Esculturas em aço no MAM/Rio

31/out

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a partir de 09 de novembro de 2019 a exposição “Força Precisão Leveza – aço e criação artística”, que destaca o uso do aço como material na produção de três grandes artistas, de diferentes gerações: Amilcar de Castro (1920-2002), Franz Weissmann (1911-2005) e Waltercio Caldas (1946). Com curadoria de Franklin Espath Pedroso, as cerca de 30 esculturas – reunidas em uma área de 1.800 metros quadrados no segundo andar do Museu – pertencem ao Instituto Amilcar de Castro, Instituto Franz Weissmann, Waltercio Caldas, Pinakotheke Cultural, ao próprio Museu e à Coleção Gilberto Chateaubriand/MAM Rio, entre outros acervos.

 

A exposição celebra “o ingresso da Ternium como mantenedora do Museu”, informam Paulo Albert Weyland Vieira e Henrique J. Chamhum, diretores do MAM. A mostra tem ainda o apoio do IED (Istituto Europeo di Design), que desenvolveu a programação visual e, junto com o curador, o projeto expográfico.

 

“Força Precisão Leveza – aço e criação artística” propõe ao público uma reflexão sobre o uso do aço nas obras desses grandes artistas, seus diferentes processos e abordagens, e de que maneira eles desenvolveram questões como leveza, equilíbrio, geometria e matemática. O curador buscou aproximações sutis entre os trabalhos, ao invés de agrupar as obras por artistas. As obras percorrem um arco de tempo dos anos 1950 aos 2000.

 

“São três artistas de diferentes gerações e com um rico universo, e reunimos pela primeira vez este conjunto de esculturas, em que o público poderá observar a versatilidade e o desenvolvimento deste material neste período da história da arte brasileira”, diz Franklin Pedroso. “Vale lembrar que todas as obras aqui reunidas tiveram origem naqueles elementos brutos e primários que, submetidos à ação transformadora da ciência e da indústria, resultaram em um elemento chamado aço, ao qual cada um desses três artistas conferiu nova e diferente significação através de seus respectivos processos criativos”. O curador conclui afirmando que “nada transforma mais do que a arte. A arte transforma a vida e transforma o público, que por sua vez também transforma a obra de arte, que só adquire sua plena significação em virtude dessa interação com o espectador”.

 

Obras/Artistas

 

De Amilcar de Castro estarão 11 obras, de tamanhos variáveis, a mais antiga delas de 1955: “Shiva” (1955), em ferro, 90x150x155cm, que há décadas não era vista em exposições. Além do acervo do Instituto Amilcar de Castro, esculturas do artista pertencentes à Pinakotheke Cultural e à Coleção do MAM integrarão a exposição. Nos jardins projetados por Burle Marx, estará ainda uma escultura bem conhecida do público: “Sem título” (2000), de 240cm x 194,5 x 94 cm, doação feita ao Museu pelo poeta e crítico Ferreira Gullar.

 

Franklin Pedroso destaca que Amilcar de Castro “quase sempre utiliza placas densas e grossas de aço e simplesmente as dobra com tamanha suavidade como se fossem simples folhas de papel. Ele apenas faz incisões como se fossem linhas e dobra o aço. Com essas incisões cria os espaços vazios que às vezes o olho comum não é capaz de perceber em um primeiro instante”.

 

De Franz Weissmann estarão as obras históricas “Coluna concreta” (1951/2003), de 224 x 60 x 60 cm, um ícone da história da arte brasileira, e “Torre” (“Coluna neoconcreta I”, 1957), de 140 x 55 x 55 cm, além de “Sem título” (1957/2003), e outras das décadas de 1970, 1980 – como “Flor tropical” (1980) -, 1990 e a mais recente, “Espaço circular” (2004/2011), de 206 x 187 x 115 cm. Weissmann é o artista brasileiro com mais obras em espaços públicos.

 

O curador destaca que Weissmann “foi um dos grandes nomes do projeto construtivo brasileiro e sua obra é uma referência para muitos”. “Ele costuma trabalhar com placas de aço mais finas, mas nem por isso com menor força. Ele corta e as une com solda. São milhares de combinações num grande jogo de encaixes e repetições”, aponta.

 

De Waltercio Caldas estarão obras pouco conhecidas no Brasil, como “Mar de Exemplo” (2014), só vista no ano de sua criação no Sesc Belenzinho, em São Paulo, em aço inoxidável e acrílico, que ocupará uma área de 30m x 15m, e “O Incidente” (1995), nunca vista no Brasil. E complementam esculturas emblemáticas do artista que combinam aço inoxidável e fio de algodão ou lã, dos anos 1990 e 2000.

