A paisagem tropical de Duda Moraes

03/jul

Nascida em 1985, a artista carioca Duda Moraes, mostra seu trabalho atual, que traz as cores da Mata Atlântica e a vibração do Rio de Janeiro, referência e marca em sua pintura, e o processo de amadurecimento vivido após sete anos radicada em Bordeaux, na França. A exposição “Entre force et fragilité, e a continuação do gesto”, que inaugura no dia 10 de julho, na Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, propõe uma imersão pelo caminho percorrido pela artista, e começa por um grande painel na parede central do espaço térreo da galeria, composto por seis pinturas em cores fortes e vibrantes, cada uma medindo 1,95 metros de altura por 1,30 metros de largura, com a paisagem tropical, uma característica marcante de seu trabalho. Na parede lateral direita, três telas menores trazem o olhar carioca da artista sobre as delicadas flores primaveris da cidade francesa. Na parede oposta, está uma grande peça medindo 3,60 metros de altura por 2,60 metros de largura, uma composição de tecidos nobres de descarte de empresas francesas de estofamento, em que Duda Moraes mantém o olhar e o gesto da pintura usando tesoura e máquina de costura. “Não pinto flores. São elas que me dão vontade de pintar”, afirma a artista. “Tem as questões do feminino, a ambiguidade entre força e fragilidade, e exploro muito o gesto, as formas, o equilíbrio das cores”. Duda Moraes estará presente na abertura da exposição. O texto crítico que acompanha a mostra é de Élise Girardot, com tradução do texto em português de Madeleine Deschamps.

Graduada em desenho industrial pela PUC Rio em 2010, Duda Moraes trabalhou por cinco anos na criação de estampas para a indústria têxtil e grandes marcas de moda, no escritório de Ana Laet. Criada em ambiente artístico – sua mãe, a artista Gabriela Machado, a levava para onde ia, ateliê, exposições – Duda Moraes realizou o que realmente desejava fazer após ter frequentado um curso com Charles Watson. Fez exposições em Belo Horizonte e no Rio, cidade em que vivia intensamente, seja no contato com a natureza, ou nas rodas de capoeira e de samba, onde cantava. No final de 2016, entretanto, um acontecimento iria levá-la para outro universo, muito distinto: a paixão fulminante por um mestre de capoeira a fez se mudar para Bordeaux, onde casou e teve seu primeiro filho, nascido antes da pandemia.

“Entre force et fragilité, e a continuação do gesto” apresenta este percurso vivido por Duda Moraes, que atravessou a mudança de país e continente, com uma cultura muito diferente da sua, e de status social, com o casamento e a maternidade, e a pandemia no meio. “Quero mostrar no Rio esta minha passagem, a maturação deste tempo em que estou na França, sete anos, um número marcante, como um primeiro ciclo”, diz a artista.

 

Duas exibições prorrogadas

02/jul

As exposições “Toda Noite”, de Vicente de Mello” e “Dragão Floresta Abundante”, de Christus Nóbrega, foram prorrogadas até 15 de julho. Elas estão em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

“Toda a Noite” comemora os 33 anos de carreira de Vicente de Mello e reúne 13 séries marcantes de seu trabalho de experimentação fotográfica em distintas técnicas e criações. Uma noite que se repete indefinidamente é o mote da exposição que ocupa o primeiro andar do Centro Cultural Justiça Federal. Na mostra, a poética do artista se desenvolve na transvisão da fotografia: “as imagens com os mais diversos tons de claro-escuro provocam um deslocamento do real”, diz o fotógrafo, que venceu o prêmio APCA 2007 e foi um dos ganhadores do Prêmio CCBB Contemporâneo 2015, entre outros.

“Dragão Floresta Abundante” revela a aventura do primeiro artista brasileiro em residência na CAFA/Pequim, na China. As pesquisas e impressões de Christus Nóbrega resultaram em instalações que ocupam as salas do segundo andar do centro cultural e surpreendem, não apenas pelo tamanho, mas, principalmente, pela forma instigante e provocativa, e também pelo humor fino e inteligente com que o artista exibe as experiências vividas no período da residência. A mostra propõe uma rede de reflexões sobre diferentes tecnologias, desde as mais arcaicas – como a pipa – até as mais modernas como o GPS de celular. A começar pelas imagens: todas  – exceto os autorretratos – foram geradas por IA.

