O processo criativo de Alice Quaresma

04/out

 

A primeira exposição individual de Alice Quaresma – “Origens” – acontece na Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. A mostra é o resultado de um arquivo fotográfico de mais de 18 anos da cidade natal da artista, o Rio de Janeiro.

Origens é uma exposição que começa com vestígios fotográficos de um passado, rastros de tinta sobre a imagem de um corpo presente e uma janela para o futuro com a pintura que renasce no processo criativo da artista. Ao entrar na galeria, a narrativa se inicia pelas fotografias que, caminhando para o fundo, passam a pertencer a tela de algodão.

Ao final, na última parede, a pintura prevalece por si só. As marcas nas pinturas são referências das formas registradas nas imagens do Rio. Essa é uma exposição que oferece uma visão completa: de onde começou a pesquisa com fotografias do Rio de Janeiro sobre memória e identidade e os próximos atos de experimentos na pintura.

Aos 18 anos de idade, Alice saiu do Brasil e desde então fotografa a cidade, de forma afetiva, como uma maneira de se sentir perto de suas raízes. No entanto, em 2014, percebeu que não se tratava apenas de um registro afetivo. Ao fazer o movimento de trazer para seu trabalho essas imagens despretensiosas de qualquer valor técnico ou conceitual, mas cheio de memorias, surpresas e valor sentimental, a artista constatou que estava explorando a ideia de identidade e pertencimento como imigrante.

Ao longo desse processo, é possível observar a admiração de Alice pelo movimento de arte carioca Neoconcretista. Através de pesquisas sobre Hélio Oiticica e Lygia Clark, como no livro “Cartas”, manifestou-se cada vez mais o interesse pela arte experimental e o poder da arte como ativação da mente e do pensamento e, não como resposta concreta. E assim surgiram as marcas geométricas imperfeitas, linhas coloridas pintadas a mão sobre fotografias do Rio de Janeiro, para criar obras que existem na interseção entre a memória e o campo imaginário, onde os fatos e as certezas são anulados. Cada obra, através de sua composição, cria espaço para imaginação do espectador. Os trabalhos falam de passado e presente usando pintura sobre a fotografia, questionando o limite de cada formato como um só.

“Na minha exposição Origens, mostro como a evolução da minha procura através das minhas imagens do Rio me levaram de volta a pintura, por si só, chegando de volta não só a minha Origem que é o Rio, mas também a minha origem na pintura, onde comecei nas artes plásticas. Meu olhar de fascínio e questionamento nas artes, começou na pintura com a obra “Quattro Stagioni” de Cy Twombly quando eu tinha 13 anos”, comenta a artista.

Até 05 de novembro.

 

Comemorando 35 anos

30/set

 

 

A Casa de Cultura Laura Alvim está localizada no início da Praia de Ipanema, Zona Sul, Rio de Janeiro, RJ, e se destaca por ser uma das únicas residências originais à beira-mar e um centro cultural que oferece ao público diversas atividades artísticas e eventos em um ambiente elegante e eclético. Para celebrar o legado cultural deixado desde os anos 1980, foi inaugurado o projeto “35 anos de Laura”, uma exposição inédita e imersiva pela história da dona do imóvel. Gerida pela Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ) e vinculada à Secretaria do Estado de Cultura, a Casa de Cultura Laura Alvim foi inaugurada em 12 de maio de 1986

Laura Alvim, falecida em 1984, era filha do médico Álvaro Alvim, pioneiro no uso de raios-X no Brasil, e neta de Angelo Agostini, precursor da caricatura nacional que teve papel de destaque na abolição da escravidão e no advento da República, através de suas sátiras e críticas políticas. Considerada por muitos como a primeira “garota de Ipanema”, a filantropa queria ser atriz, mas nunca atuou profissionalmente. Em prol das artes, que a encantava, doou sua casa ao Governo do Estado do Rio em 1983, sendo inaugurada como espaço cultural dois anos após sua morte.

Homenageando o sonho realizado de Laura Alvim, o projeto apresenta, pela primeira vez, peças originais, que foram catalogadas para trazer à tona a história, vivências, sentimentos e lembranças, na forma de obras de arte, mobiliários, louças e outros itens, dos momentos vividos por Laura Alvim e sua família. Também foram digitalizados mais de 1500 itens, como fotografias e materiais culturais, e organizados 720 objetos, como candelabros, cristaleiras, mesas e cadeiras. O acervo cultural e museológico passará a fazer parte da casa em um espaço permanente, o Memorial Laura Alvim.

Em cartaz até o dia 13 de novembro.

