Memorial por Tulio Dek

07/jan

O Memorial Municipal Getúlio Vargas, Glória, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a partir de 12 de janeiro,a exposição “Memorial por Tulio Dek”, uma grande instalação do multiartista no susolo da instituição. No percurso do salão circular, 50 pinturas do artista, de 1m x 1,40m, suspensas do teto, de modo a que o público caminhe em meio a elas. No lugar de telas, o artista mandou imprimir em tecido cru uma padronagem semelhante ao pijama usado por Getúlio Vargas, na madrugada de 24 de agosto de 1954. Tulio Dek fará intervenções com pintura em cada um dos recortes de tecido, usando palavras ou frases que discutem aquele momento marcante na história brasileira. A escrita, uma característica do trabalho de Tulio Dek, que também é poeta e compositor, busca “remeter à dor que Getúlio vivenciou naquele dia”, conta o artista.

 

Em um espaço anexo ao salão circular, Tulio Dek colocará uma porta, para o público atravessar. Do outro lado estará um púlpito. “É como se Getúlio quisesse dizer algo depois de sua morte”, comenta o artista. Atrás do púlpito, visível apenas para quem contornar o púlpito, estará um projétil do mesmo calibre usado pelo presidente em sua morte.

 

O jornalista, escritor e dramaturgo Luis Erlanger é o curador. No texto que acompanha a exposição, ele afirma que “Tulio Dek levou a inquietação da sua veia poética para o caminho das artes plásticas. Abrindo, com vigor, espaço para seus pensamentos e dúvidas, manifestados na sua estética bonita de se ver e, ao mesmo tempo, contundente”. “O Memorial Getúlio Vargas virou um cenário ideal, logo após as eleições que dividiram o país de forma assustadoramente radical, para aprofundar dilemas sobre os quais, mesmo que inconscientemente, o Brasil se debruçou, de forma beligerante. Uma de nossas maiores lideranças políticas, em capítulos que contribuíram a dar um toque ficcional à história do Brasil, Vargas conquistou o poder pelos dois lados da balança: como ditador, flertando com o nazi-fascismo, e pelo voto popular”, observa o curador.

 

 

REFLEXO

 

Nascido em 1985, em Goiânia, e radicado no Rio de Janeiro, Tulio Dek está com obras em exibição também na exposição “Reflexo”, na TNT Arte Galeria, em São Conrado, com esculturas e pinturas inéditas. Com curadoria de Marco Antonio Teobaldo, estão na exposição doze pinturas, e duas esculturas da série “Reflexo”, em que centenas de cápsulas de munição compõem as formas de duas mulheres e um torso de uma menina. Em setembro último, Tulio Dek participou durante um mês de uma residência artística no Thomaz Hipólito Studio, em Marvila, Lisboa, que resultou em uma exposição no mesmo local. Obras suas integram uma mostra coletiva em cartaz na Square One Contemporary Art Agency, na capital portuguesa, com curadoria de Rui Afonso Santos, do Museu de Arte Contemporânea do Chiado, que também fará a curadoria da individual do artista programada para o primeiro trimestre de 2019, também na Square One Contemporary Art Agency. Desde 2012, Tulio Dek voltou seu processo criativo para o desenho e para a pintura, sem abandonar seus textos. De 2015 a 2017 morou na Itália, onde dividiu um ateliê com um escultor ligado à Academia de Arte de Florença (Florence Academy of Art). “Meu processo de criação é muito solto, e não acredito na perfeição. O que me interessa é o processo em si e o que eu quero dizer. Não me identifico com a formação acadêmica, onde se exige uma perfeição de formas e acabamento que não tem a ver comigo”, conta.

 

 

Memorial TD

 

Luis Erlanger

 

Tulio Dek levou a inquietação da sua veia poética para o caminho das artes plásticas. Abrindo, com vigor, espaço para seus pensamentos e dúvidas, manifestados na sua estética bonita de se ver e, ao mesmo tempo, contundente.

 

 

Tulio faz política com tinta.

 

Suas causas trafegam muito além de qualquer discussão ideológica, rejeitando a divisão simplista entre esquerda e direita. Um artista que expõe e provoca reflexão com uma visão humanista do mundo.

 

O Memorial Getúlio Vargas virou um cenário ideal, logo após as eleições que dividiram o país de forma assustadoramente radical, para aprofundar dilemas sobre os quais, mesmo que inconscientemente, o Brasil se debruçou, de forma beligerante. Uma de nossas maiores lideranças políticas, em capítulos que contribuíram a dar um toque ficcional à história do Brasil, Vargas conquistou o poder pelos dois lados da balança: como ditador, flertando com o nazi-fascismo, e pelo voto popular.

 

 

Um expoente do populismo – “o pai dos pobres”. 

 

Para culminar, seu suicídio é um dos episódios mais marcantes e traumáticos da nossa vida pública.