Cerâmicas na Galeria Mercedes Viegas

A artista Jacqueline Belotti inaugura no dia 06 de julho, exposição individual “E DE TODAS AS COISAS UM”, com cerâmicas e porcelanas na Galeria Mercedes Viegas, Horto, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Paula Terra-Neale. Integrando elementos díspares e construindo peças que contenham acontecimentos, informações e objetos de universos multifacetados, Jacqueline Belotti vai moldando, manualmente suas obras, sempre agregadas a um caráter experimental. Paula Terra-Neale, que faz a curadoria, selecionou 15 cerâmicas e porcelanas de produção recente. A argila, nas mãos da artista, se torna um meio para transmitir histórias, emoções e visões únicas, ecoando o poder da criação que celebra. Da argila bruta ao objeto final, a magia do processo artístico dá nova vida e significado à matéria, que pode assumir a forma de folhagens, rosas, orquídeas, entre outras flores – inventadas ou não – mãos, cabeças, pássaros, asas, peixes, conchas, vegetação marinha, misturados a cacos de cerâmica diversos.

Inspiração em Bordalo Pinheiro e Heráclito

Segundo a artista, a obra de Bordalo Pinheiro sempre foi uma fonte inesgotável de inspiração para o seu trabalho: “Sua capacidade de combinar técnicas tradicionais com uma abordagem inovadora e crítica ressoa profundamente com minha própria prática artística”. Mas é do conceito de “harmonia dos contrários”, do filósofo Heráclito, que vem a inspiração para dar forma às suas cerâmicas, que parecem afirmar que os opostos não são apenas necessários para a existência de tudo, mas também a harmonia e a unidade emergem da tensão entre eles. A artista incorpora ao seu processo de criação a visão de que a realidade é caracterizada pela mudança constante e pelo fluxo, tudo está em constante transformação e os opostos são interdependentes. A “harmonia dos contrários” sugere que a tensão e contraste entre os opostos cria um equilíbrio dinâmico. Assim como para Heráclito, essa tensão e contraste são fundamentais para a ordem e a estrutura das suas obras únicas, sempre se transformando mas mantendo a harmonia através do conflito contínuo entre todas as partes da obra. Cada peça de Jaqueline é uma expressão desse espírito.

A palavra da curadora

“Jacqueline Belotti nos apresenta sua mais recente série de trabalhos: são vasos biomórficos de cerâmica em argila e porcelana esmaltados, produzidos desde 2020. O senso de urgência, de iminência da tragédia e de potência de vida transpiram deles. São peças únicas e elaboradas com experimentalidade técnica e sofisticação intelectual. Apresentam um deslocamento delicado e conflituoso entre as pequenas partes; os pequenos dramas equilibrados na totalidade da peça única, o vaso. As formas de cada uma das partes individuais, que podem ser associadas às da flora e da fauna, incluindo as dos corpos feminilizados, são aqui amalgamadas num todo fluído, e contínuo como que na tradição barroca e do rococó, mas com um toque de surrealidade. O fogo da queima unindo pigmentos e pedra num ardor sensual e erótico. A artista cria seu próprio diálogo e exploração com a cerâmica, não apenas com o material em si, mas na possibilidade de trabalhar nele as questões da arte, as questões subjetivas, e empreender uma reflexão crítica sobre processos históricos, num mesmo mergulho”.

Sobre a artista

Jacqueline Belotti vive e trabalha no Rio de Janeiro. Atua por múltiplos meios e procedimentos em exposições individuais e coletivas. Participou de diversas exposições coletivas e individuais no Brasil, Portugal e Inglaterra. Recebeu o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, 2014 e o Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais, 2013, da Fundação Nacional de Artes, Ministério da Cultura/BR. Pesquisadora e PhD em Artes Visuais. Lecionou na Universidade Federal do Espírito Santo.

Até 09 de Agosto.

Retrato audiovisual

01/jul

A exposição de Sandra Kogut “No Céu da Pátria Nesse Instante” reproduz falas de um país fraturado e provoca a interação entre o público no Sesc Niterói, RJ.

