Símbolos nacionais

06/jun

 

 

No ano em que se comemora o bicentenário da Independência do Brasil, a Galeria Movimento, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta a partir do dia 09 de junho, das 18h às 21h, a exposição “Re-Utopya”, primeira grande individual do artista Hal Wildson, nascido em 1991 no Vale do Araguaia, região de fronteira entre Goiás e Mato Grosso, com obras em diferentes suportes que fazem uma revisão crítica da história de nosso país. Os trabalhos, recentes e inéditos, mostram as várias séries que compõem a pesquisa poética a que o artista se dedica, onde memória, esquecimento, identidade e a palavra são suas ferramentas para pensar em um futuro possível para o país, e para o povo brasileiro, “ainda em formação”. Símbolos nacionais, máquina de escrever, digitais, primeiros registros históricos do povo brasileiro são usados nas obras em exposição, que tem texto crítico do artista e curador Divino Sobral.

 

Atualmente morando em São Paulo, Hal Wildson é conhecido principalmente por seu trabalho com imagens criadas a partir de uma datilografia extrema, e sua obra “República da Desigualdade – Meritocracia seja Louvada” (2018-2020) foi vista em rede nacional na abertura do documentário especial “Mães do Brasil”, produzido pela Favela Filmes e KondZilla Filmes, com direção de  Kelly Castilho e John Oliveira, e exibida pela Globo em dezembro. Naquele trabalho, imagens de arquivos nacionais de trabalhadores brasileiros, fotografias autoriais e registros da infância do artista são plasmadas em notas de “zero real”.

 

Um vídeo poético, feito durante o processo de criação da obra “Singularidades” (2020/2022), viralizou, e alcançou a marca de mais de cinco milhões de visualizações no Instagram, sendo compartilhado também por artistas, como Vik Muniz.

 

Gonçalo Ivo no Paço Imperial

03/jun

 

 

Nominada como “Zeitgeist” e sob a curadoria de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, o pintor Gonçalo Ivo é o atual cartaz do Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

“A importância de um artista se mede pela quantidade de novos signos que ele introduz na linguagem”

 

Henri Matisse em conversa com Louis Aragon, 1942

Texto de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho

 

A presente exposição de Gonçalo Ivo no Paço Imperial reflete sua produção dos últimos quatro anos, alternando suas estadas nos ateliers de Vargem Grande, no Rio de Janeiro, Madrid e Paris, onde vive desde 2000, entremeadas por residências artísticas em New York e Bethany (Connecticut), nos anos de 2019 e 2020.

 

Foi em Bethany, na Fundação Annie e Josef Albers, no início de 2020, que a atual narrativa começou a tomar forma. Vindo de uma tradição sólida da pintura e considerado um dos maiores coloristas contemporâneos, o artista traduziu aqui, em óleos, têmperas e aquarelas, nos suportes de tela, papel e madeira, uma reflexão que altera não somente o caráter atemporal de suas obras anteriores mas também a noção de movimento e ordem. Seu recente isolamento, forçado pelas circunstâncias da realidade global, revelou nesses últimos trabalhos, a captura de elementos essenciais da existência humana, nossa fragilidade, a vulnerabilidade e o espiritual, na acepção dos melhores trabalhos de Kandinsky e Hilma af Klint, produzidos no convulsionado início do século XX. A exposição perpassa uma tríade de elementos que se interconectam, e que só podem ser plenamente apreendidos quando o todo se completa, ou quando o olhar se abastece de todas suas possíveis variantes.

 

Se nas Cosmogonias abrimos o caminho para o mistério da criação do universo e do simbólico, seja na exatidão de uma geometria cósmico-cinética das esferas, estruturadas por superposições e confrontos de cores, seja pela infinitude de nebulosas que mesclam sensações e diluem as certezas, são nas transparências das Contas de Vidro que ele introduz o lúdico, o melódico, o tátil e o jogo da vida . A alusão a obra de Herman Hesse não é fortuita.

 

Seus círculos cromáticos não se limitam a aplicação dos estudos sobre a cor como em Chevreul, Goethe ou nas proposições modernas do casal orfista Delaunay. São na verdade experiências sensoriais que se revelam a cada interação com o espectador, expandindo a percepção de que vivemos em um mundo mutável, muitas vezes distópico.

 

Mas é no seu Inventário das Pedras Solitárias, de complexa execução, que expande seu léxico e completa a referida tríade. As obras que compõem este inventário somente puderam ser pintadas pela experiência vivida em um exílio involuntário, onde a natureza bruta se mesclou a sensações de contemplação, erosão, perda e renascimento. Como um ciclo que se fecha, elas podem significar em seus múltiplos cinzas ou tonalidades leves de cor, tanto algo que flutua no espaço como algo que está entranhado na terra, querendo se revelar, isoladas, ou em busca de um encontro, um recomeço. Podem nos remeter a ancestralidades, mas também nos indicar a abertura para o novo. São as partes de um tempo partido, não apenas cronológico.