 

Franklin Pedroso afirma que “as obras de aço de Waltercio Caldas são sempre muito bem polidas e de grande precisão. Muitas vezes ele as combina com outros elementos que aparentemente são opostos ao aço: um simples fio de lã ou algodão ou até mesmo o vidro. Meticulosamente planejadas e executadas, suas obras expõem bem sua narrativa poética. São excepcionais, de pura harmonia e plenas de significados”.

 

“Maior produtora de aço da América Latina, a Ternium opera, desde 2016, na cidade do Rio de Janeiro, sua maior unidade operacional, gerando mais de nove mil empregos e promovendo ações e projetos sociais no seu entorno”, apontam Paulo Albert Weyland Vieira e Henrique J. Chamhum, diretores do MAM.

 

Projeto Educativo

 

O programa educativo Eu, Você e o MAM irá realizar atividades artístico-educacionais desenvolvidas especialmente para que se vivencie a exposição “Força Precisão Leveza – aço e criação artística”, disponibilizando inclusive transporte a escolas públicas e entidades sem fins lucrativos cadastradas, de toda a área do Grande Rio.

Fernanda Candeias, Gerente de Relações com a Comunidade da Ternium, ressalta a importância de apoiar ações que promovem arte e cultura. “A nossa prioridade é sempre incentivar o desenvolvimento social na cidade do Rio de Janeiro, em especial na comunidade de Santa Cruz. Ficamos muito felizes com a oportunidade de colaborar com a realização desta exposição, fomentando assim, arte e cultura para o nosso município”, disse.

Até 02 de fevereiro de 2020.

 

 

O “Wastha” de Duval em livro

29/out

O pintor e desenhista Fernando Duval, artista radicado no Rio de Janeiro desde os anos 1950 quando foi dos primeiros alunos das turmas formadas por Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro prepara-se para o lançamento do livro em Edição Especial com 60 anos do “Universo Imaginário de Fernando Duval”. Duval apresenta neste livro, em forma de dicionário, verbetes ilustrativos do “Whasthawastahunn”.

 

A obra do artista foi bastante registrada e analisada pela crítica de arte nacional especializada através de nomes como Walmir Ayala, Marc Berkowitz e José Neistein. Duval possui expressivo currículo artístico com passagens por diversos países como Itália, França, Espanha, Paraguai e Estados Unidos onde ilustrou o livro “The mountains of madness” de J P Lovecraft.

 

O primeiro lançamento será quinta-feira, 31 de outubro, no Centro Cultural da Justiça Federal, Cinelândia, Rio de janeiro, RJ, das 18h às 21h. E a seguir Duval seguirá um roteiro no Rio Grande do Sul, em 07 de novembro, em sua cidade natal, Pelotas, RS, e no dia 08 de novembro, na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.

 

Livro e Geometria

23/out

O pintor Luiz Dolino inaugura exposição individual e lança novo livro na Galeria Patrícia Costa, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. O artista é mais conhecido como Dolino, possui uma boa projeção e trânsito no exterior. Explora em suas obras as infinitas possibilidades do universo geométrico com maestria e pleno domínio em suas combinações e alternância de cores. Abertura às 19h do dia 23 de outubro.

 

Exposição de Bruno Miguel

07/out

Com diversas exposições internacionais no currículo, Bruno Miguel mostrará obras inéditas, que o destacaram no exterior, mas nunca foram apresentadas no Brasil. Nos últimos anos, Bruno Miguel expôs mais no exterior, onde também realizou residências. Muitas de suas séries, que o destacaram nos Estados Unidos, na Alemanha e no Peru, nunca foram vistas no Brasil. Com isso, surgiu a ideia da exposição “Youdon´tknow me”, que será inaugurada no dia 8 de outubro, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. A curadoria é de Agnaldo Farias. A mostra traz um recorte dos trabalhos mais emblemáticos do artista, produzidos nos últimos cinco anos.

 

A exposição ocupará todo o espaço expositivo da galeria, com cerca de sete séries de trabalhos, que abordam a construção da memória no universo doméstico, as relações do POP e do consumo e a pintura como pensamento expandido. Conhecido por aqui por suas pinturas sobre tela, Bruno Miguel tem uma ampla produção em diversos outros suportes, como escultura, desenho e instalação, incluindo também a pintura, mas que, muitas vezes, é apresentada de forma mais ampla, a partir do pensamento sobre pintura, em obras que não necessariamente utilizam a tela.