Sempre transitando entre o cinema, a televisão, a videoinstalação e a arte visual, Sandra Kogut apresenta seu novo projeto: “No Céu da Pátria Nesse Instante”, uma instalação de audiovisual expandido. Em cena, pessoas que participaram ativamente das eleições de 2022, numa espécie de retrato audiovisual de um país dividido. E aí está o trunfo da exposição: para que o visitante possa compreender o que está sendo projetado, ele precisa interagir com o outro, com o vizinho, numa simbologia de reconexão entre as pessoas. A mostra pode ser visitada até 20 de julho.

Numa sala escura, Sandra Kogut projeta frases no ar. São comentários de cidadãos comuns sobre as eleições de 2022, recolhidos ao longo de 2022 e 2023. Ao entrar no local, as pessoas são atingidas por frases que representam posições políticas diversas, tornando-se elas mesmas as telas. “Num lugar que parece não ter nada, você é ao mesmo tempo o suporte e o alvo de comentários de pessoas que não se veem, não se escutam e parecem viver em realidades paralelas. Ao mesmo tempo, para entender o que está acontecendo você precisa do outro. É preciso pedir o apoio de alguém para servir como tela”, explica a artista.

A exposição conta também com um trabalho sonoro de O Grivo, grupo de música experimental, formado pelos mineiros Nelson Soares e Marcos Moreira. Com o apoio de fones, o público pode ouvir um pouco das conversas gravadas pelo projeto. A mostra contempla ainda uma projeção no chão de imagens do 08 de janeiro feitas pela artista. Em 2020, Sandra Kogut ganhou uma bolsa na universidade de Harvard, nos EUA, com a qual registrou os personagens que serviram de matéria-prima para o projeto No Céu da Pátria Nesse Instante. “Meu interesse é falar de política, mas não através das pessoas que estão no centro do poder, os protagonistas usuais, e sim das pessoas comuns, que estão nas ruas. Aqueles que olham para tudo de lado, de trás, do fundo”, diz a artista. O material registrado deu origem ao filme No Céu da Pátria Nesse Instante, documentário longa-metragem que estreou no 56º Festival Brasileiro de Cinema de Brasília e com estreia comercial prevista para o fim do ano. Nessa exposição, a artista utiliza registros que vão além do longa-metragem. “Queria não só fazer um filme como também uma instalação com esse material tão vasto e tão rico, porque tem coisas que não cabem no formato de cinema”, explica a artista.

Sobre a artista

Sandra Kogut nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Vive e trabalha entre o Brasil, a França e os EUA. Estudou filosofia e comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. No audiovisual, realizou trabalhos de ficção, documentários, filmes experimentais e instalações. Começou como videoartista nos anos 1980, documentando performances em sua cidade. Uma dessas resultou no vídeo Intervenção Urbana (1984), gravado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Nos dois anos seguintes, realizou uma série de projetos experimentais: Egoclip (1985), com o poeta Chacal; 7 Horas de Sono (1986), com o artista plástico e escultor Barrão; e O Gigante da Malásia (1986). Na década de 1990, criou as Videocabines – uma série de instalações no Metrô carioca, na Casa de Cultura Laura Alvim e no MIS de SP – que deu origem ao trabalho Parabolic People, produzido no CICV Pierre Schaeffer (França) e filmado em Paris, Nova Iorque, Moscou, Tóquio, Dakar e Rio. Sandra participou de exposições no Brasil e no exterior, enquanto paralelamente realizou filmes como os premiados Adieu Monde, Passagers d’Orsay e Um Passaporte Húngaro. Entre seus longas de ficção estão Mutum (2007), Campo Grande (2015) e Três Verões (2019), que receberam prêmios nos grandes festivais e correram o mundo. Entre 2016 e 2022 foi comentarista do programa Estúdio I na GloboNews. Foi professora nas universidades americanas de Princeton, Columbia (Film Program) e University of California, San Diego/UCSD. Foi Visiting Scholar na New York University durante quatro anos.

