A Gentil Carioca Rio promove dois eventos

25/jun

Conversa com Novíssimo Edgar e Ativação Parede Territorio’s de Rose Afefé

Nesta sexta-feira, a partir das 17h, A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, propõe dois eventos em torno das práticas dos artistas Novíssimo Edgar e Rose Afefé.

Novíssimo Edgar conduzirá uma conversa sobre a sua exposição “Arqueologia de Si”, atualmente em exibição na galeria. A conversa abordará a pesquisa que inspirou a concepção da mostra, que propõe um léxico próprio composto por formas, símbolos e cores. Esse vocabulário, situado na interseção entre produções históricas e culturais de diversas sociedades, resulta da busca do artista por suas origens: “Estou realizando uma escavação dentro de mim mesmo para encontrar uma civilização perdida, o que toca em questões de ancestralidade, colonialismo e diáspora”.

A partir das 18h, inicia-se a ativação do mural “Parede Teritório’s”, parte da 40ª edição do Projeto Parede Gentil. Concebida por Rose Afefé, esta obra resulta de sua pesquisa artística sobre espaços, ocupações e as interações que proporcionam. Na ocasião, a artista promoverá uma celebração com karaokê, convidando todos a participar. Inspirado na atmosfera de uma festa junina, o evento busca materializar a estética do universo de Terra Afefé, uma microcidade criada pela artista na Chapada Diamantina, interior da Bahia. Todos são bem-vindos, trazendo sua voz, alegria e vestindo seu melhor traje junino!

Mostra de Carlos Scliar e Cildo Meireles

24/jun

A Casa Museu Carlos Scliar, Cabo Frio, RJ, completa 20 anos com exposição imersiva que reúne até 25 de junho de 2025, obras de Carlos Scliar e Cildo Meireles.

Para marcar os 20 anos da Casa Museu Carlos Scliar, será inaugurada no dia 29 de junho de 2024, a exposição “Os Artivistas: Carlos Scliar e Cildo Meireles”, que une, pela primeira vez, a obra desses dois importantes artistas. “O Scliar foi fundamental na minha vida”, afirma Cildo Meireles sobre o amigo falecido em 2001. Com curadoria de Cristina Ventura, coordenadora da casa museu, serão apresentadas cerca de trinta obras, sendo algumas inéditas, que cobrem um período que vai desde a década de 1940 até 2021. Completam a mostra obras participativas, inspiradas nos trabalhos dos dois artistas. A exposição, que terá entrada gratuita até o final do mês de agosto, é apresentada pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro através da Lei Paulo Gustavo.

“A ideia é provocar no espectador um convite á reflexão, instigada pela atualidade das questões tratadas pelos artistas em suas obras. Temas como: crimes de estado, meio ambiente, guerra, valor monetário, entre outros. Nosso propósito é que a pessoa pense sobre o seu papel no mundo de hoje”, diz a curadora Cristina Ventura.

As obras de Cildo Meireles e Carlos Scliar serão expostas juntas, como uma grande instalação, sem seguir uma ordem cronológica. São pinturas, desenhos, colagens, estudos, gravuras, objetos e vídeos. De Cildo, estarão as notas “Zero Dólar” (1984) e “Zero Cruzeiro” (1978), a instalação sonora “Rio Oir” (2011), o vídeo “15 segundos” (2021), em homenagem a Marielle Franco, entre outras obras. De Scliar, destacam-se os desenhos “Levante do Gueto de Varsóvia” (1957) e “SOS” (1989), além de desenhos e estudos, alguns inéditos, que tratam de temas como a cultura afro-brasileira e o holocausto. “Sou um grande admirador dos desenhos do Scliar, acho que ele era um desenhista dos mais talentosos do Brasil, verdadeiramente sensível”, afirma Cildo Meireles.

Na mostra, estará, ainda, a matriz da capa da Revista Horizonte, feita por Scliar em 1952, onde se lê: “Assine Apelo Paz”. “A Segunda Guerra Mundial o marcou muito, Scliar foi pracinha, atuou como cabo de artilharia. No período pós-guerra participa ativamente de movimentos a exemplo o Congresso pela Paz ocorrido na antiga Tchecoslováquia, a mensagem trazida na obra é fundamental”, diz a curadora. Uma reprodução tátil desta matriz fará parte da exposição para que o visitante possa manuseá-la. Também estará na exposição um texto inédito do artista, da década de 1980, narrado pela cantora e compositora Marina Lima. No documento, Scliar expressa sua indignação e cansaço diante da nossa construção histórica. A artista cresceu vendo obras de Scliar, colecionadas por seu pai, segundo Marina, “…uma imagem afetiva que nunca esqueço”. A gravação foi feita especialmente para a exposição.

Com trajetórias diversas, Carlos Scliar e Cildo Meireles se conheceram em 1966. “A partir do nosso primeiro encontro, onde mostrei meus desenhos, ele se interessou em mostrar esses trabalhos para alguns colecionadores e a partir daí praticamente me financiou. Sempre foi uma pessoa de uma generosidade muito grande, não só no meu caso, mas também com outros artistas jovens que estavam iniciando. Ele era uma pessoa de um entusiasmo intrínseco, estava sempre incentivando, sempre apoiando”, conta Cildo Meireles. Os dois foram muito amigos durante toda a vida e, em diversos momentos, tratam de questões similares em seus trabalhos, como no período da Ditadura militar. Outras questões também convergem na produção dos dois: a icônica obra “Zero Dólar”, de Cildo Meireles, traz a imagem do Tio Sam, personagem que aparece sobrevoando a Amazônia com asas pretas, como se fosse um urubu, na obra “SOS”, de Carlos Scliar.