 

Dentre as obras apresentadas estará uma instalação da série “Mesa de Jantar”, composta por diversos guardanapos de papel, pintados com tinta Epóxi e vinil adesivo. Obras desta série foram mostradas duas vezes em Nova York, na Pensilvânia, em Lima, em Buenos Aires, em Bogotá e em Berlim, mas nunca no Brasil. Utilizando as formas de objetos de uma mesa de jantar, como pratos, copos, descansos de panelas e outros, o artista vai criando as obras a partir de um jogo entre o positivo e o negativo, utilizando cores e também o branco para destacar certos contornos e dar volume. O vinil adesivo imitando diferentesmadeirascomplementa a obra, dando a sensação de se tratar de uma mesa de jantar.

 

Na série “Sala de Jantar”, o artista apresenta pinturas sobre um conjunto de pratos de porcelana e faiança, comprados em leilões de antiguidade, que são dispostos na parede e pintados com esmalte, tinta a óleo e colorjet, com imagens que perpassam e continuam de um prato para outro, formando uma unidade. “Os pratos têm relação com o rizoma Deleuziano e o grafismo urbano do Rio de Janeiro, com o subúrbio onde moro, com as grades e as pichações que quem vive na cidade está acostumado a ver”, conta o artista, que ressalta que esses trabalhos se relacionam com os guardanapos da série “Mesa de Jantar”, apesar de terem um “caráter de excesso, oposto à estética minimal dos guardanapos”.

 

“O vazio que nos consome” é um conjunto de obras feito a partir de embalagensplásticas de produtos consumidos pelo próprio artista, que são lavadas, preenchidas com resina e tinta e ao final tendo as embalagens descartadas, se tornam um híbrido de pintura e escultura, memoriais do vazio cotidiano. Sem referência à embalagem original não épossível identificar sua origem, tornando-se suportes de cores, que ficam levemente descoladas da parede. “Essas obras vêm da relação do POP com o ambiente doméstico e falam sobre a feitichizaçãodo consumo, sobre o condicionamento social de que consumir faz parte da nossa estrutura”, afirma Bruno Miguel. Essa é uma das obras em que o suporte é a escultura, mas cujo corpo da obra é construído como se fosse pintura, sobrepondo camadas de resina.

 

Farão parte da exposição, ainda, obras da série a série “Candy”, onde, em um suporte de madeira coberta de resina, são inseridas formas coloridas, também de resina, que lembram balas e doces. Essas “balas” são preparadas pelo artista em fôrmas de silicone próprias para a feitura de doces. Novamente explorando a tridimensionalização dos processos pictóricos, ampliando o campo das fronteiras sobre o que pode ser a pintura hoje. Complementa a exposição asérie “Objetos de natureza morta”, obras pictóricas tridimensionais, que reúnemglobos de luz, luminárias, sacos vazios e garrafas, que são preenchidos com resina pigmentada. Essa obra é um desdobramento da instalação “Cristaleira“, apresentada no Oi Futuro Flamengo, em 2015.

 

Sobre o artista

 

Bruno Miguel nasceu no Rio de Janeiro, em 1981. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, formado em artes plásticas e pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fez diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde é professor desde 2011. Possui obras em importantes coleções públicas e privadas, como Museu de Arte do Rio (MAR), Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM- Rio, Deutsche Bank Collection, Centro Cultural São Paulo, entre outras. Recebeu menção especial de honra V Bienal Internacional de La Paz, Bolívia, e realizou residências na FountainheadResidence (2019), em Miami, EUA; no Vermont Studio Center(2018), em Vermont, EUA, e na DreamplayArtists in Residence – Fall (2013), em Lyndhurst, EUA.

 