A Gentil Carioca Rio promove dois eventos

25/jun

Conversa com Novíssimo Edgar e Ativação Parede Territorio’s de Rose Afefé

Nesta sexta-feira, a partir das 17h, A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, propõe dois eventos em torno das práticas dos artistas Novíssimo Edgar e Rose Afefé.

Novíssimo Edgar conduzirá uma conversa sobre a sua exposição “Arqueologia de Si”, atualmente em exibição na galeria. A conversa abordará a pesquisa que inspirou a concepção da mostra, que propõe um léxico próprio composto por formas, símbolos e cores. Esse vocabulário, situado na interseção entre produções históricas e culturais de diversas sociedades, resulta da busca do artista por suas origens: “Estou realizando uma escavação dentro de mim mesmo para encontrar uma civilização perdida, o que toca em questões de ancestralidade, colonialismo e diáspora”.

A partir das 18h, inicia-se a ativação do mural “Parede Teritório’s”, parte da 40ª edição do Projeto Parede Gentil. Concebida por Rose Afefé, esta obra resulta de sua pesquisa artística sobre espaços, ocupações e as interações que proporcionam. Na ocasião, a artista promoverá uma celebração com karaokê, convidando todos a participar. Inspirado na atmosfera de uma festa junina, o evento busca materializar a estética do universo de Terra Afefé, uma microcidade criada pela artista na Chapada Diamantina, interior da Bahia. Todos são bem-vindos, trazendo sua voz, alegria e vestindo seu melhor traje junino!

Mostra de Carlos Scliar e Cildo Meireles

24/jun

A Casa Museu Carlos Scliar, Cabo Frio, RJ, completa 20 anos com exposição imersiva que reúne até 25 de junho de 2025, obras de Carlos Scliar e Cildo Meireles.

Para marcar os 20 anos da Casa Museu Carlos Scliar, será inaugurada no dia 29 de junho de 2024, a exposição “Os Artivistas: Carlos Scliar e Cildo Meireles”, que une, pela primeira vez, a obra desses dois importantes artistas. “O Scliar foi fundamental na minha vida”, afirma Cildo Meireles sobre o amigo falecido em 2001. Com curadoria de Cristina Ventura, coordenadora da casa museu, serão apresentadas cerca de trinta obras, sendo algumas inéditas, que cobrem um período que vai desde a década de 1940 até 2021. Completam a mostra obras participativas, inspiradas nos trabalhos dos dois artistas. A exposição, que terá entrada gratuita até o final do mês de agosto, é apresentada pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro através da Lei Paulo Gustavo.

“A ideia é provocar no espectador um convite á reflexão, instigada pela atualidade das questões tratadas pelos artistas em suas obras. Temas como: crimes de estado, meio ambiente, guerra, valor monetário, entre outros. Nosso propósito é que a pessoa pense sobre o seu papel no mundo de hoje”, diz a curadora Cristina Ventura.

As obras de Cildo Meireles e Carlos Scliar serão expostas juntas, como uma grande instalação, sem seguir uma ordem cronológica. São pinturas, desenhos, colagens, estudos, gravuras, objetos e vídeos. De Cildo, estarão as notas “Zero Dólar” (1984) e “Zero Cruzeiro” (1978), a instalação sonora “Rio Oir” (2011), o vídeo “15 segundos” (2021), em homenagem a Marielle Franco, entre outras obras. De Scliar, destacam-se os desenhos “Levante do Gueto de Varsóvia” (1957) e “SOS” (1989), além de desenhos e estudos, alguns inéditos, que tratam de temas como a cultura afro-brasileira e o holocausto. “Sou um grande admirador dos desenhos do Scliar, acho que ele era um desenhista dos mais talentosos do Brasil, verdadeiramente sensível”, afirma Cildo Meireles.

Na mostra, estará, ainda, a matriz da capa da Revista Horizonte, feita por Scliar em 1952, onde se lê: “Assine Apelo Paz”. “A Segunda Guerra Mundial o marcou muito, Scliar foi pracinha, atuou como cabo de artilharia. No período pós-guerra participa ativamente de movimentos a exemplo o Congresso pela Paz ocorrido na antiga Tchecoslováquia, a mensagem trazida na obra é fundamental”, diz a curadora. Uma reprodução tátil desta matriz fará parte da exposição para que o visitante possa manuseá-la. Também estará na exposição um texto inédito do artista, da década de 1980, narrado pela cantora e compositora Marina Lima. No documento, Scliar expressa sua indignação e cansaço diante da nossa construção histórica. A artista cresceu vendo obras de Scliar, colecionadas por seu pai, segundo Marina, “…uma imagem afetiva que nunca esqueço”. A gravação foi feita especialmente para a exposição.