Percurso da exposição

A mostra começa com uma linha do tempo sobre Carlos Scliar (1920-2001) e chega-se ao jardim, onde está a grande escultura “Volumes Virtuais”, de Cildo Meireles, doada em 2022 para a Casa Museu. Com seis metros de altura, é a primeira escultura da série feita em metal.  Ainda no pátio, estarão trechos do projeto inédito do painel em mosaico projetado para o Brasília Palace, em 1957, a pedido de Oscar Niemeyer (1907-2012), que nunca chegou a ser executado. A obra traz uma homenagem à cultura afro-brasileira, com elementos da religiosidade africana.

Na sala menor, próxima ao jardim, haverá uma grande caixa em perspectiva, inspirada nas famosas caixas criadas por Scliar, onde o público poderá entrar. Nela, estarão matérias de jornais onde o artista alertava para questões ambientais, trazendo manchetes como “A indignação do pintor”, fazendo um contraponto com o que está acontecendo hoje. “Em muitos momentos, Scliar aproveita o espaço na mídia não para falar de sua obra, mas sim para advertir sobre a forma destrutiva que tratamos nosso habitat. As matérias são atuais, as proporções é que são mais desastrosas”, ressalta a curadora. Ainda dentro da caixa haverá imagens do projeto educativo “Meu lugar, meu patrimônio”, onde adolescentes da rede pública de ensino de Cabo Frio e região, falam sobre questões ambientais, em consonância com a fala de Scliar na década de 1980 e o cenário atual.

Na antessala do salão principal estarão dois jogos interativos, um ilustrado com a obra de Carlos Scliar e outro Cildo Meireles, e a reprodução tátil da obra “Assine Apelo Paz”. Seguindo, chega-se à sala principal, onde estarão as cerca de trinta obras dos dois artistas, montadas como uma grande instalação, ambientada pela escultura sonora “Rio Oir”, de Cildo Meireles, na qual o artista coleta o som de algumas das principais bacias hidrográficas brasileiras, gravadas em vinil. Neste mesmo espaço estará o vídeo “15 Segundos”, no qual a vereadora Marielle Franco (1978-2018) é homenageada. Na mesma sala, haverá obras que destacam a atuação de Carlos Scliar na área gráfica, junto à redação das revistas culturais Horizonte (1950 a 1956) e na criação da revista Senhor (1959 a 1960), além de trabalhos do período da Ditadura militar, que trazem frases como: “pergunte quem”, “urgente”, “pense” e “leia-pense”, além do texto da década de 1980 narrado pela cantora e compositora Marina Lima. “A ideia é que o visitante entre num espaço que o absorva em vários aspectos, seja pelo som da água, seja pelo que está sendo visto ou pelo que não está sendo visto – haverá uma vitrola girando sem disco, denotando ausência, desconforto”, diz Cristina Ventura.

Na sala de cinema haverá a projeção de dois filmes: um de Carlos Scliar falando sobre o compromisso das pessoas com as questões do nosso planeta e outro de Cildo Meireles contando como conheceu Carlos Scliar e sua relação com ele. Para completar a experiência, no segundo andar da Casa Museu está a exposição permanente, onde se pode ver o ateliê de Carlos Scliar, que permanece exatamente como ele deixou.

Sobre a Casa Museu Carlos Scliar

O Instituto Cultural Carlos Scliar (ICCS) foi criado em 2001, mesmo ano da morte de seu patrono. O processo para criação da instituição foi acompanhado pelo artista, um acordo que fez com o filho Francisco Scliar para manter sua memória. Fundada por Francisco Scliar junto com os amigos: Cildo Meireles, Thereza Miranda, Anna Letycia, Regina Lamenza, Eunice Scliar, entre outros conselheiros, a instituição, aberta ao público em 2004, está sediada na casa/ateliê do pintor, em Cabo Frio, Rio de Janeiro. Trata-se de um sobrado oitocentista, com cerca de 1000m², adquirido em ruínas por Carlos Scliar, reformado em 1965 para abrigar seu ateliê e ampliado na década de 1970, com projeto de Zanine Caldas. A casa mantém a ambientação dos espaços deixada por Carlos Scliar, com seus objetos pessoais, acervo documental, bibliográfico, gravuras, desenhos e obras. A coleção resulta da produção do próprio artista ao longo de sua vida, somado a uma expressiva e representativa coleção de obras originais dos mais importantes artistas do cenário brasileiro do século XX, os amigos José Pancetti, Djanira, Di Cavalcanti, Aldo Bonadei, Cildo Meireles, entre outros, além de cerca de 10 mil documentos datados desde a década de 1930. Reforçando seu compromisso sociocultural, ao longo dos últimos três anos foram atendidos mais de 1000 estudantes do Estado do Rio de Janeiro, em projetos educativos. Em 2023, a instituição foi agraciada com o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação Museal, promovido pelo IBRAM.

Brasil Visual

20/jun

No dia 22 de junho, a partir das 17h, acontece a pré-estreia na Praça Luís de Camões (Praça do Russel), Glória, RJ, um evento gratuito, com exibição de três episódios, DJs convidados e conversas com participantes.

Como os acontecimentos ocorridos nos últimos anos impactaram as artes visuais brasileiras? Este é o recorte da série “Brasil Visual”, dirigida por Rosa Melo, que estreia no dia 25 de junho de 2024, às 20h30, no canal Curta! além de pocket show com o artista Cabelo. Partindo das artes visuais, a série aborda temas que impactaram toda a sociedade, como a pandemia de COVID-19, as manifestações que tomaram o país, a inteligência artificial, passando por temas como espiritualidade, a dualidade do mundo dos vivos e dos mortos, entre outros.

