Intervenção urbana

28/fev

O Projeto “Um índio na cidade” inicia com performance artística com índio e horta medicinal indígena para a sociedade civil cultivar e colher. “Em meio ao caos, o índio chega à cidade para passar seus ensinamentos de amor, compreensão, amizade e carinho com a Natureza”. Começou no Galpão das Artes o projeto “Um Índio na Cidade”, idealizado pelos artistas da CAW, à frente os parceiros do GAU Herik Wooleefer e Ju Yao. O projeto tem várias etapas e se estenderá até o mês de agosto, para lembrar e reforçar a reflexão sobre os valores culturais dos povos indígenas e a importância da preservação e respeito a esses valores. Foram dois anos de pesquisa de campo pelo diretor geral da CAW. A pesquisa foi realizada em tribos indígenas da Amazônia, Espirito Santo, e países do Mercosul, vivenciando os costumes e tradições. As tribos mostram e cultivam a resistência, cultura, ecologia, saúde, arte, força, ensinamentos centenários, fé e sustentabilidade, tudo com uma administração indelével, e economicamente equilibrada, quando não conseguimos ver tal habilidade nas cidades, lembrando da eficiência em preservação e conservação, além dos ensinamentos medicinais naturais. Estima-se que esta população tenha chegado a cinco milhões de habitantes, contudo, hoje são cerca de 300 etnias, com um número muito inferior ao que já foi (421.000). As principais tribos indígenas atualmente no Brasil são: Guarani, Ticuna, Caingangue, Macuxi, Terna, Guajajaras, Ianomâmi, Xavante, Pataxó e Potiguara. Antes da chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral havia ao menos mil. Hoje, os índios brasileiros ainda compartilham 150 línguas e dialetos e parte do repertório que já foi incorporado pelo português, como mandioca, Curitiba, Aquidauana, Iguaçu, tapioca, entre outros. O minimalismo do projeto, foi criado com base na pesquisa, respeitando os costumes e rituais. Talvez seja a arte mais afinada e refinada com o perfeccionismo. Leveza misturada com a atenção humana, sendo fatal movimentos bruscos na sua construção, danificando assim a obra. Uma construção delicada e insistente, fortalecendo o uso da coordenação motora fina com todo o significado cultural e artístico das pinturas corporais indígenas. Paralelamente, Herik Wooleefer deu início à intervenção urbana “Horta Medicinal Indígena”, com plantio de plantas tradicionais, adubadas com lixo orgânico, como casca de ovo, pó de café e casca de banana. Ficando de 01 de março a 30 de agosto, disponível para a sociedade cultivar e colher sem nenhum custo. Oficinas de plantio e consumo de plantas medicinais são oferecidas de modo gratuíto para escolas, como construção de uma geração com menos consumo de agrotóxicos e dependência em medicamentos, quando as ervas indígenas são suficientes.

 

O lançamento do projeto contou com performance criada pelo artista plástico Herik Wooleefer, sob a curadoria de Ju Yao e participação do ator Rodrigo Becker, representando a chegada do índio, caracterizado com seus trajes e pinturas tradicionais, também criada com detalhes. Expandindo na linguagem teatral infantil para o Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes na cidade do Rio de Janeiro nos dias 13,14, 20 e 21 de Abril com presença dos atores, Gustavo Celeste, Guilherme Gandolfo, Geysilane Marques, Matheus Porto, Vitor Senra, Gabi Neves, Alexandre Alves, Alessa Gomes e José Santos, com texto e direção de Herik Wooleefer, reforçando um comportamento social que precisa urgente mudar, para termos um meio ambiente saudável para nós e para as próximas gerações.

 

Intervenção Urbana – “UM ÍNDIO NA CIDADE”

 

De 01 de março a 30 de agosto – segunda a sexta – Grátis

Horário: 09:00 às 16:00 horas

Local: Galpão das Artes Urbanas, Av. Padre Leonel Franca s/nº – Gávea/RJ

Espetáculo Infantil – “UM ÍNDIO NA CIDADE”

Dias 13, 14, 20 e 21 – 16:00 horas – R$ 15,00/meia

Local: Teatro Armando Gonzaga, Av. Gal Osvaldo Cordeiro Farias, 511, Marechal Hermes/RJ.

Artes visuais e teatro na Carpintaria

20/fev

 

“Perdona que no te crea” investiga o cruzamento entre os campos das artes visuais e do teatro, em suas interseções e particularidades, reforçando a vocação da Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, na proposição de diálogos entre artistas, linguagens e disciplinas. O título da exposição inspira-se no bolero “Puro Teatro”, do compositor porto-riquenho Tite Curet Alonso, composto em 1970.

 

“Como em um cenário, finges sua dor barata”, anunciam os primeiros versos da canção, famosa na versão da cantora cubana La Lupe. Logo na entrada, a ideia de espaço expositivo funde-se a uma atmosfera cênica à medida em que produções contemporâneas compartilham o ambiente com registros fotográficos históricos. As colagens em tecido, linha e papel de Sara Ramo operam como cortinas que abrem-se e revelam “Marionete” (2018) de Marina Rheingantz e “Cruzeiro” (2018) de Leda Catunda, obras que empregam materialidades quase teatrais, apresentadas ao lado de fotografias de espetáculos como “Melodrama” (1995) da Cia. dos Atores e “Otelo”, de Shakespeare, encenada pelo Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, em 1946. Em conversa, travam relações entre aparatos e encenação, materiais e drama, representação e farsa.

 

Pensar uma dimensão da teatralidade na arte remonta ao Barroco, ainda no século XVI, quando pintura e escultura são tomadas por expressividade e exagero, através do uso de jogos de luz e da reprodução realista de gestos e encenações. Se “o espaço barroco é o da superabundância”, nas palavras do poeta e crítico Severo Sarduy, a “Ruína Modernista” (2018) de Adriana Varejão bebe desta herança ao realizar uma encenação da carne, dando corpo a uma matéria que não se quer verossímil mas sim teatral. Ao lado da obra, as pinturas de natureza naïf de Surubim Feliciano da Paixão arquitetam uma dinâmica de encenação ao passo em que o pintor autodidata – zelador e cenotécnico do Teatro Oficina, em São Paulo, na década de 80 – documenta sua vivência dos ensaios da peça “Mistérios Gozosos”, montada em 1984 pela companhia.