Com trajetórias diversas, Carlos Scliar e Cildo Meireles se conheceram em 1966. “A partir do nosso primeiro encontro, onde mostrei meus desenhos, ele se interessou em mostrar esses trabalhos para alguns colecionadores e a partir daí praticamente me financiou. Sempre foi uma pessoa de uma generosidade muito grande, não só no meu caso, mas também com outros artistas jovens que estavam iniciando. Ele era uma pessoa de um entusiasmo intrínseco, estava sempre incentivando, sempre apoiando”, conta Cildo Meireles. Os dois foram muito amigos durante toda a vida e, em diversos momentos, tratam de questões similares em seus trabalhos, como no período da Ditadura militar. Outras questões também convergem na produção dos dois: a icônica obra “Zero Dólar”, de Cildo Meireles, traz a imagem do Tio Sam, personagem que aparece sobrevoando a Amazônia com asas pretas, como se fosse um urubu, na obra “SOS”, de Carlos Scliar.

Percurso da exposição

A mostra começa com uma linha do tempo sobre Carlos Scliar (1920-2001) e chega-se ao jardim, onde está a grande escultura “Volumes Virtuais”, de Cildo Meireles, doada em 2022 para a Casa Museu. Com seis metros de altura, é a primeira escultura da série feita em metal.  Ainda no pátio, estarão trechos do projeto inédito do painel em mosaico projetado para o Brasília Palace, em 1957, a pedido de Oscar Niemeyer (1907-2012), que nunca chegou a ser executado. A obra traz uma homenagem à cultura afro-brasileira, com elementos da religiosidade africana.

Na sala menor, próxima ao jardim, haverá uma grande caixa em perspectiva, inspirada nas famosas caixas criadas por Scliar, onde o público poderá entrar. Nela, estarão matérias de jornais onde o artista alertava para questões ambientais, trazendo manchetes como “A indignação do pintor”, fazendo um contraponto com o que está acontecendo hoje. “Em muitos momentos, Scliar aproveita o espaço na mídia não para falar de sua obra, mas sim para advertir sobre a forma destrutiva que tratamos nosso habitat. As matérias são atuais, as proporções é que são mais desastrosas”, ressalta a curadora. Ainda dentro da caixa haverá imagens do projeto educativo “Meu lugar, meu patrimônio”, onde adolescentes da rede pública de ensino de Cabo Frio e região, falam sobre questões ambientais, em consonância com a fala de Scliar na década de 1980 e o cenário atual.

Na antessala do salão principal estarão dois jogos interativos, um ilustrado com a obra de Carlos Scliar e outro Cildo Meireles, e a reprodução tátil da obra “Assine Apelo Paz”. Seguindo, chega-se à sala principal, onde estarão as cerca de trinta obras dos dois artistas, montadas como uma grande instalação, ambientada pela escultura sonora “Rio Oir”, de Cildo Meireles, na qual o artista coleta o som de algumas das principais bacias hidrográficas brasileiras, gravadas em vinil. Neste mesmo espaço estará o vídeo “15 Segundos”, no qual a vereadora Marielle Franco (1978-2018) é homenageada. Na mesma sala, haverá obras que destacam a atuação de Carlos Scliar na área gráfica, junto à redação das revistas culturais Horizonte (1950 a 1956) e na criação da revista Senhor (1959 a 1960), além de trabalhos do período da Ditadura militar, que trazem frases como: “pergunte quem”, “urgente”, “pense” e “leia-pense”, além do texto da década de 1980 narrado pela cantora e compositora Marina Lima. “A ideia é que o visitante entre num espaço que o absorva em vários aspectos, seja pelo som da água, seja pelo que está sendo visto ou pelo que não está sendo visto – haverá uma vitrola girando sem disco, denotando ausência, desconforto”, diz Cristina Ventura.