Dentre suas principais exposições individuais estão: “Youcan´ttakeitwithyou?” (2019), no PCA&D Lancaster, na Pennsylvania, EUA;“Welcome Lima” (2018), no Espacio Tomado, em Lima, Peru; “SeductionandReason” (2017), na Sapar Contemporary, em Nova York, EUA; “A Viagem Pitoresca” (2016), no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, em Curitiba, e “Essas pessoas na sala de jantar” (2016), no Centro Cultural São Paulo; “Sientase em casa” (2015), na Sketch Gallery, em Bogotá, Colômbia; “A Cristaleira” (2015), no Oi Futuro, no Rio de Janeiro; “Essas pessoas na sala de jantar (2015), no Paço Imperial, no Rio de Janeiro; e em 2016 no Centro Cultural São Paulo, “Ex-culturas” (2013), na Galeria do Lago, no Museu da República, no Rio de Janeiro; “MakeYourselfat home” (2013), no S&J Projects, em New York; “Tudo posso naquilo que me fortalece” (2013), na Luciana Caravello Arte Contemporâna, entre outras. Dentre suas principais exposições coletivas estão: “Manjar: Para Habitar Liberdades” (2019), no Solar dos Abacaxis, no Rio de Janeiro; “The World on Paper” (2018), no Palais Populaire, em Berlim, Alemanha; “A Luz que Vela o Corpo é a Mesma que Revela a Tela” (2017), na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro; “São Paulo não é uma cidade, invenções do centro” (2017), no SESC 24 de Maio, em São Paulo; “Arte em Revista” (2016), na Galeria do BNDES, no Rio de Janeiro; “EBA 200 anos” (2016), no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro; “Trio Bienal” (2015), no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, entre outras.

 

Sobre o Curador

 

Agnaldo Farias é professor-doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, crítico de arte, curador geral do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba e curador da 3ª Bienal de Coimbra, Portugal. Realizou curadorias de exposições para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Instituto Tomie Ohtake, Centro Cultural Banco do Brasil e para a Fundação Bienal de São Paulo, entre diversas outras instituições. Foi curador de Exposições Temporárias do Museu de Arte Contemporânea da USP (1990/1992) e curador geral do MAM/RJ (1998/2000). Na Fundação Bienal de São Paulo, participou de suas 16ª e 17ª (1981 e 1983), na seção de cinema da equipe de Walter Zanini. Curador da Representação Brasileira da 25ª Bienal de São Paulo (1992), curador adjunto da 23ª Bienal de São Paulo (1996) e da 1ª Bienal de Johannesburgo (1995). Ainda, ao lado do curador Moacir dos Anjos, assinou a curadoria geral da 29ª Bienal de São Paulo (2010) e manteve a parceria na Representação Brasileira da 54ª Bienal de Veneza (2011), com uma exposição de Artur Barrio.

 

Até 09 de novembro.

 

Catálogo grátis

03/out

Será neste sábado, 05 de outubro, a partir das 14h, o lançamento do catálogo da exposição “Nas Asas da Panair”, no Museu Histórico Nacional,Rio de Janeiro, RJ. Nesse dia, a publicação será distribuída gratuitamente aos visitantes. Depois, o exemplar custará R$ 50 na lojinha do museu.

 

Neste dia, celebra-se também 53 anos de Família Panair, grupo de ex-funcionários e familiares formado em 1966, um ano após o fechamento da companhia aérea, ao tempo da Ditadura no Brasil, por ordem do Marechal Castello Branco.

 

“Nas asas da Panair” exibe, até 13 de outubro, parte do conjunto de 700 ítens que formam a coleção de memorabilia doada pela Família Panair ao Museu Histórico Nacional.

 

O catálogo tem 48 páginas, textos da historiadora Mariza Soares, curadora da mostra, de Rodolfo da Rocha Miranda, diretor-presidente da Panair do Brasil, e do jornalista e escritor Daniel Leb Sasaki, e cerca de 100 ilustrações.

 

 

 

Exposição Mario Mendonça

30/set

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Shopping Gávea Trade Center, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 05 de outubro a 09 de novembro a “Exposição Mario Mendonça”. A mostra conta com 37 telas, em destaque para algumas obras inéditas.

 
“Se parar de pintar… paro de respirar”

 

Mario Mendonça

 

Mario Mendonça nasceu no Rio de Janeiro, em 1934. Cursou Direito e trabalhou na empresa do pai por algum tempo, mas sua vocação pela arte sempre se manifestou, desde que, nos primeiros anos do Colégio Santo Agostinho, os padres confiscavam seus cadernos quando o flagravam desatento às aulas, desenhando.
Autodidata no campo artístico e católico de formação, a pintura sacra o impactava desde as missas frequentadas em família. Mario era afetado (a palavra deriva de afeto) por esse tipo de pintura, sobretudo a de Georges Rouault e Mathias Grunewald até que, em 1961, conheceu Emeric Marcier, em uma reunião de trabalho na corretora onde trabalhava. Havia um caderno de desenho sobre sua mesa e o artista folheou, convidando o jovem para visitar seu ateliê no sábado seguinte. Ali, no pequeno apartamento da Timóteo da Costa, Mario se deparou com um Cristo em proporções monumentais, ainda no cavalete e se apaixonou irreversivelmente. Foi acometido pelo pathos que se abriu em sua vida: a partir de então, estava decidido a viver da e para a arte.