 

Da mesma forma como Hélio Oiticica escreveu em seu artigo Cor, Tempo e Estrutura (1960) que o tempo na obra de arte tem um sentido especial, diferindo dos sentidos que toma em outros campos do conhecimento, Gonçalo percorre o caminho simbólico, explorando a relação interior do homem com o próprio mundo, sempre em sua relação existencial.

 

Até 26 de junho.

 

Reinauguração e Exposição

 

 

 

O Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN) reinaugura a exposição permanente do Museu Memorial Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, sob a curadoria de Marco Antonio Teobaldo, no próximo dia 09 de junho, que foi construída sobre três eixos principais:

 

 

  1. Matriz Africana – na qual o visitante poderá compreender melhor sobre as diferentes civilizações africanas antes de serem escravizadas e suas contribuições para as ciências, tecnologias e artes.

 

  1. Mercado da escravidão no Brasil – foi traçado um percurso temporal desde a chegada dos primeiros grupos de escravizados, a brutalidade que eram submetidos e a constituição do Complexo do Valongo, no ápice do tráfico escravagista no Rio de Janeiro.

 

  1. A tentativa de apagamento da memória da escravidão na Pequena África, o descobrimento do sítio arqueológico pela família Guimarães dos Anjos e os seus desdobramentos.

 

O curador atenta que é preciso ampliar o campo de visão para uma abordagem mais realista e menos colonialista sobre a escravidão no Brasil. O sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos é uma ferida aberta na sociedade e se apresenta como testemunho de um genocídio africano em terras brasileiras. Esta falta de entendimento histórico fomenta a manutenção de uma sociedade brasileira racista e violenta.

 

 

Novas escavações e laboratório de arqueologia interativo já têm data para começar

 

 

Cinco anos após a última escavação, a equipe de arqueologia do (PPGArq/Museu Nacional/UFRJ) volta a campo para realizar novas buscas. Sob o comando da professora Dra. Andrea Lessa, o início do trabalho está previsto para julho, exatamente no local destinado ao novo laboratório. Com uma proposta, até então, inédita, um dos principais objetivos é comparar os estudos já realizados nas escavações anteriores, com esta nova área que nunca foi tocada. ”Estou muito entusiasmada com essa nova etapa da pesquisa, uma vez que será escavada uma área diferente do cemitério, mais central. Assim, por um lado, será possível verificar se as informações inicialmente obtidas sobre a dinâmica de ocupação são válidas para todo o espaço; e ao mesmo tempo esperamos encontrar um número maior de estruturas funerárias intactas, o que será fundamental para ampliarmos o entendimento sobre as práticas funerárias e sobre os indivíduos ali enterrados”.

 

 

A dra. Andrea Lessa destaca ainda que esta pesquisa busca revelar um pouco mais sobre a vida e a morte dos cativos africanos, atores sociais protagonistas na formação social e cultural brasileira. ”Após tanto tempo de esquecimento, reconhecer o Cemitério dos Pretos Novos Novos como um importante patrimônio nacional e como um local sagrado para a população afrodescendente representa um resgate histórico obrigatório e um meio eficaz de preservação da nossa memória”, conclui a arqueóloga. Além das informações atualizadas levantadas a partir das pesquisas arqueológicas, o espaço expositivo terá um laboratório arqueológico que vai permitir ao público na galeria acompanhar de perto o trabalho dos profissionais, através de uma janela generosa.

 

 

Em 08 de janeiro de 1996, os Guimarães dos Anjos faziam uma descoberta que mudaria definitivamente o rumo de suas vidas e da história carioca quando, a partir da reforma de sua residência na Gamboa, foi encontrado o Sítio Arqueológico Cemitério dos Pretos Novos – logo no primeiro dia de obra durante uma manutenção na casa em que vivem até os dias de hoje. Desde a sua fundação, em 13 de maio de 2005, a família tem se mobilizado para preservar o sítio arqueológico e reverenciar a memória dos quase 60 mil corpos despejados naquele pequeno terreno. A presidente do IPN, Merced Guimarães dos Anjos revela que a resistência de sua família durante todos esses anos garante a continuidade das ações. ”O que, de fato, interessa é poder preservar este patrimônio e colaborar para que esta história não seja esquecida jamais”; reitera a diretora.

 

 

Programação dobrada com abertura da exposição ”Erva Santa”, do artista visual Geleia da Rocinha.

 

As obras da série “Alguidar” trazem o talento e olhar do artista, nascido e criado na favela da Rocinha, através de ervas sagradas utilizadas nos ritos das religiões de matriz africana para a galeria de arte contemporânea. O curador do IPN, Marco Antonio Teobaldo, destaca que desde sua fundação (em 2005) o espaço se transformou em um lugar de respeito à memória daqueles que por ali passaram, mas principalmente de resistência. ”A exposição “Erva Santa” marca a reabertura da galeria de arte contemporânea e se apresenta como um instrumento de divulgação dos saberes das religiões de matriz africana e também como inspiração para o combate ao racismo religioso, que vem crescendo nos últimos anos, sobretudo no estado do Rio de Janeiro” – acrescenta Marco Antonio Teobaldo.

