Beatriz Milhazes no Paço Imperial

02/set

Depois de 11 anos sem expor no Rio, sua terra natal, e após comprovada consagração internacional, a artista plástica Beatriz Milhazes, apresenta mais de 60 obras (pinturas, colagens e gravuras) na exposição denominada “Meu Bem”, atual cartaz do Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exposição, uma panorâmica de suas obras a partir de 1989, é composta por trabalhos cedidos por colecionadores e museus internacionais e obedece organizaçção cronológica sob a curadoria do crítico francês Frédéric Paul.

 

A mostra reveste-se numa boa oportunidade para apreciar os renomados arabescos, circulos, mandalas e flores harmonicamente criados pela artista nos últimos anos, formas e signos que estabeleceram e destacaram sua obra; uma festa de cores que evoca – sem folclore – o Carnaval e a luminosidade tropical. A artista exibe, ainda, um grande móbile concebido exclusivamente para esta ocasião. De acordo com o curador, Beatriz Milhazes “…reivindica laços fortes com a modernidade europeia e está em pé de igualdade na cena contemporânea, na qual abala os códigos muitas vezes pouco sábios da abstração”.

 

Até 27 de outubro

A arte de Pietrina Checcacci

29/ago

A exposição “Pietrina Checcacci – Nuvem” está em cartaz na Galeria BNDES, Centro Rio de Janeiro, RJ. Trata-se de um momento singular na carreira da artista que, através desta exposição, exibe uma panorâmica de seus trabalhos distribuídos entre pinturas, desenhos e esculturas. Desde o início de sua vida profissional a artista manteve o corpo humano como signo referencial de sua obra e o momento atual é uma reflexão absoluta sobre seus últimos trabalhos cujo título claramente indica ser uma passagem, uma nova fase, seja de balanço e/ou novos caminhos pictóricos.

 

A palavra da artista

 

Fazem 6 anos desde a última exposição que fiz no Rio de Janeiro na qual completei o meu depoimento ao mundo em 50 anos de labor. O tema principal e sempre: o ser humano: vida/morte – prazer /dor. Desde 2012, graças à casualidade mágica que impulsiona os artistas, comecei a trabalhar em branco e preto numa sequência que chamo NUVEM. E como nuvens seguiam aleatórias na direção que elas exigiam, além de qualquer racionalidade. Deixei que me levassem aonde quisessem ir. Só agora descobri que com elas debrucei-me sobre os 55 anos do meu trabalho de arte onde coerência, liberdade e meticulosos cuidados artesanais foram a diretriz. O que faço necessita de silêncio e solidão para germinar refletir e comentar o mundo: tarefa da arte.

 

Texto de André Seffrin

 

A TÚNICA INCONSÚTIL DE PIETRINA CHECCACCI

 

Nas sucessivas séries de pinturas, serigrafias, esculturas ou múltiplos de Pietrina Checcacci nos defrontamos com a bela aliança entre domínio técnico e arte de amar, algo limítrofe ao que Carlos Drummond de Andrade soube dizer, e com ironia subjacente, no poema “A paixão medida”. Paixão sensual que, em Pietrina, pode eventualmente transformar-se em visceral e agônica, nesse caso mais próxima talvez da poesia de Jorge de Lima. O que equivale a dizer que a obra plástica de Pietrina se desenvolve às vezes em águas turbulentas, em territórios eruptivos, em espaços de inesperados e recônditos esplendores. Não por acaso, como se pode concluir, seu universo se mantém tão próximo da poesia e dos poetas. E ao erigir corpo e cidade numa única e vária paisagem metafísica, Pietrina acaba por assumir um caminho não só estético mas também ético, à beira das tantas descobertas científicas que em medidas iguais nos fascinam e fragilizam. Em cada linha ou escala cromática, em cada sugestão alegórica ou simplesmente jocosa, Pietrina cria suas formas profusas que ora se auto-referem, ora se desdobram a partir de uma única proposta, de memória ancestral e labor obsessivo. Nos rastros de um título famoso de Roland Barthes, é como se o artista andasse sempre e sem descanso em busca dos fragmentos de um discurso amoroso. Variações sobre o mesmo tema que, ao longo dos anos, cambiantes e crescentes, mantiveram-na incorruptível e adepta de uma arte realizada sem amarras, medos ou eventuais fugas. E é claro que esse universo bem nutrido e dinâmico, impulsionado pela raiz dos símbolos do viver, do amar e do criar, é seara de poucos artistas. Agora, em outro desdobramento não menos telúrico de sua vastíssima obra, e como antes, na série “A criação hoje”, de 2007, Pietrina novamente evoca nossa gênese de modo um tanto insólito e inquietante.  Como na série anterior de tenuíssimas rosas ou rostos estranhos, o acento dramático se tornou mais impactante. Vultos suspensos em sombras uterinas, seres semoventes em improvável solidão, início e fim de retorcidos périplos terrestres. E aqui a aproximação se dá com um dos títulos seminais de outro grande poeta, Cecília Meireles – Solombra. Sol e sombra ou, quem sabe, o inominável. Como se, ao se afastar um pouco da sensualidade e do erotismo que a notabilizaram nos anos 70 e 80, Pietrina de repente se defrontasse com um mundo mais áspero e enigmático. E é mesmo um mundo estranho às festas humanas que se entremostra nestas telas cheias de luz e sombra. Como tatuagens de um inframundo, sem antes e sem depois, à mercê do acaso, esvaindo-se em distâncias. Diz Cecília: “Há mil rostos na terra: e agora não consigo recordar um sequer”. Um mundo de essências e pouca transparência, que não se sabe dentro ou fora, e sem nenhum conforto. Como se deu no final da série “Rosas”, em 2009, o DNA como reflexo ou duplicidade (espelhos líquidos), possíveis fetos ou nuvens sugerindo a anatomia humana, arco-íris ou amebas, tudo sem os véus da alegoria, espécie de errância amorosa ou catarse. No insulamento do corpo na paisagem, no seu exílio, temos o sangue que se faz bruma e sombra. Ventres, óvulos, montanhas, águas, panos, frutos, planetas, estrelas, pulsações celestes, sem princípio nem fim. Preponderam o preto e o branco nestas inesperadas nebulosas, formas primordiais do cosmos ou da gênese humana, amplamente analisada ou sugerida em tudo que Pietrina compôs desde sempre. Vermelho sanguíneo, negro e cinza são cores estabilizadas em suas incessantes mobilidades plásticas, desde os recortes de corpo fossilizados do final dos anos 70 ou mesmo antes, desde a fase Evaterra, por volta de 1973. No começo foi o pop, o ânimo fotográfico, a vinculação a um certo expressionismo, e o breve comprometimento político, habitado aqui e ali pelo lúdico, o humorístico e até o kitch da cultura de massa que aos poucos desapareceu em favor de um denso comprometimento humano, pleno e soberano. E foi esse comprometimento humano que a encaminhou para uma exuberante (e exaltada) sensualidade erótica ainda muito pouco estudada pela crítica. Um mundo anônimo (de corpos geralmente sem rosto) criado aos pedaços e que mais se revelou, a caminho da abstração, no sinuoso de frestas, pregas e fossos, angulosidades, sugestão de volumes que acabou por fim desembocando na tridimensionalidade. Em 1977, em entrevista a Antonio Hohlfeldt, Pietrina admitiu que existe em sua pintura um sentido escultórico de massas e volumes, aquela “inevitável dimensão escultórica” que Roberto Pontual capturou em 1978. No entanto, aqui e agora, o artista alcança o grau zero de suas pesquisas, uma lição das cores de serenidade quase cruel. O tênue rosa, o cinza fugidio e certos azuis profundos da série das rosas “escandalosamente” eróticas já anunciavam delicadas superposições de galáxias, buracos negros, confins do universo que pulsam dentro de cada um de nós, no que somos em nossos corpos e em nossa luz. Sim, como disse certa vez outro poeta, Lêdo Ivo, “somos corpos, somos os nossos corpos”, seja nos longes da paisagem que se faz corpo ou no corpo que a sugere, à flor da pele. Uma paisagem inaugural porque são inaugurais todas estas descobertas imediatamente transpostas ou traduzidas numa arte que se manifesta coesa, inteiriça como um continuum vital, uma túnica inconsútil.