“Esse projeto fala sobre a vida através da arte, mostrando um pouco como a produção artística foi atravessada por questões tão importantes do nosso cotidiano”, afirma Rosa Melo, diretora-geral da série, que tem codireção de Lia Letícia e realização de Rosa Melo Produções Artísticas e AC Produções, BRDE, Ancine, FSA e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro através da Lei Paulo Gustavo.

A pré-estreia será com a apresentação do DJ Galo Preto, seguido da exibição do primeiro episódio da série e de conversa com Aline Motta, Bruno Balthazar e Paulo Paes. Em seguida, haverá a apresentação da DJ Onciã, exibição do segundo episódio, bate-papo com Ana Lira, Carmem Ferreira, Mônica Benício e Pâmela Carvalho, seguida de show do artista Cabelo, exibição do terceiro episódio e conversa com Laura Lima, Lia Letícia e Novíssimo Edgar. A noite termina com o karaokê de Martha Rodrigues. A programação completa por ser conferida no Instagram @brasilvisual.arte.       

Brasil Visual

Com treze episódios, com duração de 26 minutos cada um, “Brasil Visual” traz entrevistas com artistas, pesquisadores, povos indígenas, povos de terreiro, entre outros. Dentre os 36 entrevistados, estão artistas contemporâneos e especialistas de todas as regiões do país, incluindo nomes de destaque, como os artistas Cildo Meireles e Rosana Paulino, o curador e artista indígena Denilson Baniwa, a liderança do MSTC, educadora e urbanista Carmen Silva, a curadora, ativista indígena Guarani Sandra Benite, os artistas Lourival Cuquinha, Paulo Paes, Rose Afefé e Novíssimo Edgar, o neurocientista Sidarta Ribeiro, o pedagogo Luiz Rufino, a curadora, pesquisadora e crítica de cinema Kênia Freitas, a autora, educadora e diretora da Redes da Maré Eliana Sousa Silva, o sacerdote, artista e pesquisador de simbologias e mitologias afro-brasileiras Bruno Balthazar, o Alápini, (sacerdote do culto dos Egunguns)  Balbino Daniel de Paula, entre outros.

Luiz Zerbini no CCBB Rio

14/jun

Retrospectiva da carreira de Luiz Zerbini (São Paulo, 1959), um dos principais nomes da arte contemporânea latino-americana, cujo trabalho faz uso de uma variedade de materiais e suportes e aponta para temas como ecologia e ancestralidade, urgentes dos tempos atuais. Composta por obras que traçam um panorama da sua atuação nas últimas décadas, a exposição oferece ao público a oportunidade de travar contato com uma produção que é referência na cena artística nacional e internacional. A mostra apresenta trabalhos inéditos do artista no Rio de Janeiro. Trata-se de um recorte amplo da sua atividade nas últimas décadas e configura um percurso poético por sua obra. A exposição também é um manifesto contemporâneo sobre cosmopolítica, a relação entre arte e ecologia e os saberes dos povos originários. O artista coloca em discussão fatos históricos, refletindo sobre a nossa origem e ancestralidade e ressignificando símbolos. A curadoria é de Clarissa Diniz.

Sobre o artista

Luiz Zerbini nasceu em São Paulo, em 1959. Iniciou sua atividade artística no final dos anos 1970. Expoente da chamada Geração 80, é conhecido por fazer pinturas em grande escala de colorido exuberante, em geral figurativas e com incursões no abstracionismo geométrico. Suas composições incluem a paisagem e as formas da natureza. Sua obra transita entre a pintura, a escultura, a instalação, a fotografia, a produção de textos e vídeos. É um dos integrantes do grupo Chelpa Ferro. Entre as exposições recentes, destacam-se: Siamo Foresta, Triennale Milano, Milão (2023); Dry River, Sikkema Jenkins & Co, New York (2022); A mesma história nunca é a mesma, MASP, São Paulo, Brasil (2022); Fire, Stephen Friedman Gallery, Londres, Reino Unido (2020); Nous Les Arbres, Fondation Cartier, Paris (2019); Intuitive Ratio, South London Gallery, Londres (2018); Dreaming Awake, House for Contemporary Culture, Maastricht (2018); Luiz Zerbini, Stephen Friedman Gallery, Londres, Reino Unido (2017); Perhappiness, Sikkema Jenkins & Co, New York (2016); Natureza Espiritual da Realidade, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo (2015); Pinturas, Casa Daros, Rio de Janeiro (2014); amor lugar comum, Centro de Arte Contemporânea Inhotim (2013); Amor, MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, (2012); dentre outras.

Sobre a curadora

Clarissa Diniz é curadora, escritora e educadora em arte. Graduada em artes pela UFPE, mestre em história da arte pela UERJ e doutoranda em antropologia pela UFRJ. É professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Além de alguns livros publicados, tem textos incluídos revistas e coletâneas sobre arte e crítica de arte, a exemplo de Criação e Crítica – Seminários Internacionais Museu da Vale (2009); Artes Visuais – coleção ensaios brasileiros contemporâneos (Funarte, 2017); Arte, censura, liberdade (Cobogó, 2018); Amérique Latine: arts et combats (Artpress, março 2020). Desenvolve curadorias desde 2008 e, entre 2013 e 2018, atuou no Museu de Arte do Rio – MAR, onde realizou projetos como Do Valongo à Favela: imaginário e periferia (cocuradoria com Rafael Cardoso, 2014); Pernambuco Experimental (2014) e Dja Guata Porã – Rio de Janeiro Indígena (cocuradoria com Sandra Benites, Pablo Lafuente e José Ribamar Bessa, 2017). Em 2019, organizou a mostra À Nordeste (cocuradoria com Bitu Cassundé e Marcelo Campos, Sesc 24 de Maio, São Paulo) e, em 2022, integrou a curadoria das exposições Histórias Brasileiras (MASP, São Paulo) e Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil (Sesc 24 de Maio, São Paulo)

Até 02 de Setembro.