 

Além do Museu Memorial e da Galeria de Arte Contemporânea, o IPN também conta com uma Biblioteca e um auditório constantemente ocupado com a programação de oficinas ao longo de todo o ano. Após quase dois anos de distanciamento social, o Museu já se encontra funcionando normalmente. As visitações gratuitas acontecem às terças-feiras das 10h às 16h. As pagas são de quarta à sexta das 10h às 16h e aos sábados  das 10h às 13h com ingressos a R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia entrada).

 

Sobre o IPN

Descoberta do sítio arqueológico.

 

O sítio arqueológico Cemitério dos Pretos Novos (1769 – 1830) é uma das principais provas materiais mais contundentes e incontestáveis encontradas até hoje sobre a barbárie ocorrida no período mais intenso do tráfico de seres humanos. Foram depositados neste cemitério os restos mortais de dezenas de milhares de africanos brutalmente retirados de sua terra natal e trazidos à força para o trabalho escravo. Apesar de ser considerado o maior cemitério de escravizados deste gênero nas Américas, o terreno destinado aos ”sepultamentos” é muito pequeno e ocupa ”apenas” quatro imóveis da Rua Pedro Ernesto. Os vestígios arqueológicos e históricos são provas da ação violenta e cruel sofrida pelos africanos que não resistiram aos maus tratos da captura e viagem transatlântica.

 

Fundação do IPN

 

Devido ao descaso das autoridades e morosidade na realização de pesquisas, a família Guimarães dos Anjos decidiu fundar o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), nove anos após a descoberta do sítio arqueológico, em 13 de maio de 2005. O IPN é uma organização não governamental, apartidária e sem fins lucrativos, que tem por missão pesquisar, estudar, investigar e preservar o patrimônio material e imaterial africano e afro-brasileiro, com ênfase ao sítio histórico e arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, valorizando e salvaguardando parte da memória diaspórica e identidade cultural brasileira.

 

Texto: Priscila Bispo  Imagens: Alex Ferro

 

Três artistas no Museu da República

02/jun

 

 

Será inaugurada dia 04 de junho, no Palácio do Catete, Museu da República, Rio de Janeiro, RJ, a exposição coletiva “Nem sempre dias iguais”, com cerca de 68 obras das artistas cariocas Bárbara Copque, Cláudia Lyrio e Yoko Nishio. Com curadoria de Isabel Portella, a mostra ocupa as três salas de exposições temporárias do Palácio do Catete com pinturas, desenhos e fotografias, produzidas durante o isolamento social.

 

Os trabalhos tratam de temas cotidianos, para além da pandemia, como o nosso contato com o mundo através das telas, as relações interpessoais e o excesso de informações e imagens fragmentadas do nosso dia a dia. “Os trabalhos resultam dos afetos provocados pelo período pandêmico em nossas pesquisas individuais”, dizem as artistas.

 

 

O Pequeno Colecionador

01/jun

 

Projeto com brinquedos criados por destacados artistas contemporâneos, para crianças de todas as idades, chega ao Rio de Janeiro a partir do dia 03 de junho e será apresentado na galeria samba arte contemporânea. Grandes nomes da arte moderna do século passado, como Torres Garcia, Alexandre Calder e Paul Klee dedicaram parte de suas trajetórias para criar brinquedos para crianças. Inspirados neles, os artistas Artur Lescher, Mariane Klettenhofer e a diretora vice-presidente do Instituto Inhotim, Paula Azevedo, criaram o projeto “O Pequeno Colecionador”, que convida destacados artistas contemporâneos a criarem brinquedos para crianças de todas as idades. “O projeto busca pensar sobre a arte e a experiência do brincar em suas diversas formas, histórias e culturas”, dizem os idealizadores.

 

Lenora de Barros, Julio Villani, Irmãos Campana, Leda Catunda, Laura Vinci, entre outros 36 artistas já criaram brinquedos para o projeto, que surgiu em 2018, em São Paulo, e chega pela primeira vez ao Rio de Janeiro, sendo apresentado na samba arte contemporânea, em São Conrado.  Apesar de serem brinquedos, as obras não são voltadas apenas para o público infantil, mas para pessoas de qualquer faixa etária que queiram trabalhar o lúdico, o brincar, e também começar uma coleção. “A experiência do brincar estimula a criatividade, o senso de trabalhar em conjunto, que são coisas que os adultos também podem levar para as suas vidas pessoais. Achamos que muitas vezes falta um pouco de humor e criatividade na vida dos adultos e isso pode ser estimulado com os brinquedos”, afirmam os idealizadores.