 

Na parede oposta, são apresentadas práticas artísticas que se instauram em território limítrofe entre teatro e arte. “Jussaras” (2019) de Cristiano Lenhardt são vestimentas que tridimensionalizam o pensamento geométrico desenvolvido pelo artista há cerca de uma década em suas gravuras, funcionando com presença escultórica e também performática, sendo ativada – vestida – ao redor do espaço expositivo. Na mesma parede, estão as máscaras de alumínio de autoria de Flávio de Carvalho, feitas originalmente para “O Bailado do Deus Morto”, texto de autoria do próprio levado aos palcos em 1933, junto do seu grupo “Teatro de Experiência”. Flávio de Carvalho, cuja atuação se deu em diversas esferas da arte, transitou pelos dois campos ao longo de sua trajetória, realizando experiências que turvam fronteiras entre o teatro e a performance, como em seus famosos new looks – blusas e saias vestidas em happenings na década de 1950. Ao fundo da sala, “Ghosts” (2017) de Ana Mazzei reúne um conjunto escultórico de presença teatral, em que cada peça – ou atores – confrontam o espectador. Quem assiste a quem, afinal?

 

Na sala da frente da Carpintaria, a fisicalidade das formas da pintura “Blue Violet Eckout” (2019), de Rodolpho Parigi, trava um duelo com a bidimensionalidade ao passo em que parecem querer exceder o plano, transbordá-lo. É o que parece estar em jogo também na engenhosa composição de “Chat and Drinks” (2018), de Yuli Yamagata, em que a artista costura tecidos como lycra e fibra de silicone, sem deixar de ter como ponto de partida um pensamento pictórico. Esta espécie de blefe dos materiais também aparece nas pequenas esculturas em cerâmica de Daniel Albuquerque, que levam ao extremo a vontade mimética da forma ao reproduzirem em escala humana trechos de um corpo fragmentado, ausente.

 

A voz trôpega que paira sobre o ambiente expositivo (cênico?) vem de “Carta” (2019), obra em que o artista português Tiago Cadete lê a íntegra do relato de Pero Vaz de Caminha quando de sua chegada em terras brasileiras. Velada em um dos armários da Carpintaria, a voz distorce e satiriza o texto do navegador português, que relata com a arrogância eurocêntrica de então o primeiro encontro entre portugueses e indígenas. A eloquência das palavras de Caminha, na voz de Cadete, permite leituras dúbias acerca do contraditório encontro. “Perdona que no te crea… me parece que es teatro?”

 

Artistas participantes

Adriana Varejão | Ana Mazzei | Cia. dos Atores | Cristiano Lenhardt | Daniel Albuquerque | Erika Verzutti | Flávio de Carvalho | Francesco Vezzoli | João Maria Gusmão & Pedro Paiva | Leda Catunda | Luiz Roque | Marina Rheingantz | Mauro Restiffe | Nuno Ramos | Rodolpho Parigi | Sara Ramo | Surubim Feliciano da Paixão | Teatro Experimental do Negro | Teatro Oficina Uzyna Uzona | Tiago Cadete | Tiago Carneiro da Cunha | Valeska Soares | Vania Toledo | Yuli Yamagata

 

Até 09 de março.

“Cobra Criada”, mostra na Athena

19/fev

A Galeria Athena, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Cobra Criada”, com cerca de 20 obras inéditas de Frederico Filippi, que ocupam todo o espaço expositivo da galeria. Os trabalhos tratam da questão do desmatamento e dos conflitos gerados pelo embate entre o poder econômico e os modos de vida não hegemônicos, em desenhos e uma instalação que enfatizam os materiais utilizados – metal e madeira – e os atritos geradores de fluxos invisíveis, como uma metáfora política. “De alguma forma esse confronto entre materiais enseja choques comuns nas paisagens amazônicas”, afirma o antropólogo, jornalista e curador Fábio Zuker no texto que acompanha a mostra.

 

As obras da exposição são um desdobramento da pesquisa que o artista vem desenvolvendo há alguns anos com temáticas relativas às fricções presentes nas relações invisíveis dos processos civilizatórios. A pesquisa, que antes era focada na América, atualmente tem se concentrado na Amazônia. Os trabalhos surgem a partir da reflexão sobre a constante disputa de território causada pelo desmatamento desenfreado das reservas ambientais, pela industrialização, pela exploração mineral e pelas rotas de contrabando de drogas.

 

“Frederico rejeita o problemático lugar de ‘falar sobre’, para experimentar pensar esses processos de destruição a partir dos próprios materiais; como se as próprias palavras não bastassem, fossem insuficientes, ou mesmo desprovidas de significado”, diz Fábio Zuker.

 

 

Trabalhos em exposição

 

No grande salão da galeria, que tem 140m² e pé direito de 6,5m, estarão trabalhos feitos em metal. Dez grandes chapas de aço da série “Se uma lâmina corta um olho uma selva azul escorre dele” estarão neste espaço, apoiadas na parede. As chapas são pintadas com spray preto e arranhadas com metais, formando desenhos abstratos a partir do atrito dos materiais. “Esses trabalhos têm um caráter abrasivo, de atrito, como uma metáfora da situação atual de conflito”, afirma o artista, que diz, ainda, que a abstração é proposital para enfatizar os materiais.

 

“A escolha dos materiais não é fortuita. Embora ambos sirvam de suporte ao desenho, território em que Frederico se sente à vontade e se identifica, os materiais estão em patente confronto, e tudo se passa como se os trabalhos fossem resultados desses embates. No caso das lâminas pretas, a agressividade do material libera seus próprios fluxos de imagens, quer como desenhos, aleatórios (próprios ao corte e manejo das chapas), quer pela mão do artista”, ressalta Fábio Zuker.

 

Nas paredes desta mesma sala estará a obra “Cobra Criada”, que dá nome à exposição e é feita com correntes de motosserra dispostas como se fossem palavras. Ao olhar de longe, a sensação é de haver uma frase escrita, mas de perto descobre-se que são objetos cortantes. “Trato do discurso das autoridades em relação à questão do desmatamento e dos projetos de infraestrutura que desestabilizam a ordem anterior. Se a motosserra corta, o trator perfura, o discurso vazio dispara esse processo escondido em relações públicas. Os textos são como uma dissolução da gramática e falam sobre uma linguagem não decifrada”, ressalta o artista.

