Um dos textos mais brilhantes de Machado de Assis, “Pai contra mãe”, de 1906, faz um duro retrato da sociedade brasileira de sua época, expondo com crueza a escravização, a miséria e a violência vivida por negros e pobres no Brasil. O conto desenha a história de sujeitos que vivem na engrenagem da opressão de um sistema capitalista escravocrata, com as violências racial e de gênero que persistem em pleno século XXI.
Esta edição ilustrada por uma série de pinturas inéditas da artista carioca Márcia Falcão, criadas especialmente para o livro, conta com um ensaio crítico inédito do professor e pesquisador José Fernando Peixoto de Azevedo e outro da jornalista e escritora Bianca Santana, além de texto assinado pelo jornalista Tiago Rogero, criador do projeto Querino, para quem “Machado escancara não só as muitas formas de tortura naturalizadas pela “boa gente brasileira”, mas especialmente o fato de que, naqueles tempos – e até hoje – a pessoa africana ou afrodescendente era – e é – uma cidadã de segunda classe no Brasil. Uma vida que vale menos e que, muitas vezes, não tem nem o direito de nascer.”
Sobre o autor
Machado de Assis, jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e faleceu na mesma cidade em 29 de setembro de 1908. Publicou seu primeiro livro de poemas, “Crisálidas”, em 1864 e seu primeiro romance, “Ressurreição”, em 1872. Mantinha forte colaboração com jornais e revistas da época, como O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira, nos quais publicava crônicas, contos, romances e poemas, que vinham a público em forma de folhetim antes de serem publicados em livros. Assim, saíram as primeiras versões de “A mão e a luva” (1874), “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1880), “Quincas Borba” (1886-1891), entre outros. Em 1881, publicou em livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”, inaugurando assim sua fase realista, a qual inclui suas obras mais conhecidas: “Quincas Borba”, “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”. Em 1897, foi eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, cargo que ocupou por mais de dez anos. A instituição que ajudara a fundar no ano anterior ficou conhecida como Casa de Machado de Assis. Em 1906, publicou o livro de contos e peças teatrais “Relíquias da casa velha”, no qual se encontra “Pai contra mãe”. Em 2020, a Cobogó publicou uma edição especial de seu livro “O alienista”, ilustrada por obras da artista Rivane Neuenschwander.
Sobre a artista
Márcia Falcão nasceu no Rio de Janeiro em 1985, foi criada no bairro de Irajá e vive e trabalha no subúrbio carioca. Partindo da própria experiência, as pinturas figurativas da artista apresentam expressivas representações do corpo feminino, sublinhando a complexidade do contexto social em que este se encontra inserido, atravessado por uma paisagem dubiamente bela e violenta. O feminino, a maternidade, os padrões de beleza e a violência de gênero são temas recorrentes que perpassam suas telas, marcadas pelo gesto e pela fisicalidade. Em 2022, a artista apresentou sua primeira exposição individual em São Paulo, na Fortes D’Aloia & Gabriel, um desdobramento da mostra ocorrida na Carpintaria, no Rio de Janeiro, em 2021. Entre suas principais exposições coletivas destacam-se: “Parábola do Progresso” (2022), Sesc Pompeia, São Paulo; “MAR + Enciclopédia Negra” (2022), Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro; “Crônicas Cariocas” (2021), Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro; “Engraved into the Body” (2021), Tanya Bonakdar Gallery, Nova York, entre outras. A série de pinturas que ilustrou este livro foi executada especialmente para esta edição de “Pai contra mãe”.
Sobre Bianca Santana
Bianca Santana é doutora em Ciência da Informação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), escritora e jornalista. É autora dos livros “Quando me descobri negra” (2015), “Continuo preta: A vida de Sueli Carneiro” (2021) e “Arruda e guiné: Resistência negra no Brasil contemporâneo” (2022).
Sobre José Fernando Peixoto de Azevedo
Dramaturgo, roteirista, diretor de teatro e cinema, curador e professor da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD/ECA-USP). É coordenador da “Coleção Encruzilhada da Cobogó”, que publica autores que refletem o presente lançando luz sobre o antirracismo, os feminismos e o pensamento em perspectiva crítica negra.
Sobre Tiago Rogero
Nascido em 1988 em Belo Horizonte, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Jornalista, é um dos diretores da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e trabalhou em jornais como O Globo, O Estado de S.Paulo e a rádio Band News FM. É idealizador do “Projeto Querino” – podcast que mostra como a História explica o Brasil de hoje – e de “Vidas negras e Negra voz”. Atualmente atua como gerente de criação na Rádio Novelo. Pelo 5º episódio de “Negra voz”, recebeu o 42º Prêmio Vladimir Herzog na categoria Produção Jornalística em Áudio.
Ficha Técnica
Autor Machado de Assis
Textos complementares Bianca Santana e José Fernando Peixoto de Azevedo
Texto de orelha Tiago Rogero
Ilustração Márcia Falcão
Idioma Português
Número de páginas 72
ISBN 978-65-5691-088-8
Capa Bloco Gráfico
Encadernação Brochura
Formato 13,8 x 19 cm
Ano de publicação 2022