Uma exposição de Pitta sob curadoria de Vik Muniz

A galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura, no dia 20 de junho, da exposição “Outros carnavais”, com trabalhos do artista Alberto Pitta (1961, Salvador) que, com suas serigrafias, revolucionou as fantasias do Carnaval da Bahia, onde é figura central. Com curadoria de Vik Muniz, seu amigo há 24 anos, a mostra faz um apanhado histórico de sua produção ao longo de mais de quarenta anos, junto a vários blocos – como o Olodum, de que foi diretor artístico de 1984 a 1997 – , com tecidos, matrizes antigas e esboços, além de uma parte documental, com cadernos e livros de que participou, como “Gilberto Gil – Todas as letras” (Cia. das Letras). O segundo andar da galeria será dedicado aos trabalhos recentes e inéditos – pinturas em serigrafia e tinta sobre tela, com predominância de tons de branco, que remetem aos bordados em ponto Richelieu que a mãe do artista fazia. A exposição conta ainda com uma instalação, na claraboia da galeria, composta por amostras de tecido de seu acervo de mais de três décadas. No dia da abertura, às 19h, haverá uma conversa com Alberto Pitta e Vik Muniz.

“Quero que as pessoas vejam o tamanho deste artista, e o que ele vem fazendo há mais de quarenta anos”, afirma Vik Muniz. “Ele já expôs na Alemanha, em Sidney, em muitos lugares. Esta mostra pode ser importante para ele, mas é mais ainda para o mundo da arte”, destaca. “Não estou fazendo nenhum favor a ele com esta mostra no Rio. Estou fazendo um favor para quem não conhece seu trabalho”, afirma Vik Muniz.

Alberto Pitta e Vik Muniz se conheceram em 2000, na exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, que reunia artistas baianos e internacionais, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia. Desde então mantêm uma amizade próxima.

Vik Muniz diz que, como artista, sempre está muito preocupado em como “a arte se torna relevante, do momento em que transcende o contexto da galeria e do museu e passa a fazer parte do dia a dia das pessoas”. “Isso abriu um enorme diálogo, longevo, entre Pitta e eu”, comenta. “A iconografia dentro do trabalho dele é muito importante, e vai-se aprendendo. É uma cartilha de significados, muitos deles discretos, porque o candomblé não gosta muito de falar, e Pitta vai soltando as coisas de forma homeopática”, observa. “Pitta já invadiu o entorno do cubo branco, e agora nesta mostra queremos contar um pouco de cada coisa que ele fez”, comenta Vik Muniz.

Até 10 de Agosto.

Os anéis de tecidos de Lidia Lisbôa

A artista Lidia Lisbôa apresenta sua nova individual no Museu de Arte do Rio – MAR, Praça Mauá, Centro, Rio de Janeiro, RJ, até 08 de Setembro.

A exposição “Têta”, apresenta cerca de trinta obras, em sua maioria inéditas, abarcando diferentes aspectos e técnicas que constituem a produção de Lidia Lisbôa (1970, Terra Roxa, PR, Brasil). O ponto de partida da seleção são as obras “Tetas que deram de mamar ao mundo”, série iniciada em 2011, nas quais Lidia Lisbôa crocheta e sobrepõe anéis de tecidos, formando esculturas de grandes dimensões que pendem do teto até próximo ao chão.

Uma gestualidade semelhante é constituinte das esculturas Cupinzeiros, outra longeva série da artista que integra a mostra. Além desses, são apresentados trabalhos comissionados especialmente para a ocasião.

A curadoria é de Amanda Bonan, Marcelo Campos, Thayná Trindade e Jean Carlos Azuos.

Exposição individual de Fani Bracher

13/jun

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, anuncia a Exposição Fani Bracher, que estará aberta ao público até 29 de junho. A mostra apresenta 29 obras da artista cuja trajetória reflete uma profunda conexão com as paisagens e a história de Minas Gerais. A individual apresentará quatro caixas-colagens, inéditas ao público, 14 grandes telas datadas em diversas fases e algumas gravuras feitas a partir de pigmentos e bordados sobre papel. Cada peça reflete a dedicação de Fani Bracher em explorar e reinterpretar as paisagens de Minas Gerais, oferecendo ao público uma visão única e poética do território mineiro. A curadoria é de Evandro Carneiro.

Fani Bracher é conhecida por reduzir a paisagem à sua estrutura mínima, utilizando céu, montanhas e árvores como elementos centrais de sua composição. Sua obra reflete a temporalidade e a história de Minas Gerais, frequentemente abordando as cicatrizes deixadas pela mineração na região. Durante a pandemia, Fani Bracher explorou novas dimensões cromáticas, inspirada pela delicadeza da chita e pela memória da casa verde de sua infância. Este período resultou em murais vibrantes e em uma série de caixas-colagens que utilizam materiais naturais como pigmentos, pedras, folhas e carvão, coletados em suas caminhadas pelos vales de Ouro Preto.