 

Mais do que um brinquedo, as peças são obras de arte, com tiragem limitada, assinadas e certificadas. “Todos guardam uma identidade muito forte com o autor. O coeficiente artístico daquele brinquedo está presente, então é possível identificar a poética do artista em todos esses elementos. Além da experiência do brincar, do coletivo, do jogar, também tem uma experiência estética”, ressaltam Artur Lescher, Mariane Klettenhofer e Paula Azevedo. Com o projeto, os idealizadores pretendem estimular a relação com as artes desde a infância, aproveitando o gosto das crianças pelo colecionismo de forma geral, para estimular uma relação de afeto com a arte, assim como em pessoas que desejam começar uma coleção. “Criança gosta de colecionar, e não é necessário esperar chegar à fase adulta para começar uma coleção de arte. Além de não colecionar só pelo valor financeiro, mas também criar uma outra relação com a arte, um outro olhar, repensando até mesmo o mercado de arte”, afirmam. O projeto tem uma forte carga educacional e, além dos brinquedos, os organizadores também promovem oficinas, palestras e atividades on-line.

 

 

Ocupação fotográfica

31/mai

 

Curiosidade, indiscrição ou procura de comunicação? Objeto de uma pesquisa realizada aos longo de 18 meses, “Janelas Indiscretas, eu vejo o que você vê?”, individual de Marilou Winograd, teve início no isolamento decorrente da pandemia. Recolhida, com o universo visual reduzido, a geometria das janelas e a nova geometria dançante que se estabelecia ao anoitecer, com os pequenos pontos de luz piscando na escuridão, aguçaram o olhar da artista. Sob curadoria de Alexandre Murucci, a ocupação fotográfica é produzida por Carlos Bertão e Alê Teixeira e será aberta no dia 11 de junho, sábado, no Centro Cultural Correios RJ.

 

“Numa Copacabana desértica, silenciosa e triste, o apelo do surgir de cada farol aceso aquecia minha solidão à procura de alguma vida pulsando, nas sombras e silhuetas sugeridas. Comecei a fotografar todas as noites em diversos horários estes espaços iluminados, isolados, pequenos universos de calor e energia. Quantas historias e vidas em suspenso, juntas, mas separadas…”, relembra Marilou Winograd.

 

Poltrona, mesinha e dois bancos altos, um em cada janela, farão parte da sala redonda Proa. Serão usadas ao todo 20 ampliações grandes, medindo 100cm x 150cm, além de cerca de 150 fotos menores (30cm x 40cm), que serão sobrepostas. Haverá um ação performática no dia do vernissage.

 

“Em sua crônica de um tempo difícil, Marilou parte de fotos de ambiência hooperniana, onde ausências se transformam em personagens, até chegar em imagens difusas, experimentais, comodamente situadas na tradição fotográfica brasileira, de artistas como José Oiticica Filho e Geraldo de Barros. Quase abstratas, são, não apenas sua abordagem pictórica, mas também seu testemunho existencial, uma potência que reverbera intensamente em sua janela não-discreta. Uma janela que bradou por vida, enquanto a vida ficou suspensa, transmutando-se em arte pelo seu olhar.  Olhar este que nos indaga, humanamente ‘Eu vejo o que você vê?’”, analisa o curador Alexandre Murucci.

 

A palavra do curador

 

A obra de Marilou Winograd sempre foi pautada por atmosferas e memórias. Mesmo quando a subjetividade de sua composição formal se impõe, há um claro “psicologismo” sobre nossa recepção da realidade que propõe. Trabalhando com fotografias e a expansão de suas faturas em objetos e instalações em grande parte do corpo de sua produção, a artista mantém um rigoroso vocabulário plástico, ao mesmo tempo, suave e vigoroso. Na mostra que agora apresenta, Marilou nos traz um compêndio visual que mapeou sentimentos comuns à maioria das pessoas, neste período incomum do que foi a vida durante o período da grande pandemia da era contemporânea – a suspensão de nossas possibilidades de interação social e toda a angústia que isto provocou – globalmente. Neste trabalho, a artista instaura, a partir de sua própria sobrevivência emocional, uma geografia relacional com seu âmbito doméstico – aquilo que seu espaço lhe permitia apreender do mundo exterior, através de sua janela e de seu olhar como opção de comunicação restante, num momento que ficamos aprisionados em nossas circunstâncias.   Na exclusão física imposta, não bastou à artista as ferramentas que o admirável mundo novo nos proporciona.  Sua vontade de estar com o outro, expandiu-se pela procura de gestos, de vivências, de acenos possíveis, vistos da janela de seu apartamento, pairando por sobre uma Copacabana desértica, seu único canal de resiliência. De respiro! Num clássico da cinematografia universal “Janela Indiscreta”, de meados do século XX, o personagem principal, vivido por Jimmy Stewart, seguia na observação solitária, preso na incomunicabilidade de sua vida, refletindo a ansiedade e desconexão de nossos tempos, que já se estruturava no horizonte, com a difusão da TV e que hoje, potencializada pela vida digital, tornou-se o padrão de nossas relações. Aquilo que o sociólogo David Riesman chamou apropriadamente de “a multidão solitária”, pois já em seu livro de 1950, deferiu que a sociedade contemporânea tinha sido atomizada e cada vez mais seria caracterizada por pessoas vivendo entre si, mas à parte umas das outras. Porém, diferente da observação fria da trama policialesca do filme, o olhar da artista é empático, solidário… Foi, através do registro poético, sua forma de manter seu lugar no mundo.  E naquilo que sua sensibilidade transformou em urgência de expressão, nos brinda com uma abordagem documental desta experiência humana conjunta, que ainda será visitada muitas vezes, à luz da história. Neste percurso primordial, de procura pela vida que transbordava por frestas, luzes, sombras, salas, varandas e silêncios, Marilou vai desenvolvendo um tratado plástico, interagindo em nossa percepção, até que as imagens, à priori presas à realidade emoldurada por geometrias sensíveis, se diluam ao explodirem em movimentos de cores e formas de um repertório expressionista. Fauvista, poderíamos dizer. Isto, que de outra forma, se apresentaria como um desenvolvimento de autoralidade sobre o trabalho, é ainda mais tocante, por confidenciar que sua percepção atual do mundo, passa por um processo de acomodação sensorial, após algumas intervenções oftalmo-cirúrgicas que sofreu.   Ao nos trazer, em algumas imagens, aquilo que por vezes é seu limite de apreensão visual do mundo, ela nos dá oportunidade de um exemplo mais amplo de empatia, nos proporcionando o lugar do outro – a alteridade do “Em-si (en-soi)”/”Para-si (pour-soi)”, como colocou Sartre, em contraponto com os limites descarteanos da existência solitária do homem.