 

 

O afeto em Pedro Carneiro

20/set

 

 

A Galeria Movimento, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta até o dia 08 de outubro a exposição “Pedro Carneiro – Cartas ao Afeto”, onde aborda o afeto como perspectiva de cura coletiva. Com presença crescente no circuito da arte, participou da exposição “Carolina Maria de Jesus, um Brasil para os brasileiros”, no Instituto Moreira Salles em São Paulo, e terá trabalhos na 13ª Bienal do Mercosul, na mostra “Parada 7 – Arte em Resistência”, no Centro Cultural Justiça Federal e no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro -, além de quatro pinturas no Museu de Arte do Rio, a partir de setembro, expostas na coletiva “Um Defeito de Cor”. Ainda em setembro, Pedro Carneiro terá quatro pinturas expostas no Arte Pará 2022, que vai ocupar espaços da Casa das Onze Janelas e do Museu de Arte Sacra, em Belém.

 

A exposição “Cartas ao Afeto”, é a primeira exibição individual do artista Pedro Carneiro (1988, Rio de Janeiro), que reúne quinze pinturas recentes e inéditas com registros de cenas e memórias familiares, dentro de sua investigação artística em que mistura referências da história da arte, da linguagem de HQ, e de sua história pessoal. Nas obras, as pessoas retratadas estão em paletas de cinza e preto, contra um fundo rosa. Depois de uma série “Azul”, em que tratou de embates e conflitos sociais, e também imagens de família, Pedro Carneiro conta que começou a experimentar o rosa. “Queria trabalhar o afeto, a possibilidade de cura coletiva pelo carinho, mesmo sem esquecer os traumas sofridos”, diz. “Um olhar para frente, utópico, e para o espaço construído, e o que está em construção. A resistência como um foco de luz, que acende a cena”, comenta Pedro, usando uma referência de seu trabalho como iluminador teatral. “Quero dar atenção aos pequenos movimentos, gestos que antecedem os abraços, o olhar, a delicadeza do instante, e o rosa ilumina essas cenas”, explica. Para ele, as tramas individuais encontram eco na coletividade. Com presença crescente no circuito de arte, Pedro Carneiro participou da exposição “Carolina Maria de Jesus, um Brasil para os brasileiros” (25/9/2021 a 3/4/2022), no Instituto Moreira Salles em São Paulo, e terá trabalhos na 13ª Bienal do Mercosul (15 de setembro a 20 de novembro de 2022), na exposição “Transe”, em Porto Alegre, na mostra “Parada 7 – Arte em Resistência” (a partir de 7 de setembro de 2022, no Centro Cultural Justiça Federal e no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro), além de quatro pinturas no Museu de Arte do Rio, a partir de setembro, expostas na coletiva “Um Defeito de Cor”. Ainda em setembro, Pedro Carneiro terá quatro pinturas expostas no Arte Pará 2022, que vai ocupar espaços da Casa das Onze Janelas e do Museu de Arte Sacra, em Belém. Em maio de 2020, foi um dos artistas selecionados pelo edital de artes visuais da série Arte como respiro: múltiplos editais de emergência, do Itaú Cultural. Sua pintura “Cuidado” (2021) integra o acervo do Museu de Arte do Rio.  Na entrada da Galeria Movimento estará a instalação “Carta ao Pai”, em que um texto manuscrito de Pedro Carneiro ao pai, falecido há alguns anos, é o elemento de ligação entre uma pintura feita a partir da fotografia de formatura de seu pai, e a fotografia de formatura do próprio artista. Uma versão inicial e diferente desta obra integrou o festival virtual Respiro, do Itaú Cultural, em 2020, durante a pandemia.

 

Pinturas – Resistência e Afeto

 

As sete pinturas que formam a série “Vol II – Track”(2021/2022) estarão na sala à direita da entrada. O trabalho é resultado da residência Pesquisa em Artes 2021, do MAM Rio. Os demais oito trabalhos, todos de 2022, são da série apelidada de “Rosa”: “Algumas lembranças não devem ser guardadas só em memórias”, “Antes da despedida”, “O mundo cabe em um instante”,“O olhar de Lisa”, “Laços II”, “Ekundayo”, e “Estamos entre rainhas e reis”. Este último faz alusão à icônica imagem de Beyoncé e seu marido Jay-Z no clipe de “Apeshit” (2018), filmado no Museu do Louvre. No lugar da Monalisa, Pedro Carneiro retratou Abdias do Nascimento, e colocou no rosto do casal máscaras do Pantera Negra. “O desenho não obedece à formalidade de uma pintura figurativa, e é uma mistura de muitas referências, do Renascimento às HQs. As pinceladas são livres”, diz Pedro Carneiro. “Quero que um garoto de Oswaldo Cruz (bairro da zona norte do Rio, local importante na formação do artista) olhe e entenda as referências: “Essa pessoa me lembra o fulano da rua”. Pedro Carneiro conta que suas grandes referências na pintura são os alemães Anselm Kiefer  (1945), Gerhard Richter (1932) e o norte-americano Kerry James Marshall. Mas entrega: : “Um dia quero ser como Arjan Martins e Cildo Meireles”. Thayná Trindade, assistente curatorial e pesquisadora no Museu de Arte do Rio, e uma das fundadoras do laboratório de Estudos Africanos e Ameríndios Geru Maa, da UFRJ, escreve no texto que acompanha a exposição: “Transcender os traumas sem apagá-los torna-se estratégia sacralizada em suas pinceladas. Se tempos antes os tons de cinza reforçaram estéticas violentas e ares de melancolia, hoje tornam-se ponto de partida para reivindicação desses corpos em levantes, somados a alegorias que versam sobre possibilidades de cura, proteção, reivindicação, amor e agência nas mais variadas formas”. Para ela, a dimensão pictórica de Pedro Carneiro encontra eco no conceito de escrevivências; de Conceição Evaristo: “Ele apresenta cotidianos, experiências, desejos, sonhos de um povo que renega o lugar de objeto e retoma o lugar de protagonista e de poder – no âmbito do existir, do conceder e do permitir – subvertendo a lógica hegemônica de um lugar-comum, marginalizado, violento”.