Sobre a artista

Paisagens imaginárias e memórias da mineração

Fani Bracher nasceu em uma Fazenda Experimental de Coronel Pacheco, Zona da Mata Mineira, onde seu pai era pesquisador da Embrapa. Cresceu feliz e passou sua primeira infância bem vivida, no campo e em família. Percebe-se aí uma ancestralidade rural e ligada às pesquisas do solo que retomaremos adiante, ao comentar a sua pintura. Aos nove anos, foi estudar no colégio interno Santa Catarina, em Juiz de Fora. Aos 17, cursou Comunicação na Federal dessa mesma cidade, onde conheceu o seu companheiro da vida inteira, Carlos Bracher. Em 1965, ainda namorados, Fani e Carlinhos – como o pintor é chamado por sua amada – fundaram a Galeria Celina, que marcou culturalmente uma geração de artistas e intelectuais mineiros. Em 1967 pintou seus primeiros quadros, paisagens rurais. No ano seguinte, ela e Bracher se casam e ele recebe o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro pelo Salão de Belas Artes. Juntos, seguem para a Europa, lá vivendo por dois anos, principalmente entre Portugal e França, mas conhecendo outros lugares e sempre antenados às artes. Visitam todos os museus e fortalecem a relação.

Em seu retorno ao Brasil, decidem viver em Ouro Preto, MG, e ali estabelecem residência, família e laços culturais. Parceiros na vida e em suas obras, constroem juntos uma bonita jornada. O casal teve duas filhas, Blima e Larissa, entre 1972 e 1976 e alguns anos mais tarde, já maduros artisticamente e avós de Valentim, fundaram um centro cultural que dirigem até hoje: o Ateliê Casa Bracher. Nos anos 1970, Fani conseguiu conciliar a família com uma carreira de sucesso. Mulher forte, “espartana” como ela mesma se define, seguiu estudando, produzindo e participando de Festivais de inverno, Salões e Concursos Nacionais de Artes Plásticas, chegando a ganhar alguns prêmios, até realizar, em 1977, as suas primeiras exposições individuais, respectivamente em Viçosa e Juiz de Fora. Daí em diante não parou de produzir, expor seu trabalho em diversas mostras e receber premiações. É uma trajetória artística tão rica e volumosa que não caberia reproduzi-la no espaço gráfico deste folder. Ainda assim, destaco alguns marcos, sem com isso desmerecer quaisquer outros eventos: as exposições na Galeria Oscar Seráphico, DF, 1979; na Galeria Bonino, RJ, 1982, 84, 85 e 88; no CCBB, RJ, 1996; Cynthia Bourne Gallery, Londres, 1996; Latin American Women, Miami, 1998; Galeria Errol Flynn, BH, 2005; Museu da República, DF, 2007; Os Bracher, Juiz de Fora, 2015, dentre tantas outras. Além dos Prêmios Jabuti de 1995 e Fernando Pini de Excelência Gráfica pelo livro do qual extraímos as citações usadas aqui nesse texto. O conjunto de sua obra se evidencia na quantidade de coletivas de que participou e a sua qualidade espartana se mostra no volume de trabalho realizado e exposto. E também na robustez formal de sua pintura. Frederico Morais escreveu que a Fani “reduz a paisagem a sua estrutura mínima: céu, montanhas, árvores” e que ela “secciona as montanhas em planos para formar a estrutura espacial da composição, planimétrica, ou, ao contrário, para indicar uma visão em movimento, a passagem do tempo” (Morais. In: Fani Bracher, Ed. Salamandra, 1994, p.10). Eu diria: o tempo histórico das Minas Gerais. Fani reside e trabalha onde escolheu viver: o quadrilátero ferrífero mineiro, na histórica Vila Rica (como Ouro Preto era chamada no auge do ciclo do ouro). No documentário que sua filha dirigiu sobre a artista, ela confessou que o “óxido de ferro se tornou alimento” para a sua obra. Declarou também que “a cor da terra me faz bem, eu gosto, é algo que me enche a alma” (Blima Bracher. A casa verde de todas as cores, 2021). Essa afinidade se dá tanto porque ela pesquisa o solo das montanhas nos arredores de Ouro Preto, percorrendo as suas fendas e seus vales e riachos, em busca de pedras terrosas de que extrai os pigmentos com que pinta, como também porque ela expressa memórias inconfidentes das cicatrizes históricas da mineração. O quadrilátero ferrífero é justo ali onde a terra brasilis foi mais ferida pelo extrativismo mineral, desde os tempos coloniais até os dias de hoje. A região é continuamente cortada, mutilada e deformada. Inúmeros cumes montanhosos desapareceram, como é o caso do Monte Itabirito, entre tantos outros. Essa violência calada que a paisagem sofre não passa desapercebida pelas lentes de Fani Bracher. Fendas e crateras, solos sangrentos do vermelho ferroso, adobes terrosos e nuvens cinzas ou pretas que são quadradas de tão pesadas pela evaporação oxidada da mineração, ossos de animais que já morreram… Paisagens que, como bem disse Morais “são um epitáfio e um alerta” (Idem, p.11).

O tempo transcorrido na cronologia das Minas Gerais.