 

Como político, pode ter entrado para a história. Como ser humano, agiu contra um instinto básico (a sobrevivência) e preferiu matar-se a perder o poder.
Sem uma desnecessária conexão, este projeto de TD vem impregnado de elementos, tanto no conteúdo quanto na plasticidade, que estiveram presentes na trajetória de Vargas, e que, ainda hoje, com mais intensidade, inquietam a sociedade e as famílias. Um convite a passear por um labirinto de ideias fácil de se sair. Difícil é ultrapassar os impasses que trazemos do nosso passado, ainda mais contundentes na nossa contemporaneidade. Dos brasileiros e da humanidade.

 

Obras para o prazer visual mas também para fazer pensar. Numa viagem lúdica que reforça a tese de que a arte redime o ser humano.E o que fica na história mesmo é a arte.

 

PS: coincidentemente, as iniciais do artista formam a sigla TD –  abreviação da expressão norte-americana “TrueDat”, corruptela de “truethat”, que significa que o fato é verdadeiro. Na era de “fakenews”, precisamos mais ainda da verdade.
Luis Erlanger é jornalista e escritor

 

 

Até 05 de maio.

 

Roberto Scorzelli, esculturas inéditas

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta a exposição “Scorzelli”, que reúne obras de Roberto Scorzelli e de seu filho, o designer Marcos Scorzelli. A mostra exibirá 16 obras em acrílica de Roberto Scorzelli, entre telas e papéis e trará, pela primeira vez, 40 esculturas de animais criados no papel por Roberto, e concluídos por Marcos. As peças são inéditas e desenvolvidas em aço após o falecimento de Roberto Scorzelli.

 

Sobre as esculturas em forma de bichos que serão expostas, Marcos Scorzelli conta que, em 1998, encontrou o desenho técnico original dos anos 1960 em um envelope. O acervo era oriundo do “Bestiário” – desenhos litográficos de diversos animais feitos por Roberto. O artista ainda estava vivo e os dois imediatamente começaram a rememorar o contexto em que tudo se originou: a infância de Marcos e Isabella, os dois filhos do artista que inspiraram a criação dos bichinhos em papel espalhados ludicamente pela casa do Joá. Iniciou-se, assim, a brincadeira entre pai e filho que trabalhavam juntos no escritório de arquitetura e design. Durante 14 anos, criaram novos modelos para além dos originais e passaram para os programas de computador, sempre pensando a execução do projeto em papel e ligada à editoração gráfica. O desafio era não perder o conceito. A concepção original era em papel e o rigor conceitual de Roberto o fez perseguir a ideia de não perder material durante a confecção, ou seja, não se poderia romper as matrizes dos bichos durante a execução. Foram anos pensando formatos editoriais diferentes, entre livros, folhetos e cartões de natal, com propostas mais didáticas ou mais lúdicas.

 

 

Até que no ano 2000, quando reformavam a sede da OAB-RJ, cujo projeto envolvia o uso de alumínio, Marcos foi à Alcoa (Camaçari, BA) e teve a percepção de tentar desenvolver os bichos neste material. Havia, contudo, a exigência conceitual de não se perder material em cortes. O conceito original se dava em dobraduras.

 

Em 2012 Roberto faleceu sem ver o resultado da brincadeira apaixonada dos bichos. Marcos desmotivou com a perda do pai, afinal trata-se de um projeto extremamente afetivo. Mas em julho de 2018, entusiasmou-se com uma nova tecnologia a laser capaz de dar forma à chapa de aço, material maleável, que se permite moldar e dobrar, sem perdas nem remendos. Dobras duras de animais que foram se ampliando nas mãos criativas do designer. Assim nasceu a bicharada em memória desse grande artista que foi Roberto Scorzelli e com a ternura que esta história encerra. Ou inicia.

 

 

Sobre o artista

 

Roberto Scorzelli nasceu em 1938, em João Pessoa, PB, e ainda criança, sua família se transfere para o Rio de Janeiro. Em 1955 cursou a Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) e, em seguida, Arquitetura na Universidade do Brasil (hoje UFRJ). No início dos anos 1960 expôs na OCA (1963), inaugurando uma série de participações em exposições coletivas e individuais. Uma década mais tarde, passou algumas temporadas em Berna (Suiça), quando trabalhava como arquiteto no Itamaraty. Nesta cidade, desenvolveu o projeto da Embaixada do Brasil e conviveu com Mary Vieira. Segundo ele próprio dizia, foi bastante influenciado pela obra desta artista, captando o rigor geométrico, o uso de papeis finos e transparências em superposições fortes, mas singelas em seu trabalho. Em 1976, criou o seu espetacular “Bestiário” – desenhos litográficos de diversos animais-, expondo-o na Galeria Bonino e iniciando uma trajetória artística também dedicada aos bichos, vivida à luz de muita observação, conforme anota Marc Berkowitz na introdução da edição original deste projeto: “São animais bem e pacientemente observados, por um artista de grande sensibilidade e muita percepção que soube captar e transmitir a graça, a majestade e até a monumentalidade de certos animais”.