 

Até 18 de outubro.

Dois livros de arte

23/ago

Marta Martins: Narrativas ficcionais de Tunga

 

O lançamento do livro da Marta Martins, lançamento da Editora Apicuri, será lançado com palestra da autora no Salão Nobre do Parque Lage, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, às 18 horas do dia 06 de setembro.

 

O livro “Narrativas ficcionais de Tunga” é adaptação da tese de Marta Martins, professora de desenho, artista, teórica e crítica, e, mais recentemente, fotógrafa. Marta se debruça sobre as obras de Tunga, artista que “mantém um alto nível de qualidade formal em seus trabalhos, não importando a natureza dos materiais utilizados, e (que) conquistou amplo espaço de atuação, tornando-se um dos nomes mais reconhecidos da arte brasileira no exterior”. A proposta da autora “ao incursionar por suas obras de distintos modos” é mostrar que o trabalho do artista, por meio de diversas experimentações estéticas, gera toda sorte de enigmas, introduzindo-se também noutras instâncias teóricas, como a psicanálise e as ciências sociais. Suas esculturas, instalações, vídeos, textos, desenhos, fotografias e até as pessoas utilizadas como mais um material de trabalho em suas instaurações, permitem configurações abertas em cada montagem. O espaço de tensão formal relacionado com questões próprias das artes visuais abriga ao mesmo tempo, em sua obra, uma série de desvios e licenças de cunho alegórico e ficcional, além de um explícito hibridismo nas suas formas e conceitos. Assim, materiais como seda, lâmpadas, cobras, metais, ossos e agulhas, somados a corpos humanos, textos e filmes, formam o vertiginoso e mutante universo narrativo do artista. Nada parece ser definitivo, nem mesmo neutro ou vazio, pois a peculiar rasura com a qual a natureza da linguagem se constitui é dobrada e disposta em camadas ao longo de seu inesgotável processo. Precisão teórica, abordagem aguçada e, principalmente, admiração pela produção de Tunga se combinam e nos proporcionam, por meio de um texto inteligente, uma reflexão perspicaz e apaixonada a respeito das “narrativas ficcionais” do artista plástico.

 
Sobre a autora

 

Marta Martins é ensaísta e fotógrafa. Nasceu em Santana do Livramento, RS, em 1962, vive e trabalha desde 1983 em Florianópolis, SC. Possui graduação em Licenciatura Plena em Educação Artística pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1988), mestrado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1995) e doutorado em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Atualmente é professora–titular da Universidade do Estado de Santa Catarina. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Artes Plásticas, atuando principalmente nos seguintes temas: Desenho, Teoria da Modernidade, Literatura, Arte Contemporânea, Teoria da Imagem, História e Crítica da Arte, e Fotografia.

 

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Lygia Pape e Hélio Oiticica por Fernanda Pequeno

 

A curadora e crítica de arte Fernanda Pequeno lança no dia 07 de setembro, no Armazén 1, Pier Mauá, Praça Mauá, Rio de Janeiro, RJ, livro com o selo da Editora Apicuri sobr a obra dos artistas Lygia Pape e Hélio Oiticica.

 

Fernanda Pequeno parte de conversações e fricções entre as poéticas dos artistas Hélio Oiticica e de Lygia Pape para frisar semelhanças, acentuar diferenças e apontar aproximações e divergências entre as duas linguagens. Uma das questões que permearam toda a análise foi a existência de conflitos políticos e sociais — por conta do momento político dos anos 1960-70 no país — que inter­feriram e nortearam a produção de ambos os artistas, que introjetaram certa contradição ou ambiguidade. Pape e Oiticica optaram por um viés de produção altamente experimental, e seu caráter político e trans­gressor configurou-se pela negação do que estava instituído e por uma confiança no engajamento da jovialidade brasileira abrindo possibilidades de escrita de uma ou mais histórias, mesmo que fosse necessário herdar e deglutir influências estrangeiras.