Na sala de cinema haverá a projeção de dois filmes: um de Carlos Scliar falando sobre o compromisso das pessoas com as questões do nosso planeta e outro de Cildo Meireles contando como conheceu Carlos Scliar e sua relação com ele. Para completar a experiência, no segundo andar da Casa Museu está a exposição permanente, onde se pode ver o ateliê de Carlos Scliar, que permanece exatamente como ele deixou.

Sobre a Casa Museu Carlos Scliar

O Instituto Cultural Carlos Scliar (ICCS) foi criado em 2001, mesmo ano da morte de seu patrono. O processo para criação da instituição foi acompanhado pelo artista, um acordo que fez com o filho Francisco Scliar para manter sua memória. Fundada por Francisco Scliar junto com os amigos: Cildo Meireles, Thereza Miranda, Anna Letycia, Regina Lamenza, Eunice Scliar, entre outros conselheiros, a instituição, aberta ao público em 2004, está sediada na casa/ateliê do pintor, em Cabo Frio, Rio de Janeiro. Trata-se de um sobrado oitocentista, com cerca de 1000m², adquirido em ruínas por Carlos Scliar, reformado em 1965 para abrigar seu ateliê e ampliado na década de 1970, com projeto de Zanine Caldas. A casa mantém a ambientação dos espaços deixada por Carlos Scliar, com seus objetos pessoais, acervo documental, bibliográfico, gravuras, desenhos e obras. A coleção resulta da produção do próprio artista ao longo de sua vida, somado a uma expressiva e representativa coleção de obras originais dos mais importantes artistas do cenário brasileiro do século XX, os amigos José Pancetti, Djanira, Di Cavalcanti, Aldo Bonadei, Cildo Meireles, entre outros, além de cerca de 10 mil documentos datados desde a década de 1930. Reforçando seu compromisso sociocultural, ao longo dos últimos três anos foram atendidos mais de 1000 estudantes do Estado do Rio de Janeiro, em projetos educativos. Em 2023, a instituição foi agraciada com o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação Museal, promovido pelo IBRAM.

Brasil Visual

20/jun

No dia 22 de junho, a partir das 17h, acontece a pré-estreia na Praça Luís de Camões (Praça do Russel), Glória, RJ, um evento gratuito, com exibição de três episódios, DJs convidados e conversas com participantes.

Como os acontecimentos ocorridos nos últimos anos impactaram as artes visuais brasileiras? Este é o recorte da série “Brasil Visual”, dirigida por Rosa Melo, que estreia no dia 25 de junho de 2024, às 20h30, no canal Curta! além de pocket show com o artista Cabelo. Partindo das artes visuais, a série aborda temas que impactaram toda a sociedade, como a pandemia de COVID-19, as manifestações que tomaram o país, a inteligência artificial, passando por temas como espiritualidade, a dualidade do mundo dos vivos e dos mortos, entre outros.

“Esse projeto fala sobre a vida através da arte, mostrando um pouco como a produção artística foi atravessada por questões tão importantes do nosso cotidiano”, afirma Rosa Melo, diretora-geral da série, que tem codireção de Lia Letícia e realização de Rosa Melo Produções Artísticas e AC Produções, BRDE, Ancine, FSA e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro através da Lei Paulo Gustavo.

A pré-estreia será com a apresentação do DJ Galo Preto, seguido da exibição do primeiro episódio da série e de conversa com Aline Motta, Bruno Balthazar e Paulo Paes. Em seguida, haverá a apresentação da DJ Onciã, exibição do segundo episódio, bate-papo com Ana Lira, Carmem Ferreira, Mônica Benício e Pâmela Carvalho, seguida de show do artista Cabelo, exibição do terceiro episódio e conversa com Laura Lima, Lia Letícia e Novíssimo Edgar. A noite termina com o karaokê de Martha Rodrigues. A programação completa por ser conferida no Instagram @brasilvisual.arte.       