Sua primeira professora de desenho foi Caterina Baratelli, uma italiana indicada por Marcier para o pupilo aprender o básico. E o desafiou: “depois que ela o dispensar das aulas, retorne aqui para o seu curso superior” (contou-me Mario em entrevista oral, 2019). Só que paralelamente às aulas de Baratelli, frequentava também as de Ivan Serpa e Aluísio Carvão, no MAM-RJ. Este parece ter sido um dos motivos de seu desentendimento posterior com Marcier. Antes, porém, chegou a viver um tempo em Barbacena, no sítio do pintor romeno. Mario confessa que ele o influenciou intensa e profundamente por 25 anos e sua admiração por Marcier é inesgotável, mas a amizade não foi. Romperam em 1964 quando, ao final do ano, Aluísio Carvão organizou uma exposição individual do aluno no próprio museu. Desde então, Carvão seguiu sendo mestre, amigo e parceiro de ateliê de Mario Mendonça por quase 40 anos, até o seu falecimento em 2001.

Com Carvão, Mario descobriu a magia das cores que passou a aplicar em suas obras, antes em tons escuros. Os temas preferidos continuavam a ser as cenas bíblicas e as paisagens montanhosas, duas constantes em sua pintura. Além das cores, trouxe a multidão compassiva para compor seus apocalipses, crucificações e calvários. “Trazer a multidão significa trazer à cena o nosso contemporâneo”, explica (entrevista oral, 2019). Ao cenário sagrado, incorporou também o impacto dos horrores do Holocausto: seus Cristos são cadavéricos e deformados, tão lúgubres quanto esteve a condição humana naquele período de Guerra Mundial e Guerra Fria. Sobre essa dimensão de seu trabalho, Walmir Ayala acrescenta que o artista realiza uma “abstração revolucionária dos cânones clássicos das imagens sagradas” e arremata toda uma trajetória artística no resumo inconteste: a obra de Mario se trata de um “apaixonante romance da salvação”. (Apud. In: Mendonça. Espaço Mendonça, 2003).

Retornando à cronologia, após a sua inédita exposição no MAM-RJ (1964), destacaram-se alguns marcos na carreira do artista: em 1967 expôs na Maison de France e pintou o interior da primeira igreja (Matriz dos Santos Anjos, Leblon). Muitas pinturas sacras em capelas se seguiram após esse evento inaugural, tendo pintado o interior de dez igrejas entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, culminando com a Capela do Corcovado, no Rio de Janeiro, que abriga a sua solene Ressurreição de Cristo, desde 2014. Quanto às exposições, no ano 1970 realizou uma individual na Alemanha, que lhe abriu um leque de oportunidades internacionais: Portugal (ainda em 1970), Roma (1976 e 1982), Madri (1979), Bulgária (1987), Paris (1988) e Alemanha novamente, em 1989. No âmbito nacional, destacam-se a sua primeira exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes (1972), composta de paisagens e uma impactante Via Sacra na entrada do Museu; a de arte sacra na Galeria Ipanema (1978), eleita uma das melhores naquele ano; a sua Retrospectiva na Casa do Bispo (1985, parceria da Fundação Roberto Marinho com a Arquidiocese do Rio de Janeiro, contendo 115 telas sacras do artista) e a exposição Abertura do Novo Milênio (2001, MNBA-RJ) que o consagrava como um pintor religioso secular.

Além desses marcos expositivos, Mario recebeu medalhas de honra e prêmios nacionais e internacionais por seu trabalho; teve obras escolhidas para compor acervos importantes, como o do Vaticano, o do Museu Ibero Amerikanishes Institut (Berlim), o do Museu Nacional de Belas Artes, os de palácios de governos no Estado de Minas Gerais e o do Palácio do Planalto, em Brasília; foi convidado para membro das Academias Brasileira de Arte (ABA) e de Belas Artes e também para conselheiro de cultura da Arquidiocese do Rio de Janeiro; editou livros sobre sua pintura e seus desenhos; criou um instituto cultural em Tiradentes, MG (2011); manteve uma linda família e pintou, pintou e pintou, com disciplina e paixão. Hoje, com 85 anos, Mario continua devoto de sua própria arte. E depois de um período de 20 anos sem expor, apresenta 37 obras (algumas inéditas) na Galeria Evandro Carneiro Arte.

Laura Olivieri Carneiro,

setembro de 2019.