 

A própria autora atribui a sua escolha por Lygia Pape e Hélio Oiticica quase que como uma intuição, espécie de “afinidades eletivas”. Apesar de Hélio e Pape já terem sido muito revistos pela história da arte moderna, não deixa de ser legítimo buscar possibilidades de novas leituras, principalmente na obra do Hélio. E foi isto que Fernanda conseguiu, ao rever a produção dos dois artistas.

 

Sobre a autora

 

Fernanda Pequeno é curadora, crítica de arte e professora de Artes Visuais e História da Arte do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp/Universidade do Estado do Rio de Janeiro — Uerj). Doutoranda em Artes Visuais, na linha de pesquisa História e Crítica da Arte, pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde foi bolsista Capes/UFRJ. Realizou estágio de doutorado (bolsa-sanduíche Faperj) no Research Centre for Transnational Art, Identity and Nation (TrAIN — Chelsea College of Art & Design, Londres). É mestre em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Uerj. Vem realizando curadorias e publicando textos em revistas acadêmicas, magazines, folders e catálogos de exposições desde 2002.

 

 

Lenora de Barros na Laura Alvim

Umas e Outras”, da artista paulistana Lenora de Barros, é a exposição que a Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, sob curadoria de Glória Ferreira.

 

Nela a artista apresenta 65 colunas de jornal realizadas na década de 1990, além de dois vídeos inéditos em preto e branco, intitulados “Jogo de Damas” e “Em si as mesmas”, e uma intervenção sonora, “Duplicar Imagens”. Entre 1993 e 1996, a artista assinou uma coluna experimental, publicada aos sábados, no “Jornal da Tarde”, de São Paulo, sob o título de “… umas”. Nesse espaço nasceram obras e ideias que se transformariam em vídeos e fotoperformances autônomos nos anos seguintes. Depois de mostrar 13 dessas colunas em uma vitrine, na Bienal de Lyon, França, em 2011, Lenora decidiu agora emoldurar e expor um conjunto maior, extraído de seu arquivo pessoal.

 

Nas colunas, que eram uma espécie de blog “avant la lettre”, Lenora, entre outros experimentos, dialogou com trabalhos de diversos artistas. Posteriormente ela fez um recorte dessas “conversas” envolvendo temas femininos ou obras de artistas como Lygia Clark, Yoko Ono, Cindy Sherman, Annette Messager e Méret Oppenheim. Essa seleção deu origem a um livro, intitulado “Jogo de Damas – Crítica de Arte – Livro Primeiro”, ainda inédito, cujo protótipo estará exposto na Laura Alvim, em versão bilíngue, inglês e português.

 

O livro foi o ponto de partida para os dois vídeos inéditos, com direção de David Pacheco, que estão na exposição.
“Umas e Outras” é uma oportunidade de acompanhar o processo criativo da artista, ao longo de três anos, num espaço que funcionava como uma espécie de laboratório ou ateliê em pleno jornal. Segundo a curadora Glória Ferreira, esta individual “cria uma situação em que a artista se desdobra em lenoras, jogando em múltiplas posições, transitando em várias ‘elas’.”

 

As obras

 

No vídeo intitulado “Jogo de Damas” o livro de mesmo título serve de roteiro de leitura para performances vocais realizadas por Lenora e foi concebido em formato de tríptico para projeção simultânea em três paredes.

 

O vídeo “Em si as Mesmas”, situado à entrada da mostra, tem seu título pinçado de uma coluna onde a artista comenta uma fotografia de 1925, de autor desconhecido, das siamesas, as irmãs Hilton. Foi concebido para dupla projeção, em duas paredes opostas. Nele Lenora joga damas consigo própria. Em uma tela, ela move as pedras brancas e na outra, as pretas, em uma espécie de “jogo infinito, sem ganhador nem perdedor”, diz Lenora.

 

“Jogo de Damas” e “Em si as Mesmas” serão exibidos com o som aberto e também dialogam entre si no espaço expositivo. Eles têm um tratamento específico que faz ressaltar o som das peças no tabuleiro, os ruídos da movimentação corporal da artista, gerando atmosferas sonoras envolventes.

 

Voltada para a rua, em frente à Galeria Laura Alvim, está a intervenção sonora “Duplicar Imagens”, em que se ouve a artista oralizar, com voz infantil, a frase “Duplicar imagens é multiplicar ou dividir ideias?”, que se repete em looping, assim como os vídeos mencionados acima. O texto dessa performance vocal também nasce em “…umas”, em uma coluna de 1994, a partir de um autorretrato de Magritte. A performance vocal, gravada em 2011, tem tratamento sonoro de Cid Campos.

 

 

Sobre a artista

 

Lenora de Barros nasceu em São Paulo, em 1953. Formada em linguística pela FFLCH/USP, seus trabalhos se apropriam do vídeo, da performance, da fotografia e da instalação. Sua produção transita entre a palavra e a imagem, e explora os aspectos visuais, verbais e sonoros da linguagem. A fotografia e o vídeo são comumente utilizados como forma de documentar performances encenadas diante da câmera. Lenora de Barros tem obras em coleções públicas e particulares no Brasil e no exterior: Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Daros-Latinamerica (Zurique e Rio de Janeiro) e Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). Participou como artista-curadora da “Radiovisual”, na 7ª Bienal do Mercosul – Grito e Escuta (2009).  Entre as recentes mostras e atividades, destacam-se a 17ª Bienal de Cerveira, em Portugal, “Para (Saber) Escutar”, na Casa Daros Latinoamerica (Rio de Janeiro, 2013); III Mostra do Programa de Exposições 2012 (Centro Cultural São Paulo, 2013); “Circuitos Cruzados: o Centro Pompidou encontra o MAM” (Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2012); “Sonoplastia” (Galeria Millan, SP, 2011; 11ª Bienal de Lyon – “Nasce uma terrível beleza” (2011) – onde participou com a  instalação audiovisual  “O encontro entre Eco e Narciso”, e “Revídeo” (Oi Futuro, RJ, 2010).