 

Pai, Histórias em quadrinhos, Desenhos, UERJ e Spataculu

 

Criado em grande parte nos bairros de Madureira e Oswaldo Cruz, berço das tradicionais escolas de samba Portela e Império Serrano, de uma família trabalhadora e consciente politicamente, que aposta na educação como crescimento pessoal e social, Pedro Carneiro ganhou do pai “um monte” de revistas em quadrinho. O pai atendia a uma sugestão do professor do menino na classe de alfabetização, que distraído não estava participando das atividades em sala de aula. Rapidamente o Pedro passou a desenhar para copiar as figuras que via. Enquanto aguardava ser buscado pelos pais, depois da escola, ele desenhava na casa da patroa da avó, trabalhadora doméstica. Na adolescência, quis trabalhar na criação de videogames e histórias em quadrinho, e ingressou na faculdade de artes visuais na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), em 2007, pelo sistema de cotas. Na época, as bolsas que permitiam transporte e alimentação só tinham duração de seis meses. E ao buscar bolsas de pesquisa na universidade, uma professora sugeriu que ele fizesse iluminação para teatro e cenografia. Ao se graduar na Uerj, em 2011, com um trabalho de final de curso sobre as transformações que a cidade, em especial a Zona Norte, estavam sofrendo com os preparativos para a Olimpíada, Pedro Carneiro foi aluno e depois passou a trabalhar na Spectaculu, instituição de formação e inserção profissional criada pelo artista e cenógrafo Gringo Cardia. Nos dois anos seguintes cursou com bolsa a EAV do Parque Lage, e passou a integrar coletivos que realizavam eventos e ocupações artísticas em espaços públicos.Sem parar de desenhar, ele participou de eventos na rua até 2017, quando passou a se concentrar na sua pintura.

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1988, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha, Pedro Carneiro constrói sua produção pautado pelas questões relativas à herançadiaspórica afro-latina e a cultura pop. Em pinturas, intervenções urbanas, instalações e desenhos, seus trabalhos refletem histórias reais e inventadas tendo como ponto de partida o reencontro com sua ancestralidade. Pedro Carneiro é mestrando em Arte e Cultura Contemporânea na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), e em 2021 fez a residência Pesquisa em Artes do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foi selecionado para a 13ª Bienal do Mercosul, através da Chamada Aberta para a exposição “Transe”. Participou da exposição “Carolina Maria de Jesus, um Brasil para os brasileiros”; no Instituto Moreira Salles em São Paulo. Sua pintura “Cuidado” (2021) integra a coleção do Museu de Arte do Rio.

 

Cartas ao afeto – Pedro Carneiro

 

Thayná Trindade

 

Cartas ao afeto – primeira exposição individual de Pedro Carneiro – nos convida a um vir a ser coletivo, construindo novos pressupostos e viradas poéticas acerca da encruzilhada contínua do existir em diáspora, como corpo preto que se dispõe a olhar as vicissitudes que fazem parte de suas histórias, bem como o transbordar de sua humanidade a partir do reencontro para com os seus e os diversos graus de sentimentos que navegam no seu mar existencial, tecendo linhas e contornos através de seus trabalhos para perpetuar memórias outras. Bell Hooks nos ensina que a perspectiva de estética é, para além da própria ideia e teoria de arte, um modo pelo qual olhamos e habitamos os espaços, a fim de nos tornarmos também parte integrante daquilo que construímos. O belo também é o pertencimento. Como no conceito de escrevivência de Conceição Evaristo, a dimensão pictórica de Pedro Carneiro apresenta cotidianos, experiências, desejos, sonhos de um povo que renega o lugar de objeto e retoma o lugar de protagonismo, presença e de poder – no âmbito do existir, do conceder e do permitir – subvertendo a lógica hegemônica de um lugar-comum, marginalizado, violento, descartável. Transcender os traumas sem apagá-los se tornam estratégias sacralizadas em suas pinceladas. Se tempos antes os tons de cinza reforçaram estéticas violentas e ares de melancolia, hoje são ponto de partida para reivindicação desses corpos em levantes, somados a alegorias que versam sobre possibilidades de cura, proteção, reivindicação, amor e agência nas mais variadas formas. A dimensão dos afetos toma corpos apresentados em primeiro plano, mediante a formulação de futuros possíveis embebidos num certo anacronismo simbólico, percorridos nos elementos que constituem os espaços em cada tela: nas tecnologias ancestrais de recobro em meio às ervas medicinais e de anteparos, associados a presenças divinizadas e heróicas de personas que se tornam reais e vivas, tramadas sob o arcabouço de uma paisagem que não se revela por completo, mas que é desejada e habitada na casa das matriarcas de Oswaldo Cruz, nos Quilombos que vêm de Palmares e desembocam em Irajá, se fortalecem nas esquinas sonoras de Madureira, passam por ideais filmíticos de Wakanda, Dakota, Soho. Experimenta a teatralidade e o poder político do negro liderados por Abdias Nascimento e companhia, reveste os corpos protegidos pela espada de Ogum, saúda mares e pede benção para inaugurar uma nova fase que abraça, acarinha em tons rosa anseios de um povo. Abdias, Beatriz, Lélia, Sr. Nilson, Sr. Tonico, D.ª Ridete, Dª Luiza, D.ª Glória, Seu Carlos e tantos outros apresentam ferramentas e embalam presenças que caminham junto, onde a ideia de Sankofa é presença, energia vital, ASÈ. Afinal, como construir futuros possíveis sem reverenciar aqueles que antes vieram?