 

“Ao se aproximar daquilo que de longe aparenta ser um conjunto de frases articuladas na parede da primeira sala da exposição, Cobra Criada, o espectador se depara com diferentes níveis alinhados de correntes de motosserra. Diante dessa ferramenta de destruição e construção (destruição de mundos, e construção de outros sobre as ruínas do que antes existia), os discursos articulados e a palavra escrita, se tornam vazios”, diz Fábio Zuker.

 

Na sala menor da galeria estarão os trabalhos em folhas de madeira, feitos com carvão e tinta asfáltica. Diversas lascas de madeira recebem desenhos pretos. “Nesses trabalhos utilizo materiais primários. O carvão é a transformação da madeira e a tinta asfáltica é o subsolo, de onde vem o metal”, conta o artista. “É como se cada fragmento de folhas de madeiras nativas fossem um fragmento de lembrança, uma testemunha viva. Ou, como diz o ditado, ‘a floresta tem mais olhos que folhas’”, ressalta.

 

 

Sobre o artista

 

Frederico Filippi nasceu em São Carlos, SP, 1983. Vive e trabalha em São Paulo). Dentre suas principais exposições individuais destacam-se: “O sol, o jacaré albino e outras mutações” (2016), na Athena Contemporânea, “Fogo na Babilônia”(2015), “Pivô”, em São Paulo e “Próprio Impróprio,” (2016), na Galeria Leme. Dentre as exposições coletivas mais recentes estão: “Com o ar pesado demais para respirar” (2018), na Galeria Athena; “Caixa Preta” (2018), na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre; “in Memoriam” (2017), na Caixa Cultural Rio de Janeiro; “Cities and Memory – Biennial for photography and film” (2016), na Dinamarca; “Aparição” (2015), na Caixa Cultural Rio de Janeiro, entre outras. Realizou diversas residências na Costa Rica, Bolívia, e da 5a edição da Bolsa Pampulha (2013/2014), no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte; La Ene (2013/2014), em Buenos Aires, Argentina; Ateliê Aberto #6 (2011/2012), na Casa Tomada, em São Paulo.

 

 

Até 06 de abril.

Jô Bilac na Carpintaria

14/fev

Está marcado para este sábado, 16 de fevereiro, às 19h, quando a Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, recebe a Cia. dos Atores que realizará uma leitura de cenas selecionadas do texto “Insetos”, de Jô Bilac. O evento envolve conversa entre o autor, o elenco e as psicanalistas Isabel do Rêgo Barros Duarte, Maricia Ciscato e Renata Martinez (EBP/AMP). A mediação será do curador Victor Gorgulho e da editora Isabel Diegues.

 

Em “Insetos”, Jô Bilac dá voz aos bichos para tratar de questões sociais e políticas contemporâneas. Como uma fábula, através de uma grande polifonia de diferentes insetos, o texto muito bem-humorado traça paralelos entre a natureza e os dilemas humanos, revelando comportamentos coletivos e individuais. Ao longo das cenas, convivência, medo e manipulação tornam o colapso evidente.

 

O texto foi adaptado para o teatro pela Cia. dos Atores com direção de Rodrigo Portella, e publicado na “Coleção Dramaturgia” da Editora Cobogó. A Cia. dos Atores, criada em 1988, é atualmente formada por Cesar Augusto, Gustavo Gasparani, Marcelo Olinto, Marcelo Valle, Susana Ribeiro e Bel Garcia (in memoriam). Com mais de vinte peças montadas, diversos prêmios e uma carreira nacional e internacional consolidada, a Cia. dos Atores firmou um caminho de pesquisa e renovação permanentes. Após a montagem do premiado espetáculo “Conselho de classe”, também, escrito por Jô Bilac, “Insetos” vem comemorar os 30 anos do grupo. A programação integra a mostra coletiva “Perdona que no te crea”, que explora o cruzamento entre artes visuais e teatro.

 

Em cartaz até 09 de março na Carpintaria

Prêmio Walter Firmo

06/fev

A Zona Oeste vai ser palco de uma cerimônia de premiação e mostra fotográfica, dia 16 de fevereiro, no Palacete Princesa Isabel, em Santa Cruz, Rio de Janeiro, RJ. Sob o tema “Mais amor por favor”, com intuito de resgatar o sentimento de humanidade e amor ao próximo, na contramão dos individualismos, o Prêmio MTD de fotografia: Walter Firmo vai reunir profissionais e amantes da fotografia a um corpo de jurados com nomes como Custódio Coimbra, Severino Silva, Cacau Fernandes, Luis Alvarenga, entre outros. O Prêmio MTD de fotografia Walter Firmo, em sua primeira edição, obteve inscrições em todos as regiões do município e em oito estados.

 

Entre os inscritos no concurso, através do site da Associação Movimento Territórios Diversos, 20 finalistas terão seus trabalhos expostos na mostra fotográfica, em 16 de fevereiro, e afixados em murais da cidade. Os 3 Vencedores nas categorias Profissional e Amadores, levarão troféus e bolsas de estudos na área da fotografia. O primeiro lugar de cada categoria ganhará o Selo Walter Firmo de elogio e reconhecimento. O prêmio alcançou fotógrafos das Zonas Norte, Sul, Oeste, Centro e da Baixada Fluminense, além de oito estados do país. Além da entrega do prêmio, a fotógrafa Cacau Fernandes vai ministrar um workshop sobre fotojornalismo, às 17h.

 

Segundo a Associação Cultural Movimento Territórios Diversos, organizadora do evento, com o avanço tecnológico a arte da fotografia vem sendo trabalhada a partir de diversos recursos em manipulações de imagens que temos em mãos. Os programas de edição são eficazes, contudo, fazer uma fotografia vai muito além do clique, edição e/ou manipulação. Ter um olhar sensível é fundamental para capturar a melhor imagem na hora de apertar o disparador.