 

Até 27 de outubro.

 

Sérvulo Esmeraldo no Rio

20/ago

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Sérvulo Esmeraldo – Pinturas, desenhos, gravuras, objetos, esculturas e excitáveis”, que reúne 70 obras, tanto históricas como inéditas e recentes, do artista cinético nascido no Crato, Ceará, em 1929, e que solidificou sua trajetória em Paris, onde residiu de 1957 a 1980. O artista participou recentemente da monumental exposição “Dynamo – A century of light and motion in art, 1913-2013” realizada de abril a julho último no Grand Palais, em Paris e ao lado de 150 artistas como, dentre outros, Le Parc, Morellet, Soto, Dan Flavin, Duchamp, Hans Richter, Calder, Rodtchenko e Anish Kapoor. A mostra na Pinakotheke ganha maior relevância pelo fato de nunca ter sido realizada na cidade uma grande antologia da obra do artista, e também por ter passado mais de 20 anos de suas individuais na cidade. A mostra também apresentará maquetes de esculturas inéditas do artista, além de vídeos, fotos, livros e documentos. A exposição, que tem curadoria de Max Perlingeiro, vem sendo planejada há mais de uma década. Sérvulo Esmeraldo tem sido homenageado em importantes museus no Brasil e no exterior.

 

 

Produção inédita

 

Aos 84 anos, Sérvulo Esmeraldo continua ativo. “Seguindo a velha tradição dos grandes escultores, produziu ao longo do tempo centenas de maquetes de esculturas que, um dia, seriam executadas. A partir de 1976 suas esculturas monumentais saem do ateliê para o espaço urbano. De volta ao Brasil, fixa residência em Fortaleza em 1980 e lá permanece, até hoje, produzindo, com o mesmo vigor da juventude, suas novas esculturas e objetos, obstinado pela “invenção” e pelo desenho”, conta o curador Max Perlingeiro.

 

 

Texto do curador

 

A trajetória do artista Sérvulo Esmeraldo seguiu um padrão adotado pela maioria dos grandes artistas que têm a sua origem fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Do Ceará, a partir da primeira metade do século XX, vieram: o pintor e professor Raimundo Cela (1890-1954), prêmio de viagem à Europa no Salão Nacional de Belas Artes em 1917 e introdutor do ensino da gravura em metal no Brasil; o paisagista Vicente Leite (1900-1941) – o melhor amigo de Candido Portinari na Escola Nacional de Belas Artes -, também prêmio de viagem à Europa em 1940, porém não usufruído devido à guerra; e Antonio Bandeira (1922-1967), que vem para o Rio de Janeiro e, logo em seguida, em 1946, vai residir em Paris, como bolsista do governo francês, lá permanecendo até a sua morte, em 1967. Naquela época Paris era o centro das atenções dos artistas e intelectuais. Nas décadas de 1950 e 1960, a arte brasileira passa por grandes transformações. Nesse período, os artistas saem do Brasil em busca de formação e vivência em um novo ambiente. A maioria tem como seu destino final a capital francesa, e alguns, Nova York. Por questões políticas ou artísticas, estavam em Paris, nesse período: Lygia Clark (1920-1988), Sergio Camargo (1930-1990), Flavio-Shiró (1928), Rossini Perez (1932), Arthur Luiz Piza (1928) e Sérvulo Esmeraldo (1929), entre outros. Sérvulo, após uma breve experiência no meio artístico em São Paulo (1951-1956), viaja para Paris em 1957, como bolsista do governo francês, e lá reside até 1980, sempre participando ativamente da vida artística no Brasil. Exímio gravador, participa de inúmeras exposições individuais e coletivas, em instituições públicas e privadas. Participa também da V Bienal Internacional de São Paulo com grande destaque. Em 1976 é editado por Guy Schraenen o manual Método prático e ilustrado para construir um excitável, volume 8 da Série ColleXion, hoje objeto de desejo dos grandes colecionadores. Em 2010 é convidado para uma grande exposição, Les Excitables, apresentada na Maison Européenne de La Photographie com texto de Matthieu Poirier. Seguindo a velha tradição dos grandes escultores, produziu ao longo do tempo centenas de maquetes de esculturas que, um dia, seriam executadas. A partir de 1976 suas esculturas monumentais saem do ateliê para o espaço urbano. Em 1980 fixa residência em Fortaleza e lá permanece, até hoje, produzindo, com o mesmo vigor da juventude, suas novas esculturas e objetos, obstinado pela “invenção” e pelo desenho.

 

Esta exposição, planejada por mais de uma década para ser apresentada no Rio de Janeiro, tem caráter retrospectivo, mas não pretende esgotar o assunto. Complementam a exposição maquetes de esculturas inéditas, livros de artista, os originais para a publicação Suíte Catalana/Courbes, variações sobre uma curva, com texto-poema de Jean-Clarence Lambert, além de imagens e documentos sobre a sua vida artística. Vídeos e fotografias, executadas entre os anos 1960 a 2011, cabendo destacar a série de fotos, algumas inéditas, feitas em Paris por Alécio de Andrade (1938-2003), e o vídeo Excitable, de autoria de André Parente e Katia Maciel.

 

 

Sobre o artista

 

Sérvulo Esmeraldo já recebeu homenagens em espaços como a prestigiosa Maison Européenne de la Photographie, em Paris, em 2010, e na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2011. Possui obras em importantes coleções privadas e públicas do Brasil e do exterior, como Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal; Fundación Cisneros, Caracas, Venezuela; Maison Européenne de la Photographie, Paris, França; MAC-USP, São Paulo; Museu de Arte Contemporânea, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Fortaleza, CE; MAM-RIO; MASP, SP; MAM, Bahia; Museu Oscar Niemeyer, MON, Curitiba; Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outras. O artista também possui diversas obras públicas, principalmente no Ceará.

 

 

De 04 de setembro a 13 de novembro.