 

Ainda nesta época, sempre antenado às tendências artísticas, criou a loja de design Senha, em Ipanema. Scorzelli era um artista bastante diversificado, mesmo porque exercia também a arquitetura. Clarival do Prado Valadares observou e escreveu sobre essa característica múltipla de Scorzelli, em 1979: “Desenho explica pintura porque é corpo e alma dela. Ela, pintura, é somente a voz. Roberto Scorzelli mostrando desenho, está falando em nome de sua pintura.” Na década de 1980, se aprofundou na pintura a óleo, buscando na paisagem a observação das transparências naturais. Desta fase, destacam-se as exposições na Galeria Saramenha (1978, 1981), dentre outras experiências importantes, inclusive internacionais. Nos anos 1990 retorna às composições geométricas, agora na técnica contemporânea da tinta acrílica.

 

Até 16 de fevereiro.

Abstração informal

A exposição “Oito décadas de abstração informal”, – em conjunto com o Museu de Arte Moderna de São Paulo – encontra-se em cartaz na Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ. Em exibição, obras assinadas, dentre outros, por Tomie Ohtake, Roberto Burle Marx, Vieira da Silva, Antônio Bandeira, Iberê Camargo, Maria Martins, Fernando Lindote, Lucia Laguna, Maria Polo, Ivald Granato, Jorge Guinle, Takashi Fukushima, Shirley Paes Leme, Tatiana Blass, Yolanda Mohaly, Nuno Ramos, Maria Bonomi, Leda Catunda, Edith Derdyk, Luiz Aquila, Manabu Mabe e Dudi Maia Rosa. Os trabalhos apresentados datam entre os anos de 1940 a 2010.

 

 

Texto de Felipe Chaimovich e Lauro Cavalcanti

 

A arte abstrata começou a ser praticada no Brasil, na década de 1940. Desde o início, surgiram duas linhas: a abstração informal e a abstração geométrica. A abstração informal caracteriza-se pela expressão de gestos do artista, seja com os materiais da pintura, ou da escultura; como resultado, o estilo de cada artista torna-se muito singular. A abstração geométrica, por outro lado, parte de princípios universais da matemática e da geometria, criando uma identidade mais coletiva. Os artistas que praticaram a abstração informal no Brasil não constituíram grupos permanentes, pois a singularidade do estilo de cada qual se impunha sobre princípios gerais. Assim, não há uma escola da abstração informal, ao contrário da geométrica, que levou à formação de grupos como o Ruptura, o Frente e o Neoconcreto. Da mesma forma, não se destacaram críticos de arte que representassem os artistas informais, embora houvesse aqueles que defendessem a abstração geométrica e acusassem a abstração informal de excessivo subjetivismo.

 

Entretanto, a abstração informal semeou no Brasil um extenso campo de arte gestual e da exploração da matéria da obra de arte. Ao reunirmos duas das coleções mais importante do Brasil, a do Museu de Arte Moderna de São Paulo e a do Instituto Casa Roberto Marinho, exibimos a permanência e a potência da abstração informal ao longo das últimas oito décadas. Apesar de ataques recorrentes contra o informal e dos modismos que defendem a arte geométrica, os artistas que praticaram a abstração informal no Brasil testemunham a coerência de seus estilos singulares, a radicalidade na exploração da matéria artística e o lirismo visual de suas composições. Convidamos o público a reencontrar-se com oito décadas de nossa abstração informal.

 

 

Até 09 de junho.

 

Antonio Dias – O ilusionista

22/dez

A exposição presta uma homenagem ao grande artista falecido recentemente, reunindo trabalhos pertencentes aos acervos do Museu – a coleção própria e a de Gilberto Chateaubriand, em comodato na instituição desde 1993. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a mostra reúne perto de 60 obras do artista. O público poderá ver o percurso do artista nas décadas de 1960, 70 e 80, em trabalhos feitos em diversos suportes e materiais. Completa a exposição um retrato do artista feito por Ivan Cardoso (1952).

 
“Antonio Dias é um dos mais relevantes artistas brasileiros contemporâneos”, destacam os curadores no texto que acompanha a exposição. Eles explicam que a exposição não buscou “qualquer mediação que não aquela do sequenciamento visual e das relações objetivadas na montagem”, que “confronta o visitante de maneira direta com a maioria as obras”. Dos trabalhos expostos, doze não estão datados.

 
Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes assinalam que desde o início de sua trajetória, Antonio Dias “encontrou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro uma instituição sintonizada com as questões que contribuíram de modo decisivo para a renovação da produção artística brasileira”. “Definitivamente não é possível contar nossa história sem falar de Antonio Dias, assim como nossas coleções não teriam a mesma força sem as quase 60 obras do artista que delas fazem parte e que agora podem ser vistas pelo público do Museu”, afirmam.

 

 
A seguir, uma minibiografia do artista, em texto dos curadores.