 

Museu Histórico conta a sua história

26/set

Em comemoração aos 85 anos do MHCRJ, o Pavilhão de Exposições Temporárias, Casarão, Gávea, recebe a exposição “O Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro conta a sua história”. A mostra recupera a trajetória da instituição para além dos fatos que a conformam, explorando aspectos diversos da atividade museológica e tornando conhecidos os rostos por trás dela. Para contar essa história, recorreu-se à memória de alguns destes agentes – do passado e do presente -, à fotografias da coleção do Museu, além de peças do seu rico acervo, como o estudo da Cabeça do Cristo e trabalhos do Mestre Valentim.

 

A exposição integra a 13ª Primavera dos Museus, uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), que este ano traz como tema “Museus por dentro, por dentro dos museus”.

 

Até setembro de 2020.

 

Exibição prorrogada

Roberto Magalhães e Carlos Vergara, dois expoentes da arte contemporânea brasileira, amigos há décadas – desde os tempos da “Nova Figuração” com os companheiros de ofício Antonio Dias e Rubens Gerchman – apresentam uma exposição em conjunto. A mostra, em cartaz na galeria Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, foi prorrogada e permanecerá até 11 de outubro. Ao todo, são cerca de 20 trabalhos, ligados sob o fio do desenho e da obra gráfica. Os dois artistas criaram em conjunto novos trabalhos. A ideia é fazer com que a obra de dois artistas que seguiram carreiras paralelas com traços autorais muito fortes e absolutamente distintos possa se tocar pela primeira vez, em um horizonte improvável. Para criar essas obras, o espaço da galeria se transformou em ateliê e os artistas tiveram telas à sua disposição. Em cada uma, foram traçadas uma linha divisória: um desenha e pinta a parte de cima e outro a de baixo. Depois, eles invertem a ordem. “Não se trata de uma competição, mas de um desafio criado por eles mesmos como um gesto de respeito e admiração um pelo outro”, diz Maneco Müller, sócio da galeria.

 

Pioneiros da nova figuração brasileira, participantes da icônica exposição “Opinião 65”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1965, Roberto Magalhães e Carlos Vergara se conheceram ainda na adolescência, tiveram protagonismo cedo, desenvolveram longa carreira nas artes visuais e sempre foram muito próximos. Ao mesmo tempo, suas criações são definitivamente distintas. Até no temperamento são diferentes: Vergara é expansivo, enfático, agitado, veemente, esportista; Roberto é silencioso, introvertido, calado, contido e observador de tudo. Ainda assim, há um silêncio misterioso que os une em torno da transcendência ou “na busca do inefável”, como diz Vergara, que, em sua trajetória de “pintor viajante”, sempre traz como pretexto as trilhas misteriosas dessa busca. Magalhães, por rumo muito diverso, sempre esteve mergulhado nas questões místicas e suas obram falam de um mundo etéreo. “Minha arte é a busca e a expressão da subjetividade”, explica ele.

 

Na exposição, Vergara traz obras de duas séries: “Coração”, de técnica mista sobre papel, entre impressão, aquarela e pigmento, e outra chamada “Bodoquena”, com desenhos de uma viagem do artista à serra de mesmo nome, no Mato Grosso do Sul. São trabalhos recentes, de média proporção. Entre os trabalhos de Roberto, a maioria é inédita e outros são praticamente desconhecidos. São obras sobre papel, em técnica mista (bico de pena e aquarela). “Meus trabalhos têm uma conotação mística, esotérica, tema que eu persigo desde a década de 70. Sou um estudioso do assunto”, diz o recluso artista, que na semana que antecede à exposição, retorna de uma região desértica e isolada no noroeste da Argentina para onde foi meditar e desenhar.

 

“O primeiro nome que pensei para essa exposição foi Paralelos, depois tive uma ideia: por que não ‘Roberto Carlos’? Roberto Magalhães e Carlos Vergara!”, diverte-se este, feliz com a oportunidade de trabalhar ao lado do velho amigo. “Eu me dou com o Roberto desde 1959. Frequentava a casa dele, na Rua Farani, que era uma espécie de república de artistas. Fizemos muita coisa juntos, exposições, mas temos caminhos, interesses, ideias e métodos de trabalho muito diferentes. Isso, entretanto nunca nos afastou. Sempre tivemos ótimo convívio”, disse Vergara. “Apesar de certa ansiedade para saber como ficarão os nossos improvisos, vai ser inusitado… E divertido. É um grande prazer dividir essa exposição com o Vergara”, diz Roberto.