 

Peças inéditas de Galvão

15/ago

A Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Sopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre sua sétima exposição em 2013 na qual exibirá 20 trabalhos inéditos de Galvão, executados em madeira de cedro e MDF, pintados em tinta acrílica ou na cor natural. Nesta mostra as obras chegam com mais cores, com mais aprofundamento.
Nesta exposição encontramos variações cromáticas da madeira. Como pinturas, essas obras possuem volume e textura, o que rapidamente faz com que se desloquem do plano para o espaço, ganhando uma condição objetual, pois problematizam a estrutura formal da pintura, quebram a moldura, e dialogam com a tridimensionalidade. São situações que fazem sua obra dialogar com Sergio Camargo, de quem foi assistente, ao mesmo tempo em que criam seu próprio caminho e história.

 

Com o eterno objetivo de melhorar, aperfeiçoar e transcender seu trabalho, Galvão mantém uma coerência em sua trajetória de mais de 40 anos, produzindo relevos em madeira, ora natural, ora pintada. Essas interferências na madeira causam luz, sombras, formatos e sensações no público. Ele sempre procura criar a estrutura e estruturar um tema em seu bucólico ateliê, em Nova Friburgo. O artista é um purista que introduz a poética da cor em uma linguagem ordenada, onde a razão-emoção permanece imbatível.

 

Nesta exposição encontramos variações cromáticas da madeira. Como pinturas, essas obras possuem volume e textura, o que rapidamente faz com que se desloquem do plano para o espaço, ganhando uma condição objetual, pois problematizam a estrutura formal da pintura, quebram a moldura, e dialogam com a tridimensionalidade. São situações que fazem sua obra dialogar com Sergio Camargo, de quem foi assistente, ao mesmo tempo em que criam seu próprio caminho e história.

 

Para Felipe Scovino, o desequilíbrio e a progressão dos seus blocos revelam um caráter de instabilidade e impermanência que faz com que sua obra adquira uma espécie de elasticidade orgânica. “São obras maleáveis para o olhar do espectador. Maleável para a sua fruição, o seu jugo e o seu prazer. O esforço para completar a ordem mobiliza o sujeito perante o desafio de uma obra íntegra, porém esquiva. Sua obra instala o transitivo ou o visível em constante alteração, pois seu compromisso é com a natureza infinita das coisas”, finaliza Felipe.

 

Sobre o artista

 

Galvão nasceu no Rio de Janeiro, 1941, começou seus primeiros estudos em pintura em 1951. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil, morou em Paris onde cursou na Sorbonne sociologia da arte com Jean Cassou e frequentou os ateliês de Sergio de Camargo, Vistor Vasarely e Yvaral. Entre suas exposições individuais estão a da Galeria Art to Desing, na Itália (2008), na Dan Galeria, em São Paulo (2008), Galerie Brasilia, Paris, 2007, Galeria Murilo Castro, BH, 2007, Galeria Syrus, Paris, 2004/05, e no MUbe, São Paulo, SP, 2004. O artista também participou de três Bienais em São Paulo, 1967, 1973, 1975. Desde 2004 participa anualmente do Realité  Nouvele, principal salão de arte de Paris.  Esta é a sétima vez que expõe na Galeria Marcia Barrozo do Amaral. Depois de alguns anos atuando como assistente do conceituado e inspirador Sergio Camargo, Galvão trilhou seu próprio caminho que fez com que suas obras estejam hoje nas principais coleções públicas e privadas no Brasil e exterior como no Centre Cultural I´Arsenal, França; Museu Satoru Sato, Japão; MOBIL MADI, Hungria; MAM-Rio; Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu de Arte Moderna de São Paulo. Museu de Arte da Pampulha, BH; Museu do Artista Brasileiro, Brasília; MuBE, SP e Museu MADI, Ceará.

 

De 20 de agosto a 20 de setembro.

Arte Cinética

13/ago

Através da criteriosa seleção dos artistas representados e suas obras, e contando com grandes nomes da arte brasileira além da aposta em jovens artistas com trajetória emergente, Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro RJ, investe na divulgação e propagação da cultura brasileira. Dando curso à programação 2013, agora o artista escalado é Abraham Palatnik, pioneiro da arte cinética no Brasil. Abraham Palatnik apresenta nesta exposição individual 31 trabalhos — dos quais quatro são “Objetos cinéticos” e apenas um “Aparelho cinecromático”.

 

 

O artista por Felipe Scovino

 

Pintura em movimento

 

Em recente entrevista ao autor, Palatnik afirmou que era essencialmente um pintor. Coloca-se, portanto, uma das questões mais pertinentes em sua obra: propor ao espectador que ele está diante de uma pintura sem anular a ideia da escultura, principalmente nos casos dos Aparelhos cinecromáticos (produzidos a partir de 1951) e dos Objetos cinéticos (produzidos a partir de 1964). Sua obra gravita em um limite, em uma linha tênue entre esses dois suportes.

 