Brasil Visual

Com treze episódios, com duração de 26 minutos cada um, “Brasil Visual” traz entrevistas com artistas, pesquisadores, povos indígenas, povos de terreiro, entre outros. Dentre os 36 entrevistados, estão artistas contemporâneos e especialistas de todas as regiões do país, incluindo nomes de destaque, como os artistas Cildo Meireles e Rosana Paulino, o curador e artista indígena Denilson Baniwa, a liderança do MSTC, educadora e urbanista Carmen Silva, a curadora, ativista indígena Guarani Sandra Benite, os artistas Lourival Cuquinha, Paulo Paes, Rose Afefé e Novíssimo Edgar, o neurocientista Sidarta Ribeiro, o pedagogo Luiz Rufino, a curadora, pesquisadora e crítica de cinema Kênia Freitas, a autora, educadora e diretora da Redes da Maré Eliana Sousa Silva, o sacerdote, artista e pesquisador de simbologias e mitologias afro-brasileiras Bruno Balthazar, o Alápini, (sacerdote do culto dos Egunguns)  Balbino Daniel de Paula, entre outros.

Luiz Zerbini no CCBB Rio

14/jun

Retrospectiva da carreira de Luiz Zerbini (São Paulo, 1959), um dos principais nomes da arte contemporânea latino-americana, cujo trabalho faz uso de uma variedade de materiais e suportes e aponta para temas como ecologia e ancestralidade, urgentes dos tempos atuais. Composta por obras que traçam um panorama da sua atuação nas últimas décadas, a exposição oferece ao público a oportunidade de travar contato com uma produção que é referência na cena artística nacional e internacional. A mostra apresenta trabalhos inéditos do artista no Rio de Janeiro. Trata-se de um recorte amplo da sua atividade nas últimas décadas e configura um percurso poético por sua obra. A exposição também é um manifesto contemporâneo sobre cosmopolítica, a relação entre arte e ecologia e os saberes dos povos originários. O artista coloca em discussão fatos históricos, refletindo sobre a nossa origem e ancestralidade e ressignificando símbolos. A curadoria é de Clarissa Diniz.

Sobre o artista

Luiz Zerbini nasceu em São Paulo, em 1959. Iniciou sua atividade artística no final dos anos 1970. Expoente da chamada Geração 80, é conhecido por fazer pinturas em grande escala de colorido exuberante, em geral figurativas e com incursões no abstracionismo geométrico. Suas composições incluem a paisagem e as formas da natureza. Sua obra transita entre a pintura, a escultura, a instalação, a fotografia, a produção de textos e vídeos. É um dos integrantes do grupo Chelpa Ferro. Entre as exposições recentes, destacam-se: Siamo Foresta, Triennale Milano, Milão (2023); Dry River, Sikkema Jenkins & Co, New York (2022); A mesma história nunca é a mesma, MASP, São Paulo, Brasil (2022); Fire, Stephen Friedman Gallery, Londres, Reino Unido (2020); Nous Les Arbres, Fondation Cartier, Paris (2019); Intuitive Ratio, South London Gallery, Londres (2018); Dreaming Awake, House for Contemporary Culture, Maastricht (2018); Luiz Zerbini, Stephen Friedman Gallery, Londres, Reino Unido (2017); Perhappiness, Sikkema Jenkins & Co, New York (2016); Natureza Espiritual da Realidade, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo (2015); Pinturas, Casa Daros, Rio de Janeiro (2014); amor lugar comum, Centro de Arte Contemporânea Inhotim (2013); Amor, MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, (2012); dentre outras.

Sobre a curadora

Clarissa Diniz é curadora, escritora e educadora em arte. Graduada em artes pela UFPE, mestre em história da arte pela UERJ e doutoranda em antropologia pela UFRJ. É professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Além de alguns livros publicados, tem textos incluídos revistas e coletâneas sobre arte e crítica de arte, a exemplo de Criação e Crítica – Seminários Internacionais Museu da Vale (2009); Artes Visuais – coleção ensaios brasileiros contemporâneos (Funarte, 2017); Arte, censura, liberdade (Cobogó, 2018); Amérique Latine: arts et combats (Artpress, março 2020). Desenvolve curadorias desde 2008 e, entre 2013 e 2018, atuou no Museu de Arte do Rio – MAR, onde realizou projetos como Do Valongo à Favela: imaginário e periferia (cocuradoria com Rafael Cardoso, 2014); Pernambuco Experimental (2014) e Dja Guata Porã – Rio de Janeiro Indígena (cocuradoria com Sandra Benites, Pablo Lafuente e José Ribamar Bessa, 2017). Em 2019, organizou a mostra À Nordeste (cocuradoria com Bitu Cassundé e Marcelo Campos, Sesc 24 de Maio, São Paulo) e, em 2022, integrou a curadoria das exposições Histórias Brasileiras (MASP, São Paulo) e Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil (Sesc 24 de Maio, São Paulo)

Até 02 de Setembro.