 

Mas a ideia de reunir a dupla na exposição vai muito além de uma crônica entre dois personagens das artes plásticas brasileiras. Segundo Maneco, essa é uma mostra a ser contemplada com calma e concentração. “É necessário repousar o olhar em cada trabalho para que a exposição possa ser absorvida com toda a sua intensidade”, finaliza ele.

 

48 mil pessoas na ArtRio

23/set

Pluralidade e acessibilidade. Essas duas palavras deram o tom da ArtRio 2019, que terminou na Marina da Glória. O evento, que teve a participação de cerca de 80 galerias, recebeu público de 48 mil pessoas, distribuído em 5 dias de feira, e ocupou uma área de 10.600 m². Em 2020, quando completa 10 anos, a ArtRio está confirmada entre os dias 09 e 13 de setembro.

 

“Esse foi um ano marcante para a ArtRio, com muitas transformações e nova programação. Queremos que cada vez mais a ArtRio seja plural, ao valorizar e trazer para o público diferentes formas e linguagens de arte. Queremos mostrar como a arte e a cultura são a base de nossa formação, nossa história, e o fio que nos conduz para o futuro”, indica Brenda Valansi, presidente da ArtRio.

 

A partir deste mês, a ArtRio entra em uma nova fase de sua história. A plataforma ArtRio passa a ter como sócia, junto com Brenda Valansi, a Dream Factory, empresa de experiência ao vivo, com escritórios no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Fundada em 2001, faz parte do Grupo Artplan e entre os grandes projetos atualmente assinados pela empresa estão o Rio Montreux Jazz Festival, a Árvore do Rio, a Maratona do Rio, Carnaval de Rua do Rio e o Sertões, maior rally das Américas que cruzou o país em agosto.

 

A Dream Factory irá atuar nas áreas de patrocínios, projetos multiplataforma e produção da ArtRio. Brenda Valansi permanece presidente da ArtRio, responsável por todo o conteúdo, seleção de galerias e curadores e desenvolvimento de novos projetos e ações ligadas a arte.

 

“Buscamos formar o mais representativo mosaico da enorme cultura brasileira investindo em projetos que são líderes em seus segmentos. A ArtRio veio complementar o portfólio da Dream Factory com sua plataforma de alto valor, disseminando arte ao longo de todo o ano em diferentes formatos e buscando atingir os mais diversos públicos. Nossa atuação terá foco em ampliar a atuação da ArtRio, sempre com essa essência inovadora, que faz parte de seu DNA. Um ponto extremamente relevante é a multiplicidade de ações para disseminação da arte, que tem seu ápice nesta feira de visibilidade internacional”, reforça Duda Magalhães, presidente da Dream Factory e vice-presidente executivo do Grupo Artplan.

 

A ArtRio teve dois setores gerais, PANORAMA e VISTA, com galerias selecionadas pelo comitê curatorial. Pelo segundo ano, a feira apresentou o programa BRASIL CONTEMPORÂNEO, com galerias trazendo artistas de fora do eixo RJ-SP. O evento teve ainda três programas curados: SOLO, com curadoria de Sandra Hegedüs; MIRA, com curadoria de Victor Gorgulho; e PALAVRA, assinado por Gabriel Gorini.

 

Desenvolvendo um forte trabalho de valorização da arte brasileira, a ArtRio trouxe para o Rio esta semana mais de 100 colecionadores e curadores, brasileiros e estrangeiros. Além de visitar a feira, este grupo tem uma programação especial que incluiu visitas a ateliês, coleções privadas e instituições culturais e museus.

 

Uma importante agenda desse ano da ArtRio foi o lançamento do ArtRio Educacional. Com foco na democratização da arte e do conhecimento, a ArtRio, em parceria com a Aliansce Sonae, produziu a mostra inédita História da Arte, Olhar e Descoberta. Totalmente interativa e gratuita, a ação estreou no Bangu Shopping, onde permanece até o dia 29. Em 2020, a mostra chega ao Carioca Shopping, Caxias Shopping e Shopping Grande Rio.

 

Com curadoria da museóloga e professora de arte Libia Schenker, a mostra foca no período do Renascimento ao Expressionismo Abstrato. A exposição traz 10 totens interativos, e cada um explica o movimento artístico através de imagens de obras emblemáticas de grandes artistas. A locução é da cantora Roberta Sá. Em mais uma ação que extrapolou o espaço da Marina da Gloria, levando a ArtRio para diversos bairros da cidade, foi organizado um circuito de visita a ateliês, com os artistas apresentando seu processo de criação e metodologia de trabalho.