Limites, passagens e invenções são circunstâncias muito próprias e constantes na obra do artista. Quando volta ao Brasil, em 1948, depois de morar na Palestina por 15 anos, um dos seus tios cede um cômodo em um apartamento em Botafogo, que se transforma no seu ateliê. Provavelmente por conta dos estudos envolvendo mecânica e física, assim como as aulas de arte (todos desenvolvidos na Palestina) e da qualidade típica de inventor, Palatnik começa a produzir uma das obras mais importantes da arte cinética: o Aparelho cinecromático. A primeira obra dessa série é fruto de uma tecnologia que variava entre a intuição e os anos de aprendizado de física, feita com materiais baratos e efêmeros, com lâmpadas articuladas por motores e comandadas por uma espécie de CPU – que executava os tempos e as sequências de cada foco luminoso da obra – construídas pelo próprio artista. Essa obra expõe claramente os caminhos que ele adotaria: mesmo partindo de uma forma tridimensional, nunca deixou de pensar como um pintor. O movimento, a dinâmica e o deslocamento tanto do objeto quanto do espectador são características centrais de sua obra, que, mais do que nos entreter, nos “hipnotiza” com os desenhos construídos no espaço e, com o ritmo – quase como uma dança –, em particular nos Objetos cinéticos, embalado pelo ruído da passagem de tempo emitido pelos seus mecanismos internos. O modo como elabora arte, tecnologia e cinetismo é muito particular, pois se faz presente pela organicidade dos materiais e pela delicadeza, muito vezes beirando o improvável, como é o caso dos relevos em jacarandá, nos quais os veios da madeira, dispostos em filetes e colocados lado a lado, produzem um efeito de expansão e movimento que faz com que uma onda vibratória siga para além do espaço restrito da tela ou da madeira. Por fim, sua vontade construtiva se manifesta no desejo bauhasiano de articular arte, sociedade e indústria, que pode ser observado nas poltronas, mesas, móveis, jogos e pequenos animais feitos em acrílico e tinta entre as décadas de 1950 e 1990. É interessante perceber que mesmo produzindo os móveis, o artista não deixou de exercer a pintura, já que feita em vidro adornava esses móveis e foi um passo importante para a série seguinte do artista, quando nos anos 1960 começou a utilizar o jacarandá e o cartão como meios de produção pictóricos. Esse caráter inventivo e experimental também está presente na série de pinturas com barbante e tinta acrílica realizada a partir de meados dos anos 1980. A pintura ganha um leve volume que auxilia na formação de um efeito ótico que equilibra a “tecnologia precária” do barbante com uma pesquisa rigorosa e sensível sobre o cinetismo e as possibilidades de expansão da forma e da cor através de um duplo movimento (das linhas e do espectador). Em vários momentos, percebemos um equilíbrio perfeito entre cores que são altamente dissonantes. Em uma das obras da série Permutáveis, estão integradas e associadas um núcleo em rosa, outro em verde, e diferentes módulos permeados por tons de cinza. A harmonia e a construção do ritmo se dão na forma como são suavizadas essas gritantes dissonâncias cromáticas.

 

O segundo momento de um paradigma em sua carreira, que, sem dúvida alguma, tem uma relação intrínseca com o Cinecromático, no sentido de iniciar sua pesquisa com o cinetismo, é o convite que recebe, ainda como pintor figurativo, de Almir Mavignier para visitar o Hospital Psiquiátrico Pedro II sob a coordenação de drª Nise da Silveira. Trava contato com a produção dos pacientes e fica impressionado com a qualidade das pinturas, especialmente com as obras de Raphael Domingues e Emygdio de Barros, que produziam imagens tão densas sem jamais terem passado por uma escola de artes: “Pensava que eu era um artista formado. Resolvi começar de novo. A disciplina escolar, de ateliê, não servia para mais nada”.[3] Foi o momento de abandonar a figuração, mas não a pintura.
Outra circunstância de passagem é quando Palatnik transita dos Objetos cinéticos – que se movem por circuitos próprios e independentes da ação do espectador – para uma participação virtual, na qual o corpo do sujeito é elemento fundamental para se perceber as distintas qualidades cromáticas, cinéticas e, por conseguinte, físicas que a obra promove. Diante de seus relevos e de suas pinturas, para conhecer todas as suas imagens ou possibilidades ilusórias – as variações de enquadramento e foco –, o espectador precisa experimentar um mínimo de movimento. A obra parece expandir-se e contrair-se, pois são criadas imagens virtuais que redimensionam o espaço a nossa volta. Guardadas as suas devidas especificidades, os Aparelhos cinecromáticos são gerados em um momento no qual a pintura amplia o seu limite e conceito. Se a pintura atravessava novos procedimentos para a sua apreensão e comunicação ao estabelecer diálogos intensos com a performance nos anos 1950 e 60, como foram os casos do dripping de Pollock e as antropometrias (1960) de Yves Klein, a ampliação do termo “pintura” em Palatnik se deu a partir de uma matriz construtiva e tecnológica, mas nem por isso menos intensa e importante que a vivenciada por esses artistas. Por outro lado, não podemos esquecer a relação formal dos Cinecromáticos e dos Objetos cinéticos com o campo escultórico, e como os Cinéticos parecem ser a estrutura interna, o “esqueleto”, dos Cinecromáticos. Ao fazer essa alusão, penso que Palatnik se distingue da tradição da op art e do cinetismo europeu, pela forma como constrói as suas obras: sempre pelo prisma da artesania. Sua “tecnologia” é composta de barbantes, lâmpadas, parafusos, e em alguns casos objetos mecânicos construídos por ele mesmo. Essa artesania própria o faz estar próximo da série Contínuo-Luz (c. 1963-66) de Julio Le Parc e do Penetrável (1967) de Soto, e não apenas pelo uso de materiais menos nobres associados à pesquisa cinética mas também pela economia de formas com que essa poética é regida.
Esta exposição apresenta também obras do artista pouco vistas pelo público. Desde um Relevo dourado passando por telas produzidas nos anos 1990 nas quais são aplicadas em sentido vertical finas camadas de cola sobre o plano, formando módulos de cor que transmitem um volume à pintura, um efeito semelhante ao que ocorre com a série Cordas. Em relação a esta série, há uma obra em especial que difere do conjunto mais conhecido ao ter a sua estrutura mais próxima de uma natureza com influência “africana”. Em um conjunto de três pinturas dos anos 1960, percebemos a mesma influência, e com um acento ainda mais totêmico em sua estrutura. É curioso perceber como a pesquisa com o cinetismo e o seu interesse pessoal por arte popular produziram uma série que diversifica os meios da pintura de matriz construtivista.
É importante ressaltar que a obra do artista obteve um lugar importante na passagem da modernidade para a contemporaneidade no país, no âmbito de suas pesquisas envolvendo pintura, tecnologia, escultura e design. Embora estivesse no seio da discussão sobre a chegada e, anos mais tarde, a maturidade da abstração geométrica (inclusive participando do Grupo Frente), Palatnik sempre quis se manter à margem de qualquer manifesto ou participação mais “política”. Ele, Almir Mavignier, Mary Vieira, Rubem Ludolf, entre outros, foram artistas que trilharam um caminho importante para a arte brasileira, em particular suas aproximações com a op art, o cinetismo e o design, mas que ainda merecem um estudo mais qualificado sobre as contribuições que ainda continuam realizando, no caso dos dois primeiros. Na virada dos anos 40 para os anos 50, em um rápido panorama, Mário Pedrosa defende a sua tese “Da natureza afetiva da forma na obra de arte”; Mary Vieira está realizando os seus Polivolumes e Palatnik, construindo o seu primeiro Aparelho cinecromático, sendo que a Bienal de São Paulo ainda nem existia. É fundamental destacar o pioneirismo desses artistas e, ao mesmo tempo, as bases para a modernidade nos anos 1950 (leia-se a maturidade da abstração geométrica, que foi e continua sendo um pensamento estético importante para a compreensão sobre as artes visuais brasileiras, e a institucionalização da arte por meio da inauguração dos museus de arte moderna e da própria Bienal), mas essencialmente o grau de invenção desses artistas que não foram apenas importantes para a produção nacional, mas ocuparam um lugar de destaque no cenário internacional, e juntamente com outros artistas sul-americanos, em particular os argentinos e venezuelanos, construíram uma produção de arte cinética tão qualitativa quanto qualquer produção europeia ou americana realizada no mesmo período.