Em sua obra, Fani faz cortes sincrônicos desse continuum e expressa uma paisagem enigmática que algumas vezes também é imaginária, arquetípica, cheia de símbolos, conforme destacou Ronald Polito (In: Fani Bracher, 1994, p. 128). “Quadros que são, a um só tempo, paisagens e incursões abstratas (nunca abstracionistas) sobre as relações entre os estados de volume, densidade e alturas” (Idem, p.129). Obras que, também segundo este crítico, são quase esfinges pictóricas. Na reclusão da pandemia, em Piau, berço materno de sua família, Fani se abriu às cores. Segundo ela, talvez tenha sido devido à delicadeza plástica da chita, material com que estava trabalhando em bordados e panneaux quando a epidemia nos assolou. Tomou gosto por essa leveza colorida e fez de sua casa um museu a céu aberto com 18 murais de 3×4 metros. A “casa verde” da sua infância foi ressignificada com “todas as cores” pela pintora que sempre privilegiou os tons cinzas, ocres e terrosos em suas telas. A mesma doce e forte Fani Bracher que pinta sobre a mesa e não usa cavalete, que produz seus próprios pigmentos com pedras terrosas que ela mesma vai buscar nas montanhas, em pesquisas geológicas e memórias remanescentes de seu querido pai. Fani nos diz que “o quadro quando é bom, ele vai na frente, se encaminha” (Live com Fani Bracher, Ateliê Casa Bracher, 2021). Isso explica porque em sua obra, sejam em paisagens rurais, ossos, flores ou montanhas, as diferentes fases vão se avolumando sem negação; ela concilia e agrega uma à outra. Sua pintura é contundente demais, pela expressão da historicidade de que falamos antes, mas, principalmente, pela estética de cada peça e do conjunto de sua produção, uníssona e diversa a um só tempo. Atualmente atingiu o ápice da força telúrica de sua obra, fazendo “caixas-colagens” com pigmentos, pedras, folhas, carvão, e terras em seus diferentes tons… Material que encontra em suas andanças pelos vales e leva para dar forma em seu ateliê. Há quatro delas nesta mostra, além de 14 grandes telas de diferentes datas e algumas gravuras, feitas a partir de pigmentos e bordados sobre papel. Vinte e nove trabalhos à venda para serem contemplados na exposição de 13 a 29 de junho na Galeria Evandro Carneiro.

Laura Olivieri Carneiro, maio de 2024.

Chico Cunha em cartaz na Danielian

04/jun

O pintor Chico Cunha, importante nome da Geração 80, ocupa os espaços expositivos da casa principal da galeria na Gávea até o dia 20 de Julho com sua produção recente. Ele trabalha a pintura a partir de diálogos entre a História da Arte e suas referências visuais afetivas. O título da exposição é uma alusão ao livro publicado em 1977 pelo filósofo francês Roland Barthes (1915-1980), em que analisa a linguagem das relações amorosas. Curadoria: Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto.

Sobre o artista

Chico Cunha é artista visual, professor, arquiteto e cenógrafo. Dentre exposições coletivas destacam-se a Bienal de SP, a Bienal de Cuba e a histórica exposição “Como vai você Geração 80?”, da qual se tornou um dos principais expoentes. É professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage desde 2002. Realizou individuais recentes em galerias e centros culturais como Paço Imperial no RJ, Centro Cultural Oi Futuro, Cavalariça do Parque Lage e Galeria Eduardo Fernandes, em São Paulo. No último ano participou, no Rio de Janeiro, de coletivas na Casa França Brasil, Pinakotheke Cultural e Casa Roberto Marinho. Seus trabalhos integram acervos de coleções como MAM RJ, MAM SP, MAC Niterói, Cisneros, Sattamini, Gilberto Chateaubriand, UNESCO e Shell, entre outras.

Texto curatorial

Fragmentos de uma pintura amororsa

Chico Cunha faz parte de um momento brasileiro em que a arte surgiu como um grito de liberdade de expressão. A Geração 80, da qual Chico de destaca no campo da pintura, resgatou a experimentação como ferramenta de conexão entre vida e arte: a aventura da expressão liberta de véus filosóficos ou trincheiras conceituais. Das inquietações plásticas de uma sociedade que produz imagens, entre o consumo e o descarte, o olhar do artista captura os hiatos. Em suas telas Chico Cunha reúne fragmentos de memórias afetivas, artísticas, visuais e ficcionais, na investigação da pintura como um palimpsesto, entre o ontem e o hoje, o transitório e o eterno. A voz íntima, delicada e sofisticada da pintura de uma geração de cores, contrastes, gestos e narrativas. Paisagens de Guignard, iluminuras medievais e a natureza fauve de Gauguin, suas obras suspendem a questão do tema através de uma névoa de imaginação que nos envolve. Os títulos parecem servir de farol do percurso do olho sobre a tela. O nome da mostra é uma citação ao famoso livro de Roland Barthes, “Fragmentos de um discurso amoroso”, publicado em 1977, onde o autor discute a linguagem romântica a partir de textos de filósofos, poetas e intelectuais como Sócrates, Freud, Werther e Nietzsche. No flerte entre estas duas pesquisas, essa exposição que reúne a produção recente de Chico Cunha aponta direções sobre a pintura como linguagem que são fundamentais para o cenário artístico contemporâneo, e fazem parte da trajetória de Chico de maneira íntima e processual.

Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto.

Os 91 anos de Anna Bella Geiger

03/jun

O Sesc RJ, apresenta (até 08 de Setembro) na Galeria do Sesc Copacabana – 1° andar a exposição “Anna Bella Geiger – Entre o relevo e o recorte”. Mostra inédita que celebra os 75 anos de carreira da artista, que também completa 91 anos. A mostra inédita mergulha no universo multifacetado de Anna Bella Geiger, uma das mais influentes artistas brasileiras do século XX. A individual é realizada pela Agência Dellas e produzida pela Atelier Produtora, e conta com a curadoria de Ana Hortides. A mostra foi contemplada pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2024.