 

Thayná Trindade (1988, Rio de Janeiro, Brasil) é Assistente Curatorial e Pesquisadora no Museu de Arte do Rio (MAR). É Historiadora da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Curadora Adjunta na 01.01 Art Platform.

 

 

Karin Cagy no Solar de Botafogo

 

 

Karin Cagy tem no DNA a postura livre e destemida retratada nas telas de sua primeira exposição individual, “Beau Voir”, na Galeria Vertical do Centro Cultural Solar de Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, sob curadoria de Alexandre Murucci. Oriunda de uma família de mulheres fortes, sua mostra é fruto da virada existencial e profissional que se confirmou no período sabático durante a pandemia, quando ela assumiu sua persona artística cultivada desde a juventude. Como grande diferencial de sua investigação temática, suas personagens são mulheres na faixa a partir dos anos 1960/70, quase sempre apresentadas em protagonismos inesperados. Em seu universo pictórico, as figuras escolhidas pela artista se mostram donas de seus percursos e escolhas, contrariando estereótipos e restrições naturalizadas pela sociedade ocidental, que, apesar de se mostrar cada vez mais aberta ao enfrentamento do ageísmo, ainda mantém o culto à juventude como seu maior ativo econômico e simbólico.  A exposição vai até o dia 19 de outubro e reúne cerca de 20 obras em médios formatos, utilizando técnicas de tinta a óleo e acrílica, numa paleta “cupcake”, cores dóceis que contrastam com a atitude de suas personagens.

 

“Sempre desenhei mulheres. Sempre muito feminista. Minha pesquisa na pintura sobre ‘ageísmo’, um preconceito que atinge de forma mais contundente o sexo feminino, é onde sinto que meu trabalho mais tem a conectar as pessoas. E a imagem que eu tenho das mulheres de mais idade vem de minha mãe e avó, que sempre foram ativas e potentes, cheias de vida – é o meu parâmetro. Eu mesma não me imagino de outra forma e é assim que eu pretendo envelhecer. Por que envelhecer tem que ser feio, ser inexpressivo?”, diz Karin Cagy.

 

A palavra do curador Alexandre Murucci

 

“Apresentando uma série de trabalhos que falam de questões caras à sua sensibilidade e que envolvem o universo feminino, suas mulheres são fortes, destemidas, surpreendentes. Fruto de sua dinâmica de atelier nos últimos três anos, a mostra ‘Beau Voir’ brinca com suas acepções linguísticas, ao ser traduzida livremente como algo bonito de ver, certamente um contraponto quando nos deparamos com o ‘status quo’ estético vigente, ao mesmo tempo em que é uma expressão de afirmação e convicção na língua francesa, e flerta com a musa existencialista Simone de Beauvoir, autora do livro capital do feminismo – “O Segundo Sexo” (Le Deuxième Sexe) publicado em 1949, uma das obras mais celebradas e importantes para o movimento, analisando a condição feminina nas esferas sexual, psicológica, social e política. Karin Cagy elege um olhar solidário a uma mulher no seu entorno próximo – família, amigas e pessoas do universo profissional como designer e criadora de moda, onde atuou por três décadas, e onde estes aspectos são tratados com a crueza e dramaticidade de uma cultura ao corpo inóspita e impositiva, e que, mesmo não sendo seu lugar de fala presente, se coloca em seu horizonte de forma latente, em angústias e expectativas de seu lugar no mundo, que ela transforma em poesia libertadora ao criar Senhorinhas livres e donas de seus destinos.  Realmente bonito de ver!”