 

Sobre a artista

 

Nascida no Cairo, Egito, Marilou Winograd chega ao Brasil, no Rio de Janeiro, em 1960. Formada em Artes no CEAC (Centro de Arte Contemporânea), IBA (Instituto de Belas Artes) e EAV (Escola de Artes Visuais) do Parque Lage, no Rio de Janeiro, Brasil. Participou de exposições individuais e coletivas, congressos e seminários no Brasil e no exterior (1971/2022). É uma das curadoras do projeto Zona Oculta – entre o público e o privado, com 350 artistas mulheres (2004/2014), do projeto Acesso Arte Contemporânea, com 179 artistas visuais (2011/2022) e de várias coletivas, ocupações e convocatórias. Em 2004, publicou o livro “O Silêncio do Branco”, relato visual de sua viagem à Antártica, num contraponto com a sua obra. Entre os países onde já expôs, além do Brasil, estão: França (Paris), Alemanha (Berlim e Colônia), Argentina (Buenos Aires), Itália (Roma) e Portugal (Lisboa).

 

Visitação: de 14 de junho a 23 de julho.

 

 

Seminário presencial

20/mai

 

 

O Museu do Pontal, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, realiza em sua nova sede, o seminário “Modernismos, arte e cultura popular”, com dois encontros presenciais: o primeiro em 21 de maio e o segundo em 11 de junho. As relações entre modernismos e cultura popular brasileira permearão as discussões. O evento busca rever, pensar e entender melhor as conexões que podem ser feitas a partir de um Museu de arte popular em meio às comemorações dos 100 anos da Semana de Arte Moderna (1922-2022).

 

 

“O ato de comemorar implica não só lembrar e memorar algum evento, como também uma oportunidade para repensarmos seus significados, limites e transformações”, afirma Angela Mascelani, diretora do Museu do Pontal junto com Lucas Van de Beuque.

 

 

Entre os convidados estão os historiadores Martha Abreu, Durval Muniz de Albuquerque Júnior, Juliana Pereira, Lurian R. S. Lima; o sociólogo André Botelho, a cientista política Angela de Castro Gomes; os antropólogos Maria Laura Cavalcanti e Vinicius Natal; os curadores e ensaístas Clarissa Diniz e Frederico Coelho, e a historiadora da arte Renata Bittencourt. Alguns temas a serem debatidos são as narrativas dos intelectuais e artistas considerados modernistas em torno da cultura popular; e música popular e modernidade negra.

 

 

Os ingressos para os debates são gratuitos ou contribuição voluntária, e poderão ser adquiridos previamente pela plataforma Sympla.

 

 

Haverá certificado de participação.

Modernismos, Arte e Cultura Popular – Programação

21 de maio de 2022, sábado

10h – Abertura – Lucas Van de Beuque, Angela Mascelani e Martha Abreu

10h30 às 12h – Disputas de memória: por que debater a Semana de Arte Moderna de 1922?

Durval Albuquerque Junior e Angela Castro Gomes

Mediação: Juliana Pereira

14h às 15h30 – Qual o papel da cultura popular e de seus agentes nos rumos do modernismo?

Maria Laura Cavalcanti e Martha Abreu

 

 

 

Escrita-gesto de Rafaella Braga na Kogan Amaro

19/mai

 

 

A artista visual Rafaella Braga exibe a partir de 26 de maio e até 02 de julho a exposição individual  “Céu da Boca”, sob a curadoria de Carollina Lauriano na Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP.