 

 

 

Até 14 de setembro.

CRISTINA IGLESIAS NA CASA FRANÇA-BRASIL

08/ago

Realizada e patrocinada pela Secretaria de Estado de Cultura, Casa França-Brasil e Citroën, “Lugar de reflexão”, a primeira individual da artista no Rio de Janeiro, apresenta nove obras que integraram a grande retrospectiva “Metonímia”, que aconteceu entre fevereiro e maio deste ano no Museu Rainha Sofia, em Madri, Espanha. A magia enigmática da monumental obra de Cristina Iglesias irá dialogar com o ambiente neoclássico da Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

Labirintos, poesia, sombras, força e delicadeza se apropriarão da Casa, com trabalhos emblemáticos na carreira da artista.  “Santa Fé”, que receberá os visitantes no vão central, é uma delas. Formada por um conjunto de gelosias (biombos entalhados), cujo traçado reproduz textos literários e no qual se percebe alguma influência dos entalhes característicos da arquitetura mourisca, “Santa Fé” impressiona à primeira vista. “O gradeado da gelosia filtra a luz do ambiente e atua como uma espécie de persiana que media a relação entre o espaço interior e o exterior “, diz Giuliana Bruno, especialista em arte, num dos textos do catálogo da retrospectiva espanhola.

 

Água, madeira, alabastro, formas vegetais e minerais transformam-se nos elementos escultóricos que traduzem a poética criada por Cristina Iglesias. A famosa “Casa vegetal III” é um bom exemplo. Ficará estrategicamente no pátio da Casa França-Brasil e formará uma espécie de percurso com “Santa Fé”, atraindo o olhar, instigando e aprofundando a magia. Cristina Iglesias trabalha no limite entre o escultórico e o arquitetônico: os materiais e as estruturas que utiliza procuram transformar o espaço em um lugar. Existe uma concatenação de labirintos e artifícios em seu trabalho: a flora metálica dos baixos-relevos de sua “Casa vegetal” ou de seus “Poços” dá a impressão de ser constituída por raízes, ramos, líquens ou folhas, quando na realidade é feita de uma vegetação fictícia. “Nenhum dos motivos que utilizo existe dessa forma na natureza, confessa a artista. “São pura ficção, que construo mesclando elementos que de fato existem na natureza, porém em composições impossíveis”.

 

Em obras como “Vers la terre” e “Poço III”, que estarão situadas, respectivamente, no fundo do vão central e no espaço entre as salas 1 e 2, a água torna-se também um elemento escultórico. A fascinação de Cristina Iglesias pela água rememora também a tradição muçulmana e as construções mouriscas, com seus jardins e fontes. Pelo fenômeno da erosão, a água traz fluidez e transparência, além de servir para consolidar a visão da artista, para quem a escultura, mais do que uma forma única e absoluta, é uma arte de metamorfoses e transições. As obras “Muro” e “Sem título 1”ocuparão a Sala 1, enquanto a “Casa de alabastro” estará na Sala 2. O Cofre será ocupado também pela artista principal, com a obra “Sem título 2”.

 

Para Evangelina Seiler, diretora da Casa França-Brasil, a mostra de Cristina Iglesias é seguramente uma das mais importantes de sua gestão. “É uma grande conquista para a Casa França-Brasil trazer ao Rio de Janeiro esta importante mostra, com curadoria da reverenciada Lynne Cooke. O público poderá verificar a força do trabalho de Cristina Iglesias, que é hoje um dos grandes nomes da arte contemporânea internacional”, afirma ela.

 

Sobre a artista

 

Uma das artistas contemporâneas espanholas de maior projeção internacional do momento, Cristina Iglesias iniciou sua carreira na década de 1980, mas foi a partir de 1993, ao participar da Bienal de Veneza ao lado do pintor Antoni Tàpies, então um dos maiores artistas vivos de seu país, que começou a ser reconhecida internacionalmente. “Naquele momento, sua reputação se consolidou tanto na Espanha quanto no exterior”afirma a curadora Lynne Cooke, em seu texto no catálogo da mostra espanhola. Nascida em novembro de 1956 em San Sebastián, no País Basco, Cristina Iglesias estudou Química em sua cidade natal. Entre 1980 e 1982, cursou Escultura e Cerâmica na Chelsea School of Art, em Londres. Em 1995 foi nomeada professora de escultura na Akademie der Bildenden Künste, em Munique, na Alemanha. Em 1989 conquistou, na Espanha, o Prêmio Nacional de Artes Plásticas e, em 2011, foi detentora do Prêmio de Artes Plásticas da terceira edição dos Prêmios Observatório D’Achtall. Realizou exposições individuais em vários museus em todo o mundo: Stedelijk Van Abbemuseum Eindhoven, 1995; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iorque, 1997; Renaissance Society, Chicago; Palácio de Velázquez; Museu Nacional de Artes Rainha Sofia, Madri; Museu Guggenheim Bilbao, 1998; Carré D’Art Musée d’Art Contemporain, Nîmes, França, 2000; Museu Serralves, Porto, Portugal, 2002; Whitechapel Art Gallery, Londres e Museum of Modern Art Dublin, ambos em 2003; Ludwig Museum, Colônia, Alemanha 2006; Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2008; Fondazione Arnaldo Pomodoro, Milão, 2009; e Marian Goodman Gallery de Nova Iorque e de Paris, ambas em 2011.