A mostra apresentará 29 trabalhos fundamentais que datam da década de 1960, especificamente no período entre 1960 e 1966. Destacando-se a obra Sem título, de 1961, vencedora do 1º Concurso Interamericano de Grabado, na Casa de las Americas, em Havana, Cuba, no ano de 1962.  “Anna Bella Geiger – Entre o Relevo e o Recorte” destaca especificamente a fase inicial da artista como gravadora, revelando a sua ousadia ao desafiar as convenções do meio. Um aspecto crucial da exposição é a exploração da técnica de recorte da chapa de metal da gravura, uma prática não usual na época, que sinalizava a direção de suas futuras experimentações.

Uma iniciação

Lembro-me bem de quando cheguei a uma compreensão mais plena e profunda dos princípios abstracionistas na minha própria obra em meados do ano de 1952. Estávamos num momento cultural em que alguns e algumas de nós, artistas, vínhamos buscando, individualmente, radicalizar essas  transformações, fosse aqui no Brasil, como internacionalmente. Isso após uma longa iniciação, desde 1949, no ateliê da artista Fayga Ostrower, através de incansáveis estudos e pesquisas baseados nos princípios cubistas de Pablo Picasso e Georges Braque, assim como nos exercícios propostos nos Notebooks de Paul Klee na Bauhaus. Incluiria aí também estudos sobre o uso da cor e da composição estrutural na gravura japonesa do século XVIII e na complexidade da escultura africana em suas diversas regiões. Naquele turbilhão de ideias, comecei a encontrar soluções próprias, individuais, em meus desenhos, guaches e gravuras abstratas. Nessa época, alguns de nossos pioneiros na área gráfica, como Osvaldo Goeldi, Lasar Segall, Lívio Abramo, inclusive a própria Fayga Ostrower (até 1952), eram artistas figurativos, não viam o mundo somente do ponto de vista estético, mas sim sob os seus aspectos sociais e humanos. Havia um conflito, um verdadeiro tabu, na questão da eliminação da figura humana na Arte. As desavenças eram profundas, e, no Brasil, ainda tínhamos uma questão extra-artística, como a do regionalismo ou do realismo. As questões desenvolvidas na minha obra, eram denominadas no vocabulário internacional como abstração informal ou lírica, com certa identidade com os pintores da Escola de Nova Iorque e de Paris, bem como as  levantadas pela  Fayga,  Iberê Camargo, Yolanda Mohalyi, entre outros. Desses artistas internacionais, podem ser citados, por exemplo, Franz Kline, Willem De Kooning, Robert Motherwell, Philip Guston, Jackson Pollock, assim como o franco-alemão Hans Hartung e o espanhol Antoni Tàpies. Em 1965, a minha própria concepção sobre a arte abstrata começa a se radicalizar, assumindo recortes e relevos na sua composição. É o caso de duas gravuras sem título, que diferem das outras anteriores porque recorto uma forma trapezóide na própria placa de latão, e assim, o relevo surge impresso no papel branco, vazio. É interessante notar que, apesar de não termos tido contato naqueles mesmos anos com os artistas abstratos internacionais, principalmente os da Escola de Nova Iorque, ocorreu uma certa concomitância com a obra internacional numa identidade de princípios, por exemplo, por certas posições políticas semelhantes do pós-guerra, culminando numa semelhança formal. Não devemos nos esquecer que a arte abstrata surge também em consequência da 2ª Guerra Mundial e adota um pensamento baseado na filosofia existencialista, do individualismo, do conceito de liberdade individual em Jean-Paul Sartre. Em fevereiro de 1953, organizou-se a Primeira Exposição Nacional de Arte Abstrata, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, da qual participei com três obras. Podemos dizer que ali, pela primeira vez no Brasil, os artistas abstratos marcariam posição contra as principais tendências da arte no país, compreendidas pela primeira vez do ponto de vista plástico-formal e não a partir de questões extra-artísticas, como o regionalismo e o realismo social. Já sobre o abstracionismo na minha obra, ele se desenvolveu até 1965, período em que participei de inúmeras Bienais Internacionais, como a de São Paulo (de 1961,1963,1965 até o ano de 1967), quando eu aderi ao boicote contra o AI-5. Ao longo de 1962 a 1966, integrei exposições, como o 1º Concurso Interamericano de Grabado, em Havana, Cuba, 1962, onde recebi o primeiro e único Prêmio “Casa de Las Américas”; o Brazilian Art Today, no Royal College of Art, Londres, em 1965; a 1ª Bienal Latino-Americana de Grabado, Santiago do Chile, em 1966, da qual recebi menção honrosa; a 1ª Exposição Jovem Gravura Nacional, do programa Jovem Arte Contemporânea (JAC), do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de São Paulo no qual ganhei o 1º Prêmio de gravura. Além dessas, participei de exposições   individuais e coletivas, como a EL ARTE en America y España, em 1963, no Instituto de Cultura Hispânica, Madrid, entre outras. Em 1978, fui convidada por Paulo Sérgio Duarte, da recém-criada FUNARTE, para escrever uma publicação sobre o Abstracionismo no Brasil, que intitulei de Abstracionismo geométrico e informal: a vanguarda brasileira nos anos 50, publicada em 1987. Na ocasião, convidei o crítico de arte Fernando Cocchiarale para colaborar no livro. O Abstracionismo é considerado internacionalmente o último “ismo” da história da Arte Moderna.

Anna Bella Geiger.

O Ato Institucional Número Cinco (AI-5) foi o quinto de dezessete grandes decretos emitidos pela Ditadura militar nos anos que se seguiram ao golpe de estado de 1964 no Brasil, promovendo inúmeras ações arbitrárias que reforçaram a censura e a tortura como práticas da ditadura.