 

 

Texto de Carollina Lauriano

 

 

Quando eu fui até o ateliê da artista Rafaella Braga para acompanhar o desenvolvimento das pinturas que compõem esta exposição, me chamou atenção que a grande escala de suas pinturas e o acúmulo de informações nelas contido trazem uma sensação inversa a essa primeira vista. Isso porque Rafaella consegue transmutar – como poucos – a cacofonia presente nos grandes centros urbanos em sensações opostas às que ela nos oferece. No lugar de desamparo, temos o acolhimento. Da racionalidade, o acaso. E do caos; silêncio. Isso talvez porque para a artista, pintar, antes de mais nada, seja um processo meditativo, de autoconhecimento e cura. No entanto, o texto é algo muito presente em suas pinturas. Rafaella utiliza o suporte como uma espécie de diário o qual a escrita está fora de sua função original de destinação, ou seja, expressam em si a essência do ato de escrever: a gestualidade. Aqui, sua escrita-gesto serve como um elogio ao ilegível, que também retoma aos anos que a artista dedicou-se ao graffiti – que foi seu primeiro lugar de incursão na arte. E aqui precisamos lembrar a marginalidade que esse tipo de expressão artística ainda é colocado e como trazer essa simbologia para dentro de uma pintura contemporânea, ainda hoje, é um ato transgressor. Aliás, aqui eu levanto um ponto importante sobre as pinturas de Rafaella. Elas estão o tempo todo nos fazendo lidar com uma sensação de oposição, e porque não, dualidade. Ao mesmo tempo que a gestualidade da sua escrita se expande a ponto de quase dominar todo o canvas, os gigantescos e imponentes seres imaginários que a artista pinta recorrentemente em suas telas têm um caráter introspectivo. E nesse exercício constante de expansão e retração, Rafaella nos mostra que é preciso um pouco de sonho e fantasia para encarar a realidade, e vice-versa. E é exatamente essa busca de equilíbrio que torna a pintura de Rafaella interessante. Observar uma jovem pintora desbravar lugares antes não dados a ela (geográfico e mentalmente) é pensar que sim: o céu é o limite. Céu, inclusive, é uma palavra que permeia todas as criações da artista. Um lugar de refúgio que ela se conecta para buscar conforto em qualquer lugar do mundo que ela esteja, em uma forma de nos dizer que para voar é preciso tirar os dois pés do chão. Todo esse otimismo pode parecer juvenil, e em parte é (sem aqui invalidar toda história de vida da artista, mesmo com sua pouca idade). Mas aqui precisamos nos atentar que Rafaella faz parte de uma geração comprometida com as mudanças que as gerações anteriores tem proposto como possibilidades de futuros mais plurais, diversos e inclusivos. E a artista decidiu fazer isso numa tentativa de conexão consigo e com seu entorno. Então essa exposição, nada mais é do que um convite a adentrar esse espaço como se entra em um templo meditativo e deixar com que os seres que podem nos assombrar, também nos acolham. Se Rafaella conseguiu docilizar os seus, porque nós não podemos tentar a mesma experiência? Às vezes os mais velhos ensinam os mais jovens. Às vezes o inverso também acontece. Eu tenho aprendido com a troca.

 

 

Sobre a artista

 

 

Rafaella nasceu em Goiânia, Brasil, 1998. Começou a traçar seu próprio caminho nas artes através do graffiti e depois se descobriu na pintura, explorando-a livremente e sem qualquer pré-concepção. Ela tem desenvolvido e materializado suas ideias principalmente em telas de grande porte, que podem ocupar paredes inteiras, revelando um método de trabalho fisicamente intenso. Usando a tela como diário, sua prática tem o corpo como matéria-prima, investigando o próprio delineado por suas vulnerabilidades e segredos, e gira em torno da interação entre realidade e fantasia, identidade e tempo, oferecendo uma alternativa onírica à realidade. A artista vem desenvolvendo projetos próprios, em colaboração com iniciativas internacionais como exposições coletivas. Rafaella Braga atualmente vive e trabalha em Berlim.

 

 

Outra visão do Brasil do século XIX

 

 

Johann Moritz Rugendas, Emil Bauch, Thomas Ender, Friedrich Hagedorn, Eduard Hildebrandt e Augusto Müller são alguns dos artistas e cientistas germânicos que registraram a paisagem humana e natural do país

 

 

Em 1999, o casal Maria Cecília (1922-2014) e Paulo Geyer (1921-2004) doou ao Museu Imperial, em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, sua coleção de arte e a casa que a abriga, no bairro carioca do Cosme Velho. Em 2014, a Coleção Geyer foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), tornando-se Patrimônio Cultural do Brasil. O conjunto era considerado a maior brasiliana em mãos particulares do país.

 

 

A partir desta coleção preciosa de 4.255 pinturas, gravuras, desenhos, mapas, livros de viagem e objetos, os curadores Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial, e o historiador de arte Rafael Cardoso selecionaram 200 obras, para reconstituir parte da contribuição germânica (alemães, austríacos e suíços) à formação cultural do Brasil do século XIX, completada por peças do acervo do Museu Imperial e itens emprestados da coleção particular de Flávia e  Frank Abubakir. Nasceu, assim, a mostra “O Olhar Germânico na Gênese do Brasil”, em cartaz a partir de sábado, 21 de maio, no Museu Imperial, sob patrocínio da Unipar, através da Lei de Incentivo à Cultura.