 

Nascido em Campina Grande, na Paraíba, Antonio Dias mudou-se para o Rio de Janeiro em 1958, aos 14 anos de idade. No Rio, trabalhou como desenhista, ilustrador e artista gráfico, e frequentou as aulas de Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes – período em que conheceu artistas ligados ao neoconcretismo carioca, com os quais estabeleceu contato.

 

 
Reconhecimento no Brasil e no exterior

 
Foi, no entanto, a sua participação em exposições como “Opinião 65” e “Propostas 65” – que reuniram em 1965 no MAM Rio e na FAAP, em São Paulo, tanto artistas brasileiros como de outros países; e a Bienal de Paris, em 1969, que despontou com destaque o jovem Dias, tanto nacional quanto internacionalmente. Os jovens integrantes dessas mostras tinham em comum o desejo de ultrapassar as poéticas abstrato-concretas em nome da aproximação da realidade social e política dos anos 1960. Tal tendência já estava em curso desde o final da década de 1950 quando ocorreu a reorientação mundial do foco nas sintaxes formais do abstracionismo, para as possibilidades semânticas sinalizadas pela volta a uma nova figuração. Nessas seis décadas de intensa atividade produtiva, em que viveu em Paris, Milão, Berlim, Colônia e no Rio de Janeiro, Antonio tornou-se uma referência inequívoca da arte contemporânea brasileira, e internacional.

 
Dias nunca parou de produzir ativa e renovadoramente uma obra cujo valor e importância podem ser resumidos com base neste escrito de Giulio Argan: “… uma obra é vista como obra de arte quando tem importância na história da arte e contribuiu para a formação e desenvolvimento de uma cultura artística. Enfim: o juízo que reconhece a qualidade artística de uma obra, dela também reconhece a historicidade”.

 

 

Até 24 de março de 2019.

Vanderlei Lopes na Athena

A Galeria Athena, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Arena”, de Vanderlei Lopes, com cerca de 30 trabalhos inéditos, feitos em bronze, que ocupam todo o espaço expositivo da galeria. Produzidas este ano, as obras se unem em torno da questão do tempo e da construção cultural. Feitas a partir de moldes dos objetos originais, o que as torna muito próximas ao real, não parecendo, em um primeiro olhar, serem em bronze. Em muitas delas, há a questão do movimento, como se o tempo tivesse sido congelado durante a ação.

 

“Factualidade e ficção, pensamento e ação, colidem-se nesse constante processo. Aqui, perpetuados em bronze, situações cotidianas e transitórias surgem como esculturas, monumentos que desejam discutir tais fenômenos”, conta Vanderlei Lopes.

 

Um grande tronco de árvore cortada, fundida em bronze, com cerca de 3,60m de diâmetro por 1,25m de altura, com uma arena vazia em seu topo, estará na sala menor da galeria, que mede 50m². A arena foi construída a partir das linhas circuncêntricas da madeira, que podem ser vistas em um corte, através dos quais é possível calcular a idade da árvore. A arena é um local de acontecimentos por princípio, um lugar de espetáculos desde os tempos mais antigos, mas neste trabalho ela aparece vazia. “Construída escalonada, faz eco aos movimentos circuncêntricos do crescimento da árvore e sobrepõe ao tempo natural de seu crescimento o tempo cultural, aludido pela arena. De outro lado, o trabalho relaciona o corte à construção cultural, ao acontecimento civilizatório. O teatro vazio, alusão ao palco social onde se desenrolam os acontecimentos, a atuação cotidiana”, afirma Vanderlei Lopes.

 

No salão maior, que tem 140m² e pé direito de 6,5m, estarão cerca de 20 esculturas em bronze, simulando primeiras páginas de jornais, que estarão espalhadas pelo chão, com noticias relacionadas à construção cultural. “Trata-se de jornais fixados em bronze – esses elementos cotidianos que de tão transitórios, passam a ser passado no dia mesmo em que foram impressos, aqui, convertidos ao estatuto de monumento”, conta o artista. Os jornais trazem imagens de explosões, objetos ou situações cotidianas incendiadas que colidem com frases de origens diversas, apropriadas ou transformadas, manifestos e fragmentos reflexivos, escritos por figuras emblemáticas e constitutivas de uma elite cultural. Nos jornais criados pelo artista há imagens de diversos incêndios, como o recente que atingiu o Museu Nacional e outros mais antigos, como o do MAM, no Rio de Janeiro, e do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, além de imagens de disputas de poder e de território, como a Bomba de Hiroshima e o ataque às Torres Gêmeas, no dia 11 de setembro de 2001. “Os jornais têm a fixação do tempo, e esses trazem imagens de transformações. Uma espécie de tragédia perpassa os jornais espalhados pelo chão, que intenta friccionar um repertório de matriz construtiva a outro, de cunho mais trágico”, ressalta o artista, que data os jornais de acordo com a data de feitura das obras.

