM realiza restauros frequentes nas obras de seu acervo, atendendo às necessidades de conservação e também a demandas curatoriais e emergenciais. Quando necessários, restauros de maior magnitude têm sido feitos com apoio de recursos externos. Estão dentro desses grandes restauros os realizados em cerca de 28 obras – pinturas, desenhos e fotografias, e mais 28 estudos de móveis de Joaquim Tenreiro, e ainda a construção de uma mapoteca de grandes dimensões para acondicionamento desses projetos, com o apoio da extinta Fundação Vitae, entre 1999 e 2003. Com o apoio do Banco Opportunity, foram restauradas mais de cinquenta obras em papel e pinturas, de 2000 a 2002. Paralelamente também foram obtidos recursos para a compra de mobiliário próprio para o acervo, como estantes, armários e carrinhos de transporte de obras nas áreas internas do museu.

 

 

 

Até 13 de abril.