 

Sobre a artista

 

Com o desenho presente em sua vida desde seus cinco anos, Karin Cagy já ministrava aos dezoito anos, aulas de pintura em seda no Club Med. Cursou Modelo Vivo no Parque Lage com Astrea El Jaick e Gianguido Bonfante e, posteriormente, Desenho Industrial na Faculdade da Cidade e Moda na Universidade Candido Mendes. Com ampla experiência na indústria da moda, onde trabalhou por mais de duas décadas em 2018, Karin realinhou sua investigação artística e voltou à Escola de Artes Visuais do Parque Lage, tendo como professores Luiz Ernesto, Bruno Miguel e Charles Watson, retornando a pintura de forma visceral e profícua.

 

 

Artista francês em Ipanema

 

 

Expoente da arte contemporânea da França ocupa, com obras inéditas e recentes, os dois andares da galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, em sua primeira exposição na cidade. Com obras em coleções prestigiosas como a do Centre Georges Pompidou, em Paris, e representante de seu país na Bienal de Veneza em 2017, Xavier Veilhan mostra esculturas em vários materiais e formatos – três delas interativas -, e um grande móbile, de 4,5 metros, que exploram seu interesse em criar espaços e contextos que alteram a experiência do espaço e a percepção do tempo. Em paralelo à exposição, a Cinemateca do MAM já exibiu filmes de Veilhan.

 

Sobre o artista

 

Xavier Veilhan (1963, Lyon, França, radicado em Paris) é conhecido por trabalhos que transitam entre escultura, pintura, instalação, performance, vídeo e fotografia. Na exposição estarão qinze obras, entre esculturas de dois metros de altura, esculturas cinéticas em madeira, e um grande móbile, de 4,5 metros de altura, que oferecem ao público uma excelente oportunidade de conhecer o trabalho deste grande artista. A originalidade das suas proposições, que tensionam a relação entre o bidimensional e o tridimensional, resulta em espaços e contextos que alteram a experiência do espaço e a percepção do tempo, um dos interesses do artista. Sua obra está em coleções de importantes museus, como o Centre George Pompidou, e além de exposições em instituições de arte ele se interessa por espaços públicos, e já realizou obras específicas para locais em várias cidades do Japão, Coréia do Sul, EUA, Suíça, Suécia, Itália, Portugal, China e França. Suas exposições e intervenções in situ em cidades, jardins e casas questionam nossa percepção ao criar um envolvente percurso em que o público se transforma em participante ativo.

 

 

Ocorrências visuais de Bechara na LURIX

16/set

 

A LURIXS: Arte Contemporânea, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 28 de outubro “Nervo Combustão Fluxo”, exposição individual de José Bechara, com texto de Felipe Scovino.

 

Em sua sexta exposição individual na galeria, o artista ocupa as duas salas expositivas do prédio para apresentar 15 obras inéditas entre oxidação de metais sobre lona e esculturas em vidro. Como aponta Scovino: “O que reúne, com mais força, as obras nesta exposição é o fato de estarem em moto-contínuo mesmo em um estado de aparente repouso. Há uma ação, um devir, que acontece ininterruptamente mesmo essas mudanças não sendo perceptíveis a olho nu.”

 

O crítico evidencia também que o artista “não abandonou o grid – um signo constante em sua trajetória -, mas o tornou mais complexo nos últimos anos. Adicionou mais elementos a essa estrutura, transmitindo uma sensação de agilidade e aumentando a potência alegórica de um estado transitório em suas pinturas.” e conclui “Bechara continua, como um dínamo, a produzir novas e incessantes paisagens movidas a combustão e alta intensidade.”

 

Moto-contínuo

Por Felipe Scovino

 

O que reúne, com mais força, as obras nesta exposição é o fato de estarem em moto-contínuo mesmo em um estado de aparente repouso. Há uma ação, um devir, que acontece ininterruptamente mesmo essas mudanças não sendo perceptíveis a olho nu. É de conhecimento daqueles que acompanham a trajetória de José Bechara que o fenômeno da oxidação de emulsão ferrosa e/ou cúprica sobre lona de caminhão é algo que persiste desde o início da sua trajetória. Uma certa magia acontece na distribuição, quantidade e gestualidade que Bechara emprega utilizando as emulsões sobre a lona. Mas quero ir além desse fato notório e apontar que suas obras na última década, uma ínfima parte aqui exposta, evidenciam outros gestos (ou movimentos, se quiserem assim chamar).

 

Bechara também não abandonou o grid – um signo constante em sua trajetória , mas o tornou mais complexo nos últimos anos. Adicionou mais elementos a essa estrutura, transmitindo uma sensação de agilidade e aumentando a potência alegórica de um estado transitório em suas pinturas. Digo isso porque, para além do fato de o artista não abdicar do processo de oxidação na construção de formas geométricas sobre a lona, há outro regime de temporalidade sendo explorado. Se, nas partes oxidadas encontradas na pintura, a passagem do tempo, demarcada pela ação da emulsão sobre a lona, é vagarosa, minuciosa e “imperceptível” à experiência do olho, nas formas que caracterizam o grid, o nosso olhar percorre a superfície da pintura de forma acelerada e descontínua. Não há centro, tudo está a se mover de forma esquiva e instável. Os pontos de cor, chamativos, quentes e espalhados pelos mais distintos pontos da lona, intensificam essa operação. No díptico Margarida Cabeça Stripe (2018), o que prevalece é a oxidação na lona superior, formando metaforicamente não só uma matéria em combustão, mas a constituição de uma paisagem, notadamente, de um nevoeiro. É perspicaz a escolha, até certo ponto ocasional, que Bechara faz de como, onde e com que intensidade o processo químico da oxidação ocorrerá sobre a lona e, em um segundo momento, as formas alusivas ao mundo que são criadas.