 

 

“Ao contrário do que preconiza o senso comum, que costuma enfatizar a relação com a França, a participação de artistas de língua alemã foi intensa e constante ao longo do século XIX. A exposição recupera o legado desses artistas através das obras de Thomas Ender, J.M. Rugendas, barão de Löwenstern, Ferdinand Pettrich, Augusto Müller, Friedrich Hagedorn, Eduard Hildebrandt, Franz Keller, Ernst Papf, Emil Bauch, entre outros, oferecendo uma visão nova e vibrante do Brasil numa época formativa para a ideia da nacionalidade”,  declara a curadoria.

 

 

Cena política internacional

 

 

Foi depois da derrota de Napoleão Bonaparte que o Império Austríaco e o Império Português, então sediado no Rio de Janeiro, começaram a firmar uma aliança estratégica – expressada pelo casamento do príncipe D. Pedro de Alcântara com a arquiduquesa Leopoldina, filha do imperador austríaco Francisco I, em 1817. A comitiva que acompanhou a futura imperatriz em sua vinda ao Brasil incluiu os naturalistas Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius, incumbidos pela Academia de Ciências da Baviera de realizarem longa viagem de pesquisa pelo país. Trocas efetivas se ampliaram a partir de então.

 

 

A exposição

 

 

“O Olhar Germânico na Gênese do Brasil” está dividida em núcleos que contemplam os temas: Rio de Janeiro à vista – pinturas de paisagem com temática do RJ; Retratos da vida da corte – retratos de notáveis do Império; Olhar a gente brasileira – obras com figuras anônimas, a maioria aquarelas e desenhos; Imaginar o Brasil – livros e estampas litográficas relacionadas a vistas e viagens pelo país, e O olhar do colecionador, instalação com imagens e objetos da Casa Geyer.

 

 

Rio de Janeiro à vista

 

 

Com a abertura dos portos em 1808, passaram a circular pelo mundo marcos paisagísticos do Rio de Janeiro, como Corcovado, Pão de Açúcar, Igreja da Glória e Morro do Castelo, em pinturas e litografias. Esta internacionalização propiciou trânsito comercial, diplomático, científico e a vinda de artistas, atraídos pela natureza deslumbrante do novo país. Muitos vinham de países de língua alemã. Neste núcleo está a contribuição destes artistas à formação de uma iconografia da cidade. A onipresença da escravidão não escapou à atenção dos pintores.

 

 

Retratos da vida da corte

 

 

A concessão de títulos nobiliárquicos e honrarias servia para confirmar o status social e econômico. Os contemplados iam da família imperial a súditos anônimos e duques, marqueses, condes, viscondes, barões, comendadores e dignatário de ordens imperiais. Neste segmento estão retratos pintados de notáveis. Eles exerceram a função de dar visibilidade à posição social do retratado. O mercado local se tornou atraente para artistas estrangeiros especializados em retratos. E eles vieram para o Brasil.

 

 

Olhar a gente brasileira

 

 

Os artistas do século XIX registraram o cotidiano de uma sociedade ainda afundada nas relações perversas com a escravidão. A massa escravizada, presente na paisagem humana, está retratada nos trabalhos deste núcleo. A estranheza do cenário aos olhos dos artistas estrangeiros os moveu a chamar a atenção do mundo para a situação dos escravos, que a sociedade fingia ignorar.

 

 

Imaginar o Brasil

 

 

A circulação internacional de livros, estampas, panoramas e álbuns de vistas deste segmento evidenciou a contraposição entre uma Europa civilizada e o suposto exotismo do resto do mundo. O imaginário que se formou da natureza tropical, selvagem e indomável, passou a confrontar uma ideia de domesticidade e civilidade como marcas de pertencimento cultural. O olhar estrangeiro oferecia uma lente para os brasileiros que quisessem enxergar a imensidão do Brasil.

 

 

O olhar do colecionador

 

 

Maria Cecilia e Paulo Geyer passaram quatro décadas a coletar, em casas de leilões mundo afora, pinturas, gravuras, desenhos, mapas, livros de viagem e objetos de arte para criar a Coleção Geyer.  A doação integral do conjunto e da casa que o abriga a uma instituição pública (Museu Imperial) é um exemplo de caráter social e merece ser sempre festejada. Esta sala se dedica a invocar o espírito do casal de filantropos e recordar um ambiente da casa em que viveram durante tantos anos no Rio de Janeiro.

 

 

Homenagem a Petrópolis

 

 

Completam a mostra objetos produzidos por artistas germânicos radicados em Petrópolis, como as esculturas de madeira de Carlos Spangenberg –  suas bengalas eram apreciadas por D. Pedro II. Copos e pesos de papel de vidro e cristal lapidados por Henrique e Guilherme Sieber, eram os souvenirs mais procurados pelos que visitavam Petrópolis. As peças destes artistas e mais as pinturas de Karl Ernest Papf e de Friedrich Hagedorn, pertencentes à coleção do Museu Imperial, estarão lado a lado com itens da Coleção Geyer, como paisagens da cidade serrana e seus arredores. É uma homenagem da curadoria a Petrópolis, tão afetada pelas chuvas recentes.