 

 

Sobre a curadora

 

Lynne Cooke foi curadora-chefe e vice-diretora do Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, Madri, de 2008 a 2010. Por mais de uma década as exposições, ensaios e outros projetos de Lynne Cooke têm sido uma força vital no mundo da arte contemporânea. Desde 1991 é curadora da Dia Art Foundation, em Nova Iorque. Foi co-curadora da Bienal de Veneza em 1986, da Carnegie International em 1991 e diretora artística da Bienal de Sidney, Austrália, 1996. É professora do Centro de Estudos Curatoriais do Bard College, além de ter sido professora convidada dos departamentos de pós-graduação de arte das universidades de Yale, Columbia e outras. Conquistou em 2000 o prêmio Curador Independente, oferecido pela Fundação Internacional Agnes Gund. Entre os numerosos trabalhos que publicou estão ensaios recentes sobre as obras de Francis Alÿs, Rodney Graham, Zoe Leonard, Agnes Martin, Diana Thater, Blinky Palermo, Jorge Pardo e Richard Serra.

 

 

De 14 de agosto a 20 de outubro.

(Em 14 de agosto, às 18h30: mesa-redonda com Cristina Iglesias e a curadora Lynne Cooke).

NOVÍSSIMOS!!!

07/ago


A Galeria de Arte Ibeu, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Novíssimos 2013”, em sua 43ª edição, onde as inquietações comuns a artistas de diversas gerações e localidades estão reunidas em um mesmo espaço expositivo. O objetivo de ” NOVÍSSIMOS” é reconhecer e estimular a produção desses novos artistas, e com isso apresentar um recorte do que vem sendo produzido no campo da arte contemporânea brasileira.

 

Para a crítica de arte Fernanda Lopes, que assina o texto desta exposição: “Deslocar. Tirar alguém ou alguma coisa (seja um objeto ou ideia) do lugar competente, de seu papel ou função esperados. Esse parece ser o mote dos trabalhos dos 16 artistas selecionados para a 43a edição do Salão de Artes Visuais Novíssimos da Galeria IBEU. Em um contexto geral onde as dúvidas parecem não ter mais espaço, a produção selecionada para esta exposição parece ter como um ponto em comum a tentativa de indicar folgas, revelar falhas, abrir brechas em uma zona de conforto, restituindo ao público, à instituição e ao artista o incômodo e difícil benefício da dúvida.”

 

Em 51 anos de existência, participaram deste Salão artistas como Anna Bella Geiger, Ivens Machado, Ascânio MMM, Ana Holck, Mariana Manhães, Bruno Miguel, Pedro Varela, Gisele Camargo, entre outros. Até 2012, 566 artistas já haviam participado desta coletiva anual.
A edição “Novíssimos 2013” conta com a participação de 16 artistas que apresentam trabalhos em desenho, pintura, instalação, objeto, vídeo e fotografia. Os artistas selecionados são: André Terayama (São Paulo), Carolina Martinez (Rio de Janeiro), Daniel Frota (Rio de Janeiro), Eduarda Estrella (Rio de Janeiro), Fernanda Furtado (Rio de Janeiro), Frederico Filippi (São Paulo), Íris Helena (Paraíba), Luisa Marques (Rio de Janeiro), Luiza Crosman (Rio de Janeiro), Maíra Dietrich (São Paulo), Marcela Antunes (Rio de Janeiro), Marcelle Manacés (Rio de Janeiro), Mario Grisolli (Rio de Janeiro), Mayra Martins Redin (Rio de Janeiro), René Gaertner (Rio de Janeiro) e Rodrigo Moreira (Rio de Janeiro). O artista em destaque no Salão de Artes Visuais Novíssimos 2013 será contemplado com uma exposição individual na Galeria de Arte Ibeu em 2014.

 

 

Até 30 de agosto.

Princípios simbólicos na Laura Marsiaj

06/ago

 

Em sua primeira individual na galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, Monica Piloni  mostra um par de esculturas, denominadas “Ímpar”. O trabalho de Monica Piloni está apoiado em princípios simbólicos que fazem referência a uma espécie de tríade entre o positivo, o negativo e o neutro, a doutrina das três forças que são a raiz de todos os sistemas e faz parte de um código suscetível de várias interpretações. No caso das esculturas, uma hiper-realista e a outra em bronze polido, estão suspensas por um trio de muletas criando uma tensão porém, em equilíbrio pleno na sua levitação. Suas formas foram extraídas da figura humana e reagrupadas numa colagem que triplica os pares e opostos como os seios e a perna esquerda, da mesma maneira que triplica os únicos pontos centrais como o umbigo e a vagina. Sua construção partiu do tetraktys, o símbolo primário da filosofia pitagórica, no qual um triângulo equilátero com um ponto central e quatro pontos em cada lado, representava o universo e a soma de todas as dimensões geométricas possíveis.

 

 

No Anexo

 

Na sala anexa serão exibidos dois vídeos de Monica Piloni, um deles com o título de “16B”  e outro também com o título de “Ímpar” que criará a atmosfera para esta série em que a artista está absorvida desde 2008. No vídeo “Ímpar”, o recurso de espelhamento tão ordinário e demasiadamente explorado foi conveniente para representar no plano o que já era construído tridimensionalmente.  Os momentos obscuros são iluminados por supostos ritos e intercalados com penetrações em planos fechados. Em “16B”, o número do apartamento onde foi seu antigo atelier, a própria artista interage com os seus objetos inanimados.

 

 

Até 29 de agosto.