 

Bechara também opera pela fratura e podemos observar essa característica sob dois pontos de vista. Primeiro, eu diria, uma fratura que se dá no material escolhido. O artista faz uso, e não são raros os casos, de remendos, isto é, pedaços de lona sobrepostos sobre a lona maior. Essa operação de corte e costura torna aparente um universo de sujidade, gambiarra, fúria, cheiro e atmosfera de metrópole. Essa fratura, por assim dizer, exala visceralidade. A outra possibilidade de fratura é a divisão em módulos de suas pinturas; sejam dípticos, trípticos ou polípticos. Há a dimensão de uma escala que não se contenta em ser diminuta, circunspecta ou regida por uma timidez formal, pelo contrário, ela deseja o espaço. E essa aparição ao mundo se dá de forma conflituada, determinada, impositiva e essencialmente vigorosa.

 

Por suas obras abraçarem sintomas como ruptura e descontinuidade, evidentes na forma como o artista constrói sua malha geométrica e na dispersão espacial dos círculos cheios e vazados, assim como em barras e outras figuras que habitam o espaço de suas pinturas, elas acabam deixando de lado o ofício das sutilezas. A brutalidade própria da lona de caminhão me parece reforçar esse dado. Bechara deixa transparecer em várias obras palavras (como o nome da fábrica que produziu a lona ou a companhia que transportou tal produto guardado sob a lona) e riscos e vincos que reforçam, respectivamente, o lugar e o uso que foram dados a essas lonas. As pinturas continuam a propagar as histórias e memórias das lonas visto que elas – pinturas – são resultado direto desse material. O caráter de desgaste das lonas e, claro, a passagem de tempo ficam marcados no que chamo de “acidentes”, isto é, suas dobras, cortes e sujidades, que por sua vez são incorporados pelas pinturas.

 

O políptico feito com oxidação em cobre, para além de exibir operações geométricas sobre uma malha, leva a pintura de Bechara para outro terreno simbólico. Sua cor, uma tonalidade entre o esverdeado e o esbranquiçado, e seguramente o processo de oxidação que gerou formas e texturas orgânicas, próximas de um material biológico sendo investigado por um microscópio, acabam por associar a superfície da pintura a pele. Não se sabe bem se humana ou de um bicho. De qualquer forma, a pintura passa a representar um padrão biológico que particulariza a superfície da lona.

 

As duas esculturas que fazem uso do vidro como um desenho no espaço corroboram a ideia de fratura. Com caráter de site specific, as placas de vidro são aproximadas, sempre respeitando um intervalo, e eventualmente suspensas, formando uma malha geométrica. As duas obras se estendem ao longo das respectivas paredes em que estão instaladas, criando uma relação temporária com o espaço: afetando e sendo afetadas por ele. A forma como o vidro se apresenta, ora rígido, ora cambaleante, e em outros momentos frágil, especialmente quando é elevado, reforça uma qualidade de inquietude e velocidade da obra. Nesse terreno oscilante, há ainda o jogo de translucidez e opacidade que o vidro leitoso oferece em contraponto ao vidro que não recebe qualquer tipo de tratamento; o vidro não é mais o elemento pelo qual se pode ver através, mas uma instância de obstáculo. Por sua vez, os tubos de neon, em uma das esculturas, estão desejosos de formar figuras geométricas tridimensionais. É a luz quem delimita o desenho, recortando o espaço, produzindo área e dando uma propriedade de ar ao trabalho. A luz também traz um senso de vibração e vigor à escultura, realçando a cor no espaço. Não podemos esquecer que o neon tem uma espécie de aura hipnótica, remetendo aos anúncios comerciais cintilantes, abundantes nos centros urbanos.

 

Os trabalhos em formato circular com a sua superfície em lona sobreposta por listras indicam mais uma vez o caráter dispersivo e fraturado da obra do artista. No andar superior, as pinturas dispostas de forma aleatória sobre a parede enaltecem um olho que não para de se movimentar, determinando as associações formais, cromáticas e fenomenológicas desse conjunto. A cor é protagonista nesse políptico, ao mesmo tempo que veda parcialmente – portanto, sem deixar de exibir – as “ocorrências visuais”, como Bechara chama. As “ocorrências” são os registros – manchas, cortes, vincos, restos de palavras, sua história e memória – contidos na lona que não só compõem uma paisagem abstrata, que é a tônica do trabalho de Bechara, mas singularmente são registros da gestualidade do artista. Em muitos casos, elas não precisam ser pintadas por meio de um pincel, mas eleitas (pelos olhos do artista). É o que Bechara nos ensina. As obras em formato circular de maiores proporções tornam ainda mais evidentes as “ocorrências visuais” e um certo grau informalista da sua pintura. Oxidação se torna mancha, que se torna nuvem, que se torna paisagem. São pequenos pedaços de mundo.