 

O prêmio pretende valorizar o “olhar”, a difusão da arte fotográfica, os lugares ainda não visitados e incentivar os amantes e profissionais da fotografia, por meio de uma Cerimônia de Premiação e Mostra fotográfica com workshops.  O local escolhido para a premiação abriga o Ecomuseu de Santa Cruz, e ainda é um espaço cultural pouco conhecido do grande público.

 

Em cada edição o Prêmio fará uma homenagem à notáveis personalidades da fotografia. Nessa edição de abertura do Prêmio, Walter Firmo será o homenageado. Firmo é fotógrafo, jornalista e professor de carreira reconhecida nacional e internacionalmente. Sua obra investiga a figura humana, os costumes e festas populares brasileiras como o Carnaval do Rio de Janeiro. Em sua produção destacam-se ainda os retratos de músicos brasileiros, como Clementina de Jesus, Cartola e Pixinguinha.

 

Participam da organização a gestora cultural e conselheira municipal de cultura do Rio de Janeiro Elizabeth Manja, os Produtores Culturais: a ambientalista Bianca Marins, o artista plástico Sergio Dias e a fotógrafa Gilmara Nunes, componentes da equipe gestora do Ponto de Cultura Movimento Territórios Diversos Associação Cultural, instituição realizadora do Prêmio. Além da fotógrafa Cacau Fernandes, convidada para atuar na coordenação técnica. O corpo de jurados conta com os fotógrafos Severino Silva, Custódio Coimbra, Wânia Corredo, Cristina Froment, Marco Antônio Portela, Bruna Prado, Belle Maia, Alex Ribeiro, Leo Mano, Luis Alvarenga.

 

 

1º Prêmio MTD de Fotografia Walter Firmo

 

Quando: 16/02/19 das 17h às 22h

Onde: Palacete Princesa Isabel – Rua do Matadouro, Santa Cruz – Rio de Janeiro.

 

 

Programação

17hs Workshop – Como começar no fotojornalismo? Com a fotógrafa Cacau Fernandes

18hs Início da Cerimônia com homenagem ao fotógrafo Walter Firmo

19hs Intervalo

20hs Entrega dos prêmios

22hs Encerramento

 

 

“OLAMAPÁ” no Oi Futuro

01/fev

O Oi Futuro, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, no dia 04 de fevereiro às 19h, a exposição “OLAMAPÁ” com trabalhos de Katie Van Scherpenberg, sob a curadoria de Gabriel Perez-Barreiro. A artista vai exibir os vídeos “Menarca” e “Landscape painting”, a série de fotografias “Esperando papai” e a instalação “Síntese”. As obras referem-se à pesquisas pictóricas, sentimentos e a história dos 20 anos em que viveu na floresta amazônica com seu pai.

 

A obra de Katie van Scherpenberg é fundamental para poder entender o desenvolvimento da arte brasileira desde a década de 1980 até hoje.  Com forte fundamento na pintura, seu trabalho transita por diversas linguagens como instalação, vídeo, arte ambiental e fotografia.  A exposição “OLAMAPÁ” resgata um conjunto de trabalhos realizados sobre a região do Amapá (Amazonas), onde passou a maior parte da infância e retornou por alguns anos quando adulta. Nas obras mostradas articulam-se uma série de questões sobre a vida, o tempo, a matéria e a arte que fazem de sua obra referência chave na arte contemporânea. Artista Plástica e professora, Van Scherpenberg iniciou seus trabalhos experimentais de intervenção na paisagem na década de 1980, utilizando-se de praia, rios, jardins e florestas como suporte para suas pinturas. “Tudo o que faço é pintura. Os trabalhos não são feitos no sentido happening ou uma instalação. Em cada intervenção examino aspectos, técnicas e problemas estéticos da pintura: o preto e branco em Síntese, a questão da luz em Esperando Papai, a aquarela em Menarca (pigmento se dissolvendo na água).  No vídeo Landscape painting, fiz intervenções na própria natureza lembrando as expedições artísticas e cientificas do século XIX.  A pintura é a técnica que eu uso para pensar e sentir. Uma busca constante de crescimento, alastramento, densidade, absorção e profundidade. Eu nunca sei exatamente o que vai acontecer, o conceito e a poesia vem depois. Quando comecei estas obras, nunca pensei em mostrá-las. Eram ensaios que eu realizava para mim. Depois, quando associei os estudos com minhas pinturas é que decidi expô-las”, declara a artista.

 

Para o curador da mostra, Gabriel Perez-Barreiro, também curador da edição 2018 da Bienal Internacional de São Paulo, “a obra de Katie nos ensina ou nos faz lembrar que a arte e a vida não são categorias distintas – a arte não é uma reflexão sobre a vida, mas uma parte inseparável dela, feita da mesma materialidade e dos mesmos rumos. Olhar um trabalho de Katie Van Scherpenberg é entregar-se a uma experiência de pathos no seu sentido mais exato, gerando uma resposta emocional por meio de um sentimento de rendição. Um trabalho que registra um processo implacável de decadência inevitável que nos faz conscientes da nossa própria mortalidade, um fato, aliás, da mais profunda indiferença para o mundo que nos cerca.”

 

 

Obras | Intervenções | Ensaios visuais

 

 

Menarca | 2000-2017

 

A artista utiliza-se de pigmento vermelho para “pintar” a água, fazendo referência à menarca, primeiro fluxo menstrual feminino. Usando a água como tela a artista deixa uma marca passageira na natureza que se encarrega de dissolve-la.  Trabalho realizado na praia de Boa Viagem em Niterói.

 

 

Esperando por papai | 2004

 

Sequência de fotos realizadas no Rio Negro, Amazonas. A personagem está sentada ao lado de uma mesa, num final de tarde com a água pela cintura. Sobre a mesa, também parcialmente encoberta pela água, um lampião aceso. As imagens captam o pôr do sol e a substituição da luz natural pela iluminação de uma lamparina, enquanto se aguarda…

 

 

Síntese | 2004-2019

 

Remontagem do trabalho realizado em uma pequena praia ribeirinha do Rio Negro, Amazonas. Quadrados de sal grosso dispostos à margem do rio são dissolvidos aos poucos pelas águas. Gradativamente ficam cobertos de gravetos de carvão, arrastados pelas águas, vindos das árvores destruídas pelas queimadas. O sal muito branco em contraste com a areia negra da praia amazônica e a fuligem oriunda da floresta.