 

Nesta mesma sala, estará a obra “Demiurgo”, uma sacola de bronze azul, que flutua no ar rente à parede, como o resíduo de um vento que passou, materializando em estado de suspensão o voo desse objeto. Complementa a exposição a obra “Insônia”, um travesseiro, também em bronze, cuja ponta é dobrada, dando a impressão de ser realmente um travesseiro de tecido maleável, com um redemoinho modelado em sua superfície. Na parede, há a fotografia de um tornado, em diálogo com a escultura. “Ambos os trabalhos, sobrepõem a fixação dos fenômenos naturais a que aludem ao modo como as obras surgem instaladas fisicamente no espaço expositivo”, diz o artista.

 

Ao articular as duas salas da galeria, Vanderlei Lopes cria um jogo de contrastes em que o espaço físico menor está ocupado por um único trabalho de grandes dimensões, que o torna denso, enquanto o espaço maior, ocupado por outros de menor escala, dispostos no chão, apresenta aspecto mais esparso, criando uma inversão, assim como a arena, que aqui surge vazia, contrapondo-se ao seu sentido original, que é um lugar de acontecimentos, de movimento, de fatos. O nome da exposição surge desta visão mais ampla do que seria arena, esse lugar de acontecimentos, onde uma árvore acaba de ser cortada, jornais estampam noticias recentes, pedaços de papéis rasgados voam com o vento, assim como uma sacola azul e um travesseiro após a passagem de um tornado.

 

 

Sobre o artista

 

Vanderlei Lopes nasceu em Terra Boa, PR, em 1973. É formado em artes plásticas pela UNESP. Possui obras em importantes coleções públicas, como Pinacoteca Municipal e Pinacoteca do Estado de São Paulo; Coleção Itaú; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto. Entre suas principais exposições individuais destacam-se: “Domo” (2016), na Capela do Morumbi; “Monumento” (2016), na Galeria Athena Contemporânea; “Grilagem” (2014), no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; “Transitorio” (2014), na Galeria nueveochenta, em Bogotá; “Voo, Maus Hábitos” (2007), no Porto, Portugal.

 

Entre as exposições coletivas estão: “Gold Rush” (2016), no De Saisset Museum, nos EUA; “Uma coleção particular – Arte Contemporânea no Acervo da Pinacoteca” (2015/2016), na Pinacoteca do Estado de São Paulo; “Realidades – Desenho Contemporâneo Brasileiro” (2011), no SESC-SP; “Les Cartes Blanches du Silo à l’Emsba” (2009), no Beaux-Arts de Paris, l`école nationale supérieure, em Paris; “Loop Videoart Barcelona” (2009), no Centre Civic Pati Llimona, em Barcelona; “Nova Arte Nova” (2008/2009), no CCBB Rio de Janeiro e São Paulo, entre outras.

 

 

Até 26 de Janeiro de 2019.

1º Prêmio MTD de fotografia

Prêmio idealizado pelo Movimento Territórios Diversos faz homenagem a Walter Firmo. Pela primeira vez a Zona Oeste vai ser palco de uma cerimônia de premiação e mostra fotográfica, no Palacete Princesa Isabel, em Santa Cruz, Rio de Janeiro. Sob o tema “Mais amor por favor”, com intuito de resgatar o sentimento de humanidade e amor ao próximo, na contramão dos individualismos, o Prêmio MTD de fotografia: Walter Firmo vai reunir profissionais e amantes da fotografia numa grande festa.

 
Segundo a Associação Cultural Movimento Territórios Diversos, organizadora do evento, com o avanço tecnológico a arte da fotografia vem sendo trabalhada a partir de diversos recursos em manipulações de imagens que temos em mãos. Os programas de edição são eficazes, contudo, fazer uma fotografia vai muito além do clique, edição e/ou manipulação. Ter um olhar sensível é fundamental para capturar a melhor imagem na hora de apertar o disparador. O prêmio pretende valorizar o “olhar”, a difusão da arte fotográfica, os lugares ainda não visitados e incentivar os amantes e profissionais da fotografia, por meio de uma Cerimônia de Premiação e Mostra fotográfica com workshops. O local escolhido para a premiação abriga o Ecomuseu de Santa Cruz, e ainda é um espaço cultural imperial pouco conhecido do grande público.

 
Em cada edição o Prêmio fará uma homenagem à notáveis personalidades da fotografia. Nessa edição de abertura do Prêmio, Walter Firmo será o homenageado. Firmo é fotógrafo, jornalista e professor de carreira reconhecida nacional e internacionalmente. Sua obra investiga a figura humana, os costumes e festas populares brasileiras como o Carnaval do Rio de Janeiro. Em sua produção destacam-se ainda os retratos de músicos brasileiros, como Clementina de Jesus, Cartola e Pixinguinha.

 

 

O Prêmio MTD de Fotografia: Walter Firmo é uma iniciativa sustentável baseada em três pilares.

 
Econômico: valorização das trocas, economia colaborativa e parcerias.

 
Social: cultura, arte, bem-estar social, desenvolvimento de localidades, compromisso com a humanidade. Eventuais excedentes não utilizados na execução do Prêmio serão destinados à manutenção de projetos sociais.

 
Ambiental: compromisso com o meio ambiente, reutilização de materiais para composição da infraestrutura da Mostra.