 

Bechara continua, como um dínamo, a produzir novas e incessantes paisagens movidas a combustão e alta intensidade.

 

Galatea apresenta Allan Weber na ArtRio

14/set

 

 

A apresentação solo de Allan Weber na ArtRio, Marina da Glória, Rio de Janeiro, RJ, entre os dias 14-18 de setembro, vai mostrar um grande conjunto de trabalhos da série “Traficando arte”, na qual o artista traduz e transpõe para objetos, instalações e fotografias, elementos, imagens, situações e narrativas do contexto em que nasceu e vive, a comunidade das 5 Bocas, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

 

A realidade das comunidades no Rio de Janeiro é marcada pelo abismo da desigualdade social, pela violência policial e pelas lutas entre facções. Todas essas situações, porém, não devem ser tomadas como definidoras desses locais, mas sim como fatores constituintes. A produção cultural, artística, musical, literária e as manifestações estéticas da moda são potenciais que emergem dessas localidades e também as definem.

 

O tema principal da produção de Allan Weber é justamente essa complexidade, contraditória e em disputa – tanto material como simbólica – das comunidades cariocas e, segundo o artista, seus trabalhos são fotografias, objetos e ações que questionam e tensionam sua relação com elementos de uma classe social marginalizada e discriminada por sua cultura e comportamento.

 

Partindo desses pressupostos, o título da série “Traficando arte” propõe uma subversão da ideia negativa de tráfico de drogas para uma proposição positiva de tráfico de arte, pensada a partir da noção de troca, negócio e diálogo. Ou, nas palavras do artista: “Minha obra fala sobre a geopolítica carioca e a produzo desconstruindo objetos e códigos usados pelo tráfico de forma subjetiva para a criação de novos conceitos.”

 

Nesse sentido, diversos elementos desse cotidiano cercado pelo tráfico, como armas e embalagens para drogas, são transformados e ressignificados por Weber, tanto na série fotográfica “Traficando arte” como na série de armas construídas com câmeras fotográficas usadas ou na série “Endola”, em que a técnica e material utilizado para fazer pacotes com cargas de maconha se tornam objetos geométricos e conceituais.

 

Elementos da cultura visual e musical da favela também são articuladas em trabalhos pelo artista, como a estética dos cortes de cabelo, os chamados “cortes na régua” ou “cabelinho na régua”, que estão presentes de forma simbólica na série “Régua”, onde as lâminas utilizadas para esses cortes são organizadas de forma geometrizada e coladas em telas, criando composições que dialogam diretamente com a tradição construtiva da arte brasileira. Esse diálogo também é explorado por Weber em uma série de trabalhos feitos com colagens de retalhos das lonas utilizadas nas estruturas de coberturas dos bailes funk, normalmente coloridas e geometrizadas.

 

Também serão apresentados esboços do projeto “Dia de baile”, que surgiu a partir do incômodo do artista em sempre ver os bailes funk sendo retratados de forma marginalizada, como locais de violência, ignorando todo o conhecimento ali produzido, bem como a sua função social e cultural nas comunidades onde são realizados. A primeira edição do projeto aconteceu na exposição “Rebu”, em 2021, na piscina do Parque Lage, e levou para o interior de um palacete em estilo eclético do começo do século 20 uma lona típica dos bailes de favela junto com um paredão de caixas de som que foram ativados numa festa. Criou-se, assim, uma fricção estética e social com o ambiente elitista da zona sul carioca, ao mesmo tempo que se buscou apresentar e convidar o público a conhecer essa manifestação musical e cultural que é o baile funk.

 

A Comédia Humana

 

 

Em exposição o universo encantado de Sônia Menna Barreto, “…um encontro com a arte em seu estado essencial: pesquisa, talento e invenção. Tudo isso temperado com doses generosas de fantasia, de afeto que se espalha por esses objetos repletos de história”, desse modo convida Marcus Lontra, que assina a curadoria de “A Comédia Humana”, para a exposição individual de Sônia Menna Barreto – até 29 de outubro – organizada pela Dila Olveira Galeria, que ocupa duas salas no 3º andar do Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

“Sônia cria personagens, paisagens, fragmentos de poesia visual que aquecem o coração: ela caminha por várias geografias, elabora histórias de várias origens, constrói mundos repletos de fábulas, mitologias, verdades e mentiras, amores submersos, desejos silenciosos, vontades recônditas, prazeres, encantos, totens e mandalas, rendas e bordados, dobras do tempo e delicadezas. Em tempos amargos, a arte acaricia. Em tempos apocalípticos, a arte redime. Em tempos apavorantes, a arte ilumina. Em tempos cruéis, a arte subverte. Em qualquer tempo e sempre, a arte salva”, afirma Marcus Lontra.