Texto curatorial

A mostra propõe uma viagem no tempo para o início da produção de uma das maiores artistas brasileiras, a carioca Anna Bella Geiger. Apresentando, pela primeira vez ao público, um recorte considerável dos seus primeiros trabalhos abstratos realizados em gravura e desenho ao longo da década de 1960, sendo muitos deles nunca expostos anteriormente. Anna Bella, ainda uma jovem artista com os seus 16 anos, em 1949 e ao longo dos primeiros anos da década de 1950, inicia os estudos em arte frequentando o ateliê da artista Fayga Ostrower no Rio de Janeiro, de quem Lygia Pape também fora aluna no mesmo período. Ambiente que lhe proporcionou uma aproximação com a produção de arte brasileira e estrangeira por meio de exercícios práticos e discussões teóricas. Já em 1953, participou com grandes nomes da época, como Lygia Clark, Antônio Bandeira, Abraham Palatnik e Ivan Serpa, da 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, que se deu no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, reunindo a vanguarda dos artistas das mais diversas tendências do abstracionismo brasileiro. Ao longo dos anos 1960, a artista começa a frequentar o ateliê de gravura do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, quando se detém à produção, aprofundamento e experimentação plástica e conceitual em torno do processo de produção das suas gravuras abstratas. Radicalizando, por volta de 1965, o seu processo criativo por meio do corte da chapa de metal da gravura e assumindo nas suas composições a ideia do relevo e do recorte de forma expressiva e experimental. Logo, podemos observar que o espaço vazio, predominantemente o do recorte, se faz presente na sua impressão gráfica. Apontando, assim, para um processo artístico arrojado, de uma artista que, já no início de sua trajetória, explora a técnica e a subverte. Uma pioneira nos campos da gravura e, também, da videoarte brasileiras por sua ousadia e experimentalismo da época. Além de uma educadora fundamental que esteve sempre em companhia e colaboração com os seus estudantes ao longo dos processos artísticos e educacionais que propunha e desenvolvia. Anna Bella contribuiu para a formação das gerações mais recentes de artistas e curadores da cena contemporânea carioca. Ministrou aulas como professora e compôs o conselho administrativo do MAM Rio nos anos 1970, promovendo cursos, encontros e acompanhamentos com artistas dentro e fora da instituição. Posteriormente, nas últimas décadas e até hoje, promove encontros e cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e no Hoger Instituut Voor Schone Kunsten, na Bélgica. A artista é autora e responsável pela organização da mais relevante publicação sobre arte abstrata que conhecemos até a atualidade. O livro “Abstracionismo Geométrico e Informal: a Vanguarda Brasileira nos anos 50” foi realizado em pesquisa conjuntamente com o curador e crítico de arte Fernando Cocchiarale e lançado pela editora da Funarte em 1987. Traçando um panorama dos primórdios da vanguarda abstrata geométrica e informal no Brasil, do pós-guerra até a retomada da figuração com a Nova Objetividade, a publicação se estrutura por meio de uma introdução, entrevistas e textos selecionados. Contribuindo, desse modo, por seu teor histórico e didático para a difusão e fortalecimento das questões fundamentais do debate em torno do abstracionismo no período. Feita essa nossa viagem no tempo, pudemos percorrer parte da sua produção em gravura e desenho, nos surpreender com o seu processo de trabalho e pesquisa, vislumbrar a sua atitude audaz e empírica. Hoje, com seus 75 anos de carreira e ativa no campo da arte e da educação, celebramos o legado da artista Anna Bella Geiger, que com sua genialidade e coragem, transformou os rumos da arte e se tornou uma inspiração para todos nós.

Ana Hortides.

Celebrando a obra de Pietrina Checcacci

29/mai

Perto de completar 83 anos, a artista Pietrina Checcacci, nascida na Itália e residente no Rio de Janeiro desde seus treze anos, ganha uma dupla homenagem, no Rio e em São Paulo. No Rio, a Danielian Galeria, na Gávea, apresenta a partir do dia 28 de Maio a exposição “Carnação”, com 35 obras produzidas, principalmente, desde 2005 até agora, várias delas inéditas. Estarão também esculturas emblemáticas feitas nos anos 1970, 80 e 90.  O corpo feminino passou a ser o principal tema da artista a partir dos anos 1970, quando em meio à tortura ou ao exílio, “o corpo representava o primeiro espaço da manifestação política”, observam Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto, curadores da exposição. As obras abordam questões que atravessam a trajetória da artista, e o reconhecimento de uma matriz pop/kitsch com referências surrealistas em sua pintura.

Os curadores Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto afirmam no texto que acompanha a exposição “Carnação”: “Em um caminho adjacente às guerrilhas artísticas do cenário na época, suas investigações estéticas no campo da pintura e do desenho levaram-na a desenvolver uma identidade visual própria que trazia do pop, a apropriação da imagem, e do kitsch a assimilação de visualidades e linguagens na popularização destas imagens”.

“Pietrina acentua a presença feminina na arte pop brasileira com suas figuras sensuais repletas de desejo. Fiel à imagem, Pietrina faz do corpo a sua principal ferramenta de criação e encantamento de mundo. Suas formas arredondadas, como as curvas e dobras barrocas, fazem do corpo feminino um território de luta, empoderamento e prazer”, diz Marcus de Lontra Costa.

Em São Paulo, a Galeria Galatea, Jardins, abrirá no dia 04 de Junho a mostra “Pietrina Checcacci – Táticas do corpo”, com destaque para seus trabalhos de cunho político, que dialogam com a estética da Nova Figuração Brasileira, e também para as pinturas que trazem o corpo em primeiro plano a partir do olhar feminino.