 

Dentro da programação do Conversas ArtRio, agenda de discussões, palestras e debates com artistas, galeristas, colecionadores, diretores e instituições e curadores. Foram nove programas com diversos temas da atualidade, entre eles Arte e Tecnologia e Colecionismo Consciente. A Artrio 2019 tem patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e da Osklen, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Tem ainda apoio da Audi, Aliansce Sonae, Osklen, Rio Galeão, Shopping Leblon, Stella Artois e Green People, além de apoio institucional da Estácio, Bombay Sapphire, Breton, Perrier-Jouet e RUA. O Belmond Copacabana Palace é o hotel oficial do evento.

 

Durante a ArtRio foram apresentados os vencedores da sexta edição do Prêmio FOCO Bradesco ArtRio, destinado a artistas jovens com até 15 anos de carreiras. Os selecionados em 2018 foram Paul Setúbal, Ana Hupe e Aline Xavier. Todos receberão residências artísticas e esse ano participaram com suas obras da ArtRio.

 

Prêmio FOCO ArtRio

 

Em sua sétima edição, o PrMeio FOCO ArtRio apresentou os dois artistas selecionados em 2019: Rafael BQueer e Tiago Santana. Os dois receberão como prêmio a participação em residências artísticas em reconhecidas instituições. Também tiveram seus trabalhos em um estande especial na ArtRio deste ano.

 

As residências do 7º Prêmio FOCO ArtRio são:

– Rio de Janeiro (RJ) – Residência Capacete

– Belém (PA) – Residência São Jerônimo

 

Rafael BQueer

 

Rafael BQueer se graduou em Licenciatura e Bacharelado de Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA – PA), mas hoje vive e trabalha no Rio de Janeiro. Como artista visual, se dedica a investigar sobre corpo, gênero e sexualidade, assim transitando por diversas linguagens, entre as quais performance, vídeo e fotografias. Na ArtRio, Rafael BQueer apresentou o projeto “Treme Terra”, um vídeo que explora a chamada “música tecnobrega” (gênero popular que reúne referências das músicas brega e eletrônica) do ponto de vista das Artes Visuais, para assim descolonizar a visão histórica que existe sobre a arte brasileira e se reconectar com a sua ancestralidade amazônica.

 

Tiago Sant’Ana

 

Artista visual, curador e doutorando em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Seus trabalhos imergem nas tensões e representações das identidades afro-brasileiras – tendo influência das perspectivas decoloniais. O açúcar aparece com recorrência em seus trabalhos recentes como uma tática de aproximar o debate sobre colonização com a atualidade. Foi um dos artistas indicados ao Prêmio PIPA 2018. Na série “Sapatos de açúcar”, o artista se utiliza do sapato como um símbolo precário da libertação das pessoas negras escravizadas no pós-abolição, transformando-o num objeto feito de açúcar. A tensão da série reside nos sapatos estarem prestes a serem dissolvidos na água do mar, um gesto para tratar da fragilidade da cidadania quando se refere à população negra.

 

 

Glauco Rodrigues, novo livro

20/set

Destacando a genialidade de Glauco Rodrigues, no dia 21 de setembro, a Danielian Galeria, Rio de Janeiro, RJ, promove o lançamento do livro “Glauco Rodrigues – crônicas anacrônicas, e sempre atuais, do Brasil” que homenageia a vida, a obra e a vitalidade do artista. O livro faz uma revisitação histórica de Glauco Rodrigues, apresentando a importância e relevância atemporal de sua obra pictórica. Nome de alto prestígio no cenário artístico nacional, Denise Mattar assina o livro sobre Glauco Rodrigues no qual é reforçada a importância e a grandiosidade do artista.

 

Além de textos de época como os de Roberto Pontual (1978) e Frederico Morais (1986), a publicação apresenta dois textos contemporâneos da autora do livro, a curadora Denise Mattar, e uma entrevista com o crítico francês Nicolas Bourriaud, feita por José Teixeira de Brito.

 

O livro apresenta duas importantes séries feitas por Glauco nos anos 1970: “A carta de Pero Vaz de Caminha” e “A Lenda do Coati-Puru”. O intenso trabalho de pesquisa contou com a assessoria de Norma de Stellita Pessoa, viúva do artista. Em 16 de outubro será a vez da badalada Livraria da Vila em São Paulo receber o lançamento. O livro estará à venda na Livraria da Travessa (Rio), Livraria da Vila (Jardins, São Paulo, SP) e Livrarias Curitiba.