 

 

Patrocínio

 

 

“O Olhar Germânico na Gênese do Brasil” tem patrocínio, através da Lei de Incentivo Fiscal, da Unipar, hoje fabricante de cloro, soda e PVC, cuja origem, a Refinaria União, foi fundada por Alberto Soares de Sampaio, pai de Maria Cecília Geyer, como refinaria de petróleo. Seu genro Paulo Geyer se tornou sócio de Alberto neste negócio. Após a morte de Geyer em 2004, seu neto Frank Geyer Abubakir entrou para o conselho da empresa, representando os herdeiros. Em 2008, Frank se tornou chairman e atualmente é presidente do conselho da Unipar.

 

 

Exposição Enciclopédia Negra no MAR

12/mai

 

 

A mostra “Enciclopédia Negra”, que esteve em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, chegou ao Museu de Arte do Rio (MAR). Para a mostra no MAR, seis artistas foram convidados para retratar personagens como Abdias Nascimento, Heitor dos Prazeres, Tia Ciata, Manuel Congo e João da Goméia. A exposição Coleção MAR + Enciclopédia Negra torna pública obras realizadas por artistas contemporâneos para retratar personagens que tiveram suas imagens e histórias de vida apagadas ou nunca registradas. A mostra procura rever e criar uma reparação histórica para conferir possibilidade de retratos a personalidades negras, já que antes do século XIX, apenas os nobres eram retratados. Já negras e negros, foram registrados, muitas vezes, em condições anônimas e em cenas como carregando mercadorias na cabeça.

 

 

O projeto Enciclopédia Negra, dos consultores e curadores Flávio Gomes, Lilia Schwarcz e Jaime Lauriano, trouxe o trabalho de 36 artistas contemporâneos que reproduziram retratos dos biografados e interromperam a invisibilidade que existia até hoje na vida dessas pessoas que ficaram com os rostos apagados pela falta de registros visuais na história. O trabalho resultou também num livro também que reuniu biografias de mais de 550 personalidades negras, em 416 verbetes individuais e coletivos, publicado em março de 2021 pela Companhia das Letras.

 

 

“O público vai conhecer a história de quase 200 personalidades negras porque as obras estão acompanhadas de pequenas biografias e ter contato com um catálogo sensacional de artistas negros, negras e negris. É uma oportunidade de ver o trabalho de jovens artistas, que têm feito uma arte figurativa, política, ativista e belíssima de grande qualidade e reconhecimento nacional e internacional. Essa é uma exposição em que o público irá de encontro a uma nova forma de se ver, estar e experimentar esse Brasil numa visão mais inclusiva e mais plural porque ela enfrenta de maneira direta uma política de apagamento das populações negras”, ressalta a consultora e curadora Lilia Schwarcz.

 

 

13 novos retratos

 

 

Na exposição “Coleção MAR + Enciclopédia Negra”, das 250 obras de artes expostas, 13 são novos retratos, criados por 6 artistas contemporâneos, convidados pelo MAR. Essas obras vão entrar para a coleção do museu após a mostra. Os artistas são Márcia Falcão, Larissa de Souza, Yhuri Cruz, Bastardo, Jade Maria Zimbra e Rafael Bqueer, que fizeram retratos de personalidades como Abdias Nascimento, Heitor dos Prazeres, Tia Ciata, Manuel Congo, Mãe Aninha de Xangô e João da Goméia. Os curadores do MAR Marcelo Campos e Amanda Bonan também criaram um diálogo, sobretudo, com a coleção africana e afro-brasileira do Museu de Arte do Rio.

 

 

“A exposição é constituída de retratos de personalidades negras da história como políticos, artistas, sambistas, advogados e engenheiros, que foram historicamente importantes, mas que não tiveram seus retratos produzidos. Esses registros, em sua maioria, são ficções, porque você não conhece as imagens dessas pessoas e cada artista criou seus recursos para trazer esse corpo que nunca foi visto até esse momento histórico de ser retratado”, comenta o curador chefe do MAR, Marcelo Campos.

 

 

A “Coleção MAR + Enciclopédia Negra” é a sexta exposição inaugurada neste ano pelo Museu de Arte do Rio, uma parceria com a Pinacoteca de São Paulo, restabelecendo nova conexão com outros museus.

 

 

“Recentemente inauguramos a exposição “Yorùbáiano” na Pinacoteca e agora chegou a vez do MAR receber a Enciclopédia Negra. A parceria com a Pinacoteca de São Paulo é um marco importantíssimo na relação e no desenvolvimento de exposições que conquistam cada vez mais audiência e que por terem perspectivas universais são representativas tanto da realidade do Rio quanto de São Paulo.”, ressalta Raphael Callou, diretor da Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI), instituição gestora do MAR.

 

 

Até 03 de julho.

Fonte: ArtRio