 
Após a pré-seleção as imagens inscritas no concurso serão avaliadas por um corpo de jurados formado por dez profissionais renomados da área da fotografia e pelo Júri Popular, através de redes sociais. Os 20 Finalistas terão suas imagens expostas na mostra fotográfica, que acontecerá em 16 de fevereiro de 2019 e afixadas em murais da cidade. Os 3 Vencedores nas categorias Profissional e Amadores, levarão troféus e bolsas de estudos na área da fotografia. O primeiro lugar de cada categoria ganhará o Selo Walter Firmo de elogio e reconhecimento.

 
Participam da organização a gestora cultural e conselheira municipal de cultura do Rio de Janeiro Elizabeth Manja, os Produtores Culturais: a ambientalista Bianca Marins, o artista plástico Sergio Dias e a fotógrafa Gilmara Nunes, componentes da equipe gestora do Ponto de Cultura Movimento Territórios Diversos Associação Cultural, instituição realizadora do Prêmio. Além da fotógrafa Cacau Fernandes, convidada para atuar na coordenação técnica. O corpo de júri conta com os nomes de Wânia Corredo, Severino Silva, Cristina Fromet, Marco Antônio Portela, Bruna Prado, Júlio Regis, Belle Maia, Alex Ribeiro, Leo Mano e Wander Rocha.

Tulio Dek na TNT Arte Galeria

O multiartista – pintor, escultor, poeta, compositor e músico – faz sua primeira individual. Em setembro, fez uma residência artística de um mês em Lisboa, que resultou em uma exposição na capital portuguesa.

 

 

A TNT Arte Galeria, São Conrado, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Reflexo”, com trabalhos inéditos de Tulio Dek, artista nascido em 1985, em Goiânia, e radicado no Rio de Janeiro. Com curadoria de Marco Antonio Teobaldo, exibe doze pinturas, e três esculturas da série “Reflexo”, em que centenas de cápsulas de munição compõem as formas de duas mulheres e um torso de uma menina.

 

 

 
Em setembro último, Tulio Dek participou durante um mês de uma residência artística no Thomaz Hipólito Studio, em Marvila, Lisboa, que resultou em uma exposição no mesmo local. Agora em dezembro, obras suas integrarão uma mostra coletiva na Square One Contemporary Art Agency, na capital portuguesa, com curadoria de Rui Afonso Santos, do Museu de Arte Contemporânea do Chiado, que também fará a curadoria da individual do artista programada para o primeiro trimestre de 2019, na Square One Contemporary Art Agency.

 

 
Em janeiro, Tulio Dek fará uma grande intervenção no Memorial Vargas, no Rio, onde usará como suporte para suas pinturas tecidos com padronagem alusiva ao pijama usado por Getúlio (1882-1954). Esses tecidos estarão suspensos ao longo do percurso circular da exposição, de modo a que o público caminhe em meio a eles.

 
A poesia e os desenhos estão presentes na vida de Tulio Dek desde menino, e ele sempre está acompanhado de um caderno de anotações, mesmo durante suas viagens, onde registra suas ideias ou observações sobre o que passa a sua volta. Desde 2012, voltou seu processo criativo para o desenho e para a pintura, sem abandonar seus textos. De 2015 a 2017 morou na Itália, onde dividiu um ateliê com um escultor ligado à Academia de Arte de Florença (Florence Academy of Art). “Meu processo de criação é muito solto, e não acredito na perfeição. O que me interessa é o processo em si e o que eu quero dizer. Não me identifico com a formação acadêmica, onde se exige uma perfeição de formas e acabamento que não tem a ver comigo. Eles ensinam um realismo que não me interessava. Mas como eu queria dominar o uso do bronze, não tinha como fugir, e era obrigado a aprender a técnica para chegar onde eu queria. Passei então a aprender vendo o escultor trabalhar no ateliê. Choquei uma professora da Academia que viu um busto de Beethoven que fiz e rabisquei todo depois. Adoro a Itália, mas depois de dois anos vi que meu tempo ali tinha acabado”, conta.

 
Marco Antonio Teobaldo, que acompanha o artista há seis meses, destaca que Tulio Dek usa seus cadernos de anotações “como reservatórios de ideias”, e que o artista “tem um caminho muito próprio”. “Foi muito precoce como poeta, e tanto na música como na pintura e escultura ele consegue provocar e traduzir muitas inquietações comuns a todos. É a mesma poética com formas distintas”, diz. “A poesia é o que move seu trabalho. A partir dela, ele vai desenvolvendo outras formas de criação”. O curador assinala também o processo solitário de criação de Dek. “Ele trabalha sozinho, sem ninguém por perto. Quando começa uma pintura, só vai parar quando terminar. É muito intenso”.