Uma exposição de Pitta sob curadoria de Vik Muniz

A galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura, no dia 20 de junho, da exposição “Outros carnavais”, com trabalhos do artista Alberto Pitta (1961, Salvador) que, com suas serigrafias, revolucionou as fantasias do Carnaval da Bahia, onde é figura central. Com curadoria de Vik Muniz, seu amigo há 24 anos, a mostra faz um apanhado histórico de sua produção ao longo de mais de quarenta anos, junto a vários blocos – como o Olodum, de que foi diretor artístico de 1984 a 1997 – , com tecidos, matrizes antigas e esboços, além de uma parte documental, com cadernos e livros de que participou, como “Gilberto Gil – Todas as letras” (Cia. das Letras). O segundo andar da galeria será dedicado aos trabalhos recentes e inéditos – pinturas em serigrafia e tinta sobre tela, com predominância de tons de branco, que remetem aos bordados em ponto Richelieu que a mãe do artista fazia. A exposição conta ainda com uma instalação, na claraboia da galeria, composta por amostras de tecido de seu acervo de mais de três décadas. No dia da abertura, às 19h, haverá uma conversa com Alberto Pitta e Vik Muniz.

“Quero que as pessoas vejam o tamanho deste artista, e o que ele vem fazendo há mais de quarenta anos”, afirma Vik Muniz. “Ele já expôs na Alemanha, em Sidney, em muitos lugares. Esta mostra pode ser importante para ele, mas é mais ainda para o mundo da arte”, destaca. “Não estou fazendo nenhum favor a ele com esta mostra no Rio. Estou fazendo um favor para quem não conhece seu trabalho”, afirma Vik Muniz.

Alberto Pitta e Vik Muniz se conheceram em 2000, na exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, que reunia artistas baianos e internacionais, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia. Desde então mantêm uma amizade próxima.

Vik Muniz diz que, como artista, sempre está muito preocupado em como “a arte se torna relevante, do momento em que transcende o contexto da galeria e do museu e passa a fazer parte do dia a dia das pessoas”. “Isso abriu um enorme diálogo, longevo, entre Pitta e eu”, comenta. “A iconografia dentro do trabalho dele é muito importante, e vai-se aprendendo. É uma cartilha de significados, muitos deles discretos, porque o candomblé não gosta muito de falar, e Pitta vai soltando as coisas de forma homeopática”, observa. “Pitta já invadiu o entorno do cubo branco, e agora nesta mostra queremos contar um pouco de cada coisa que ele fez”, comenta Vik Muniz.

Até 10 de Agosto.

Os anéis de tecidos de Lidia Lisbôa

A artista Lidia Lisbôa apresenta sua nova individual no Museu de Arte do Rio – MAR, Praça Mauá, Centro, Rio de Janeiro, RJ, até 08 de Setembro.

A exposição “Têta”, apresenta cerca de trinta obras, em sua maioria inéditas, abarcando diferentes aspectos e técnicas que constituem a produção de Lidia Lisbôa (1970, Terra Roxa, PR, Brasil). O ponto de partida da seleção são as obras “Tetas que deram de mamar ao mundo”, série iniciada em 2011, nas quais Lidia Lisbôa crocheta e sobrepõe anéis de tecidos, formando esculturas de grandes dimensões que pendem do teto até próximo ao chão.

Uma gestualidade semelhante é constituinte das esculturas Cupinzeiros, outra longeva série da artista que integra a mostra. Além desses, são apresentados trabalhos comissionados especialmente para a ocasião.

A curadoria é de Amanda Bonan, Marcelo Campos, Thayná Trindade e Jean Carlos Azuos.