 

 

Landscape painting | 2004

Registro da artista pintando folhas de árvores da floresta Amazônica às margens do Rio Negro, fazendo da paisagem sua tela e a própria obra.

 

 

Sobre a artista

 

Katie Scherpenberg, é filha de pai alemão naturalizado holandês e mãe norueguesa, nasceu em São Paulo, em 1940, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Pintora, desenhista, gravadora e professora. Passou a infância na Inglaterra e veio com a família para o Brasil em 1946. Entre 1958 e 1960, estudou pintura com Catherina Baratelli, no Rio de Janeiro e em 1961 ingressou o na Academia de Belas Artes da Universidade de Munique, na Alemanha. Foi também aluna do pintor Oscar Kokoschka (1886 – 1980), em 1963, em Salzburg na Áustria. De volta o Brasil, em 1966, estudou gravura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foi uma das fundadoras da ABAPP – Associação Brasileira de Artistas Plásticas Profissionais e do   Núcleo Experimental de Arte em Petrópolis. Foi professora da Universidade Santa Úrsula e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Também deu aula na Universidade do Texas, realizou conferências em Estocolmo, Roma e Madrid, além de todo o território nacional. Participou de exposições nos Museus Blanton em Austin,Texas, do Telefone do Rio de Janeiro, MAM do Rio de Janeiro, Paço Imperial do Rio de Janeiro, MAC de Niterói, MAC de S.Paulo, Liljevalchs, Estocolmo, Accademia de Francia, Villa Medici, Roma, entre outros. Participou das Bienais de São Paulo de 1981, 89 e 98. Recebeu bolsas do governo Alemão (1962, 63) além de prêmio em escultura (1963). No Brasil recebeu Isenção de Júri no XXV Salão de Nacional de Arte Moderna (1976), Prêmio Sul América no XXV Salão do Paraná (1983) e Prêmio do Ministério da Cultura e do Esporte no XL Salão do Paraná (1986). Participou do Prêmio Brasília em 1991 e do III Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea (2013). Seus trabalhos fazem parte de importantes coleções no Brasil e no exterior.

 

 

Sobre O Oi Futuro

 

O Oi Futuro, instituto de inovação e criatividade da Oi, promove ações de Educação, Cultura, Inovação Social e Esporte para melhorar a vida das pessoas e transformar a sociedade. O instituto impulsiona iniciativas colaborativas e inovadoras, fomenta experimentações e estimula conexões que potencializam o desenvolvimento pessoal e coletivo. Na Educação, o Oi Futuro investe em novas formas de aprender e ensinar com o NAVE (Núcleo Avançado em Educação), que forma jovens para as economias digital e criativa, com foco na produção de games, aplicativos e produtos audiovisuais. Desenvolvido em parceria com as Secretarias de Estado de Educação do Rio de Janeiro e Pernambuco, o programa oferece ensino médio integrado e já formou mais de 2 mil jovens em 12 anos de atuação. Os estudantes do NAVE são incentivados a desenvolver o espírito empreendedor e a estabelecer suas primeiras conexões profissionais no mercado de inovação e tecnologia. Nas escolas do programa, educadores e estudantes elaboram e testam novas metodologias e práticas pedagógicas que possam ser compartilhadas com outras escolas da rede pública e outros contextos educacionais.

 

Na Cultura, o instituto é um catalisador criativo, impulsionando pessoas através das artes, estimulando a cocriação e promovendo o acesso à cultura na era digital. O Oi Futuro mantém um centro cultural no Rio de Janeiro, com uma programação que valoriza a produção de vanguarda e a convergência entre arte contemporânea e tecnologia, e realiza o Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados, que seleciona projetos em todas as regiões do país por meio de edital público. O Instituto também tem o Museu das Telecomunicações, pioneiro no uso da interatividade no Brasil, e o LabSonica, laboratório de experimentação sonora e musical. Também no Rio, o Oi Futuro mantém a Oi Kabum!, escola de arte e tecnologia onde está abrigado o Lab.IU, Laboratório de Intervenção Urbana.

 

Na Inovação Social, o Oi Futuro lançou o Labora, laboratório de soluções singulares e de impacto para as cidades e a gestão cultural. O Labora é um ambiente de conexão, aprendizagem e criação para organizações e empreendedores comprometidos com a transformação de impacto, e oferece programas de incubação e aceleração para projetos e negócios de impacto social. O Oi Futuro também aposta em projetos esportivos que conectem pessoas e promovam a inclusão e a cidadania.

 

Numa confluência entre as áreas de Cultura e Inovação Social, nasceu o Lab Oi Futuro, espaço de criação, experimentação e colaboração idealizado para impulsionar criadores de diversas áreas e startups de impacto social de todo o Brasil, selecionados por editais públicos. Com mais de 500m², o laboratório abriga o LabSonica e o Labora e oferece estrutura física e suporte técnico necessários para que seus participantes viabilizem seus projetos em um ambiente que estimula a produção colaborativa, a formação de redes e a inovação.

 

 

Até 31 de março.

Dupla Breves Schmidt no IBEU

A Galeria de Arte Ibeu, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, abre a programação de 2019 no dia 05 de fevereiro, com a exposição “Transfiguração da Matéria”, da dupla Breves Schmidt. Sob curadoria de Marco Cavalcanti, as artistas Claudia Breves e Cecilia Schmidt apresentam um ensaio na fronteira entre fotografia e desenho, em sequências tensas e oníricas. A origem das 26 obras expostas traz fragmentos de um antigo vitral, que transfigurado pela criação fotográfica passou a ter potencial estético autônomo, como imagem desdobrada. Partindo deste antigo vitral, a dupla constrói uma linguagem específica e instala um processo artístico particular que define direções e poéticas inalcançáveis na fotografia analógica. O processo de transformação e reconfiguração contínua se torna onírico, e as artistas lançam mão do potencial estético, formado pelo inconsciente, para depois torná-lo livre e atemporal.