 

 

 

A cabeça na pintura, e sua ausência na escultura

 

 

O curador chama a atenção para o fato de que na exposição a figura de uma cabeça está muito presente nas pinturas. Já nas duas esculturas os corpos cobertos por cápsulas de armas de fogo estão sem cabeça. “É como se a pessoa ali ficasse impedida de sua ação, sua vontade própria, e se tornasse apenas um alvo. Ela está integralmente alvejada. É um corpo sujeito à violência em sua totalidade, nada escapa. Não há um centímetro que não tenha sido alvo ou vítima da violência”. Nas pinturas, a cabeça, às vezes somente insinuada ou rabiscada, é um elemento de fala, de pensamento, ativo.

 
Marco Antonio Teobaldo observa que Tulio Dek não gosta “de se expor”. “Mesmo suas performances são anônimas. Ele é muito generoso e despojado”, diz.

 
Sobre isso, Tulio Dek comenta que a rotina de shows, intensa em sua vida dos dezessete aos 27 anos não o interessava mais. Ele se voltou então para seus desenhos e escritos. Sua pulsão para a pintura foi algo natural, e ali passou a trabalhar suas inquietações. “A música continua presente, mas ocasionalmente, e apenas no ato de compor. Minha dedicação é total à produção das telas e esculturas”, afirma.

 

 

Até 13 de janeiro de 2019.

Quatro no Museu da República

20/dez

A Galeria do Lago, Museu da República, Catete, Rio de Janeiro, RJ, encerra o ano com a abertura de “Quimera”, mostra que reúne três gerações com quatro artistas e curadoria compartilhada de Isabel Sanson Portella com Ricardo Kugelmas, curador do espaço Auroras em São Paulo. Ana Prata, Bruno Dunley, Veío  e Liuba Wolf são os artistas que expõem suas pinturas, esculturas e desenhos. Trata-se, primeiramente, de um diálogo de gerações onde a exaltação imaginativa em diferentes técnicas aparece como destaque. A Quimera mitológica, símbolo complexo de criações imaginárias do inconsciente, representa a força devastadora dos desejos frustrados, dos sonhos que não se realizam, da utopia e fantasias incongruentes. Monstros fabulosos alimentam, desde sempre, a imaginação do homem com devaneios necessários à expansão da alma.

 

“O diálogo que se estabelece entre os quatro artistas resulta numa mostra de identidades e poéticas que se aproximam enquanto falam de desejos e expectativas. Embora as práticas sejam distintas existe a mesma procura pela excelência, pela abstração e simplicidade das formas. A eles interessa o prazer criativo, a “brincadeira séria” e a liberdade de sonhar”, avalia a curadora, Isabel Sanson Portella, que também é diretora da Galeria do Lago.

 

 

Sobre os artistas

 

Liuba Wolf

 

Inserida na tradição da escultura moderna desde os anos 1950, é considerada uma das pioneiras entre as artistas mulheres que se dedicaram à arte de esculpir. Inicialmente figurativa, a artista passou, a partir dos anos 1960, por uma significativa mudança formal que a levou à “quase abstração”, tendo a figura do animal como referência. Suas obras, como a própria artista afirma, vêm do inconsciente e são uma “simbiose entre vegetal e animal.” A força e beleza de seus trabalhos inspirou, certamente, toda uma geração de artistas que se seguiu.

 

Véio

 

Artista sergipano dos mais destacados na arte popular brasileira, utiliza a madeira para representar o seu olhar crítico sobre o homem e a vida no sertão nordestino. Transforma restos de troncos da beira do rio, em esculturas coloridas, seres imaginários e personagens místicos que surgem das histórias de assombração ouvidas na infância. O universo de Véio, autodidata e muito enraizado em sua terra natal, é povoado pela tradição popular que o faz perceber o poder da transformação e da luta pela forma pura.

 

Ana Prata

 

A artista entende a pintura como meio de experimentação e linguagem. Seus trabalhos apresentados em Quimera trazem algumas propostas bastante significativas nesse diálogo de gerações e lugares de fala. A procura pela liberdade, o prazer criativo e a imaginação são pontos em comum nos quatro artistas selecionados. Para Ana Prata é importante variar, criar sempre algo novo para que outros sentimentos aflorem. Sua obra está aberta a novas propostas e respostas. E é sempre no olhar do expectador que a narrativa se completará.

 

Bruno Dunley

 

Sua prática é voltada para a abstração gestual, sem, entretanto, perder o foco na representação dos objetos. Para ele existe uma mudança fundamental na função da imagem que deixa de ser forma única de apresentação de uma ideia. As cores utilizadas, delicadas mesmo quando as imagens são violentas, aparecem ora em manchas, ora como fundo para os desenhos. Quase sempre há uma cor predominante, pastel seco aplicado com vigor além de traços em carvão. Bruno não procura a beleza perfeita e absoluta, mas cada vez mais pensa em uma beleza possível, direta. Algo que faça o espectador apurar o olhar e criar sua própria experiência sensorial.

 

 

Até 24 de fevereiro de 2019.