 

“Tenho uma longa carreira e é um privilégio mostrar minha obras aqui no Rio pela primeira vez. Expor aqui meu trabalho, algumas séries, em mídias diversas”, diz Sônia Menna Barreto.

 

“Para a nossa galeria está sendo uma honra fazer parte deste projeto, apresentando a Sônia Menna Barreto, pela primeira vez, em um espaço institucional. Ela é uma artista plástica fantástica e poder trazer suas obras de arte para os visitantes do Centro Cultural Correios, é de uma enorme relevância”, avalia Dila Oliveira.

 

Sobre a artista

 

Artista visual, tem sua produção artística a mais próxima da expressão do homo ludens, o homem lúdico, e seu espírito criativo trabalha com territórios e personagens que habitam a imaginação das pessoas de todas as idades. Sua técnica origina-se nos pintores flamengos do século XV, misturando hiper-realismo com minúcias da técnica francesa do Trompe L’oeil. Após contato com os trabalhos de Max Ernst, De Chirico, Magritte e Paul Delvaux, a obra de Sônia tomou a direção do Surrealismo. Inicialmente essa fase foi decisiva para sua carreira, passando a desenvolver seu lado intimista e criativo, solucionando os problemas técnicos e temáticos. Hoje, Sônia se apropria de técnicas tradicionais complexas para tratar de questões contemporâneas, e suas pesquisas resultam em criações únicas suportadas por obras de diversas linguagens, como esculturas, pinturas, desenhos e gravuras.

 

 

Artes visuais no Theatro Municipal

 

 

Pela primeira vez o Theatro Municipal, Centro, Rio de Janeiro, RJ, disponibiliza as paredes de seus corredores, em todos os andares, para uma exposição de arte contemporânea, obras do artista ítalo-brasileiro Lúcio Salvatore, compondo a mostra “Intermezzo”. O título se refere ao “espaço entre os atos (intervalo), a possibilidade de uma rachadura”.

 

Segundo o artista, são 24 obras e 2 instalações “que dialogam com a arquitetura e a missão do teatro, importante centro formador de opinião para a cidade e ‘formador do pensamento crítico'”.

 

A presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Clara Paulino, participou da concepção do projeto com Lúcio Salvatore, fazendo do evento uma elaboração de questões complexas da importante história da instituição, desde a arquitetura do prédio.

 

A ideia de levar a exposição para os andares da galeria e da varanda superior do teatro, denuncia a visão elitista da época do projeto original, que justificava não haver ali acabamentos decorativos, “por serem áreas destinadas à população menos privilegiada”. Para os mais pobres, o despojamento nos acabamentos, sem dourações, sancas ou estatuetas como enfeites.

 

Assim pensou Zaratustra, digo, a Vetusta mentalidade brasileira.

 

As obras apresentadas dialogam com os materiais e técnicas decorativas utilizadas na construção, mármores e mosaicos que Salvatore ressignifica usando mármores e papelões descartados, com uma arte fortemente simbólica e um estilo ‘euro-africano’ de inspiração medieval.

 

A obra central da exposição é o retrato de Mercedes Batista, primeira bailarina afrodescendente a compor o Corpo de Baile do Municipal homenageado pela artista no espaço dedicado à  memória e ao cancelamento.

 

Fonte: Coluna Hildegarde Angel/Facebook

 

Até 31 de outubro.

 

Universo vegetal

12/set

 

 

A exposição “Há céu por toda parte”, de Mercedes Lachmann, projeto curatorial de Marisa Flórido, em cartaz na Galeria Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea, São Conrado, Rio de Janeiro, RJ, é uma investigação sobre o universo vegetal e suas potencialidades. A artista coleta plantas, árvores e folhas caídas pela cidade, e com elas elabora seu jardim particular. Os trabalhos irradiam a medicina das ervas, sugerem novos ciclos de vida para folhas maduras, e denunciam a derrubada das florestas.

 

Sobre a galeria

 

Gaby Indio da Costa atua no mercado de arte desde 2009 e desde então acompanha de perto a produção de vários artistas. Realizou diversas exposições, algumas em parcerias com instituições e a maioria com a curadoria de críticos e curadores renomados. Em 2017 cria a galeria Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea que tem como objetivo principal, divulgar a produção dos artistas que representa e suas propostas, promover projetos e exposições e manter um diálogo constante com críticos, curadores e colecionadores, incentivando a formação de novas coleções e buscando fortalecer as que já existem. A galeria trabalha com artistas jovens e consagrados, alguns com trajetória consolidada, todos eles comprometidos com a experimentação, a ousadia no âmbito da linguagem que define a arte contemporânea. Prova disso são os convites constantes para compor exposições nacionais e internacionais, e o interesse crescente de jovens colecionadores, além de coleções estabelecidas, públicas e privadas.

 

Até 28 de outubro.