 

“Quando deslocamos o olhar pelas paredes da galeria, percebemos que o tempo das imagens é imanente, liberto da cronologia a fundir lembranças e esquecimentos. Parece que a serialidade executa uma pilhagem no passado, como piratas do tempo”, analisa Marco Cavalcanti. “Ao desdobrar, multiplicar, serializar e descontruir a antiga matriz em algo surpreendente, a dupla de artistas descobre uma lógica interna e define um processo artístico. É transfiguração da matéria para este frágil tempo em que vivemos”, completa o curador. Formada em 2011, Breves Schmidt aparece eventualmente nos intervalos das carreiras solo das duas artistas. A dupla já realizou trabalhos na mostra Morar Mais por Menos, 2014, e na Feira de Arte Contemporânea, no Espaço Ernani Arte e Cultura, 2014.

 

 

Até 1º de março.

Na Galeria Nara Roesler/Rio

29/jan

O artista colombiano Alberto Baraya, artista-viajante contemporâneo que já participou, entre outras, da 27ª Bienal Internacional de São Paulo (2006) e da 53ª Bienal de Veneza (2009), desta vez tem o Rio de Janeiro como fonte de seu “Estudios Comparados de Paisaje”.  Esteve duas vezes no Rio de Janeiro em 2018 para conceber a nova série de mais de 20 trabalhos que apresenta na Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ.

 

A exemplo dos europeus que empreendiam expedições botânicas no período colonial, suas obras investigam territórios para criar poéticas ficcionais que refletem sobre o poder e os resquícios do colonialismo, questionando tanto o impulso de controlar o mundo por meio do ato de nomeá-lo e classificá-lo quanto a construção de identidades nacionais. Em sua última exposição na galeria, em 2010, o artista apresentou um desdobramento de seu emblemático projeto “Herbario de Plantas Artificiales”, séries concebidas a partir de plantas e flores de plástico das mais diversas procedências e fotos que registram o procedimento de trabalho, apropriando-se dos métodos dos naturalistas botânicos para colocar em questão o pensamento positivista, numa resistência aos princípios da educação ocidental.

 

No atual projeto, para criar seus “Estudios Comparados de Paisaje”, Baraya baseia-se na tradição das pinturas de paisagens – também conhecidas como “Panoramas” – retratadas por viajantes ou residentes, procurando debater, entre outros aspectos, a noção de paisagem nacional. Para sua “Expedición Rio de Janeiro”, especialmente realizada para sua nova exposição na galeria, o artista selecionou uma série de vistas panorâmicas da cidade, produzindo por meio da técnica da pintura novas telas nos mesmos locais onde estiveram os pintores acadêmicos. Baraya em seguida levou as obras ao ateliê e, por meio de intervenções, desconstruiu narrativas, convertendo as pinturas em objetos. “Algumas dessas paisagens-impressão funcionam como estágios nos quais desenvolvo comentários de interesse pessoal e social”, explica o artista. Segundo Baraya, nessa série, isso é feito através da introdução de animais-personagens estranhos àquela natureza originalmente representada. “A migração das espécies ou a qualificação de espécies exóticas se inscrevem na tradição literária e gráfica da fábula”, comenta. Ainda para ele, as paisagens-impressões são suscetíveis de serem lidas e reinterpretadas sob a perspectiva de outras categorias do conhecimento e da arte.

 

Para Baraya, no caso particular dos “Estudios Comparados de Paisaje”, os objetos à óleo são propostos como partituras em potencial para serem interpretadas no piano. Daí a realização de uma performance – realizada em novembro no Parque Lage – com paisagens-partituras, em parceria com Benjamin Taubkin. Como um laboratório experimental, o piano é retirado de seu cenário habitual e levado ao espaço exterior, os jardins, onde o pintor e o pianista realizam suas próprias interpretações da paisagem ao redor. Ao final do primeiro ato, as obras da exposição na Galeria Nara Roesler levadas ao local tornam-se partituras, sendo reinterpretadas pelo músico ao piano.

 

 

 

Alberto Baraya: estudios comparados de paisaje

 

Texto crítico por Pedro Corrêa do Lago

 