Tons de brancos no Paço Imperial

18/dez

O carioca Ronaldo do Rego Macedo mostra 40 trabalhos inéditos em óleo sobre tela e sobre papel na individual, intitulada “Fissão)(Tectônica”, um segmento de sua produção dos anos 2010, que ocupa três salas do Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, sob curadoria de Sonia Salcedo Del Castillo. Ronaldo do Rego Macedo é um pintor que não faz concessões no conceito nem na feitura de seus trabalhos.

 

A pintura abstrata recente do artista, professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, é a continuidade de uma pesquisa de décadas, em que a cor constitui pura presença física. Cores vibrantes, criadas por Ronaldo são “soterradas” por camadas muito espessas de tinta a óleo de tons de branco, aplicadas com pincel, trincha, vassoura ou a mão diretamente. Nas telas grandes e pequenas, há vestígios de vermelhos, azuis e roxos implacavelmente cobertas pelos brancos, nos quais a marca das “pinceladas” se faz evidente.

 

“Estou sempre girando em torno do tema da invisibilidade, do silêncio, do vazio. Sempre há algo que nunca se revela inteiramente, fica à sombra (…). A pintura vem para a frente, ela quer nos abraçar, mas há alguma coisa que chama atenção para o que é fluido e recessivo. O título, quando aparece inscrito na pintura, (…) é, muitas vezes, é um signo vazio, que nada significa, ainda bem. E que tem sempre um apagamento, que contradiz essa presença da área pintada”, entrega Rego Macedo.

 

Sobre o apagamento a que o artista se refere, a curadora Sonia Salcedo Del Castillo descreve no texto de apresentação: (…) o vigor impresso à fatura de suas telas resulta em espaço e presença pulsantes. Há nela tal frescor que, por vezes, parece sugerir sabor à sua pintura.”

 

 
Sobre o artista

 

Ronaldo do Rego Macedo nasceu no Rio de Janeiro, em 1950. Fez sua primeira individual aos 23 anos no Rio, à qual se seguiram outras 12 em capitais brasileiras. Desde os 19 anos participa de coletivas no Brasil e em cidades como Montevidéo, Buenos Aires, Cidade do México, Toronto, Pully (Suíça), Viena e Linz (Áustria), Paris, Bruxelas, Cairo, Rabat e Tóquio. O artista esteve nas edições da Bienal Internacional de São Paulo de 1973 e de 1987, quando ganhou Sala Especial, e no Salão Nacional de Arte Moderna de 1972 e 1973. Sua pintura está nas coleções de Gilberto Chateaubriand, João Sattamini, Giovanni Bianco, Antonio Cicero, Brenda Valansi, Lauro Jardim, Marcel Telles (Ambev), e nos acervos do MAM Rio e do Museu Nacional de Belas Artes (RJ). Teve como mestre o pintor Aluisio Carvão, com quem estudou três anos no MAM Rio. Foi ainda aluno de Lygia Pape e Cildo Meireles também no MAM Rio.

 

 

Até 17 de fevereiro.

Tratando as diferenças

13/dez

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Cabeças” de Antonio Sérgio Moreira, a última de sua programação encerrando o calendário de 2018 sob a curadoria de Marco Antônio Teobaldo.

 

A partir de uma visita do artista à construtora de uma amiga, em 2016, nela encontrou dezenas de capacetes de trabalhadores que seriam descartados, Antonio Sérgio Moreira viu naquele material, separado por diferentes cores de acordo com a função dos operários (seguindo normas da ABNT), um grande potencial para trabalhar algumas idéias sobre e seu papel de resistência no espaço que ocupa no contexto além da sua jornada de trabalho. Rostos foram pintados sobre a superfície de cada um dos 110 capacetes exibidos na instalação “Insólitos construtores”.

 

Outra série, iniciada em 1992, chamada de “Tétes” (cabeças, em francês), são, segundo o artista, “…aminha visão como os afro-ameríndios lêem a si mesmos, e como os outros afros se lêem.” Ele questiona e aponta: “…qual é a face da nossa identidade? As diferentes expressões de cada uma dessas cabeças são na verdade, como podemos ser estranhos um para o outro. A inserção na religiosidade Nagô me fez refletir mais sobre o valor da cabeça num âmbito maior da ancestralidade. O ori (cabeça em Iorubá) é mais importante do que a própria divindade ancestral.”

 

O curador da exposição, Marco Antonio Teobaldo, revela que “…a exposição “Cabeças” será composta por mais de 200 obras, a grande maioria formada por inéditas, dentre objetos, telas e papéis, que tecem uma trama sobre a memória do indivíduo negro e de seus antepassados, no contexto da Diáspora Africana, que é amplificada quando exibida sobre o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos.”

 

O Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos – IPN, é o responsável pela preservação do sítio arqueológico da maior necrópole deste gênero, de africanos escravizados das Américas, e tem sido o guardião da memória deste episódio monstruoso na historio do Brasil, no qual, estima-se, mais de 50 mil corpos foram sepultados sem qualquer tipo de ritual fúnebre ou dignidade com os seus restos mortais.

 

 

Até 09 de fevereiro de 2019.