A série Expedición Rio (2018), parte do projeto Estudios Comparados de Paisaje (1998-2018) de Alberto Baraya, oferece a rara oportunidade de observar uma relação direta entre a obra dos pintores viajantes que retrataram a paisagem do Rio de Janeiro no século XIX e o trabalho recente de um notável artista contemporâneo. Ainda que colombiano, Alberto Baraya bebeu claramente na fonte dos grandes paisagistas atuantes no Brasil, pois parece às vezes transpor quase ipsis litteris imagens produzidas por eles como pano de fundo para suas próprias paisagens oníricas, nas quais o artista acrescenta animais quase míticos, totalmente inesperados nesse contexto. Na verdade, apesar do parentesco óbvio com a obra de artistas do século XIX, a semelhança provém não da simples repetição, mas da mesma postura que Baraya assume ao registrar a paisagem incomparável do Rio de Janeiro, com o objetivo de incorporála como cenário de suas intervenções fabulosas. O tratamento da paisagem por Alberto Baraya procede da mesma contemplação embevecida da paisagem que caracterizou a obra dos autores das vistas panorâmicas do Rio de Janeiro do século XIX. Também pintadas en plein air, não são, no entanto, concebidas por Baraya como as dos artistas que pretendiam apenas captar o cenário exótico para propô-lo à apreciação do espectador europeu. É verdade que o resultado é de tal forma semelhante ao que os viajantes obtinham que poderia apenas remeter integralmente às outras obras de artistas que precederam Baraya nos últimos 200 anos. De fato, a preocupação com a “documentação da paisagem” que caracterizava o trabalho de muitos desses artistas viajantes os tornava extremamente ciosos da precisão no registro dos contornos, diante da paisagem arrebatadora que se perfilava sob seus olhos na topografia única da baía do Rio de Janeiro. Também Baraya declara seu espanto diante da natureza que observa para alavancar sua criação, e é palpável seu domínio de uma técnica precisa que é tão fiel ao que vê quanto ao que Baraya imagina que os artistas viajantes viram: um Rio de Janeiro limpo de suas edificações atuais. Los músicos de Rio, um trabalho a óleo medindo mais de 4 metros, nos traz ecos de um grande panorama, o Panorama do Rio de Janeiro (1873) de Emil Bauch, uma litografia a cores sobre papel medindo 75 x 242,5 cm, assim como de um pastel de Hagedorn de 1860 retratando o Pão de Açúcar visto de trás, num ângulo menos utilizado por outros pintores viajantes. Outros trabalhos, como Rio de Janeiro desde Niterói, con pez volador falso (Dactylopterus volitans), que mostra um exemplar da espécie de peixe conhecida como falso voador, incomum no Rio de Janeiro, saltando das águas da baía, nos lembra as grandes aquarelas de E. E. Vidal, marinheiro inglês e pintor viajante especializado em panoramas extensos da baía do Rio de Janeiro. Já a vista da Águia-pescadora en Playa Vermelha, en Pan de Azucar, Rio de Janeiro assemelha-se mais aos quadros da paisagem carioca realizados no início do século XX, e Baraya volta ao mesmo ângulo inusitado do Pão de Açúcar de Hagedorn com o Macaco comiendo goji berries en Pan de Azucar. A floresta virgem que os artistas viajantes descobriram estarrecidos no Brasil tornou-se um dos temas de predileção em suas obras, e Baraya parece inspirar-se claramente nas versões que nos deram Debret e Rugendas da vegetação brasileira quando coloca seu Caracol gigante africano sobre palo brasil (Achatina fulica sobre Caesalpina echinata) num fundo de floresta tropical – também evocada em Macaco con caracol gigante africano (Callithrix jacchus con Achatina fulica). O Pão de Açúcar foi, como era inevitável, um dos focos principais de atração dos pintores viajantes (profissionais ou amadores) que passaram pela cidade nas primeiras décadas do século XIX, no momento em que a abertura dos portos permitiu restabelecer o fluxo de visitantes estrangeiros, até então interrompido pelo colonizador português. Quando Alberto Baraya sobrepõe pedras e caveiras à paisagem tradicional do Pão de Açúcar, ele nos traz uma evocação renovada de uma paisagem tantas vezes repetida pelos paisagistas do século XIX, a ponto de se tornar o principal cartão postal avant la lettre da então capital. A vista do morro Dois Irmãos antes das muitas edificações em seu entorno (tal como poderia ter sido observado da praia do Leblon no século XIX ou no começo do século XX) apresenta mesmo assim uma mancha indistinta que evoca a atual favela do Vidigal, mostrando o que Baraya quer lembrar sem ver. Sobre essa paisagem, o artista sobrepõe agora pedras envoltas em cânhamo, voltando a surpreender o espectador e reforçando o tema do par com duas pedras sobre a areia da praia. O Rio de Janeiro atual ressurge no Rio desde Parque das Ruínas e no Caballo (Equus ferus caballus) en Lagoa, obras nas quais Baraya abandona a referência aos pintores viajantes e recupera com a mesma postura a paisagem atual da cidade, sempre sobreposta por pedras encontradas em seu caminho ou animais que parecem caídos do céu. A produção atual do artista é constante na referência ao passado, pois o grupo de obras de Alberto Baraya intitulado Nuevas Hierbas de Palermo y Alrededores – Una Expedición Siciliana (2018), parte de seu projeto Herbário de Plantas Artificiales (2002-em andamento), realizado para a Manifesta 12 Palermo no Jardim Botânico da cidade a partir da coleta de plantas falsas (Made in China) e representações botânicas locais em cerâmica relembra também o trabalho impresso dos grandes naturalistas europeus que visitaram o Brasil ao longo do século XIX, documentando sua flora e sua fauna. O relato das expedições desses grandes naturalistas deu oportunidade para a criação de magníficos álbuns com finas gravuras da flora brasileira, muitas vezes coloridas à mão, que aliavam a exatidão científica a um extraordinário impacto visual. O Brasil forneceu assim o tema para alguns dos mais belos livros de botânica do século XIX, e poucos países tiveram sua flora documentada com igual precisão e beleza. Com elementos capturados em Palermo e seus arredores, no caso de sua série siciliana, Baraya recria delicadamente a atmosfera dos herbiers dos séculos passados, dando-lhes uma interpretação que incorpora as novas técnicas agora à sua disposição. Para um estudioso dos artistas do passado que enriqueceram a cultura brasileira com seus relatos visuais, é especialmente instigante apreciar o trabalho de um artista contemporâneo com uma compreensão tão profunda de trajetórias comparáveis trilhadas muito antes dele.

 

 

Sobre Pedro Corrêa do Lago

 

Mestre em Economia, é autor de 20 livros sobre temas da cultura brasileira. Bibliófilo, colecionador, livreiro e editor, foi curador de diversas mostras no Brasil e no exterior. Em 2000, organizou o módulo “O olhar distante na Mostra do Redescobrimento”, na Fundação Bienal de São Paulo. Em 2005, foi curador em Paris das exposições “O Império brasileiro e seus fotógrafos” no Museu d’Orsay e “Frans Post: o Brasil na corte de Luís XIV” no Museu do Louvre. De 2003 a 2005, presidiu a Fundação Biblioteca Nacional. Em 2006, publicou, com sua mulher, Bia Corrêa do Lago, “Frans Post – Obra Completa”. Nos anos seguintes, escreveu ou colaborou com os catálogos raisonnés de Debret, Taunay e Pallière e editou os de Rugendas e Eckhout. Em 2008, novamente com Bia Corrêa do Lago, publicou “Coleção Princesa Isabel – Fotografia do século XIX”, vencedor do Prêmio Jabuti, e, em 2009, lançou “Brasiliana Itaú” – uma grande coleção dedicada ao Brasil e organizou o catálogo raisonné “Vik Muniz 1987 – 2009 Obra Completa”. Sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), organizou em 2014 o livro Brasiliana IHGB e, em 2015, a segunda edição (1987-2015) da obra completa de “Vik Muniz, Tudo até agora”.

 

 

Até 09 de fevereiro.

Tiago Sant’Ana, performance/workshop

11/jan

O ano começa com agenda cheia na Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ: na segunda quinzena de janeiro, a galeria promoverá workshop e performance do artista visual Tiago Sant’Ana. Nos dias 14 e 15 de janeiro, Tiago ministra o workshop “A Performance Negra nas Artes Visuais do Brasil”, com o objetivo de debater a linguagem da performance e seus intercâmbios estéticos com as poéticas negras. O conteúdo programático envolve um panorama sobre a história da arte da performance, discussão dos conceitos de arte afro-brasileira e arte negra e dos cruzamentos conceituais entre performance e a questão da negritude no Brasil. Na ocasião também será apresentado um repertório histórico de artistas da performance negra nas artes visuais do Brasil, com ênfase nos desafios e nas potências de produzir arte negra na contemporaneidade. Este workshop se destina a artistas visuais, ativistas, pessoas pesquisadoras do campo das artes e demais interessadas.

 

No dia 16, quarta-feira, às 19h30, Tiago Sant’Ana realiza uma performance, revelando uma estratégia da produção do açúcar na Bahia através do uso de uma forma com nome “pão de açúcar”. Supostamente, é a estrutura em metal que inspira o nome da pedra no Rio de Janeiro. A performance “Pão de Açúcar” tem como proposta aproximar a cultura da cana-de-açúcar da Bahia com a paisagem carioca, instigando o público a pensar numa dobra do tempo e do espaço, já que a própria exposição do artista, “Baixa dos Sapateiros” que está em cartaz na galeria, abre esse entre lugar no Rio de Janeiro para pensar uma geografia histórica de Salvador. “Salvador e Rio de Janeiro possuem muitas histórias em comum, basta pensar em todas as pessoas negras escravizadas que chegaram nessas duas localidades e como as culturas dessas cidades se sustentam em boa parte na cultura afro e no trabalho das pessoas negras”, afirma o artista.

 

 

Sobre a exposição “Baixa dos Sapateiros”

 

A mostra individual, que vai até o dia 13 de fevereiro, trata da imagem histórica dos sapatos como símbolo de libertação pós-abolição negra no Brasil. Essa abolição, oficiosa e sem reparação, era simbolizada pelo gesto de pessoas negras poderem calçar sapatos – tal qual a população branca. O título, “Baixa dos sapateiros”, remete a uma região de mesmo nome em Salvador, Bahia, local em que muitas pessoas negras recorriam para confeccionar seus sapatos. “O nome surge com essa proposta de falar de um lugar em que muitas pessoas iam desejando essa representação da liberdade, que eram os sapatos”, informa o artista. “Era uma geografia que simbolicamente envolvia uma expectativa por essa promessa de cidadania para as pessoas negras, que nunca chegou completamente até hoje”, revela. Considerado um dos pontos altos da exposição, as esculturas com sapatos de açúcar cristal estabelecem um paralelo com o complexo sistema de exploração da cana-de-açúcar e a chegada de muitos engenhos na região do Recôncavo. Clarissa Diniz é responsável pela curadoria da exposição, que conta com vídeo, fotografias, objetos e instalações em torno do tema.

 

 

Sobre o artista

 

Tiago Sant’Ana nasceu em 1990, em Santo Antônio de Jesus. É artista performático, doutorando em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia. Desenvolve pesquisas em performance e seus possíveis desdobramentos desde 2009. Seus trabalhos como artista tratam de imersões nas tensões e representações das identidades afro-brasileiras. Foi um dos artistas indicados ao Prêmio PIPA 2018. Realizou recentemente a exposição solo “Casa de purgar”, 2018, no Museu de Arte da Bahia e no Paço Imperial, Rio de Janeiro. Participou de festivais e exposições nacionais e internacionais como “Histórias Afro-atlânticas”, 2018, no MASP e no Instituto Tomie Ohtake, “Axé Bahia: The power of art in an afro-brazilian metropolis”, 2017-2018, no Fowler Museum at UCLA, “Negros indícios”, 2017, na Caixa Cultural São Paulo, “Reply All”, 2016, na Grosvenor Gallery, e “Orixás”, 2016, na Casa França-Brasil. Foi professor substituto do Bacharelado Interdisciplinar em Artes na Universidade Federal da Bahia entre 2016 e 2017.

My Way

Atravancando meu caminho,

Eles passarão…

Eu passarinho!”

Mario Quintana

 

Em seu “Poeminho do Contra” Mario Quintana faz troça, nada circunstancial, do fato de ter sido rejeitado (novamente) como membro da Academia Brasileira de Letras (assim reza a lenda), e de maneira sarcástica, dentro de seu linguajar direto e sem pompa, característica do poeta que acabou por deixar uma marca indelével na literatura brasileira, nos fala do eterno embate entre permanência e efemeridade. Para Hannah Arendt a permanência de uma obra de arte dá à Humanidade uma sensação de imortalidade pelo que é criado por meros mortais, uma constância que se sobrepõe ao tempo.

 

Reunidos em torno da ideia de apresentar o seu mundo particular tanto das ideias quanto das imagens, os artistas da mostra “My Way” abrem o ano expositivo da Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com liberdade de apresentarem novos trabalhos ou revisitarem questões que entendam ainda em voga de processos anteriores e que precisem ser novamente evocados pelo olhar do outro, pelo público que, como dizia Marcel Duchamp, “…mais tarde se transforma na posteridade (…), estabelece o contato entre a obra de arte e o mundo exterior”.

 

A exposição pretende ressaltar a diversidade de pensamentos, e de como é possível estarem lado a lado, conviverem pacífica e harmoniosamente linguagens as mais variadas, que se apresentam não como um impedimento ao diálogo, ao contrário, como motor que faz girar a engrenagem do saber, da curiosidade, do despertamento e do deslumbramento. Cada um faz a sua jornada íntima. Como diz a música: “eu vivi uma vida plena, viajei por todos os caminhos, mas mais do que isso, eu fiz do meu jeito”.

 

Osvaldo Carvalho (curador)

 

 

 

Artistas: Angela Od, Bet Katona, Cesar Coelho, Eduardo Mariz, Fábio Carvalho, Gabriel Grecco, Helena Trindade, Hugo Houayek, Jozias Benedicto, Leonardo Videla, Lia do Rio, Marcia Clayton, Osvaldo Carvalho, Osvaldo Gaia, Otavio Avancini, Patrizia D’Angello, Paulo Jorge Gonçalves, Rafael Vicente, Raimundo Rodriguez, Rodrigo Pedrosa, Stella Margarita, Suely Farhi, Viviane Teixeira.

 

 

 

 

Até 11 de fevereiro.